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CAPITULO CINCO



CAPITULO CINCO

 

Oliver pediu a conta, imaginando por que a noite não tinha sido tão agradável quanto esperava.

Estava tudo lá: um restaurante íntimo, com atmosfera adequada; bom vinho e boa comida; e a companhia de uma mulher que ele conhecia e gostava, há seis meses, que até recentemente pensava seriamente em fazer parte permanente de sua vida.

Não que casamento estivesse em seus planos. Acha­va que ele e Miranda se entendiam e o relacionamento deles sempre se baseara em amizade, entendimento e sexo. Era advogada de uma empresa, treinada em Lon­dres e trabalhando em Newcastle, divorciada como ele e, depois de se conhecerem num coquetel de seu sócio, Andy Faulkner, tinham descoberto interesses em co­mum.

Porém, de certa forma, a noite se tornara amarga, com discussões sobre bobagens.

A conta paga, saíram para o ar frio e úmido de chuva, encontrando um táxi à espera, que Oliver pedira para chamar, e Miranda correu para o carro.

Oliver a acompanhou, ajudando-a gentilmente. Mas, ainda que ela esperasse claramente que ele fosse junto, se desculpou.

— Vou andar até em casa — falou, sabendo que as pa­lavras encerravam a noite. Miranda esperava que ele a acompanhasse como em outras ocasiões, passando a noite no confortável apartamento dela. Então, por que tal pers­pectiva, subitamente, parecia tão pouco atraente?

— Certo — respondeu ela, parecendo magoada. E curiosa também, pensou.

— Ligarei amanhã — disse ele, inclinando-se para beijar ligeiramente os lábios dela, antes de fechar a por­ta do táxi. Ergueu a mão, enquanto o carro se afastava. — Boa noite.

Eram uns dois quilômetros até o seu apartamento no porto, mas não se preocupou. Andar faria bem. Ajudaria a limpar sua mente e entender o que estava acontecen­do. Não era bebida. Embora sempre pedisse vinho para Miranda, ele só bebia meio copo. Definitivamente, ha­via algo que o incomodava.

Era fácil condenar Tom pela sua atual insegurança. Encontrá-lo novamente, saber que tinha rompido com Sophie, devia pôr as coisas em alvoroço, mas não acon­teceu. Sabia por que Tom viera procurá-lo. Pela confu­são na separação dele e de Sophie e o dinheiro que ela investira no negócio. Ainda assim, apesar da suspeita que Tom lhe fizera um grande favor, expondo as falhas de sua ex-esposa, Oliver sentia amargura. E o que acon­tecera no almoço, três dias atrás, ainda pairava em sua mente.

E ali estava, caminhando pela rua escura, temendo ser assaltado na rua vazia. A chuva, que apertava, es­pantara a maioria dos transeuntes. Pensando onde pode­ria estar naquele momento, não entendeu por que não se sentia mais culpado. A verdade é que, neste momento, não queria a companhia de Miranda. Não quando a ima­gem de outra mulher enchia seus pensamentos.

Grace Lovell.

Devia estar louco. Mas não conseguira pensar em mais nada nos últimos dois dias. Não fora tão ruim no fim de semana. Andy Faulkner o atraíra para um torneio de profissionais de golfe no sábado e, mesmo sem o en­tusiasmo de Oliver, apreciara a companhia; e no domin­go tinha ido ao escritório, pondo em ordem sua corres­pondência e encontrado mais trabalho para fazer.

Miranda não reclamara, dizendo que estava dando uns retoques numa citação e eles tinham concordado em se encontrar na segunda-feira à noite. Porém, ele tinha estragado o encontro deles e ajudaria se ela o dispensas­se, dizendo ter encontrado outra pessoa.

Inferno, uma semana atrás, estava pensando em con­vidá-la para morar com ele e agora, pensava na possibi­lidade de terminar tudo, sem lamentar. Não era verdade. Sentiria falta de Miranda. Nos últimos seis meses ti­nham sido muito próximos.

Não o suficiente, uma voz interior debochou. Talvez ele não fosse o tipo de homem com quem se envolver.

Mas sua frustração não era por Sophie. Pensava por que Grace perguntara se a achava atraente. Um homem não era o bastante para ela? Deus do céu, ela devia saber que a achava atraente. Pelo menos, fisicamente.

Encontrá-la com Tom na casa, realmente o abalara. Com que freqüência eles saíam para uma rapidinha no meio da manhã? Ou em qualquer outra hora do dia? Pa­recia que Sophie não havia exagerado e ele não tinha por que acreditar nela, mas, até sexta-feira, esperava que estivesse errada.

Lembrou de sua reação quando Grace abriu a porta, sentindo raiva de sua desilusão. Ao abrir a porta ela fi­cara corada e tivera até a graciosidade de parecer ligei­ramente envergonhada, quando seu irmão apareceu. E Tom parecia à vontade. Oliver quisera socar o rosto dele.

Mas não o fizera. Todos tinham sido civilizados, Tom desaparecendo para se vestir e Grace oferecendo um café, que recusou, enquanto aguardava. Honesta­mente, não devia ter ido lá e nunca repetiria tal erro.

Parou perto de Vicker's Wharf. À noite, a baía era uma profusão de luzes, os luxuosos apartamentos de frente para o rio parecendo cosmopolitas e ligeiramente deslocados. Onde anteriormente havia galpões, agora havia uma enorme área de entretenimento, com planos para futuras expansões.

O seu próprio apartamento, em Myer's Whart, ainda não fora incluído nos planos da cidade. Embora o gal­pão de baixo ainda estivesse vazio, negociantes lutavam para sobreviver ao longo do porto. No térreo, ele pegou o elevador comercial que servia o edifício. O aparta­mento dele era o único ali, mas geralmente gostava da privacidade e isolamento que tinha.

Nesta noite, entretanto, estava agoniado. Saindo do elevador no espaço que servia como sala de estar e cozinha, não sentiu o habitual prazer. Trancando as portas duplas que protegiam o elevador, ele atravessou o cô­modo escuro, indo para as janelas que ocupavam toda a parede. Lá fora, o rio parecia uma larga fita preta, escu­ra, sendo levada. Como ele, pensou. Em 34 anos de vida, não tinha aprendido nada?

Lógico, suspeitava de algo, quando Tom viera vê-lo. Mas seu irmão o convencera de que o centro de jardinagem ia bem, e ia. No entanto, mesmo sabendo que So­phie investira nele, nunca sonhara que Tom a deixara in­vestir tudo no negócio. Em circunstâncias normais, o fato de estarem separados não fazia diferença. Era nor­mal que Sophie precisasse de dinheiro para ter um apar­tamento próprio.

Mas parecia que Sophie não estava preparada para um compromisso. Ela queria se livrar e Oliver adivinha­va um pouco de vingança em suas exigências. Por que não? Ela devia estar se sentindo humilhada por Tom ter encontrado alguém para substituí-la. Era normal que ti­vesse ciúmes. Só não aceitava aquela lorota de que, por ela, nunca o teria deixado. Sophie sempre fizera o que queria e devia estar mortificada por ter sido, desta vez, passada para trás.

Ele cerrou os dentes. Também não gostava. E Tom trazer Grace Lovell para almoçar com eles parecera uma tentativa deliberada de provar que não tinha segre­dos para com ela. O que deixara Oliver realmente eno­jado foi como Tom deixou-a, para amaciá-lo. Quão longe de mulheres, a última das quais por acaso era a esposa de Oliver.

Pessoalmente, Oliver achava que estar "apaixona­do" era uma fantasia. Pensara estar apaixonado por Sophie, mas o tempo e o reconhecimento de suas pró­prias falhas mostraram que sexo tinha a maior participa­ção em sua fascinação por ela. O fato de ter se recusado ir para a cama com ele antes do casamento fora um po­deroso incentivo e ele tinha sido tolo o bastante para acreditar que, quando o anel dele estivesse em seu dedo, todos os problemas estariam solucionados.

Não fora assim. Oh, ela não mentira, ainda era vir­gem. Mas logo ele descobriu que não tinha sido difícil para ela negar-se àquela indulgência.

Contudo, ele ainda se convencera de que o amor de­les era a coisa mais importante. Por Deus, ele tinha 24 anos! O que sabia da vida? Naquela época, estava firme­mente convencido de que, à sua maneira, era tão virgem como ela, por motivos diferentes.

Em seis anos despertara rudemente. O romance de Sophie com Tom havia roubado dele qualquer confian­ça que tivesse em si mesmo, ficando em frangalhos. Por sorte, não durara muito. Quando voltou de Abbey, era um homem mais esperto e mais cínico.

Ainda assim, levara anos para perceber que aquilo que sentira por Sophie tanto fora desilusão quanto reali­dade. Mesmo seu romance com Miranda não afastara a imagem de Sophie. Somente quando viu Grace e falou com ela percebeu que a tristeza da ilusão que tivera com seu casamento estava totalmente acabada.

Então, talvez Tom merecesse algum crédito por aqui­lo. Afinal, havia tirado Sophie de suas mãos e, se agora descobrira que ela não era o aporte financeiro que espe­rava, não era problema de Oliver.

Mesmo assim, não queria que o negócio de seu pai falisse, pensou, servindo-se do café que tinha feito. To­mando um gole, sentiu o choque da cafeína invadindo seu corpo.

Levando a caneca para a sala, reconheceu que, se fi­zesse qualquer coisa para diminuir o aborrecimento de seu pai — inclusive evitar que ele tivesse de vender a casa na Espanha, o sonho de sua vida, mudando para um condomínio — ele o faria. Sabia que o velho era sonha­dor o bastante para chegar à falência tentando ajudar seu filho mais novo, e Oliver não podia deixá-lo fazer aqui­lo. Se pudesse.

Pensou que podia, enquanto ia para a janela, enfian­do a mão livre no bolso do roupão. Lembrando da últi­ma declaração que seu contador tinha enviado, sabia que podia, sem muita dificuldade, liberar fundos para proteger tanto o centro de jardinagem quanto a casa de seu pai, se o velho deixasse.

Talvez devesse fazer uma viagem à Espanha e falar pessoalmente com seu pai. Só visitara a casa uma vez, sempre arrumando desculpas sobre estar muito ocupado ou ter compromissos profissionais demais para fazer a viagem. Na verdade, queria evitar a simpatia de sua mãe. A sra. Ferreira nunca perdoara Sophie por traí-lo com seu irmão, sem perceber que Oliver preferia consi­derar aquele caso como passado.

Ele imaginava que tinha sido difícil para sua mãe não tomar partido, e o seu próprio comportamento não aju­dara muito. Ele permitira que tudo assumisse uma enor­me dimensão em sua vida. Estava na hora de dizer a ela como se sentia agora e ir em frente.

Como se sentia? Pensando positivamente, tudo ia muito bem, mas, para onde iria? Podia querer ajudar seu pai, mas, estava longe de querer tornar as coisas fáceis demais para seu irmão. Tom merecia suar um pouco, Deus sabia, ele tivera a sua luta.

E quanto a Grace?

Percebendo que precisaria ligar para Miranda hoje e-se desculpar por encurtar a noite deles, desviou o pensa­mento. Pela primeira vez, desde que a conhecera, não queria ligar para ela. Talvez devesse retardar a ligação, apenas por um ou dois dias, pensou, disfarçando a sua covardia. Até resolver o que fazer.

 

 



  

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