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CAPITULO QUATORZE



CAPITULO QUATORZE

 

Eram mais de dez horas quando Helen chegou, pa­rando para comprar algumas coisas ao sair do hospi­tal, para a volta de sua mãe.

Talvez nos próximos dois dias. O ferimento na ca­beça estava melhorando e, mesmo com dor de cabe­ça, um braço quebrado e vários cortes e ferimentos, ela não corria risco.

Tão logo Sheila recobrara a consciência, tinham percebido que seus ferimentos não eram ameaçado­res, e ela fora transferida da UTI para a enfermaria principal.

Nesta tarde, Helen fora avisada da alta de sua mãe. A enfermeira também dissera que Sheila preci­saria de ajuda por uns dias e que, se Helen trabalhas-! se, teria que pedir uma semana de licença para cui­dar dela.

Significava que não poderia voltar a Santoros. Sentada ao lado da cama enquanto a mãe dormia, ti­vera bastante tempo para se preocupar com o futuro. Apesar de querer passar mais tempo com seu pai, provavelmente era melhor não fazer planos.

Enquanto procurava as chaves, sentiu alguém atrás dela. Virou-se, preparando a sacola de compras como uma arma se precisasse.

Um instante depois, largou as alças de plástico. Com as compras se espalhando pela entrada, olhou para o rosto de Milos e rompeu em lágrimas.

Ele não tentou confortá-la, apenas encontrou a chave e abriu a porta. Depois, juntou as compras es­palhadas, enchendo a sacola que ela soltara.

Pegando um lenço de papel do bolso, Helen enxu­gou as lágrimas. Passara por coisas demais: o choque do acidente de sua mãe, o resultado e, agora, o apare­cimento de Milos.

O que fazia aqui?

Acendendo a luz, tropeçou pelo corredor para a cozinha, evitando olhar para o seu reflexo nas jane­las, sabendo que não devia estar bem. Passara os últi­mos dias correndo, sem tempo de pensar em sua apa­rência.

Ouviu a porta da frente fechando e passos pelo corredor. Com esforço para se recompor, acendeu a luz e virou-se para ele, que pousava as compras na bancada.

— Obrigada. Foi uma coisa estúpida.

— Teria sido menos estúpido se eu tivesse falado com você?

— Provavelmente não. O que faz aqui a esta hora?

— Não seria esta hora se você tivesse chegado na hora esperada — disse ele suavemente. — Como eu saberia que ia fazer compras?

— Eu estava no hospital até as oito — seus lábios insistiam em tremer. — Você esteve aqui?

— Não. Mas estava esperando desde as... oito e quinze.

— Por que esperou duas horas para me ver?

— Precisamos conversar. Até agora, você conse­guiu evitar, mas espero que não sejamos interrompi­dos esta noite.

Helen tremia.

— Não poderia... esperar até de manhã? Estou muito cansada.

— Posso ver. Sei que tem sido traumático para você. Como está sua mãe? Soubemos que está bem melhor.

— Quem?

— Seu pai, Melissa e eu. Sam ligou para o hospital hoje cedo, antes da minha partida. Disse que ela esta­va melhorando.

— Então, não preciso dizer — Helen pegou uma chaleira e levou para a pia. — Vou fazer um chá para mim, quer?

— Como recusar oferta tão generosa? Depois, po­demos ir à questão? Estou bem cansado e... com frio.

Helen nem pensara que estava frio lá fora para ele, acostumado com altas temperaturas.

— Me desculpe. Quer que eu ligue o aquecedor?

— Não é preciso. Um drinque será o bastante. — Não temos nada alcoólico.

— Um chá está bom. Você comeu alguma coisa esta noite?

— Um sanduíche.

— Um sanduíche? Tem vivido de sanduíches des­de que voltou?

— Não interessa, não é? Só por achar que temos um assunto inacabado...

— Não acho. Theos, Helen, quanto tempo preten­de continuar com isso?

— Com o quê?

— Não... finja que não sabe.

— Não sei.

— Mentirosa. Nunca ia me dizer que Melissa é mi­nha filha?

— O... que disse?

— Perguntei quando ia contar que sou o pai de Melissa. Não precisa negar, já faz um tempo que sei. Honestamente você achava que em Santoros eu não veria a semelhança?

Helen sentou, sentindo as pernas fracas. Ele sabia que Melissa era sua filha. Teria contado a ela tam­bém?

A chaleira estava fervendo, mas não tinha forças. Com um gemido abafado, Milos passou por ela.

— Chá?

— Os envelopes de chá estão ali, e o bule, atrás.

— Posso ver. — Com segurança, ele pôs alguns saquinhos no bule e despejou a água fervendo. Leite e açúcar?

Quanto ele empurrou uma caneca da bebida quen­te para ela, já estava forte o bastante para levá-la aos lábios. Milos sentou-se diante dela.

— Você... contou a Melissa?

— Imagino que esperava que eu fizesse isso. Afinal, sou o homem que a engravidou e abandonou.

— Contou?

— A Melissa? Claro que não. Diferente da sua opinião sobre mim, eu a respeito muito, o que me sur­preende, depois de tudo.

— Obrigada.

— É tudo o que tem a dizer? Helen, não acha que mereço mais do que isto?

— Não vou me desculpar pelo que fiz. Eu pensava que fosse casado, lembra?

— Como posso esquecer? Nunca esqueci a participação de Eleni nisso. Se tivesse, você estaria enfrentando uma raiva maior, acredite.

— Posso explicar por que... casei com Richard?

— Estou escutando.

— Pareceu ser a única solução, a melhor saída, ca­sar com Richard.

— E Shaw acreditou que você esperava a criança dele?

— Não, ele sabia que... não era dele. Richard era meu namorado, mas nunca tínhamos dormido juntos. Você sabe disso.

— Sei. Então, por que ele mudou de idéia?

— Mudou de idéia? — Helen estava confusa. — Sobre o quê?

— Sobre ser pai de Melissa. Quando ele resolveu contar a verdade.

Helen estava assombrada.

— Ele não o fez, não o faria. Não sei do que está falando. Melissa acredita que Richard era seu pai.

— Não, ela não acredita.

Helen não conseguia mais ficar sentada e andou de um lado para outro na cozinha. Não podia acreditar. Por que Richard faria aquilo? E por que Melissa nun­ca tinha dito nada?

Apertando as mãos, pensou que sua mãe nunca du­vidara da paternidade de Melissa, sempre reclaman­do que era bem filha do seu pai, especialmente quan­do começou com problemas na escola.

Lembrou da recusa de Richard em assumir qual­quer responsabilidade pelo comportamento de Melis­sa. Mesmo mantendo as aparências, na privacidade do quarto deles, sempre a acusava pela atitude da me­nina.

Uma atitude que tinha piorado nos últimos meses, Helen lembrou ansiosa. Seria verdade?

— Como... sabe disso? Quem contou?

— Quem você acha?

— Minha mãe?

— Foi Melissa quem contou.

— Não! Por que ela lhe contaria algo assim?

— Bem, não pelas razões que você pensa. Acredi­te, fiquei tentado a contar quem era realmente seu pai. Mas não podia. Isso devia vir de você, não de mim.

Helen estava confusa. Melissa sabia que não era filha de Richard. Quando ele fizera aquilo? Seria o motivo pelo comportamento insuportável de Melissa nos últimos anos?

— Ela contou quando ele disse? — mostrou que acreditava nele.

— Uns dois anos atrás. Disse que ele a ameaçou, para não contar a você.

— Por quê? — O grito saiu de dentro dela.

— Amargura? Ciúmes? Melissa disse que ele ameaçou partir se ela contasse. Ele parece um prínci­pe, Helen.

— No início, ele era bom para mim. Quando Me­lissa era um bebê ele parecia feliz.

— E você? Nunca imaginou como seria diferente se tivéssemos ficado juntos?

— Como se fosse possível, sabendo ou não que eu esperava um bebê seu.

— Por que não? — Milos empurrou a cadeira, le­vantando. — Eu era um pretendente tão ruim?

— Posso imaginar a conversa se eu dissesse que ia ser pai. Quê? Não pode ser meu. Usei preservativo. O que está querendo?

— Você tem boa opinião a meu respeito.

— Tinha. — Já não pensava o mesmo. — De qual­quer modo, agora não importa. Eu sempre pensei que trabalhava para meu pai, e... não trabalha.

— O que isso significa?

Agora ele estava atrás dela, que podia sentir a res­piração quente em sua nuca, causando arrepios.

— O que acha? Ainda não me disse como Melissa fez confidencias. Vocês dois não se conheciam bem.

— Ah, passamos a nos conhecer desde que voltei de Atenas — falou ele suavemente, passando a mão pelo ombro dela. — Quando descobri que você volta­ra para a Inglaterra, não pude perder a oportunidade.

— Aposto.

— Você me condena? — Os dedos dele passaram pelo pescoço dela, com familiaridade. — Pode não gostar, mas Melissa e eu nos damos muito bem.

— Estou surpresa de meu pai encorajá-lo. Ele não achou um pouco estranho?                                       

— Não foi bem assim. Dei a desculpa de querer ver Rhea. Ela estava no vinhedo, fazendo companhia a Melissa enquanto você estava fora.                      

— Gentil da parte dela.

— Rhea é gentil.

Ele puxou a cabeça dela, fazendo-a pousar em seu ombro. Ela se afastou.

— Diga-me apenas o que quer. Estou cansada e é tarde para joguinhos.

— Não é joguinho. Pensei que gostaria de me ver, mas estava errado.

— Se quer dizer pelo que aconteceu em Vassilis...

— Como pode ter dúvida?

— Pensei que tivesse vindo dizer que sabe sobre Melissa.

— Também. E perguntar se sabia o que seu marido disse.

— Não sabia.

— Acredito. Mas temos outras coisas para conversar, ou sou completamente insensível? Imagino se o acidente de sua mãe não deixou lugar para mais nada.

Helen tremeu. Se ele soubesse!

Incapaz de falar o que sentia, disse:

— Você... ainda não contou como Melissa confi­denciou a você. — Ela engoliu em seco quando Milos fez um som angustiado.

— Inferno, não pode esquecer Melissa por um mo­mento? Eu também estou cansado, mas não vou a lu­gar algum até podermos conversar sobre nós!

— Nós?

— É, nós — Milos pegou o rosto dela e, erguendo-o, beijou-a.

Ela não esperava pelo beijo, pela súbita paixão que a assolou com a língua dele entrando em sua boca.

Apertou-se contra ele, precisando de sua força para não cair. Ele separou as pernas, trazendo-a mais para perto e, por vontade própria, seu corpo enroscou no dele, buscando seu calor e proteção, o desejo que se negara por tanto tempo.

O beijo pareceu durar para sempre, e ambos esta­vam sem fôlego quando finalmente Milos ergueu o rosto.

Theos, você me deixa louco! — Gemeu e afas­tou-se um pouco, passando a mão pelos cabelos.

Por um momento, Helen sentiu-se perdida, esque­cida de tudo, mas percebia que talvez nada signifi­casse para ele. Estava com raiva e a punira do único jeito que conhecia.

— Pode dizer que sou um bastardo — disse ele. — É o que está pensando, não é? O que sempre pensa de mim.

— Você está enganado. Só não sei por que fez isso. Você me odeia tanto assim?

— Eu não a odeio! Às vezes, bem que gostaria.

— Então...

— Olhe, falarei sobre Melissa, se é o que deseja — murmurou ele, puxando uma cadeira e se jogando nela, o rosto enterrado nas mãos. — Na noite em que voltei de Atenas, Rhea convenceu Sam a deixar as duas garotas passarem a noite em Vassilios. Eu não conseguia dormir porque... bem, não conseguia. Me­lissa também não, então... conversamos.

— Sobre o que falaram? — Ele parecia fraco, e imaginou há quanto tempo não se barbeava, dormia ou comia algo.

— De você; da avó dela; do acidente. Ela estava preocupada que a avó morresse. Disse que você e ela eram as únicas pessoas que se preocupavam com ela. Como acha que me senti?

— Muito mal.

— Finalmente. Então, esqueci meus sentimentos, perguntando sobre o pai dela, dizendo que devia ser duro lidar com outro acidente em tão pouco tempo.

— O que ela disse?

— Que Richard não era o pai dela. Acho que ela queria contar para alguém há muito tempo.

— Deus! — Helen apertou as mãos no rosto. — Eu queria ter sabido.

— Eu também — falou Milos com amargura. — Mas nem sempre conseguimos o que queremos, não é?

Helen estava arrasada, mais do que quando ele contara o que Melissa dissera. Sentia-se muito mais culpada do que ele. Estivera tão ocupada tentando manter a família unida que não percebera nada.

— Eu sinto muito — falou trêmula, parando diante dele. — Você tem todo o direito de ter raiva de mim.

— Não tenho raiva de você — ele pegou a mão dela, sentando-a em suas pernas. — Mas deve enten­der que não podia esperar que voltasse a Santoros. Precisava falar com você, contar.

— Talvez eu não possa voltar a Santoros. Minha mãe deve sair do hospital em um ou dois dias, e pre­ciso cuidar dela.

— Era o que eu temia. — Levou a mão dela aos lá­bios. — Eu preciso que você garanta que vai contar a Melissa que sou o pai dela quando... ela voltar da ilha. Talvez não imediatamente. Acho que você me deve isso, pelo menos.

— Contarei a ela.

— Obrigado. Você acreditaria se eu dissesse outra coisa?

Helen tremeu, ciente da conexão entre eles e, mes­mo pensando que era apenas mais um jogo, sabia que nunca se perdoaria se estivesse enganada.

— Tente.

Milos pegou suas duas mãos, puxando-a mais para perto e falou:

— Eu esperava que pudéssemos conseguir salvar algo da confusão que eu fiz com as nossas vidas.

— Você não precisa fazer isso.

— Fazer o quê?

— Fingir que sente atração por mim para conse­guir acesso a Melissa. Ela é sua filha, Milos. Você tem o direito à metade do tempo dela.

Houve um momento de silêncio e, depois, Milos afastou-a, levantando.

— Você... — ele engoliu uma grosseria, passando a mão na cabeça. — Honestamente acha que eu faria amor com você para forçá-la a reconhecer a verdade?

— Não sei o que pensar.

— Devia — Milos passou por ela. — Preciso ir. Está ficando tarde e estou exausto. Talvez possamos nos falar amanhã. Ligarei de manhã, quando minha cabeça estiver mais clara.

— Milos... não precisa ir, se não quiser. Quero di­zer... temos camas extras.

Milos parou à porta.

— Não está falando sério. Realmente acha que eu poderia compartilhar uma casa com você sem com­partilhar a sua cama? Seja sensata, Helen. Depois do que falei não pode me convidar calmamente para passar a noite!

— Por que não?

— Você sabe. Theos, Helen. Acha que eu poderia perdoá-la por me privar dos 12 primeiros anos de vida da minha filha se não me importasse com você? Não sou santo, sou um pecador. Eu a queria quando era jovem e inocente demais e ainda a quero.

— Então... por que não disse?

— Quando? Enquanto tentava me fazer ciúmes com seu namorado rico ou enquanto lutava como uma tigresa, naquela manhã em Vassilios?

— Eu... não estava fazendo-o sentir ciúmes. Não faria isso — hesitou —, me importo demais com você.

Milos parou diante dela.

— Devo acreditar nisso?

— Sim, é a verdade. — Helen hesitou um instante, antes de se aproximar dele. — Você precisa acreditar em mim — falou, os olhos fixos nos dele, agarrando o braço dele, afinal, mostrando os seus sentimentos livremente. — É verdade que realmente me quer?

— É verdade. — Milos puxou-a para ele. — Mu­lher louca — acrescentou, passando a língua nos lá­bios dela —, quanto tempo nós dois perdemos.

Helen não entendeu se ele a queria como amante ou algo mais, mas não se importou. Era suficiente que a abraçasse, que seus lábios fizessem coisas eró­ticas com ela. Pensaria no futuro quando deixasse o passado para trás.

Gemeu enquanto a língua dele aprofundava em sua boca, sentindo fogo em seu umbigo. Agora, as mãos dele estavam em seus quadris, apertando-a mais, deixando-a sentir a sua ereção latejando, en­quanto se esfregava sensualmente contra ela.

Ele levantou a saia dela, e suas mãos pegaram suas coxas nuas, e sentiu as pontas dos dedos dela tocando a parte sensível entre suas pernas.

— Você está molhada — falou ele.

— É o que você faz comigo — e a risada triunfante dele foi abafada em sua garganta.

— Você me quer — falou ele, desabotoando a blu­sa e expondo o sutiã de renda. — Mas usa roupa de­mais. O que foi aquilo de me oferecer uma cama para a noite?

 

 



  

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