|
|||
CAPÍTULO TRÊSCAPÍTULO TRÊS
— Preciso de um favor seu. Tom cercou Grace na cozinha da casa dele, na manhã seguinte, enquanto ela engolia apressada uma xícara de chá, antes de sair para o trabalho. Pretendia evitar Tom e uma conversa sobre o que acontecera na noite anterior. Mas, milagrosamente, ele estava acordado à mesma hora que ela, vindo para a cozinha de roupão e descalço. — O que é? Fale depressa, pois tenho que abrir nesta manhã. — Eu tinha esquecido. — Forçou um sorriso. — Quero que venha comigo almoçar com Oliver. — Está brincando! — Não estou. — Tom enfiou as mãos nos bolsos, parecendo não se preocupar por ter apenas um nó frouxo ocultando dela o que Grace pensou ser um corpo nu. — Não tenho certeza se ele acredita que Sophie e eu terminamos. Se nos vir juntos... — Não — Grace estava horrorizada. Realmente, precisava encontrar um lugar para ela. Tom parecia ter a impressão errada de por que ela ficara depois de Sophie ir embora. — Não quero tomar parte de qualquer acordo que fizer com seu irmão. E, quanto a Sophie, tenho certeza de que ela entenderá muito bem. — Notei que não perguntou como foi na noite passada. — Não é da minha conta. Bem, tenho de ir. São quase oito horas. — Ela me deu duas semanas — disse, como se Grace não tivesse falado nada. — Está tão disposta quanto eu a envolver Oliver. Assim, ela consegue o dinheiro e, possivelmente, o homem também. — Não quero saber — replicou Grace, indo para a porta. — Eu o vejo mais tarde. — Pense sobre o almoço. Achei que queria salvar o centro de jardinagem tanto quanto eu. Aquilo era golpe baixo e Grace apertou os lábios, antes de falar. — Por que acha que a minha presença pode fazer diferença? — Eu disse. Se ele nos vir juntos, pensará que temos algo... — Não temos! — Ele não precisa saber — replicou ele com uma expressão que a aborreceu. Pensava que estava interessada nele. Confiava tanto em sua aparência sensual que imaginava ser apenas uma questão de tempo antes dela cair em seus braços e sua cama. — Vou pensar — ela achava que poderia recusar mais tarde, evitando um confronto agora. Mas, estava tentada a aceitar. Poderia ver Oliver novamente. Além de ajudar no centro, o principal trabalho de Grace era no escritório. Seu diploma de matemática e suas habilidades no computador haviam permitido que organizasse as finanças da empresa e esperava fazer uma página na internet para aumentar os pedidos. Seus colegas de trabalho, uma adolescente que fazia toda a digitação e arquivo e um homem de idade, que estava lá desde a época do pai de Tom, aos poucos começavam a aceitá-la. Pensou que, se a perseguição de Tom ficasse incontrolável, precisaria ir embora e lamentaria fazê-lo. A manhã foi atarefada. Devido à velocidade da renovação de estoque deles, nessa época do ano, um pouco do estoque precisava ser comprado fora. Um enorme caminhão contêiner chegou da Holanda, com um carregamento de flores da estação e várias garotas preparavam buquês de noiva e enfeites de damas de honra para os casamentos do dia seguinte. Tom chegou por volta das nove e meia, elegante num terno cinza e camisa branca. Certamente por causa de Oliver, Grace pensou, olhando desapontada para seus jeans e camiseta de algodão. Se mudasse de idéia, teria que se trocar. O The Crown era um lugar bem informal, mas não como o café do centro de jardinagem, onde os freqüentadores eram, na sua maioria, casais de idade e famílias com crianças, querendo apenas um lanche ou drinque antes de ir para casa. — Estarei por aqui, se alguém me procurar — Tom anunciou e Gina Robb, que tinha uma queda por ele. Ela sorriu provocante. — Quer companhia? Tem sorriu. Sempre gostava quando as mulheres se mostravam atraídas por ele. — Não trabalharíamos muito se eu quisesse — respondeu e Grace manteve os olhos fixos na tela de seu computador. Omo se sentindo o desinteresse dela, Tom perguntou: — Está tudo bem, Grace? — Ela teve que confirmar. — pensou melhor sobre o almoço? — Ela cerrou os dentas. Era exatamente o tipo de comentário que Gina queria ouvir. Erguendo os olhos, respondeu. — Realmente não. Por que não leva a Gina? — Ah, desculpe. — Ele conseguiu parecer lamentar, enquanto lançava um olhar para a desapontada adolescente. — Grace é o gênio financeiro aqui, Gina. Preciso da experiência dela. Você ficaria entediada. — Falarei com você mais tarde, Grace — ele falou, demonstrando que agora ela teria de acompanhá-lo. Se não o fizesse, Gina ficaria ofendida e ela não queria minar a autoridade te Tom. Na pausa para o café, quando Gina foi para a sala das floristas, fofocar com as garotas que preparavam os arranjos, Grace saiu e foi para a casa. Pegou o carro de Tomi, para apressar as coisas, pois andava até o trabalho, 'arando ao lado do chalé que Tom tinha comprado quando estava com Sophie, pegou a bolsa e correu para dentro. Se fosse rápida, ninguém notaria sua ausência. O que vestir? Olhando o seu limitado guarda-roupa, Grace ficou indecisa. A maioria de suas roupas ainda estava na casa dos pais, em Londres. Acabou escolhendo uma blusa preta de gola em V e calças justas, caqui, com um par de botas de salto alto. Bom o. bastante para o The Crown, pensou, tirando a roupa rapidamente. Teria tempo para um banho? Olhou para o relógio, vendo que tinha. Podia fazer uma maquiagem leve mais tarde. Separou sombra, delineador e máscara. Estava se secando, depois do banho, quando imaginou ter ouvido algo. Ou alguém, pensou nervosa, enrolando a toalha no corpo. Apesar de Tayford ser um lugar bastante seguro, Grace passara muito tempo em Nova York e Londres, e ficava logo ansiosa. Teria trancado a porta ao entrar? Talvez não. Droga, um ladrão veria o carro e saberia que alguém estava em casa. Abrindo a porta do banheiro, saiu de seu quarto. Suas roupas ainda estavam na cama. Pensava em ir para o banheiro se vestir quando ouviu passos. Seu coração pulou. Havia alguém na casa. Quem? Talvez a sra. Reynolds, a empregada de Tom? Ela não costumava vir às sextas-feiras. Só havia uma maneira de descobrir e, pensando que roupas não impediriam um possível atacante, abriu a porta do quarto. Perdeu o fôlego. Tom estava parado, olhando-a com clara satisfação. — Então, você está aqui — falou, sorrindo, e ela soube que este não era um encontro ocasional. A raiva assumiu o lugar da apreensão. — O que está fazendo aqui? — exigiu, mostrando não gostar da invasão dele. — Esta é a minha casa — ele falou suavemente, com um sorriso irônico. — Tenho o direito de vir aqui, se quiser. Grace cerrou os lábios. Estava certo. — Desculpe. Fiquei assustada quando ouvi barulho de alguém na casa. — Respirou fundo. — Esqueceu algo? — Pensei em tomar um banho. — Achei que tivesse tomado de manhã. Ele deu de ombros. — Estou precisando de outro. Você sabe que tem muita poeira na obra. Grace encolheu os ombros, voltando para seu quarto. — Certo. Vejo você no escritório. — Podíamos voltar juntos — sugeriu ele, enquanto ela fechava a porta sem responder. Ela levou exatamente quatro minutos para se vestir. Só depois de afivelar o cinto da calça é que voltou a respirar. Por Deus, ela dormia na casa e Tom nunca invadira a sua privacidade. Seus cabelos estavam um pouco mais compridos. Não os lavara, mas escovou e prendeu novamente. Depois, sentindo-se arrumada o bastante, pôs a maquiagem na bolsa e saiu do quarto. Descia as escadas quando a campainha tocou. Quem seria? Queria voltar para o centro de jardinagem antes que Tom reaparecesse. Abrindo a porta, preparou-se para dar uma resposta curta a qualquer vendedor que estivesse lá e sentiu um bolo no estômago ao ver o homem parado do lado de fora. Não sabia por que Oliver Ferreira causava este efeito nela, mesmo sem ele demonstrar qualquer interesse especial. Ainda assim, o simples olhar no rosto esguio dele e seu corpo musculoso a fez lutar para controlar um sentimento que mal reconhecia e sentiu vontade de tocá-lo, como se não fosse real. Mas os olhos escuros sombreados por longos cílios que faziam seus nervos retesar eram reais. Ele era mais atraente do que lembrava.— Grace — disse claramente surpreso e, embora ela estivesse lisonjeada por ter lembrado do seu nome, o franzido de suas sobrancelhas escuras não era encoraja-dor. Instantaneamente, soube o que ele pensava. Felizmente, não chegara antes, quando estava meio vestida. — Oi. — Ela soou sem fôlego, sentindo-se infeliz. — Você veio do centro de jardinagem? — Na verdade, estava procurando pelo Tom. — Seus olhos passaram por ela, olhando para a escada, atrás. — Encontrou — disse Tom. Ela olhou por sobre o ombro, sem acreditar. Tom descia as escadas, enrolado apenas numa toalha. — Entre, Oliver — saudou, calorosamente. — Bill disse que estávamos aqui? Grace sentou-se numa banqueta no bar, sorvendo seu chá gelado com um canudo. Tom e Oliver estavam sentados perto, cada um com seu copo. O de Tom, com cerveja. O de Oliver, com Coca-Cola Diet. Ela percebeu que Oliver mal o tocava. Só aceitara por educação. Da sua parte, Grace teria preferido uma Coca-Cola com rum, só para elevar o espírito. O dia ia de mal a pior, desde que pedira para Tom levar Gina com ele. Agora, ali estava, no The Crown, desejando que o chão se abrisse e a engolisse. Oliver mal lhe dirigira a palavra desde o aparecimento embaraçoso de Tom. Quem o culparia? As implicações dela e Tom estarem em casa no meio do dia pareciam esclarecedoras. Sentia-se humilhada. Não imaginava que Oliver viria procurar pelo irmão na casa. Ou que Tom apareceria, seminu, aumentando as suspeitas de Oliver. Provavelmente, ele não sabia que ela ainda morava na casa de Tom. Aquela seria uma pequena fofoca, que Sophie adoraria. Talvez só estivesse se enganando, achando Oliver surpreso quando ela atendeu a porta. Por que ele se importaria? Certamente, não ficara sem uma companhia feminina desde que Sophie o deixara. Tentou escutar o que Oliver e Tom falavam. Parecia que falavam do tempo, o que era ridículo. Imaginou quando Tom ia entrar no verdadeiro motivo da reunião. Se ela fosse Oliver, não aceitaria o ar de bonzinho de Tom por um minuto sequer. — Sua mesa está pronta, sr. Ferreira. A garçonete apareceu bem quando Grace pensava em dar uma desculpa e ir embora, e Tom acenou, agradecendo, antes de esvaziar o copo. Oliver, por sua vez, deixou o copo intocado e ergueu a mão para ajudá-la a descer da banqueta. Por um momento, os dedos frios apertaram seu braço e os olhos dela procuraram os dele. Mas ele não a olhava e nem parecia sentir o calor que percorreu suas veias ao toque dele. O restaurante não estava cheio. Ainda era cedo, mas desde o início, Oliver mostrara querer acabar logo com a reunião. Grace adivinhava ser o motivo por ele ter ido à casa de Tom, vendo que ele não estava no centro de jardinagem. Talvez quisesse evitar um encontro formal num lugar público como o The Crown. Só que Tom insistira para Oliver voltar ao centro e ver como os negócios iam bem. Assim, Oliver dirigira para lá com Tom em seu carro, enquanto Grace pegara o Volvo, como antes. Mas o resto da manhã não correu bem. Oliver revira as pessoas que trabalhavam lá desde a época de seu pai e Tom fizera o melhor para se comportar como se não enfrentasse a ruína. Enquanto isso, Grace tentara se concentrar na página que estava fazendo para a internet. Queria expandir o comércio virtual dos Ferreira, anunciando on line. Estavam sentados perto da janela. Com os cardápios distribuídos, Grace olhava as entradas com o coração apertado. Não estava com fome e, sinceramente, sentia-se enjoada. Nem podia olhar para o rosto falso de Tom, sem se lembrar da maneira deliberada como tentara enganar seu irmão. — O que vai querer? — Para seu desgosto, Tom inclinou-se para ela e examinou o cardápio sobre o seu ombro, falando. — O filé e a torta de rim são ótimos. O carneiro também. É criado aqui, você sabe. Grace conseguiu controlar o desejo de se afastar e deu de ombros. — Só quero uma salada. Estou acostuma a comer só um sanduíche no almoço. — Mais um motivo para se fartar hoje — declarou Tom, não entendendo a mensagem. — Vá em frente, os negócios podem garantir o pagamento. — Ele fez uma pausa e acrescentou. — Ou poderiam, se a esposa de Oliver não estivesse tentando me levar à falência. Grace lançou um olhar agoniado na direção de Oliver. Mas, embora esperasse que ele dissesse algo, mesmo que fosse apenas para dizer que Sophie era sua ex-esposa, ele continuou olhando o cardápio, sem comentários. Por fim, ele falou: — Creio que vou comer um hambúrguer. — Só então seu olhar encontrou rapidamente o de Grace. Era um olhar sem expressão, que a fez gelar. — Ah, ninguém vai querer uma entrada? — protestou Tom. — Isto devia ser uma ocasião social. Vocês dois estão se comportando como se estivéssemos comendo na lanchonete local. — Talvez devêssemos — falou Oliver, mesmo que, claramente, não dissesse o que seu irmão queria ouvir. — Se, como você tem tentado demonstrar, estiver à beira da falência. — O negócio não está à beira da falência—retorquiu Tom, raivoso. — E você sabe. Se apenas tivesse olhado os livros... — Já escolheram? A garçonete estava atrás deles, pronta para anotar os pedidos e os dois homens foram forçados a interromper a discussão, resolvendo o que queriam. Grace se decidiu por uma salada de presunto e Oliver confirmou o que dissera, pedindo um hambúrguer. Tom pediu a mesma coisa. — Algo para beber? A garçonete esperou. Tom olhou para Oliver e Grace. Depois, impaciente, exclamou. — Apenas uma garrafa de água mineral gasosa, Stacey. Obrigado. Precisamos da cabeça clara para negócios — completou irônico. A garçonete foi embora e Grace sentiu um súbito interesse pelo jogo americano sob o seu prato. Não queria estar aqui, pensou, e Tom fizera parecer importante. E ela nem sabia por que a queria aqui. Nem com o irmão dele desgostoso com a sua companhia. — Sabe quando mamãe e papai virão para casa? — perguntou Oliver, quebrando o horrível silêncio. Tom olhou-o estranhamente. — O papai não pode me ajudar, se é o que está pensando — ele respondeu. — Nem todos atraímos dinheiro como você. Ele fez alguns investimentos ruins recentemente. Sabe como é o mercado de ações. Da última vez que soube, ele estava pensando em vender a casa em San Luís e comprar um apartamento num daqueles condomínios de férias. Grace viu as sobrancelhas de Oliver se juntando. — Você não está falando sério. — Por que não? Muitas pessoas fazem isso. Especialmente as que estão ficando como eles. O rosto de Oliver endureceu. — Papai detestaria morar num apartamento, e você sabe disso. Metade do prazer dele em ter a casa é o terreno. Ele é um jardineiro, Tom, não um vagabundo de praia! Tom deu de ombros. — Isso não é problema meu. Oliver olhou-o fixamente. — Ele é seu pai! — E você, meu irmão, e muito bom no que fez para mim. Os olhos de Oliver se estreitaram. — Está dizendo que é minha culpa? Pelo menos, Tom teve a decência de abaixar a cabeça, mas suas palavras foram grosseiras. — Não exatamente. Mas devia ter me alertado quanto a Sophie. Droga, você devia saber como ela era. Grace não sabia para onde olhar. Já era suficiente estar presente numa reunião de família. Pior era ouvir Tom discutir a vida pessoal do irmão em público. Independente do que pensava e sentia, Oliver fora casado com Sophie por seis anos. E, a julgar por como se portara no dia anterior, ainda se preocupava com ela. Agora, Oliver olhava quase divertido para seu irmão. — Então, eu devia ter avisado ao homem que estava dormindo com a minha esposa que ela não era confiável — ele falou, pensativo. — Você esqueceu onde ela conseguiu o dinheiro para investir no negócio, ou pensa que vendi a minha casa porque não conseguia agüentar as lembranças infelizes que ela guardava? Tom corou e depois, pareceu subitamente envelhecido. — Você podia. Eu não posso. — Eu não podia — disse Oliver duramente. — Ela tirou metade de tudo o que eu tinha. Por que acha que moro num estúdio? Aprendi a nunca mais confiar numa mulher. Tom olhou de esguelha para Grace, que fechou os olhos, querendo que tudo acabasse. Imaginava que Oliver pensava o mesmo. — Todos sabemos que não é um apartamento comum — insistiu Tom e ela engoliu um gemido. — Eu gostaria de poder morar em Myer's Wharf. A expressão de Oliver enrijeceu. — Onde moro não é relevante — disse, enquanto a garçonete voltava com os hambúrgueres e a salada. — Tenho certeza de que Grace está cansada de nos ouvir discutir. — Olhou para seu prato, com aparente entusiasmo. — Mmm, parece bom. Grace deu um sorriso de gratidão, mas não teve certeza se ele notou, ou se apenas não se importou. Ainda assim, esperava desesperadamente que a comida mantivesse Tom de boca ocupada o bastante para ela conseguir comer um pouco de sua salada. Talvez pudesse ir embora antes do café. Podia pegar um táxi. Porém devia saber que não era assim. — Então, você está decidido a não me ajudar — quis saber Tom, o rosto desafiador. Apontou um dedo para o irmão. — Só espero que consiga dormir quando os negócios espatifarem. — Espere aí. — Aparentemente, Oliver tivera o suficiente e, embora o olhar lançado para Grace fosse impaciente, não hesitou, antes de continuar: — Você escolheu a vida que tem agora, então, assuma. Não é minha culpa se está levando chute na b... nos dentes! Tom rosnou e empurrou o prato para o lado, quase derrubando a água. — Vou ao banheiro — anunciou em voz alta. — Você fala com ele, Grace. Tente enfiar na cabeça dele que não sou o patife que ele pensa.
|
|||
|