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CAPITULO TREZECAPITULO TREZE
Passaram-se quatro dias antes de Milos poder voltar a Santoros. A conferência fora um sucesso, com muitos países produtores de petróleo assinando um tratado de redução de poluição. Por isso, os delegados tiveram que ficar até o encerramento e o jantar formal. Foi um alívio entrar no helicóptero, na manhã seguinte, sabendo estar livre nos próximos dias, mesmo precisando fazer alguns contatos. Queria aproveitar aqueles dias. Com Helen. Enquanto o piloto se preparava para pousar na ilha, estava apreensivo* ansioso por rever Helen. Como sentia algo por uma mulher que mentia? Por quê? O que tentava proteger, a culpa ou a memória do marido? Nos últimos dias, seus pensamentos tinham voltado para Helen. Imaginar que ela ainda podia amar o marido morto o despedaçava. Também pensara em Melissa, mas, em sua mente, o futuro dela estava tão ligado ao da mãe que não se preocupara tanto com ela. Claro que queria fazer parte de sua vida de agora em diante, e não podia negar que ela poderia influenciar Helen. E não podia ameaçá-la de tirar a filha dela. Então, o que queria? Queria, não, precisava ver Helen novamente. Na verdade, mal podia esperar para vê-la, tocá-la, mesmo sendo difícil. Poderia perdoá-la? E ela, poderia perdoá-lo? Aqueles dias tinham acalmado a sua mente — e esperava que a dela também. Poderiam começar de novo ou estaria sendo ingênuo por pensar assim? Pousou em Vassilios minutos antes do meio-dia e, como sempre, Stelios o aguardava, saudando: — Bem-vindo, kirieh, fez boa viagem? — Muito boa. Está tudo bem? Com Andréa também? Pode dizer a ela que pretendo jantar em casa hoje? — Sozinho, kirieh! — Confirmarei mais tarde. Agora, quero ir para San Rocco ver minha irmã. — Kiría Rhea, kiriehl — Quem mais? — Kiria Rhea não está lá, kirieh. Acho que está em Aghios Petros, com Thespinis Melissa. — Eu não sabia. — Acho que ela tentou ligar ontem à tarde, no celular. Desligara o celular durante o jantar de despedida. — Queria que tivesse dito, antes de resolver deixar a casa. — Foi inesperado kirieh. Não conseguiu falar com o senhor e pensou ser o melhor. — O melhor? O que aconteceu? A casa queimou ou algo assim? — Não, kirieh. — Stelios não parecia divertido. —? Entendo que foi a melhor solução para todos. — A melhor solução? Kiria Shaw convidou-a? — Kiria Shaw? — Stelios pareceu confuso. — Ah, a filha de kirieh Campbell. — Isso, a jovem mulher que trouxe a Vassilios quatro dias atrás. — Pensei que soubesse. Kiria Shaw voltou para a Inglaterra. Dizer que Milos ficou chocado seria pouco, pois sentia como se o mundo desabasse aos seus pés. — Está dizendo que kiria Shaw voltou para a Inglaterra? Quando? — Acho que um dia depois do senhor. É, foi na sexta. — Não entendo porque ela partiu. O que está havendo? — Nem imagino, kirieh. Devo dizer a Andréa que! vai almoçar? — Não! — Ele percebeu que o homem idoso estava ofendido. — Stelios, sei que sabe mais do que está dizendo. Lamento falar com grosseria, mas não esperava isso. — Não acho que kiria Shaw também esperava. Agora, quanto ao almoço... Não adiantava ficar com raiva de Stelios. — Vamos, somos amigos, não é? Gostaria que me dissesse o que está acontecendo. — Acho que kiria Shaw recebeu más notícias. — Alguma coisa com a mãe dela? — Se quisesse confirmação, devia ter dito. Milos mordeu a língua, falando entre dentes. — Mas como é a parente próxima de kiria Shaw, imaginei. — Foi o que ouvi dizer, entende isso, não é kirieh? — Certo. O que ouviu? — Parece que a mãe de kiria Shaw foi ferida num acidente de carro. — Muito sério? — Melhor perguntar a kirieh Campbell — ele pegou a mala de Milos. — Levarei isto para o seu quarto e esperarei para saber se vai almoçar ou não. Apesar de querer falar a sós com Rhea, Milos foi para o vinhedo de tarde. Rhea era sua irmã, e era normal querer saber dela. Foi Maya quem veio recebê-lo. — Querido, não sabia que estava de volta. — Voltei esta manhã. — A conferência foi um sucesso? Ouvimos alguns detalhes na televisão, mas não é como pessoalmente... — Maya! — ...é? O primeiro-ministro cumprimentou-o pessoalmente? Ficamos tão orgulhosos... — Maya! Soube que Rhea está aqui. — É, está. Foi idéia de Sam, não minha. — Por quê? — Você soube que Helen voltou para a Inglaterra? — Ouvi dizer. Parece que a mãe dela sofreu um acidente. — Sheila, é. Sabe que Sam queria ir com Helen? — Ele foi? — Não. Eu disse que Sheila ter sofrido um acidente nada tinha a ver com ele, e, felizmente, concordou. — Talvez só quisesse fazer companhia à filha. Como ela estava? — Em choque, acho. Particularmente, creio que a mulher provocou o acidente de propósito. Não queria que Helen viesse aqui. — Certamente ninguém se fere de propósito. Então... quando Helen volta? — Não sei. Talvez não volte. Deve depender de como a mãe está, se precisará de atenção ao voltar do hospital. — Ela está no hospital? — Está. Foi do hospital que ligaram. Claro que Helen partiu imediatamente. — Mas Melissa ficou. — Ficou. Melhor para ela. — Maya estava impaciente. — Na verdade, tem estado quieta, desde que a mãe partiu. — Então foi Sam quem pediu a Rhea para ficar? — Acho que sim. Bem, não importa. Venha tomar um drinque e conte-me sobre a conferência... — Milos! — A voz excitada de Melissa os interrompeu, e ele ficou bastante grato. — Quando chegou? Ah, estou tão contente por estar de volta. A garota veio correndo, e ele pensou que se atiraria em seus braços, mas ela parou bem perto, olhando-o com alívio. — Olá, Melissa — ele disse gentilmente, pensando como estava mudada. Os brilhantes cabelos escuros estavam livres da cor artificial, e o rosto lavado, bronzeado e saudável. Não acreditava que ninguém mais tivesse notado a semelhança. Ela sorriu um pouco trêmula e ele percebeu que não estava segura. — Minha mãe não está aqui. — Eu sei. — Sabe do acidente da vó? — Claro que ele sabe — exclamou Maya, irritada com a interrupção. — Onde está Rhea? Ela sabe que o irmão está aqui? — Rhea está no quarto — falou Melissa, aproximando-se de Milos. — Você veio para nos levar a Vassilios? — Lógico que ele não vai levá-la para Vassilios — retorquiu Maya. — Na verdade, estamos no meio de uma conversa, Melissa. Por que não vai procurar Rhea e dizer... — Não é preciso. — Milos pegou a mão da garota, sem pensar. — Você parece bem — ele gostou quando os olhos dela brilharam. — É a sua roupa nova? — Rhea comprou. Você gosta? Não é o que costumo usar. — Percebi — ele sorriu. Não imaginava quanto queria ver novamente a filha. — Então... gostaria de vir para Vassilios comigo? — Rhea também? — Claro — Milos percebeu que qualquer outra coisa pareceria suspeita. — Seria ótimo — Melissa se afastou, indo para a escada. — Vou dizer a Rhea. — Você deve perceber que está apenas satisfazendo os desejos dessa criança — murmurou Maya, Milos suspirou. — Ela é solitária. — Não somos todos? Desde que aquela mulher e a filha chegaram Sam não tem tempo para mim e Alex. — Isso não é verdade. — Sam tinha chegado e olhava para esposa com desaprovação. — Helen e eu temos que recuperar muitos anos. Certamente, você não quer prejudicar umas poucas semanas do meu tempo. Maya pareceu embaraçada. — Não, eu o conheço, Sam. Mas, por quanto tempo espera que fiquem? Entendi que vieram por alguns dias, duas semanas, no máximo? E parece que você fala como se quisesse que morassem aqui. — Eu gostaria — admitiu Sam. — Mas isso não vai acontecer. A mãe dela nunca vai concordar, então, aproveito o que posso. Milos invejou o otimismo de Sam. Começava a entender o que perdera. Se não estivesse tão absorvido em suas próprias necessidades e desejos, teria dito a Helen que a queria, e à filha deles, antes de ir para Atenas. Uma hora depois, conseguiu falar com Rhea sem que Melissa ouvisse, por estar saltitando na piscina. — O que aconteceu exatamente? — Parece que a mãe de Helen estava virando na porta da garagem, uma van pegou-a de lado e foi imprensada contra a direção. — Foi sério? — Foi. Você pensou que não? — Foi algo que Maya disse. Achei que... — Ela pensou ser de propósito. Também ouvi isso, mas não é verdade. — Então... Sam soube dela? — Uma vez. Helen ligou para o pai depois de ir ao hospital pela primeira vez. Contou que ninguém sabia quanto tempo ficaria no hospital. Milos fechou os olhos, e, quando os abriu, Rhea e observava. — Você lamenta ela não estar aqui — constatou ela. — Por que acho que está me escondendo algo? — Nem imagino — ele olhou para a piscina, lembrando de quatro dias atrás. — Mas gostaria que você e Melissa ficassem aqui, até a mãe dela voltar. Há mais espaço e dá para ver como ela gosta da água. Rhea olhou-o irônica. — Como se pudesse — Milos pensou que uma estava influenciando a outra. — O avô dela nunca vai concordar, independente do que Maya pensa, ele quer mantê-las em sua vida de agora em diante. — Não estou competindo com isso. Milos parecia irritado, e a irmã notou. — Está apaixonado por Helen? Não acha que devo saber? Sou sua irmã. Especialmente por parecer que é antigo. — Tenho certeza de que Helen não disse isso. — Não, mas admitiu que vocês se conheceram anos atrás. — O que está dizendo? Rhea corou. — Só que você não contou, quando nos apresentou. E um segredo, porque ela era casada na época? — Exatamente o que ela disse? — Bem, admitiu ser casada quando vocês se conheceram. Milos, eu acho que vocês tiveram um romance. — Não houve romance. — Não sou burra, Milos. Nem uma garotinha. Quando ela admitiu terem se conhecido quando você foi à Inglaterra, foi uma questão de juntar dois e dois. — E fazer três. Esqueça Rhea, você entendeu tudo errado. — Por que três? Não quer dizer cinco? Milos respondeu rouco: — Três. Theos, Rhea, não sei o que Helen disse, mas ela não estava casada quando nos conhecemos. Nem grávida. Muito mais tarde, Milos estava sozinho na varanda, bebendo uísque. Precisava de algo forte. Estava com o humor sombrio e percebia que o passara para Rhea. Não pretendia falar sobre Melissa, mas foi inevitável. Precisava defender a reputação dele e de Helen. E sua irmã fora incrivelmente companheira, admitindo até não ter percebido as semelhanças entre ela e Melissa. E se tivesse cometido um erro e Melissa fosse mesmo filha de Richard Shaw? A única vantagem que conseguira, se alguma, foi Rhea obter autorização de Sam para Melissa passar a noite em Vassilios. Agora, as duas garotas estavam na cama. Olhando para as luzes da varanda, Milos serviu-se de outra dose, sabendo que não conseguiria dormir. — Milos. Não ouvira passos atrás dele, pois Melissa estava descalça, usando apenas um pijama de Rhea. — Oi — ele falou, afastando o mau humor e levantando. — O que faz acordada? — Não conseguia dormir. Posso ficar com você um pouco? Milos fez um gesto para a cadeira ao seu lado e esperou até ela sentar para oferecer algo. — Temos latas de suco de laranja geladas, se quiser. — Estou bem — ela encostou, esticando as pernas. — Mmm, bom. Pensei que tivesse montes de insetos, essas coisas. — Tem tempo — Milos sentou. — Então... por que não conseguiu dormir? Está preocupada com sua avó? — Estou. Acha que ela ficará bem? — Com certeza. Atualmente, os médicos são ótimos. — Você acha? Espero que esteja certo. Ela me ama, sabe? A vó. Além dela e da minha mãe, não há mais ninguém. O coração de Milos se desmanchou. — Tenho certeza que não é verdade. Há muitas pessoas que se preocupam com você. E seu avô? — Sam? — Depois de pensar um pouco, ela balançou a cabeça. — Não, só a mamãe e a vó. Sabe que eu odeio acidentes? Não há aviso ou algo assim. Só... um telefonema do hospital. — Deve ser difícil para você — falou gentilmente. — Depois do que aconteceu com... seu pai. — Quer dizer Richard. — Melissa afundou mais, falando bem baixinho. — Richard Shaw não era meu pai. Ele me contou dois anos antes de morrer.
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