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CAPÍTULO UM 1 страница



 

Grávida em Segredo

 

Anne Mather

 

Olívia encontra nos braços de Christian Rodrigues todo o calor que sempre desejou de um homem.

Após noites de prazer, ela descobre que está grávida dele.

Mas ninguém pode saber disso, muito menos Christian.

Mas ele está determinado a encontrá-la de qualquer maneira e continuar exatamente do ponto em que pararam.

 

 

Digitalização: Gessyca Souza


CAPÍTULO UM

 

A fazenda dormitava a luz do sol da tarde. Paredes pálidas de pedra, telhas róseas gotejando com buganvílias roxas e brancas que se enroscavam sobre os beirais e emolduravam as janelas com persianas. Circulando a varanda, no primeiro andar, havia um contraste melan­cólico com as cores vívidas das flores. Era tudo que Olívia esperava e um pouco mais.

Não era grande. Comparada às casas que havia di­vidido com Tony ao longo dos anos, era quase peque­na. Mas era apropriada para ela. Não queria nada gran­de. Queria apenas um lugar que pudesse chamar de seu. Algum lugar em que pudesse viver sem ser inco­modada.

Além dos jardins — gramado viçoso e vegetação exuberante —, as águas azuis esverdeadas do Caribe se misturavam com uma praia quase branca. Era encanta­dor, era o paraíso, e era dela — pelos próximos meses.

Mas Olívia teve um calafrio quando a lembrança do motivo de ela estar lá a arrebatou. Tony estava morto. Seu marido por mais de quinze anos morreu como vi­vera, transando com a última amante.

Como era de se esperar, a imprensa havia se deleita­do com o frenesi provocado pelas revelações. António Mora sempre fora notícia e, embora estivesse morto, continuava a fomentar especulações. Principalmente pelo fato de que sua última parceira fora a mulher de um senador.

O caso logo foi abafado, e a pergunta por que Olívia permanecera casada por tantos anos viera à tona nova­mente. Sempre se supôs que ela havia feito vistas gros­sas às estripulias sexuais de Tony por causa do dinheiro dele. Porém isso não era verdade. Se ela tivesse se di­vorciado, ainda seria uma mulher rica.

Não, foi Luis quem havia garantido que ela e o mari­do ficassem juntos. Luis, que tinha apenas três anos quan­do ela foi trabalhar para Tony como a babá do menino. E, depois de perceber o fiasco de seu casamento tumul­tuado, foi Luis a quem continuou a amar.

Não que Tony tivesse sido um homem indelicado. Quando se conheceram, ela foi imediatamente atraída por seu charme e boa aparência. O que ela não havia percebido foi que Tony tinha prioridades diferentes. Ela estava à procura de um relacionamento duradouro, ao passo que ele buscava uma mãe para seu filho.

Tony sabia que ela não faria nada que machucasse Luis. O menino tinha se afeiçoado a Olívia desde o início, e ela havia feito vistas grossas para os erros do pai dele. E, depois de receber uma educação bem sim­ples na Inglaterra, a jovem se sentiu lisonjeada por Tony ter se interessado por ela.

O funeral de Tony fora um pesadelo. Repórteres de mais de uma dúzia de países se acotovelavam para tirar fotos da viúva. E, ao ficar de pé ao lado do caixão do marido, sem derramar uma lágrima, Olívia não percebeu que seria a foto dela que iria dominar as manchetes na semana seguinte.

Em última análise, não foram as mentiras de Tony que a levaram a buscar este isolamento. Ela também era uma mentirosa, embora não tivesse mais ninguém agora para acusá-la de ser hipócrita. A culpa que carre­gava não podia dividir com mais ninguém a não ser ela mesma.

E semanas após a morte de Tony ela não havia se permitido pensar sobre o que havia acontecido na noite em que ele morreu. Estava ocupada demais elucidando os casos dele para prestar atenção em si mesma. Quan­do sua mente estava ocupada, conseguia deixar o pas­sado para trás e podia fingir que não tinha sacrificado o respeito por si mesma.

Evitar Christian Rodrigues foi muito mais difícil. O homem que fora o auxiliar de seu marido, e com quem ele havia dividido uma herança comum, nunca fora fá­cil de ignorar. Mas ele a humilhou, não a fez se sentir melhor que o marido cuja infidelidade ela desprezou. E agora estava agindo como se o que aconteceu a ela im­portasse para ele. Como se tivesse algum direito de di­zer como ela deveria conduzir sua vida de agora em diante. Mas ele não se importava com ela. Provou isso ao seduzi-la naquela noite.

Ela sabia que Christian sentira pena dela. Afinal, ela era mais velha, sem qualquer glamour para atrair um homem como ele. Christian era como Tony. Era ambi­cioso e inteligente. Quando escolhesse uma esposa, ela teria status, assim como beleza.

Ao descobrir que estava esperando o bebê de Christian ela percebeu que tinha de partir. Como Luis estava na faculdade em São Francisco, não havia nada que a impedisse de ir embora de Miami. San Gimeno parecia o destino perfeito.

Pela primeira vez, tinha gostado das vantagens que o dinheiro lhe trouxera. Embora a maior parte de seu patrimônio estivesse sob custódia até que Luis comple­tasse 21 anos, Tony a havia deixado bem provida. Das seis propriedades que ele possuía pelo mundo, duas de­las — a mansão em Bal Harbour e um apartamento em Miami — agora pertenciam a Olívia. E com um fundo de custódia que lhe renderia algo em torno de dois milhões de dólares por ano, nunca mais precisaria se preocupar com a estabilidade financeira.

Entretanto, tinha seus próprios planos. Assim que voltasse aos Estados Unidos, pretendia doar grande parte do que havia herdado a instituições de caridade. Guardaria o bastante para que ela e o bebê sobrevives­sem. Mas não desejava que seu filho conhecesse a va­zia realidade que Luis suportou durante tantos anos.

Ficou grata pelo luxo de poder contratar um jatinho particular para trazê-la à ilha. Não queria que ninguém soubesse onde estava até que seu bebê nascesse. Não queria magoar Luis, mas não atenderia mais seus tele­fonemas.

Uma das menores ilhas do arquipélago das Baha­mas, San Gimeno havia permanecido praticamente in­tocada pela explosão do turismo. Havia pouquíssimos hotéis e sua economia dependia da indústria agrícola e da pesca. Era o refúgio perfeito. Ao deixar a varanda onde estava sentada, Olívia caminhou sobre a grama em direção às dunas fimbriadas de palmeira que circundavam a praia. A grama estava áspera sob seus pés, mas estava se acostumando a andar descalça. Isso lhe proporcionava uma sensação de liberdade.

Era tão diferente da vida que levava como a esposa de um dos homens mais ricos da Flórida. Não poderia imaginar Tony gostando de ver sua mulher vestindo um simples colete de couro curtido e short de brim. Era importante para ele sentir-se orgulhoso dela, e ela se acostumara a fazer e a vestir o que ele determinasse.

Mas Tony estava morto e pela primeira vez desde seus 22 anos era dona de seu próprio destino. Um ser independente, sem ter de agradar a ninguém a não ser a si mesma. Não tinha dúvidas de que — como era a viúva de Tony — Christian também estaria à sua dispo­sição, se precisasse dele. Mas não tinha a menor inten­ção de pedir sua ajuda. E nem a de Luis.

Ainda não tinha decidido onde ia morar depois que o bebê nascesse. Poderia voltar à Flórida ou poderia ficar aqui. Poderia ainda retornar à Inglaterra. Dependeria do que ela planejava fazer com o resto de sua vida.

O sol ainda estava quente, e Olívia se mexeu inquie­ta. Estava acostumada ao calor. A Flórida podia ser insuportavelmente quente, e a umidade lá era muito maior do que em San Gimeno. Contudo, não queria se arriscar a ter uma febre. Precisava ficar bem e em repouso. Com um suspiro de pesar ela se virou em direção à quinta e viu sua empregada Susannah de pé esperando por ela no último degrau da varanda.

Imediatamente, sentiu uma pontada de ansiedade. Não sabia por quê. Nem parecia que ela e a mulher de ascendência indígena eram amigas próximas.

— Algum problema? — perguntou, apressando a su­bida, e Susannah deu um passo para o lado para que ela adentrasse a varanda.

— Uhmm... não, madame — ela respondeu, mas o tom de sua voz não era convincente. Suas mãos se en­trelaçaram na altura da cintura. — Você recebeu um telefonema, senhora Mora. Dos Estados Unidos. Não tinha certeza se a senhora iria querer recebê-lo.

— Um telefonema? — repetiu, sua voz só um pouco mais alta que um sussurro. Susannah estava ciente de que ninguém mais sabia que ela estava aqui. — Eu... quem é?

— Acho que ele disse que o nome era Roderick ou Rodrigo. Quer que eu diga que você não está aqui?

Nem Roderick nem Rodrigo, ela pensou.

— Pode ter sido Rodrigues? — perguntou, na expec­tativa de não parecer tão em pânico quanto de fato esta­va, e Susannah concordou com a cabeça, aliviada.

— Pode ser — respondeu. — A senhora o conhece? — Se conhecia Christian? No sentido bíblico, definitivamente, pensou, embora isso fosse quase cômico.

— Eu posso descobrir o que ele deseja — ofereceu Susannah. Nas oito semanas que tinha vindo trabalhar para ela, não houve telefonemas dos Estados Unidos ou de outro lugar.

A idéia de deixar que Susannah lidasse com o telefo­nema era tentadora. Não tinha de se explicar para Christian. Ele não era sequer um amigo, pensou ela nervosa. Não tinha o direito de persegui-la desta ma­neira.

Mas então ela recobrou o bom senso. Queria que Christian pensasse que ela estava com medo? Com medo de falar com ele?

— Está tudo bem, Susannah — conseguiu dizer, en­fatizando as palavras com um sorriso. — É apenas um sócio do meu falecido marido.

Susannah ainda parecia em dúvida e Olivia se sentiu acolhida pela preocupação que pôde perceber no rosto da outra mulher. Respirou profundamente e adentrou a iluminada e arejada sala de estar da quinta.

— Você poderia pegar para mim um copo de chá gelado? Estou com muita sede.

— Sim, senhora.

Susannah virou-se para o longo corredor que ia da frente aos fundos da mansão enquanto Olívia se aproxi­mava do telefone. Ele estava de lado, sobre uma mesi­nha de canto, ao lado de um dos três sofás de couro, em frente à lareira repleta de flores. Com as janelas aber­tas, o perfume das flores foi irresistivelmente levado pela corrente para as narinas de Olívia. Ela respirou bem fundo mais uma vez antes de pegar o fone.

— Sim? — disse, fingindo desconhecimento. — Quem é?

— É Christian Rodrigues — ele respondeu. — Olá, Olívia. Como você está?

— O que você quer, Christian? — perguntou ela num tom frio. — Como sabia onde me encontrar?

O silêncio se propagou por um instante, e ela imagi­nou que ele não tinha gostado de sua resposta. Então ele respondeu, com o sotaque ainda mais intenso, como sempre acontecia quando ele estava irritado.

— Ah, por favor, Olívia, reconheça um pouco a mi­nha inteligência.

— Você sabia onde eu estava — disse ela, com a flexão de uma afirmação, não de uma pergunta.

— Você é a viúva de António Mora, Olívia — ele disse. — Uma mulher rica por sua própria conta. Eu devo ao Tony tomar conta de você. Que tipo de homem eu seria se traísse a confiança dele?

— Você é que tem de me dizer.

Silêncio novamente, desta vez mais hostil do que o último, e ela percebeu que tinha tocado em um ponto crucial.

— Não é hora de se falar sobre o passado, Olívia — ele disse, num tom áspero. — É minha responsabilida­de garantir que você não seja incomodada.

— Exceto por você.

Christian tinha sido um bom amigo para Tony, mas se tornara um mau inimigo. Para seu próprio bem — e para o bem de seu filho —, tinha de fazer com que ele entendesse que ela não precisava de nada.

— Escute, desculpe-me se pareço ingrata, Christian, mas você tem de entender que eu esperava conseguir um pouco de privacidade aqui. Quando... quando Tony morreu, parecia que eu não tinha tempo para mim. Tal­vez eu tenha sido ingênua de achar que eu poderia ter fugido sem contar a ninguém para onde estava indo. Mas espero que isso não signifique que eu tenha de relatar a você todas as vezes que eu quiser... quiser...

De alguma maneira, tinha de convencê-lo de que es­tava tudo bem, de que não precisava dele para nada.

— De modo algum eu espero que você se reporte a mim, Olívia — disse Christian, num tom quase raivoso. — Mas teria sido cortês da sua parte deixar seu futuro endereço com a minha secretária.

Olívia apertou os lábios. Ela se recusava a cumpri­mentar aquela vagabunda promíscua. Dolores Samuels estava tentando pôr suas garras em Christian desde que Tony a dispensou, há um ano. Ele devia saber disso. Ou já tinha se aproveitado de sua postura tão evidente?

Ela balançou a cabeça. Estava ficando paranóica. Não tinha feito nada que levantasse as suspeitas de ou­tra pessoa, muito menos as dele. O que quer que Chris­tian quisesse, devia estar relacionado com os bens de Tony. Mas por que ele não entrou em contato com Luis? O poder que Tony havia lhe dado não era sufi­ciente?

— Luis está hospitalizado em São Francisco — Christian disse, sem fazer nenhuma introdução, e Olívia deu graças a Deus por estar sentada.

— Hospitalizado? — repetiu, demonstrando fraque­za, sua mão fria e úmida no fone. — Meu Deus, o que aconteceu? Ele está doente?

— Doente não — respondeu Christian com rapidez, e ela pensou que ele não era totalmente insensível. — O carro dele colidiu violentamente contra uma parede. Luis estava dirigindo. Teve fratura na pélvis, ferimen­tos, uma concussão... — fez uma pausa — ... e, a prin­cípio, suspeitam de que tenha quebrado o pescoço.

O gemido de Olívia foi audível para ele, e ela ouviu Christian praguejar frustrado. Então, rapidamente, ele falou:

— Luis não está morrendo, Olívia. Ele contundiu a coluna, só isso. Não houve fratura. Com o tempo, e a habilidade dos médicos, deve se recuperar completamente.

Olívia engoliu o que ele disse.

— Tem certeza?

— Absoluta. Não sou um especialista, Olívia. Mas, pelo que entendi, seu precioso garoto logo estará novinho em folha.

Olívia se enrijeceu.

— Você não precisa ser sarcástico, Christian. Sei que você e Tony nasceram com balancetes em suas mãos ávidas por poder. Mas Luis não é assim. Ele percebeu que há mais coisas na vida além do dinheiro.

— Suponho que seja por esta razão que ele estava dirigindo um Porsche Turbo.

— Só me diga onde ele está — disse com frieza. — Quero ir vê-lo.

— Não é necessário.

— O que quer dizer com "não é necessário"? — estava furiosa, a sensação de pânico que sentiu ante­riormente dando lugar à indignação. — Para que hospi­tal ele foi levado?

— Acalme-se, está bem? — O tom da voz de Chris­tian estava uniforme agora.

— Você não pode me impedir de ir vê-lo, Christian.

— Não estou tentando impedir que você o veja, Olí­via. Mas não precisa pensar em voar até São Francisco quando eu tomei as providências para que ele voe para Miami de manhã.

— Você fez o quê?

— Acho que você ouviu o que eu disse, Olívia.

— Mas... — Ela se esforçava para encontrar as pala­vras. — Você não tinha o direito de fazer isso.

— Não?

— Não — disse ela com veemência. — É muito re­cente para ele ficar sendo deslocado. Você disse que ele tem uma fratura na pélvis. E quanto à concussão?

— A leve concussão? Ele vai sobreviver, já disse.

— Ainda acho que você não devia ter tomado a deci­são de transferi-lo — declarou ela calorosamente. — Você só se importa com você mesmo.

— É esta sua opinião?

Agora ele respirava pesadamente. Ela podia ouvir, e por um momento ficou tentada a não dizer mais nada. Mas não podia deixar que ele a intimidasse e, endirei­tando os ombros, ela falou:

— Sim, é a minha opinião. — Ela fez uma pausa e então acrescentou defensivamente: — E tenho certeza de que seria a opinião de Tony também.

— Mesmo? — Ele soltou o ar com violência e, em­bora ela não pudesse vê-lo, sentiu a raiva que tomava conta de Christian. — Bem, querida, para sua informa­ção, o médico de Luis avaliou seu estado de saúde e autorizou a transferência para o hospital em Miami. Uma ambulância aérea, equipada com médicos e enfer­meiros, irá transportá-lo do aeroporto de São Francisco para o Hospital Sacred Heart. Isso tranqüiliza você?

— Você... você disse que Luis está sendo transferido para Miami amanhã? — ela perguntou, de maneira eva­siva, e Christian confirmou o que havia dito.

— Sim, e com a diferença de fuso, é recomendável que você não tente vê-lo até o dia seguinte — ele co­mentou. — Minha sugestão é mandar um helicóptero para ir buscá-la na quinta-feira de manhã. Se puder estar pronta às... digamos, dez e meia, poderíamos...

— Não preciso de sua ajuda para voltar a Miami — interrompeu-o Olívia rapidamente. — Existe uma coi­sa chamada vôo charter. Você sabe que eu tenho di­nheiro para contratar um piloto.

— Mas por que você iria querer fazer isso se as em­presas Mora possuem helicópteros? — interrogou Christian. — Pedirei a Muce Delano que faça o trajeto.

— Não é preciso mandar ninguém — insistiu ela.

— Deixa pra lá, Olívia — disse ele num tom áspero. — Até agora consegui manter isso em segredo, mas quando você contratar um avião para voltar para cá, alguém irá descobrir. Eu aceito que você não goste de mim. Dios, eu já sei disso há oito anos. E o que aconte­ceu na noite em que Tony morreu foi imperdoável e você não me deixará esquecer disso. Mas isso... isso é diferente. Temos de proteger Luis. Depois do que aconteceu quando o pai dele morreu.

Convencer Luis de que ela precisava ficar um tempo sozinha para superar a morte do pai dele tinha sido fá­cil. Convencer Christian do mesmo era outra coisa.

No entanto, suas palavras seguintes a tranqüilizaram.

— Ouça, Olívia — disse —, não estou pedindo que faça isso por mim. Mas Luis vai esperar vê-la — conti­nuou. — Ele não falou de outra coisa desde que reco­brou a consciência.

— Bem, é claro que eu também quero vê-lo.

— Então faça a coisa sensata e deixe que eu mande o helicóptero.

— Na quinta de manhã?

— Sim.

— Vou pensar — disse ela por fim, sabendo que ele iria interpretar isso como um consentimento, e desligou.

 

 

CAPÍTULO DOIS

 

 

Não chovia com freqüência em Miami, mas, quando chovia, caía um aguaceiro. O aguaceiro em questão era cortesia do furacão Flora, que tinha sido reduzido a uma tempestade tropical antes de chegar ao continente. Provavelmente era o último furacão da estação, porém isso não o tornava menos desagradável. E nem melho­rava o humor de Christian Rodrigues quando saiu do carro em direção ao Edifício Mora.

Com passos largos, ele se dirigiu ao saguão de már­more, mal notando seu teto abobadado ou seus refina­dos exemplos de espelhos e desenhos que conferiam ao local sua aparência elegante. Diversas revistas elogia­ram seu resplendor arquitetônico, mas nesta triste ma­nhã de quinta-feira o humor de Christian não estava propenso a apreciar o ambiente.

Antônio Mora era primo de seu pai e, quando ele convidou Christian — muito mais jovem — para traba­lhar, foi uma oportunidade maravilhosa. Christian esta­va na faculdade de Direito, e mantendo dois empregos de meio-período só para arcar com as despesas de mensalidade. Os pais estavam mortos, vítimas de um deslizamento de terra enquanto visitavam os avós na Venezuela, e até Antônio — Tony — entrar em cena, Christian nunca havia pensado em contatar seu parente distante.

Tony, porém, acabara de saber que seu primo havia falecido. Ele se ofereceu para pagar as mensalidades da faculdade de Christian. Queria fazer alguma coisa em tributo à memória de seu primo. Apesar do fato de que Tony visitara seu primo e a família em raras ocasiões, aparentemente tinha ficado impressionado com a inte­ligência de Christian. Tony precisava de alguém em quem pudesse confiar, alguém com quem pudesse con­tar e até que Luis ficasse mais velho, queria alguém com seu próprio sangue para a vice-presidência.

Talvez Tony tivesse percebido que Luis não era como ele. O menino parecia mais com a mãe — ou melhor, sua madrasta. A excelente e encantadora senhora Mora, que sempre havia olhado para Christian com um des­prezo quase velado, como se pensasse que ele tinha aceitado a proposta de Tony em busca de poder e di­nheiro. Ela estava errada, mas não havia nada que ele pudesse dizer para fazê-la mudar de idéia.

Christian ficou sabendo que, embora Tony não res­peitasse a esposa, mataria qualquer um que tocasse em Olívia. E Christian tinha juízo para não ficar olhando para ela. Além do que, apesar da infidelidade de Tony, ela parecia satisfeita.

Christian entrou em um dos seis elevadores que da­vam acesso aos andares superiores do edifício e pres­sionou o botão do 42° andar com uma força desnecessá­ria. Ela devia saber que ele iria tentar entrar em contato com ela se não estivesse a bordo do helicóptero.

A secretária dele, Dolores Samuels, o encontrou no salão de entrada de seu conjunto de escritórios, e ele presumiu que sua presença no edifício havia sido anun­ciada. Pequena, morena e impetuosa, Dolores demons­trava sua herança latina em cada movimento agitado que fazia.

— Ela não estava a bordo — afirmou, os olhos escu­ros arregalados e conscientes, e Christian a encarou.

— Como sabe disso?

— Mike Delano ligou do hospital — respondeu ela.

— A Senhora Mora chegou lá poucos minutos depois que o senhor saiu para o aeroporto.

— Então por que você não me ligou? Teria me pou­pado de vir até aqui.

— Ela pediu ao Mike para não contar a você — afir­mou solenemente Dolores.

— E desde quando Mike Delano recebe ordens da Senhora Mora? — retrucou Christian num tom severo. — E por que ele não ligou para num em vez de ligar para você?

— Acho que ele sabia que você voltaria e iria direto para o hospital — explicou Dolores, puxando distraidamente os cabelos ondulados e escuros. — E ela é a mãe de Luis. Ela não queria que você interferisse.

— Ela é a madrasta dele — Christian a corrigiu rispidamente.

— Isso importa? — ela perguntou. — Ela é velha. E é a viúva de Tony.

Christian não sabia por que se sentia tão enfurecido com sua alegação.

— Olívia não é velha — afirmou ele. — Ela tem o quê? 37? 38? Isso não é ser velha, Dolores.

— Para mim é — retrucou a garota. — E para você também. — Ela fez uma pausa, observando-o com curio­sidade. — Não me diga que está interessado na viúva.

Christian percebeu que isto estava se tomando pes­soal demais. Dolores já havia tentado envolvê-lo em conversas como esta anteriormente. Era curiosa de­mais, provocadora demais. E desde que o caso que ti­nha com Tony terminara, olhava para seu atual chefe com uma intenção cada vez mais evidente.

— Eu não acho que a Senhora Mora iria gostar de seu julgamento — respondeu ele de forma evasiva. Não tinha a intenção de debater seu relacionamento com a esposa de seu falecido primo. — Sugiro que você se restrinja aos assuntos profissionais.

Num gesto de frustração, ele pegou seu celular e ordenou ao seu motorista que retirasse o carro da gara­gem no subsolo. Em seguida, ele se dirigiu rapidamen­te de volta ao elevador.

O hospital estava situado no centro de Miami e tal­vez ele devesse ter tomado providências para que Luis fosse transferido para um hospital no norte de Miami, pensou, irritado, batendo os dedos contra o volante. Era início de tarde quando ele entrou no estacionamento do hospital. Estava cheio, mas depois de breve discussão com o segurança, foi autorizado a estacionar em uma vaga designada apenas para funcionários.

Olívia estava sentada ao lado da cama de seu entea­do, a mão levemente sobre a dele. Ela estava inclinada na direção dele, falando suavemente, quando Christian abriu a porta, e a intimidade da cena que estava interrompendo não surtiu nenhum efeito sobre ele.

— Oi — disse ele num tom enérgico, seus olhos des­viando-se dela para o jovem na cama. — Luis. — Seus finos lábios sorriram. — Como você está se sentindo?

— Estou bem. — Luis tentou retribuir ao cumpri­mento, mas seu rosto ainda se contorcia de dor. Estava bastante pálido, a pele bronzeada quase da cor do len­çol atrás de sua cabeça. — Obrigado.

— Que bom. — Christian ficou de pé ao lado da cama, oposto a Olívia, forçando-se a se concentrar em seu ocupante. — Nenhum efeito pós-vôo?

— Só uma sensação de cansaço devido à diferença de fuso horário — respondeu Luis corajosamente. — Gostei de você ter vindo até aqui, Chris. E bom ver um rosto conhecido entre todos esses jalecos brancos.

— Você não contou que Christian o acompanhou de volta a Miami, Luis — disse ela, sua voz normalmente rouca exasperada com a confusão. — Você sabe que eu mesma teria lhe acompanhado se soubesse o que tinha acontecido.

— Ah, Chris foi para lá no dia seguinte ao acidente — Luis explicou. — Ele ficou comigo até que os médi­cos dissessem que poderia tomar as providências para a transferência. Foi assim que voltamos juntos.

— Bem, graças a Deus Christian estava lá para cui­dar de você. Suponho que ele tenha imaginado que eu teria ficado muito preocupada com você.



  

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