Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





CAPÍTULO I



CAPÍTULO I

 

 

Os rios de lava incandescente descendo pelos flancos do vulcão Pacaya podiam ser vistos a quase vinte quilômetros de distância. Karen, pensativa, observava aquela manifestação violenta da natureza, imaginando como as pessoas podiam conviver com um perigo tão constante, já que o Pacaya era somente um entre os oito vulcões ativos da Guatemala.

— Não há vulcões no lugar aonde vamos — disse o homem que parecera adivinhar seus pensamentos, ainda dentro do táxi que os trouxera até a região. —Petan é praticamente selva fechada. É quente e úmido. Acha que vai aguentar?

Com um sorriso nos lábios, os olhos refletindo as luzes dos outros veículos que passavam pela rodovia, Karen respondeu:

— É um pouco tarde para dúvidas ou arrependimentos.

— Concordo. Só queria me certificar de que você sabe o que está fazendo — Roger Halsey esclareceu com outro sorriso.

— Certíssima! Esta é a oportunidade pela qual sempre esperei.

— Perguntei por perguntar — Roger falou. — Não precisa tantas explicações. De qualquer modo, você não estaria aqui se eu percebesse que haveria a possibilidade de... bem... de você desistir no meio do caminho.

Ele a estudou por um momento, quieto, admirando a beleza daquele rosto oval e bem feito, onde brilhavam dois enormes olhos verdes que combinavam perfeitamente com os cabelos de um loiro natural.

— Com a sua aparência você deveria estar em frente às câmeras, não atrás — comentou Roger Halsey.

— Estou mais do que feliz por estar aqui. Olhares não contam para mim. Você disse que o professor Rothman chegou há dois dias?

— É isso mesmo. Ele emprestou a casa na qual vamos ficar hospedados enquanto estivermos na cidade; é de um amigo que está fora do país no momento. O professor cobriu uma parte do território já faz um ano, usando o mesmo guia que contratamos para nossa expedição. — Roger agora falava entusiasmado. — Foi uma ótima ideia do professor levar fotógrafos que testemunharão essa empreitada. Vai ser soberbo!

— E Jake Rothman como sempre levará todo o crédito e prestígio — Karen acrescentou, seca. — Nunca ninguém percebeu que é a produção como um todo que conta, o resultado final? Sem você e as câmeras, ele é só mais um arqueólogo.

— Mais do que isso. Os interesses do professor se estendem por quase todos os ramos das ciências naturais. De qualquer modo, ele é o nome que vende o produto final. Eu me satisfaço em saber que sou importante e responsável por toda a locação e seleção de pessoal — Roger continuou. — E, de mais a mais, é fácil trabalhar com Jake. Ele conhece todo seu pessoal. Tem trinta e poucos anos, o que o torna especial em sua área.

— Suponho que não seja casado.

— Não. Está à espera da mulher certa — Roger concluiu, irônico. Karen lhe dirigiu um olhar cético. Os problemas amorosos de seu patrão não eram segredo. Aos trinta e dois anos, Jake Rothman era um dos maiores diretores e produtores de documentários do ramo, uma estrela, viajando grande parte do tempo, o que dificultava o estabelecimento de um lar permanente. Como assistente, Karen também mal vira sua casa nos últimos meses.

Tinha se candidatado ao emprego sem muitas esperanças. Vinda da obscuridade de uma televisão provinciana, constatou na ocasião que prescindia da experiência requerida por uma grande rede de comunicação. Mas a sorte estivera a seu lado, e Roger havia apostado em seu trabalho ao lhe oferecer tal desafio. E ali estava Karen, aos vinte e quatro anos, pronta para acompanhar a expedição e experimentar o que poderia ser a experiência mais excitante de sua vida. O que mais podia desejar?

— Ainda é difícil acreditar que eu estou aqui. Espero não decepcioná-lo — Karen comentou.

— Isso não vai acontecer. Você é a melhor assistente que já tive. Satisfeita com o elogio, Karen agradeceu sorrindo:

— Parece que nos separamos do outro táxi, ainda não chegaram.

— Howard tem o endereço — Roger disse com calma. — Deve estar se certificando de que o material fotográfico não corre riscos. Logo estaremos lá.

Como que em resposta ao comentário, o motorista pôs o carro em movimento, tomando a rodovia principal e, logo após, uma arborizada variante à esquerda, parando finalmente em frente a um enorme portão de madeira que escondia a bela casa cercada por altos muros de pedra mais ao fundo.

— Chegamos — Roger falou, decidido. — Salte e toque a campainha enquanto eu resolvo as coisas aqui, por favor, Karen.

Karen desceu do táxi e deu uma rápida esticada no corpo, cansada pelas longas horas de vôo. A saia justa e um tanto curta estava fora de linha, e com gestos rápidos ela a recolocou no lugar, antes de se dirigir à entrada principal.

O toque da campainha era alto o suficiente para acordar os mortos, mas mesmo assim ninguém respondeu ao chamado até o momento em que o táxi partiu e Roger se juntou a ela.

— Tente outra vez. Tem de haver alguém por aí.

A porta se abriu quase que de imediato ao segundo toque. Resmungando em espanhol, o homem que os atendeu indicou o caminho e fechou a pesada porta, indiferente aos avisos de Karen de que o resto de equipe estaria chegando em poucos minutos.

O jardim em frente a casa era de um multicolorido deslumbrante. Flores de todas as espécies proporcionavam uma festa aos olhos. Azuis brilhantes, vermelhos dos mais variados matizes, amarelos e verdes salpicavam aqui e ali em meio ao perfume forte das flores dos maracujás que rodeavam toda a propriedade. A casa, de construção tipicamente espanhola, tinha janelas de ferro fundido, num bonito trabalho, e a varanda como um balcão acompanhava todo o andar térreo.

Alguns degraus de pedra colocavam a construção em um nível pouco acima do jardim. Um homem de passos firmes veio em direção a Karen e Roger assim que ambos pisaram no hall de entrada, trazendo um ar de ligeiro desagrado em sua expressão, enquanto seus olhos pousavam desconfiados na jovem.

— Não foi mencionado nada a respeito da presença de uma mulher em nosso grupo.

Suspeitando de que aquele tom sarcástico que acompanhara o comentário tinha algo a ver com objeção, Karen encarou resoluta o homem a sua frente.

— E isso é um problema, professor Rothman? — inquiriu a jovem fotógrafa.

— Não, se eu tiver alguma coisa a ver com esse fato. Quem é você, afinal?

— Karen Lewis — respondeu Roger. — Minha assistente. É bom vê-lo de novo, Jake — falou estendendo a mão para um cumprimento.

— Sim, é bom te encontrar também. Lamento não poder dizer o mesmo sobre sua assistente.

— Estou aqui porque sou muito boa no que faço — Karen falou, na defensiva. — Tinha a impressão de que competência era o que se usava para avaliar as pessoas hoje em dia.

— Talvez em algumas esferas — Jake Rothman replicou. — No lugar para onde vamos não há espaço para se estabelecer a luta pelos direitos igualitários entre homens e mulheres. Você não agüentará a pressão.

Enfrentando aquele homem num pleno desafio, Karen podia perceber a vigorosa masculinidade que emanava de sua figura. Alto, bem feito de corpo, cabelos escuros e espessos que terminavam em pequenos caracóis junto à nuca, apesar do corte bem feito. Ela havia visto dois de seus documentários anteriores na tevê, mas encontrá-lo em pessoa era algo totalmente diferente. Não havia como negar nem deixar de sentir a presença marcante daquele homem, que com certeza não era para ser levado na brincadeira.

— Faça uma experiência — falou, corajosa, enfrentando o brilho irônico dos olhos azuis de Jake Rothman.

— Temo que esse seja um convite do qual terei de declinar. Entretanto, não há razão para que não fique conosco até nossa partida. Decididamente você é uma mulher muito bonita.

— Posso perceber que as mulheres têm um único significado para você — Karen replicou, sem pensar duas vezes. — Já encontrei outros homens com o mesmo tipo de pensamento!

— E lidou com eles com muita facilidade, tenho certeza. — O sarcasmo daquela voz tomou conta do ambiente. — Entre, por favor, srta. Lewis. Você também, Roger. Deve estar louco por um drinque.

— Sim, ótima idéia.

Roger, então, limitou-se a dar um olhar para Karen, um olhar que parecia querer dizer deixe as coisas como estão no momento, veremos o que fazer mais para a frente.

Furiosa, Karen tomou a dianteira do caminho que Jake Rothman lhe apontava, entrando em uma sala muito bem decorada. Mobiliada com madeira escura e tapeçarias vivas e brilhantes, a sala era um meio termo entre a nova e a antiga Espanha, sendo mais confortável do que luxuosa. O verde das plantas do jardim continuava presente na sala em profusão. Karen adoraria estar ali em qualquer outra ocasião, mas nesse instante não era capaz de apreciar nenhum detalhe da história que se apresentava a seus olhos.

— Vou pedir a Manuel que prepare um quarto para você — disse Jake. — Por enquanto, gostaria de se juntar a nós para um drinque?

— Obrigada. Vou querer uma vodka com gelo, por favor.

— Tentando provar alguma coisa? — perguntou Jake, arqueando as sobrancelhas.

— Que eu gosto de vodka.

Karen se sentou em dos sofás e estava a ponto de cruzar as pernas quando percebeu que suas coxas ficariam à mostra. Desistiu. Deveria ter vindo de calça comprida, mais apropriada para a ocasião. Saias justas eram extremamente femininas, mas às vezes podiam dar uma imagem errada. Se tivesse chegado com o rosto lavado e de calça comprida, Jake Rothman talvez a tivesse levado mais a sério. Imediatamente um novo pensamento lhe ocorreu.

Homens como Jake Rothman eram muito seguros em seus julgamentos, nunca seriam iludidos por uma imagem. Viam as mulheres como o sexo frágil, e isso era tudo. Teria de provar a ele que era capaz de executar muito bem o trabalho que a aguardava. O drinque, da mais pura e autêntica vodka, quase a fez tossir e engasgar. Jake servira uma dose generosa da bebida e quase nenhum gelo.

— Está bom, obrigada — Karen falou para aquele homem que a observava enquanto dava o primeiro gole

— Eis aí uma garganta de ferro — Jake comentou divertido.

— Será que isso prova alguma coisa? — Karen retrucou, pensando ver um ligeiro brilho de aprovação nos olhos azuis.

— Talvez devêssemos falar sobre isso mais tarde — Roger sugeriu. — Os outros devem chegar a qualquer instante, pois saímos todos juntos do avião.

A campainha tocou nesse exato momento, confirmando as palavras de Roger. Jake depositou seu copo numa pequena mesa ao canto e se dirigiu à porta de entrada. Um elemento de simpatia se infiltrou no pensamento de Karen ao perceber que Jake não se importava de fazer o serviço do criado, que estava ocupado em algum lugar da casa. Se Jake conseguia ser maleável nesse aspecto, com certeza teria outros pontos a serem considerados.

— Lamento o que houve — Roger falou assim que Jake se distanciou. — Não se preocupe, darei um jeito.

— Quando?

— Assim que conseguir ficar alguns minutos a sós com Jake. Quando ele perceber que você é capaz de conviver bem com os outros homens, aceitará a idéia.

— E se ele não concordar?

— Eu preciso de você trabalhando comigo. Jake tem de aceitar. Karen nada podia fazer no momento. Teria de se contentar com aquela situação inesperada, apesar de preferir um confronto imediato. Jake Rothman tinha tirado um pouco do seu entusiasmo inicial.

— Ele tem alguma coisa contra as mulheres? — perguntou após alguns instantes.

— Não que eu saiba. Geralmente, quando não está trabalhando, está em companhia de alguma delas.

— Nenhuma ligação mais séria?

— Não sei de nenhuma. Está interessada?

— Muito engraçado. Pensei que, com todo esse conhecimento, Jake Rothman tivesse uma mente mais aberta.

— Alguns homens nunca verão as mulheres como suas iguais.

— Menos você. Acredite Roger, isso é muito importante. Sua esposa não sabe a sorte que tem.

— Minha esposa — repetiu, seco. — Ela tira vantagem desse fato. Tenho considerado o divórcio como a única saída para nós. Já tentei de tudo.

— Ela sabe disso?

— Nunca nos sentamos para conversar abertamente sobre o assunto, se é isso que você quer dizer. Mas já dei algumas indiretas. Ela é uma especialista em cobrir pistas.

— Você tem certeza de que sua esposa se encontra com outro homem?

— Uma longa lista, Karen. Já teria terminado com tudo se não fosse por James.

— Entendo, James só tem cinco anos.

— Pensei que as coisas mudariam com o nascimento de um filho, mas... Deveria ter me casado com alguém feito você.

Karen não teve tempo de responder. Passos e vozes se aproximavam da sala. Os três recém-chegados estavam carregados de equipamento. Jake sugeriu que fossem deixados na varanda e chamou a todos para um drinque de boas-vindas.

— Comeremos dentro de uma hora mais ou menos — falou, dirigindo-se a todos os presentes. — Vocês têm tempo para se refrescarem da viagem. Temos só três quartos, isso quer dizer acomodação dupla, pessoal. Quer dizer, exceto para a srta. Lewis — completou com um ligeiro sarcasmo no olhar e na voz.

— Não precisa deslocar ninguém por minha causa — Karen protestou. — Dormirei em qualquer lugar.

— Você se importaria de dividir o quarto comigo? — O tom irônico era evidente. Como não obteve resposta, continuou: — Não? Bem, daremos um jeito. Será por poucos dias — acrescentou, dirigindo-se a todos na sala. — A srta. Lewis não irá a Petan com nossa excursão.

Mike Preston, o engenheiro de som, abriu a boca para dizer alguma coisa, mas fechou-a ante um gesto de Roger, que deu a Karen uma piscada de encorajamento. Quatro anos mais velho do que Karen, Roger nunca escondera a atração que sentia por ela, lamentando que a recíproca não fosse verdadeira. Karen não se interessara por Roger, mas agora temia que Jake percebesse a situação e acabasse tomando o fato de maneira errada, impedindo-a de vez de prosseguir até Petan.

Com seus quarenta e poucos anos, Howard Baxter, o cameraman, era outro problema. Homem quieto e sisudo, difícil de se conviver, apesar de já trabalhar há três anos para Jake Rothman, Howard pareceu não se afetar com o comentário de Jake. Talvez ele também desaprovasse a presença de Karen, não que tivesse algum poder de decisão, mas ter dois da equipe contra ela já seria demais.

Nigel Norris, o assistente de Howard, não contava. Tudo para ele era indiferente. No momento estava ocupado em examinar o conteúdo de seu copo, como se sua vida dependesse disso. Durante os quinze minutos seguintes a conversa girou em torno do futuro projeto, tendo Karen ficado à parte do círculo. Mesmo assim não conseguira deixar de prestar atenção a toda a conversa, em especial a tudo o que Jake dizia, nem conseguira deixar de notar o quanto aquele homem era atraente.

Sua pele exposta ao tempo era bronzeada, o rosto bem desenhado tinha traços nobres e firmes. A linha forte do maxilar mostrava falhas no barbear, e os lábios pareciam estar sempre úmidos. Encontrando o olhar de Jake a certa altura, Karen sentiu um ligeiro arrepio na pele e se policiou daí em diante; não queria que ele tivesse outras idéias. Mas o magnetismo viril daquele homem exalava por todos os seus poros.

Jake finalmente interrompeu a conversa com uma olhada para o relógio.

— Hora de pensarmos no jantar — falou, disposto. — Roger, você fica com Howard; Nigel e Mike juntos no outro quarto. Restou somente a srta. Lewis.

— Oh, nada de srta. Lewis. Eu Karen, você Jake.

— Está bem, Karen — concordou, surpreso. — Que tal eu lhe mostrar seu quarto agora?

— Você quer dizer, o seu quarto, não é? — Karen perguntou sem pestanejar. — Vamos lá.

Os quartos estavam situados no andar superior da casa. Dois ao lado de um banheiro comum e o terceiro ao final do corredor.

— Há um pequeno lavabo com chuveiro no quarto que estou ocupando — Jake esclareceu, enquanto Karen examinava o ambiente tipicamente masculino, onde um divã estampado de marinho e dourado ocupava lugar de destaque. — Me desculpe a ausência de cortinas. Assim como eu, o proprietário prefere ambientes bem abertos e iluminados.

Recostado ao batente, Jake se mostrava quase tão alto quanto a porta, Karen notou. Os ombros eram largos, e uma força latente emanava de sua pessoa. Um friozinho incômodo percorreu a espinha de Karen.

— Eu também — respondeu, percebendo a tensão na voz.

— Isso quer dizer o quê?

— Que gosto da vida ao ar livre. E, se não houver mais nada, pelo menos temos isso em comum.

Balançando a cabeça, Jake se preparou para deixar Karen à vontade.

— Duvido que estejamos falando sobre o mesmo assunto. Jantamos dentro de meia hora.

— Espere um momento, preciso falar com você. Eu não só consigo realizar o trabalho para o qual fui designada, como também qualquer outra coisa que me seja pedida. Isso inclui toda e qualquer tarefa considerada dura e difícil! Não viajei mais de cinco mil quilômetros para ser rejeitada pela força da opinião de um único homem. Se Roger me considera apta a realizar o trabalho, isso é tudo o que importa.

— E isso não é a opinião de um único homem? — Jake retrucou, sem esperar pela resposta.

Sem graça, mordendo lábio, Karen reconheceu ali uma derrota temporária. Agora tudo estava nas mãos de Roger. Contava com isso. A ducha foi eficiente e revigorante. Envolta em uma das grossas toalhas brancas, Karen abriu sua mala em busca das calça de seda creme e do top que fazia conjunto, que ali pusera no último instante, pensando em alguma oportunidade especial que surgisse e exigisse algo mais adequado além da coleção de jeans e camisetas que trouxera como guarda-roupa.

Karen não duvidava de que em breve voltaria a fazer parte da expedição. O próprio trabalho não havia sido uma certeza desde o início, mas mesmo assim havia vencido. De um jeito ou de outro, convenceria o professor Rothman de que era capaz. Ao descer encontrou-o sozinho na sala de estar. Ainda vestia a mesma roupa casual e confortável com que os recebera. Com um olhar preguiçoso, Jake percorreu a bela figura de Karen.

— É a primeira vez que vejo uma mulher não se atrasar — comentou.

— Há sempre uma primeira vez para tudo — Karen retrucou com uma aparente calma. — Não precisei dividir o banheiro com ninguém, e isso ajudou muito.

— Não, e isso me ocorreu depois de sair do quarto. Todas as minhas coisas estão lá — disse, passando a mão pelo rosto. — Emprestei o aparelho de barba de Roger.

— Quem você pretende impressionar? — Karen perguntou com doçura. — Se tivesse me chamado eu teria lhe jogado uma calça e uma camisa.

— Se eu estivesse tão preocupado assim, teria ido pessoalmente buscar outras roupas — foi a suave resposta. — Não querendo ser muito crítico, eu diria que você está vestida demais para a ocasião. Esperava usar essa roupa na excursão?

— Naturalmente que não. Só tive a impressão de que a cidade de Guatemala era civilizada, é tudo. O traje me pareceu propício, caso surgisse a chance. O restante de minhas roupas é extremamente prático.

— Pena que não vá precisar — Jake falou com frieza na voz. — Se não conseguirmos colocá-la no vôo de sexta-feira, poderá ficar aqui até encontrar lugar no próximo avião.

Um tremor de raiva percorreu o corpo de Karen, que num esforço conseguiu se controlar.

— Obrigada pela oferta, mas não será necessário. Irei nessa expedição, e você não vai me impedir!

— Acha que não? — Jake perguntou, admirado. — Estou interessado em saber como você irá me persuadir do contrário.

— Não preciso persuadi-lo de nada. Roger controla todo o pessoal.

— Só no que diz respeito a filmagem e fotografia. Sua presença seria um estorvo.

— Simplesmente porque sou uma mulher?

Karen estava agora furiosa a ponto de esquecer por completo a promessa de deixar que Roger tomasse conta da situação.

— Deixe que eu lhe esclareça alguns fatos da vida, professor Rothman. Podemos ser biologicamente diferentes, mas há poucas coisas que um homem consegue fazer e nós não. Sou uma andarilha e alpinista experimentada. Passei muitos feriados e finais de semana nas montanhas da Escócia e no Distrito de Lake, chegando a cobrir a pé mais de vinte quilômetros em um dia. Sou tão preparada quanto você, provavelmente até melhor, porque por certo sou no mínimo dez anos mais jovem. Posso desafiá-lo em qualquer terreno que pisarmos!

Karen parou de repente para respirar, o peito arfando como se tivesse acabado de correr um longa distância. Jake observou por longos instantes o movimento dos seios sob o delicado tecido de maneira propositada, antes de levantar os olhos para encará-la. Karen podia sentir o rubor quente nas maçãs de seu rosto alvo.

— E o que me diz do outro aspecto da questão? Uma mulher e cinco homens?

— O que tem isso? — ela desafiou.

— Creio que não deveria ter de explicar. Estaremos fora por algum tempo. Dadas as circunstâncias, qualquer mulher seria um problema. E você com sua aparência seria problema e trabalho centuplicado.

— Talvez o senhor, professor Rothman seja incapaz de ficar sem uma mulher por algumas semanas, mas não julgue a todos segundo sua própria conduta. Estamos falando sobre uma equipe de profissionais e não sobre uma tribo de silvícolas.

Um torcer de lábios acompanhou as palavras daquele homem que a encarava agora de um modo mais suave.

— Então, talvez eu seja aquele com quem você deva se acautelar. E o nome é Jake, lembra-se? Mais um desses professor e eu saberei o que fazer com você.

A entrada de Roger impediu qualquer resposta que Karen pudesse ter para aquela ameaça. Como toda a conversa aconteceu num tom de voz moderado, Roger não sabia direito sobre o que falavam, mas a eletricidade que pairava no ar era inegável. Roger olhou para ambos, perturbado. Jake foi o primeiro a quebrar o silêncio:

— Que tal uma bebida antes do jantar? Karen, o que vai querer? Repentinamente ciente do tremor que a dominava, Karen num esforço enorme recompôs o equilíbrio.

— Qualquer coisa, menos vodka, por favor. Estava um pouco forte demais.

Jake se dirigiu ao bar a um canto da sala, depois de ouvir o pedido de uísque de Roger, deixando os dois lado a lado em um dos sofás.

— O que estava acontecendo aqui? — Roger perguntou numa voz sumida. — Ou será que vou ter de adivinhar?

— Preciso que você esclareça algumas coisas para Jake. Ele precisa saber que eu não estaria aqui se não fosse necessária.

— É verdade — Roger concordou, um tanto desconfiado.

— Então, quando vai dizer a ele?

— Assim que tiver uma chance — Roger respondeu abruptamente. — Deixe para depois, Karen, por favor, sim? Não é a hora nem o lugar.

Bem, quando seria então a hora e o lugar adequados para tal conversa? Karen mal conseguia esperar para resolver tal questão. A calma de Roger estava começando a deixá-la nervosa, e um sentimento de medo se insinuava em sua mente.

 

 



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.