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CAPÍTULO ONZECAPÍTULO ONZE
Grace dormiu bem, mesmo esperando ficar acordada metade da noite. Exausta, depois de lavar o rosto e escovar os dentes, mergulhou na cama e num sono sem sonhos. O sol da manhã acordou-a, invadindo o quarto, avisando que já era dia. Mesmo sendo cedo, Grace levantou. Sentia-se quente e pegajosa, mas não quisera tomar banho antes de ir para a cama. Agora, ensaboava cada centímetro do corpo, para remover qualquer traço de Oliver. Tirou o piercing, pensando que nunca mais o usaria. Apesar de seus esforços, parecia sentir o gosto de Oliver na boca, o cheiro dele em seus pulmões. Resolveu andar pela praia. Antes, tirou os lençóis da cama, jogando-os na máquina de lavar. Ligando a cafeteira, subiu e vestiu uma camiseta rosa sem mangas e short de ciclista preto, prendendo os cabelos. Parou para tomar uma caneca do café recém-coado antes de pegar as chaves do carro de seu pai e ir para a garagem. Não queria andar até a aldeia, para não encontrar Oliver. Enquanto se afastava, viu que a casa ao lado parecia vazia. Talvez ainda estivessem dormindo. Não conseguiu evitar um tremor ao pensar em Oliver deitado. Achava que nunca esqueceria da última vez em que o vira, no sofá de seus pais. Jamais conhecera um homem que ficava tão confortável em sua própria pele. Mas também, não vira muitos homens nus. Até a noite passada, nunca conhecera tudo aquilo. Às vezes, as garotas com quem trabalhara falavam sobre sexo, mas Grace sempre pensara que as histórias delas eram exageradas. Uma desculpa para fingir que suas vidas eram atribuladas. Agora pensou que deviam estar certas. Não importando o quanto poderia se arrepender do que acontecera — e se arrependia — não podia negar que se sentira, pela primeira vez na vida, uma mulher de verdade. Oliver fizera aquilo. Qualquer outra coisa que ele tivesse feito, e não conseguia esquecer que, um dia antes, dissera ser comprometido, tinha dado uma aula especial. Do momento em que a tocara no corredor da casa até assumir seu controle sob ele no sofá, tinha perdido toda a sua noção, e decência. Eles haviam se portado sem qualquer vergonha, só se importando com a gratificação. E ela se preocupara por Tom fazer qualquer movimento. Comparado ao seu irmão, Tom era um amador. Também não desculpava o seu comportamento. Sabia que ele não era confiável, conhecia a lealdade dele, mas aquilo não a impedira de continuar. E o pior, considerando como ele a tratara na manhã anterior, tinha se vestido deliberadamente para a ocasião, querendo que ele visse o que estava perdendo. Queria humilhá-lo, aceitando que a acompanhasse até em casa, planejando rejeitar qualquer avanço que pudesse fazer. Não dera resultado. Agora reconhecia que não fora uma opção especialmente bem-sucedida. Tinha o desconfortável sentimento de que, quando ficasse nos braços de Oliver, o resultado seria o mesmo. O homem tinha a capacidade de tirar toda a razão de sua cabeça. O único jeito era ficar longe dele, e pensava seriamente em voltar hoje mesmo para a Inglaterra. Embora Grace pretendesse se aventurar pouco, a extensão vazia da praia fez com que não se sentisse tão covarde. Duvidava que Oliver estivesse de pé tão cedo. Por causa dele, devia voltar para a Inglaterra? Não podia esquecer que teria que lidar com Tom, quando soubesse que estava procurando outro lugar para morar. Ainda havia o problema das exigências de Sophie, colocando em risco o futuro do centro de jardinagem. Talvez devesse ir para a casa de seus pais. Eles ficariam felizes em vê-la e sempre podia dar a desculpa de estar com saudades. Parando o carro ao lado da mureta da praia, ficou olhando as ondas batendo na areia. Seria fácil culpar Oliver por tudo, pensou. Se ele não tivesse casado com Sophie, se não a houvesse negligenciado para que procurasse conforto em Tom, nada disso teria acontecido. Será? Só tinha a palavra de Tom que Oliver negligenciara sua esposa e, a julgar pela ansiedade de Sophie com Oliver, não parecia. As pessoas tinham de assumir as responsabilidades por suas ações. Todo mundo comete erros, como ela, admitiu, abrindo a porta e saindo do carro, indo andar na areia. Apesar de não querer pensar nele, enquanto andava, imaginava como era a namorada de Oliver. A sra. Ferreira dissera que era advogada. Advogadas deviam se chamar Sylvia ou Elizabeth, nomes fortes, sensíveis, que inspiravam confiança em seus clientes. Não Miranda, que soava como se pertencesse a uma criatura alegre, delicada, dependente da proteção de um homem. Só porque tinha um diploma não significava que não pudesse ser delicada e feminina. Evidentemente, Oliver a aprovava. Apesar de sua aparente fraqueza no que se referia a Grace, não negara estar comprometido. Uma advogada! Grace deu de ombros. Provavelmente, era a profissão certa para ele. Podia mantê-lo longe de problemas. Uma amante e uma advogada, no mesmo pacote. Uma amante podia ser uma indulgência perigosa. Certo, as suas chances de engravidar nesta época do mês eram pequenas, mas a dúvida estava lá. Com certeza, Oliver pensara que ela tomava pílulas. Por que não pensaria, com a idéia que fazia dela? Não devia esquecer que ainda pensava que era amante de Tom. Não devia se importar com o que Oliver pensava, mas se importava. Não gostava do sentimento de ter sido usada, mesmo colaborando. E tinha tomado muito cuidado para não ser novamente "usada". Só depois das nove ela voltou para casa, sem decidir nada. Parte dela acreditava ser covardia ir embora, deixando Oliver pensar que a assustara, mas a outra parte — a maior parte — precisava pôr um espaço entre eles, para sua paz de espírito. Estacionou o carro diante da casa e pescava os sapatos no chão quando viu alguém atravessando o gramado entre as casas. Sabia que era Oliver. A sua pele ficou eriçada e as palmas umedeceram. Inferno. Ele não podia ao menos deixá-la entrar em casa sem atormentá-la novamente? Ignorando-o, pegou os sapatos com uma das mãos, trancando o carro com a outra. Poderia entrar e fechar a porta antes que ele percebesse? Não. Lançou um olhar frio por sobre o ombro, enquanto andava para a varanda. — Queria algo? Ela sentiu certa satisfação ao ver a expressão de surpresa dele. Mas ele se controlou. — Precisamos conversar. — Precisamos? Grace soou como se não soubesse do que ele falava e Oliver franziu o rosto. — Sabe que precisamos. — Por quê? — Grace chegou à porta, procurando as chaves no bolso do short. — Não contarei à sua namorada sobre a noite passada, se é isso que o preocupa. — Não é isso. — Não? Ela deve ser muito segura, se não se importa que você durma por aí, às costas dela. — Eu não durmo por aí. E você não vai conseguir que eu diga o que não quero. Quero dizer, precisamos conversar sobre o que aconteceu. — Bem, não agora. Preciso tomar um banho e o café da manhã. — Destrancou a porta, esperando que ele não notasse o leve tremor de suas mãos. — Nos vemos... Ele se moveu tão depressa que ela não teve tempo de tirar a chave da fechadura e entrar, antes do pé dele parar na soleira. — Você não pode me evitar para sempre — falou, enquanto ela ficava rente à parede do corredor. — Vamos conversar, Grace. Agora ou em outra hora, você resolve. A confiança de Grace sumiu. — Eu disse que não temos nada para conversar. — Discordo. Quero saber o que aconteceu na noite passada. Ela ficou ofegante. — Por que não disse? Bem, isto é fácil. Fizemos sexo. Bom sexo, na verdade. Desculpe, se esqueci de agradecer. Ela não entendeu a palavra que Oliver usou, parecendo um palavrão em espanhol, mas, serviu para ele mostrar sua frustração e gratificá-la. Então, com um gesto impaciente, ele se virou deixando a porta bater. Embora Grace preferisse fazer as malas e voltar para casa, se recusava a deixar que a atitude de Oliver a intimidasse. Não precisava vê-lo novamente. Se recebesse mais convites dos pais dele, daria uma desculpa, recusando. Ao mesmo tempo, tomou cuidado ao sair ou voltar para casa. Não queria ofender os velhos Ferreira, principalmente por seus próprios pais serem tão amigos deles. Assim, nos dias seguintes, viveu uma existência de eremita, ficando pouco tempo na piscina e só quando tinha certeza de que Oliver não estava por perto. Claro que ela o viu. Diferente dela, Oliver não parecia sentir-se obrigado a ficar escondido. Ela perdeu a conta das vezes que o viu, alto, moreno e perturbador, descansando no pátio ou passando casualmente pela casa, a caminho da aldeia. Então, certa manhã, imaginava que uma semana após a chegada de Oliver, Grace saiu da piscina, ouvindo vozes no pátio ao lado. Um homem e uma mulher falavam, e soube que a cabeça escura era de Oliver. A outra voz não era da mãe dele, e Grace percebeu que ele falava com Sophie. O seu estômago embrulhou. O que Sophie fazia aqui? Pelo que a sra. Ferreira dissera, não deviam tê-la convidado. Oliver? Não. E quanto a Miranda? Ele não se importava com ninguém? Não podia ouvir o que falavam, nem queria. Estavam se saudando e ela só queria entrar em casa, sem ser vista. O que pareceu fácil. Mas, enquanto tomava banho, Grace sentiu uma estranha emoção, que não queria reconhecer. Não é ciúme, pensou firmemente. Oliver e ela tinham compartilhado sexo, mais nada. Sem emoções. E ela teria problemas se pensasse nele nesses termos. Estava preparando uma salada para o almoço quando alguém bateu na janela da cozinha. Assustou-se. O que anais a assustou, porém, foi ver que era Oliver, principalmente depois dos pensamentos quentes que tinha sobre ele. Não podia ignorá-lo. Quando ele fez um gesto para que abrisse a porta, ela secou as mãos e fez o que pedira. — Sim? A palavra foi quase inaudível e a expressão dele mostrou seu desagrado. Com esforço, ele disse: — Posso entrar? Grace umedeceu os lábios. — Por quê? — Quero falar com você. — O distanciamento dela acendeu um fogo nos olhos dele, mas se controlou. — Não sobre aquilo. Acho que entendi a mensagem. É outra coisa. — O quê? — Se me deixar entrar, direi. — Se for algum jogo... — Não é. Grace apertou os lábios. O problema é que ele tinha um rosto honesto, e quis acreditar nele. E, na verdade, estava contente em vê-lo. Mas, era perigoso. Por isso o seu tom era frio enquanto se afastava, dizendo: — Certo. Mesmo a cozinha sendo espaçosa, parecia pequena demais com ele ali e, além do mais, tudo em volta tinha conotações que não queria recordar. A sala também, então ela levou-o até gabinete de seu pai, um lugar confortavelmente masculino, com duas cadeiras de couro, uma estante com livros e uma escrivaninha de mogno, vazia, exceto pelo computador, sem o qual seu pai não vivia. Mesmo assim, a presença de Oliver deixou-a ciente da intimidade. A pele dele parecia mais escura, provavelmente devido ao tempo exposto ao sol e parecia incrivelmente másculo e sexy. — O... que quer? — perguntou, colocando a escrivaninha entre eles e os lábios de Oliver se apertaram. — Posso me sentar? — Por que não? Na verdade, Grace desejava que o fizesse, para sentir menos intimidade. Mas ficou de pé. Oliver sentou-se, olhando em volta. — Isto é simpático. O santuário de seu pai? — Você não veio aqui falar da decoração, Oliver. O que quer? Oliver pensou um pouco depois, fazendo-a corar, perguntou: — Está tudo bem? Você parece... cansada. Tem dormido mal? — Vá direto ao ponto, Oliver. Sua esposa pode estar procurando-o. — Não tenho esposa. Mas, imagino que a viu. E não me olhe assim. Eu não a convidei. — Acha que me importo? Mas a sua voz mostrou e soube que ele notara, quando disse: — Pensei que poderia. Vocês duas têm muito em comum. — Eu nada tenho em comum com aquela... aquela... — interrompeu-se, tentando controlar a raiva. — Ela não se parece comigo! — Acha que não? Bem, se você diz... Certamente, Tom concordaria com você. Quanto a ele, Sophie parece ter chifres e um rabo bifurcado! Imagino se foi antes ou depois de você aparecer. — Não pretendo discutir os casos de Tom com você. — Casos sendo a palavra operacional — retorquiu secamente e Grace quis socá-lo. — De qualquer forma, chega das aventuras de Tom. Sabia que ele pretendia pegar dinheiro emprestado para pagar Sophie? — Eu... não. Por que saberia? Oliver se inclinou na direção dela. — Bem — falou, friamente. — Eu pensava que ele tivesse confidenciado. Você cuida das finanças do centro, não é? Parece saber de tudo. — Você me lisonjeia. As finanças do centro de Tom são da conta dele, não minhas. — Certo. Então, você nada sabia sobre esse possível empréstimo? — Não — Grace hesitou. — Não mais do que você. Você sabia que ele foi encontrar com o gerente de banco. — George Green? — Ah é. Ele é seu amigo, não é? Ele não contou quão desesperado por dinheiro seu irmão estava? — George não me fala dos assuntos financeiros de seus clientes. Está dizendo que ele recusou? — Por que não pergunta ao Tom? — respondeu Grace, ressentida. — Ou à Sophie? Imagino ter sido de onde tudo isso veio. Oliver não respondeu imediatamente, mas pelas suas feições duras, ela notou que estava certa. Depois, com relutância, ele concordou. — Ela me contou. Disse que teme ele ficar com grandes problemas se continuar assim. — A boa e velha Sophie, toda coração! — Não acredita nela? — Eu não disse isto — Grace suspirou, depois resolveu dizer a verdade. — Certo, pode ser verdade. O seu amigo, sr. Green, só estava disposto a adiantar a Tom metade do que ele precisava. Vá descobrir. — Só metade? — É — Grace pensou um pouco, antes de acrescentar: — Nos últimos meses, Tom aumentou muito o débito, com a expansão e tudo. Eu diria que qualquer banco hesitaria em aumentar os débitos dele. Oliver aceitou aquilo. — É. Então, acha que Sophie estava certa em vir me contar? — Não conheço os motivos dela. — Não gosta muito dela, não é? — Não preciso gostar dela. É seu problema, não meu. O suspiro de Oliver foi de lamento. — E se eu dissesse que ela era problema do Tom? — Eu diria que é um pensamento esperançoso — respondeu Grace, desejando não ter entrado nisto. Contornou a escrivaninha, esperando que ele tivesse recebido a mensagem e levantasse. — Bem, é tudo... — Não é. — Usando as rodinhas da cadeira para se aproximar dela, Oliver pegou-a pelas duas mãos, antes que pudesse evitar. — Quando posso vê-la novamente? — Eu... você está me vendo — protestou, mas Oliver apenas puxou-a pelos quadris, movendo as mãos com familiaridade e pegando a curva de suas nádegas. — Você sabe o que quero dizer — a voz dele era rouca enquanto apertava o rosto em seu estômago nu. — Quero ficar com você. Desde que estivemos... juntos, não fui capaz de pensar em mais nada. Nem ela! — Nem... mesmo Miranda? — perguntou com voz estrangulada, sem saber por que se importava. Não devia. Oliver praguejou. — Esqueça Miranda — murmurou, erguendo a cabeça e tocando entre os seios dela. — Eu esqueci. Por ora, Grace pensou. Ele não fazia promessas, não se comprometia. Não duvidava que a queria. Podia sentir a ereção dele tocando em sua perna. — Eu não esqueci — falou, decidida. — E, a menos que queira se arriscar a uma possível impotência... — o joelho dela tocou na ereção dele —... acho que é melhor ir embora. A ameaça era vazia e ele sabia. Ao invés de deixá-la, os dedos deslizaram por sob o short, frios contra a sua pele quente. Enquanto erguia uma das mãos com a clara intenção de abaixar a cabeça dela, a campainha soou. — Alguém está à porta — falou Grace, relutante, sem saber se estava satisfeita ou se lamentava, e Oliver teve que deixá-la ir. — Salva pela campainha — disse ele, rouco, enquanto ela tropeçava na direção da porta. — Não acabamos, Grace. É uma promessa.
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