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CAPITULO DOZE



CAPITULO DOZE

 

Grace voou para Londres no dia seguinte. Precisava descobrir seus sentimentos por Oliver e não conseguia com ele perto.

Sophie ainda devia estar com os Ferreira, outro moti­vo para ir embora. Ela fora extremamente grosseira quando viera procurar Oliver, na véspera, deixando cla­ro que Grace era culpada pelo atraso dele.

Se ela soubesse o que teria acontecido se não tivesse interrompido. Por isso, não perdera tempo para arrumar as malas e ligar para o aeroporto.

Depois de desembarcar, Grace pegou um táxi e deu o endereço de seus pais, decidida a ficar alguns dias com eles, antes de voltar a Nortúmbria. Precisava pôr a cabe­ça em ordem.

Lógico que significava retardar encontrar um lugar para ela, mas só desejava que Tom resolvesse seus pro­blemas financeiros, para não se sentir como abandonan­do um navio indo a pique.

Não estava desertando. Nem o navio estava afundan­do, apesar do que Sophie dissera. Estava apenas deixan­do a casa de Tom, assim, ninguém teria qualquer im­pressão sobre por que estava lá.

Sua mãe estava sozinha quando chegou a Maple Terrace.

Como não a esperava, ficou surpresa quando a filha carregou as malas para o corredor.

— Pensei que estava na Espanha, querida. — E, ven­do o rosto pálido de Grace: — Há algo errado?

— Não. Pensei em passar alguns dias com a minha família, antes de voltar ao trabalho. Está tudo bem, não está?

— Claro. Só não entendo alguém preferir a velha e cinzenta Londres à ensolarada San Luís. — Fez uma pausa. — Tom estava com você?

— Tom? Não. Por que pensou que estava?

— Oh... Achei que poderia. Eu... conversei com Nancy pelo telefone alguns dias atrás e ela disse que seu fi­lho estava com eles. Achei que era o Tom.

— Não era — falou Grace, jogando sua mochila so­bre as malas. — Posso tomar um chá? Não bebi nada no avião.

— Desculpe, querida. Eu falando dos Ferreira e você morrendo de sede. Venha, vamos para a cozinha. Farei um lanche para você.

— Uma xícara de chá está bem. Depois, desfarei as malas.

— Como quiser.

A sra. Lovell abriu caminho para uma agradável co­zinha, combinada com copa, que dava para um belo jar­dim emparedado, nos fundos da casa. Fazendo um gesto para Grace sentar, encheu a chaleira e depois, de ligá-la na tomada, sorriu alegremente para a filha.

— Então, gostou de suas férias?

— Eu... muito. Como está papai?

— Ele está bem. Então, o que fez?

— Não muito. — Grace suspirou, depois, vendo que aquilo não satisfaria sua mãe, acrescentou: — Nadei e tomei banho de sol. Andei um pouco. Estava quente de­mais para outra coisa.

— Viu os Ferreira?

— Jantei com eles uma noite.

— Como estão eles? Grace pensou em perguntar "Você não sabe?", pois sua mãe falara recentemente com a sra. Ferreira, mas não queria criar animosidade.

— Parecem bem.

— Então era Oliver quem estava com eles?

— Era — Grace falou, lembrando por que saíra da casa dos pais. A sua mãe sempre insistia em saber tudo, até o fim.

— Como está ele? Não imagino que Sophie estava com ele.

— Eles estão divorciados, mãe. — Ela também que­ria acreditar naquilo. — A água está fervendo.

A sra. Lovell foi fazer o chá, mas quando voltou Gra­ce podia dizer, pela sua expressão, que estava decepcio­nada por sua filha querer mudar de assunto.

— Há algo errado, não é? — perguntou, tirando o lei­te da geladeira e colocando na mesa. — Imagino que seja Tom. Eu sabia desde que Nancy disse que Sophie tinha ido embora da casa.

— Você sabia o quê? Não estou envolvida com Tom, se é o que pensa. Nunca estive e nem pretendo. Está cla­ro?

— Não precisa falar assim, Grace. — Sua mãe pare­cia ofendida. — Só porque Tom não retribui seus senti­mentos...

— Tom é um imbecil! — Grace interrompeu, infla­mada. — Às vezes, nem gosto muito dele.

— Você diz isto agora. Mas eu a conheço, querida. Não teria saído correndo assim para a Espanha se não estivesse aborrecida com alguma coisa.

— Você acha mesmo que estou interessada em Tom?

— Bom, eram amigos no último verão, ou ele não te­ria oferecido um emprego e...

— O emprego nada tem a ver com isso — exclamou Grace, incrédula. Depois, sabendo que não teria paz até deixar claras as intenções de Tom, suspirou. — Certo. Tom foi o motivo da minha ida para a Espanha.

— Foi o que pensei.

— Mas não é como pensa — insistiu Grace, sombria. — Desde que Sophie foi embora, as coisas ficaram... di­fíceis. Não gosto de viver na casa, só com ele. Não con­fio nele. Ele parece pensar que é apenas uma questão de tempo antes de termos... um caso, se entende. E isso não vai acontecer.

A sra. Lovell franziu o rosto.

— Ele está ameaçando você?

— Não, mas faz tudo para dar a impressão, às outras pessoas, de que sou sua namorada. E não sou. Por isso é que resolvi ter um lugar meu.

— Você vai deixar o centro de jardinagem?

— O trabalho não. A menos que ele me demita. Ima­gina que possa.

— Oh, meu Deus! Eu não imaginava que Tom fosse assim.

— Não? — O tom de Grace era seco. — Você esque­ce que Sophie era casada com Oliver quanto Tom começou a encontrá-la?

— Não. Mas ele sempre falou que ela e Oliver tinham problemas antes de se envolverem.

— Talvez tivessem. De qualquer forma, não é da nossa conta, certo?

— Acho que não. Então... o que vai fazer? Encontrar outro lugar antes de voltar ao trabalho?

Grace bem que gostaria, mas era pouco provável.

— Provavelmente, não. Pensarei nisso. Posso ficar aqui uns dois dias?

— Como se precisasse perguntar — reprovou sua mãe. — Você é sempre bem-vinda aqui, sabe disso. O seu pai vai adorar ter novamente a sua filhinha de volta.

Grace terminou o chá.

— Obrigada, mãe. Eu sabia que podia contar com você.

Naquela noite, Oliver descobriu que Grace partira. Não a vira por lá e tinha pensado que queria ficar longe dele. Só depois de levar Sophie ao aeroporto, naquela tarde, passou na casa ao lado, descobrindo que estava trancada e vazia.

 

Frustrado, viu que voltara para a Inglaterra, e para Tom, fazendo-o sentir-se um tolo.

Resolveu seguir o exemplo dela, mesmo tendo man­dado um recado para o irmão, por Sophie, esperando prolongar suas férias. Sem Grace, ele estava inseguro, com raiva e decidido a acertar isso, de uma vez por to­das.

Seus pais ficaram tristes.

— Não há motivo para você ir embora — George Ferreira protestou. — Desde que Sophie tenha o dinhei­ro, ficará feliz e Tom deve se considerar com muita sor­te por ter um irmão disposto a perdoar, esquecer e salvar o seu miserável pescoço! Eu sei que tenho sorte. Você ficar aqui significa tudo para mim, filho. Não esquece­rei isso.

— Pai, no passado fiz muito pouco por você e você fez muito por mim. Estou feliz em poder recompensá-lo.

— Ainda assim...

— Acho melhor eu voltar—disse Oliver, gentilmen­te. — Já fiquei longe muito tempo. Andy vai pensar que resolvi me aposentar antecipadamente.

— E há a Miranda — sugeriu a mãe. — Espero que ela tenha sentido a sua falta.

— É.

Oliver conseguiu dar um sorriso falso, mas, as neces­sidades de Miranda não estavam em sua lista de priori­dades. Teria que vê-la. Precisava dizer pessoalmente que o caso deles estava terminado. Independente do que acontecesse com Grace, o seu relacionamento com Mi­randa não podia continuar.

Devia estar enganado, pensando ter qualquer chance com Grace. Quando estava com ela, não podia negar que mexia com as suas emoções. Não importando o que acontecesse, ela mostrara que, o que tivera com Sophie e Miranda era um vislumbre de como podiam ser as coi­sas. Teria que descobrir se aquilo era suficiente para os dois.

De uma coisa tinha certeza, não pretendia comparti­lhá-la com seu irmão. Se estivesse envolvida com Tom, ele se afastaria. Seria doloroso, mas sobreviveria. Como a outros desastres em sua vida e agora, era mais velho e mais experiente do que há quatro anos.

Durante o vôo para a Inglaterra, teve uma idéia alter­nativa. Podia evitar qualquer contato com Grace, pou­pando a sua alma. O que pareceu muito bom na teoria, mas, difícil na prática. Precisava pensar.

Era fim de tarde quando chegou ao apartamento. Ti­nha telefonado para a sra. Jackson antes de deixar San Luís, para avisá-la de sua volta, pedindo que enchesse sua geladeira. Conseguiu fazer um sanduíche antes de ligar para Andy e, depois de garantir ao seu sócio que estaria no escritório na manhã seguinte, foi desfazer as malas.

O telefone tocou enquanto pensava o que fazer para jantar.

Atendeu ao telefone, hesitante. Duvidava que fosse Grace — ela não tinha o seu número — e não queria falar com mais ninguém. Podia ser sua mãe, telefonando para saber se chegara bem.

— Ferreira.

— Então, está de volta!

Era Tom e o estômago de Oliver apertou.

— É — respondeu, civilizado. — Tem tentado me encontrar?

— Só na última semana. — Tom estava agressivo. — Imagino que estava de férias.

— Isso é um crime? Na verdade, estive com mamãe e papai. Mas, claro, você já sabe.

— É, sei. Sophie deu o seu recado.

— Bom. Falarei com George para cuidar dos deta­lhes, mas basicamente, tudo o que vou fazer é garantir o seu empréstimo. Você não me deve nada.

— Não? Acha que, por me tirar de alguma dificulda­de, não tenho sentimentos?

— Olha, Tom, não espero nada. Mas, sim, pensei que você ficaria grato.

— Com o quê? Pelo fato de estar encontrando Grace às minhas costas?

— Ah. — Estava começando a entender a atitude do irmão e não gostou. — Ela disse isto?

— É. — Tom fez uma pausa, como se estivesse pen­sando. — Não é verdade?

Oliver não queria discutir. Grace ter contado a Tom que tinham se encontrado provava que ainda estava en­volvida com ele, o que realmente desejava fazer agora, era enfiar o fone pela garganta do irmão.

— Por que não pergunta a ela? — exigiu duramente e, antes que Tom pudesse retrucar, bateu o telefone.

Quase em seguida, o telefone tocou novamente, mas Oliver não atendeu. O dia começara mal e ficara pior, muito pior. Esquecendo qualquer pensamento sobre co­mida, pegou uma garrafa de uísque no bar e foi para o quarto.

Mas embebedar-se não resolveria nada, pensou, en­quanto o telefone tocava de novo. Mesmo hesitando em ver Grace novamente, teria que se controlar e fazê-lo. A verdade é que, até acontecer, não teria paz.

 

 



  

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