Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





CAPÍTULO VIII



 

Quando a orquestra de Kenny começ ou a tocar a mú sica Comigo Você Ficará Bem, o restaurante já estava vazio. Wilma continuava sentada sozinha, terminando seu sorvete com calda de cereja. Kenny tinha mandado o garç om servi-lo, como lembranç a dos tempos em que os dois o tomavam juntos.

Wilma ouvia a mú sica e sabia que, quando ela terminasse, os rapazes recolheriam os instrumentos. Seria a hora de deixar o clube e partir... para o apartamento de Kenny.

Parecia tã o puritano nã o querer ir para lá, mas ela nã o podia esquecer sua experiê ncia em Monte Carlo... Tinha confiado num homem e se desiludido totalmente. Alé m disso, nã o conseguia deixar de pensar que Daniel poderia sair à sua procura.

Perdida em pensamentos, deu um pulo quando foi tocada no ombro.

— Sou eu — disse Kenny suavemente. — Você gostou do sorvete?

— Delicioso.

— Ó timo. Vamos entã o?

— Eu... tenho de pagar a conta.

— Já está tudo acertado. Vamos, Wilma. Temos de conversar, nã o é?

Ela se levantou e Kenny ajudou-a a vestir o casaco.

— Kenny...

— Estou ouvindo, crianç a.

— Eu... preciso reservar lugar num hotel para passar a noite.

— Eu sei, mas quer falar comigo e estaremos mais confortá veis em meu apartamento. Por sorte, ele nã o fica longe do clube. Disseram que o vento está muito forte e que já provocou danos nos cabos elé tricos. Espero que as ruas nã o estejam totalmente à s escuras, para que possamos ir de carro.

Kenny parou ao lado dos rapazes da orquestra para pegar seu casaco. Eles estavam guardando os instrumentos e trocavam olhares maliciosos entre si.

— Divirta-se, Kenny — disse um deles, dando uma piscada para Wilma. — Você arranjou uma bela acompanhante. Posso ir junto para tocar mú sicas româ nticas com meu sax?

— Vá para o diabo — disse Kenny alegremente. — Mas volte amanhã de manhã.

— Você conseguirá vir amanhã de manhã? — o rapaz retrucou. Kenny e Wilma afastaram-se, enquanto o rapaz do sax tocava um trecho de uma mú sica.

— Eles sã o um bando de crianç as malcriadas e charmosas — Kenny comentou com carinho. — Nã o ligue para as insinuaç õ es deles.

— Ah, eu nã o ligo.

Wilma sorriu, mas nã o tinha certeza se nã o ligava mesmo. O Kenny daqueles dias dos sorvetes com calda de cereja havia se tornado um homem seguro. Aliá s, ele ficava bastante atraente em seu casaco de couro.

Ele a conduziu para fora do clube, e as luzes das ruas estavam bem fracas. A chuva havia diminuí do, mas o vento fazia um barulho terrí vel.

— É melhor irmos depressa — disse Kenny, abrindo a porta do carro para ela.

— Que carro bonito! Como você melhorou de vida ultimamente!

— Por que nã o? — Ele entrou no carro rapidamente e fechou a porta. Seus olhos brilharam quando a olhou por um momento. — E olhe só para você! Realmente deixou meus rapazes impressionados, com toda essa beleza e esse bronzeado. O que eles pensaram fez com que eu me sentisse o má ximo.

— E o que eles pensaram, Kenny?

— Que eu a estava levando para casa para fazer amor com você.

— E pretende fazer isso?

— Você gostaria, Wilma?

— Eu quero conversar, Kenny. Você prometeu me ajudar.

— Vou ajudá -la a se livrar daquele grego... nã o tenha a menor dú vida. Só estou preocupado de você nã o querer se livrar dele.

Kenny deu a partida no carro e eles pegaram a estrada. Agora as luzes pareciam ainda mais fracas. Só os faró is de outros carros conseguiam iluminar alguma coisa.

Wilma estava apreensiva. Parecia que, para qualquer lado que se virasse, sempre depararia com o problema da atraç ã o fí sica. A atraç ã o fí sica enchia seu corpo de uma â nsia que era quase uma dor. E que poderia ser aliviada... nos braç os do homem certo: Daniel. E ainda assim ela precisava fugir dele, porque nunca poderia pertencer a ele do jeito que gostaria.

Ter um caso com Daniel nunca seria suficiente... Queria se casar com ele. Desejava fazer as promessas de amor diante de um altar. Havia muita beleza naquele sonho e Wilma queria vivê -lo com Daniel... ou nã o ter nada.

Acordou de seus pensamentos quando Kenny brecou o carro em frente a um conjunto de pré dios.

— Decida, Wilma — ele murmurou. — Acho que tenho forç as para virar o carro e levar você até aquela mansã o, se for o que realmente quer. Mas já vou avisando que, se voltar para minha vida, nã o vou deixá -la mais escapar. Portanto, escolha agora de uma vez por todas.

Wilma tinha escolhido e nã o havia jeito de voltar atrá s.

— Espero você na entrada — disse ela —, enquanto põ e o carro na garagem.

Wilma saiu do carro e o vento atingiu seu rosto. Correu para a entrada do pré dio que Kenny tinha apontado. Novamente pensou que talvez nã o devesse ter vindo para o apartamento dele. Poderia ter insistido em ir para um hotel. Mas lá, num quarto impessoal, teria se sentido horrivelmente sozinha.

Por outro lado, se Daniel a encontrasse com Kenny, tudo estaria terminado de uma vez por todas. Ele acharia que ela estava ali para passar a noite com Kenny... Para Daniel, ela nã o tinha integridade desde o incidente no Hotel Cyrano. Por causa daquele escâ ndalo, desde o princí pio Daniel se mantivera afastado emocionalmente dela.

Kenny chegou naquele momento e pegou seu braç o, interrompendo seus pensamentos. Os dois foram para o elevador e subiram até o dé cimo andar. Quando puseram os pé s no corredor, todas as luzes do pré dio se apagaram. O elevador també m ficou escuro e sem movimento.

— Droga, a eletricidade foi cortada! — disse Kenny.

Ele começ ou a mexer nos bolsos. Finalmente encontrou o isqueiro e acendeu-o. Os dois seguiram até uma porta e Kenny destrancou-a.

— Cuidado — ele avisou ao entrarem. — Eu tenho uma dessas luzes que funcionam a bateria. Espere aqui, Wilma, enquanto vou buscá -la.

Ele seguiu com seu isqueiro, deixando Wilma na mais completa escuridã o. Agora que estava ali, no dé cimo andar de um pré dio sem elevador, cujas escadas conduziriam a ruas totalmente escuras, ela pensava que nã o havia jeito de sair dali até que a eletricidade voltasse. E aquilo poderia durar horas, pois consertar os cabos no meio daquela tempestade seria muito arriscado.

Kenny saiu do quarto carregando a lâ mpada acesa.

— Você está nervosa? — ele perguntou sorrindo. — Ainda bem que a eletricidade acabou depois que saí mos do elevador. Ao menos podemos ficar no conforto da minha sala.

Deixou a luz sobre a mesa e os dois se sentaram.

— Talvez tenha sido melhor assim — Kenny comentou com uma risada. — Se estivé ssemos a caminho da Mansã o da Lua Cheia, agora estarí amos em perigo naquela estrada costeira. Pode imaginar como o mar está revolto por causa do vento?

Wilma sentiu uma dor no coraç ã o ao pensar em Daniel naquela estrada, procurando por ela!

Kenny tirou seu casaco de couro e jogou-o no sofá. Depois aproximou-se de Wilma para tirar o casaco dela. Wilma ficou tensa ao senti-lo tã o pró ximo.

— Nã o consigo acreditar no quanto você cresceu... — Kenny comentou. — Tornou-se uma mulher superatraente, sabe? É claro que já era bonita como adolescente, mas agora... Agora está uma coisa de enlouquecer.

— É essa luz fraca e o barulho da tempestade — Wilma brincou. — Quanto tempo você acha que ficará sem luz?

— Quem pode saber? Terá que dormir aqui comigo, Wilma...

Nessa escuridã o, as ruas ficam muito perigosas e nã o posso deixar você ir a um hotel, se é isso que está pensando em fazer.

— Acho que nã o sou tã o boba. Espero que nenhum de nó s dois deixe que esta escuridã o... nos perturbe.

Ele riu.

— Que maneira mais britâ nica de se expressar, Wilma!

— Você també m é inglê s, nã o é, Kenny?

— Sim e nã o. Agora sou o chefe de minha pró pria gangue. Ambos mudamos um bocado desde que nos separamos. Nã o sou mais o garoto tí mido, amigo de seu pai, Wilma. Nó s dois crescemos e temos de nos ver como homem e mulher.

— Kenny, eu procurei você como uma amiga porque preciso de ajuda. Mas sei que a sensaç ã o de perigo aumenta as emoç õ es. Um homem e uma mulher num apartamento, separados do mundo por uma enorme escuridã o, vendo um ao outro por uma luz fraca... Isso tudo pode criar um certo clima de intimidade. Mas nã o poderia significar nada real ou durá vel... Eu vou voltar para a Inglaterra. É lá que quero ficar!

— Para fugir de algué m que magoou você?

— Nã o estou magoada. Só estou enfrentando a realidade.

— Você me disse que o grego nã o significava nada para você. Mas, quando uma mulher foge de um homem, tem de haver um; razã o qualquer. Você s fizeram amor?

— Olhe, eu nã o vim aqui para responder a um interrogató rio, Kenny. E nó s dois sabemos que uma atraç ã o fí sica nã o significa paixã o nem devoç ã o.

— Entã o sente-se fisicamente atraí da pelo grego?

— Sinto, se quer saber. Nã o sou feita de má rmore... Nã o houve mulheres em sua vida, Kenny, que você desejou por puro prazer, como Daniel me deseja?

— Entã o é isso? Um caso sem futuro?

— Nã o tivemos um caso. É isso o que eu quero evitar... Um caso vazio que nã o deixa nada, exceto arrependimento... Mas ele tem meu passaporte e outros documentos importantes. E eu preciso deles. Só que nã o posso procurar Daniel para pedir. Você tem de compreender, Kenny, sou uma mulher.

— É claro. Eu estou sendo um bruto. O que você precisa é de um café forte e doce, mas sem eletricidade nã o podemos fazê -lo. Teremos de quebrar o galho com um drinque... Tenho um conhaque francê s. Você aceita?

— Com prazer.

Wilma sentia mesmo que precisava de alguma coisa para relaxar. Mas nã o era por causa de Kenny que estava tensa, embora percebesse que ele també m era um homem atraente. Tocou na orquí dea que ele lhe dera... Nos velhos tempos, antes de Daniel, teria amado Kenny se ele fosse como agora?

Observou-o servindo o conhaque. Sabia que seria fá cil voltar-se para ele, um amigo, para esquecer Daniel. Seria capaz disso?

Lá fora, na escuridã o, o mundo parecia completamente à mercê do vento e as janelas batiam com violê ncia. Wilma rezava em silê ncio: " Por favor, Deus, por favor, faç a com que Daniel fique em casa e nã o saia para a estrada. Oh, meu Deus, eu nã o suportaria se acontecesse alguma coisa com ele por minha causa! "

Wilma nã o conseguia esquecer... Continuaria lembrando cada momento em que estivera com ele. Mesmo naquela noite, tinha recordado todas as horas que passaram juntos no Dinarzade... Danç ando um nos braç os do outro... Jogando na roleta...

Sabia que, se queimasse no fogo grego de Daniel, nunca mais sentiria o mesmo nos braç os de um homem; nunca mais sentiria aquela vontade de se entregar completamente de corpo, alma e coraç ã o.

Wilma estremeceu e fez forç a para parecer tranqü ila quando Kenny se aproximou com os cá lices.

— Isso vai acalmar seus nervos — ele disse, oferecendo a bebida.

— Saú de!

Kali hara — Wilma respondeu sem pensar.

Kenny a encarou por um momento, depois tomou um grande gole do conhaque. Wilma fez o mesmo. Nã o consigo evitar, ela pensou. E será sempre assim, pois o grego Daniel está dentro de mim.

— Você vai me fazer aquele favor? — ela perguntou em voz alta. — Vai procurá -lo para pedir meu passaporte e meus documentos de volta? A mã e dele guarda tudo numa escrivaninha. Mas agora que madame Demonides está no hospital, só ele tem a chave. Eu... ficarei muito agradecida, Kenny.

— Agradecida a ponto de assinar um contrato comigo como cantora?

Foi a vez dela encará -lo.

— Você nã o está falando sé rio!

— Nunca falei tã o sé rio, Wilma. Agora nã o fique me olhando como se eu estivesse sugerindo o impossí vel... Você sempre teve uma voz muito especial, mesmo quando tinha dezoito anos. Nunca me esqueci do jeito que cantava Noite calada. Lembro de quando cantou para seu pai, pouco antes de ele morrer. Jeff sorria, como se nã o sentisse mais dor, e acredito que nã o sentia mais mesmo. O mé dico disse que ele tinha melhorado, lembra?

— Lembro cada momento, Kenny. Cada detalhe.

— Você tem estilo para cantar, Wilma. Canta de uma maneira muito especial. Está faltando uma cantora na nossa pequena orquestra e, francamente, eu adoraria que se juntasse a nó s.

— Eu... nã o sei se quero ser cantora novamente, Kenny. Esse tipo de vida nã o deu certo para mim. Você sabe, é maravilhoso cantar para as pessoas, mas depois a gente fica sozinho num quarto com os pró prios pensamentos...

— Eu sei. Mas desta vez você estará comigo e com os rapazes. Nã o haverá solidã o. Quando sairmos daqui, viajaremos para a Á ustria. Vamos fazer uma temporada no Linden Schloss, um hotel muito chique nos Alpes. Lá, as pessoas costumam esquiar durante o dia e danç ar à noite, e a paisagem é fantá stica. Entã o, nã o fica tentada? A Á ustria na primavera, quando a neve derrete nos lugares mais baixos e as flores reflorescem de vida. Seria inesquecí vel!

Wilma o ouvia, como se estivesse distante. Mas quando ele falou a palavra " inesquecí vel", estremeceu. Daniel tinha dito que seus olhos eram inesquecí veis...

— E entã o, à noite — Kenny continuou —, você terá uma enorme cama entalhada, com um colchã o de penas de ganso e tudo o mais.

— Parece delicioso — ela disse vagamente. — Será uma temporada muito gostosa para você e seus rapazes.

— E estou convidando você para vir conosco, Wilma. Eu a olho e fico imaginando como seria para nó s... Entre castelos barrocos e jardins maravilhosos... Uma vida nova, o começ o de algo precioso. Vamos, nã o fica tentada a aceitar meu convite?

— É claro que fico. Tenho um pouco do sangue de Eva em minhas veias.

— Do jeito que você fala, parece que eu sou a pró pria tentaç ã o e nã o um homem que quer ajudá -la a esquecer o demô nio que a machucou. Eu sei que ele nã o a machucou fisicamente, mas mexeu com suas emoç õ es. Seja razoá vel, o que deixou na Inglaterra para querer voltar? Nã o tem uma casa lá e sei també m que nã o tem parentes muito pró ximos. Sua vida seria solitá ria, morando num apartamento londrino, fazendo um trabalho sem graç a. O que ofereç o é a possibilidade de você voltar a cantar. Aposto que sua voz se tornou mais madura e sensual.

— Você está me lisonjeando. Estou totalmente sem prá tica, tanto para cantar quanto para tocar violã o.

— Isso pode ser remediado facilmente, e você sabe disso. Wilma, comigo e com os rapazes para acompanhá -la, pode se tornar uma grande sensaç ã o... com seu jeito, seu estilo! Agora eu conheç o o negó cio muito bem e sei que poderia transformá -la numa estrela.

— Kenny, você fala como...

Ela parou, mordendo o lá bio. Ah, sim, a oferta dele era tentadora. E ele tinha resumido muito bem como seria sua vida em. Londres. Ela nã o era exatamente uma enfermeira, portanto seria muito difí cil trabalhar num hospital... É claro, poderia ser dama de companhia, mas nã o conseguia imaginar outra patroa como Charmides. Apesar de ser exigente, era uma mulher correta e de cará ter, com muito charme.

— Por que hesita? — Kenny perguntou, surpreso. — Ofereç o a você as luzes mais brilhantes, a excitaç ã o de viagens de trem e aviã o, os aplausos gratificantes de um pú blico enorme!

— Preciso de tempo para pensar, Kenny.

— Você terá tempo. Terminamos a temporada no Dinarzade daqui a oito dias... O mundo foi criado em apenas sete.

— Como você se tornou persuasivo!

— É meu lado judeu, eu acho. O que você quer da vida, se nã o se tornar uma estrela?

— Eu nã o sei...

— Acho que sabe com o coraç ã o, mesmo que sua cabeç a nã o concorde. Fale para mim!

— Nã o posso...

Wilma levantou e caminhou até a janela. O vento batia com tanta for­ç a, que parecia querer arrancar os vidros e os tijolos de seus lugares.

— Você acha que a tempestade vai durar a noite toda? — ela perguntou.

— Imagino que sim, mas você está a salvo aqui. Seria absurdo sair. O vento está suficientemente forte para derrubar um carro. Wilma, você está tremendo!

Ele fez um movimento em direç ã o a ela, mas Wilma recuou, com um gesto que falava por si só. Kenny entendeu e sentou novamente. Apó s alguns segundos, tirou um cigarro do bolso e acendeu. Wilma tentava controlar os tremores que percorriam seu corpo.

— Você é uma româ ntica — Kenny constatou, com um sorriso irô nico. — E acho que procurou o tipo de amor que é o paraí so e o inferno ao mesmo tempo... É esse o tipo de amor que os româ nticos procuram. Eles querem tocar as estrelas e tomar o vinho mais á cido, por mais louco que pareç a.

— É loucura sim — Wilma concordou, sabendo que era verdade. Houve momentos em que se sentiu nas estrelas, nos braç os de Daniel. E outros em que os dois brigaram, trocando palavras á speras. Na ú ltima vez que esteve nos braç os dele, ele a chamou de deusa... e depois a rejeitou...

— Meu pai — Kenny continuou — era um alfaiate muito inteligente e talentoso. Passou a maior parte da sua vida fazendo ternos que muitas vezes duravam mais do que os homens que os compravam. Ele dizia que, num verdadeiro casamento, o casal tinha de se ajustar como um par de mangas num casaco bem cortado. Tinham de ser como se tivessem nascido um para o outro. Meu pai trabalhava muito e morreu quando eu tinha quinze anos, logo depois do casamento de minha irmã Sharon. Foi no casamento dela que ouvi meu pai dizer essa frase que nunca mais esqueci: que devia haver uma garota para cada rapaz e que os dois ficariam juntos como um par de mangas de um belo casaco.

— Você també m fala como um româ ntico, Kenny.

— Destinado a sofrer antes de conseguir o amor de minha vida?

Kenny falava alegremente, mas a olhava com intensidade. Wilma pensou entã o em quanto estavam isolados acima daquelas ruas vazias. Pensou como seria, se estivesse naquela situaç ã o com Daniel... Seria excitante quando seus olhares se encontrassem naquela sala quase escura?

Levantou-se num movimento brusco, como se quisesse afastar de si os pró prios desejos atormentados... Desejos que nã o poderiam ser aliviados com Kenny. Alé m disso, ele merecia encontrar uma mulher que o completasse inteiramente e que nã o ficasse pensando em outro homem.

— Acaba de me ocorrer — disse ela — que, se a bateria da sua lâ mpada acabar, ficaremos na mais completa escuridã o.

— É verdade. Espero que ela dure.

— Pode nã o durar, Kenny. Devemos pensar em nos acomodar para passar a noite.

— Ficaremos confortá veis como dois gatinhos enrolados ali. — Ele apontou para a porta que conduzia a seu quarto. — Nã o tem sentido que um casal de adultos nã o enfrente os fatos... Eu quero você e você precisa de algué m que nã o a amedronte, mas que a conforte. — Ele se aproximou, como se fosse tomá -la nos braç os. — Uma vez comprometidos, todo o resto entrará nos eixos... A temporada na Á ustria, você cantando com a orquestra, talvez possamos até tornar as coisas permanentes...

— Nã o, Kenny!

— O quê? — Ele parou, como se tivesse levado uma bofetada. — Mas você disse...

— Disse que deverí amos pensar em nos acomodar. Se você tiver um cobertor extra, posso dormir neste sofá muito bem até amanhã de manhã.

— Você está me gozando, Wilma! Nã o pode provocar um homem e depois informá -lo calmamente de que pretende dormir no sofá. Eu nã o vou permitir!

— Entã o eu sairei e arriscarei chegar a algum lugar com essa escuridã o mesmo!

Wilma foi apanhar seu casaco e a bolsa, disposta a sair em meio à tempestade. Tudo era preferí vel a ter de enfrentar mais uma exigê ncia masculina. Tinha confiado em Kenny como um amigo, mas agora estava mais do que claro que ele a queria como amante...

Nã o podia negar que Kenny era um homem atraente e que seria fá cil encontrar conforto em seus braç os por uma noite. Mas quando amanhecesse, ela teria de dizer-lhe que nenhum outro homem poderia substituir Daniel em seu coraç ã o. Que ela corresponderia aos seus beijos como um robô e que chegaria o tempo em que, mesmo sem querer, começ aria a magoá -lo... Haveria o dia em que ela sussurraria o nome de Daniel e nã o o dele...

Kenny tinha dito para se portarem como adultos. E aquela era a melhor maneira de agir como adulta: ir embora era melhor do que fingir o que nã o sentia.

Wilma estava perto da porta, pronta para sair, quando Kenny disse:

— Eu tinha esquecido que, debaixo desse cabelo de ouro e desse rostinho doce, você tem uma vontade de ferro. Nã o mudou em nada, mas acho que eu deixei meu sucesso como regente subir à minha cabeç a. Fique aqui... Prometo me comportar.

Wilma voltou-se para Kenny, ainda disposta a ir embora... E teria ido, da mesma forma que tinha fugido no hospital ao ouvir a conversa entre Daniel e Troy. Só agora percebia que deveria ter ido direto para um hotel e ficado lá até o dia seguinte. Entã o, telefonaria para Troy Demonides, pedindo todos os seus documentos. Ele estaria mais do que disposto a deixá -la partir.

— Eu simplesmente nã o estou preparada para me envolver emocionalmente com algué m — disse Wilma. — E nã o quero ferir seus sentimentos. Quando só há amor de uma das partes é o inferno. Eu sei disso! Estou passando por isso!

— Aquele grego deve ser duro como uma pedra. Fazê -la sentir o inferno quando você nasceu para o paraí so... Meu Deus, como fui idiota há quatro anos! Eu poderia tê -la conquistado com um pouco mais de forç a e menos medo de machucá -la. Devia tê -la beijado até você perder o fô lego, e entã o você nã o teria dito " nã o" para mim. Que estú pido! Me comportei como um cavaleiro de uma ordem sagrada e você fugiu... Foi cair direto na armadilha daquele grego maldito, com seus dentes brancos, cabelo preto, e com um coraç ã o de pedra!

— Kenny...

— O que ele está querendo... uma herdeira? Ele é o tipo de homem que se casaria por dinheiro? Nã o percebe que o amor de uma garota como você vale mais do que uma montanha de ouro?

— Nã o é questã o de dinheiro. Ele está comprometido com outra. E alé m disso... — Ela parou, antes de falar sobre o escâ ndalo do Hotel Cyrano. Se Kenny nã o sabia de nada, aquele nã o era o momento para lhe contar. — Simplesmente há muita coisa para estragar, Kenny. A famí lia dele nunca me aceitaria.

— Francamente, Wilma, ele nã o parece o tipo que liga para o que a famí lia pensa sobre sua vida particular... Ele me pareceu um grande demô nio poderoso.

— É isso mesmo. Nã o devemos pedir para que nossos coraç õ es se quebrem contra uma rocha, nã o é? Eu tentei nã o gostar dele. Disse a mim mesma que ele só estava querendo se divertir, durante suas fé rias em casa. Mas parece que nã o temos controle completo de nossos coraç õ es. E o meu se abriu para ele, sem meu consentimento. Agora tenho de fugir dele, Kenny. Tenho de fugir sozinha para tentar esquecer.

— Mas isso nã o a enfraqueceria? Quando estamos sozinhos, ficamos cheios de pensamentos e lembranç as e nã o tentamos encontrar companhia para esquecê -los. Acho que seria melhor você ir para a Á ustria comigo e com os rapazes... A menos que receie que eu nã o me comporte.

— Eu... nã o sei o que seria melhor... nã o sei ainda.

De repente, sentiu-se muito cansada e fraca. Agora, tudo o que queria era deitar a cabeç a num travesseiro e dormir. Talvez, quando acordasse na manhã seguinte, pudesse resolver o que fazer.

Kenny a olhava carinhosamente.

— Você tem um cobertor e um travesseiro? — Wilma pediu. — Estou terrivelmente cansada e gostaria de dormir e esquecer o barulho do vento lá fora.

— Você vai dormir na cama e nã o quero ouvir nenhuma palavra de protesto.

— Mas eu ficarei perfeitamente bem no sofá...

— Feche sua linda boquinha. — Ele pegou a lâ mpada. — Vamos? Eu mostro o caminho.

Wilma seguiu-o até o quarto.

— Pode deixar a lâ mpada acesa — disse ele. — Pelo menos enquanto a bateria agü entar. Você ficará bem, Wilma? Nã o terá medo do vento batendo na janela? Ouç a, está fortí ssimo! Como um animal selvagem tentando entrar!

— Eu ficarei bem. Você é um homem muito bom, Kenny, e é por isso que nã o quero magoá -lo. Compreende?

— Compreendo, infelizmente. Nem é preciso dizer que eu preferiria ser magoado por você do que por qualquer garota que conheç o, nã o é? Seria uma bela experiê ncia... Está bem, está bem, posso ver seus olhos azuis gelando e estou de saí da.

Ele caminhou até a porta e parou por um instante. Entã o cantarolou um pedacinho da mú sica Comigo Você Ficará Bem.

— Boa noite, Kenny — disse ela fingindo braveza.

— Boa noite, minha doç ura. — Ele sorriu, saiu e começ ou a fechar a porta. E entã o colocou a cara para dentro e disse: — Nã o precisa trancar.

Sozinha no quarto, Wilma recomeç ou a pensar e pensar... Por que nã o era Kenny quem fazia seu coraç ã o disparar? Por que tinha de ser um homem que só a queria por algum tempo, para depois deixá -la quando estivesse satisfeito?

Ela olhou pela janela e seus pensamentos voaram até a Mansã o da Lua Cheia. Depois imaginou como estaria a estrada com aquela tempestade. Novamente rezou para que Daniel nã o tivesse saí do, tentando encontrá -la.

Wilma tirou a blusa e a saia e enfiou-se debaixo das cobertas. Depois apagou a lâ mpada para poupar a bateria. A escuridã o era total, como se um manto de veludo negro a envolvesse inteira. Ela fechou os olhos e o barulho da chuva embalou seus pensamentos. Lembrou-se das coisas que Charmides tinha dito... da acusaç ã o de Troy... e da ironia de Daniel com o irmã o.

Ajeitou a cabeç a no travesseiro, lembrando-se da ú ltima vez que Daniel a tinha beijado. As lá grimas começ aram a rolar em seu rosto, por mais que lutasse contra isso.

Nã o podia mais chorar por causa de Daniel... Faria todo o possí vel para esquecer que o tinha conhecido. Tinha de esquecer a excitaç ã o que ele despertava nela só de olhá -la. Ah, meu Deus, por que ele era tã o atraente? Por que ele precisava aparecer pela primeira vez saindo do mar à luz da Lua, como um verdadeiro deus pagã o?

Wilma estremeceu com aquela lembranç a... Será que o que ela sentia era pura atraç ã o fí sica, que esqueceria se fosse satisfeita? Se ela e Daniel tivessem realmente feito amor, agora ela estaria livre para ir embora com Kenny? E por que hesitava em ir com Kenny para a Á ustria? Será que nã o queria se comprometer, no caso de Daniel gostar dela de verdade? Ah, devia dormir, para nã o enlouquecer naquela escuridã o.

Wilma acabou caindo num sono profundo até o meio da noite. Foi entã o que acordou com a sensaç ã o fortí ssima de que alguma coisa tinha acontecido. Teria ouvido um grito... ou tinha sido a brecada de um carro?

Sentou-se e ficou ouvindo o barulho do vento contra as paredes do pré dio, e o tique-taque do reló gio de cabeceira.

De repente, a escuridã o se tornou insuportá vel e ela acendeu a lâ mpada. Eram trê s e meia da manhã. Wilma esperou que sua respiraç ã o voltasse ao normal, decidindo que tudo nã o passava de um sonho.

Nã o sentia aquela tensã o desde que seu pai tinha morrido. Quando ele estava doente, ela costumava acordar no meio da noite, como se algué m a chamasse.

Levantou. Andou pelo quarto para relaxar um pouco e deitou novamente.

 

 

Quando Wilma acordou, Kenny nã o estava mais no apartamento. Ele tinha deixado um bilhete na sala, juntamente com uns bolinhos. O bilhete dizia: " Querida Bela Adormecida, os bolinhos foram comprados numa padaria aqui perto e você verá que sã o deliciosos. Há manteiga e ovos na geladeira. Deixei també m café pronto na garrafa té rmica. Fui à Mansã o da Lua Cheia para pegar seus documentos e suas coisas, e já decidi que você precisa ir conosco para a Á ustria. Nã o posso nem pensar em deixá -la novamente sozinha no mundo. Seu grego tem charme, mas acho que eu tenho coraç ã o. Pense nisso! Seu, sempre, Kenny".

Wilma sorriu e foi tomar um banho rá pido. Depois tomou o café da manhã e descobriu que os bolinhos eram realmente deliciosos.

Ela ligou o rá dio na cozinha, sentindo-se aliviada por ouvir vozes depois daquela noite tã o assustadora.

" Mais uma vez, meus amigos, estamos felizes de poder informar que toda a eletricidade voltou ao funcionamento normal apó s a tempestade de ontem. Houve vá rios acidentes nas estradas ontem à noite, mas o mais sé rio aconteceu na estrada principal, tendo causado vá rias mortes e ferimentos em motoristas e passageiros. O engavetamento foi pouco antes da meia-noite, quando cerca de cinco carros colidiram com um ô nibus que vinha na direç ã o oposta. Dois motoristas ficaram tã o queimados que ainda nã o foi possí vel identificá -los. A operaç ã o de resgate foi bastante difí cil e tumultuada por causa da escuridã o. Os que foram seriamente feridos estã o no Hospital Sã o Benedito, aqui na cidade, e temos informes de que trê s deles correm risco de morte... "

O noticiá rio foi interrompido por comerciais. Wilma ficou parada com a xí cara de café na mã o, lembrando de como tinha acordado no meio da noite, como se algué m gritasse por ela.

E entã o, percebendo que nã o estava mais sozinha, ela virou-se e deu com Kenny parado na porta da cozinha. Ele colocou a mala dela no chã o e tirou um envelope grande do bolso. Wilma pegou o envelope, ainda sem entender completamente.

— O irmã o dele estava lá — disse Kenny. — Ele nã o criou dificuldades quanto aos documentos e o resto. A empregada arrumou suas coisas, enquanto ele pegava os papé is na escrivaninha da mã e... Eu estava saindo quando uma garota alta desceu a escada. Ela chegou perto de mim e segurou em meu braç o para perguntar se eu já sabia que Daniel havia sido ferido num acidente de automó vel na noite passada e estava no hospital... Ele nã o parava de perguntar por você, mas eles nã o sabiam onde encontrá -la. Daniel estava a sua procura quando aconteceu o acidente...

Kenny parou um momento, olhando para Wilma.

— Eu nã o ia lhe contar. Todo o caminho de volta fiquei me dizendo que era melhor você nã o ficar sabendo, que era melhor você esquecê -lo. Eu dizia a mim mesmo que poderia tomar conta de você. Mas pensei que nã o adiantava, quando lembrei do que aquela garota disse... que ele nã o parava de perguntar por você. Se puser um casaco, Wilma, eu a levarei até o hospital.

Wilma e Kenny nã o conversaram muito a caminho do Hospital Sã o Benedito. " Eu sabia", Wilma pensava. " Sabia que alguma coisa tinha acontecido. " Ela rezava para nã o encontrar outra cama de hospital vazia, depois de um paciente ter morrido ali, falando seu nome.

— Ele deve estar bem — Kenny murmurou. — Aquele irmã o dele de nariz em pé estaria no hospital, se Daniel corresse perigo de vida.

— Nã o tenho tanta certeza — Wilma respondeu. — Eles nã o se dã o bem... É engraç ado que Daniel seja tido como o mais duro da famí lia. Troy é feito de pedra.

— Entã o você acha que...

— Troy só liga para as propriedades da famí lia.

Naquele momento eles chegaram no hospital. Kenny entrou com Wilma e foi direto para a recepç ã o informar-se.

Soube que Daniel tinha sido trazido por volta das trê s horas da manhã. Ele estivera entre o grupo de resgate daquele acidente horrí vel na estrada principal. Ningué m percebeu que també m estava ferido até que ele desmaiou.

A recepcionista deu-lhes o nú mero do quarto e os dois dirigiram-se ao elevador.

Nã o devo chorar, Wilma dizia a si mesma. Ele vai atirar uma coisa em cima de mim se eu fizer isso.

Chegaram à porta do quarto, de onde uma enfermeira saí a. Ela estava corada e sorria, mas seu sorriso desapareceu quando viu Wilma.

— Podemos entrar no quarto? — Kenny perguntou.

A enfermeira concordou e ele abriu a porta. Os dois entraram e encontraram Daniel sentado na cama, sem a camisa do pijama. Ele olhou para Wilma com olhos faiscantes de raiva.

Kenny, senhor da situaç ã o, empurrou Wilma para perto da cama.

As pernas dela tremiam e ela teve que se segurar na cabeceira.

— Olhe aqui — disse Kenny, quase agressivo. — Antes que comece a insultar esta garota, eu vou falar sobre ela. Ela é a criatura mais doce, meiga, sincera e generosa que você jamais vai conhecer. Por que ela liga para um sujeito como você, eu nã o posso entender. Mas ela liga, e se ousar magoá -la de novo, sr. Demonides, vai se ver comigo. Eu a conheci quando seu pai ainda era vivo e os dois foram as melhores pessoas que encontrei depois que meu pró prio pai morreu. É, ela estava comigo ontem à noite. E, se você insinuar alguma coisa, vou quebrar-lhe algumas costelas a mais.

Daniel olhou-o, surpreso.

— Você acha que eu permitiria, sr. Devine?

— Hei!... — Wilma interrompeu-os, furiosa e aliviada por ver Daniel tã o bem. Ele estava apenas com algumas costelas quebradas. — Chega! Se você s começ arem a brigar, eu vou embora.

— Para o apartamento dele? — Daniel perguntou.

— Nã o! Para a Inglaterra. Já tive demais do que você pode me oferecer, Daniel. Viver a seu lado é uma batalha sem fim...

— Uma batalha de amor? — ele perguntou, estendendo a mã o para ela. — Quase perdi a cabeç a ontem à noite, pensando que você podia... Entã o lembrei que Devine estava na cidade e decidi arrancá -la dos braç os dele, de onde quer que você s estivessem.

— O pior é que ela nã o estava nos meus braç os — disse Kenny. — Bom, você s dois, eu estarei no clube. Os rapazes e eu temos de ensaiar algumas mú sicas.

— Kenny... — Wilma olhou-o por um momento. — Boa sorte na Á ustria. Será uma temporada ó tima.

— Poderia ser melhor, mas tudo bem. — Ele olhou para Daniel. — Essa garota é do tipo que se casa. Espero que você saiba disso, Apolo.

— Kenny — disse Wilma. — Eu contei a você... Há outra mulher. Só vim aqui para ter certeza de que Daniel está bem...

— Ela está delirando — Daniel disse a Kenny. — Nã o há ningué m a nã o ser ela... e nunca houve. Eu soube que me casaria com ela no momento em que a vi, na Mansã o da Lua Cheia.

— Daniel... — Wilma gaguejou — você disse a sua mã e... você me disse...

— Eu disse à s duas que havia uma garota com quem tinha de me casar. Mas que primeiro teria de descobrir se suportaria nã o ser seu primeiro amante. E descobri que posso suportar tudo, menos uma coisa... Perder você, Wilma. Eu revirei este hospital a sua procura, depois que saiu do quarto de minha mã e. Voltei para a mansã o como um louco, procurei na praia... Fiquei desesperado ao imaginar que talvez você tivesse ido nadar e se afogado. Depois lembrei do Clube Dinarzade e decidi procurá -la lá... o resto você sabe. Houve aquele terrí vel acidente e toda aquela confusã o na estrada. Entã o senti uma dor nas costelas e apaguei como uma lâ mpada.

Os dois ficaram se olhando e nã o perceberam quando Kenny fechou a porta atrá s de si.

— Eu te amo — Daniel murmurou. — Eu te amo loucamente. Simplesmente nã o posso viver sem você, Wilma Bird.

— Mas você pensa coisas terrí veis a meu respeito. Pode viver acreditando nisso?

— Foi tudo estupidez, tudo ciú me. — Ele a puxou para si. — Meu coraç ã o devia ter me avisado que você era apenas uma isca do divó rcio de Sadlier, totalmente inocente... Mas é que eu a via todas as noites cantando no restaurante e você parecia tã o... tã o terrivelmente pura... Estava planejando lhe falar quando aconteceu o escâ ndalo. Por que diabo nã o pediu minha ajuda naquela noite no corredor? Eu estava lá, vendo o que acontecia, e era como um pesadelo. Saí dali e passei a noite toda bebendo, mas continuei só brio. Voltei ao Hotel Cyrano, peguei minhas coisas e tentei esquecer você. E entã o Troy me escreveu contando sobre uma dama de companhia chamada Wilma... No fim, a curiosidade me trouxe de volta à mansã o. E quando eu a vi na praia aquela noite soube que já a amava irremediavelmente.

— Mesmo assim você nã o quis acreditar em mim... que eu era inocente e que nunca tinha sido amante de Myles Sadlier.

— É que eu nunca tinha amado ningué m antes. Você vai me perdoar?

— Por ser um grego cabeç a-dura? — Ela sorriu. — Você é possessivo e orgulhoso, nã o é?

— Acha que pode viver com um monstro desses? Ele começ ou a beijar os dedos dela.

— Ah, eu nã o sei se o chamaria de monstro. Um pequeno demô nio, talvez.

— Linda Wilma Bird, o amor torna os homens pouco razoá veis. E eu a amo com todas as minhas forç as... e você é suficientemente mulher para sentir isso!

— Ah, eu senti, sim!

— E entã o? — Ele tentou abraç á -la e logo soltou um grito de dor. — Malditas costelas!

— Daniel, querido, tenha cuidado!

— Você terá de tomar as iniciativas durante algum tempo. E eu quero um beijo...

Wilma beijou-o com muito carinho.

— A propó sito — ele murmurou contra os lá bios dela. — Eu ia levar uma coisa para você quando aconteceu o acidente ontem à noite. Está no meu bolso, se quiser ver.

— Num minuto. — Ela beijou o pescoç o dele e sorriu, com a certeza de ser amada.

Depois pegou uma caixinha no bolso dele. Havia um anel de safira com pé rolas, com alguma coisa escrita em grego, por dentro.

— O que quer dizer, querido? — Wilma perguntou.

— Para sempre — ele murmurou.

— Para sempre — ela repetiu suavemente.

 

* * Fim * *

 



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.