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DORMINDO COM UM ESTRANHO. Sleeping With A Stranger. Anne Mather. CAPÍTULO UM



DORMINDO COM UM ESTRANHO

Sleeping With A Stranger

Anne Mather

 

 

— Você... não pensa em outra coisa senão... sexo?

Milos olhou-a incrédulo. Não acreditava no que tinha acabado de ouvir.

— Você... me surpreende, sabia? Você acha que não significou nada para mim fazermos amor, catorze anos atrás, e está fazendo isso de novo.

— Milos, eu não queria vir aqui. Você forçou e agora, quero voltar.

— Imagino —, ele murmurou, aproximando-se dela e passando o braço pela sua cintura e beijando os lábios trêmulos.

 

 

Digitalização: Ana Cris

Revisão: Crysty


 

 

Querida leitora,

Tudo o que Helen Shaw quer é curtir suas férias ao lado da filha. Mas ao desembarcar na ilha de Santoros ela logo se depara com o magnata grego Milos Stephanides, seu antigo caso de amor.

E, agora, sua preocupação é esconder seu mais va­lioso segredo!

 


CAPÍTULO UM

 

Helen estava parada no tombadilho enquanto o barco ancorava em Santoros. Milos podia vê-la bem e, ti­nha que admitir, ainda era uma das mulheres mais lindas que já vira.

Ou com quem dormira, pensou, pouco à vontade. Mesmo depois de 12 anos, não podia negar a sensa­ção ou as emoções que a sua visão inspirava.

Theos, Deus, o que estava errado com ele? Ela ti­nha sido uma esposa, uma mãe e uma viúva, desde aquele interlúdio irracional em Londres, e já devia tê-la esquecido — e tinha, garantiu-se com firmeza.

Era impressão dele ou Helen parecia um pouco abalada depois da viagem. Dois vôos e uma viagem de barco poderiam fazer aquilo, ele achava. Não po­deria falar por experiência própria. Fora mal acostu­mado com aviões particulares e helicópteros e iates muito rápidos.

Mas, aqui estava ela, e Sam — o pai dela — ficaria deliciado. Não falava de outra coisa desde que ela aceitara seu convite. Milos achava que Sam deveria ir buscá-la pessoalmente, mas este pedira que ele fosse. Talvez imaginando que o antigo relacionamento deles daria a Milos uma influência que ele mesmo não tinha.

Se ao menos ele soubesse!

Sam estava ansioso com a visita. Há quase dezes­seis anos não via a filha. Segundo ele, a sua primeira esposa garantira que a filha deles só soubesse um lido da estória. Uma estória que mostrava uma desilusão, com Sam se envolvendo, depois casando, com uma atraente morena grega, que conhecera numa via­jem de negócios a Atenas.

Quando Milos conhecera Helen, uns vinte meses depois, ela não estava menos hostil quanto ao pai do que quando descobrira que ele fora infiel à sua mãe. Ela o culpara. Era jovem, idealista e incrivelmente inocente.

Mas tão vulnerável, Milos pensou honestamente, ele se aproveitara daquela vulnerabilidade. Não por culpa do pai dela, mas pelos seus próprios objetivos. Indaxi, droga, não fora culpa só dele. Ela também estava disposta a satisfazer os desejos dele.

Claro que a culpa viera depois, de volta à Grécia. Não contou a ninguém. Nem à sua família ou a Maya, a segunda esposa de Sam; e, especialmente, não a Sam, que confiara nele. Mas, o pior sentimento de todos, fora o de traição.

O problema fora o seu próprio casamento — que seu pai arranjara, contra sua vontade — que tinha se desfeito, e ele estava procurando por diversão. Certamente, Helen tinha fornecido aquilo, pensou com amargura. E depois, fugira dele, mostrando como era imatura.

Nunca esperara estar na posição de agora. Acredi­tara que o distanciamento entre Helen, seu pai e Maya nunca mudaria. Por isso ficou surpreso quando Sam anunciou que Helen e sua filha viriam para a ilha, de férias. Além disso, o marido de Helen morre­ra há quase um ano, e a carta que Sam escrevera, ex­pressando suas condolências à filha, aparentemente não causara efeito nas relações entre eles.

Um homem mais cínico poderia imaginar se a in­crível mudança na fortuna de Sam tinha alterado o coração de sua filha. Apesar do passado como impor­tador de vinho na Inglaterra ter pouco a ver com o cultivo de uvas, ao conhecer Maya e, depois, assumir o vinhedo quase falido da família dela, tornou-se um homem muito rico. Nos últimos dez anos, Ambeli Kouros, como era conhecido o vinhedo, se fortalecia a olhos vistos e Sam Campbell tinha se tornado um homem muito respeitado na ilha.

Uma garota apareceu perto de Helen no tombadilho. Não a filha, ele pensou, apesar da aparente proximidade entre elas. Usando uma camiseta preta com algo escrito e calças jeans largas, pretas, ela era o tipo de visitante que, Milos imaginava, a ilha não deseja­va. Batom preto, cabelos coloridos de verde, piercings semicirculares nas orelhas, era completamente diferente de Helen.

Skata, ele pensou, desejando que ela fosse chama­da pelo grupo de adolescentes de mochilas pretas nas costas, que se apressava para desembarcar. Esta era uma daquelas ocasiões em que ele queria que sua fa­mília fosse dona de toda a ilha, não apenas uma gran­de parte dela.

Uma prancha de madeira foi conectada ao barco e Milos viu a garota falar com Helen. Claro que ele não conseguiu ouvir as palavras, mas Helen pareceu não gostar. Houve uma troca de palavras aquecidas e de­pois as duas se uniram ao êxodo decrescente de pas­sageiros.

Milos prendeu a respiração. Não, disse a si mes­mo. Estava preparado para aceitar que a viagem po­deria promover uma improvável amizade e aquela criatura não podia ser a filha de Helen.

De qualquer modo, elas agora desciam pela pran­cha e viu o rosto afogueado de Helen. Estaria com ca­lor? Certamente, a saia e jaqueta que usava não eram adequadas para este clima, mas seria esse o motivo?

Com certo choque, percebeu que ela cortara os ca­belos, mas ainda era tão elegante e adorável como sempre. Iria reconhecê-lo? Afinal, já fazia 14 anos.

Então, os olhares deles se encontraram e ele mal percebeu que prendia a respiração. Theos, ela se lem­brava dele. Por que mais haveria aquela mistura de medo e ódio em seus olhos?

 

— Quem é aquele?

Melissa notara a distração da mãe e Helen conse­guiu afastar os olhos de Milos e dizer:

— Quem?

— Aquele homem — Melissa ajeitou a mochila preta nos ombros. — Ora, mãe. Ele está olhando para nós. Não é o seu pai, é?

— Dificilmente — disse ela, reconhecendo que só ela entendera a ironia dessa resposta. — O nome dele é Milos Stephanides. O seu avô deve tê-lo mandado nos buscar.

— É? — Melissa arqueou as sobrancelhas pretas, exatamente como o pai fazia, e Helen sentiu uma pontada. — Então, como você o conhece?

— Ah... Eu o conheci anos atrás. O seu avô pediu que nos procurasse, quando ele estava na Inglaterra. Foi antes de você nascer.

— E ele ainda lembra de você? O que aconteceu? Não me diga que a minha mãe durona teve alguma coisa com um trabalhador grego sexy?

— Não! — Helen estava horrorizada. — E pelo que sei, ele não é um trabalhador. Apenas trabalha com seu avô.

— Bem, o que mais há para fazer numa fazenda?

— Não é uma fazenda.

— Certo. Não vai me contar. Eu devia saber.

Helen não teve tempo de responder. Tinham che­gado ao piso de pedras do porto e Milos vinha em sua direção. Usava uma camisa larga, aberta até quase a metade do peito, e calças pretas que apertavam seus quadris e mal ocultavam a força de suas longas per­nas. Deus, como ele parecia bem, pensou. Frio e mo­reno. Mas, terrivelmente familiar o belo rosto que as­sombrara seus sonhos por todos esses anos.

Sempre soubera que seria um risco vir, mas como poderia imaginar que o rosto dele seria o primeiro que veria? Porém, com Melissa respirando em sua nuca e puxando a mala aos seus pés, não tinha alter­nativa a não ser enfrentar. Se ao menos pudesse pro­var a este estranho de rosto fechado que ela tinha su­perado e arrumado a sua vida.

Não era fácil, além de seus saltos altos — que só usava para aumentar sua moral —, ainda ter que er­guer a cabeça para olhá-lo. Dolorosamente, lembrou do passado e achou que não seria capaz de enfrentar isto. Mas então, sorriu com admirável controle, di­zendo:

— Olá, Milos. Muita gentileza sua vir nos receber. Meu pai o mandou?

A indireta foi proposital, mas ele não se alterou.

— Ninguém me mandou — falou, com o sotaque que ela lembrava tão bem. — Não sou um item que se manda pelo correio.

Helen apertou os lábios, não, você não é. É muito mais perigoso, pensou, dizendo:

— Sabe o que quero dizer — olhou-o rapidamente nos olhos. — Meu pai está com você?

— Não. Fez boa viagem?

— Você deve estar brincando!

Foi Melissa quem respondeu e Helen viu os olhos de Milos passando além da garota, sem notá-la.

— E sua filha? Eu pensei que ela vinha com você.

— Eu sou a filha dela — Melissa anunciou, res­sentida com a atitude dele. — Quem é você? O moto­rista do meu avô?

Helen percebeu que o rosto dele endureceu ao res­ponder:

— Não, seu. Esta é toda a sua bagagem?

Helen sentia-se desconfortável. Já era ruim ter que lidar com um homem que a fizera de tola sem preci­sar ficar envergonhada com a atitude da filha.

— É — ela lançou um olhar mortal para a filha. — Estamos longe de Aghios Petros?

— Não muito — respondeu Milos, pegando a mala. — Siga-me.

Para o embaraço de sua mãe, Melissa perguntou:

— Você não devia dizer ilthateh sto Santoros! Bem-vinda a Santoros — ela traduziu, para a mãe. Milos olhou-a de relance, e se ela esperava uma reação raivosa, ficou desapontada.

— Estou contente que esteja disposta a aprender meu idioma — ele falou, suavemente. — Then to ixera.

— É. — Mas Melissa estava sem jeito e, tirando o livro de frases do bolso da calça, exibiu a habitual contrariedade ao enfrentar qualquer tipo de oposição. — Realmente, não estou interessada em aprender grego. Podemos ir? Preciso fazer xixi.

Helen cerrou os dentes. Melissa era impossível e viu que Milos tinha percebido um pedaço de pele mo­rena entre a camiseta e a cintura da calça, enquanto ela pegava o livro, assim como o piercing no umbigo, motivo de discórdia na noite anterior e imaginou que tipo de mãe ele acharia que ela era.

O porto esvaziou enquanto falavam e só os carre­gadores ainda trabalhavam ao sol. Helen desejou ter vestido algo mais leve, ao invés do blazer pesado.

Parecendo sentir pena dela, Milos falou:

— Seu pai não pode esperar para vê-la. Meu carro está ali.

— Eu também estou ansiosa para vê-lo — confes­sou Helen. — Ele está muito doente?

Milos olhou-a assombrado.

— Ele... está tão bem quanto possível. Isto é, con­siderando a idade dele. — E acrescentou: — Eu la­mentei saber do acidente de seu marido.

— É. — Helen não queria falar de Richard. Princi­palmente com ele. — Como está sua esposa?

O rosto de Milos enrijeceu.

— Estamos divorciados — ele se ressentia da per­gunta, como ela da dele. — Seu marido... devia ser muito jovem quando morreu.

— Era...

— Claro, ele era de pedra — falou Melissa, cansa­da de ser ignorada. Depois, antes que os adultos res­pondessem: — Uau, estas são suas rodas? Demais!

Helen fitou os olhos de Milos. Quase podia ver o que ele pensava, imaginando quais genes tinham ge­rado tal monstro, e não podia censurá-lo. Nem culpar Richard por sua morte prematura. Desde então, Me­lissa ficara fora de controle.

Sem responder, Milos abriu a porta de trás da Mer­cedes, dizendo para a garota, numa voz tensa:

— Entre atrás.

Não havia dúvida quanto à sua voz de comando, e Melissa retrucou.

— Com quem está falando? — Encostando e jo­gando a mochila sobre o carro. — Você não pode me dizer o que fazer, Milos. Não sou sua filha.

Um olhar de selvageria passou pelo rosto de Mi­los, e Helen adivinhou que ele pensava que uma filha dele nunca agiria assim. Se ele soubesse, pensou, sem perceber que mostrava seus sentimentos.

— Entre! — Foi tudo o que ele disse, desafiando Melissa a argumentar. Praguejando, Melissa se endi­reitou.

— Por favor, Melissa! — Helen acrescentou, te­mendo outra cena.

Ela fungou e desistiu, empurrando o banco dian­teiro, jogando a sua mochila sobre o banco de couro e entrando. Mas não se esforçou para não passar os tê­nis nas costas do assento e os dentes de Helen esta­vam cerrados quando ela afinal se ajeitou.

— Contente?

Helen não estava nem um pouco contente, mas não era hora de falar, ciente dos perigos que Milos repre­sentava e da sua pobre habilidade de ocultar a verda­de dele. O dia começara mal, depois da noite mal dor­mida no barco, e acabara de ficar muito pior.

Entrou no carro quando Milos indicou, perceben­do que ele não estava à vontade quando sentou ao seu lado. O que estaria pensando? Teria percebido algo no rosto e nas palavras de Melissa que o fizera parar? Deus, e se tivesse?

Se ajeitou enquanto Milos dava a partida e saía, mas, não conseguiu deixar de ficar atenta a ele ao seu lado, a sua força represada atrás do volante, a seus dedos nos controles. Dedos longos que tinham...

— Vou ter um carro assim quando for mais velha — declarou Melissa, e Helen imaginou se ela sentira a tensão entre eles.

— Vai ter que trabalhar um pouco primeiro — dis­se Helen. — Carros assim custam dinheiro.

— Posso arrumar um marido rico. Mesmo um com o dobro da minha idade.

Helen ficou sem fôlego, recusando-se a aceitar a provocação de Melissa quanto ao seu chefe.

— Você... também mora em Aghios Petros? — perguntou ela a Milos, vendo-o hesitar, antes de olhar para ela.

— Moro... não muito longe de lá. Mas não passo o ano todo em Santoros. Tenho uma casa em Atenas.

— Tem? — Helen estava surpresa. Se ele traba­lhava para seu pai, estava claro que era muito bem pago.

— Minha família não está no ramo de vinho — ele respondeu secamente. — Meu pai possui... navios.

— Navios? — Melissa interrompeu novamente.

— O quê? Como aquela coisa velha que nos trouxe de Creta?

— Melissa!

Aparentemente, Milos cansara da insolência dela, dizendo rudemente.

— Não thespinis, menina. Navios-tanque. Petro­leiros. Infelizmente, sou um daqueles homens ricos que você mencionou com tanto desdém minutos atrás.

 

 



  

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