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CAPÍTULO III 6 страницаFinalmente, Fenny foi atirada para fora, caindo sobre uma moita de espinhos. Sentiu uma dor muito forte na cabeç a e mergulhou na escuridã o. Cacos de vidro brilhavam ao sol e a gasolina escorria do motor. A buzina do carro disparada quebrava o silê ncio da colina. Um cachorro farejou o ó leo, e logo em seguida um garoto veio correndo pela pista, com os olhos cheios de medo. Procurou dentro do carro e logo depois viu a garota caí da do lado de fora, junto à poç a de gasolina. Rapidamente, puxou-a para longe do carro. Foi o que salvou a vida de Fenny. Quase no mesmo instante, o motor explodiu e o ó leo incendiou. O barulho fez Fenny despertar. Ficou deitada na estrada, com o vestido sujo e rasgado, sem conseguir se lembrar de nada. O cachorro pulava ao redor do garoto que lhe prestava os primeiros socorros, esperando que a fumaç a e as chamas trouxessem ajuda do pessoal do povoado. Fenny nã o dizia nada e també m nã o sabia onde estava nem com quem. A ú nica coisa que sabia era que algué m a tinha arrastado de perto do carro. Estava muito grata ao garoto por estar a seu lado, e nã o por salvá -la, pois desejaria ter morrido.
CAPÍ TULO VII A luz iluminou as escuras feiç õ es masculinas; ainda um pouco atordoada, Fenny viu as veias irregulares do pescoç o moreno, onde a camisa estava aberta. Ainda nã o totalmente consciente, quase nã o reconhecia ningué m e a luz a cegava. Seus olhos examinaram aquela figura alta e magra e, quando se lembrou quem era aquele homem, sentiu um aperto no coraç ã o. — Olá, boneca! — Zonar sorriu e segurou as mã os dela, levando-as delicadamente aos lá bios. — Está me reconhecendo? Lembra quem sou eu? Ela concordou com a cabeç a, aliviada e confusa ao mesmo tempo: tinha achado que ele era uma outra pessoa. — É muito bom tê -la de volta, aqui conosco — ele disse, carinhosamente, e continuou segurando suas mã os finas e bem cuidadas. — Está contente por estar de volta em casa, Fenella? — Sinto-me como se tivesse ficado muito tempo longe daqui. — Examinou o quarto e começ ou a reconhecer o lugar. — O que aconteceu, Zonar? — Você sofreu um acidente nas colinas, quando um cachorro correu na frente do carro. Um garoto do povoado tirou-a de perto do carro e levou-a para um lugar seguro, antes que explodisse. Ele é um jovem heró i. Cuidou muito bem de você, mostrou-se decidido e forte, mas estava muito preocupado. — Estou muito contente e... e muito grata a ele. Foi muita bondade. Se isso acontecesse na Inglaterra, duvido que algué m parasse para me socorrer, pois lá todos tê m medo de se envolver. — Nã o pense mais nisso, só vai se sentir pior. Agora tudo acabou e está sã e salva, e se recuperando. — Do que estou me recuperando? — Seus olhos nã o se desviavam dos dele, procurando tudo que se escondia por trá s daquelas palavras. — Há quanto tempo estou... estou ferida? — Há muitos dias. E a maior parte deles você dormiu e esteve aos cuidados da enfermeira que a alimentava com caldo de galinha. Mas nã o pense mais nisso... vamos falar de outras coisas. — Muitos... dias — repetiu. — Eu... nã o consigo me lembrar. Devo ter ficado inconsciente. Fui ferida na cabeç a? Zonar, por favor, me diga. — Foi quando o carro bateu no rochedo. O corte está por baixo de seus cabelos; portanto, nã o haverá cicatrizes, o maior temor de toda mulher. — Cicatrizes — ela murmurou. — Sim, eu tenho algumas. — Nã o. — Ele balanç ou a cabeç a, inclinando-se sobre ela e olhando intensamente em seus olhos. — Você, felizmente, nã o sofreu nenhum outro ferimento, minha querida. " Minha querida"... Como essas duas palavras lhe traziam recordaç õ es amargas e doces: outras mã os, mais calejadas pelo trabalho, segurando as dela; lá bios beijando os seus, fazendo todo seu corpo estremecer. Ah, aquele homem! — Nã o me preocupo com ferimentos. — Nã o podia mais suportar a dú vida. Desesperada, perguntou: — Eu... eu perdi meu bebê, nã o perdi? A veia do pescoç o de Zonar pareceu saltar. Ele baixou os olhos. — Eu... eu acho que sim, Fenella. Nó s sabí amos que você tinha que ser avisada e o mé dico achou que eu devia dizer-lhe... no lugar de Lion. — Entendo — disse numa voz sumida. Estranho, nã o sentia vontade de chorar. Talvez já tivesse derramado todas as lá grimas. Naquele exato momento, seus olhos estavam secos, e seu corpo, vazio. Já nã o havia mais razã o para viver: perdera o tã o esperado filho de Lion. — Ele está assim tã o zangado que... que nã o pô de vir me ver? — Minha querida garota, nã o conseguimos localizá -lo! Ele partiu no Cirene e estamos tentando entrar em contato... — Você procurou as antigas namoradas dele? Telegrafou para Nova York, onde minha prima está? Zonar olhou-a fixamente e uma expressã o de espanto apareceu em seus olhos. — Você deve estar brincando, nã o pode pensar uma coisa dessas. Lion nunca faria... — Lion ama minha prima, e quando nó s dois nos separamos houve uma discussã o feia. Agora... agora ele tem alguma coisa mais para acrescentar à lista contra mim. Sou a esposa que jamais quis, a garota que o roubou dos braç os da mulher amada, que o forç ou a se casar, e, para completar, matei o filho dele. Fiz tudo que era possí vel para que me odiasse, — Oh, Fenella, o que posso fazer ou dizer para consolá -la? — Zonar apertou suas mã os e olhou-a, carinhosamente, como para dizer que era solidá rio com ela, e que percebia o quanto estava sofrendo. — Mas ningué m da famí lia suspeitava de alguma coisa, exceto a velha Kassandra, e foi ela quem medicou você, enquanto esperá vamos a chegada do mé dico. Ela murmurava alguma coisa sobre esta ser a ú nica oportunidade. Será que queria dizer que esta era a ú nica chance de salvar seu casamento? Fenella pensou no que Kassandra previra: que teria apenas um filho. E agora nã o havia mais a crianç a. — Lion sabia a respeito do bebê? — Zonar perguntou. — Você chegou a contar a ele? Ela negou com a cabeç a e recostou-se no travesseiro, seu cabelo preso numa ú nica tranç a caindo sobre a camisola. Estava muito magra e pá lida. Parecia uma garota jovem e magoada e perdida... Agora, nã o havia mais nada para guardar do seu estranho casamento. Ele se fizera em pedaç os e nã o havia meio de consertar, nem mesmo que os dois lutassem muito. Se ao menos... Oh, Deus, se ao menos seu amor por Lion tivesse morrido junto com o bebê. Mas nã o: continuava lá, e tã o forte como sempre, magoando seu coraç ã o. Era tudo que poderia levar embora com ela de Petaloudes. — Talvez, se você tivesse lhe contado, Fenella, ele nã o fosse embora — disse Zonar, suas sobrancelhas negras se juntaram. — Acho que Lion teria ficado contentí ssimo. Um filho é a ú nica coisa que falta para completá -lo. — Oh, sim — ela disse, o cinismo brilhando em seus olhos. — Ele só me manteve presa para que lhe desse umfilho. Foi o acordo que fez comigo. Eu seria sua esposa até que lhe desse um filho. Entã o, tudo estaria acabado. Eu... eu nã o queria que soubesse que ia ter um filho dele, fruto de uma paixã o fria e calculista. Eu ia fugir no dia do acidente. Isso deixa você chocado, cunhado? Eu ia embora, enquanto Lion estivesse fora, em sua viagem por alto-mar, e pretendia me esconder em algum lugar na Inglaterra, onde nunca pudesse me encontrar. Já tinha tudo em mente, tudo planejado. Entã o, o destino interferiu sob a forma de um cachorro, metade selvagem, metade demô nio, sí mbolo de Pã. Aqui nas ilhas gregas, qualquer um, depois de um certo tempo, passa a acreditar na forç a dos deuses pagã os. Você acredita neles, Zonar? Ou é um homem civilizado demais? — Acima de tudo, sou um grego. Acredito que os deuses dã o presentes e depois nos fazem pagar um preç o bastante alto por todos eles. — Eu roubei o meu — ela disse. — Por isso, os deuses de você s me puniram. E foi uma puniç ã o muito cruel. Agora, nã o tenho mais nada, e isso dó i tanto que nem consigo chorar... — Fenella... — Levou as mã os ao rosto dela. — Você... você é uma garota encantadoramente emocional, que guarda tudo no fundo do coraç ã o. E Lion, apesar de tudo, mora no seu coraç ã o. Mas conseguirá arrancá -lo de lá, se tentar. Fenny viu nos olhos de Zonar o que lhe estava pedindo. Oh, como seria fá cil virar-se para ele e receber carinho, em vez de frieza... — Nó s fugiremos juntos — ele disse baixinho. — Você só precisa dizer uma palavra... — Nã o! Nã o vou acrescentar mais isso aos outros crimes que cometi, Zonar. Nã o serei o motivo da inimizade entre você e Lion. Ele educou você s, você e Demetre. Gosta de você, morreria em seu lugar se fosse preciso, lutou, trabalhou em pedreiras e navios para que pudessem ter uma vida melhor do que a que teve. Por favor, me solte. Sabe muito bem que Lion é o ú nico homem da minha vida, o ú nico que amei. Por favor, pare de me dizer essas bobagens todas... — Quando você estiver mais forte, Fenella, quando mais nada puder machucá -la, entã o conversaremos novamente. Temos nossa vida para viver, e quero você por tudo que é. Você! Tã o meiga e justa, e com essa pele tã o fresca. Virou as palmas das mã os dela e levou-as aos lá bios, beijando-as... lá, no mesmo lugar onde Kassandra tinha olhado e visto aquelas sombras que acabaram por se realizar. Fenny suspirou e sentiu-se sem forç as para discutir com Zonar. Foi um alí vio quando a enfermeira entrou no quarto, uniformizada e ené rgica. Sem sorrir, dirigiu-se a Zonar. — A senhora está fraca e precisa descansar. De manhã, já estará se sentindo bem melhor. — Entã o, até amanhã. — Ele sorriu para Fenny, levantou-se e caminhou lentamente para a porta. Quando Zonar saiu, a enfermeira alisou o travesseiro de Fenny e ofereceu-lhe um suco de laranja. — É muito bom o irmã o do marido da gente ser tã o prestativo. Nã o é todo mundo que tem essa sorte. Um jovem simpá tico... Os olhos dele se encheram de lá grimas, quando lhe contaram de seu aborto. Os homens gregos sã o muito sensí veis em relaç ã o a essas coisas. Talvez eles fiquem mais tristes do que a pró pria mulher. Fenny olhou melancolicamente para a enfermeira. — Poderei ter outro filho? — Deve perguntar ao mé dico, kyria. — A mulher lhe deu as costas, parecendo um tanto evasiva, e se pô s a arrumar as coisas no criado-mudo. — Por favor, você nã o pode me dizer? Tenho certeza de que sabe. Prometo nã o desmaiar de chorar. — Por quê? — A enfermeira voltou-se novamente para olhar para Fenny. — Você é uma dessas mulheres que nã o se importam realmente em ter famí lia? — Eu... eu me importo muito, mas també m nã o gosto de ficar sem saber algo assim... assim tã o importante para mim. Você sabe de tudo, tenho certeza de que sabe. — Essas coisas nunca sã o certas, kyria. Em poucos anos... — Anos? — Fenny respirou fundo. — Tenho medo de pensar no futuro. — Os jovens sempre sentem medo. — Um sorriso apareceu no rosto da mulher. — Vou lhe dizer uma coisa, você teria muitas complicaç õ es durante o parto. Ter esse filho iria lhe custar muito. — Minha vida? —Fenny sentiu como se tivesse sidoesfaqueada no coraç ã o. Oh, Deus: ela teria morrido e o bebê seria mandado para um orfanato. — É isso que você quer dizer, enfermeira? Ou entendi mal? — Eu nã o devia estar lhe contando isso, mas, nesses casos, todas nó s precisamos saber. Sim, você poderia ter perdido a vida com o nascimento da crianç a. Era um garoto, kyria. Fenny fechou os olhos. Sentia uma dor profunda... Ia dar à luz um filho, um menino que Lion tanto queria e que agora nunca iria conhecer. Ele só saberia disso tudo quando voltasse da viagem. Saí ra no caí que sem nem mesmo contar aos irmã os onde poderia ser encontrado, em caso de emergê ncia. Até mesmo os negó cios, pelo menos uma vez, pareceram menos importantes para ele do que aquela necessidade repentina deafastar-se de todos. De todos? Fenny tinha, cinicamente, insinuado a Zonar que ele havia ido para Nova York, encontrar-se com Penela. Mas nã o seria tã o absurdo, se Lion estivesse lá. Se ele quisesse Penela com todas as forç as de seu ser, nã o permitiria que uma esposa indesejá vel ficasse em seu caminho. E Fenny sabia que a prima sempre achara muito excitante ter um homem casado apaixonado por ela. — Você nã o deve se afligir muito; senã o nã o ficará boa. — Fenny sentiu a mã o fria da enfermeira na testa. — Será bem melhor para o seu marido, quando voltar para casa, encontrá -la recuperada, e nã o uma esposa pá lida e doente. As coisas tristes que acontecem com as mulheres devem ser enfrentadas o mais corajosamente possí vel. O bebê morreu, mas ele tem você... — Eu? — Fenny deu uma risada. — Ele nunca me perdoará, quando descobrir o que aconteceu. Vai me culpar por tudo. — Naturalmente que ficará desapontado, kyria, mas entenderá que nã o foi por culpa sua que aconteceu o acidente. Nã o somos culpados por coisas que acontecem e ficamos marcadas. Cada prazer tem seu preç o, e cada dor sua recompensa. — Eu adoraria poder acreditar em você, enfermeira, mas sinto que meu coraç ã o está vazio. Minha dor é muito forte e nã o há nenhum remé dio para aliviá -la. Dó i tanto que acho que o melhor para mim seria me juntar ao meu bebê. — Você deve tentar nã o ser mó rbida, kyria. Se fosse para morrer com a crianç a, você teria morrido. Se nã o morreu, é porque ainda nã o chegou a sua vez. — Você acredita no destino, pelo que pude notar. Foi muita maldade do destino tirar de mim o ú nico filho que poderia ter. E, nã o satisfeito, fez questã o de deixar claro que eu morreria, se tivesse esse filho tã o esperado. Ele nasceu em mim, vindo do amor... do amor pelo homem que o deu para mim. — Tente dormir — a enfermeira murmurou. — Amanhã, tudo vai lhe parecer mais claro. E, quando se sentir mais forte, perceberá que nunca desejou morrer. Boa noite, kyria. — Boa noite. Obrigada por ter sido tã o boa. A luz do abajur foi apagada e, um momento depois, a porta do quarto foi fechada, silenciosamente, atrá s da figura uniformizada. Só um candelabro iluminava o quarto, apenas o tique-taque do reló gio quebrava o silê ncio, só o que a mantinha viva era a recordaç ã o amarga de ter ficado nos braç os de Lion e chegado a conhecer o prazer de se sentir possuí da pelo homem que amava. Um prazer que tinha roubado de outra mulher. E ali, naquela ilha grega pagã, os deuses a puniram por desafiá -los. Dormiu, mas teve um sono agitado. Sonhou que estava na beira do mar, o vento soprando forte, vindo do alto do rochedo. Todas as luzes do castelo estavam apagadas. Estava sozinha, deitada na cama, e, de repente, ouviu um estrondo e viu o castelo em chamas. E nã o podia se defender. Entã o, acordou assustada e começ ou a pensar em sua vida ali. Uma casa onde o amor nã o era bem acolhido. Tinha rejeitado o amor da jovem esposa de Zonar e, agora, o filho de Lion. Foi só quando Fenny já estava bem mais forte e podia sentar-se ao sol na moussandra, que lhe disseram que haviam erguido uma lá pide em memó ria do bebê, na capela das colinas. — Gostaria de ir visitá -lo — pediu a Adelina. No primeiro dia em que recebeu permissã o para sair de casa, Zonar e Adelina a levaram de carro até a capela. Caminhou com eles por entre os ciprestes, até o lugar silencioso onde estava a pequena lá pide de bronze. Havia algumas palavras gregas e o nome: Heraklion Mavrakis Jú nior. Ainda incapaz de chorar, Fenny ajoelhou-se junto do pequeno tú mulo e passou os dedos pela inscriç ã o. — O que significam essas palavras? — Ele colheu a flor da vida — Zonar respondeu, inclinando-se para ajudá -la a se levantar. — Mas ele nunca chegou a colher, pobre criancinha. Nunca houve uma chance para ele. Era apenas um feto, um pequeno embriã o, que foi morto por um acidente de carro. Eu gostaria de gritar o nome dele, arrancar os cabelos e amaldiç oar os deuses de sua ilha. — Minha querida — disse Adelina —, pense no lado bom que a vida tem para oferecer, seja mais otimista. Você poderia estar embaixo da terra, sem vida. Levante as mã os e sinta o sol penetrando em sua pele, e veja como é atraente. Nã o acha que ela está encantadora, Zonar? — Sim — ele disse, mordendo o lá bio, como para reprimir o que sentia pela esposa do irmã o. — Posso imaginar como se sente e entendo, Fenella. Mas, acredite, a dor e o ó dio acabam com o tempo. É exatamente como todos dizem: o tempo é o melhor remé dio, quando se quer esquecer alguma coisa. Você verá que todo sentimento ruim que tiver dentro do coraç ã o vai se extinguir gradualmente, e a vida começ ará a ter um novo sentido. — Claro que sim, Zonar tem toda razã o. Nã o há mal que sempre dure, como nã o há bem que perdure. — Adelina passou o braç o pelo de Fenny. — Você precisa aprender a se divertir, minha querida. Zonar vai nos levar a Atenas qualquer dia desses. Conosco, você se sentirá mais feliz, vai despertar para a vida. Você irá, nã o é mesmo, meu bem? Lion está ausente. Portanto, nã o precisa de permissã o. Ele devia ter nos avisado onde poderí amos encontrá -lo, mas, em vez disso, partiu, fugindo como um leã o ferido. Santa Maria! Ele é o culpado de tudo o que aconteceu e de todos os nossos sofrimentos. — Minha querida cunhada — Zonar sorriu, zombeteiro —, quando foi que você sofreu? Demetre é a mã e da paciê ncia com você. Ele faz de tudo para satisfazer os seus menores desejos. É muito diferente de todos nó s. Você devia dar graç as aos cé us. — Eu me certifiquei, Zonar, de que o homem com quemia me casar nã o fosse cruel. Sabe que meu pai queria que eu me casasse com Lion? Mas eu o fiz entender que preferia entrar na jaula de um leã o de verdade. Tenho certeza de que a pobre Fenella já percebeu o erro que cometeu. Fenny deu um sorriso amarelo. Tinha que aprender a esconder o sentimento ferido, e, quanto mais rá pido, melhor. Afastaram-se da pequena lá pide de bronze e ela sentiu como se estivesse deixando uma parte de seu coraç ã o para trá s, enterrada no gramado. Zonar tomou sua mã o e colocou-a no braç o. Ele entendia seu sofrimento, como Adelina nunca poderia entender, porque, como Fenny, ele també m se casara por amor. Caminharam atravé s dos jardins da capela, onde antigos tú mulos de pedras ficavam ao sol, com suas inscriç õ es. Fenny olhava-os, como se ela també m estivesse num deles. Quando se dirigiram para casa, codornas voavam sobre os campos e colinas, e o ar tinha o aroma da essê ncia de pinho e flores. Passaram pelo lugar onde Fenny sofrera o acidente. Ela viu as marcas negras onde a grama tinha sido queimada pela explosã o e algumas manchas de ó leo no paredã o do rochedo. — Espero que o garoto pastor de cabras tenha sido recompensado — ela disse. — Ele foi muito corajoso, tentando me salvar. — Foi o cachorro dele que causou o acidente, querida — falou Adelina. — Ele admitiu que a culpa era dele, quando os homens do povoado levaram você para casa numa carroç a usada pelos fazendeiros. Pensando bem, Zonar, esta é uma ilha bem primitiva. Devia ter um hospital. É uma necessidade. — O que você fez pelo garoto? — Fenny perguntou ao cunhado. — Sinto-me em falta com ele, sabe? Poderia ter se ferido. Foi muito corajoso, agiu como um verdadeiro homem. — Falei com o pai do garoto e deixei claro que Lion vai recompensá -lo, provavelmente com uma boa quantia em dinheiro ou um reprodutor de sua pró pria criaç ã o. Aqui os animais sã o mais preciosos para o povo. Muito mais do que dinheiro no banco, é o que eles pensam. Tê m, como você pode ver, uma forma de vida que Lion tem medo de estragar, e é exatamente por isso que vai modernizando aos poucos a vidado pessoal da vila. Já conseguiu isso em outros lugares. Antes do que você possa imaginar, os turistas já estarã o lá, nos pequenos hoté is que estã o sendo construí dos nas praias, acabando com a beleza e o povo. Mas um hospital é uma necessidade, e Lion já falou sobre isto, acredite ou nã o, Adelina. — Acho que ele só se preocupa com a pró pria imagem — disse a cunhada. — O rei da pró pria selva particular. Perdoe, Zonar, se acho seu irmã o cruel e egoí sta, mas ele nunca fez nada para me fazer pensar o contrá rio. — A vida para ele nunca foi fá cil, e sim cruel. — Zonar deu de ombros. — Nosso começ o de vida foi muito duro, isso nos marcou muito. As privaç õ es e lutas endurecem os mú sculos e as emoç õ es. Ele é compreensivo, e eu tenho que admitir isto. — " Compreensã o" é uma palavra muito suave. — Adelina olhou para Fenny. — Eu nã o gostaria de ter um marido que fosse viajar de caí que e nã o dissesse nenhuma palavra de satisfaç ã o, para onde ia e com quem ia. E isto nã o é pró prio dele. Geralmente, tem muitos negó cios para resolver e nã o se importa com mais nada. O que terá acontecido com o homem? — Acho que queria ficar longe de mim — Fenny disse baixinho. — Tivemos uma briga, antes de ele partir. Eu... nã o estou aguardando com prazer a volta de Lion... — Entã o, iremos passar alguns dias em Atenas. — Adelina sorriu. — Você nos leva, Zonar? — Com todo o prazer. Acho que umas fé rias farã o muito bem a Fenella. Ela vai se divertir muito em Atenas: as lojas, as paisagens, a mú sica. Deixem tudo por minha conta, providenciarei tudo, minhas senhoras. Posso garantir que nos divertiremos a valer. Serã o dias que acredito que, nem depois de velhas, você s irã o esquecer. — Vou lhe dizer uma coisa, Zonar. — Adelina acariciou o rosto dele com a ponta dos dedos. — Você nã o é apenas um belo homem, mas també m muito humano. Fenella devia ter casado com você, querido garoto. — Eu esperava que ela fosse a madrinha do casamento do meu irmã o — ele respondeu. — E tinha feito meus planos, consequentemente. Quando ele parou o carro no pá tio do castelo, deu um olhar cí nico para Fenella. — Posso me atrever a fazer mais planos? Ou você ainda vai me surpreender? — Eu... eu apenas nã o quero mais me envolver. Estou com o coraç ã o oco. Só desejo aprender a enfrentar a vida com menos seriedade. Quero aprender com você s dois como manter minha cabeç a nas nuvens e meu coraç ã o sob controle. Vamos começ ar com as liç õ es desde hoje, por favor. Nã o quero falar de nada que nã o seja dos bons momentos que passaremos juntos. — Seja minha aluna, querida, e aprenderá tã o bem as liç õ es que conseguirá nota dez. — Adelina riu. — A vida pode ser um prazer, se você nã o levá -la muito a sé rio. Mas, enquanto Adelina falava, Fenny estava consciente de que Zonar a observava, mas se recusou a encará -lo. Nã o ia permitir que aquele homem charmoso dividisse com ela sua vida interrompida... nã o, ainda. Entraram, e Adelina pediu que o chá fosse servido no terraç o que dava para o pomar, onde alguns dos trabalhadores estavam cantando, enquanto colhiam as frutas. Uma cantiga grega, estranha e triste. Fenny recostou-se na cadeira de palhinha e ficou observando o cunhado. Zonar lhe dava tudo que Lion nunca lhe dera: carinho, compreensã o, amor, amizade. Gostava dela pelo que era, e nã o pelo que desejava que fosse. Mas, de agora em diante, nã o seria bondosa e tã o sensí vel à dor. Agora, ia procurar pelos prazeres sensuais que a vida podia oferecer. Recebendo mais do que dando, da mesma forma que Penela e Adelina faziam. Um delicioso chá forte foi servido, acompanhado de pã o de mel e biscoitinhos. Sentaram-se, conversando animadamente por mais de uma hora, até que o sol começ ou a baixar no mar. Adelina saiu para encontrar o marido. Fenny e Zonar ficaram sozinhos. — Foi um lindo pô r-do-sol, hein? — ele murmurou. — Seus olhos estavam brilhando, enquanto você o observava. — Nunca deixarei de ficar encantada com a beleza da Gré cia. Todas as coisas aqui tê m um pouco de paganismo, nã o é? — Você pretende ficar na Gré cia? A pergunta inesperada fez com que Fenny prendesse arespiraç ã o por alguns instantes. Entã o, ele tinha adivinhado que ela estava planejando ir embora, depois da viagem a Atenas. Ele sabia que tudo estava acabado entre ela e o irmã o, que nã o havia possibilidade de reconciliaç ã o. — Devo ir embora, Zonar. Você entende, nã o é mesmo? — Claro que sim. É preciso haver amor num casamento, ou nã o há nada. Apesar do que Adelina fala do casamento, há alguma coisa muito forte entre ela e Demetre. Eles combinam um com o outro. — É assim que deve ser: combinar um com o outro. — O vento jogou uma mecha de cabelo em seus olhos. Tudo estava frio e escuro agora que o sol tinha desaparecido. — Acho que você aprendeu a amar a Gré cia, e a outras ilhas. Está com medo de Lion? De viver e de fugir dele? Quanto tempo vai fugir, Fenella, e para onde? — Nã o posso ficar com um homem que nã o me quer. Nó s nã o combinamos. Descobri que invejo Adelina porque tem quem combina com ela, como você mesmo disse. — Chamam isso de necessidade — Zonar falou. — Todos nó s precisamos de algué m. Gostaria de lhe dar tempo para precisar de mim, e acredito que você conseguiria. Nã o nasceu para ficar sozinha; certamente nã o, depois de ter vivido com um homem e engravidado. — Nã o posso mais ter filhos, Zonar. Tomei-me uma mulher quase inú til. — Nunca diga isso! Você é o que é, nã o apenas um corpo para procriar um filho. Deixe que eu faç a de você a mã e do meu pequeno Alekos. Zonar parou de falar, quando algué m chegou ao terraç o pela porta de vidro uma babá impecavelmente uniformizada. — Espero que nã o se importe por eu vir lembrar-lhe, senhor, que está na hora de levar Alekos para brincar antes de eu dar banho nele e servir o jantar. A voz era bastante educada, mas Fenny pô de perceber que a jovem criada tinha ouvido o que Zonar dissera a respeito do filho. Sentiu um nó na garganta, porque ainda era a esposa de Lion, e a ú ltima coisa que queria era abandonar Petaloudes com a famí lia pensando que Zonar tinha destruí do o casamento do irmã o.
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