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CAPÍTULO 6



CAPÍTULO 6

 

 

Dorinda caminhava na fresca atmosfera da grande sala de estar, e deteve-se, afinal, para olhar o jardim.

Uma profusão de borboletas voava por sobre as orquídeas alaranjadas, amarelas, azuis, turquesas, cada uma mais brilhante e colorida que a outra. Leves e graciosas, elas pareciam de algum modo mais belas que as flores exóticas sobre as quais voavam.

Dorinda já estava acostumada àquele espetáculo, desde que chegara a Cingapura, mas a beleza das borboletas nunca deixava de sensibilizá-la.

Olhando o sol, quente e dourado, que tudo aquecia com seus raios fortes, a jovem sentiu que seu coração falhava uma batida ao pensar que ela logo estaria de volta à garoa e ao frio da Inglaterra.

Então, o eczema voltaria a atormentá-la e ela de novo se transformaria numa espécie de fantasma movendo-se discretamente por Alderburne Park, com medo de encontrar quem quer que fosse, resolvida a não ser vista por ninguém.

Suas velhas tarefas domésticas estariam à sua espera e a jovem quase podia ouvir a voz de seu pai, dizendo:

— Onde está Dorinda? Vou pedir-lhe que resolva este assunto.

Ou a voz de sua mãe, num tom mais suave, pedindo:

— Cuide de tudo, Dorinda. Não consigo falar com o cozinheiro quando ele está tão temperamental…

Tudo voltaria a ser como antes e, algum tempo depois, ela chegaria a pensar que nunca saíra da Inglaterra e só lhe restariam lembranças…

Lembranças das borboletas, do sol, de sua bela aparência, de sorrir naturalmente para as pessoas. E, sobretudo, lembranças de Maximus Kirby.

Aquele era o sexto dia de sua permanência na casa de Kirby e, no entanto, por mais incrível que parecesse, desde a primeira noite, quando ele lhe mostrara seus tesouros, nunca mais os dois tinham conversado a sós.

Enquanto os dias passavam, Dorinda começara a perceber que ele trabalhava muito e estava sempre ocupado.

Sempre havia convidados para almoçar e jantar — autoridades de passagem pelo porto, mandarins chineses em seus longos quimonos, comerciantes em roupas ocidentais, mas inconfundivelmente chineses em quaisquer trajes que usassem.

Havia funcionários da Companhia das Índias Ocidentais, capitães e oficiais de navios de guerra de todas as bandeiras. Secretários das Colônias de todas as partes da Malásia e das ilhas vizinhas.

Parecia impossível que um homem pudesse ter tal variedade de interesses ou trabalhar tanto durante um só dia.

Maximus Kirby levantava-se muito cedo e bem antes de seus hóspedes estarem de pé, ele já se encontrava no andar térreo, em seu gabinete de trabalho, ou nos arredores montando um cavalo maravilhoso que, Dorinda soubera, era o seu preferido.

No entanto, apesar de acordar cedo e dormir tarde, tantas coisas lhe exigiam a atenção, autoridade e julgamento que, às vezes, ouvindo-o falar à mesa do jantar, Dorinda se perguntava se haveria algum outro homem capaz de mais energia e entusiasmo nas suas tarefas diárias.

— O Sr. Kirby é extraordinário! — dissera a jovem a Lee Chang Lo, o secretário particular de Maximus Kirby, um chinês muito inteligente que estava a serviço de Kirby desde que este chegara a Cingapura.

Ele manejava os assuntos do domínio pessoal do seu empregador com extrema habilidade.

— A maior parte do seu êxito se deve à organização, Miss Hyde — observou Lee Chang Lo, num inglês perfeito.

Dorinda demonstrou curiosidade e o chinês continuou:

— O Sr. Kirby é suficientemente sensível para não perder tempo esperando privilégios, empregados que o atendam ou aguardando a saída de um navio.

— Que quer dizer com isso?

— Há sempre carruagens diante do portão principal, dia e noite — respondeu o chinês. — Se o Sr. Kirby quiser sair, elas estarão às suas ordens. Ele não precisará nem mesmo esperar providências do estábulo.

— Agora compreendo…

— Os dois iates do Sr. Kirby estão sempre em condições de navegar no momento em que ele pisar a bordo — continuou Lee Chang Lo.

— Os dois iates?

— O Sr. Kirby tem dois iates, o “Dragão do Mar”, no qual a senhorita viajou, e um outro, o “Ninfa do Mar”, um iate a vela que a senhora precisa conhecer. É um antigo junco chinês que o Sr. Kirby capturou de piratas e depois reformou, acrescentando-lhe todos os confortos.

— Parece maravilhoso…

— A bordo de cada iate, o Sr. Kirby mantém um enxoval completo, de modo que se resolver viajar de repente, não haverá problema…

Dorinda estava realmente impressionada.

— O senhor tem razão. É uma medida muito inteligente. Assim, o Sr. Kirby não perde um só minuto e ainda tem tempo para tratar dos assuntos mais importantes. Estou certa de que, nesse particular, o senhor lhe é muito valioso!

O chinês fez uma reverência e, depois, afastou-se.

O cuidado com que Maximus planejava os menores detalhes fora o que mais a surpreendera. Ela podia entender que um homem de sua posição fosse muito escrupuloso em seus problemas comerciais para que nada lhe passasse despercebido, mas sua generosidade com Letty só era suplantada pela significação de cada presente que ele lhe dava.

No segundo dia após a sua chegada, Letty recebeu, juntamente com uma pulseira e um colar que faziam conjunto com o anel de noivado, um broche em forma de Ave-do-Paraíso, com pedras coloridas representando plumagem.

Era uma jóia maravilhosa e tanto Dorinda quando a Irmã Teresa estavam fascinadas pela arte do ourives que a criara.

Mas Letty não ficou muito tempo interessada no broche, a exemplo do que acontecera com o colar que Maximus Kirby lhe dera um ou dois dias antes, constituído de pequenas borboletas cujos corpos — de rubis e diamantes — eram unidos por esmeraldas.

Dorinda podia compreender as atenções que Kirby dispensava a Letty, mas se sentia muito sensibilizada pelos presentes que dele também recebia, apesar de muito diferentes dos da irmã.

Primeiro, como quase chegara a antecipar, recebeu uma peça de jade, na mesma ocasião em que Letty era presenteada com a Ave-do-Paraíso. Dorinda sentiu-se embaraçada quando abriu a pequena caixa chinesa que a continha, sabendo que praticamente lhe pedira a peça. Não havia, porém outra coisa a fazer senão aceitá-la.

A peça era pequena e verde, tendo a forma de um dragão chinês.

A jovem procurou identificá-la nos livros que trouxera e, após uma busca cuidadosa, teve a convicção de que a peça pertencia à Dinastia Ching.

Embora mais nova que algumas das peças de Maximus Kirby, era, ao mesmo tempo, exoticamente esculpida, e de um verde brilhante.

No dia seguinte, recebeu um marfim chinês, elaboradamente esculpido que se tornava difícil acreditar que tivesse sido feito por mãos humanas.

— Veja os detalhes! — exclamou Dorinda.

— Os chineses são os mestres dos detalhes — retrucou a Irmã Teresa, — Lembro-me de uma senhora que mandou copiar um vestido parisiense por um costureiro chinês… — ela riu alegremente. — A cópia ficou simplesmente igual ao original… até no acabamento!

O marfim estava acondicionado numa pequena caixa de madeira com forro de seda bordada.

— Acho que um presente fica mais encantador quando vem tão magnificamente embalado — disse Dorinda à Irmã Teresa.

— Os chineses fazem essas caixas com perfeição — respondeu a missionária — mas para eles todo presente tem um caráter de cerimonial, algo que deve ser recordado por muito tempo.

— Sempre me lembrarei dos meus presentes — declarou Dorinda, pensando no efeito que fariam aquelas peças em seu quarto de Alderburne Park.

Todos os dias ela acariciava o pequeno dragão de jade e lhe pedia que afastasse de sua mente os maus pensamentos. E sabia que era o ciúme o mau pensamento que agora a assaltava.

Parecia difícil não sentir ciúmes de Letty, não por causa das jóias que ela recebia ou do conforto e posição social de que ela desfrutaria como esposa de Maximus Kirby, mas porque, após o casamento, ela estaria sempre com o marido.

E, Dorinda se perguntava, poderia haver algo mais fascinante que privar da companhia de um homem tão culto e inteligente? Quem sabia tanto quanto ele e ocultava tão bem o que lhe ia no íntimo, que somente poucas pessoas conheciam seu verdadeiro caráter?

Mesmo contra a vontade, Dorinda estava feliz por saber que Maximus Kirby não mostraria a Letty as salas de seus tesouros. Como fizera com Dorinda, Maximus levara a noiva para conhecer a casa e Letty tinha feito comentários oportunos sobre a decoração, os quadros e os grandes dragões de porcelana chinesa que Maximus Kirby lhe dissera estarem protegendo a casa da influência dos demônios.

— Também há outros guardas — acrescentou ele, rapidamente, ao ver um brilho de apreensão nos olhos de Letty. — E estão em seus postos dia e noite. Não precisa ter medo… ninguém em Cingapura pensaria sequer em tentar assaltar-me.

Por insistência da Irmã Teresa, Letty fez um esforço para comparecer às refeições, mas normalmente à noite ela estava muito cansada e somente em duas noites, das seis em que estavam em Cingapura, Letty participara do jantar.

Dorinda tentou falar com a irmã a respeito dos convidados e de como eles eram interessantes, mas Letty nem quis ouvi-la.

— Gente demais! — atalhara a moça, rapidamente. — E falam tanto que minha cabeça chega a doer!

— Mas, Letty, você vai ter que recebê-los depois de casada…

— Nunca! — respondera Letty, com firmeza.

Nos últimos dois dias a jovem não comparecera ao jantar. Em compensação, não tinha se lamentado muito nem insistido em voltar para casa. Letty tinha encontrado um novo interesse nas crianças chinesas que visitara com a Irmã Teresa na Escola da Missão.

Dorinda as acompanhara e tinha podido compreender como eram fascinantes as crianças chinesas — os meninos, com os seus longos rabichos, e as meninas, com os negros cabelos presos no alto da cabeça.

Com seus pequenos rostos redondos e os olhos amendoados, parecem bonequinhos, dissera Letty, e fora com grande dificuldade que a Irmã Teresa finalmente conseguira convencê-la a deixar a Missão.

Depois da visita, as crianças passaram a ser o único assunto de sua conversação, e nem mesmo o colar de pérolas com que Maximus Kirby a presenteou, conseguiu desviar-lhe a atenção.

— São pérolas muito bonitas e valiosas — disse a Irmã Teresa a Dorinda.

E, enquanto a missionária falava, Dorinda não pôde deixar de recordar as palavras do Dr. Johnson e do comissário de bordo do “Osaka” sobre Pérola Perfeita, a amante de Maximus Kirby, a quem o rapaz dera tantas pérolas que eles tinham se perguntado como um pescoço tão pequeno e delicado podia suportar o seu peso.

Era fácil imaginar como Pérola Perfeita devia ter sido bonita e a fascinação que exercera em Maximus Kirby.

Ele poderia ter, no seu reino particular, a mulher que desejasse e Dorinda, perplexa, se perguntava por quê, em tais circunstâncias, Maximus Kirby queria casar-se.

No dia seguinte, à hora do almoço, ela estava sentada ao lado de Sir Hugh Lowe, o Residente de Perak, um dos responsáveis pela nova prosperidade verificada no Estado.

Quando ele tomara posse do cargo, Perak estava afogado em dívidas e sem recursos para saldá-las. A inteligência de Sir Hugh, com a ajuda de Maximus Kirby, estava promovendo o desenvolvimento do comércio e começava a modificar a situação.

— Não posso lhe dizer — disse Sir Hugh a Dorinda — o inestimável auxílio que o Sr. Kirby me prestou nos projetos, nos planos para o futuro…

— Ele parece ter ajudado todo mundo — respondeu Dorinda. — Não posso entender como ainda não foi eleito Governador de Cingapura.

Sir Hugh Lowe sorriu.

— Estávamos fazendo o possível para derrubar o atual Governador.

— Por quê?

— Há dois anos que está no cargo e nem mesmo visitou a Malásia — respondeu Sir Hugh.

— Nunca esteve aqui, então? — exclamou Dorinda. — Incrível! Não é de admirar que alguém tenha que fazer o seu trabalho…

— O Sr. Kirby e eu temos feito o possível e acho que temos sido bem sucedidos, para conseguir a indicação de Sir Frederick Weld. Ele foi Governador da Austrália Oriental e da Tasmânia e poderia fazer muito por Cingapura.

— Por que não o Sr. Kirby?

— Ele ainda é jovem demais — respondeu Sir Hugh — e solteiro, uma desvantagem, porém que pode ser sanada…

— Quer dizer que, se ele se casasse, teria possibilidade de ser nomeado Governador?

— Sir Frederick tornou bem claro que não poderá ficar muitos anos no cargo. Já está velho e pretende aposentar-se. Quando isso acontecer, acho que não haverá dúvida quanto ao seu substituto.

“Agora compreendo por que Maximus Kirby quer se casar…”, pensou Dorinda.

Era claro que ele ia precisar de uma anfitriã… e, como o Governador era tornado cavaleiro um pouco antes ou logo depois da posse, a Rainha só nomearia Governador uma pessoa de boa reputação, que levasse, pelo menos oficialmente, uma vida respeitável.

Pérola Perfeita e Goldie certamente não seriam apropriadas para representantes oficiais de Sua Majestade Britânica, Imperatriz da Índia. Por isso, Maximus Kirby tinha resolvido casar-se!

Agora que Dorinda descobrira o motivo de sua decisão, era fácil deduzir exatamente o que tinha acontecido.

Maximus Kirby fora à Inglaterra à procura de maquinaria, empreiteiros, cavalos e uma esposa.

Ele conhecera seu pai no clube. Talvez elogiando os excelentes cavalos que o conde possuía, alguém lhe tivesse falado também da beleza de Letty.

E tudo acontecera do modo mais simples. Kirby fora a Alderburne Park e um olhar para Letty o convencera de que tinha afinal encontrado a esposa ideal para o Governador de Cingapura…

A jovem não era apenas bonita, o que para ele seria essencial, mas tinha também condições sociais que reforçavam a escolha.

Assim, não havendo obstáculos, tudo fora acertado e Letty viera à Malásia para casar-se com Kirby.

Agora que a encontrara sem a presença restritiva dos condes, como se sentiria Maximus?

A pergunta era tão delicada que Dorinda não encontrava resposta. Tendo, no entanto, percebido a importância do casamento para Maximus Kirby e seus planos futuros, a moça redobrou seus esforços para que Letty compreendesse o papel que viria a desempenhar.

Às vezes, Letty ouvia com atenção as palavras de Dorinda, mas na maioria das ocasiões, ficava alheia, olhando o vazio, como se nada tivesse a ver com o assunto.

Aquela manhã, quando Dorinda foi ao seu quarto, encontrou-a irritada.

— Vá embora, Dorinda! — gritou a moça. — Não quero ouvir sermões hoje! Quero ir com a Irmã Teresa ver as crianças chinesas!

— Não pode fazer isso hoje.

— Por quê? — indagou Letty, logo amuada por ver seus desejos contrariados.

— Porque vamos almoçar mais cedo e iremos depois visitar as plantações do Sr. Kirby — respondeu Dorinda. — Ele lhe falou sobre isso e você disse que adoraria ir.

Letty deu de ombros.

— Mas isso é importante! — insistiu Dorinda. — As experiências que ele tem realizado podem ter uma grande significação para a prosperidade de Cingapura.

— Não quero ir ver plantações!

— Plantações são muito interessantes — insistiu Dorinda, pacientemente. — E haverá uma porção de crianças chinesas e malaias trabalhando lá com seus pais…

— Mas o calor está demais!

— Não iremos antes de refrescar. E você terá tempo para uma pequena sesta após o almoço. Depois que dormir um pouco, você vai se sentir melhor e adorará o passeio. Acredito que é um passeio muito bonito.

Vendo que Letty parecia inclinada a discutir, Dorinda saiu do quarto. Sabia que uma altercação a deixaria de péssimo humor e era melhor dar-lhe tempo para acostumar-se à idéia. Assim não haveria surpresa no momento da partida.

Dorinda desceu ao salão.

Maximus Kirby tinha compromissos pela manhã na cidade e a casa estava muito silenciosa.

Num impulso, a jovem dirigiu-se à casa velha, onde nunca mais estivera, depois da primeira noite que ali passara.

Dorinda esperara que Maximus Kirby a convidasse a uma nova visita, para melhor apreciar as porcelanas e os quadros. O rapaz, porém, não mencionou mais o assunto e a moça julgou que ele talvez estivesse arrependido por ter-lhe mostrado algo que lhe era tão caro e tão íntimo.

— Talvez seja apenas na minha imaginação que aquele lugar é diferente do resto da casa — disse ela para si mesma.

Com pouco usual determinação, Dorinda dirigiu-se ao pátio, que lhe pareceu ainda mais bonito do que o recordava na imaginação.

Soubera que se chamava “O Pátio dos Murmúrios” e pensou que talvez, no passado, as esposas e as concubinas do proprietário ali se tinham sentado e ali conversado baixinho em suas vozes musicais.

A porta da sala que continha as peças de jade estava aberta. Dorinda olhou em volta, admirando os seculares tesouros colecionados por Maximus Kirby.

Avistou uma aquarela de uma flor de lótus em branco e verde muito claro, tão delicadamente executada que quase se podia ver as pétalas da flor se abrindo.

Examinou detidamente uma deusa chinesa em coral e um disco ornamentado com dragões que já tinha visto antes e pensou que devia ter sido esculpido muitos anos antes de Cristo.

Depois de caminhar algum tempo por entre as peças de jade, Dorinda entrou na sala contígua, e, instantaneamente, foi de novo possuída pela mesma sensação de tranqüilidade. Sim, a moça tinha certeza, como tivera desde a primeira vez que ali entrara, que era naquela sala que Maximus Kirby se refugiava quando os problemas difíceis se acumulavam ou as dificuldades lhe pareciam instransponíveis.

Exatamente como se alguém ardendo em febre sentisse na fronte o grato consolo de uma mão fria. E agora, como da primeira vez, Dorinda primeiro observou o pequeno cavalo Tang, depois a cerâmica e a porcelana, voltando em seguida os olhos para as telas.

Estava segura de que não se enganara na interpretação que dera ao grande penhasco, um contraste vívido com as flores e o lago tranqüilo.

Voltou-se para a outra tela, contemplando de novo o riacho, as nuvens, os picos das montanhas.

Agora reparava que, antes de atingir a ponte, o riacho estava dividido, o que era mostrado por pequenos traços do pincel. A moça, porém, sabia que o artista quisera indicar que os dois riachos se reuniam perto da ponte e se tornavam um único.

Dorinda ficou longo tempo olhando o quadro e embora várias interpretações lhe acudissem à mente, não sabia qual a verdadeira.

Finalmente, com um pequeno suspiro, ela deixou a sala, e, como alguém que tivesse saído de uma igreja, sentia-se apoiada e ajudada por algo que estava além de si mesma.

A hora do almoço se aproximava e ela subiu até o quarto de Letty.

Para sua surpresa, nem a Irmã Teresa nem Letty lá se encontravam.

E, de fato, as duas só apareceram quando o almoço estava pronto para ser servido e Maximus Kirby já se encontrava à espera.

Havia vários convidados presentes, mas pelo menos, aparentemente, Kirby não demonstrava nenhum aborrecimento pelo atraso de Letty. Cumprimentou-a com um sorriso e, como sempre, tomou-lhe a mão, levando-a aos lábios.

— Devo pedir-lhe desculpas — disse a Irmã Teresa. — Quebrei meu relógio e não percebi que já era tão tarde.

— Vejo que terei de lhe dar outro relógio — retrucou Kirby.

— Será muito mais econômico mandar consertar o que já possuo — respondeu a missionária.

— Podemos fazer isso também — disse ele. — É sempre aconselhável ter um de reserva…

— Isso é mesmo típico de você, Kirby! — comentou um dos convidados. — Você sempre tem reserva de tudo. Por isso, é tão bem sucedido!

Todos riram e se encaminharam para a sala de refeições.

Letty estava encantadora em seu vestido azul, que combinava com o tom de seus olhos.

Aparentava ótimo humor e não parecia cansada com o que estivera fazendo durante a manhã, em companhia da Irmã Teresa.

Entretanto, era importante que descansasse e, tão logo o almoço terminou, Dorinda levou-a ao quarto, onde poderia deitar-se um pouco.

O aposento era bem arejado, com dois punkahs movendo-se incessantemente, e recebia o perfume de vários vasos de flores espalhados pelos móveis, sem falar no aroma das florações que vinha do jardim, através da janela.

— Procure dormir um pouco, Letty — disse Dorinda. — Quero que você esteja bem repousada para poder apreciar o que o Sr. Kirby vai lhe mostrar à tarde.

— Você irá também? — indagou Letty.

— Sim, se você fizer questão — respondeu Dorinda. — Mas seria melhor se você e o Sr. Kirby fossem sozinhos.

— Quero que você venha conosco — disse Letty.

— Está bem, então irei — prometeu Dorinda.

Ela teria ficado muito desapontada se não pudesse acompanhá-los, mas ao mesmo tempo compreendia que não devia impor sua presença, apenas participando dos passeios quando Letty fazia questão de sua companhia.

Tinha sido combinado que a Irmã Teresa iria à cidade à tarde para a solução de alguns assuntos pessoais aos quais não pudera atender por falta de tempo, devido às constantes reclamações de Letty.

— Eu a ajudarei a vesti-la — disse a Irmã Teresa a Dorinda. — Depois vou sair para resolver meus problemas. Acho que terei de ir para Sarawak antes do casamento.

— Oh, por favor, a senhora não pode fazer isso! — exclamou Dorinda, francamente alarmada. — Não sei como Letty reagirá sem a senhora e nem comecei ainda a lhe descrever como o Sr. Kirby pretende realizar a cerimônia…

A Irmã Teresa olhou para Dorinda com um pequeno sorriso.

As duas sabiam o tipo de casamento planejado por Maximus Kirby, ao qual, quase diariamente, o rapaz acrescentava algum fabuloso detalhe. E, a julgar pelas providências até então tomadas, a cerimônia ia ser tão pomposa que mais pareceria uma feira.

Dorinda a teria achado bastante vulgar se não soubesse que ela representava exatamente o que os chineses esperavam de Kirby.

Para os chineses, o casamento era um acontecimento muito importante. Começava com as preliminares a cargo de um agente matrimonial, às quais se seguia a consulta a um astrólogo para saber se seria venturosa a união entre os compromissados.

Caso o veredicto fosse favorável, o rapaz presenteava a moça com um anel de ouro e jóias e a futura noiva lhe dava, em troca, um alfinete de cabelo de ouro ou uma jóia, após o que eles eram considerados comprometidos.

De acordo com Lee Chang Lo, a quem Dorinda interrogara, um noivo chinês raramente, ou mesmo nunca, via sua prometida até o dia da cerimônia.

E, para o dia do casamento, uma série de providências eram tomadas, todas de especial significado.

Círios, dragões de papel, bandejas de peixe, frutas, sarongs de seda e algodão, dois patos, um porco assado e uma porção de outros presentes eram trocados entre os noivos.

Depois da cerimônia, uma procissão conduzia a noiva à casa do noivo e um grande número de bombas e fogos de artifício eram soltados para dar sorte ao casal.

— Três dias depois do casamento — tinha dito Lee Chang Lo — os amigos dos recém-casados lhes enviam dinheiro e presentes e, no fim de doze dias, os pais da noiva oferecem uma recepção onde o jovem casal é o convidado de honra…

— E terminam aí os festejos? — indagou Dorinda.

— Não. Só no final de um mês, quando a noiva faz a seus pais uma visita formal, a cerimônia é considerada completa.

— Parece muito complicado — exclamou Dorinda. — E todos os casamentos chineses seguem o mesmo ritual?

— Um chinês pode ter três ou quatro esposas — explicou Lee Chang Lo — mas, aqui nos Estreitos, ele tem apenas uma esposa. Se levar outras mulheres para sua casa, elas serão consideradas concubinas. Mas os filhos de todas as mulheres terão os mesmos direitos.

— Que acontece quando o pai morre?

— Seus bens serão igualmente divididos entre os filhos homens — respondeu Lee Chang Lo.

Era evidente que, se um chinês pobre cercava seu casamento de tão complicado cerimonial, ele por certo esperaria de Maximus Kirby muitíssimo mais pompa e Magnificência.

Para Dorinda, tudo era muito compreensível, mas não ia ser fácil convencer Letty a aceitar todas aquelas festividades e delas participar.

A jovem ouvira dizer que haveria uma enorme queima de fogos de artifício assim que anoitecesse e sabia que precisava informar-se melhor sobre o caso. Era um inevitável final de qualquer casamento no Oriente, mas Letty detestava fogos de artifício e o ruído dos mesmos a faria, sem dúvida, recordar-se dos piratas.

Os noivos, é claro, poderiam viajar para a lua-de-mel antes que os fogos começassem a explodir. Caso não houvesse essa previsão, Dorinda estava disposta a falar com Maximus Kirby sobre o assunto.

Mas o que diria? Era difícil encontrar palavras adequadas…

Dorinda subiu para seu quarto e se pôs a ler.

Dificilmente dormia após o almoço. Parecia-lhe pura perda de tempo.

— Poderei dormir bastante na viagem de volta — dizia a moça a si mesma, com certa amargura.

Em vez de dormir, costumava ler livros que encontrara na completa biblioteca que Maximus Kirby tinha construído na parte nova da casa.

Se Dorinda já não soubesse como eram diversificados os interesses de Maximus, ficaria por certo, bem admirada com a variedade de livros escolhidos pelo rapaz.

Eles abrangiam os temas mais diversos desde histórias orientais a biografias ocidentais, livros chineses muito antigos, que infelizmente ela não entendia, e romances franceses que a jovem tinha a oportunidade de pela primeira vez apreciar.

Seu pai jamais quisera “desperdiçar” dinheiro em livros e a coleção de seu avô, que tanto a distraía e instruía, estava lamentavelmente ultrapassada.

Dorinda lia depressa, mas começava a achar, com tristeza, que não teria tempo de conhecer a centésima parte do número de livros da biblioteca de Maximus Kirby antes de ser obrigada a partir.

Agora, apesar de imersa na leitura, a moça mantinha-se atenta ao relógio para poder trocar cedo de roupa e dedicar bastante tempo a Letty.

Dorinda dirigiu-se ao quarto da irmã. Antes de abrir a porta, ouviu vozes e compreendeu que a Irmã Teresa estava discutindo com Letty.

— Você não está tão cansada assim, querida — dizia a missionária. — Se se levantar, vai sentir-se muito melhor.

— Não quero me levantar — respondeu Letty. — A não ser para ir à Missão brincar com as crianças.

— Elas não vão estar lá esta tarde e você prometeu ao Sr. Kirby que o acompanharia na visita às plantações.

— Estou muito cansada — queixou-se Letty.

— Oh, Letty, você não pode desapontar assim seu noivo! — interveio Dorinda. — Ele está ansioso para mostrar-lhe suas colheitas… há dias que o Sr. Kirby vem falando sobre elas e eu já expliquei a você como são interessantes!

— Não quero ir! — gritou Letty, obstinada.

Virou-se em seguida e fechou os olhos. O modo como cerrou os lábios mostrou a Dorinda que não ia ser fácil convencê-la. Letty estava determinada a não sair de casa.

Dorinda e a Irmã Teresa pediram, discutiram, argumentaram, mas não conseguiram induzir Letty a visitar as plantações.

Afinal, com relutância, Dorinda teve de descer ao andar térreo e dizer a Maximus, à espera das moças, que Letty não estava se sentindo bem.

— Eu… acho que o calor… foi demais para ela… — explicou ela, hesitante, sem coragem de encará-lo para não ver seu desapontamento.

— Pensei que estivesse um tanto fresco — observou ele, friamente.

— Talvez tivesse sido melhor se Letty não tivesse saído esta manhã.

— Mas ela parecia muito bem ao almoço — recordou Maximus Kirby. — Bem, se ela não pode ir, talvez seja melhor adiarmos o passeio.

Por saber que ele estava aborrecido, Dorinda disse, com hesitação:

— Não precisa… adiar o passeio… posso não estar mais aqui… o senhor… se incomodaria de me levar?

— A senhorita gostaria de ir?

— Eu adoraria! Mas só se não lhe causar problemas… — respondeu ela.

— Deixei a tarde livre para visitar as plantações — disse o rapaz. — E há de fato uma série de providências que preciso tomar lá. Se a senhorita quiser me acompanhar…

— Oh, por favor, leve-me com o senhor — murmurou Dorinda, os olhos brilhantes.

— Muito bem, então. Vamos.

— Dê-me dois minutos para apanhar o chapéu.

Maximus Kirby estalou os dedos e deu uma ordem. Um menino chinês subiu correndo a escada e voltou com o chapéu de Dorinda, sua sombrinha e sua bolsa, que ela deixara na mesinha de seu quarto.

A moça pôs o chapéu sem mesmo olhar-se no espelho e seguiu Maximus Kirby até a porta principal.

Sob o pórtico, em frente à porta, ela viu um faetonte de apenas dois lugares em vez da carruagem que esperava.

Não um dos altos e até ridículos faetontes que tinha visto nos parques de Londres, mas um veículo confortável e útil, puxado por dois cavalos. Tinha grandes rodas, que, Dorinda sabia, lhe aumentavam a velocidade.

— Ele é consideravelmente mais rápido — explicou Kirby, como se tivesse lido o pensamento da jovem.

O veículo começou a mover-se tão depressa que Dorinda logo percebeu que lhe seria impossível segurar a sombrinha e ficou agradecida pela fita que prendia ao seu queixo o chapéu de palha.

A tarde estava maravilhosa e, como o caminho era em subida, o calor era suportável. O veículo se movia rapidamente em direção ao norte, para o interior do país, por estreitas estradas orladas de flores.

Dorinda avistou grandes florestas, com árvores em floração, e sua beleza era indescritível.

Viajaram por mais de uma hora antes de alcançarem a primeira das plantações de Maximus Kirby.

— Tenho feito algumas experiências — disse Kirby a Dorinda, durante a viagem. — Mandioca, batata-doce, sagu, fumo, cana-de-açúcar e abacaxi. Mas nos últimos nove anos temos desenvolvido algo novo na Malásia, algo que espero venha a ser de grande importância para a economia do país.

— O que é?

— Borracha — respondeu ele.

— Pensei que a borracha era proveniente desta parte do mundo…

— Ainda não. A borracha que a Europa conhece foi descoberta pelos espanhóis na América do Sul.

— Ah, tem razão. Agora estou me lembrando.

— Um dos exploradores descreveu um jogo asteca de bolas “feitas do suco de uma certa árvore, as quais atiradas contra o solo, saltavam suavemente de volta ao jogador”.

Dorinda sorriu.

— Parece que a borracha tem tido, desde então, muitas outras aplicações.

— Um dos seus mais cultivados usos, são sem dúvida, as capas impermeáveis.

— Já li a esse respeito — disse ela, feliz por poder demonstrar seus conhecimentos. — O homem que descobriu o modo de confeccioná-las foi um químico escocês chamado Charles Macinntosh.

— A senhorita é muito culta, Miss Hyde — elogiou Kirby. — Talvez tenhamos lido os mesmos livros. De qualquer modo, convenci-me de que seria de grande importância para a Malásia a plantação de seringueiras. Elas foram trazidas para esta região por um homem muito brilhante, Sir Charles Markham.

— Já ouvi falar dele — murmurou Dorinda.

— Ele desenvolveu nos Jardins Botânicos de Kew experiências que me convenceram da viabilidade da produção de borracha na Índia e na Malásia. Agora a senhorita vai ver a minha plantação de seringueiras…

— Espero que a sua experiência seja bem sucedida! — exclamou Dorinda.

Enquanto falava, a jovem não tinha dúvida de que Kirby obteria êxito. Sentia que, embora desafiando a sorte com as suas idéias, ele seria inevitavelmente um vencedor.

— A sorte deve ser mulher — murmurou a moça para si mesma.

Dorinda estava certa de que qualquer mulher no mundo, exceto Letty, acharia Maximus Kirby irresistível e não se atrevia a admitir, nem para si mesma, o que sentia por estar ao lado dele… e a sós!

Mas outras plantações deviam ser antes inspecionadas e, por toda parte se viam búfalos, pesados e fortes, movendo-se com estranhos ruídos e parecendo animais pré-históricos.

Eles saíam dos pântanos e se arrastavam, gotejantes, pelos campos secos, freqüentemente montados por crianças malaias que os dirigiam com autoridade.

— Os fazendeiros indianos preferem vacas e os chineses criam porcos e patos — disse Maximus Kirby.

Bandos de patos brancos nadavam onde quer que houvesse água.

“Alimento para os milhares de chineses em Cingapura”, pensou Dorinda.

Eles chegaram a uma plantação e o capataz correu para o veículo, ansioso para descrever ao Sr. Kirby os progressos realizados.

Homens e mulheres trabalhavam lado a lado, seus estranhos chapéus cônicos protegendo-os do sol. O solo parecia fértil e o trabalho corretamente executado.

Dorinda gostaria de falar com os colonos, mas sabia que eles não a compreenderiam. Só o capataz falava inglês.

As plantações eram bem extensas e distavam umas das outras muito mais do que Dorinda esperara.

A jovem não podia deixar de constatar que, sendo ela e não Letty a acompanhante de Maximus Kirby, o rapaz estava produzindo mais do que conseguiria se tivesse que se preocupar em não cansar demasiadamente sua futura esposa.

— Agora, vamos para a minha plantação de seringueiras — disse Kirby, com excitação na voz.

Continuaram a viagem e Dorinda notou que Maximus Kirby tinha desbastado parte da selva para a plantação de suas novas árvores.

— A senhorita não deve ficar desapontada com a pequena altura das árvores — disse o rapaz. — Elas ainda não tiveram tempo suficiente para crescer. As seringueiras das espécies que estamos usando podem às vezes crescer até 120 pés e ter um tronco de mais de 18…

— Isso me parece espantoso! — exclamou Dorinda.

— E é — confirmou Kirby. — Mas estamos alcançando 60 a 80 pés. Acho que devo me contentar com isso.

— Quando começam a sulcá-las… esse é o termo exato?

— Sim, sulcar é a palavra correta, mas a operação não pode ser feita antes de cinco ou seis anos, quando então o látex, como o chamamos, é recolhido num recipiente.

As árvores estavam bem espaçadas e Maximus Kirby explicou que a medida era usual, pois os espaços seriam preenchidos com cafeeiros e coqueiros.

Ele conduziu lentamente o veículo e os cavalos se detiveram diante de um pequeno bangalô recém-construído, cercado por um jardim e situado num local que pareceu a Dorinda o final da plantação.

Como se tivesse lido seus pensamentos, Maximus Kirby observou:

— Aqui apenas começa a plantação de seringueiras. Dentro de um mês, vou começar a desbastar outra grande área da selva. Por isso o bangalô foi aqui construído. Quero que fique no centro da plantação.

Um velho chinês, idoso demais para trabalhar, apareceu, segurou os cavalos, enquanto eles desciam do veículo, e os levou em seguida para a sombra de algumas árvores frondosas.

Depois de ajudar Dorinda a descer do faetonte, Kirby perguntou ao chinês pelo capataz. O velho apontou para determinada direção e Dorinda, acompanhando sua indicação, viu, entre as árvores, um homem, usando camisa e calças brancas.

Eles foram ao seu encontro e Dorinda verificou que era o primeiro capataz inglês que ela encontrava nas terras de Maximus Kirby.

Kirby apresentou-o como Sr. Langton. Era um homem jovem — talvez vinte e sete anos — que cumprimentou o patrão com alegria.

— Que prazer em vê-lo, Sr. Kirby! — exclamou o capataz. — Eu estava mesmo desejando a sua visita. Há numerosos assuntos que eu gostaria de conversar com o senhor.

— Pensei em vir aqui a semana passada — disse Kirby — mas não foi possível. Qual é o problema?

O capataz usava uma arma sob o braço e depois de apoiá-la a um tronco de árvore, tirou alguns papéis do bolso.

— É a respeito da última remessa de material… — começou o homem.

Dorinda, sabendo que nada tinha a ver com os negócios de Maximus Kirby, afastou-se discretamente e foi inspecionar as árvores. Notou as folhas, verdes e longas, que deviam ter mais de 18 polegadas de comprimento, e as flores amareladas que cresciam em cachos e àquela distância, pareciam muito bonitas.

A jovem caminhou pela plantação, até avistar, bem à sua frente, as altas árvores e a folhagem escura da floresta.

As árvores eram impressionantes, com troncos espantosamente grossos e algumas de inacreditável altura. Muitos cipós se enrascavam pelos troncos e se curvavam sobre os ramos, ligando árvore a árvore, numa massa quase impenetrável.

Dorinda reconheceu os ratons, espécie de palmeira sobre a qual lera, de hastes longas, firmes e flexíveis e espinhos recurvos nas largas folhas. Tudo era tão fascinante e belo que ela se aproximou mais um pouco, esperando surpreender uma daquelas aves maravilhosas que povoavam as florestas malaias.

A despeito do que dissera a Letty, ela sabia que aqueles pássaros raramente eram encontrados fora da floresta e jamais poderiam ser vistos nos jardins de Maximus Kirby. A selva parecia um lugar estranho e encantado, o retiro talvez de bruxas e dragões.

O grito de alguns pássaros voando de uma árvore mais alta a assustou e ela percebeu em seguida o movimento de um pequeno animal no solo.

A moça continuou a avançar, ansiosa por mais descobertas, esquecendo-se de toda a prudência, apenas consciente do sentimento de aventura que a dominava.

Então, entre os troncos de duas grandes árvores, meio escondido pelas lianas e, no entanto, perfeitamente reconhecível, ela viu o brilho de dois olhos verdes numa pele listrada de amarelo.

Um tigre!




  

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