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CAPÍTULO CINCOCAPÍTULO CINCO
Milos levou Melissa de volta ao vinhedo no fim da tarde. Entretanto, continuava trêmulo e apertava o volante com dedos suados, tentando controlar suas emoções. Sua intenção era passar pouco tempo em Vassilios e não esperava que Melissa e sua irmã se dessem tão bem. Rhea esperava por ele quando chegaram e, mesmo com seus 18 anos, era quase contemporânea de Melissa e adorou conhecê-la. Achou que era por ser diferente das garotas que Rhea conhecia. De famílias ricas, como ela mesma, respeitando os olhares dos pais. Ninguém podia acusar Melissa, e Rhea, que sempre fora um pouco rebelde, parecia fascinada. Sob o ponto de vista de Melissa, a visita fora um sucesso. Rhea forçara seu irmão a deixar a garota ficar para nadar. Afinal, tinha que estudar a programação da próxima conferência em Atenas e era bem agradável ouvir os gritinhos delas vindo da piscina. Só quando Rhea foi até ele pedir para Melissa ficar para o jantar as coisas mudaram. — Queremos praticar maquiagem. Você sabe que não sou boa nisso e Melissa disse que é. A mãe dela deixa que leia revistas de mulheres. — As porcarias de revistas? Vamos, Rhea, Melissa tem... quantos? Treze anos, no máximo? Está falando sério...? — Ela tem quase 14 — Rhea interrompeu. — O aniversário dela é no mês que vem como o meu. Somos de Gêmeos. Milos levou um choque. Sentiu enjôo e sua testa começou a latejar. Rhea estava enganada. Melissa não podia ter quase 14. Se tivesse... — Você está bem? Rhea percebeu sua súbita palidez, e saber que a irmã não podia suspeitar de seus pensamentos devolveu-lhe a cor. — Estou... não. Estava perdido. Estou um pouco tonto. — Você tem trabalhado demais — falou Rhea, parecendo aliviada por não ser nada sério. — Está muito quente hoje. Talvez se sinta melhor depois do jantar. — Talvez. — Queria que ela o deixasse sozinho. — Eu ficarei bem. — Então, Melissa pode ficar para jantar? Eu gostaria e daria mais tempo para você... — Não! A mãe dela a espera de volta. — Existem telefones — falou Rhea com desprezo, como se Melissa já a influenciasse. — Só mais 15 minutos. Vocês já tiveram mais do que uma hora. — Você não é legal, sabia? Nem sei o que Melissa vai dizer. Aquela era a última das suas preocupações. Ficou satisfeito vendo Rhea se afastar, sem imaginar a bomba que soltara. Seria verdade? Com certeza não. Melissa devia ter exagerado a idade, como exagerava tudo. Ironicamente, ele estava desesperado para vê-la e, assim que suas pernas pareciam firmes, foi para a janela, olhar a menina que brincava na piscina. Melissa tomara emprestado um biquíni de Rhea, e ele achou que era a sofisticação do biquíni que dava certa maturidade ao corpo jovem. Tinha que ser, pensava, sem convicção. O problema é que via semelhanças nas duas garotas, que até o momento não notara, não apenas por sua ignorância, mas pelo uso da maquiagem e das roupas que Melissa usava. Uma onda de fúria passou por ele, por sua cegueira e pela falta de honestidade de Helen. Por que ela não contara? Se era o pai biológico de Melissa, tinha o direito de saber. Mas depois lembrou o que ela tinha dito, ao sair do barco. Perguntara sobre a esposa dele. Como sabia que ele tinha uma esposa? Não tinha contado e duvidava que Sam tivesse escrito sobre aquilo, sem dizer que ele estava divorciado. Suspirou, sentindo o olhar de Melissa, agora sentada ao seu lado no carro, enquanto ela perguntava: — Eu fiz algo errado? Imediatamente, ele sentiu remorso. Não tinha falado nada desde que saíram de Vassilios, e ela devia estar curiosa. — Claro que não. — Olhou-a, sentindo outro choque de reconhecimento. Inferno, ela tinha os seus olhos. E o seu nariz. — Você se divertiu? — Fiquei mais do que devia, certo? — disse ela, como se ele não tivesse falado. — Culpe a sua irmã, não a mim. — Eu disse isso? — Resistiu à vontade de pedir que não falasse com ele assim. Respirou fundo. — Só espero que sua mãe não esteja preocupada. Entendia a hesitação de ela deixar Melissa passar algum tempo com ele. Devia ter medo, pela idade da garota. — Ela está sempre preocupada comigo. — E tem motivo para isso? — Ela acha que sim. — Porquê? — Você não quer saber. — Quero. — Milos estava surpreso por quanto queria saber. — Ela não aprova as suas roupas? — Ela disse isso? — Não. — Então, por que isso? Você também não aprova? — Não estávamos falando de mim. — Eu sei. — Ela olhou-o curiosa. — Por que está tão interessado? — Estou tentando... conhecer você. — Certo. — Ela foi irônica. — Quer mesmo é impressionar minha mãe. Realmente, não queria me levar para passear, só marcar pontos com ela. — Você não podia estar mais errada. — Na verdade, Milos não lembrava porque concordara em sair com ela. Parecia fazer muito tempo. — Você gostaria que fôssemos... amigos? — Lógico. — Claramente, ela não acreditava nele. — Sorte sua que Rhea estava lá, não é? Sorte? Milos não usaria aquela palavra. Reconhecia que, cedo ou tarde, descobriria a verdade. E ainda havia Helen... — Então, o que ela disse de mim? — Quem? — Rhea, claro. Ela deve ter dito algo. Disse que ia saber quando me traria de volta, mas demorou séculos. — Se quer saber, ela estava dizendo quanto gostou de sua companhia. Que você é muito diferente das garotas que ela conhece. — Eu não a aborreci? — Não. — Pela primeira vez, Milos percebeu que queria que ela gostasse dele. — Você ficou aborrecida? — Eu? Droga, não. Foi sinistro! Sinistro? Milos não entendia bem a palavra, mas devia ser algo bom. — Fico satisfeito. Talvez possamos repetir? — Talvez. Desde que não comece a me dizer o que fazer. — As pessoas fazem isso? — Dizem que sou incontrolável. — Você é? — Não. Mas nada posso fazer se acho a escola um lixo. — Por que um lixo? — Eu não sei, sei? — Acho que sabe. — Você se acha muito esperto? Acha que me fazer falar da escola vai me fazer gostar dela? — Eu não seria tão presunçoso. Mas às vezes, se as pessoas não gostam de coisas, talvez seja por não entender o que está acontecendo. — Está sugerindo que sou estúpida? Deve estar brincando! Posso guardar os deveres na cabeça! — Então, por que não guarda? — E ser conhecida como nerd? Não, obrigada. Prefiro circular com meus amigos. Milos sacudiu a cabeça. — Você tem certeza de que eles não são... como foi que disse? ...os estúpidos? Acho melhor usar o seu cérebro se quer ser um sucesso. — Ei, eu disse que queria ser um sucesso? — Disse que queria um carro assim. Carros custam dinheiro. — É o que pensa? — Melissa respondeu, rudemente. — Duvido que já tenha trabalhado na vida. — É o que você pensa? — É. Não. — Parecia um pouco envergonhada. — Quero dizer que não somos como você. Podia ser, pensou Milos, percebendo que a responsabilidade o atingia com força. Helen deixaria que a ajudasse? Duvidava. Não ficou nem um pouco admirado ao ver Helen esperando, encostada no muro do terraço. — Oh, um comitê de recepção — murmurou Melissa. — Você vai contar a ela o que eu disse? Ou recebeu ordens para me sondar? — Ninguém me dá ordens — retorquiu Milos e depois, vendo o olhar dela, corrigiu. — Pelo menos, não sempre. — Quando o carro parou perto de Helen, eles sorriam um para o outro, com entendimento. Helen ainda usava a mesma roupa. A blusa era mais curta do que de hábito e os olhos de Milos passaram pelos braços finos e longas pernas, esbeltas. Os cabelos também caíam sensualmente em seu rosto corado. Assim que o carro parou, ela abriu a porta para Melissa. — Posso fazer isso — reclamou Melissa, e olhou-o estranhamente. — Obrigada pela carona. — O prazer foi meu. — E Melissa pulou para os degraus da casa, sem esperar pela mãe. A oportunidade ideal de enfrentá-la, ele pensou. Por que hesitava? A súbita reclamação dela assustou-o. — Você não tinha o direito de ficar tanto com ela. Devia imaginar que eu ficaria preocupada. O que estava fazendo? Descobrindo que tenho uma filha? Não podia dizer isto. E se ela negasse? Queria, realmente, descobrir? — Você sabia que ia levá-la para conhecer minha irmã. Melissa queria nadar e não achei que fosse crime federal. — Você devia ter dito. — Acabei de dizer. —Não, quero dizer... ah, não importa. Espero que Melissa tenha se divertido. — Todos nos divertimos — disse Milos, suavemente. — Rhea também. Ela não é muito mais velha do que Melissa. — Ela não tem 18? — E daí? Ele a desafiava a contradizê-lo, mas não o fez, dando de ombros. — Bem, Melissa está em casa, é isso que importa. — É? — O que mais seria? — Eu estava pensando se você já contou ao seu pai... sobre nós. — Não! — Ela foi veemente, e ele percebeu como a veemência era reveladora. — Por que não? — Como pode me perguntar isto? — O rosto de Helen estava em brasa. — Você não se envergonha? — E você? Achei que estava ansiosa para contar como traí a confiança dele. Talvez você tenha outros motivos para não fazê-lo? Os olhos de Helen estavam arregalados, parecendo um coelhinho assustado. — Que... outros motivos? — Se Milos tinha dúvidas sobre a paternidade de Melissa, a reação dela era esclarecedora. — Você que tem que me dizer — falou ele, mesmo lamentando por ela. Mas Melissa apareceu no alto da escada. — Ei, Sam pediu que o convidasse para um drinque. — Só que Melissa não tinha terminado. Descendo as escadas, notou a tensão entre eles e seus olhos apertaram. — O que está havendo? Interrompi algo?
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