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CAPÍTULO SETE



CAPÍTULO SETE

 

Ele acordou com o sol atravessando as cortinas, e mes­mo o quarto sendo grande estava ficando desconfortavelmente abafado.

Oliver virou-se de costas e olhou para o teto, por um momento imaginando onde estava. Depois acordou, passando as mãos pelos cabelos. Estava na Espanha, em San Luís, no quarto extra da casa de seus pais, e pelos próximos poucos dias, nada faria a não ser descansar e esfriar a cabeça.

Bem, pelo menos era o que dissera, pensou, sentando na beira da cama e olhando em volta. Estava longe de sentir-se relaxado e, mesmo fugindo para a Espanha não o livrara da culpa de seus pensamentos.

Grace.

Como sempre, o nome dela vinha primeiro à sua mente. Embora fizesse vários dias desde que a deixara na casa de Tom, não conseguira tirar da cabeça o que acontecera. Não importava que ela não fosse confiável, que vivesse com seu irmão e, aparentemente, não achas­se estranho ficar com outro. Estava enfeitiçado e não conseguia ver a situação mudando tão cedo.

Ao mesmo tempo, sentia-se envergonhado pelo seu comportamento. Por não ter ido embora, o que teria sido sensato. Mas, tocá-la fizera com que sentisse emoções quase primitivas, excitando-o. Por Deus, e Miranda? E Tom?

De certa forma, Grace era tão ruim quanto Sophie. Não era casada com Tom, mas ele parecia considerá-la sua propriedade. Entretanto, se estava preparado para usá-la para conseguir atingir seus objetivos era outra questão. E Oliver não queria saber.

Por isso ele gostara de encontrar uma desculpa para sair do país. Já tinha pensado em falar com seu pai fren­te a frente sobre os problemas financeiros dele e fora uma desculpa providencial para dar à Miranda, quando ela questionara sua decisão de viajar tão de repente.

— Se ao menos você tivesse me avisado antes — dis­sera, duas noites atrás, quando ele havia telefonado para dar a notícia. — Tenho férias vencidas, poderia ter adiar os meus casos e ir com você.

Claro que Oliver mostrara o seu lamento, mas, ho­nestamente, a última coisa que precisava agora era a companhia de outra mulher. Precisava de espaço. Um tempo para a sua cabeça se livrar desse desejo compul­sivo, totalmente indesejado, que sentia pela amante do irmão.

Seus pais tinham ficado deliciados em vê-lo, o que só aumentou a sua sensação de culpa. Ele quase não os vi­sitava, aqui ou na Inglaterra, desde a sua separação de Sophie e, mesmo achando que Tom sempre fora o pre­ferido de seu pai, no fundo do coração, sabia que não era verdade. George e Nancy Ferreira se orgulhavam igual­mente dos dois filhos e tinham sofrido horrivelmente quando a família se desfizera.

Agora, depois de olhar o relógio na mesinha-de-cabeceira, Oliver esticou as longas pernas para fora da cama. Levantando-se, andou para as janelas de correr, dando para a varanda.

Eram quase nove e meia e Oliver estava surpreso de quão bem dormira. Claro que ficara conversando com seu pai até tarde, contando um ao outro as novidades e que sua mãe decidira deixá-lo dormir até mais tarde. Mesmo assim, fazia tempo que não dormia tanto e, nes­ta manhã, sentia-se mais revigorado do que na noite an­terior.

O que era bom, principalmente porque ele e o pai ti­nham falado de quase todos os assuntos, evitando men­cionar Tom e seus problemas financeiros. Cedo ou tar­de, Oliver precisava descobrir exatamente o que seu pai sabia — se é que sabia — e o que pensava que seu filho mais velho devia fazer.

O som da porta abrindo atrás dele, fez com que pe­gasse a ponta do lençol para cobrir sua nudez. Era a sua mãe, trazendo uma bandeja com um bule de café e al­guns pãezinhos quentes com cheiro de canela.

— Você acordou — disse, pousando a bandeja e olhando-o com nítido prazer. — Dormiu bem?

— Muito bem — respondeu Oliver, enrolando o len­çol na cintura, enquanto olhava para a bandeja. — Não precisava fazer isso.

— Sei que não, mas não é todo dia que tenho meu filho mais velho comigo. Quero que sinta que é sempre bem-vindo aqui.

Oliver sentiu uma pontada de vergonha.

— Eu sei, mãe.

— Bom que saiba. — Ela andou na direção dele, pou­sando um beijo quente em seu queixo. — Faz tanto tem­po, Oliver.

Ele concordou com a cabeça, sentindo o calor das boas-vindas deles.

— Onde está o papai?

— Ah, lendo o jornal da manhã — respondeu, olhan­do pelo quarto. — Você tem algo para lavar? A Maria vem às dez e nunca trabalha depois da hora.

Oliver sorriu.

— Acredite ou não, mãe, mas sou bem capaz de cui­dar da máquina de lavar. Além do mais, tenho uma óti­ma empregada, que me mantém em ordem.

— Gosto de saber disso. — A sra. Ferreira lançou ou­tro olhar duvidoso na direção dele, antes de ir para a porta. — Aprecie seu café da manhã.

— Com certeza.

Com a mão na porta, ela parou.

— Você está... está tudo bem, Oliver? — Seu rosto corou levemente. — Soubemos... bem, sobre Sophie e Tom. Deve ter sido um choque para você.

Oliver suspirou.

— Uma surpresa. Mas não faz qualquer diferença para mim, mãe. Honestamente.

Ela hesitou.

— Então, não está pensando em aceitá-la de volta?

— Deus, não! — Ele ficou surpreso por quão repul­siva era a idéia.

— Bom — o sorriso dela foi aliviado. — Vou ver o que seu pai está fazendo. Não se apresse, não há nada urgente.


Uma hora depois, usando short e camiseta, Oliver saiu do quarto, encontrando Maria, a empregada de seus pais, passando aspirador na sala. Ela parecia satisfeita em vê-lo e trocaram algumas palavras no idioma dela, antes dele ir procurar pelo pai.

Pensou em como era surpreendente. Tinha aprendido espanhol na escola e durante as freqüentes férias na Es­panha e, sempre que voltava lá, parecia natural falar aquele idioma. Deviam ser seus genes, pensou diverti­do, lembrando que Tom sempre tivera problemas com idiomas.

Seus pais estavam no pátio, tomando café. A casa, lo­calizada nas colinas acima do pequeno vilarejo de San Luís, tinha uma vista maravilhosa do mar e, sentindo o sol quente em seus ombros, Oliver teve uma sensação de bem-estar.

— Venha e sente-se — falou sua mãe, levantando. — Vou pegar outra xícara. Você quer comer alguma coisa?

— Nada, obrigado. — Oliver segurou-a pelo braço, impedindo-a de passar por ele. — Sente-se, mãe. Apre­cie o seu café. Acabei de tomar o café da manhã, lem­bra?

— Tem certeza?

— Tenho. — Oliver esperou que ela se sentasse, an­tes de olhar por sobre o muro baixo que circundava o pátio, respirando fundo o ar com cheiro de pinho. E em volta, a evidência do amor de seu pai por jardinagem era gritante, flores tropicais crescendo ao lado de rosas e gerânios. Acima de sua cabeça, buquês de buganvílias parecendo renda em volta da pérgula de bambu, e ao longo do terraço, punhados de brincos-de-princesa es­palhavam seu perfume na brisa.

— Sua mãe disse que você teve uma boa noite — George Ferreira falou, colocando o jornal de lado e olhando o filho com um olhar escuro, penetrante. — Não sei por que você não vem aqui mais vezes. Sabe que é sempre bem-vindo.

— Eu sei.

— É sério. Mesmo se quiser trazer aquela sua jovem.

— Obrigado, pai.

— Miranda, não é? — perguntou a mãe. — Você dis­se que ela é advogada? Deve ser uma ocupação fasci­nante.

Realmente, Oliver não queria falar de Miranda, mas sabia que os pais estavam interessados e não podia dei­xar de responder.

— Espero que seja. Ela parece gostar.

— É sério? O relacionamento de vocês? — A sra. Ferreira perguntou inocentemente, notando o olhar sombrio do marido.

— Esqueça, Nancy — exclamou ele, remexendo im­paciente na cadeira. — Droga, o garoto só a conhece há poucos meses. Depois daquele negócio com... você sabe quem, aposto que ele não quer se comprometer ainda, como eu faria.

— Oh, George — começou sua esposa, ressentida. Oliver, divertido por ter sido chamado novamente de garoto, suavizou as coisas.

— Somos amigos, mãe, só isso — falou. Pousou as mãos na parede e se levantou. — Sabe, acho que vou dar uma caminhada pela praia.

— Pela praia? — Sua mãe parecia desaprovar. — Oliver, são quase dois quilômetros até a praia e você não está acostumado com este calor.

— Por Deus! — O sr. Ferreira não conseguiu ocultar a impaciência. — Oliver é um homem, Nancy. Pare de ficar em volta dele como uma galinha velha! Aqui — ele pegou um boné de beisebol na mesa e jogou para o filho. — Deixe-a feliz, filho. Eu cuido das coisas.

Oliver sorriu.

— Obrigado — falou e, sorrindo para a mãe, pulou por cima do muro baixo que rodeava á propriedade e foi pela estrada estreita, que levava ao vilarejo de San Luís.

O caminho também passava pela casa vizinha à dos Ferreira. Seria a casa dos pais de Grace? Lançou um olhar para a construção que estava parcialmente oculta atrás de um cinturão verde. Percebeu que as cortinas es­tavam fechadas, invejando a piscina colocada ao longo de um grupo de palmeiras e ciprestes. Era uma casa maior do que a de seus pais e, a julgar pelo gramado cui­dado, o sr. Lovell tinha um jardineiro para manter suas terras em boas condições.

O sol estava quente, como dissera sua mãe, e Oliver ficou bem contente de ter o boné na cabeça. Mas como era a nuca que precisava de proteção, virou a pala para trás, sentindo-se mais como um turista à medida que se aproximava do vilarejo.

 

San Luís não era um ponto turístico. Era basicamente urna comunidade de pescadores e, ainda que vários iates luxuosos estivessem ancorados, não havia grandes ba­res ou hotéis.

Oliver ficou um pouco no porto, observando dois ho­mens, claramente pai e filho, carregando sua pesca para a caminhonete.

Além da parede do cais, dunas com punhados de gra­ma levavam à areia dourada e Oliver tirou as sandálias, amarrando-as pelos cordões e passando pelo pescoço. Como precisava disso, pensou, não percebendo até ago­ra como o inverno fora longo. Parecia fazer anos, não meses, desde dezembro, quando ele e Miranda tinham passado dez dias em Barbados.

Sorriu, lembrando que eles só se conheciam há pou­cas semanas naquela época e, quando sugerira umas fé­rias no Caribe, ela não recusara, parecendo bem ansiosa de ir com ele, que achou que o relacionamento deles ti­nha se definido naquele dia.

Até então, havia sido uma relação bem aberta, com Oliver tendo a liberdade de sair com outras mulheres, se quisesse. Porém, depois de Barbados, Miranda parecera esperar certa exclusividade e, até conhecer Grace Lo­vell, ele não tivera problema com aquilo.

O que era igualmente patético, pensou, fazendo uma trilha pela areia molhada, deixada pela maré. Seu pai es­tava certo. Ele devia ter aprendido a lição com Sophie. E tinha, garantiu. A sua associação com Miranda prova­va isso. Era uma relação civilizada e sexualmente satisfatória, mas sem emoções de sua parte. Era assim que gostava.

Apesar do calor do sol, a água estava fria em seus pés nus e, deixando o pensamento desagradável de lado, co­meçou a andar pela praia. Tinha vindo falar com seu pai e, durante os próximos dias, teria de encontrar uma ma­neira de persuadir o velho a deixar que o ajudasse.

Grace saiu para o deque atrás da casa, com uma cane­ca do café que acabara de fazer.

Estava sem sapatos, usando um fino robe sobre o top de algodão e short largo que usara para dormir, o cinto arrastando no chão. Sentou-se numa das cadeiras à som­bra, sobre uma das pernas e segurando a caneca.

Tinha esquecido como o mar podia ser tão azul, quão menos complicadas as coisas podiam ser aqui, longe das pessoas e dos lugares da sua rotina. Não queria morar aqui, mas alguns dias naquele lugar era o que precisava.

Mentira para Tom, dizendo que seus pais tinham convidado. Seus pais viviam dizendo que ela devia aproveitar a casa, com ou sem eles.

Era um casal bastante moderno e não teriam reclama­do se tivesse levado um acompanhante. Na verdade, até agora, Grace não fizera isso, o que causava certo lamen­to neles, mas raramente comentavam. Ao mesmo tem­po, Grace imaginava que eles estavam perdendo a espe­rança de Grace encontrar um homem que pudesse amar.

Como eles se sentiriam se descobrissem que, além de uma desajeitada experiência quando era adolescente,

Grace nunca estivera com um homem? Não era algo de que se orgulhava ou que teria escolhido, mas, aprendera bem cedo que os homens só a viam como um objeto se­xual.

Talvez ainda não tivesse encontrado o homem certo, pensou. A lembrança do rosto de Oliver Ferreira, quan­do saíra da cozinha de Tom naquela noite, causou um arrepio. A frieza dele, as palavras amargas ditas ao ir­mão, depois de conseguir romper a barreira que ela er­guera em volta de suas emoções, tinham jogado lama nos sentimentos dentro dela.

Não queria pensar em Oliver e levantou-se, descendo lentamente os degraus que levavam à piscina. Tomou outro gole de café e se endireitou. Viera tão longe para evitar pensar nele e era ridículo ficar lembrando o tem­po todo. Ele não era melhor do que qualquer outro ho­mem que tentara fazer amor com ela. Só fora hábil o bastante para quase tirar sua roupa.

A diferença é que ela estava disposta a ajudá-lo, re­conheceu. Sentiu outro arrepio, lembrando das mãos dele em seu corpo, dos lábios e língua dele. Oh, Deus, ela nunca soubera como era querer um homem, até que ele a tocara, e agora, parecia difícil pensar em outra coi­sa.

Suspirando, pousou a caneca numa mesinha e, che­gando perto da piscina, experimentou a água com a pon­ta do pé.

Estava fria. Até o sol ficar bem forte, a piscina não ficava tão quente quanto o mar. Erguendo a cabeça, olhou para a grande extensão de azul no horizonte e sus­pirou novamente. Era tão lindo, tão pacífico. Por que não podia simplesmente relaxar e aproveitar?

Pegou sua caneca, pronta para entrar em casa quando viu um homem andando pelo caminho estreito, atrás da propriedade. À distância, dava para ver que ele era alto e moreno, mas o caminho ligava várias propriedades. Podia ser um espanhol, pensou. Era bem moreno e pen­sou se alguém novo tinha mudado para uma das casas.

Mas, à medida que ele se aproximava, uma estranha paralisia começou a prendê-la no lugar. Ele não era es­panhol — bem, só meio, e aquela metade se diluíra em anos vivendo num clima mais frio. Era o que tornava aquele homem tão frio, tão controlado? Ou Sophie teria tirado toda emoção dele?

Felizmente, havia uma barreira de árvores entre ela e o caminho. Não era muito favorável como proteção, mas oferecia alguma e, se ela se afastasse agora, ele nunca saberia que estava aqui.

Enquanto ela se esforçava para se mover, ele virou a cabeça e a viu. Ela percebeu o reconhecimento em seus olhos, viu a confusão dele quando percebeu que ela tam­bém o vira, e ficou envergonhada.

Então, ao invés de ignorá-la, como ela meio que es­perava, pulou a cerca que rodeava a propriedade, afas­tando um punhado de galhos e folhas de árvores, e pisou no gramado, falando com voz perturbadora e baixa.

— Grace! Este é um prazer inesperado.

 

 



  

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