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Na voragem da paixão - Anne Mather

Valley Deep, Moutain High, 1976,

Mills & Boon

Andréa, uma jovem milionária, estava passando as férias em uma estação de esportes de inverno, na Áustria, quando conheceu o barão Axel von Mahltrom. Ele era muito atraente, mas Andréa não alimentava a menor ilusão a respeito do tipo de homem que tinha diante de si: um caça dotes, nada mais do que isso. Andréa jurou a si mesma que não lhe daria uma menor oportunidade de pôr as mãos em seu dinheiro e planejou uma maneira eficiente de dar-lhe uma lição, trocando de identidade com sua prima, uma jovem desprovida de fortuna e atrativos. Ficou de lado, vendo Axel agir. Ele, porém, alterou todas as regras do jogo, de modo inesperado e perturbador.

   

 

   Na Voragem da Paixão

                                Anne Mather

         “Valley Deep, Montain High”

 

                                CAPÍTULO I

 

Andréa Connolly sentou-se em frente à janela da sala de estar, na suíte do hotel aonde estava hospedada, contemplando a paisagem sem o menor prazer. Não via nada de notável nos hotéis e restaurantes, pintados com cores muito vivas, que se sucediam uns aos outros ao longo da rua prin­cipal de Grossfeld, ou nas montanhas coroadas de neve que se elevavam acima dos telhados da cidadezinha, impressionantes em sua magnificência. Já conhecia aquele tipo de cenário. Não era a primeira visita à Áustria e não queria estar ali. Era um absurdo que seu pai tivesse procedido daquela forma, enviando-a para lá como se fosse uma criatura indesejada, só porque não aprovava suas amizades! Pela primeira vez desejou ter uma mãe a quem pudesse recorrer.

Contraiu os lábios com rebeldia. O que ele pretendia? Como poderia ter certeza de que ela não conheceria pessoas igualmente poucas recomen­dáveis naquele centro de esportes de inverno tão conhecido? Mas isto jamais aconteceria, porque ele enviara Janete para ficar de olho nela, e sem dúvida, sua acompanhante saberia como manter a distância os admi­radores mais afoitos.

Ao olhar para sua prima que se ocupava da bagagem, Andréa sentiu-se envergonhada. Aquilo não era justo. Janete era uma jovem agradável e atraente. Não era culpa dela se não tinha gostopara se vestir ou se tia Lavinia invejava o sucesso do cunhado, a ponto de viver procurando razões para criticar o estilo de vida de Andréa.

Mas Patrick Connolly, o pai de Andréa, não pensara duas vezes, nem mesmo quando a própria Andréa admitiu que tinha certas dúvidas sobre sua entrada na universidade, no próximo ano. Atribuiu tudo aquilo ao grupo de jovens com quem ela andava, um bando de estudantes, artistas e marginalizados da sociedade, para quem o dinheiro era uma palavra suja.

Sua cunhada concordava inteiramente com ele. Há muito que Lavinia não gostava de uem contraste com o que sucedia com sua filha Janete, que tinha de empreender uma luta constante para atingir e manter um certo status. Patrick teria de bom grado custeada a educação de Janete, mas seu irmão, Joe, declinou sua oferta. Em conseqüência Lavinia teve de orientar suas ambições para outras direções. As garotas agora estavam com dezoito anos; Janete deixara os estudos e parecia gostar de seu trabalho em uma agência de turismo. Andréa esperava o momento de entrar na universidade. Isto deixara Lavinia furiosa, mas o pai de Andréa encarava a coisa diferentemente.

Andréa ouviu o barulho da porta que se fechava e olhou para a prima. Não eram nada parecidas. Janete era de estatura média, propensa a gor­dura, como sua mãe, e tinha olhos escuros. Seu cabelo era castanho-claro, com algumas mechas alouradas, e possuía uma ondulação natural de belo efeito,

Andréa por outro lado, era quase tão morena quanto uma latina e seus olhos eram verdes e brilhantes. Era também alta e extremamente esbelta. Quase sempre usava jeans e blusas, para grande contrariedade de seu pai, enquanto Janete, influenciada por sua mãe trajava saias incômo­das e blusas cheias de babados. Andréa morria de vontade de ver sua prima usando calças bem talhadas e blusas justas, e seu maior desejo era subtraí-la à influência opressiva de sua mãe. Talvez a oportunidade estivesse aí, agora. . .

Janete abria as portas dos quartos, explorando os aposentos que deve­riam ocupar durante um mês inteiro.

— Que quarto você quer, Andréa? — perguntou com sua voz infantil e contida: — Ambos são ótimos!

Andréa tirou o casaco de pele de carneiro e sentou-se em uma das poltronas de cetim. — Escolha você — respondeu sem muito entusiasmo. — Não me importo, contanto que tenha cama.

— Oh, Andréa! — Janete deu um risinho e entrou cm um dos quartos. Voltou após alguns momentos, admirada. — Sabe, há um banheiro em cada quarto. Não é uma maravilha? Imagine, dois banheiros para nós duas!

É. Não daria para usar o mesmo banheiro ao mesmo tempo — observou Andréa secamente, sentindo-se arrependida no mesmo instante, ao contemplar a reação desolada de Janete. O fato de não querer ter vindo para aquele lugar não era razão para agredir Janete. E, afinal, Janete estava acostumada a morar em casas com apenas um banheiro. Forçou um sorriso zombeteiro e acrescentou: — Além do mais, acho que sua mãe não aprovaria você usar o mesmo banheiro que eu. Você poderia ficar contaminada com meu temperamento imprudente!

— Oh, Andréa! Bem, já é uma hora. Que tal almoçarmos antes de desfazer as malas?

O hotel Kiitzbuhl era realmente muito confortável, com sauna e piscina no subsolo. No térreo havia um grande salão de estar, do qual se avista­vam as pistas de esqui, no fundo do hotel; dois bares e um restaurante muito bem iluminado, que dava para a rua do comércio, sempre fervilhante de gente.

Andréa encarava tudo aquilo com a naturalidade de quem estava habi­tuada ao conforto, mas Janete fazia comentários excitados a cada nova descoberta.

— Vamos nos divertir muito — assegurou, ao se acomodarem em uma das mesas do restaurante, que não estava muito cheio àquela hora do dia.

Janete, experimentando Schnitzel pela primeira vez olhou para a prima, tomada de dúvidas. — Você vai gostar, não é mesmo. Andréa? Eu sei que você já esquiou antes, dezenas de vezes, mas o tio Pat disse que você nunca esteve em Grossfeld.

— É verdade, não estive — reconheceu Andréa. Levantando o copo contemplando o vinho em seu interior. — Mas todas as estações de esporte de inverno se parecem.

— O que quer dizer com isso?

Andréa suspirou, olhando pensativa em torno do restaurante. — Bem, deixe-me ver. Para início de conversa, as pessoas são as mesmas. — Fez uma pausa. — Sabe, aqui a gente só encontra dois tipos de pessoas: as que têm dinheiro e as que gostariam de ter.

— Mas que observação mais cínica! — Janete estava chocada. Ela também olhou disfarçadamente para a saia. — Toda essa gente me parece muito simpática.

— Janete. Eu não sou mais velha do que você, porém tenho um pouco mais de experiência, acho. Uma garota sozinha em um lugar como Grossfeld é prato cheio para qualquer caça-dotes, que aliás vêm para cá de todos os pontos da Europa. Espere e verá. Claro, há também jovens viajando com o dinheiro do papai, mas os homens totalmente atraentes nunca têm um centavo, e a gente logo percebe que eles nos fazem a corte unicamente com o olho no dinheiro.

— Mas quem sabe, com alguma sorte, a gente encontre coisa melhor. — observou Janete, e Andréa teve de sorrir.

— Você diz isto, Jan, mas é muito melhor a gente ser amada por aquilo que é. É por isso que eu saio com aquele bando de gente, quando estou em casa. Eles, pelo menos, são pessoas reais e não cópias um do outro. — Fez uma pausa. — Quer mais vinho?

— Não tenho o costume de beber vinho ao almoço.

— Mamãe não gostaria, não é? — disse Andréa em tom de zombaria.

— Não disse isso. Está bem, aceito, obrigada.

Enquanto enchia o copo da prima, Andréa sentiu-se ligeiramente envergonhada.

— Desculpe, Janete — disse. — Acho que não estou sendo lá muito boa companhia. Prometo melhorar.

Janete tomou um pouco de vinho. — Não a compreendo, Andréa, juro que não. Você tem tudo: boa aparência, dinheiro, é atraente! Eu seria feliz, se tivesse uma dessas três coisas.

— Seria mesmo? — Andréa parecia momentaneamente aborrecida. — Oh, Jan, não seja tola! Você é muito atraente, ou melhor, seria, se usasse roupas mais apropriadas.

— O que há de errado com minhas roupas?

— É claro que você não precisa que eu lhe diga!

Janete ficou vermelha. -— Você é muito pouco gentil, Andréa! Eu não critico o modo como você se veste; por que você implica comigo?

— O que você teria a dizer a respeito de minhas roupas? São limpas e baratas, só isso.

— Você parece uma daquelas estudantes que a gente vê no noticiário da televisão, indo participar de piquetes de greve e coisas desse gênero.

— E daí? Minhas roupas me cobrem, não é mesmo? Não sou nenhuma indecente.

— Depende. Esses jeans que você usa são apertados demais.

— Ah, é mesmo?

— Eu, em todo caso, não aprovo essas roupas gênero hippy. Escolho muito as lojas onde compro o que uso.

— E onde é que você faz compras? Na Sears?

Janete ficou vermelha que nem pimentão. — Andréa! Como você é má! — Levantou-se precipitadamente, no momento em que um casal entrava no restaurante. Janete deu de encontro com o homem e ele segurou-a rapidamente pelos ombros, para impedir que ela perdesse o equilíbrio. O homem era alto, devia ter um metro e oitenta, imaginou Andréa. O cor­po era esguio, musculoso, e os cabelos, grisalhos e compridos, cobriam-he a nuca. Janete olhou-o com os olhos rasos de lágrimas, murmurou uma desculpa e saiu correndo pelo hall, em direção à escada.

Andréa contemplara aquela cena com irritação, tomada por um senti­mento de culpa. Não era justo tornar sua prima o bode expiatório dos erros de seu pai.

O casal que entrou no restaurante no momento em que Janete se retirava dirigiu-se para uma mesa apartada das demais. Andréa notou que a mulher era alguns anos mais velhos do que o seu companheiro, que nesse momento se voltou para Andréa e seus olhares se cruzaram. Ela se sentiu perturbada, porque aqueles olhos cinza e frios denunciavam com clareza que o homem sabia que ela era a responsável pela mágoa causada a Janete.

Andréa desviou o olhar e concentrou-se na comida em seu prato. A carne esfriara, mas ela decidiu que não daria a ele ou a Janete o prazer de saber que a haviam perturbado. Com uma determinação que seu pai teria admirado, obrigou-se a terminar de comer com calma. Ao sair do restaurante, teve certeza de que aquele par de olhos cinza seguia-lhe através das mesas, e a curiosidade fez com que ela olhasse por cima dos ombros. O homem parecia entretido com sua companheira e nem sequer levantou os olhos. Andréa comprimiu os lábios e dirigiu-se para o hall.

— Andréa!

Alguém a saudava com efusão e ela perdeu um pouco aquela com­postura estudada. Voltou-se lentamente e viu a garota que, junto com um grupo de rapazes e moças, entrava no hotel. Em trajes de esqui, aca­bavam de chegar das pistas, rostos corados, eram a verdadeira imagem de saúde. Quase todos os rapazes olharam para Andréa com admiração, o que para ela não era nenhuma novidade. Não era vaidosa, mas sabia o efeito que causava no sexo oposto.

— Alo, Susie — respondeu para a garota que a chamara e todos se uniram em torno dela. Tinham estudado no mesmo colégio.

— O que está fazendo aqui? — indagou Susie. — Achei que você não gostasse de lugares como este.

— Estou aqui com minha prima. Ela nunca fez esqui. E você?

—Oh, vim com mamãe e papai e acabei encontrando a turma — respondeu Susie sorrindo.

— Você vai ficar muito tempo, Andréa? — A pergunta foi formulada por um jovem a seu lado, de cabelos negros e olhos castanhos cheios de paixão.

— Vou passar um mês aqui — respondeu ela sorrindo, e ele pareceu ter ficado imensamente satisfeito.

— E nós, nos veremos mais tarde? — perguntou o rapaz de cabelos negros. Nesse momento uma garota a seu lado deu-lhe uma cotovelada nas costelas.

Andréa desviou o olhar do rosto tão convidativo de Roy e Susie disse: — Deixe-me apresentar-lhe a turma... — Desfilou vários nomes, mas Andréa só guardou o de Roy Stevens.

— Bem, vou indo — disse ela, no momento em que percebeu que

as garotas da turma não eram tão amáveis quanto seus companheiros. — Janete deve estar se perguntando que fim teve.

— Janete? — Susie franziu o cenho. — Ah, sua prima? Andréa fez que sim e Susie informou: — Bem, quase todos nós estaremos no bar Tirolês mais tarde. Provavelmente a gente ainda se cruze novamente.

— Provavelmente — concordou Andréa e, com um sorriso de des­culpas, afastou-se.

Janete estava no quarto, deitada de costas, com os olhos inchados de tanto chorar.

Andréa apoiou-se no batente da porta e olhou-a com comiseração. — Mas o que é isto, Jan, você não sabe encarar uma piada?

— Não foi uma piada! — replicou Janete. — Você estava falando sério, sei que estava, Oh, como me arrependo de ter vindo para cá!

Não diga uma coisa dessas. Está bem, sinto muito. Desculpe-me. Não tive a intenção de magoá-la,

— Teve, sim.

Janete não se convencia com facilidade, e Andréa sentou-se impulsiva­mente do outro lado da cama e olhou-a fixamente. — Janete, ouça-me! Estou certo, talvez eu tenha sido um tanto brusco, mas as minhas intenções eram as melhores. — Fez uma pausa. — Suas roupas estão fora de moda! Com roupas apropriadas e maquilagem correta você será um sucesso, pode crer! Olhe, que tal fazermos umas compras hoje á tarde? Papai me deu um bom dinheiro, e nestas estações de inverno sempre há butiques incríveis.

Janete fungou e apoiou-se nos cotovelos, — Mas para que fazer compras?

— Vou lhe dar de presente um novo guarda-roupa.

— Você não vai fazer uma coisa dessas!

— Por que não? Não me custa nada. O tom de Andréa era lacô­nico. — Talvez até mesmo me divertisse.

Janete sentou-se, animada. — Mas mamãe. . . Papai. . . não aprovariam.

— Seu paisinho não ficará sabendo, pelo menos enquanto durarem as férias. Depois será tarde.

— Sei lá, Andréa. . .

Andréa voltou-se e pôs-se a estudá-la. — Deixe-me ver — prosseguiu, como se sua prima não tivesse feito nenhum comentário —, calças, blusas e uns dois vestidos para a noite. Acho que, para início, está bom.

— Mas eu não costumo usar calças! — exclamou Janete, muito sem jeito.

— Você não sabe o que pode usar a menos que tente,

Janete levantou-se, sentindo que os olhos ardiam. —Vou lavar o rosto e tentar disfarçar que estive chorando,

— Eu, no seu lugar, não ficaria muito preocupada com isso — disse

Andréa, à guisa de consolo, — Todo mundo vai pensar que é por causa do frio. Vou esperar você na saía.

Completamente despida daquelas roupas desajeitadas que costumava usar, Janete parecia ridiculamente vulnerável, e Andréa sentiu-se meio inse­gura. Entretanto, um pouco mais tarde, ao ver a prima com uma calça bem justa e uma blusa em estilo militar, sentiu-se recompensada por ter feito aquela sugestão. Sem franjas, babados e tecidos rendados, Janete parecia bem proporcionada e nada gorda.

Um vestido de crepe de seda cor de abricó dava a ilusão de aumentar-lhe a estatura, e um cafetã de jérsei modelava discretamente suas curvas.

Enquanto regressavam ao hotel com os braços carregados de caixas, Janete conversava animada com sua prima. — Mamãe vivia dizendo que tenho pernas curtas demais para usar calças compridas e que elas não eram apropriadas para uma mulher. Mas isto não é verdade, não é mesmo? Nunca percebi antes.

— Você é feminina — comentou Andréa secamente — mas isto não está necessariamente nas roupas que você usa. Se você for suficientemente feminina, pode usar o que quiser.

— Oh, mas esses vestidos são um sonho! Ao lado deles os outros vestidos que tenho parecem um rebotalho. Será que estréio um deles hoje à noite?

— Acho que você deve — declarou Andréa com convicção, entrando no hotel. Deteve-se ao perceber um homem apoiado negligentemente ao balcão da recepção, conversando com a funcionária de plantão. Era o homem do restaurante, no qual Janete esbarrara ao sair, o mesmo que olhara para Andréa de maneira perscrutadora. Suas calças estreitas ressal­tavam a musculatura poderosa de suas pernas.

— Guten Tang, Fräulein. Wie geht es Ihnen? — disse ele dirigindo-se a Janete, e Andréa teve uma reação de impaciência, mas sua prima estava excitada com aquele encontro inesperado.

— Sinto muito, mas não compreendo — respondeu Janete, articulando cuidadosamente as palavras e falando em tom ligeiramente mais alto do que o necessário, como se ele fosse surdo e não de outra nacionalidade.

— A senhorita é inglesa, é claro. — O homem falava o idioma delas com um sotaque ligeiramente gutural. — Devia ter imaginado.

Janete respondeu com desenvoltura. — Foi muita gentileza de sua parte ter se lembrando.

Bitte schon. Não há de que. — Seu sorriso era ligeiramente irônico, mas deixou Andréa irritada. — Não é todo dia que uma linda inglesa se atira em meus braços.

— Oh! — Janete riu deliciada. — Quanta galanteria!

Ele sacudiu a cabeça, com os olhos fixos nos embrulhos que ela carregava. — Posso ajudá-la, nein? A senhorita está com pacotes demais.

— Nós damos um jeito, obrigada.

Andréa respondeu antes que Janete aceitasse seu oferecimento, e os olhos do homem percorreram-lhe o rosto, ainda queimado de sol, devido há uns dias passados nas Bermudas com seu pai, no mês de novembro. — Como quiser, Fràulein — ele disse. Inclinou-se mais uma vez, mas desta feita diante das duas. — Auf Wiedersehen.

Olhando Andréa com ar um tanto aborrecido, Janete dirigiu-lhe um Auf Wiedersehen e, muito ousada, acrescentou:

— Está hospedado aqui no hotel, Herr... Herr. . . ?

Von Mahlstrom, Fràulein — ele respondeu com muita polidez, subi­tamente formal. — Barão Axel von Mahlstrom, a seu serviço, Fràulein. Sinto muito, mas não estou neste hotel.

Os lábios de Janete articularam a palavra Barão, porém ela não a disse em voz alta. Limitou-se a dar um sorriso neutro e saiu apressada, pois Andréa a esperava impaciente.

Enquanto subiam, Janete arregalou os olhos para a prima. — Você ouviu? — ela perguntou, pasma. — Ele é barão, Andréa. Um barão de carne e osso! Você acha que é austríaco?

— Austríaco, alemão, qual é a diferença? — Andréa não se deixara impressionar. Tirou a chave da bolsa e entrou. — Um título destes não significa nada nos dias de hoje. Você se lembra do que conversamos hoje à tarde? Sobre os caça-dotes?

Janete ficou surpresa. — Você não está sugerindo que... O Barão von Mahlstrom é um caça-dotes?

— Diria que é mais do que provável.

— Por que?

— Oh, Jan, seja sensata! Não viu como ele nos olhava, decidindo qual das duas valia a pena ser abordada?

— Andréa, mas que coisa horrível você está dizendo!

— Como eu disse antes, Jan, dê-me algum crédito por eu ter um pouco mais de experiência.

— Mas ele mostrou-se tão gentil, tão simpático...

— Mas eles sempre agem assim. E não esqueça de dizer que ele é muito atraente — acrescentou Andréa secamente.

— Oh, sim! — Janete juntou as mãos, com uma expressão sonhadora no olhar. — Ele é lindo, não acha? É o tipo de homem que a gente nunca espera conhecer. Lembrou-me Steve McQueen.

Andréa virou os olhos para o céu. -— Sinceramente, Jan, ainda bem que seu pai não é rico. Você seria presa fácil para qualquer Casanova que a rondasse.

— E daí? Eu também me divertiria, não é mesmo? Não me impor­taria se estivessem atrás do meu dinheiro, contanto que os tivesse juntado a mim.

— Oh, Janete! Se sua mamãezinha pudesse ouvi-la!

Janete corou. — Bom — disse em atitude de defesa — você consegue fazer piada com uma coisa dessas, mas eu não. Talvez esta seja a minha única oportunidade de conhecer um homem como ele.

Andréa olhou pensativamente o rosto petulante da prima e uma idéia começaram a desabrochar em sua mente. Recordou-se vividamente do rosto sardônico do barão von Mahlstrom. A possibilidade de atrapalhar os planos dele e proporcionar a Janete uma aventura era uma tentação irresistível.

Janete sentia-se atraída por ele. Então por que ela, Andréa, não lhe proporcionaria todas as oportunidades para atraí-lo também? Andréa cons­tatou com cinismo que ela se imaginava a fada madrinha que agitava a varinha mágica e presenteava a Gata Borralheira com um príncipe, porém, não conseguia negar que sentiria um certo prazer em ver o barão expor-se ao ridículo. Claro, ele talvez não mordesse a isca, e nesse caso não have­ria nenhum mal. Mas se ele mordesse. Mordeu o lábio. Qualquer sentimento de culpa que ela porventura experimentasse poderia ser facil­mente superado pelo fato de que ela sabia que ele era tão culpado quanto ela. Aliás, mais culpado ainda, E isto poderiam dar novas perspectivas a todo aquele mês, tão aborrecido.

— Jan — ela disse, levantando-se da cadeira e desabotoando o casaco. — Jan, estive pensando. . .

— Sim?

O rosto redondo de Janete encerrava uma expressão de expectativa, e subitamente Andréa não conseguiu prosseguir. Que mau-caráter era, pen­sou, fingindo que queria ajudar Janete quando o que ela pretendia era agredir aquele tipo arrogante!

— Oh... hum... — Agora procurava desesperadamente algo para dizer. — Acabo de pensar... Poderíamos levantar cedinho e irmos nadar na piscina antes do café da manhã.

A expressão de Janete perdeu a animação. Abaixou-se para pegar uma das caixas que tinha caído do divã e assentiu. — ótimo, mergulharei os pés na piscina. Você sabe que não sei nadar.

— Não sabe? — Andréa ficou surpreendida. Em seguida sorriu: — Eu a ensinarei.

— É mesmo? -— Janete sorriu. — É o que meu pai vivia dizendo, mas eu jamais consegui.

— Bem, vou arrumar minhas coisas e tomar um banho antes do jantar. Janete concordou. — Primeiro, eu irei pendurar estas coisas e em seguida farei o mesmo. Que vestido você acha que devo usar? O abricó ou o cafetã?

— Acho que o cafetã. Não prefere guardar o vestido de seda para uma ocasião especial?

— Que tipo de ocasião?

— Um jantar com o barão, por exemplo — sugeriu Andréa com iro­nia, e Janete suspirou, estática.

— Você acha que ele me convidaria?

Andréa hesitou, tentada em pôr seus planos em prática. Limitou-se, porém, a sacudir a cabeça, e abriu a porta do quarto. — Como é que posso saber?

 

                               CAPÍTULO II

 

Andréa deitou-se de costas na cama, fitando o teto. Uma luz branca filtrava-se através das cortinas, e ao consultar o relógio viu que passava das seis Janete ainda estava dormindo.                                                 

A noitada começara bastante cedo, no restaurante. Após o jantar tinham ido encontrar Susie Nichols e seu grupo no bar e as coisas come­çaram a se animar. Os amigos de Susie eram, em sua maioria, muito acolhedores, e assim que as garotas perceberam que Andréa não estava interessada em seus namorados tornaram-se muito mais simpáticas. Janete também foi bem recebida e, aos poucos, adquiria maior confiança em si mesma. Andréa sentiu-se contente. Tia Lavinia mantivera Janete sob seu domínio por um tempo excessivo.

Aquela noite não houve o menor sinal do atraente barão, notou Andréa com alivio, apesar de sentir que Janete ficara desapontada pelas mesmas razões. Os olhos da prima tinham varrido o bar quando elas entraram.

A despeito dos protestos dos demais, Andréa não quis dançar muito. Limitou-se a olhar os pares, sentados em um canto ao lado da enorme lareira, tomando um coquetel de vodca e suco de frutas. À noite transcor­reu bastante neutra até as onze horas, quando chegaram o amigo de Susie, Roy Stevens e sua namorada, Entraram no bar à procura de sua turma, com o rosto afogueado pelo frio e dirigiram-se imediatamente para os lados da lareira.

Nesse momento Roy viu Andréa e sentou-se no banco de madeira, ao lado dela. Ignorando o olhar furioso da garota com quem tinha entrado, colocou o braço no encosto do lugar de Andréa.

— Olá — disse, com o rosto muito próximo ao dela. — Sentiu falta de mim?

Andréa sorriu ligeiramente. — Por acaso deveria ter sentido?

— Claro. Você ouviu Ruth dizer que íamos ao Míihlrad, não é mesmo?

— Ruth? A sua... Namorada?

-— Amiga, com certeza, mas namorada, talvez... — ele declarou, malicioso.

Andréa voltou-se e olhou de relance para Ruth. — Sua. . . Namorada não vai gostar disso.

— Disso o quê?

Andréa olhou-o um tanto contrariado. — Não banque o inocente! A julgar por seu comportamento, imagino que esta não é a primeira vez que você age desse jeito.

Ele assumiu um ar de mágoa. — Que falta de gentileza! Você então acha que eu sou de me envolver com a primeira pessoa que olha para mim?

— Sim. — Andréa encarou-o de frente. — E sinto muito por Ruth. Eu no lugar dela não me sujeitaria a isso.

Ele tornou-se subitamente sério. — Talvez nem precisasse. Talvez, se Ruth fosse mais semelhante a você, ela também não precisaria. — Isto não é desculpa

— Nem pretendo que seja. — Roy acariciou ligeiramente seus cabelos negros. — Dance comigo.

— Convide Ruth para dançar.

— Não quero dançar com Ruth. Se você não quiser dançar comigo, encontrarei alguém que aceitará.

Andréa acreditou nele e sacudiu a cabeça. Ele era muito persuasivo e ela pouco dançara aquela noite. — Está bem — concordou finalmente. — Mas é só porque eu sinto que comigo você se comportará melhor do que com qualquer outra garota.

— Não confie muito nisto — disse ele, sorrindo e levando-a para a pista de dança.

Enquanto o seguia, Andréa notou a expressão preocupada de Janete. Não duvidava de que ela, a exemplo de alguns dos presentes, considerava seu comportamento afrontoso. Ela, porém, não provocara aquela situa­ção e Ruth deveria ser sensata e não se envolver com alguém como Roy.

Roy dançava de um modo muito provocante, com os dois braços pou­sados na cintura de Andréa. Encostou o rosto em seus cabelos e quando ela tentou recuar ele disse: — Relaxe e aproveite. Você bem sabe que é isto que você quer.

Andréa enfiou um dedo na abertura de sua camisa, sentindo, ao fazê-lo, que seus músculos ficaram tensos. — Você se acha irresistível, não é mesmo? — indagou.

— Não — ele replicou, beijando-lhe os cabelos. — Irresistível é você.

— Continue tentando — murmurou Andréa ironicamente, e ele sus­pirou com impaciência.

— Estou falando sério. Você é linda — disse-lhe sem muita ênfase.

— Por que está sendo tão agressiva? O que Ruth representa para você?

— E para você?

— É filha de meu padrasto. Isto explica a situação?

— Sim, sem dúvida. — Encarou-o. — Explica inclusive por que você é tão seguro a respeito de si mesmo.

— O que quer dizer com isto?

— Toda essa atitude de herói! Você precisaria ser muito mais forte do que é para levar isso adiante.

— Muito obrigado!— Ele parecia desapontado.

— Ela sabe quem você é, não sabe? — perguntou Andréa sorrindo.

— Afinal, vive com você há quantos anos?

— Quinze anos.

— Quinze anos! Que louca!

— Você está me gozando? — Ele a contemplou intrigada.

— Bem. . . Talvez esteja sim, um pouco — ela concordou, rindo. — Oh, Roy, não fique tão ofendido. Justamente agora, que estava começando a gostar de você...

— O que você vai fazer amanhã?

— Não sei. Depende de Janete.

— Janete? Oh, a prima de quem você falou. — Fez uma careta e olhou para o grupo reunido em torno da lareira. — Imagino que aquela é Janete, a que está usando vestido comprido. Ela não se parece nem um pouco com você, não é mesmo?

— Você não acha? — Andréa também olhou à sua volta. — Você sabia que sua meia-irmã está de olho pregado em nós? Ela está branca como cera!

Ele sorriu para ela, ignorando seu comentário. — Pois então venha esquiar comigo amanhã. Você sabe esquiar, não é?

— Talvez — ela replicou. — Em todo caso, como já lhe disse, vou passar o dia com Janete.

— Então amanhã à noite. Deixe-me levá-la para jantar fora.

— Não posso fazer planos enquanto não souber o que Jan quer fazer. Provavelmente nos veremos novamente amanhã à noite.

Ele teve de contentar-se com isso e nem mesmo Ruth pôde censurar o procedimento de Andréa no resto da noite. Roy fez o que pôde para ficar ao lado dela, mas Andréa preferiu dançar com outras pessoas, e notou que Ruth foi ocupar o lugar ao lado de Roy assim que teve oportunidade. Andréa sentiu pena dela, mas ela se atirava em seus braços e ele era o tipo de homem que gostava de mulheres difíceis.

Mais tarde, na suíte, Janete tentou tocar no assunto, mas nesse ponto Andréa mostrou-se inflexível. Declarou-se cansada e não tinha a menor intenção de discutir seus problemas com a prima àquela hora da noite.

Agora, porém era de manhã e Andréa admitiu que Janete poderia tentar fazer a conversa girar em torno de Roy Stevens. Esticou-se preguiçosa­mente. Muito bem! Talvez durante aquelas férias Janete aprendesse que as coisas não eram simplesmente brancas ou negras, mas que compor­tavam muitas tonalidades de cinza.

Ficou, portanto surpresa quando a porta do quarto da prima se abriu e esta surgiu, admirada por ver que Andréa já estava acordada.

— Receei acordá-la — ela disse, entrando no quarto com um penhoar cor-de-rosa de um gosto mais do que duvidoso. — Já são quase sete e meia. Não vamos à piscina?

— Por que não? — Andréa jogou as cobertas de lado e soltou uma exclamação de impaciência no momento em que Janete desviava rápida­mente o olhar. — Ambas somos mulheres, Jan! — disse ela, alcançando o penhoar de seda branca.

— Eu sei, mas. . . — Janete levantou os olhos, preocupada, e logo em seguida pareceu sentir alívio ao ver que Andréa amarrava o penhoar.

— Isto é, dormir desse jeito! Como é possível. Andréa? — Você não sente frio?

— Não mais do que você imagina. — Andréa apontou a camisola de náilon usada por Janete. — Você não sabia que sem estímulo o corpo perde sua habilidade de gerar calor?

— Sim. . . Mas é que despida. . .

— Pelada — corrigiu Andréa, em tom de zombaria. — Mas o que há com você. Jan? Será que tia Lavinia conseguiu fazer com que você sentisse vergonha do próprio corpo?

— Não. Vergonha, não, mas. . .

— Meu bem, papai e eu costumávamos nadar no mar, perto de nossa villa nas Bermudas, nus em pêlo, e a nossa única preocupação era os tubarões — observou Andréa rindo. — Você não sabia que esse é o único modo de ficar queimada por inteiro?

Janete ficou chocadíssima. — Você quer dizer que. . . Você e tio Pat...

— Pois é... — Andréa já estava ficando aborrecida com aquela conversa.  Foi até a janela e, abrindo a cortina, olhou a paisagem, — Brrr. . . Deve estar um frio lá fora! — Então voltou a olhar a prima e suspirou. — Ora. Jan! Cresça! O corpo humano não deve ter segredos para você!

O rosto cheio de Janete ficou rubro. — Bem. . . Eu. . . Eu nunca vi, um homem. . . Sem roupas.

Andréa riu. — Olhe que isso pode acontecer de um momento para outro! Jan, não é vergonha alguém ver seu corpo. Oh, não estou sugerin­do que você deve ir à praia de busto de fora ou fazer um strip-tease diante de um time de futebol, mas é que. . . Ficar sem roupas é uma experiência muito natural. — Fez uma pausa. — Bem, esqueça do assunto. Vá pôr o maio e em seguida desceremos até a piscina e nos aqueceremos na água.

— Você acha que haverá alguém por lá? — perguntou Janete, hesitante.

— A quem você se refere? A alguém do grupo de Susie? Ou àquele barão malvado e atrevido?

— Oh, Andréa! -— Janete desviou o olhar, porém voltou a encarar sua prima. — Você acha que ele estaria lá?

— Quem? O barão? Sei lá! Em todo caso, acho que ele deve estar atrás de alguma mulher. Isto é próprio de homens como ele. Veja, por exemplo, o caso daquela mulher de meia-idade a quem ele acompanhava ontem.

— Ela não era de meia-idade. Andréa. Tinha apenas... Uns trinta e poucos anos.

— Ponha anos nisso. Oh. vamos, Jan. Estamos perdendo tempo.

— Você, você vai encontrar aquele rapaz hoje?

— Se está pensando em Roy, por que não diz logo o nome dele? Você sabe como ele se chama tão bem quanto eu. Sim, espero que sim. Não sei como poderia evitá-lo, sobretudo porque ele está hospedado no mesmo hotel.

— Você sabe muito bem o que eu quis dizer, Andréa. Ruth ficou muito aborrecida ontem à noite.

Andréa enfiou as mãos nos bolsos do penhoar. — Ficou mesmo? — perguntou calmamente.

— Sim. Você não acha que foi uma maldade de sua parte encorajá-lo?

— Eu não o encorajei! Pelo menos não o encorajei muito. Ob, Jan. você não compreende. Se não tivesse dançado com Roy, ele teria encon­trado alguém em meu lugar. Pelo menos comigo ele se comportou ra­zoavelmente bem.

— É, mas Ruth não sabia disso, não?

— Ruth deveria ser mais sensata.

— Oh, Andréa, não seja tão cruel! Ela é louca por ele.

—- Acho que ninguém tem a menor dúvida quanto a isto, inclusive Roy! Jan, não se pode fazer uma coisa dessas! Agarrar-se a um homem como se ele fosse um salva-vidas!

— Ela o ama. Andréa. Que mais ela poderia fazer?

— Poderia encontrar outra pessoa e tentar tornar Roy ciumento, para mudar as regras do jogo.                                                    

— Mas eles são casados, Andréa. . .

Casados? — O assombro apoderou-se dela. — Você não está fa­lando sério!

— Estou, sim! O nome dela é Ruth Stevens!

Andréa voltou a respirar. — Ah. . . Ah sei! — Quase riu. Jan, ela é meia-irmã dele. Acho que a mãe dela ou a mãe dele trocaram de nome quando voltaram a se casar.

— Meia-irmã? Puxa! — Janete mordeu o lábio. — Ah, isto é diferente. Ela estava conversando sobre o lugar onde eles moram, sobre a casa. Eu naturalmente presumi que...

— Sei. Agora você não quer se trocar?

— Sim, claro. — Janete sorriu como se estivesse pedindo desculpas. — Daqui a pouco nos vemos.

Quando Andréa e Janete saíram do elevador, viram que naquele mo­mento havia mais três pessoas na piscina e nenhuma delas lhes era fami­liar. A piscina era grande e aquecida e a atmosfera era intensamente úmida. Azulejos verde-claros brilhavam dentro da água, dando-lhe uma aparência tropical, e a bordadura da piscina era de pequenos mosaicos em tons de azul e verde.

Deixaram a roupa em uma das cabines, e enquanto Janete enfiava uma touca na cabeça Andréa mergulhou na piscina. O maio de Janete tinha tudo para ser o mais ousado, pois era de duas peças, mas o de Andréa era preto, inteiriço, e aderia fortemente à sua pele. moldando-lhe os seios e as cadeiras. Andréapercorreu toda a extensão da piscina com amplas braçadas e regressou ao ponto onde Janete se encontrava, mergu­lhando os pés na água. Sacudindo os cabelos negros e brilhantes, Andréa puxou a prima pelos pés.

— Entre, vamos! — exclamou. -— Está uma delícia!

Janete olhou nervosamente à sua volta. — Alguém está olhando?

— Claro que não. Mesmo que estivessem. . . Você está de férias, Janete. Não deixe que ninguém estrague seu prazer.

— Oh. ... está bem. — Janete entrou lentamente na água e ficou toda arrepiada de frio. — Oh, Andréa... Está um gelo!

— Não está, não. Você logo se acostuma, é que seu corpo está su­peraquecido. Já deve estar se sentindo melhor, não?

Janete fez que sim, debatendo-se nas águas e provocando pequenas ondas que se irradiavam pela piscina. — É mesmo uma gostosura, não? Não, não me leve para o fundo. Deixe primeiro eu me acostumar.

Andréa, muito paciente, deu algumas braçadas até Janete ficar mais à vontade e então disse: — Que tal uma lição, hein?

Janete parecia hesitar. — Desse jeito está bom. Andréa. Vamos deixar ás coisas como estão e começar as aulas amanhã?

— Oh, Jan, você jamais aprenderá se não se esforçar.

— Não sei por que deva. Para que me esforçar? Estou tão contente aqui no raso. . .

Andréa, exasperada, murmurou algo incompreensível e afastou-se rapi­damente, nadando para a parte mais funda da piscina. Achava difícil entender o raciocínio de Janete. Poderia divertir-se muito mais se soubesse nadar, em vez de ficar com água à altura do peito, incapaz de fazer qualquer outra coisa a não ser dar pulinhos. Além do mais, se aconte­cesse alguma emergência, ela saberia se safar.

Estava deitada de costas, flutuando, quando alguém pulou na água pró­ximo a ela, agitando a superfície e provocando pequenas ondas, que lhe entraram pela boca e narinas. Pôs-se a tossir e a espirrar, sentindo grande irritação. Esfregou os olhos, furiosa e subitamente deparou-se com o olhar zombeteiro do barão Axel von Mahlstrom.

Guien Morgen, Fràulein — ele a saudou, inclinando a cabeça, e um enorme ressentimento apoderou-se dela.

— O senhor é que é o responsável por eu quase me ter afogado? — perguntou furiosa.

Ele a olhou ligeiramente divertida. — Nein,

— O que quer dizer com nein?

Verzeihen Sie, não.

— Eu entendo o que nein significa, Herr Barão.

— Entende mesmo? Então de que está falando?

— O senhor sabe muito bem que pulou na piscina perto de mim! — ela declarou irritada.

— Nem estou negando.

— Está sim! Quando eu lhe perguntei se...

— Perguntou-me se eu era responsável por quase tê-la afogado. Neguei. Estava contemplando-a, srta. Connolly e vi quando um patinho chegou bem perto com a intenção de afogá-la.

Andréa olhou-o indignado e afastou-se, mas ele nadou a seu lado e. ficando de costas disse: — Eu lhe dou o direito de — como se diz mesmo — de revidar, já?

Andréa olhou seu corpo esguio e musculoso. A exemplo de seu próprio corpo,o dele também estava bastante queimado de sol, o que contrastava singularmente com seu cabelo muito louro. Naquele momento seu cabelo estava mais escuro, encharcado de água, e aderia-lhe à cabeça e ao pescoço. As costeletas iam quase à altura do maxilar e seu nariz e queixo eram muitos bem delineados. Seus lábios eram finos c tinham uma expressão irônica e vagamente cruel. Andréa reconheceu nelas uma certa determinação e força de vontade, aliados a um cinismo que tornava mais duro o brilho cinza de seu olhar. Ele também possuía uma forte sensual idade, e isto não lhe passou despercebido.

Não conseguiu resistir à tentação de mergulhar o rosto zombeteiro na água e. nadando até ele, apoiou com toda força as mãos em seus ombros. Para sua grande surpresa, ele riu e, agarrando-a pelos braços, obrigou-a a mergulhar com ele. Por um momento ela ficou por cima dele. sob a água. Suas pernas entre laçaram-se às dele e seus seios choca­vam-se contra a rigidez de seu peito. Ele então fez um movimento enér­gico, repelindo-a, e ela voltou à superfície, tossindo.

O barão surgiu à tona logo após, imperturbável diante de sua tentativa de lhe dar um caldo, e ela esfregou os olhos, furiosos.

— Seu porco! — ela indignada declarou e ele voltou a rir. Nadou nova­mente em direção a cia e olhando-a perguntou com a maior calma:

— Está tudo bem, não é?

Aqueles cuidados inesperados deixaram-na momentaneamente desar­mada e ela o encarou tomado de curiosidade. — O que está fazendo aqui nesta piscina? O senhor disse que não estava hospedado neste hotel.

— Pois não estou. Não moro muito longe daqui, é que Nicolas Lieber é meu amigo e permite que eu use a piscina.

— Nicolas Lieber? — Andréa franziu o cenho. — Oh. . . Herr Lieber, o proprietário.

Já, ele mesmo.

— E... o senhor também tem um hotel, Herr Barão? — Sabia que estava sendo curiosa demais, porém não conseguiu se controlar.

— Infelizmente não, Fràulein,

— O senhor... não tem... uma ocupação?

Seu sorriso era vagamente zombeteiro. — Ah, Fràulein... Sou ins­trutor de esqui.

Instrutor de esqui!

Andréa deveria estar preparada para ouvir aquilo, mas não estava e ficou furiosa. Instrutor de esqui! Era mesmo de se esperar! Principal­mente depois de tudo o que ela dissera a Janete!

Subitamente, ficou intrigada. Ele a chamara por seu nome, srta. Connolly! Como é que sabia seu nome? Procurando demonstrar um mínimo de interesse, comentou:

— O senhor acaba de citar meu nome.

— Claro. Fui apresentado a seu pai, há muitos anos, na casa de um banqueiro suíço meu amigo, Herr Steiner.

Fritz Steiner!

Aquele nome bailou nos lábios de Andréa, mas ela evitou pronunciá-lo. Uma vaga de desprezo apoderava-se dela e teve de refrear-se para não dizer àquele tipo arrogante o que pensava de seus métodos. Com que então ele sabia quem ela era. Sem dúvida tinha feito o mesmo em rela­ção a Janete. E não fora à toa que ele escolhera entrar na piscina na­dando para perto dela, em vez de juntar-se a Janete no raso. Andréa sentiu-se mais indignada do que nunca. Subitamente ocorreu-lhe uma idéia brilhante. Ao recordar seus pensamentos da noite anterior passou por cima de toda e qualquer discrição. Um leve sorriso aflorou-lhe aos lábios enquanto dizia, imperturbável:

— Acho que se enganou. Herr Barão. Penso que se refere a Patríck Connolly, não é mesmo? É primo de meu pai e meu tio!

O Barão franziu o cenho, com ar irônico. — Isi das so? Entschuldigen Sie. Devo ter-me enganado. — Forçou um sorriso. Sinto muito.

Andréa olhou para a parte menos funda da piscina e notou que Janete os olhava com evidente irritação. — Lá está ela — fez um gesto indi­cando sua companheira. — Minha prima, Janete. Foram apresentados ontem, lembra-se?

— Claro. — Seu sorriso era um tanto tenso e, pondo o braço para fora da água consultou o relógio. — Agora vai me desculpar, mas tenho de ir. Como lhe disse, Fràulein, sou um trabalhador. . .

— Oh, por favor, meu nome é Andréa — ela exclamou, um tanto irônico, deliciado por tê-lo deixado desconcertado. — Espero que volte­mos a nos ver, não?

Por um momento seus olhos cinza mergulharam nos dela e o que lhe foi revelado causou-lhe um arrepio por todo o corpo. — Sem dúvida, Fràulein — ele respondeu com uma polidez que contrastava com a ex­pressão de seus olhos. — Queira, por favor, transmitir minhas lembranças a sua prima. Auf Wiedersehen,

Com algumas braçadas vigorosas aproximou-se da borda da piscina e saiu, revelando seu corpo musculoso. Andréa notou que ele usava um maio azul muito justo, que não deixava a menor dúvida quanto ao recheio que abrigava. Voltou a estremecer, desejando que tivesse se enganado a seu respeito, mas em seguida repreendeu-se por lhe ter ocorrido semelhante pensamento. Os homens mais atraentes eram sempre casados ou pobre­tões, e era bem possível que ele fosse ambas as coisas.

Encaminhou-se em direção às cabines sem lançar sequer um olhar para Janete e, ao se dar conta do que tinha feito, nadou lentamente para a parte mais rasa da piscina.

Muito bem! Janete devorou-a com o olhar, vermelho que nem um pimentão. — Que golpe sujo, não?

— O quê? — Andréa fingiu que ignorava as razões de seu protesto.

— Você monopolizou o barão o tempo todo! Não finja. Eu a vi, Andréa. Foi de propósito, não é mesmo?

Andréa reuniu toda a paciência de que era capaz. — Você viu tudo o que aconteceu, Janete? — perguntou calmamente.

— Claro que sim.

— Então deve ter reparado que ele mergulhou ao meu lado. Por que acha que ele fez isto?

— Não sei. Coincidência...

— Oh, Janete! — Andréa balançou a cabeça. — Não foi absolutamente coincidência. Fiquei conhecendo um pouco melhor o seu amigo, o barão. Sabia, por exemplo, que ele é instrutor de esqui?

— Instrutor de esqui? — Janete ficou sem saber o que dizer.

— Sim, instrutor de esqui. Acontece que ele é amigo do dono do hotel, que lhe permite certas liberdades. E ele, por cúmulo, sabia meu nome. Ou pelo menos pensou que sabia.

— O que quer dizer com isto?

Janete começava a tremer e Andréa fez sinal para que ela saísse da piscina. — Vamos embora. Está esfriando e já está na hora de nos vestir­mos para o café da manhã.

— Mas. . . e o barão? — choramingou Janete.

— A gente conversa lá no quarto. Vamos.

Andréa enxugava-se em seu banheiro e não ficou nem um pouco sur­presa quando Janete apareceu após alguns minutos, já vestida.

— Você não tomou banho? — perguntou ela, e Janete sacudiu a cabeça.

— Mais tarde. Continue a me falar do barão. Não agüento mais este suspense.

Andréa jogou a toalha de lado c começou a pôr a roupa de baixo. — Bem... — Fez uma pausa significativa, imaginando como Janete reagiria quando lhe dissesse o que tinha feito. — Ele, de fato, sabia meu nome. Disse que conheceu papai na casa de Frítz Steiner, em Berna. Acho que ele descobriu nossos nomes fazendo perguntas lá no balcão de recepção.

— E daí? — Janete ainda estava toda irritada

— Janete, a razão pela qual ele se mostrou sociável comigo é que ele acredita que sou filha de Patrick Connolly.

— Mas você é.

—- Eu sei, mas disse a ele que você é quem é!

— Corno?

— Eu disse a ele que você era eu. Oh, Jan, não fique desse jeito! Você devia ficar contente, pois o seu maior desejo vai se realizar. O barão vai prestar atenção em você.

A confusão se estampava no rosto cheio de Janete. — Mas como é que você pode saber uma coisa dessas? Ele lhe disse?

— Oh, não! Não seja tola, Jan. Olhe. . . a razão pela qual o barão prestou atenção em mim em vez de você foi porque ele achava que eu era mais atraente. . . financeiramente! Quando eu lhe disse que não era a filha de Pat, e sim você, ele não viu o momento de afastar-se de mim.

Janete começou a hesitar. — Você não está falando sério, Andréa.

— Por que não? Até agora ele não tinha prestado atenção em mim, não é?

— Ele não prestou atenção em nenhuma de nós.

— Claro que prestou. Ele ofereceu-se para carregar seus embrulhos, não foi? — Andréa começou a escovar o cabelo. — É mais do que evidente que ele achou que você era a dona do dinheiro. Devo dizer que você parece bem mais abonada do que eu.

— Mas imagine só, dizer-lhe que eu era você! — A expressão de Andréa era quase risível. — Andréa, por que fez uma coisa dessas?

Andréa deu as costas, incapaz de sustentar o olhar ingênuo da prima. — O que é que você acha? Foi para que você se divertisse um pouco, como, aliás, você disse que queria.

— Nós jamais conseguiremos levar esta história adiante!

— Por que não?

Janete procurou as palavras. — Susie conhece você — ela e toda a turma dela!

— Susie me conhece, está certo, mas ela não dirá nada, se eu pedir. No que diz respeito aos demais, somos primas e nossos sobrenomes, são idênticos. Qualquer uma de nós poderia ser filha de Patrick Connolly.

— Não sei, não. — Janete torceu as mãos. aflita, mas Andréa notou que ela estava fraquejando. — E se ele descobrir?

— Quem? Meu pai ou o barão?

— Ora, o barão, é claro.

— Eu ficaria muito mais preocupada com o que meu pai diria — retrucou Andréa. — No que diz respeito a Axel von Mahlstrom, ele não tem muitas razões para se queixar, não é mesmo?

— Oh, se a gente conseguisse... -disse com um fio de voz. — Claro que conseguiremos. Eu, pelo menos, já consegui.

Janete mordeu o lábio. — É, imagino que vai acabar dando certo...

— Tenha coragem! — Andréa ficou bastante aliviada ao notar que Janete não parecia mais zangada. — Isto vai ajudar a aliviar o aborreci­mento que é estar aqui. E sempre achei muito atraente a idéia de ser simplesmente Andréa Connolly e não apenas a filha de Patrick Connolly.

 

                          CAPÍTULO III

 

Alguns dias mais farde, Andréa estava no topo da pista de esqui de Fddberg, contemplando o vale que se estendia a seus pés. Grosxfeld estava aos pés da geleira. Os tetos das casas e a torre da igreja pareciam minús­culos, vistos daquela altura. Olhou para as escarpas cobertas de pinheiros e ouviu o barulho do folicular que trazia mais desportistas para o topo da montanha. Sentiu o cheiro de café que vinha do pequeno bar, um verdadeiro reconforto para os entusiastas do esporte, que gostavam de tomar algo quente antes de enfrentar as emoções e perigos da descida.

Pela primeira vez, estava livre da presença de Janete, e, apesar de sua companhia já não lhe pesar tanto, como acontecia no começo das férias, era agradável ficar a sós por algum tempo.

Desde que haviam concordado em trocar de identidade, não houvera mais sinal do atraente barão. Afinal, havia muitas outras mulheres em Grossfeld e o Kutzbuhi não devia ser o único hotel que ele freqüentava. Janete ficou extremamente desapontada com a ausência dele e Andréa sentiu-se culpada. Pez o possível para interessar a prima em outras coisas e em outras pessoas, e, finalmente, Janete pareceu reagir. Nesse dia, por exemplo, tinha aceitado um convite para ir com Susie Nichols e seus país dar um passeio.

Sucumbindo ao cheiro tentador do café, Andréa tirou os esquis e caminhou em direção ao chalé pintado com cores brilhantes. O calor que reinava lá dentro embaçou seus óculos escuros, e ela os colocou no bolso de fora da jaqueta. Acomodou-se em uma mesinha ao lado da janela, com uma xícara de café fumegante, e comeu com bastante apetite um delicioso cachorro quente.

— Pensei que você vivia fazendo regimes para emagrecer - uma voz vagamente familiar, ao lado dela. Andréa levantou os olhos e viu Roy Stevens, que a encarava.

Limpando a boca com o dorso da mão. ela disse: — Imagino que você vai me dizer que este nosso encontro é uma coincidência!

Durante cinco dias, Roy tinha freqüentado, com uma regularidade irri­tante, todos os lugares aonde ela e Janete iam, mas Andréa sempre se recu­sava a conversar com ele. Roy puxou a cadeira que estava do outro lado da mesa e sentou-se. — Não é minha intenção duvidar de sua inquestioná­vel inteligência — ele replicou, sorrindo. — Reconheço que a segui. Aliás, quem não faria o mesmo, quando o guarda-costas não está por perto?

— Janete não é meu guarda-costas! -— Pois você quase me enganou.

— Talvez você seja mais fácil de enganar do que pensa.

— Hei, pare de implicar comigo! — Roy olhou em torno da sala apinhada de gente e voltou-se novamente para ela. — Você não ficou nem um pouco contente por me ver? Aqueles dois sujeitos lá no canto não tiram os olhos de você. — Não tem medo de vir esquiar sozinha nestas alturas? Sabe que, se acontecer alguma coisa, só Deus e a providência poderão ajudá-la?

Andréa lançou um olhar apressado na direção que ele havia indicado. Dois tipos com barba ocupavam uma mesa, mas não levantaram os olhos, e ela sorriu ironicamente.

— Talvez eles estejam mais a fim de você — disse, caçoando. — Não parecem interessados em mim.

—- Mas o que há de errado comigo? Por que você não me dá ao menos uma chance?

— Mas nós estamos conversando, não é mesmo?

Roy estudou-a com impaciência. — Não é isto o que eu quero dizer, e você bem sabe. Mas de que se trata? Ruth, por acaso? Ela lhe disse alguma coisa?

— Duvido que Ruth me dissesse o que quer que fosse — observou Andréa secamente. — Você não quer comer ou beber alguma coisa?

— Não.

Andréa tomou o resto do café com os olhos postos nele e então disse:

— Muito bem. Vamos indo?

— Você quer dizer. . . juntos?

— Não foi para isso que você veio?

— Bem... sim. Sim. — Sorriu e sua confiança retornou. — Claro.Vamos.

Andréa apreciou o dia. Era muito divertido esquiar nas colinas suave­mente ondulada, e como Roy era tão hábil quanto ela, não havia limites para eles. Logo se cansaram de usar as pistas convencionais e decidiram apostar corridas, usando as árvores como obstáculos. Era um desafio um tanto perigoso, mas isso tornava o excitamento maior, e ambos se lançaram na aventura, indo até os limites de sua habilidade. O vento gélido batia no rosto de Andréa, seus esquis fendiam a neve sem o menor esforço e ela sentia-se invadida por uma sensação de plenitude. O sol começou a se pôr e ela quase chegou a sentir pena por terem de voltar para o hotel. —- Você foi fantástica! — exclamou Roy, entusiasmado, enquanto to­mavam a estrada que levava ao Hotel Kiitzbuhl. — Nunca conheci uma garota que pudesse competir comigo.

— Não? — Andréa olhou-o de soslaio. — Você não acha que é uma opinião um tanto apressado?

Roy ficou encabulado. Ao lado dela, perdera um pouco aquele ar

insuportável de autoconfiança.

— Você sabe o que quero dizer. Você é muito eficiente. Deve ter tido um bom professor.

— Foi o irmão de meu pai — replicou Andréa, le



  

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