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CAPÍTULO DOISCAPÍTULO DOIS
Sophie — agora Sherwood, ele supunha — vinha do estacionamento na direção deles. — Oliver — falou suavemente, antes de olhar rápido para a acompanhante dele. — Pensei ter reconhecido o carro. Ah, Oliver, é tão bom vê-lo! Era a última coisa que ele esperava ouvir. E a mais incrível. A separação não fora amigável. Oliver ficara desgostoso por saber que o romance dela com Tom já durava meses. E a própria Sophie tinha se apressado em culpá-lo, acusando-o de negligenciá-la e pensar mais em seu trabalho nojento do que na esposa. Encontrá-la agora, anunciando que era bom vê-lo, parecia absurdo. Esperava não encontrá-la mais. Não teria vindo aqui hoje se suspeitasse de que ela estaria por perto. Com um olhar de esguelha para a jovem ao seu lado, percebeu que não podia falar livremente. Ao invés, ocultando a irritação, inclinou a cabeça. — Sophie — saudou, acrescentando, sem se comprometer. — Eu não sabia que você trabalhava aqui. — Não trabalho. Mas seu irmão me deve dinheiro. Ele contou? — Olhou novamente para Grace. — O que você está esperando? Gostaria de falar com meu marido em particular. Marido? Oliver franziu o rosto, mas Grace pareceu não se perturbar. Virando-se para Oliver, ela falou: — Talvez nos vejamos mais tarde. Tom não deve demorar. — Se ele conseguir se afastar do bar, você quer dizer? — falou Sophie friamente.— Eu não esperaria sem respirar. — Tom não está no bar — retrucou Grace, também friamente. — Ele tinha reuniões no banco, como deve saber. Além do mais, não iria demorar, sabendo que o irmão está esperando por ele. Mas Tom nem sabia que ele estava lá, pensou Oliver, mesmo não querendo admitir. Não daria munição à sua ex-esposa. Não sabia o que estava acontecendo, mas estava claro que ela não gostava da mulher mais jovem. Por quê? Teria ciúmes? Ele preferia não continuar com aquele pensamento ridículo. — Que seja — falou Sophie, adiantando-se e enganchando o braço no dele. E, mesmo com ele tentando se afastar cuidadosamente, ela insistiu em ficar bem perto, enquanto o levava na direção dos tanques de peixes tropicais. — Assim é melhor — murmurou satisfeita, olhando por sobre o ombro, vendo Grace olhar um instante para eles e depois se afastar, na direção oposta. O tom dela era venenoso. — Não sei como aquela mulher se atreve a falar comigo! — Por quê? Não gosta dela? — Oliver parou abruptamente, recusando-se a continuar sem uma explicação. — O que há, Sophie? O que Grace fez a você? E por que a súbita necessidade da minha companhia? Sei que você e Tom se separaram, então, por favor, não finja que tem algo comigo. — Você viu Tom? — Esta tarde. — Então ele deve ter contado sobre Grace. — Contado o quê? — Mas Oliver imaginava. Sophie não era exatamente sutil quanto a questões pessoais. Ela fungou e balançou a cabeça, olhando-o suplicante. — Você não sabe o que tem sido para mim. Desde que aquela mulher veio trabalhar no centro de jardinagem, as coisas vão de mal a pior. Criticamente, Oliver olhou em volta. — Eu diria que o lugar parece próspero. Ela o corrigiu, sobriamente. — Admito que Tom e eu já tínhamos problemas, antes dela chegar. Mas nunca sonhei que eleja tivesse encontrado a minha substituta. Oliver teve uma sensação familiar de déjà vu. Não que tivesse qualquer intenção de se envolver com alguém que trabalhava para seu irmão, mas saber que Grace Lovell era a mais recente conquista de Tom não era o que queria ouvir. Era boa demais para seu irmão, pensou duramente. E não gostaria de vê-lo estragar também a vida dela. Devia saber. Quando Tom fora procurá-lo naquela tarde, devia ter adivinhado que havia mais alguém envolvido. Desde a adolescência, Tom dormira com incontáveis mulheres. Claro que nunca se casara com qualquer uma delas. Nem mesmo Sophie. Por que ele, Oliver, imaginaria que o relacionamento deles seria diferente? — Ele a conheceu na Espanha, no ano passado — Sophie continuou, tendo a impressão errada de que Oliver podia estar interessado. — Ele tinha ido lá antes, quando eu não podia ir junto. Não que seus pais quisessem me ver, pois sou persona non grata. — Sophie... — Ele se desculpava, dizendo que precisava tratar de negócios com o pai — ela emendou. — Eu não tinha motivos para duvidar. Ele e George, freqüentemente ficam juntos na casa de seu pai. Verdade que ele parecia um pouco distante nessa vez que voltou para casa, mas pensei que fosse a saúde. Oliver ergueu as mãos espalmadas para interrompê-la. — Isso vai a algum lugar, Sophie? Porque se não, tenho mais o que fazer. Os olhos de Sophie se encheram de lágrimas. — Não seja grosseiro comigo, Oliver. Não agüentaria se me abandonasse. Sei que me comportei horrivelmente no passado, mas pode acreditar que agora me arrependo. — Sophie... — Não, escute. Talvez seja culpa minha, Tom ter encontrado outra pessoa. Eu vivia comparando-o com você. — Oliver olhou-a, incrédulo. — É verdade. Tom e eu nunca deveríamos ter ficado juntos. Não sei por que acreditei nas mentiras dele. — Chega. Vou embora. Oliver ouvira o bastante. Agora, a qualquer momento, ela diria que nunca deixara de amá-lo e que esperava que a aceitasse de volta. Ele virou. Fora loucura ir ali, sem imaginar que reabriria suas mágoas. Só queria ver o centro de jardinagem. Meio que esperava encontrar seu irmão e acabar com tudo. Agora, não sabia o que pensar. O que Tom realmente queria dele? Sophie rompera em lágrimas com as palavras dele. Suas feições pálidas e delicadas estavam apagadas. Estava envelhecida. Divertido, Oliver evitou compará-la com Grace Lovell. Mas conhecia sua ex-esposa bem demais para saber que tudo era fingimento. — Não faça isso, Oliver. Por favor. Precisa me ajudar. Tom diz que não pode me devolver o dinheiro que investi no negócio e não consigo me manter com o que ganho na loja de caridade. O dinheiro que ela investira no negócio era o de seu acordo no divórcio, mas Oliver não quis lembrá-la. — Arrume outro emprego — disse sem delicadeza, indo para o estacionamento. Tivera problemas demais dos outros para um dia. — Não posso — falou Sophie, seguindo-o desesperadamente. — Não tenho qualificações. Certamente você não quer ver sua esposa atrás da caixa de algum supermercado, não é? — Por que não? Outras mulheres fazem isso. — Oliver parou ao chegar ao carro. — E você não é minha esposa — acrescentou, sentindo-se bem, pela primeira vez por dizer aquilo. — Lamento se as coisas não funcionaram como você queria, mas é a vida. Aceite-a. O queixo de Sophie tremeu uma tática que, anos atrás, o enternecia. Não mais. — Diga ao Tom que não pude esperar — disse rapidamente e sentou-se à direção, queimando borracha quando acelerou para sair do estacionamento. Da janela, Grace viu Oliver partir. O pequeno café estava fechando e ela ajudava Lucy Cameron a limpar as mesas, para que a mulher mais velha pudesse sair na hora. Lucy tinha quatro filhos em idade escolar, e Grace sabia que ela não gostava de deixá-los sozinhos depois de escurecer. — Era quem penso? — perguntou Lucy, juntando-se à Grace na janela, enquanto o Porsche saía. — Quem você pensa que era? — Bem, parecia o irmão de Tom — falou. — Sei que ele dirige aquele velho Porsche por todos os lados. Nem sei por que não compra um carro novo. Como se não pudesse pagar. — Você o conhece bem? — perguntou cautelosa, não querendo parecer interessada demais, e Lucy deu de ombros antes de voltar ao trabalho. — Bastante bem. Mesmo fazendo um bom tempo que não aparece por aqui. — Fez uma pausa. — Você estava falando com ele? Ele disse quem era? — Eu o reconheci. Ele se parece um pouco com Tom, não acha? É mais moreno e mais alto. Mas as feições são parecidas. Lucy olhou-a atentamente. — Parece que você deu uma boa olhada nele. Eu sempre gostei de Oliver. Fiquei realmente sentida quando ele e o irmão se meteram... Não terminou a frase e Grace achou que tinha se interessado demais em seus afazeres. O barulho de saltos no chão azulejado indicava que não estavam mais sozinhas e ficou bastante surpresa quando Sophie Ferreira veio em sua direção. — Onde está Tom? — perguntou Sophie, brusca. — Agora pode me dizer. Percebi que estava tentando protegê-lo de Oliver, mas agora ele se foi. — Eu sei — Grace se recusava a ser intimidada. Nada tinha para se envergonhar. Ela e Tom eram amigos, nada mais. — E não sei onde Tom está. Talvez no bar. Por que não vai lá e descobre? — Não se atreva a me dizer o que fazer. — A resposta raivosa de Sophie era sem propósito. Algo que não ia bem. — De qualquer modo, quando ele voltar, diga que quero vê-lo. Estarei esperando na casa. Ainda tenho a minha chave. Grace deu de ombros. — Certo. — Sabia que Tom não gostaria. Ela também não gostara muito. Sophie ver onde dormia a irritava. — Certo. Depois de olhar rapidamente na direção de Lucy, Sophie virou e saiu do café. As duas mulheres viram-na atravessar o jardim, indo para o estacionamento, abrindo a porta de um moderno BMW. Depois, saiu do estacionamento. — Bruxa — falou Lucy, passando por Grace e virando a tabuleta de "Fechado" na porta. — Aquela mulher é uma bruxa! Não sei o que Oliver viu nela. — Ou Tom — murmurou Grace. — Tom a mereceu. Espero que agora Oliver perceba como teve sorte. Grace não sabia responder. O divórcio de Sophie e Oliver acontecera muito antes dela aparecer. Ouvira rumores de que Tom tivera um romance com a esposa de seu irmão. Também ouvira de Tom que Oliver negligenciara Sophie pelo seu trabalho. E ninguém negava a participação de Sophie no rompimento. De acordo com Tom, fora Sophie quem o encorajara, não o contrário. Grace não queria se meter. A sua própria posição, como hóspede pagante na casa de Tom, era suficientemente especulada. No entanto, quando viera trabalhar no centro de jardinagem, Sophie e Tom viviam juntos. Parecera uma solução lógica aceitar a oferta de Tom, do quarto extra. Agora as coisas eram diferentes. Sophie e Tom estavam separados e Grace não sabia como continuar na casa. O problema é que ficava à mão, perto do centro. Nos limites de Tayford, não muito longe da casa dos pais dele. O casal Ferreira tinha sido importante, desde o início, para ela aceitar a oferta de Tom. Agora, Grace imaginava se eles percebiam que as coisas não iam bem entre seu filho e a sua amiga — que por acaso, era a ex-esposa do outro filho deles — esperando que a presença dela fosse apaziguadora. Não funcionara assim. Sophie jamais gostara dela e Tom tentara compensar sua grosseria. A questão é que Sophie tinha ciúmes e começara a acusá-la de se insinuar para cima de Tom. Grace balançou a cabeça enquanto deixava Lucy, indo para o escritório, no prédio principal, anexo. Ela gostava de Tom. Quem não gostava? Ele era uma pessoa fácil. Mas nunca a deixara com aquela pontada no estômago, sentindo-se desmanchar, como sentira ao encontrar o olhar de Oliver Ferreira. Imaginou como seria compartilhar uma casa com Oliver. O seu rosto esguio, de pele escura e corpo alto e atlético era muito diferente da aparência clara do irmão. Oliver não era exatamente bonito, mas muito atraente. Sexy. Não era de admirar Sophie querê-lo de volta. Grace apostava que queria. Havia muita agressividade em sua voz quando dissera para Grace sumir. Não com tantas palavras, mas Grace a conhecia. Sophie precisava de um homem em quem se apoiar. Tremeu, e não era de frio, mas de antecipação. Apesar do que Sophie dissera, esperava ver Oliver novamente. Ela não soube o que sentiu vendo Tom no escritório, trabalhando no computador. Ele devia saber que Sophie estava por ali e, deliberadamente, ficara fora do caminho dela. Então, também perdera Oliver. Ou fora de propósito? Ele se virou, sorrindo, quando viu quem estava à porta. — Oi, como está tudo? — Acho que bem. Sophie está na casa, sabia? — Sophie? — Ele fingiu surpresa. Então, vendo que não podia enganá-la, fez um muxoxo. — Eu sabia que ela estava aqui. Creio que ainda está reclamando de dinheiro, não é? — Eu não saberia. — Grace não queria se envolver. — Só quis avisá-lo. Para o caso de você ter voltado. — Ela cheirou o ar. — Esteve bebendo? Sophie disse ao Oliver que você estaria no bar, mas eu o defendi. — Oliver! — Agora, Tom parecia surpreso. — Oliver estava aqui? — Você saberia, se não tivesse passado tanto tempo se escondendo de sua namorada. Bem, já vou. Vou encontrar uma amiga para um drinque e não quero me atrasar. Tom franziu o rosto. — Que amiga? — Ela ficou tentada a dizer que não era da conta dele. — Uma amiga da ginástica. — Ela passava muito de seu tempo livre no centro de lazer em Ponteland, onde se associara para deixar Tom e Sophie sozinhos. Ultimamente, gostava de ter um motivo para evitar passar as noites com Tom. — Você não a conhece — acrescentou. — Comerei alguma coisa enquanto estiver fora. — Ei — Tom se levantou. — Você ainda não me disse o que Oliver fazia aqui. Ele queria me ver? — Depois, sorriu, impaciente. — Claro que devia querer. O que mais faria aqui? — Não sei. De qualquer modo, Sophie grudou nele assim que o viu. — Sophie? Inferno, por que não me disse? Ela tinha que aparecer aqui hoje. — Isso importa? — Grace não entendia a agitação dele. — Você disse que iria vê-lo hoje. Imaginei que tinha combinado a visita dele. — Bem, não foi isso. Fui ao escritório dele esta tarde. — Tom olhou para o relógio e Grace achou que era hora de uma retirada estratégica. — Eu o vejo de manhã — disse, resolvendo ir ao cinema, depois do encontro com Cindy. A última coisa que queria era Tom chorando em seu ombro, depois de uma discussão com Sophie. — Não espere acordado. Tom praguejou. — Por que tem de encontrar essa mulher hoje? Depois do dia que tive, poderia passar sem as reclamações de Sophie. Vamos, Grace, você sabe como ela é. Será uma nova tentativa de conseguir dinheiro. E não quero imaginar que ela pode afundar este negócio, se quiser. — As coisas estão assim tão ruins? — Estão. Gostaria de não tê-la encorajado a investir. — Mas encorajou. — Grace franziu o rosto, com um pensamento que surgiu. — Por isso queria ver Oliver hoje? Espera que ele dê fiança? — Não! — O tom dele foi duro. Depois, concordou. -— Bem, certo. Talvez quisesse que me ajudasse. É da família, não é? E pode se dar ao luxo. Assombrada, Grace olhou-o. — Você não pode estar falando sério, Tom. Oliver tem todos os motivos para odiá-lo. — Por quê? Por afastar aquela megera dele? Ele devia me agradecer. Não sabe do que se livrou. — Não creio que Oliver veja assim — replicou Grace, honestamente. Apesar do interesse inicial dele, a deixara assim que sua ex-esposa apareceu. E estava claro que Sophie queria reavivar aquele relacionamento, jogando-se sobre ele. — Verá. Conheço Oliver. Este também era o negócio do pai dele, lembra? Não vai querer que feche. Pense em quantas pessoas ficariam desempregadas. Grace pensou que ele podia estar certo. — Então, por que não pede ajuda ao seu pai? — perguntou, curiosa. George Ferreira não conseguia ficar longe do centro de jardinagem quando voltava para casa. — Meu pai não tem todo esse dinheiro. Sophie pôs duzentos mil no negócio. Como acha que consegui comprar a pequena área ao lado? — E você acha que Oliver cobrirá o investimento dela? — Ela parecia incrédula. — Tom, você está sonhando. — Ele precisa — murmurou. — É um bom investimento. — Você disse isso quando estava diante dele? Por isso ele veio aqui hoje, ver como vamos? — Não. Ele ameaçou me atirar para fora do prédio. — É esse o homem que vai ajudá-lo? — Grace balançou a cabeça. — Caia na real, Tom. Não vai acontecer. Você terá que ir ao banco novamente. — Ele veio aqui, não veio? Eu não pedi que viesse. — Curiosidade. Pareceu curioso, só isso. — Bem, descobrirei amanhã. — Tom forçou um ar otimista. — Vamos nos encontrar para o almoço, no The Crown. — Certo — Grace virou-se para a porta. — Bem, boa sorte com Sophie. Se eu fosse você, não a deixaria esperando muito. — Então, não vai mudar de idéia? — Não posso. Lamento. Talvez, se for gentil, ela diminua suas exigências. — Impossível. Ela quer cada centavo e está determinada. Pense um pouco em mim enquanto estiver mordiscando salgadinhos com sua amiga.
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