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CAPÍTULO QUATRO



CAPÍTULO QUATRO

 

Vou sair daqui logo, Oliver pensou, duramente. Por que diabo fora ao centro de jardinagem ao invés de ir direto para o restaurante?

Sabia. Grace Lovell, sentada diante dele, cuja beleza morna e corpo curvilíneo atormentavam seus sonhos.

Linda tal como ele imaginara. Os olhos verdes e os gloriosos cabelos, realçados pela blusa. Pensou como seriam numa corrente sedosa acobreada sobre um tra­vesseiro. O seu travesseiro. Ele e Tom estariam destina­dos a querer as mesmas mulheres?

Não. Afastou o pensamento. Estava sim, atraído por Grace Lovell, mas não pretendia tomar qualquer atitu­de. Estava óbvio, como Sophie dissera que ela e seu ir­mão tinham algo. Se tivesse quaisquer dúvidas, elas ha­viam sido afastadas ao encontrá-los na casa de Tom.

— Lamento — falou subitamente e Oliver percebeu que ela estava se desculpando pelo seu irmão.

— Eu também — retrucou ele educadamente. Não havia razão de ser indelicado com ela só porque Tom era um idiota. Olhou em volta. — Normalmente é aqui que você e Tom almoçam?

Aquilo era pouco melhor do que "você vem aqui com freqüência?", ele gemeu internamente. Não ficou surpreso com o olhar dela.

— Não. Geralmente como um sanduíche na lancho­nete. Imagino que você almoce sempre com clientes.

— De jeito nenhum — Oliver ficou assombrado pela suposição dela e olhou para a porta onde Tom desapare­cera, nem sinal de seu irmão. — Às vezes sou forçado a ser gentil. Mas não passo todo o meu tempo lambendo meus clientes.

Ela olhou-o por entre os cílios.

— Não posso imaginar você lambendo alguém — fa­lou, ligeiramente ofegante, e Oliver sentiu-se enrijecer, percebendo que ela flertava com ele.

Ele podia se imaginar lambendo-a. Seus olhos desli­zaram pelos seios redondos. Quase podia imaginar o gosto dela, de seus mamilos duros e inchados. A pele dela devia ser suave e, como era quente, talvez um pou­co salgada. Ainda que ela não pudesse ser tão quente quanto ele, pensou, ajeitando sorrateiramente a calça apertada.

— Você não se parece nem um pouco com Tom. — Ele é mais novo do que você, não é? — Seus olhos en­contraram os dele. — Talvez por isso ele sinta que pre­cisa competir.

— Precisa competir? — Oliver queria saber aonde isso ia. Será que Tom a deixara para suavizá-lo para conseguir o que queria?

— Acho que sim. — Os olhos dela baixaram. Pegou, sem interesse um pouco de salada, evitando olhá-lo. — Mas ele não pode, e sabe disso. Você é o bem-sucedido e ele o inveja.

— É mesmo? Imagino que foi por isso que ele seduziu a minha esposa e a encorajou a conseguir um divórcio.

— Talvez. — Um leve rosado coloriu o rosto dela. — Se ela foi capaz de ser seduzida, talvez o casamento não estivesse funcionando. Pelo que soube, você nunca esta­va por perto quando ela precisava de você.

— Sophie é uma pessoa muito carente — disse ele, seco.

— E você não é?

— Eu não sou o quê?

— Uma pessoa carente — respondeu roucamente, e ele pensou o que mais ouvira sobre ele.

— Se isto é algum rodeio para me dizer que sabe que tive um problema com bebida, pode dizer. — Ele foi ás­pero. — Não tenho vergonha de admitir. Quando meu casamento se desfez, fiquei aos pedaços por um tempo.

O rosto de Grace ficou vermelho.

— Não quis dizer isto — disse, sem negar ter conhe­cimento.

— Certo. — Fazia tempo que não se sentia tão emba­raçado. Pensou no que dizer e então falou secamente: — Atrevo-me a dizer que você concorda com Sophie. Cer­tamente conhece Tom muito bem.

Grace franziu o rosto.

— Não sei quanto a Sophie, mas claro que conheço Tom. Ele foi gentil em me oferecer esse emprego, sem saber de minhas qualificações.

— Bom para ele. Obviamente, é muito mais atraente do que eu.

— Eu não disse isso — retorquiu Grace. — Você é um homem muito atraente e sabe disso. Pelo menos, as­sim acho.

Inicialmente, Oliver ficou na defensiva. Depois, per­cebeu o que estava acontecendo.

— Imagino que esse seja o verdadeiro motivo por Tom trazê-la junto — falou, achando que a sua primeira impressão estava certa. — Ele foi ao banheiro, dando tempo de você usar seus poderes de sedução e me fazer mudar de idéia?

— Não! — Grace ficou horrorizada e Oliver achou que ela era ótima atriz, ou talvez fosse sincera. — Se quer saber — disse, tensa —, ele queria que você acre­ditasse que estamos juntos, para que aceitasse o fato dele não estar interessado em sua ex-esposa.

— Ah, eu sei que ele não está interessado em Sophie. Grace pareceu estranhar.

— Bem, então entendi errado. E posso entender a sua amargura. Você e Sophie foram casados por tanto tem­po.

Subitamente, Oliver sentiu-se irritado. Não queria a simpatia dela.

— Não sou amargo — quando ele falou, percebeu que era verdade. Não era. — Como você disse, prova­velmente houve erros dos dois lados.

Grace hesitou.

— Você... tiveram filhos?

Os lábios de Oliver apertaram.

— Não. Acho que é outro ponto contra mim.

— Você não queria uma família?

— Isso é da minha conta, não acha?

— Eu gostaria de ter uma família — de repente, sua voz estava baixa e íntima. — Acredite, ser filha única não é bom.

Oliver ficou perturbado com as imagens que suas pa­lavras criaram. Podia imaginá-la tendo um bebê, a figu­ra esbelta inchada com a criança que carregava. A crian­ça de Tom, pensou, afastando qualquer outra alternati­va. Era difícil pensar que seu irmão daria um bom pai.

— Tenho certeza de que conseguirá o que quer — ele olhou em volta, pensando onde diabos seu irmão se me­tera.

— Você pensa em casar de novo?

Grace parecia determinada a fazê-lo falar e Oliver olhou-a fixamente.

— Não se puder. Penso em seguir o exemplo do meu irmão. Por que comprar um livro se pode se associar a uma biblioteca?

— Você não é disso. — O rosto dela não mostrava o desagrado que ele esperava. — Como eu disse, você não é como Tom.

— Posso ser. Você não me conhece.

— Não. Mas se fosse, não teria me acusado de vir para seduzi-lo. Não que eu quisesse fazer isso, mas se quisesse você teria aceitado.

Oliver não pôde deixar de ficar intrigado com a can­dura dela.

Está dizendo que eu podia me comportar como o tom e tentar seduzir a namorada dele? Não sou tão pre­visível.

— Por que não? Não me acha atraente?

Oliver cerrou os lábios, não pretendia dar aquela sa­tisfação a Tom. Então, para seu alívio, o irmão voltou para a mesa e não respondeu.

— Café? — perguntou, enquanto Tom grunhia e se largava na cadeira.

— Por que não? — ele falou, lançando um olhar in­quisidor a Grace. — Não estamos com pressa, estamos, nenê?

— Você pode não estar — retorquiu ela, surpreen­dendo os dois quando levantou, pegando sua bolsa e ca­saco. Evitando os olhos de Oliver, ela acrescentou, se­camente — Foi ótimo conversarmos, sr. Ferreira. Tom, eu o verei no escritório.

Sr. Ferreira?

Oliver ainda digeria isso quando Tom se levantou para protestar, fazendo-o imaginar onde estaria seu ir­mão na longa ausência. Apostava que não no banheiro.

— Você não pode fazer isso — exclamou Tom, irri­tado, enquanto Oliver, hesitante, se levantou. — Você não tem transporte.

— Posso pegar um táxi — respondeu Grace, indo para a porta. Oliver foi forçado a aceitar que não podia segui-la, quando Tom sentou-se.

Grace acabou indo a pé. Era mais seguro do que esperar na porta do restaurante, correndo o risco dos irmãos resolverem sair. Ficaria feliz se nunca mais tivesse que ver qualquer um deles, o que era patético. Ela nunca bancara a tola e só queria ficar num lugar protegido, para lamber as suas feridas em particular.

Gemeu internamente, lembrando do seu erro crasso. Realmente perguntara se Oliver a achava atraente? Deus! Desde o início, estava claro o que ele pensava dela e atraente não fazia parte daquilo.

Quanto a Tom, detestara o comportamento dele. Oli­ver devia ter-se imaginado almoçando com um par de degenerados.

A caminhada para o centro de jardinagem era de qua­se dois quilômetros e, ao chegar lá, seus tornozelos doíam. Ela não esperava andar tanto com as botas de salto alto por estradas tão irregulares.

Quinze minutos depois, quando entrou no escritório, Gina olhou-a questionando, não fez qualquer comentá­rio. Grace foi para sua escrivaninha, onde tirou as botas, refrescando os pés quentes no piso azulejado. Se apenas os seus problemas curassem tão facilmente.

Estava furiosa com Tom por ter insistido que almo­çasse com eles.

Sabia o motivo. De um jeito ou de outro, Tom dava a impressão de que ela estava interessada nele. Não esta­va e nunca estivera. Quando o conhecera, achara que era divertido e pensara que era como o pai dele, um homem leve, de bom humor, que adorava apenas poder pôr as mãos na terra.

Mas, não era como George Ferreira. O centro de jar­dinagem era apenas um meio para um fim. Ele queria ser tão bem-sucedido quanto o irmão e, como não tinha cérebro para segui-lo numa universidade, fingira inte­resse por jardinagem, para persuadir seu pai a deixar o centro para ele.

Lógico que ela não sabia daquilo quando aceitara o emprego. Ficara realmente grata pela oportunidade. Ainda estava, mas gratidão era tudo. Sem qualquer de­sejo oculto de ocupar o lugar de Sophie. Até conhecer Oliver Ferreira, imaginava que não queria outro homem em sua vida.

Seus lábios apertaram enquanto fazia aparecer na tela o site em que trabalhava. Ordenou-se parar de pen­sar, estudando sem entusiasmo, os gráficos que dese­nhara para a abertura. A sua experiência com homens, ainda que pequena, não fora especialmente bem-sucedida. Por que pensara que Oliver Ferreira era diferente dos outros com quem saíra? Ser bonita, ela pensou sem falsa modéstia, parecia criar mais problemas do que re­solvê-los.

E podia imaginar como Tom reagiria se descobrisse que ela flertara com seu irmão. E Oliver deixara doloro­samente claro que a considerava — e ao seu comporta­mento — um embaraço.

Tinha acabado de se garantir que não ia se preocupar quando Tom chegou, entrando impetuosamente no es­critório. Já fazia quase uma hora que ela os deixara no The Crown. Grace esperava que o resto do encontro ti­vesse sido melhor do que quando partira. Mas, um olhai para o rosto de seu empregador foi suficiente para afas­tar aquele desejo, além de dizer "Venha no meu escritório, Grace", sem qualquer consideração pelo trabalho que fazia.

Até Gina olhou-a com simpatia quando foi forçada a calçar os pés doloridos nas botas e deixar o computador. Atravessou o escritório, tentando esconder seu ressenti­mento.

— Feche a porta.

A voz de Tom foi brusca, mas Grace apenas encostou a porta, recusando obedecer ordens grosseiras. Além do mais, se fosse despedi-la, queria que Bill e Gina escu­tassem. Não sabia muito sobre demissões injustas, mas o termo "assédio sexual" parecia se adaptar.

Tom afundou na cadeira e, sem preâmbulos, exigiu:

— Por que diabo você fugiu daquele jeito? O que ele falou? Se a insultou, quebrarei aquele pescoço maldito!

Grace pensou que precisaria alguém maior e muito mais forte para quebrar o pescoço de Oliver Ferreira, mas guardou seus pensamentos.

— Não — respondeu, parada diante da escrivaninha. — Na verdade, ele foi muito... gentil. Muito educado.

— Então, esse pilar de polidez nada disse para ofen­dê-la?

— Não.

— Então, você se importa de me dizer por que saiu correndo do Crown como se o próprio Satanás estivesse em seus calcanhares?

Não o fiz. — Umedeceu os lábios, para ganhar tempo de ensaiar um argumento. — Mmm... senti vontade. Você tinha sumido, parecendo que para sempre, e nós, isto é, Oliver e eu, nada tínhamos a dizer um ao ou­tro.

Tom não pareceu acreditar.

— Vocês devem ter falado sobre algo.

— Falamos. — Pensou como se sair daquilo. — Por Deus, onde você estava? E não finja que passou vinte minutos inteiros no banheiro!

— Certo — ele falou, na defensiva. — Estava no bar.

Por que não? O sacana estava gostando da minha humi­lhação.

— Não creio que seja verdade. — Grace não podia deixá-lo falar mal do irmão. — Eu disse a você que não era razoável esperar que Oliver o ajudasse. Durante mais de quatro anos, você mal falou com ele.

— Qual é o seu ponto?

— Você sabe, Tom. — Respeitando a privacidade dele, ela encostou na porta, até fechá-la. — Você se co­locou nessa bagunça. Agora tem que se livrar dela sozi­nho. Fale novamente com Sophie, peça mais tempo.

— Contei o que ela disse na noite passada, enquanto estava fora, se divertindo.

Grace não o contradisse.

— Bem, duas semanas é um começo. E certamente, depois de viverem juntos tanto tempo, ela ainda tem al­gum afeto por você.

— Sophie só tem afeto por si mesma. Não se importa quem ela magoa desde que tenha o que deseja. Ela quer Oliver de volta, eu sei. Tenho pena dele, se aceitar.

 

 



  

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