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CAPÍTULO TRÊS



CAPÍTULO TRÊS

 

O almoço estava frio, mas não podiam culpar a governanta. Os dois marcaram de chegar às 13h, e já eram 13h45. Por melhor que fosse a cozinheira, ninguém consegue manter um risoto de champignon aquecido por tanto tempo.

Não que Juliet sentisse muita fome, pois o confronto entre Cary e Rafe Marchese tirou-lhe o apetite. Obviamente, os dois não se gostavam, e Cary agiu feito um grosseirão.

Talvez parte da culpa fosse sua. Ela marcara Cary' por se apresentar ao primo dele. Mas, puxa, ela havia ficado tão zangada quando Cary a ignorou, que não mediu as conseqüências da própria atitude.

Embora desagradável, a verdade é que ela quis ser notada por Rafe Marchese. Juliet estranhou sua reação, pois desde que David fugira, há mais de um ano, ela não teve nenhum interesse por outro homem. Mas não podia se gabar de que Marchese sentiu o mesmo. Ele foi gentil, porém, distante.

- Ah, sim - disse Rafe -, a noiva de Cary. Lady Elinor já estava achando que você tinha mudado de idéia.

Mesmo assim, quando Rafe tocou-lhe a mão, Juliet reagiu como se houvesse levado um choque. A mão dele irradiou um calor que lhe aqueceu toda por dentro. Então, fitou-o nos olhos negros e melancólicos. E Juliet descobriu-se enfeitiçada.

Claro, Juliet puxou a mão de um jeito meio brusco, e Cary aproximou-se a toda carga, como um touro furioso defendendo a fêmea.

- O que foi? - desafiou, segurando Juliet pelo ombro de maneira possessiva. - O que você disse para a minha noiva? Pensei que teria a decência de não aparecer, já que sabia que viríamos.

Rafe Marchese não se mostrou nada perturbado pelos berros de Cary.

- É bom vê-lo também, Cary.

- Ora... - Cary continuou indignado. - A vovó falou que, ultimamente, você anda ocupado demais para dar-lhe atenção. Como ela diz, passando tempo com os seus amigos metidos a artistas. Mas é lógico que você apareceria quando eu chegasse.

Rafe conteve o riso.

- Eu não levaria as coisas que a vovó fala tão a sério - comentou, os olhos fixos no semblante envergonhado de Juliet. - Você sabe que ela gosta de jogar um contra o outro. Se você não fosse tão ingênuo, ela jamais conseguiria.

- Ah, e você a conhece tão bem.

- Eu diria que a vejo mais. Se isso significa que a conheço melhor, fica a seu critério.

- Bem, não pense que não sei onde pretende chegar. Você acha que leva vantagem, só porque moro em Londres e você mora aqui. - Apertou o ombro de Juliet. - Assim que nos casarmos, você pode dar adeus a qualquer chance de convencê-la a mudar de idéia.

Minha nossa, eu queria morrer, pensou Juliet, desfazendo a mala. Pelo amor de Deus, já era horrível fingir ser noiva de Cary. Ela não fazia idéia do que Rafe Marchese achou. Se aquele sorriso irônico servisse de pista, ele estava acostumado com os faniquitos de Cary e não se ofendia. Mas, mesmo assim, Juliet preferia não ter assistido àquela cena.

Por sorte, a chegada de um cãozinho encerrou a discussão. Era um pequinês de latido estridente, que avançou contra Cary e cravou os dentes na perna da sua calça.

- Maldito vira-lata idiota! - Cary gritou, furioso, enxotando o cachorro.

- Na verdade, ele é muito inteligente – retrucou Rafe, curvando-se para afagar o animal.

Juliet sentiu certa inveja do cachorro, e pensou que estava sendo ridícula. Cary tirou as malas do carro e entrou na casa, e ela foi obrigada a segui-lo. Agora ela entendeu por que ele não tinha batido no cão. Era o cachorro de Lady Elinor e Juliet imaginou que ela não gostaria de ver o neto chutando seu pequinês. Tomara que Rafe Marchese não contasse nada. Mas depois do jeito como Cary havia se comportado, ela não o culparia caso o fizesse.

Foi um pouco estranho reencontrar Lady Elinor. Ela era muito mais idosa do que Juliet recordava, lógico, mas continuava uma figura intimidante. No mínimo, Juliet diria que Rafe era muito mais parecido com ela do que Cary. Ele também era alto e tinha o mesmo ar de nobreza. Durante o almoço, Juliet precisou se esquivar de um bom número de perguntas sobre o casamento fracassado. O fato de que o divórcio saíra há apenas nove meses bastou para Lady Elinor opinar que, no lugar dela, não teria a menor pressa para se casar outra vez.

Lógico, Cary intercedeu, garantindo que o casamento de Juliet não tinha dado certo porque, em primeiro lugar, ela escolheu o homem errado.

- Hammond só queria o dinheiro dela - explicou, desdenhoso, e Juliet alegrou-se por Rafe Marchese não estar presente para ver a expressão quase sarcástica de Lady Elinor. Mas, pelo menos, isso lhe deu a chance de respirar. E tão logo acabaram de comer, a anfitriã ordenou que Josie a levasse até o quarto. Evidentemente, a senhora pretendia passar algum tempo a sós com o neto, e Juliet torceu para que ele não prometesse mais nada que não pudesse cumprir.

Após desfazer as malas, Juliet observou o aposento. Nem os cômodos da casa do pai eram páreos para este. Mas o lugar inteiro caía aos pedaços, desde o teto, que carecia de reparos, até o papel de parede que despencava.

Não era de se admirar, já que Josie era a única ajudante de Lady Elinor. Ela era quase tão idosa quanto a patroa, e Juliet duvidou que tivesse tempo para espanar todos os quartos, quanto menos efetuar reparos. Tudo era grandioso, incluindo os móveis e o toalete, onde havia uma banheira com pés e um lavatório montado sobre uma pequena plataforma.

Depois de permitir-se um ligeiro pulo na cama, Juliet constatou que o colchão era confortável. E os lençóis limpos cheiravam a amaciante com perfume de lavanda. Seriam apenas três noites, consolou-se. E era impossível que Lady Elinor tivesse mais alguma coisa a lhe dizer. Talvez pegasse o carro de Cary emprestado e fosse até a cidade vizinha.

O quarto tinha uma bela vista do rio. Agora a maré estava baixa e havia dúzias de pássaros saltitando na lama atrás de comida. Juliet viu gaivotas, cegonhas e até reconheceu um casal de maçaricos-das-rochas.

Ainda eram 16h30 e, desistindo de permanecer no quarto até o jantar, Juliet decidiu procurar a governanta. Talvez Josie contasse um pouco mais sobre a história da casa - ou de seus moradores -, admitiu, percebendo que estava mais interessada em Rafe Marchese do que em qualquer outro assunto. Lavou o rosto na pia de mármore rachada e contemplou o próprio reflexo no espelho manchado. Ainda parecia corada, mas, provavelmente, tinha sido só a água fria. Lady Elinor não devia permitir que se esquentasse a água durante o dia.

De volta ao quarto, após convencer-se de que aquela blusa bege de seda e a saia de linho no mesmo tom serviriam para o passeio, retocou o delineador e o rimei, passando um gloss cintilante nos lábios carnudos. Ela não era bonita, pensou, mas o rosto em formato de coração tinha um certo charme. Felizmente, os cabelos cacheados não precisavam mais do que uma simples escovada. Embora não pudesse pagar o salão há tempos, as mechas douradas ainda sobressaíam na cabeleira cor de mel. Ou seriam grisalhas? Juliet alarmou-se e chegou mais perto do espelho. Depois de tudo pelo que havia passado, não seria de surpreender.

Desceu a escada ressabiada, tentando avistar Cary ou a anfitriã. Juliet preferia não esbarrar em nenhum dos dois e, como o sombrio salão parecia deserto, seguiu direto para a cozinha. Deparou-se com Rafe Marchese, que tomava chá com a governanta, sentado num canto da mesa.

- Ora... srta. Lawrence - disse Josie, levantando-se, sem graça. - Eu já ia levar o seu chá.

- Meu chá?

Juliet viu a bandeja com uma xícara, leite e açúcar, além de um prato com sanduíches de picles e bolinhos. Só faltava o bule, e Juliet deduziu que Josie fora interrompida pela visita.

Rafe não demonstrou importar-se com a sua aparição repentina. Sequer se levantou, e apenas levou a caneca aos lábios, lançando-lhe um olhar enigmático.

- Sim, o seu chá. - Josie parecia ansiosa para assegurar que estava tudo pronto. - Mas já que está aqui embaixo, prefere que eu sirva na sala de visitas?

-Ah... hum... - após o fiasco do almoço, era melhor não repetir a experiência - ... posso comer aqui mesmo? Com você e o... sr. Marchese.

- Rafe - corrigiu ele. -Acho que Josie prefere que você a deixe servi-la na sala.

- Mas prefiro comer aqui. Incomodo?

- Claro que não, srta. Lawrence. - Josie inquietou-se ante a súbita hostilidade entre ambos. - Se me der um minuto, vou preparar mais chá...

- Esse mesmo está ótimo. - Juliet encarou Rafe com o que ele considerou um reflexo da arrogância do primo. - Pensei que já tivesse saído, sr. Marchese.

- Eu voltei. Algum problema nisso?

- Não me cabe criticar - respondeu ela.

- Mas criticou.

- Rafe, por favor - interveio Josie. - Aposto que a srta. Lawrence só queria conversar. Como prefere o chá, senhorita? Com leite e açúcar, ou limão?

Juliet sentiu-se constrangida. O clima na cozinha estava tranqüilo até ela chegar, e a culpa era toda sua.

Bem, talvez parte da culpa, defendeu-se, e Josie colocou o leite na xícara, como ela havia pedido. Juliet começava a desconfiar se Cary não teria algum motivo para tanto ressentimento, afinal. Não restava dúvida de que Rafe a maltratou de propósito.

- Gostou do quarto? - indagou Josie, oferecendo-lhe uma cadeira - e uma trégua.

- Ah... muito confortável. Tem uma vista maravilhosa do rio.

Rafe a olhou de soslaio, contrariado porque a avó hospedou-a no quarto da mãe. E imaginou o que uma garota como Juliet tinha visto num fracassado feito Cary. O que foi mesmo que Lady Elinor contou? Que ela já havia se casado e se divorciado? Juliet não aparentava ser tão vivida.

Juliet percebeu que ele a observava com aqueles perturbadores olhos negros. O que Rafe achava? Que ela só estava interessada no dinheiro de Lady Elinor, igual a Cary? Pois, apesar de tudo o que ele disse ao primo, quando Lady Elinor se distraía, a expressão no rosto de Cary não era nada simpática.

O silêncio se prolongou demais e Josie, preocupada em fazer algum comentário neutro, voltou os olhos suplicantes para Rafe.

- A sua avó vai oferecer um jantar íntimo no sábado à noite. Ela já lhe contou?

- Ora, e por que contaria? Eu não fui convidado, não é?

- N-não. Mas os Holderness virão.

- Jura? A velha não dá ponto sem nó.

- Bem, a intenção é essa...

Mas Josie percebeu que fora indiscreta na presença de uma hóspede. Rafe aproveitou a deixa e desconversou.

- Ora, não se preocupe, estarei por perto se precisar de mim.

- Oh, Rafe!

As palavras soaram tão comovidas que Juliet entendeu que a governanta não partilhava da mesma opinião sobre ele. Na verdade, parecia existir uma afeição genuína entre os dois, e Juliet espiou na direção de Rafe. Só para encontrar aquele olhar melancólico.

Desviou os olhos imediatamente, mas não sem notar que a antipatia entre ambos era recíproca. Com certeza, Rafe devia achar que ela era uma patricinha desmiolada, que só se agarrava a Cary por causa das expectativas dele.

Até parece!, pensou Juliet.

Ela decidiu que devia tentar mudar essa impressão.

- Cary comentou que é um artista, sr. Marchese. Será que já vi o seu nome em algum lugar?

- Creio que ele deve ter dito que tenho amigos metidos a artistas - Rafe murmurou malicioso, ouvindo Josie respirar fundo.

- Rafe! - ela ralhou baixinho, mas Juliet não prestou atenção.

- E é verdade? Seus amigos são metidos a artistas, quer dizer?

- Não. É só o jeito de Cary depreciar tudo o que não compreende.

- Por favor, Rafe...

Josie estava desesperada, e agora Juliet ouviu.

- Ah, não se preocupe, sra. Morgan. O sr. Marchese não gosta de mim. Ora, tudo bem. Também não morro de amores por ele. Se me dão licença, vou dar uma olhada lá fora, certo?

Logo que se viu no salão outra vez, Cary acabara de descer a escada. Ah, perfeito!, pensou Juliet. Era tudo o que ela precisava. E a situação não melhorou quando a porta atrás dela também se abriu. Por alguma razão, Rafe decidiu acompanhá-la.

Da escada, Cary não notou a presença do primo.

- Onde você se meteu, Juliet? Fui ao seu quarto, mas você não estava lá. Óbvio. Que diabo andou fazendo?

Juliet se enganou, achando que Rafe não iria interferir.

- Ela estava tomando chá na cozinha comigo e a Josie - falou calmo. - Você não tem nada contra, tem?

- Só tenho! - Encarou a suposta noiva, furioso. -Como isso aconteceu?

- Foi sem querer - Juliet retrucou nervosa, fuzilando Rafe com o olhar. - Eu queria... alguém com quem conversar. Pensei que Josie poderia me falar sobre a casa.

- E o que ele ficou fazendo? - Cary apontou para Rafe.

- Se quer saber, eu estava tomando chá com a Josie - interrompeu Rafe. - Essa ainda não é a sua casa, Cary. Eu entro e saio quando bem entendo.

- E eu não sei? Onde está a vovó? Aposto que no jardim de inverno, para variar.

- Acho que ela está deitada. Ela sempre descansa à tarde, como você saberia se passasse mais tempo em Tregellin.

Cary não se deu ao trabalho de responder. Em vez disso, colocou um braço em torno dos ombros de Juliet, que sentiu um calafrio desagradável na espinha.

- Que tal um passeio? - sugeriu Cary.

-Ah... não. - Com certa discrição, Juliet desvencilhou-se. - Eu... eu já ia tomar banho.

- Um banho, heim? Ah, sim, que programa incrível. Podemos tomar banho juntos, querida. Já reparou como as banheiras daqui são grandes? O que a geração da minha bisavó não devia ver naquelas festas de arromba que o meu tataravô costumava dar, entre uma guerra e outra.

- Nada do que você está pensando, Cary - declarou uma voz autoritária. Lady Elinor apareceu na porta. - Rafe. Dê-me um minuto antes de ir embora, por favor.

 

 



  

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