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— Eu já lhe disse. Sim! 9 страница



—Jú lia! —Algué m a seu lado pegou-a pelo braç o, sem conseguir disfarç ar seu contentamento. — De onde é que você surgiu? Por que nã o me avisou que estava na cidade?

Estava em um lugar que nenhuma cidade substituí, pensou Jú -lia, sorrindo para aquele homem bem-posto em um terno escuro e formal.

— Olá, Bill. Estava pensando em telefonar para seu escritó rio. Você está indo para lá?

— Estava, sim, mas nã o tenho pressa. — Olhou em volta. — Está esperando por Ross ou está sozinha?

— Um pouco de cada coisa. Vou encontrá -lo no hotel à s quatro e meia.

— Entã o você tem uma hora ou mais pela frente. Venha tomar um café comigo. Há tanto tempo que nã o a vejo!

Havia um bar na pró xima esquina. Era o mesmo ao qual haviam ido com frequê ncia no passado. Sentada em um dos compartimen­tos, Jú lia olhou para seu antigo patrã o com um sorriso.

— É como nos velhos tempos.

— Nã o — disse ele com ê nfase. — Nã o exatamente. Ao vencedor, os despojos. — Olhou-a sorridente, e os olhos se apertavam nos cantos, de um jeito que conhecia tã o bem. — Nã o preciso fazer a pergunta ó bvia. Você ainda está radiante, se bem que diria que você perdeu um pouco de peso desde que nos vimos pela ú ltima vez.

— Exercí cio — disse prontamente. — Levo o cachorro para dar longos passeios todo dia. Como estã o todos?

— Mais ou menos na mesma, se bem que houve alguma mu­danç a neste ú ltimo mê s. Agora estou com Josie Harris.

— A ruiva sedutora! — Jú lia arqueou as sobrancelhas, bem-hu-morada, e falou com voz baixa e envolvente: — Devo levar o caderno de apontamentos, sr. Grieves?

Bill riu.

— Cada um faz o que pode. Depois de batalhar como pô de para se tornar sua substituta, ela nã o perde a menor chance, e eu já sou suficientemente velho para farejar uma caç adora de maridos quando a encontro pela frente. Nã o se preocupe, saberei me livrar de suas garras afiadas, pelo menos fora do escritó rio. Ross veio à cidade a negó cios ou para se divertir?

— Neste momento, a negó cios, mais tarde virã o as diversõ es. Vamos encontrar seu irmã o David e jantaremos juntos.

— Nã o sabia que estava aqui. Faz tempo?

— Trê s semanas, mais ou menos. Ele passou uns dez dias no chalé, antes de vir para a cidade. — Havia tantas coisas que ela teria gostado de perguntar, e no entanto tã o poucas que ela poderia perguntar sem se trair... — Pensei que ele o tivesse procurado.

— Nã o havia razã o para tal. Nó s nos encontramos apenas em algumas ocasiõ es. — Bill levantou a xí cara, bebeu, pousou-a sobre o pires e disse: — Você contou para Lou que ele vinha para a Inglaterra?

Jú lia ficou tensa, com os olhos pregados no lí quido que girava em tomo da colher. Havia uma sensaç ã o estranha de formigamento na parte detrá s do pescoç o, o sentimento de que o pró prio tempo parara subitamente. Quando ela finalmente levantou a cabeç a pre­cisou exercitar todo o seu controle para nã o mostrar até que ponto aquela pergunta tã o simples a havia afetado.

— Lou?

— Bem, nã o deve ter passado seis semanas ou mais desde que eu as apresentei uma à outra, quando você apareceu no escritó rio, e saí ram de lá juntas. Até pensei que você fosse tocar no assunto. — Ele a encarava com certo ar de estranheza. — Você ficou pá lida. Está se sentindo bem?

— Sim. — Sua voz parecia vir de muito longe. — Bill, você consegue se lembrar em que dia fui a seu escritó rio?

— Em que dia? — Franziu o cenho. — Nã o... Oh, espere um minuto. No dia em que Lou partiu para a Gré cia, a fim de passar duas semanas lá. Portanto, vejamos... foi no dia vinte e oito de setembro. Por quê?

Dia vinte e cinco. Jú lia respirou fundo. Ela portanto tinha estado em Londres no dia do acidente e passara pelo menos uma parte do dia com a ex-noiva de David. Por um rá pido momento ela teve a impressã o de se encontrar no fim de um tú nel comprido e escuro, com algo que lhe acenava na outra extremidade. Algo que ela se recusava a ver.

— Acontece que eu... perdi algo naquela ocasiã o — disse com esforç o. — Estou a imaginar se Lou nã o teria encontrado. — Pa­recia pouco convincente, mas era o melhor que ela podia fazer no momento. — Tem o endereç o dela?

A expressã o de Bill passou por uma mudanç a indefiní vel.

— Sim, mora em Kensington. Mas acho que agora nã o está em casa. Por que nã o lhe telefona?

— Boa idé ia — disse ela. e viu-o tirar a caneta e escrever o nú mero em uma folha destacada de uma caderneta de endereç os.

— Você també m podia pô r o endereç o — acrescentou, com a gar­ganta seca. — Se nã o puder contatá -la pelo telefone antes de ama­nhã à tarde poderei lhe escrever.

— Acho que sim. — Resultava evidente do tom com que falava que Bill estava achando tudo aquilo um tanto confuso, mas evitou fazer qualquer comentá rio até lhe entregar o pedaç o de papel. — Tenho certeza de que ela teria entrado em contato com você, se tivesse achado aquilo que você perdeu.

— Provavelmente você tem razã o. Mas acho que vale a pena tentar. — Jú lia segurou o papel nervosamente com um riso forç ado.

— Você a tem visto ultimamente?

— Sim, na semana passada. — Encontrou seu olhar e estreme­ceu ligeiramente. — Sei o que você está pensando. Eu devia me comportar de modo diferente, depois do que ela fez a David. Sei o que ela é e o que procura, só que para mim nã o faz a menor dife­renç a quando estou com ela. O lado irô nico da coisa é que pensei que simplesmente a estava usando para me esquecer de você, de­pois que Ross deu um sumiç o em você.

Jú lia perguntou a muito custo:

— Como foi que você a encontrou?

— Por acaso, há mais ou menos quatro meses, perto do escritó ­rio. Perguntou por David e parecia estar sinceramente arrependida pela forma como se descartou dele. Quando menos esperei está va­mos jantando juntos.

— Percebo. — Por um breve momento Jú lia pô s-se a refletir se lhe contaria que Lou estivera em contato com o pró prio David, mas decidiu que nã o. Isso era algo que Bill teria de saber por si mesmo. Já tinha muita coisa pesando sobre ela. — Preciso ir embora — disse. — Foi tã o bom ver você, Bill.

Seu olhar exprimiu novamente a confusã o.

— Mas o que foi? — perguntou subitamente. — O que aconteceu entre você e Lou naquela é poca, Jú lia?

Ela replicou em um tom ao qual faltava firmeza:

— Isso é o que tenho de descobrir. Você pode lhe perguntar na pró xima vez que se encontrarem. Até logo, Bill.

Ela estava na porta do restaurante enquanto ele ainda tirava dinheiro do bolso para pagar a conta. Alguns passageiros dispensavam um tá xi. Jú lia correu até ele e entrou em um segundo, antes que mais algué m fizesse o mesmo. Desamassando o papel, deu o endereç o ao chofer, encostou-se no assento e olhou mais uma vez para o nú mero de telefone que Bill havia escrito. Nã o havia como errar, tinha certeza disso. Era o mesmo nú mero da pá gina do diá rio que se encontrava no bolso de Ross, e que ele tinha jogado fora. Mas por quê? Porque ele nã o precisava mais discar aquele nú mero ou porque ele se lembrava tã o bem que de agora em diante nã o tinha mais necessidade da anotaç ã o? Tinha de descobrir qual das duas hipó teses era correta.

O endereç o que Bill lhe dera era alé m da rua Church. Jú lia mandou o tá xi parar na esquina e pô s-se a caminhar pela rua. As casas eram muito bem conservadas e a maior parte tinha sido con­vertida em apartamentos, pelo que podia notar. Naquele momento passava em frente ao nú mero 63, e calculou que o nú mero 137 devia ser logo mais adiante. Dentro de alguns minutos estaria dian­te da mulher que podia deter em suas mã os toda a explicaç ã o para aquela lacuna em sua memó ria. Diminuiu o passo. E se Lou nã o estivesse em casa, como Bill dissera? Conseguiria suportar voltar ao lado de Ross sem ainda saber de tudo? Nã o, decidiu, nã o poderia. Se Lou tivesse saí do teria de esperar por ela, n& o importava por quanto tempo. De um modo ou de outro...

A seu lado uma mã o agarrou-se à balaustrada da escada. Um homem descia os degraus de uma casa, alguns metros adiante do lugar onde ela havia parado, fazendo uma pausa para jogar fora o que sobrara de um cigarro, esmagando-o com o calcanhar, antes de cruzar a rua e abrir a porta do carro verde estacionado junto ao meio-fio. O barulho do motor parecia vir de muito longe. Jú lia viu o carro partir e afastar-se dela. Naquele momento sentiu que as paredes do tú nel se estreitavam e se cerravam em torno dela, enquanto mergulhava no caleidoscó pio perturbador das imagens que retornavam.

 

                                      CAPITULO VIII

 

Trê s longos meses, pensou Jú lia, saindo do tá xi e contemplando por um momento o edifí cio fami­liar, antes de se voltar para pegar o troco com o motorista. Na verdade parecia muito menos tempo, e nã o estava longe o dia em que Ross entrara no escritó rio do primeiro andar e arrebatara sua vida. Tudo parecia um pesadelo. Havia muito mais coisas no casa­mento do que ela podia imaginar, mas nã o renegaria um momento sequer de tudo que tinha vivido, incluindo as rusgas. Pior para aqueles que a tinham prevenido durante os breves dias que prece­deram a cerimô nia.

Ficou muito contente ao constatar que Sue Raynor ainda tra­balhava como recepcionista no saguã o do pré dio. Entrou pela porta girató ria tã o silenciosamente quanto conseguiu, caminhou na pon­ta dos pé s até onde Sue se concentrava em suas tarefas e apoiou os cotovelos na mesa, rindo da expressã o de espanto da antiga colega quando ela levantou os olhos.

— Alô.

— Jú lia! — A surpresa deu lugar ao prazer, e este foi substituí do pela admiraç ã o. — Você está com uma aparê ncia incrí vel! Toda esta cor é natural?

— É o ar marinho e puro sol. Algo que você s, pobres moradores da cidade, desconhecem.

— Você nã o parecia achar muito ruim a vida da cidade antes que esse seu marido entrasse em cena. Como é que vai aquele selvagem sensacional?

— Muito bem — disse Jú lia, rindo. — Vou contar para ele sua opiniã o assim que voltar.

— De que é que vai me adiantar? Faz tempo que você está na cidade?

— Cheguei hoje. Quis aproveitar a oportunidade para fazer al­gumas compras e ver os velhos amigos. Bill está?

Sue contraiu os lá bios.

— Está sim, mas nã o sei se devo interrompê -lo. Está com uma namorada.

— Namorada?

— Sua sucessora. É nada menos do que uma mulher casada.

— Oh, vamos, deixe disso. Bill jamais...

— Tem certeza de que nã o? Bem, você o conhecia melhor do que nó s todas. — A expressã o de Sue era afá vel no momento em que pegou o interfone. — Vou avisá -lo de que você está aqui.

— Acho que nã o há necessidade — disse Jú lia, no momento em que a porta se abria. — Ele está saindo.

Logo em seguida refletiu se era apenas obra de sua imaginaç ã o aquele desapontamento momentâ neo estampado no rosto de seu antigo patrã o, enquanto ia cumprimentá -la, com aquele sorriso tã o familiar iluminando seu rosto.

— Mas que surpresa — disse, — Muito agradá vel, no entanto. Está sozinha?

— Sim — disse, convicta de que nã o era fruto de sua imaginaç ã o o brilho que surgiu nos olhos dele. — Ross mandou lembranç as.

— Entã o você é a mulher de Ross Mannering. —A companheira de Bill tinha se aproximado, e seus olhos registravam os mí nimos detalhes, a aparê ncia de Jú lia. O tom com que falava era agradá vel, mas havia um traç o de ironia em seu sorriso. — Sempre disse que Ross tinha bom gosto. Você nã o vai nos apresentar, Bill?

Ele parecia nitidamente pouco à vontade.

— Jú lia, quero lhe apresentar Lou Roxford.

— Você, evidentemente, nã o precisa acrescentar mais nada — disse Lou, contemplando a expressã o de Jú lia com ar divertido. — Sim, sou a pró pria Lou Roxford. A ex-noiva de David. Ele ainda está na Á frica?

— Sim. — Entã o aquela era a mulher por causa de quem seu cunhado havia deixado o paí s. — Olhando-a, Jú lia conseguia com­preender perfeitamente como um homem se sentiria ao perdê -la. Lou era uma das mulheres mais atraentes que ela conhecera, mo­rena, cheia de vida, de grandes olhos negros. Imaginou que nã o fosse muito mais velha do que ela mesma, mas no entanto tinha uma seguranç a e uma pose que ela, Jú lia, jamais conseguiria os­tentar. — Acho que logo ele vai entrar em fé rias.

— É mesmo? — Era difí cil dizer se o seu interesse era mera­mente polido. — Ele deve ter passado um ano interessante.

— Vamos tomar café? — perguntou Bill, na pausa que se seguiu.

— Sue, você quer...

— Nã o posso ficar — disse Jú lia apressadamente. — Muito obri­gada, vou tomar o trem das cinco e meia. Estava indo para a es­taç ã o e dei uma paradinha para dizer alô. Na verdade... — disse, olhando o reló gio de parede — é melhor eu me apressar se quiser chegar a tempo e nã o perder a viagem.

— Estaç ã o Vitó ria? — Lou estava pondo as luvas. — Vou passar lá em frente. Posso lhe dar uma carona. — Olhou para Bill, com um estranho sorriso. — Nó s nos vemos dentro de quinze dias. Eu lhe mandarei um ou dois postais.

— Obrigado. — Seu olhar desviou-se dela para Jú lia, e ela achou que ele, de alguma forma, parecia perturbado. — Tente fazer uma visita mais demorada da pró xima vez, ouviu?

— Tentarei, sim — prometeu. — Até logo, Bill. Que bom ter visto você, mesmo com toda essa pressa. — Sorriu vagamente para Sue, que parecia nã o estar entendendo mais nada, e saiu com Lou pela porta girató ria.

 O carro de Lou estava estacionado em um parquí metro, na es­quina do escritó rio. Era um Triunph 2000 quase novo e já estava multado por ter ultrapassado dez minutos do tempo permitido de estacionamento.

— Ponha suas coisas aí atrá s e vamos cair fora antes que algum fiscal abelhudo apareç a por aqui — disse ela, abrindo as portas.

— Tenho duas horas para chegar até Gatwick, e do jeito como o trá fego está ficando, vou ter que me apressar.

— Está saindo de fé rias? — perguntou Jú lia, enquanto ela ligava o carro.

— Nã o, vou a negó cios. Vou viajar para descobrir novas atraç õ es para a pró xima estaç ã o. É uma mudanç a, para quem se limita a enviar os outros em viagem.

— Ah, percebo. Você trabalha para uma agê ncia de turismo?

— É isso mesmo. — Voltou-se momentaneamente para ela: — O que foi exatamente que Ross lhe contou a meu respeito?

Jú lia respondeu, pouco à vontade:

— Pouca coisa ou quase nada. Que você era noiva de David, mas decidiu repentinamente casar com outra pessoa.

— É, acho que a coisa podia ser colocada assim. — Lou pisou no acelerador e ultrapassou um tá xi, ignorando os gestos irritados do motorista. — David é boa gente, mas aborrecido. Eu nunca de­veria ter me envolvido com ele.

— Entã o por que o fez?

— Oh, por vá rias razoes. Eu nã o estava muito bem comigo quan­do o conheci. Odiava o meu emprego e achava que o casamento me oferecia uma perspectiva melhor. — Deu de ombros. — Podia ter sido com o homem certo. Só que David nã o era, e muito menos o homem por quem o deixei.

— E Bill? — A pergunta escapou antes que Jú lia pudesse con­trolá -la, e viu um sorriso aflorar no rosto de Lou.

— Eu estava mesmo achando que isso a devia estar preocupando demasiadamente. É uma lá stima quando a velha chama está se extinguindo, nã o acha?

— Nã o sei exatamente o que você está querendo dizer com isso — respondeu Jú lia.

— Pois acho que sabe. Você entrou em conflito consigo mesma, a fim de decidir se parava ou nã o para ver Bill, mas nã o conseguiu resistir à tentaç ã o de descobrir como é que ele estava passando sem você. O fato de me encontrar lá deixou você completamente desmontada. Foi por isso que você quis ir embora imediatamente.

— Isso é ridí culo — disse Jú lia com veemê ncia. — Eu tenho de tomar um trem.

— O lugar onde você mora é muito bem servido de trens. Você podia ter pegado o pró ximo. — Lou nã o se mostrava nem um pouco perturbada. — Nã o se preocupe, sei como você se sentia. Eu tam­bé m teria agido da mesma forma. E a maior parte das pessoas també m, só que jamais admitiria. Ross, por exemplo, é um caso bem tí pico.

— Ross?

— Veja só o modo com que ele tratou a primeira mulher. Se alguma coisa nã o funciona a gente tenta cortar os laç os, mas ele nã o procede assim. Recusar o divó rcio foi a maneira de ele sentir-se em pé de igualdade, apesar de provavelmente ter lastimado o fato quando ela morreu, e assim acabou-se o drama.

Talvez houvesse algo no silê ncio de Jú lia que fizesse com que ela desviasse o olhar, alterando subitamente sua expressã o.

— Você com toda a certeza sabia a respeito de Enid? Ross jamais teria... — Interrompeu-se, olhou novamente para Jú lia e disse em voz baixa: — Mas claro que ele contou. E eu fui muito indiscreta. Desculpe-me, eu sinto muito.

Jú lia notou que suas mã os se cerravam, sentiu que as unhas se cravavam nas palmas e bendisse a dor fí sica, Ross tinha sido casado antes. Ela era sua segunda mulher. Por que ele nã o lhe tinha dito? Por quê?

Estavam se aproximando do pá tio de estacionamento da estaç ã o.

Lou parou o carro.

— Olhe — disse —, eu sinto de verdade. Eu nã o pretendia ul­trapassar certos limites. Nunca me ocorreu que...

— Nã o tem importâ ncia. — Jú lia desceu do carro, pegou os pa­cotes que Lou lhe estendia, encarou aqueles olhos negros e formu­lou a pergunta cuja resposta já conhecia. — Como é que você ficou sabendo a respeito de Enid?

A resposta soou ligeiramente defensiva,

— O que é que você realmente acha?

Jú lia nã o esperou para ouvir o resto. Nã o suportaria ouvir o resto. Ouviu Lou chamar seu nome, mas seguiu em frente, sabendo que ela nã o poderia deixar o carro a fim de segui-la. Ross e Enid. Ross e Lou. Ross e quantas outras mulheres!

Ela imaginava que havia se dado perfeitamente conta, quando o conhecera, de que ele nã o era nenhum monge. Nã o teria esperado outro comportamento de um homem de sua idade. Mas ele jamais havia mencionado uma esposa, e muito menos uma amante que tinha sido noiva de seu pró prio irmã o — isso estava alé m de toda aceitaç ã o! Ela engoliu em seco. Nã o podia haver a menor dú vida de que tivera um caso com Lou. O pró prio fato de ela conhecer tantos detalhes pessoais de seu passado tornavam a coisa ó bvia. Quando? Pô s-se a imaginar, e soube com uma certeza atordoante que só poderia ter acontecido enquanto Lou ainda estava noiva de David. O modo amargo como ele a condenava agora vinha da ofensa infligida ao seu orgulho, nã o ao orgulho de seu irmã o.

Sua cabeç a doí a. Ela tinha confiado em Ross, acreditado nele, tinha lhe dado todo seu amor. E agora, em poucos momentos, tudo lhe fora arrebatado. O que iria fazer?

Ross a esperava de automó vel, quando saiu da estaç ã o, à s seis e meia. Foi em sua direç ã o assim que a viu, a fim de tirar-lhe os pacotes da mao, beijando-a na fronte.

Passou o dia bem?

— Sim. —- Jú lia foi com ele até o carro e sentou-se, esperando em silê ncio enquanto ele acomodava os pacotes no banco de trá s. Ao voltar de trem, a ú nica coisa que desejava, ao encontrá -lo, era atirar a verdade em seu rosto e ver a reaç ã o. Gradualmente, aquele desejo tinha se dissipado, e uma espé cie de torpor ocupara seu lugar. Sentiu-se como uma sonâ mbula, andando adormecida com os olhos muito abertos, vendo tudo e nã o sentindo nada,.

Ross sentou-se a seu lado, encarando-a.

Você parece estar cansada. Se passar o dia em Londres pro­voca isso em você, é melhor fazer as compras por aqui mesmo, no futuro. Você foi até o escritó rio?

— Sim. — Apoiou a cabeç a no encosto e cerrou os olhos. — Você nã o se importa se eu nã o conversar? Estou com dor de cabeç a.

Nã o, claro que nã o. — Seu tom era bastante compreensivo. — Descanse.

A viagem de volta ao chalé foi rá pida. Jú lia fingia dormir. Era a soluç ã o mais fá cil. Ao entrar em casa tirou o casaco, pendurou-o no cabide ao lado do telefone e foi até a cozinha. Estava enchendo a chaleira quando Ross entrou.

Levo todas as compras para cima? — ele perguntou, e ela assentiu sem se voltar. Houve uma pausa, durante a qual ela con­seguia sentir seu olhar cravado em suas costas. Ele disse calma­mente: Quer que eu ligue para Peggy e diga que você nã o está se sentindo bem?

Peggy? Jú lia fechoua torneira. Tinha se esquecido completamente da festa dosAshley. Pensou na longa noite que tinha pela frente, na impossibilidadetotal de obrigar-se a agir normalmente em relaç ã o aRoss. Nã o conseguiria ficar sozinha com ele. Nã o conseguiria.

Nã o faç a isso — disse. — Tomarei uma aspirina e um banho de chuveiro. A que horas você quer ir para lá?

As oito está bom. Você tem certeza de que... A irritaç ã o se apoderou dela.

— Eu já lhe disse. Sim!

— Está bem. — Ross, obviamente, estava fazendo o possí vel para se controlar tentando ser compreensivo. — Vou levar suas coisas para cima. Nã o se preocupe em fazer café para mim. Tomei na cidade, antes que o trem chegasse.

Jú lia decidiu que ela també m nã o tomaria. Tinha apenas agido automaticamente tentando desviar a atenç ã o. Foi até o quarto, tirou do armá rio o primeiro vestido que lhe caiu nas mã os e pro­curou um par de sapatos que combinasse com ele. Podia ouvir Ross no banheiro e o barulho que o chuveiro fazia. Ele acabaria dentro de dez minutos. Sempre acontecia assim. Ela levava tanto tempo no chuveiro que ele contraí ra o há bito de ficar pronto em primeiro lugar. Isso lhes poupava uma sé rie de aborrecimentos.

Sentou-se subitamente na banqueta da penteadeira, enquanto suas pernas tremiam. O que ela iria fazer? Conseguiria aguentar viver com Ross, sabendo o que sabia sobre seu passado? Ou se rebelaria? Poria tudo em pratos limpos ou simplesmente esqueceria o assunto? Apertou o rosto com as mã os e pô s-se a fitar no espelho aquela figura pá lida e de olheiras, marcada pelo passado. Esque­cer? Se pelo menos ela nunca tivesse descoberto!

Já estava escuro quando partiram para a cidade, e suficiente­mente frio, apó s o calor do dia, para ligar o aquecimento no carro. Corriam em velocidade baixa, e depois de alguns instantes Ross disse displicentemente:

— Como estava Bill? Acaso você o viu?

— Sim — disse. — Ele está bem.

— Ficou lá muito tempo?

— Nã o, somente alguns minutos.

— É mesmo? — Ele parecia surpreso. — Pensei que...

— Pare com. essa investigaç ã o! — Seu tom era rí spido e nervoso. — Vi Bill por alguns momentos, e foi tudo.

Seus lá bios se contraí ram.

— Basta! Você tem se comportado como um ouriç o desde que voltou. Muito bem, posso ser tã o compreensivo quanto qualquer outra pessoa, mas pelo amor de Deus, vamos parar com isso. E já!

Foram essas as ú ltimas palavras trocadas entre eles até chega­rem à casa dos Ashley, e estavam quase diante da porta da frente quando Ross tomou-a pelo braç o.

— Se você continuar a agir desse jeito aqui — ele disse amea-ç adoramente — garanto que irá se arrepender mais tarde. É uma promessa que quero deixar bem claro.

Olhou aqueles traç os ené rgicos e duros iluminados pela luz da entrada e conheceu um momento de puro ó dio. — Nã o se preocupe

— disse —, nã o o desapontarei.

A festa já tinha começ ado, e a casa estava cheia de gente. Peggy os saudou da porta da cozinha, agitando no ar um prato cheio de salgadinhos confeitados.

— Ponham os casacos no quarto dos fundos. Você nã o, Ross. Venha me ajudar a servir estas coisas. Nã o consigo encontrar Mike.

Jú lia subiu as escadas sem olhar para Ross, pô s seu casaco sobre a cama, no quarto dos fundos, ao lado de dezenas de outros, e depois se dirigiu para a sala da frente. Lá encontrou trê s mulheres se retocando diante da penteadeira. Uma delas era sua conhecida. Fo­ram feitas as apresentaç õ es, trocaram algumas palavras e empoa­ram o nariz. Desceram em seguida, deixando Jú lia a só s. Ela ajeitou a saí a e passou unia mã o febril pelo cabelo, antes de segui-las.

Lester Connelly estava ao pé da escada, com uma expressã o de enfado que se modificou consideravelmente no momento em que a viu.

— A recé m-casada está sozinha? Que coisa inusitada! Você está extraordinariamente linda hoje.

— Obrigada. — Jú lia pousou a mã o no braç o dele e forç ou um sorriso. — Nã o quer me arranjar um drinque?

Por diversas vezes, durante as horas que se seguiram, Jú lia no­tou as tentativas de Peggy de afastá -la de Lester, mas este ú ltimo estava por demais envaidecido de sua ú ltima " conquista" para se deixar vencer com facilidade. Jú lia nã o tomou nenhuma atitude em especial. Nem precisava. Pelo que pudera notar no rosto de Ross, em meio à sala repleta de gente, a flecha atingira seu alvo. Nã o se tratava de ciú me, pensou, mas de possessividade. De orgulho ferido. Pois bem, que ele, finalmente, sofresse de alguma maneira.

Nã o teve uma idé ia muito clara das coisas sobre as quais ela e Lester conversaram durante aquelas horas. Qualquer que fosse o assunto, era evidente que ela tentava se controlar o mais possí vel, enquanto ele nã o demonstrava o menor sinal de impaciê ncia. Até que bateu meia-noite. Ela estava apoiada na parede, pró xima à lareira, quando o carrilhã o do hall bateu as horas, Lester estava diante dela, com um dos braç os apoiados sobre a lareira.



  

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