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CAPITULO VII



 

Daniel ficou completamente só brio e nã o houve necessidade de que Wilma dirigisse o automó vel. A chuva caí a pesadamente e o vento soprava forte, quando eles partiram para o hospital.

Wilma ficou quieta no carro, sentindo que seu braç o e o lá bio inferior ainda estavam um pouco machucados pelo jeito como Daniel a tinha tratado. Ela usava agora um casaco longo, de pele de leopardo, comprado nos bons tempos em que seu pai ainda vivia. Erguera a gola' do casaco, como se quisesse esconder-se de Daniel. Ainda sentia que precisava se defender, mas sabia també m que teria de relaxar antes de entrar no quarto de Charmides.

O vento assobiava com forç a contra as janelas do automó vel, mas entre Daniel e ela o silê ncio permaneceu até entrarem na cidade.

— Se você está esperando que eu peç a desculpas, pode esperar sentada — disse Daniel, por fim. — Nada me irrita mais do que sua cara de inocê ncia com relaç ã o a suas atividades em Monte Carlo. Por que ao menos nã o é honesta e admite que foi para lá para se divertir? E també m que, se nã o deu certo, a culpa foi toda sua?

— Como já disse, minhas atividades em Monte Carlo nã o tê m nada haver com você.

— Enquanto trabalhar para minha mã e, tê m tudo a ver comigo. Está na Mansã o da Lua Cheia há quase um ano e minha mã e confia e depende de você. Eu nã o gostaria que ela se decepcionasse por qualquer motivo... E nã o me diga que isso nã o é da minha conta, pois tenho uma razã o para querer que você seja de confianç a e que mude de vida.

— Obrigada. Mas nã o precisa se preocupar tanto. Quando você for embora, nã o deixará sua mã e nas mã os de uma pessoa que nã o presta. Nem de uma pessoa que seria capaz de convidar centenas de homens para desfrutar da praia particular de sua casa. Como já lhe disse també m, deixarei a mansã o assim que sua mã e estiver suficientemente boa para aceitar minha demissã o. Vou voltar para a Inglaterra.

— Sei. Espero nã o estar levando você a isso...

— Você está me levando para visitar sua mã e, nã o é? Nã o podemos ficar só com isso?

— Acho que precisamos, por enquanto.

Naquele momento, entraram no estacionamento do hospital. Assim que Daniel desligou o carro, Wilma abriu a porta e saiu. O vento despenteou seu cabelo e a chuva molhou seu rosto. Ela correu em direç ã o à entrada, sem esperar por Daniel. Quando ele chegou, os dois entraram no elevador que os levou até o andar onde Charmides estava.

No meio do corredor, havia uma pequena sala de espera para parentes e visitantes. Wilma ficaria ali até que Daniel avisasse a mã e da presenç a dela.

Quando abriu a porta da sala de espera, Daniel parou por um momento. Wilma andava logo atrá s e pô de ver um homem e uma mulher. Mas nã o entendeu por que Daniel estava tã o surpreso até que ele falou:

— Troy! Meu Deus, eu nã o fazia idé ia de que você estivesse aqui.

— Nem poderia mesmo — respondeu o irmã o. — Charlotte e eu chegamos na cidade há uma hora e viemos direto para o hospital. Achei que você viria para cá e por isso nã o telefonei para a mansã o.

— Que bom que você veio... finalmente.

Daniel abriu mais a porta e deu espaç o para que Wilma entrasse. Ela sentiu-se uma intrusa no ambiente. Se Troy tivesse telefonado para a mansã o, teria arrumado uma desculpa para nã o ir ao hospital. Agora que o irmã o de Daniel estava ali, achava que a visita devia ser só da famí lia.

Olhou Troy com curiosidade e ficou surpresa. Ele nã o se parecia em nada com Daniel. Parecia-se definitivamente com a mã e e, à primeira vista, era mais bonito do que o irmã o. Mas o que Daniel nã o tinha de beleza, tinha de vigor e forç a. Seu cabelo també m era mais preto do que o de Troy... Tudo em Daniel era mais masculino e definido.

Troy també m observou Wilma com atenç ã o. Reparou em seu corpo elegante, sob o casaco de pele de leopardo. Por causa do vento e da chuva, ela estava corada e seus olhos azuis contrastavam muito com o cabelo claro. Wilma nã o sabia, mas a boca um pouco machucada dava-lhe um ar de mulher ardente.

Daniel, por sua vez, estudava a mulher chamada Charlotte, que usava um chapé u de pele à moda russa e um par de brincos enormes dê pé rolas. Na mã o direita, ostentava um anel de diamante, em forma de coraç ã o. Os olhos dela estavam impecavelmente maquilados. Tudo nela demonstrava que tinha sido educada nas melhores escolas da Europa. Era o tipo de mulher que ficaria sensacional em roupas de esqui ou maiô s italianos.

— Preciso apresentá -lo à minha noiva — Troy disse a Daniel. — Imagino que mamã e tenha lhe contado que eu ia casar, nã o é? Bom, esta é minha noiva Charlotte Highsmith, cuja famí lia tem um escritó rio de advocacia muito famoso em Nova York.

— Prazer em conhecê -la, srta. Highsmith — disse Daniel, inclinando a cabeç a. Mas, em vez de oferecer a mã o a ela, ele puxou Wilma delicadamente para mais perto. — E esta é a srta. Grayson — ele apresentou. — A dama de companhia de mamã e. Ela teve a gentileza de vir comigo para visitar mamã e. Se você já encontrou o mé dico, Troy, entã o deve saber que mamã e nã o passou muito bem hoje. Acho que ela estava ansiosa para ver você... Já entrou para vê -la?

— Nã o, ela ficou nervosa e a enfermeira pediu que esperá ssemos aqui fora. O mé dico disse que a operaç ã o correu muito bem...

— É. Mas mamã e nã o é mais tã o jovem para sofrer uma operaç ã o dessas. Quando vim aqui, mais cedo, ela estava bem desanimada. E é por isso que eu trouxe a srta. Grayson. Para ajudar a alegrá -la.

— Foi gentileza da srta. Grayson vir — Troy comentou com frieza. — Mas agora mamã e está com uma porç ã o de visitas, entã o acho que sua dama de companhia fez uma viagem desnecessá ria. Quero que mamã e conheç a Charlotte e...

— Estou certo que quer — Daniel o interrompeu. — Mas mesmo assim Wilma vai entrar e dizer alô para mamã e... Vamos encarar os fatos, meu velho, eu telefonei para seu escritó rio há dias e desde entã o nã o temos notí cias suas. Você devia ter deixado alguma pista, em caso de necessidade. Mas fui informado que nã o poderia ser localizado.

— Nã o... Charlotte e eu fomos convidados para ficar no iate de um milioná rio grego. E entã o fizemos um pequeno cruzeiro, você sabe como é...

— É uma grande novidade saber que colocou o prazer antes dos negó cios. Se Charlotte está humanizando você, entã o fico feliz em lhe dar as boas-vindas na famí lia.

Charlotte soltou uma risadinha ao ouvir aquilo.

— Venha, Wilma — continuou Daniel. — Sabem que a srta. Grayson consegue acalmar mamã e? Como você já esperou bastante, Troy, pode muito bem esperar mais um pouco.

Wilma seguiu Daniel pelo corredor e os dois entraram no quarto de Charmides. Lá estava també m uma jovem enfermeira, que tinha acabado de passar pó -de-arroz na paciente. Wilma notou que Charmides parecia um pouco enfraquecida.

— Wilma... querida! — exclamou a patroa. — Senti falta de seu rostinho bonito!

— Senti falta da senhora també m, madame.

Wilma sorriu e aproximou-se da cama. Depois, superando a timidez, inclinou-se e beijou o rosto de Charmides.

— A senhora nã o vai começ ar a chorar de novo, nã o é? — disse a enfermeira sorrindo. — Suas crianç as querem vê -la bem, para que a senhora possa voltar para casa com elas. Por isso, nada de recomeç ar a chorar nem jogar vasos pelo chã o. Sou eu quem tem de limpar, lembre-se, e meus pobres pé s já estã o doendo. Prometa que a senhora vai se portar como uma boa menina, está bem?

— Sinto muito. Eu sempre atiro objetos quando estou aborrecida.

— Bom, é melhor poupar toda essa energia para ficar boa logo.

A enfermeira deu uma olhada para Wilma e Daniel e fez menç ã o de sair.

— Eu gostaria de falar com você, enfermeira — disse Daniel. Saiu e fechou a porta, deixando Wilma a só s com sua mã e.

— Sente-se, crianç a. — Charmides apontou uma cadeira.

Wilma obedeceu, lembrando que Daniel també m atirava objetos quando estava aborrecido... Mas aborrecido nã o era bem a palavra para a ferocidade que ele tinha demonstrado ao jogar aquele copo na lareira. Corou violentamente.

— Você é uma crianç a linda, sabe? — Charmides falou com carinho. — Agora me diga uma coisa, aquele meu filho enorme e moreno já notou isso?

— Hã...

— Aposto que sim! Espero que ele tenha se comportado bem durante minha ausê ncia. Já que estou presa a esta maldita cama, sendo submetida a injeç õ es e pí lulas e outras indignidades...

— O sr. Demonides só deseja que a senhora melhore e volte para casa assim que possí vel, madame. A Mansã o da Lua Cheia nã o é a mesma sem a senhora.

— Você está sendo sincera, nã o é? Já notei, Wilma, que só diz a verdade e que prefere ficar calada a dizer mentiras. Daniel já viu Troy?

— Já. Troy está na sala de espera com a srta. Highsmith, sua noiva.

— E que tal é ela? Ela o manteve longe de mim todo esse tempo. Antes, se ele soubesse que eu estava doente, teria corrido para casa para ficar a meu lado... Suponho que ele esteja muito apaixonado por esta jovem, nã o é?

— Imagino que sim, madame.

Wilma nã o sabia se Troy era capaz de amar perdidamente algué m, pois ele parecia bem superficial. Percebeu, com surpresa, que estava comparando-o com Daniel. Sem dú vida, dos dois irmã os, Daniel tinha a natureza mais profunda, capaz de grandes sentimentos.

— Ela é bonita? — perguntou Charmides, mexendo em seus ané is. — É loira ou morena?

— Tem cabelos castanhos, madame, é muito atraente... e segura de si.

— É, deve ser. Mas Troy provavelmente precisa de uma mulher assim. Você sabe por que eu sempre demonstrei mais amor para Troy do que para Daniel?

— Porque Daniel é o mais forte dos dois. Nã o só fisicamente, mas emocionalmente també m. Ele pode seguir seu pró prio caminho, sem ter uma mã o que o guie.

— Exatamente. Ele é mais duro. Seus sentimentos sã o mais profundos e tê m de ser cavados... como ouro, suponho. Por outro lado, ele será melhor marido, pois nunca colocará os negó cios acima dos prazeres com a esposa. Só espero que...

Charmides suspirou. Wilma sentiu um frio no estô mago ao imaginar Daniel como marido.

— Ele está realmente envolvido com algué m — disse Charmides, preocupada. — Tentei fazer com que falasse sobre ela, mas ele trata o assunto com ironia... Nã o vai dar certo, Wilma, se Daniel casar por obrigaç ã o. Ele tornará a vida dela um inferno, por sentir-se enganado. E se há uma coisa que aquele garoto nã o suporta é ser enganado. Ele é capaz de oferecer a camisa do corpo para algué m, mas se você o engana... o pai dele era do mesmo jeito. Os gregos sã o assim, em geral. Sã o muito orgulhosos, e coitada da mulher que nã o souber conquistá -los de verdade. Eu... acho que nã o consegui conquistar Helios de verdade. Ou talvez tenha sido por causa dos negó cios que ele ficou distante. Helios queria uma esposa bonita, como Troy també m quer, para servir de enfeite para a casa e para dar inveja a seus amigos. Funciona, se a mulher está preparada para esse tipo de vida, mas eu... Eu era bem româ ntica, Wilma... Um pouco como você, suponho.

— Madame...

— Esse casaco fica muito bem em você, minha querida. É o tipo de casaco que um homem dá de presente a uma mulher. Estou sendo muito curiosa?

— Foi meu pai quem comprou para mim, madame. Foi quando ele conseguiu gravar uma mú sica de sucesso. Eu nã o sei se gosto ou nã o de casacos assim. Fico sempre pensando nos pobres animais que sã o mortos para enfeitar mulheres... A vida é uma mistura complicada de crueldade e bondade.

— É bem isso, Wilma. Você é sensí vel e a vida é bem mais dura para as pessoas sensí veis. Aquele homem que a magoou... você já se livrou dele?

— Ele... ah, claro, madame!

— Fico contente, Wilma. Mas isso significa que pode se apaixonar de novo no futuro. E eu nã o quero perder você... ainda.

— Madame...

— Acho que devo ver Troy e a tal noiva dele. Seja boazinha e diga a eles que estou bem e nã o farei outra cena, certo? Troy detesta cenas, o que nã o é o caso de Daniel. Daniel até gosta de uma boa batalha. Quando ele era bebê, adorava ver as tempestades que desabam aqui na Fló rida. Helios o segurava nos braç os na varanda da mansã o e o pequeno ficava feliz de ver as ondas monstruosas. É uma pena... Mas nã o se pode voltar ao passado, só se pode olhar para frente e esperar o melhor. Vá e diga a Troy que quero vê -lo e conhecer sua noiva.

— Pois nã o, madame. — Wilma levantou-se e foi beijar novamente o rosto de Charmides. — Fique boa logo, madame.

— É o que estou planejando, crianç a. Eu estava chateada porque Troy nã o estava aqui. Mas Daniel tem sido extremamente bom, desde que fiquei doente. Ele tem sido bom para você?

— É claro...

— Nã o é nada claro, minha menina. Daniel é o tipo de homem que nem sempre é gentil com mulheres que ele admira. Parece que há nele alguma coisa mais forte do que a gentileza... Sua necessidade de dominar, imagino.

— Eu... nã o posso saber, madame.

Wilma corou, detestando-se por mentir. Mas nã o poderia contar a Charmides que a marca em seu lá bio era prova do comportamento dominador de Daniel.

— Eu estava pensando — Charmides comentou, vendo que Wilma tinha corado. — Um homem precisaria ser cego para nã o notar uma garota como você. E conheç o meu Daniel suficientemente bem para saber que ele tem olhos de lince e os instintos sensuais de um jaguar... Ele notou você e tentou alguma coisa, nã o é?

— Bom...

— É, ele tentou alguma coisa... E você gostou?

— Madame!

— Nã o seja tí mida comigo, Wilma. Ele beijou você?

— B... beijou.

— E você gostou de ser beijada por Daniel?

— Suponho... que sim.

— Supõ e! É claro que você gostou! Ele é um homem atraente e tem sido perseguido pelas mulheres desde que era garoto. Isso enfurecia Helios. Sabe que ele conseguiu vaga numa escola onde nã o havia mais vagas por causa da esposa do diretor?

— Ele é um homem atraente.

— Ele atrai você, Wilma?

— Eu... Sim.

— Acha que pode tirar a outra mulher da cabeç a dele? Nã o quero que ele se case com algué m que nã o ama.

— Madame! — Dessa vez Wilma estava chocada. — Nã o fui empregada na Mansã o da Lua Cheia para distrair seu filho!

— Mesmo assim, eu acho que você poderia distraí -lo e...

— Eu... vou agora, madame. Até logo! Direi a Troy imediatamente que a senhora quer vê -lo.

Wilma escapou daquela conversa que era mais penosa do que Charmides poderia imaginar. Quando chegou à porta da sala de espera, que estava um pouco aberta, parou um instante para recuperar o controle... Foi entã o que ouviu Troy dizer uma coisa que a fez dar um passo para trá s instintivamente.

— Eu sabia que mamã e tinha uma dama de companhia na Mansã o da Lua Cheia, mas pensei que fosse o tipo de mulher madura e competente. Para ser franco, Daniel, essa Wilma só deve ter qualificaç õ es para ser companhia para você. Mamã e precisa de algué m que esteja mais pró xima da idade dela; talvez algué m que seja realmente qualificada como enfermeira.

— Mamã e nã o é uma invá lida — respondeu Daniel. — E nã o estará invá lida quando se recuperar totalmente e deixar o hospital. Acho que sei o que realmente está perturbando você, Troy. Mamã e lhe escreveu, contando sobre sua intenç ã o de deixar a Mansã o da Lua Cheia para Wilma Grayson no testamento. Nã o estou certo?

— Certí ssimo! A idé ia é absurda... fruto de uma mente febril. Nã o podemos permitir que essa jovem atrevida consiga o que está querendo!

— Como você é petulante, Troy. Está com todo o dinheiro que papai passou a vida acumulando e ainda quer tirar o teto da cabeç a de uma garota que nã o tem nada. Você está se tornando pã o-duro, meu irmã o.

— As propriedades da famí lia deviam ficar na famí lia. Vou realmen­te me opor a essa idé ia estú pida de mamã e. Seja realista, Daniel, aquela casa tem sua pró pria praia particular e vale uma fortuna no mercado imo­biliá rio atual. Nã o podemos permitir que uma mulher doente faç a coisas quixotescas só porque uma jovem usou todo o seu charme para conquis­tá -la. É o que Wilma Grayson vem fazendo, mas suponho que você nã o consiga ver nada alé m daqueles olhos azuis enormes. Ela está se aproxi­mando de mamã e e se insinuando de tal forma...

Wilma nã o pô de ouvir mais nem uma palavra. Correu em direç ã o ao elevador, desesperada. Tudo o que queria era sair daquele hospital o mais rá pido possí vel. Troy falara como se ela fosse uma aproveitadora que tivesse feito tudo para cair nas boas graç as de Charmides. Mas a pró pria idé ia de ganhar a Mansã o da Lua Cheia a deixava estonteada. Wilma nã o podia levar aquilo a sé rio, mas queria fugir dos comentá rios ofensivos de Troy.

O elevador chegou e ela começ ou a descer. Ao chegar lá embaixo percebeu que nã o poderia voltar à mansã o. Nã o enquanto Troy pensasse aquelas coisas horrí veis a seu respeito.

Lá fora, na chuva, ela começ ou a correr... Nã o suportava a idé ia de ganhar uma mansã o só porque tinha demonstrado carinho e consideraç ã o por uma mulher solitá ria.

Por sorte, naquele momento um tá xi parava em frente ao hospital. Assim que os passageiros saí ram, ela entrou e disse:

— Para o Clube Dinarzade, por favor.

Foi só entã o que percebeu o quanto desejava ter o apoio de Kenny Devine... Ele era o ú nico homem na cidade que realmente a compreendia. Wilma soltou um suspiro e, pela primeira vez naquele dia, sentiu-se livre da famí lia Demonides.

Teria de recomeç ar a vida em outro lugar, pois nã o havia futuro para o que ela sentia por Daniel. Tinha medo de acabar cedendo a seus pró prios sentimentos e... arrumar problemas sé rios.

Quando ele a beijava, logo perdia o controle... Sentia coisas que nunca tinha sentido antes. Era como se tivesse encontrado a outra metade de si mesma... Como se estivesse incompleta até que Daniel a segurasse nos braç os e preenchesse seu corpo. Ele a fazia ansiar por aquele momento de paixã o em que ela se entregaria completamente aos carinhos dele. E aquilo arruinaria sua vida... Wilma nã o era experiente, mas sabia que seria abandonada assim que aquele homem satisfizesse seu desejo.

Nã o demorou muito para que o tá xi chegasse ao Clube Dinarzade. Wilma pagou ao motorista e saiu, lutando contra o vento e a chuva. Ao entrar, resolveu ir primeiro ao banheiro arrumar-se um pouco. Depois, pegou o elevador interno para procurar o lugar onde a orquestra tocava.

Uma vez lá em cima, perguntou a um garç om se a orquestra do sr. Devine tocaria aquela noite.

O garç om inclinou a cabeç a e perguntou:

— Madame está esperando mais algué m?

— Sou amiga do sr. Devine. Pensei que talvez pudesse haver uma mesa... Eu nã o fiz reserva mas...

— A senhora está com sorte, madame. Numa noite como esta, muita gente desiste de vir. Se quiser me seguir, posso conseguir uma mesa pró xima da orquestra.

— Obrigada.

Wilma seguiu-o, entrando na sala de jantar. Logo ouviu a mú sica româ ntica da orquestra de Kenny. O restaurante nã o estava muito cheio e o garç om escolheu uma mesa perto da orquestra. Depois de receber o cardá pio, Wilma pediu camarõ es com melã o e uma costeleta de porco com batatas à francesa.

O garç om que servia vinhos aproximou-se e, num impulso, Wilma pediu meia garrafa de vinho tinto. Quando Kenny a visse, ele viria encontrá -la e o vinho ajudaria ambos a relaxarem um pouco.

Wilma ficou ali, sentada, ouvindo a mú sica que terminava. Quando a orquestra iniciou outra mú sica, Kenny virou-se devagar, para dar uma olhada na platé ia... Quando ele a viu, novamente errou o ritmo, mas os rapazes da orquestra nã o se atrapalharam.

A mú sica prosseguiu, enquanto Kenny se aproximava da mesa.

— Oi — disse Wilma, tentando sorrir. — Nã o acha lisonjeiro que eu tenha enfrentado a tempestade para ouvir sua mú sica?

— Ver você esta noite é realmente um prazer! Olhe, o restaurante está quase vazio!

— Você quer ficar comigo um pouco? Pedi um vinho e achei que poderí amos tomar um drinque juntos.

— Eu adorarei. — Ele a olhou com atenç ã o, — Você está com algum problema, Wilma, vejo isso em seus olhos.

— Nã o chega a ser um problema. Mas vou pedir um favor a você, como um velho amigo.

— Nã o tã o velho e nem só amigo, espero. Mas você me dá licenç a um minuto, Wilma? Voltarei logo para tomar aquele vinho. Como pode ver, meus rapazes tocam muito bem sem seu regente.

— Tenho certeza de que isso é resultado de um trabalho muito eficiente desse regente.

Enquanto Kenny estava fora, o garç om trouxe o vinho e o primeiro prato. Wilma decidiu naquele momento que dormiria num hotel aquela noite. Nã o voltaria à mansã o a nã o ser para pegar suas coisas, antes de partir definitivamente.

Estava comendo seus camarõ es com melã o, quando Kenny voltou. Ele colocou uma caixa ao lado do prato dela. Wilma ficou encantada ao ver que era uma orquí dea de pé talas brancas.

— Eu ia mandá -la para você — disse Kenny. — O maitre tinha guardado na geladeira para mim.

— Oh, Kenny, é linda! Como você é gentil!

— Para mim, Wilma, você é como esta orquí dea... Adorá vel e misteriosa, muito amadurecida e um pouco imatura... Meiga, doce e um pouco triste.

— Você está falando como poeta.

— Falo como homem, que deveria ter dito essas coisas há anos. Em vez de torná -la nos braç os com ardor, eu lhe propus casamento para assumir o lugar de seu pai. Nã o é à toa que recusou! Devo ter parecido tã o puritano!

— Sempre achei você maravilhoso, Kenny. Um homem em quem eu poderia confiar. Mas quatro anos atrá s, era jovem demais para me casar e você estava começ ando a fazer nome como mú sico. Nã o teria sido justo você assumir responsabilidades com uma esposa.

— Tolo do homem que visse você como uma responsabilidade. — Ele ergueu o cá lice de vinho. — Vamos brindar para que depois desse feliz encontro nunca mais nos separemos?

— Eu decidi voltar à Inglaterra, Kenny.

— E por quê?

— Um pouco de saudades, imagino. — Ela provou o vinho e tomou coragem. — Mas há um problema e vou pedir sua ajuda para resolvê -lo.

— Entendo. Você está mesmo com saudades ou está fugindo de um homem?

— Um homem! O que o faz pensar assim?

— Talvez porque eu seja um homem també m. Coma os camarõ es, eles parecem deliciosos.

Wilma pegou o garfo, mas tinha perdido o apetite. Kenny nã o era mais o garoto inseguro e tí mido dos velhos tempos. Agora percebia que ele també m havia aprendido muitas coisas com a vida... O tempo nã o tinha parado para ele. Wilma percebeu que seria difí cil pedir-lhe que enfrentasse Daniel por ela.

— Vamos logo com isso, Wilma — Kenny falou, impaciente. — Senã o eu vou continuar a adivinhar o problema.

— Nã o é bem um problema...

— O que fala e o que seus olhos mostram sã o duas coisas diferentes. É aquele grego alto, nã o é? Apesar de me dizer que ele nã o significava nada, você se envolveu com ele.

— Ele nã o pode significar nada para mim. Está comprometido com outra pessoa. Alé m disso, o irmã o dele nã o quer que eu continue como dama de companhia de sua mã e. Acha que sou muito jovem... Ah, Kenny, eu quero ir embora... Eu preciso... Mas Daniel está com meu passaporte e eu nã o vou... nã o posso pedir isso a ele!

— Entã o você está com medo desse... Daniel?

— Nã o... Nã o é propriamente com medo...

— Acho que sei o que quer dizer. Aquele homem parece ter uma forç a e um poder que assustam.

— É, é isso mesmo.

— Ele é do tipo conquistador?

— Dos pé s à cabeç a.

— Nã o preciso ser Freud para saber por que você nã o quer enfrentá -lo mais, Wilma. Notei que ele é do tipo que atrai muito as mulheres.

— Como uma pantera, Kenny. Mas só uma mulher muito boba estenderia a mã o para acariciar esse lindo animal.

— Você estendeu sua mã o para acariciar Daniel Demonides?

A pergunta atingiu-a como uma flecha... É, suas mã os tinham acariciado aquele corpo quente... Seus lá bios o tinham tocado, sentindo a vibraç ã o daquela forç a...

Wilma quase gemeu de dor ao lembrar-se do que havia sentido nos braç os de Daniel. Tinha sido uma emoç ã o e uma excitaç ã o tã o fortes... Uma vibraç ã o dos sentidos que ela nunca sentiria novamente. E ela quis aquilo tudo e poderia querer de novo... Era por isso que precisava fugir o mais rá pido possí vel. Precisava colocar um oceano entre os dois.

— Nã o precisa responder — disse Kenny calmamente.

— Kenny...

Ele se levantou.

— Wilma, preciso voltar para junto da orquestra. Mas precisamos conversar. Esta noite, com esse tempo ruim, as pessoas irã o embora logo depois de jantarem e a orquestra vai se recolher mais cedo do que de costume. Fique aqui e espere por mim, está bem?

Ela concordou com a cabeç a, e depois disse:

— Você... está pensando muito mal de mim, Kenny?

— Eu nã o culpo você por nada, Wilma. Só sabe pensar e agir com seu coraç ã o... Mas detesto que qualquer homem a faç a sofrer. Espere só mais um pouco e entã o sairemos. Vamos para meu apartamento.

Saiu antes que ela pudesse protestar... A idé ia de ir para o apartamento dele parecia í ntima demais. E ela nã o sabia se Kenny era o mesmo dos velhos tempos... tí mido demais para tocá -la.

 

 



  

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