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CAPITULO QUATRO



CAPITULO QUATRO

 

Juliet tomou banho, mas de água gelada. Felizmente, havia deixado uma toalha à mão antes de entrar na banheira. Como lavara os cabelos de manhã, não se preocupou por não haver nenhum secador. Ela era mimada, pensou. Estava acostumada a hospedar-se em hotéis onde todas as futilidades eram providenciadas.

Agora não mais, claro, disse a si mesma, ainda assombrada pelo fantasma da conta de luz. E, apesar daquela situação constrangedora, pelo menos ganharia dinheiro suficiente para pagá-la. Se conseguisse ignorar Rafe Marchese, não seria tão ruim assim.

Já que Lady Elinor ofereceria um jantar em homenagem ao neto, Juliet examinou as roupas que trouxera com um olhar crítico. Não que fossem poucas, pelo contrário. Até David cancelar os cartões de crédito, comprar era um passatempo divertido. Porém, não trouxera muitas peças. As reclamações de Cary quanto à parcimônia da avó. Não a prepararam para a situação real de Tregellin.

Embora não aparentasse possuir muito dinheiro, Lady Elinor vivia com estilo. Só a manutenção da casa devia custar uma fortuna, mas trocá-la por uma residência menor parecia fora de questão. O que significava que Juliet precisava guardar o vestidinho preto até sábado. Era a coisa mais formal que trouxera, e Cary devia esperar que a noiva vestisse algo adequado.

Naquela noite, Juliet decidiu usar uma calça cigarrete de seda púrpura, mas o cós baixo expunha a pele alva com generosidade excessiva. Portanto, colocou uma blusa solta de estampa verde e violeta, que cobriu a brecha.

Quando ela desceu, passava pouco das 19h. Cary a avisou que a avó costumava jantar às 19h30. Apesar de preferir continuar no quarto até a hora de comer, o que seria indelicado, Juliet dirigiu-se à sala de visitas.

Esperando encontrar Cary com a avó, Juliet incomodou-se ao ver que ambas estavam sozinhas, embora Lady Elinor tivesse sido gentil ao oferecer-lhe um copo de xerez antes da refeição.

- Ah... - Juliet nunca gostou de xerez, achava doce demais. Mas pelas regras da etiqueta, devia aceitar a oferta. - Obrigada.

- Pode se servir - acrescentou Lady Elinor, apontando a bandeja sobre a cômoda com a bengala. - Eu tenho artrite nas mãos, e não é fácil levantar a garrafa.

Juliet obedeceu, grata por precisar servir-se de uma dose mínima.

- Meu pai sofria de artrite nas mãos, também – comentou, sentando-se no sofá de couro em frente à poltrona de Lady Elinor. - Dizia que foi de tanto escrever.

Lady Elinor concordou. Estava particularmente elegante esta noite, de saia preta longa e blusa de seda bege. Mais uma vez, trazia um xale nos ombros, agora estampado nas cores do outono.

- A sua mãe faleceu antes do seu pai, não foi? - indagou Lady Elinor.

- Ela morreu logo depois que eu nasci. Meu pai ficou arrasado, como pode imaginar.

- Claro. E o seu pai era muito mais velho do que a sua mãe, creio - prosseguiu, surpreendendo Juliet por saber tanto. - Mas, ao menos, ele tinha você. Vocês deviam ser muito apegados.

- Sim, éramos. Conheceu meu pai, Lady Elinor?

- Não. Mas me lembro de que meu filho e a esposa falavam da amizade de Cary com a filha de Maxwell Lawrence. E sei que Cary ficou magoado quando o afastei de todos os amigos.

Juliet provou um gole do xerez e não achou tão doce quanto esperava.

- Parece que isso aconteceu há séculos.

- Bem, claro que sim. É mais fácil recordar o passado quando se chega na minha idade. Mas você se casou com outro. Cary compareceu à cerimônia.

Juliet fez uma careta.

- Prefere não tocar no assunto?

- Não. Foi só um grande erro, mais nada. David nunca me amou. Como Cary provavelmente já contou, ele só estava interessado no meu dinheiro.

- E o seu pai não insistiu para que ele assinasse qualquer tipo de acordo pré-nupcial?

- Papai morreu um ano antes de eu conhecer David. E como já disse, eu acreditei quando ele falou que não ligava para dinheiro.

- Dinheiro é sempre importante. Exceto talvez para Raphael. - Hesitou. - Você conheceu o Rafe, não é? Ele é filho da minha filha Christina. Infelizmente, ela nunca se casou com o pai dele.

- Ah. - Juliet conteve-se um minuto. - Importa-se se eu perguntar por que comentou que o Rafe não se interessa por dinheiro?

Foi uma pergunta pessoal, mas, por sorte, Lady Elinor não pareceu ofendida.

- Talvez eu devesse corrigir para o meu dinheiro - retrucou com um sorriso maroto. - Raphael vive muito bem sem ele. Apequena galeria que acabou de abrir em Polgellin Bay é um sucesso e tanto.

- Então ele é pintor?

- E também dá aulas de arte numa escola em Bodmin.

- Sério? Que interessante!

- Acha mesmo? A irresponsável... falta de apego da mãe dele partiu o meu coração. Ela também pintava, e veja o que lhe aconteceu.

- Cary disse que ela... caiu da sacada de um hotel.

- Bom, essa é a versão oficial. Juliet a encarou intrigada.

- Não é verdade?

- Ah, assim eu estragaria o suspense, não é, srta. Lawrence? Por que não conta de novo como você e Cary se conheceram? Parece uma grande coincidência. Por acaso costuma visitar o cassino?

- Cassino? - Juliet ficou pasma.

- Sim. É onde o meu neto trabalha, não é? Não consigo imaginar como ele os persuadiu a contratá-lo, depois do fiasco na África do Sul. Sabe disso, não sabe?

- Bem, sim.

Juliet não tinha nada mais a dizer, e ficou aliviada ao escutar passos se aproximarem. Um instante depois, Cary surgiu na porta, meio embonecado demais numa calça preta acetinada e um paletó de smoking vermelho. Adentrou a sala com um andar ligeiramente afetado, como se esperasse ser elogiado pela aparência. Porém, Lady Elinor apenas ergueu as sobrancelhas negras. E quando Hitchins começou a latir, ela colocou o animal no colo.

- Vovó. - Cary a cumprimentou, espiou o cachorro com uma expressão pouco amistosa e sentou-se ao lado de Juliet. - Você está maravilhosa - comentou, dando-lhe um beijo inconveniente logo abaixo da orelha. - Hum, e o perfume também é maravilhoso. É Chanel?

- Não. - Juliet conteve-se para não dizer que era uma simples colônia herbal que não custava nem a metade do preço. - A sua avó e eu estávamos esperando por você.

-Desculpe. Se soubesse que sentiam a minha falta, teria sido muito mais rápido, acreditem.

- Ela não falou que sentiu a sua falta, Cary - alfinetou a avó. - Para dizer a verdade, Juliet e eu tivemos uma conversa muito interessante.

- É mesmo? - Cary mostrou-se apreensivo.

- Sim. Ela já ia me contar onde vocês dois se reencontraram.

Juliet sentiu Cary petrificar. Eles não previram essa situação, o que foi patético.

- Nós... nos encontramos na casa de amigos em comum - mentiu Juliet. - Os Bainbridge, não é, Cary? John e Deborah. Nós os conhecemos há anos.

- Sim, os Bainbridge - Cary concordou, grato. Mas, notando a falsidade na voz dele, Juliet entendeu porque Lady Elinor resolveu investigar o novo emprego do neto. Também rezou para que a senhora não fosse amiga dos Bainbridge. Debbie ficaria muito confusa ao saber que Juliet não havia lhe contado que planejava se casar de novo. Muito menos que tinha conhecido o futuro noivo na casa dela.

- E quando foi isso?

- Ah... mais de seis meses atrás! - exclamou Cary, arrancando um gemido de Juliet.

- Mais de seis meses? Então por que eu não soube de nada? Quando você voltou - deixe-me ver, há seis semanas - não comentou nada sobre noivado nenhum, Cary.

- Foi minha culpa, Lady Elinor - mentiu Juliet, torcendo para o sorriso disfarçar o rubor. - Pedi a Cary que não contasse a ninguém sobre a nossa relação. Como me divorciei há pouquíssimo tempo, não queria que pensassem que me atirei em outro casamento.

- Apesar de ser verdade - Lady Elinor ironizou. Mas, felizmente, Josie voltou naquele exato momento para avisar que o jantar estava pronto.

Apesar de tudo, o jantar - rosbife, pudim Yorkshire e compota de frutas para a sobremesa - se passou sem incidentes. E, depois, Juliet encontrou a desculpa perfeita para se recolher cedo.

- Foi um dia muito cansativo - explicou.

Quando Cary insistiu para que ficasse, percebeu o olhar fulminante de Juliet e preferiu não abusar da sorte.

- Certo, descanse bastante - disse ele, levando a mão dela aos lábios. - Vejo você de manhã, querida. Durma bem.

Na verdade, Juliet dormiu mal. Apesar de confortável, ela estranhou a cama, e saber que ainda faltavam mais três dias era angustiante. Após revirar-se durante horas, acabou se levantando quando o dia amanhecia, e foi até a janela espiar o alvorecer no rio. Nunca vira tantas aves juntas, grasnando ao disputar entre si as larvas que a maré havia deixado para trás.

Juliet sentiu uma vontade súbita de sair, para fugir de outro interrogatório. Pois, com certeza, Lady Elinor não teria saciado a curiosidade totalmente. Tomou um banho de chuveirinho, o que era melhor do que nada. Trêmula de frio, mas refrescada, vestiu um jeans e um suéter verde-oliva com gola em V, calçou um par de tênis AH Star de cano alto e saiu. Como ontem à noite, tudo parecia deserto.

A cozinha estava gelada e escura. Juliet abriu as cortinas e colocou água para ferver. Daria-se por feliz se achasse um pote de café instantâneo, pensou. Encontrou o que procurava no terceiro armário que abriu, e então a chaleira apitou. Adicionou duas colheres de café na caneca e encheu de água fervente.

Estava de costas para a porta quando alguém entrou. Virou-se assustada e deparou-se com Rafe Marchese. Ele carregava algumas sacolas è o aroma delicioso de pão fresco inundou o ambiente. Juliet achou que não estava com fome, mas se enganou.

- Já está se sentindo em casa? - comentou, preguiçoso, colocando as sacolas na mesa.

Rafe vestia uma calça cargo caqui e um colete de náilon azul-marinho, sobre uma camisa com a gola desabotoada. A visão dos pêlos negros do peito era perturbadora, e as mangas enroladas exibiam os braços bronzeados, também cobertos de pêlos.

Juliet ficou vermelha só de olhar. Honestamente, ela parecia uma virgem, o que não era verdade. Por que Rafe Marchese fazia com que pensasse coisas que chocariam qualquer garota decente?

- Hum... quer um pouco? - indagou, tentando parecer controlada.

- Depende do que está me oferecendo - brincou ele, vendo o rubor queimar-lhe as faces.

Era tão bom olhar para Juliet, pensou Rafe. Embaraçoso, aliás, o que era interessante. Juliet vestia um jeans que se amoldava ao contorno sensual dos quadris e, embora teimasse em esticar o suéter, não conseguiu esconder um vislumbre fascinante da pele alva do abdome. Quando a avó contou que Cary levaria a noiva para Tregellin, ele imaginou uma mulher completamente diferente. E, embora seduzi-la contrariasse o bom senso, algo em Juliet despertava o desejo malicioso de testar os próprios limites.

Por sua vez, Juliet sabia que Rafe estava jogando charme de propósito, e perguntou-se por quê. Droga, ela era a suposta noiva de Cary.

- Café? - ofereceu Juliet.

- Caso se refira a essa... coisa... que está bebendo, eu passo, obrigado. A Josie côa o café. Os filtros ficam por aí em algum lugar.

- Tomara que você não espere que eu lhe prepare um café especial! O que você faz por aqui, aliás? Não é meio cedo para uma visita?

- Esta é a sua idéia de hospitalidade? Lembre-me de manter distância quando você estiver mais sensível. Ou rabugenta?

- Você não respondeu à minha pergunta.

- Que pergunta?

- Perguntei o que fazia aqui tão cedo. Lady Elinor o chamou?

- Pode-se dizer que sim.

- Por quê?

- Por que o quê?

- Por que ela o chamou? - Se ele podia bancar o cínico, ela também podia. Então, uma idéia lhe ocorreu. - Lady Elinor não está doente, não é?

Mais uma vez, Rafe fitou Juliet com aqueles olhos perturbadores.

- Não que eu saiba. Teve uma noite agradável?

Juliet bufou. Ele era teimoso demais.

- Muito... agradável. Tomou um gole de café.

- Hum, está gostoso.

Rafe não acreditou, mas realmente não tinha tempo para discutir agora.

- Aceita um croissant? Estão fresquinhos.

- Foi você quem fez? Rafe deu uma gargalhada.

- Não. Fui dormir depois da uma da manhã, portanto, não estava acordado às 5h, fazendo pães.

Uma da madrugada! Juliet adoraria perguntar o que ele ficou fazendo até tão tarde, mas não teve coragem. E será que ela queria mesmo saber?

- Lógico - replicou, incapaz de resistir ao delicioso pãozinho. Fazia tanto tempo desde que podia dar-se a esses luxos.

O croissant esfarelou quando Juliet o colocou na boca. Foi uma cena tão sensual que Rafe sentiu um desejo repentino de lamber os farelos nos lábios dela. E imaginou que aquela boca era macia, úmida e perfumada...

Dio! Censurou o rumo dos próprios pensamentos. Minha nossa, ela era noiva de Cary. Onde estava com a cabeça para deixar-se levar pela excitação, quando não havia a menor chance de possuí-la?

Juliet apanhou um guardanapo e limpou os lábios.

- Estava... delicioso! Obrigada.

- Então... o que você e Cary pretendem fazer hoje?

- Não sei. Acredite ou não, antes de você chegar eu pretendia sair para passear. Talvez perto do rio.

- De tênis?

Juliet espiou os próprios pés.

- São muito confortáveis.

- Mas não são à prova d'água. Você precisa de botas de borracha. A margem do rio fica muito lamacenta nessa época do ano.

- Ah, puxa... Então vou limitar minha exploração ao jardim. - Hesitou. - Você vai... dar aula hoje?

Rafe mostrou-se surpreso.

- A vovó lhe contou?

- Que você é professor? Sim. Não é nenhum segredo, é?

- Não. Você descobrirá que Lady Elinor prefere que eu tenha um emprego medíocre a ganhar a vida de algum outro jeito.

- Quer dizer, pintando?

Rafe sorriu e Juliet sentiu um frio na barriga. Ele era tão atraente e ela não seria humana se não percebesse que a vida de solteira tinha muitas desvantagens. Passou-se tanto tempo desde que fizera, ou desejara, sexo com um homem, muito menos com David. Mas imaginar as mãos de Rafe no seu corpo a deixou arrepiada. O que, provavelmente, não aconteceria, lembrou-se. Além do fato de que ele não estava interessado nela, todos achavam que era a noiva de Cary.

- Sim, pintando - assentiu Rafe, justo quando Josie entrou na cozinha, reparando nos dois e nas sacolas da padaria sobre a mesa. E Rafe flagrou-se com remorsos. Como se os seus pensamentos estivessem estampados no rosto.

- Você acordou cedo, srta. Lawrence, - disse ela a Juliet.

- O dia está tão bonito. Pensei em sair para passear.

- E eu a atrasei - Rafe completou., - Ela precisa de galochas e não trouxe.

- Quanto calça, srta. Lawrence? - indagou a governanta.

- Hum... 38, acho.

- Então pode usar as minhas botas, se quiser.

Juliet não sabia o que dizer. Nunca precisou usar as botas de ninguém emprestadas, mas não era hora de bancar a orgulhosa.

- É muita gentileza sua - agradeceu. - E, por favor, me chame de Juliet.

 

 



  

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