Хелпикс

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CAPÍTULO III 3 страница



— Com certeza você nã o se refere a Penela — Fenny comentou, partindo um tomate deliciosamente recheado com carne e arroz.

— Nunca tive momentos tã o í ntimos com Penela como tenho com você — ele respondeu, e o coraç ã o dela disparou: era ó bvio que nã o estava mentindo, pois nã o havia motivo para isso. Olhou-o de relance e sentiu o sangue subir ao rosto, quando percebeu que Lion sorria com ironia, uma vez mais, havia naqueles olhos um brilho dourado e estranho.

— Você achou que eu tinha pulado o muro antes de o portã o ser aberto? — ele perguntou. — Os gregos gostam de que a mulher seja virgem, quando vã o para o altar. Agrada-lhes pensar que a noiva é tã o pura como um raio de sol, como um floco de neve caindo do cé u, inocente como as á guas cristalinas de um riacho no meio de uma floresta.

— E nã o faz diferenç a se o noivo é versado na arte da seduç ã o?

— Que garota iria gostar de um homem virgem e desajeitado em sua noite de nú pcias? Já é uma experiê ncia bastante traumá tica para uma noiva quando ele é experiente... — Seus dentes brilharam quando ele mordeu um pedaç o de tomate recheado. Mastigou lentamente, sempre encarando Fenny. — Admita, querida, que eu nã o a destruí nem ontem à noite e nem há poucos instantes.

Fenny ficou vermelha e teve que lutar para nã o baixar os olhos, como uma tonta. Sacudiu a cabeç a.

— Ningué m poderia acusá -lo de ser um bruto. Mas você é muito convencido de sua superioridade masculina, nã o é?

— Acha? Fisicamente, os homens sã o mais fortes do que as mulheres, e algumas vezes sã o mais inteligentes també m. Mas nó s, gregos, respeitamos o fato de que uma mulher possa criar com o seu delicado corpo uma ré plica viva dos homens que a possuí ram. Isto faz com que eu me tome um porco-chauvinista aos seus olhos? Nã o é assim que você s, mulheres, nos chamam?

Fenny teve que sorrir. Na Inglaterra, poucas vezes encontrara homens que concordassem com aquela idé ia de que a mulher era um milagre do qual um abraç o de paixã o fazia nascer uma crianç a. Os homens em sua terra pareciam preferir que as garotas tomassem pí lulas ou usassem outros mé todos, menos que ficassem grá vidas e tivessem filhos.

— À s vezes você me surpreende, Lion. Há algumas coisas em você que me encantam. Pelo jeito, estamos aprendendo um pouco um com o outro.

— Isso é inevitá vel, minha querida. — Cortou uma fatia de bolo de uvas e mel e entregou a ela. — Você vai comer isto das minhas mã os, sem olhar se coloquei veneno?

— Obrigada. — Aceitou o bolo e, uma vez mais, veio-lhe à mente o ocorrido no aviã o com o bolo de casamento e de como ele ficara bravo. Mordeu o bolo e achou-o delicado. — Tem uma excelente cozinheira, Lion. Gosta de coisas boas, nã o é?

— Gosto de tudo o que é bom e, graç as à divina Providê ncia e ao suor de meu trabalho, agora posso fazer e comer o que quiser. Um homem deve ganhar as coisas boas da vida trabalhando, lutando, e nã o recebê -las de mã o beijada, pois só assim se dá valor ao que se tem. O melhor mel do mundo é o das abelhas selvagens das colinas da Gré cia. Lá, na primavera, a terra é coberta com pequenas orquí deas, as fodé leas e gramas floridas. Cada passo que um homem dá esmaga as ervas e delas se desprende uma fragrâ ncia selvagem. É verdade que há partes á ridas no paí s, mas mesmo onde os templos e os frontõ es desmoronaram, e onde as cabeç as dos leõ es estã o caí das, cheias de poeira, há uma certa beleza. É a minha pá tria. — Recostou-se na cadeira com uma xí cara de café e seu roupã o se abriu. — Nã o tenho nenhuma outra.

— Conte-me alguns costumes gregos — ela pediu, porque sentiu que, se soubesse um pouco mais de seu paí s, descobriria mais coisas sobre o marido. Nã o era suficiente ter ficado em seus braç os: queria tentar alcanç ar o coraç ã o e a alma que existiam naquele corpo forte que ficara tã o pró ximo ao dela. Mais perto do que algué m já estivera.

Lion olhou-a, interrogativamente, e seus dedos brincaram com a tampa da garrafa de conhaque antes de abri-la e servir-se da bebida.

— Entã o, está curiosa a respeito do meu povo? — Levou o copo à boca, dizendo: — Stin iyia sou!

Fenny imitou-o, mas sem a entonaç ã o que tornava as palavras gregas tã o significativas. Viu os lá bios de Lion se contraí rem quando engoliu a bebida, depois ele jogou a cabeç a para trá s, como que para sentir o prazer da bebida descendo pela garganta. Cada um de seus atos parecia-lhe vital, movimentos sensuais de um leã o.

— Muitos dos nossos costumes vê m de tempos antigos e sobreviveram principalmente porque nó s quisemos que sobrevivessem, porque somos um povo que ama a sua terra. O primogê nito de uma famí lia grega sabe que seu destino será sempre mais difí cil do que o de seus irmã os e irmã s, pois deve ajudar no sustento deles. As mulheres gregas já nascem com a idé ia de que devem se casar, ter um lar, e seu maior prazer será ter filhos. Nó s nã o temos respeito por tí tulos e esnobismos, só pelo sucesso. Nossos sentimentos sã o profundos e eu acredito que mais sinceros do que sofisticados, ao contrá rio das raç as orientais. Nã o choramos com facilidade, porque nunca somos tocados pela tristeza fundamental da alma humana.

Brincou com os dedos sobre a garrafa de conhaque e seus olhos sorriram. Fenny o ouvia, absorta, num silê ncio respeitoso, como uma crianç a que ouve uma explicaç ã o do pai. Seus cabelos e sua pele alva eram destacados pelo caftã colorido e comprido.

— Você me causa espanto — ele disse. — Conhece a lenda de Afrodite? Sabe que ela tinha o poder de renovar sua castidade no mar? Olho para você e pareç o ver a prova dessa ilusã o.

— Nada fará você mudar de idé ia a meu respeito, nã o é? Tudo para os gregos é preto ou branco, sem meio-termo?

— Houve tanto feiticeiras quanto má rtires que ficaramnas chamas e declararam-se inocentes no momento da agonia suprema. Você poderia ser uma ou outra, e eu iria me divertir muito, tentando descobrir. — Inclinou-se, e seus olhos dourados tinham um brilho sensual. — Você nã o é a garota que lutou com o leã o? Pensou, pequena falsá ria, que seria uma coisa fá cil de fazer, morar com um grego e fazê -lo de bobo com os seus cabelos dourados e o seu corpo bonito? Mas já percebeu que nã o é assim tã o fá cil, nã o é?

— Nunca me passou pela cabeç a que fosse fá cil conviver com você. — Encolheu-se na cadeira quando o olhar dele pousou no decote de seu roupã o. Era o olhar declaradamente insolente de um homem que a procuraria quando quer que lhe conviesse, como o faria com um figo ou um limã o do pomar.

— Uma coisa eu lhe digo, minha garota: você nã o treme diante de mim. Muito pelo contrá rio, você me enfrenta sem medo. É a coragem criada pela esperanç a ou pelo desespero, agora que descobriu que seu rico grego nã o tem nada de flexí vel?

— Flexí vel? — Ela deu uma risada. — Só mesmo um idiota para pensar que você é fá cil de ser influenciado. Você é flexí vel de corpo, mas inflexí vel de coraç ã o. Como uma cimitarra turca, eu acho, que corta com tanta rapidez que só depois de alguns segundos é que a agonia é sentida.

— Agonia? — Ele ergueu a sobrancelha, enquanto apanhava um charuto numa caixa de madeira. — Você se importa se eu fumar?

— Faria alguma diferenç a se eu me importasse? Por acaso você deixaria de fumar?

— Você nã o é tã o melindrosa assim — ele disse, soltando uma baforada e se recostando confortavelmente na cadeira. — Eu achava que era, mas, desde que descobri que seu ar de recato nã o passava de uma má scara, deixei de tratá -la com escrú pulos. Acredito que estou começ ando a conhecer a verdadeira Fenella que se esconde por trá s desses olhos azuis tristes. Como você representou bem o papel de prima solteirona, mostrando-se desinteressada pelos homens.

— Mas era verdade! — Um pouco da agonia a que Lion se referira surgiu no rosto dela. Ningué m conseguia magoá -la tanto quanto Lion, porque nunca algué m significara tanto para ela. Santo Deus! Todos tinham sido sombras em sua vida, sem sentido, indesejá veis. E entã o, finalmente, despertara para o amor, o que era mais um tormento do que um ê xtase.

— Bem, no fundo você era mesmo uma solteirona. Os homens nã o a achavam tã o atraente como Penela?

— Nunca dei importâ ncia a isso. Nunca achei os homens bastante importantes para correr atrá s deles. Deixei esse tipo de coisa para... para Penela fazer. E ela se divertia muito.

— Você quer dizer que ela gostava de flertar? — A fumaç a do charuto cobriu seu rosto e deu-lhe ao olhar um ar sinistro. — Entã o, imagina que eu nã o sabia que dezenas de homens a achavam desejá vel? Eu seria um tolo se pensasse que ela nã o chamava a atenç ã o: um cabelo maravilhoso, um corpo atraente e uma personalidade fascinante. Os homens nã o iriam mesmo prestar atenç ã o em você com Penela por perto.

— E, honestamente, acredita que eu me importava com isso? — Tinha sido tolerada na casa do tio, e, por sua vez, suportara as histó rias sem fim de Penela sobre as batalhas nos assentos traseiros dos carros dos namorados. Algumas vezes, Fenny pensara em alugar um pequeno apartamento, mas os alugué is eram muito caros e as acomodaç õ es muito ruins, nada que valesse tamanho sacrifí cio. Entã o, continuara ouvindo as histó rias de Penela. O quarto que ocupava na casa de tio Dominic era pequeno, mas de frente para os canteiros de rosas, e ela ficava sozinha a maior parte do tempo.

Sua pró pria companhia tinha sido suficiente. E, até o dia em que Mavrakis entrou pela primeira vez em Mon Repos, nã o imaginava que seus sentimentos pudessem ser tã o perturbados, e seus sonhos interrompidos por um homem que quase nã o olhava para ela, que só tinha olhos para a cintilante Penela.

— Acho que você se importava, sim — Lion disse secamente. — Nã o perdeu tempo em agarrar o que ela preferiu atirar pela janela. E isso será sempre um veneno em nosso copo de vinho, minha querida. O tempo que passarmos juntos será sempre mais amargo do que doce.

Fenny nã o tinha palavras para responder, porque havia muito de verdade no que ele dissera. Levou o conhaque aos lá bios, procurando encontrar um pouco de coragem.

Seus nervos estremeceram quando ele repentinamentelanç ou-lhe um olhar e, com ar desinteressado, apagou o charuto no cinzeiro.

— Até quando vou ter que suportar esse seu olhar de peixe morto?

— Nã o tem que suportar nada, Lion. Pode até me matar, se quiser.

— Pode ter certeza de que, à s vezes, fico tentado. Quando penso no que você fez da minha vida, é difí cil me controlar para nã o esganá -la. Mas, como já disse antes, você nã o me interessa morta: há muitas outras formas de fazê -la pagar por tudo.

Ele se levantou e dirigiu-se para ela. Sacudiu-a com forç a e ela sentiu a cabeç a rodar.

— O conhaque já subiu à sua cabeç a? — Riu e desamarrou ocordã o do roupã o dela, afastando a seda macia e encostando o rosto naquela pele suave e agradá vel.

Fenny ouviu-o prender a respiraç ã o quando passou os lá bios em seus ombros.

— Você é uma trapaceira, diabinha de pele branca, mas, Deus, como a desejo! Esta noite, vamos comemorar a minha volta à ilha. É só aqui que as estrelas brilham como chamas de fogo e o ar tem aroma de vinho. É aqui que o filho de um grego deve crescer. Aqui, onde tudo é puro, tudo é natureza. Está entendendo o que quero dizer?

As palavras dele chegaram bem no fundo de seu coraç ã o. Santo Deus, ela que ousasse nã o ter o filho dele, a crianç a que iria pô r um fim em tudo, naqueles momentos amargos e à s vezes maravilhosos durante sua estada na ilha de Lion.

Começ ou a se debater em seus braç os.

— Nã o... — A palavra morreu em sua garganta. — Lion, por favor, deixe-me em paz! Eu imploro!

— Pode implorar, minha querida, mas fique certa de que nã o tenho intenç ã o de ouvi-la.

Puxou-a para seus braç os e sentou-se no divã. Com um desespero nascido de seu amor, Fenny lutou como se lutasse com o demô nio, esmurrando-o com forç a, mas sem conseguir atingir seus ombros fortes.

— Quanto mais você resiste, mais aumenta o meu prazer. Nunca apreciei mulheres frias, passivas, e nã o me importonem um pouco que esse seu excesso de emoç ã o nã o seja paixã o. O esforç o apenas aumenta a sua atraç ã o e, inevitavelmente, você se cansará muito mais depressa do que eu. Você mesma já reconheceu que sou mais forte.

— Você nã o tem coraç ã o — ela murmurou, empurrando-o quando ele colou os lá bios em seu pescoç o. Quanto tempo mais poderia tolerar aquele desejo irresistí vel de ceder e acabar dizendo tudo o que sentia por Lion? Era um verdadeiro inferno fingir que nã o o desejava, quando todo o seu corpo pedia por ele.

— Como é que pode dizer que eu nã o tenho coraç ã o, quando, certamente, está ouvindo as batidas dele? Esta é a nossa lua-de-mel e vou fazer com que se lembre de cada momento dela. Agora, vai me beijar e parar de se agitar tanto?

— Você terá que me obrigar. — Fenny estava à mercê de suas emoç õ es, tremia nos braç os dele, e as lá grimas de sua misé ria secreta escorriam-lhe pelas faces. Tinha prometido a si mesma nã o dar a Lion a satisfaç ã o de vê -la derramar uma lá grima sequer, mas agora nã o conseguia se controlar. Era o choro do fundo de seu coraç ã o magoado pelo marido. Soluç ou alto.

— Está se comportando como uma crianç a, você sabe. — Lion tomou o rosto dela entre as mã os e fez com que olhasse para ele por entre as lá grimas que a cegavam, — Você me acha tã o repelente assim? Vamos, diga!

E foi entã o que ela se viu numa situaç ã o terrí vel. Poderia dizer, com sinceridade, que ele nunca lhe seria odioso, mesmo que batesse nela. Mas, se mostrasse que sentia repugnâ ncia, medo e aversã o, ele talvez a deixasse em paz e nã o insistisse mais. Nã o só por uma noite, mas para sempre.

— Estou cansada — murmurou. — A ú nica coisa que quero é dormir...

— Quer mesmo? — Ele afastou seu cabelo do rosto quente e molhado pelas lá grimas; à luz do abajur, Fenny parecia jovem e deprimida. — Talvez eu esteja sendo imprudente e muito cruel, mas você sabia o que estava fazendo e nã o pode culpar ningué m, a nã o ser você mesma.

— Eu sei. — Passou as mã os pelo rosto, para enxugar as lá grimas. — Nã o precisa ficar repetindo isso a todo instante. Sei que fiz uma besteira... e agora, terei que pagar.

— De uma forma ou de outra.

Olhou-a de cima a baixo. O rosto de Fenny ainda mostrava vestí gios de lá grimas. Os cabelos estavam em desalinho sobre as almofadas e brilhavam com o reflexo das estrelas. Os cí lios molhados tremiam e a boca jovem refletia sombras de dor.

— Desta vez você nã o está representando, nã o é mesmo? As lá grimas e o medo sã o verdadeiros, e eu nunca violentei ningué m.

Magra e frá gil, ela se levantou do divã, amarrando o roupã o.

— Durma sozinha hoje à noite. Kalinikta.

Fenny nã o conseguiu responder ao boa-noite, porque sua garganta estava seca. Ouviu-o apagar a luz e sair, desaparecendo na escuridã o pela porta de comunicaç ã o entre os dois quartos.

Fenny recostou-se nas almofadas, com um gemido de dor.

O que podia ser mais penoso do que estar apaixonada e nã o passar de uma mercadoria para o homem que se ama? Tinha desejado de corpo e alma ficar nos braç os dele, nã o se importando que nã o sentisse nada por ela. Tremia agora ao pensar que aquela paixã o já podia ter produzido um fruto: e se ela já estivesse grá vida? A maternidade representaria a sua destruiç ã o, uma morte em vida.

Fenny gemeu e puxou o lenç ol de seda para os ombros.

— Lion... — murmurou, sentindo falta daquelas mã os fortes em sua pele, acariciando-a como se fosse de porcelana, depois, de repente, quase selvagens, mas nunca chegando a machucá -la.

Saltou da cama, calç ou as chinelas bordadas de pequenas borboletas em fios de seda, apertou o botã o que abria o painel secreto e saiu para a moussandra.

Foi até o parapeito. As estrelas pareciam jó ias que ningué m podia roubar.

Sentiu o aroma de limã o que vinha do pomar, o ruí do do mar lá embaixo e, à distâ ncia, o som de um bandolim tocando uma canç ã o de ninar, tí pica da Gré cia.

Quem estaria tocando? Seria para fazer dormir o filhinho ó rfã o de Zonar?

Entã o a mú sica má gica parou e Fenny sentiu-se completamente solitá ria outra vez, isolada da intimidade daquela famí lia grega, impedida para sempre de tomar parte de suas alegrias ou de suas tristezas.

Seu coraç ã o bateu depressa quando pensou no futuro. Agora, no silê ncio mortal daquele lugar, ouvia apenas o barulho do mar batendo contra pedras e as paredes dos penhascos. Era como se durante toda a sua vida ela estivesse esperando por um lugar como Petaloudes, mas lá nã o havia nada nem ningué m para protegê -la ou avisá -la do preç o alto que teria que pagar por tornar seu sonho realidade.

" Nã o é assim tã o fá cil como você pensava", Lion tinha zombado dela, " fazer um marido grego de bobo. "

Tinha ousado esperar que, com o tempo, ele a amasse! Mas toda a esperanç a morrera em seu coraç ã o. Nunca despertaria nada nele alé m de desejo. Lion só queria o seu corpo e continuava amando Penela.

Oh, como fui idiota por nã o pensar duas vezes antes de tomar a decisã o de subir ao altar e tornar-me sua esposa! Lion nunca esteve realmente a meu lado: todo o tempo, seu coraç ã o estava em Nova York... com Penela.

Fenny voltou ao quarto e se deitou entre os lenç ó is frios. Quis implorar a Deus por um pouco de felicidade, mas realmente nã o acreditava que merecesse. Usara as roupas de Penela, mas elas nã o lhe serviam. De qualquer forma, o conto de fadas tinha saí do errado e o sapatinho de cristal nã o pertencia à Cinderela.

Escondeu o rosto no travesseiro que ainda conservava as marcas da cabeç a de Lion e sentiu-se adormecer nos braç os de uma ilusã o.

 

CAPÍ TULO V

 

 

N as semanas seguintes, Fenny foi se acostumando à rotina do castelo do topo da colina. Sentia-se cada vez mais encantada pela ilha, onde o tempo era sempre maravilhoso, e pelas á guas incrivelmente azuis do Egeu, que renovavam as esperanç as nos coraç õ es das pessoas desesperadas.

Descobriu que Lion era um trabalhador incansá vel, saindo algumas manhã s no helicó ptero e nã o voltando durante vá rios dias, Suas inú meras atividades o mantinham ocupado em Atenas e Chipre e, de vez em quando, em Istambul.

Zonar viajava quase sempre com ele, e a responsabilidade da casa ficava nas mã os competentes de Demetre.

Ele parecia continuar nã o aceitando Fenny, mas sua esposa, uma mulher muito bonita e fú til, encontrou na nova cunhada uma fonte de curiosidade. Adelina nã o lhe ofereceu exatamente amizade, mas mostrou-se mais sociá vel do que o marido. Estavam casados há quase cinco anos e nã o tinham filhos. Adelina confessou a Fenny que nã o tinha muita paciê ncia com crianç as e nã o lhe interessava ter filhos, e Demetre estava muito apaixonado por ela para insistir em seus direitos gregos. — Esse negó cio de ter um bando de filhos já está ultrapassado — disse ela, com sua voz lâ nguida. — Acaba com o corpo das mulheres e com o interesse sexual. Acredite-me: os homens gregos dedicam toda a sua atenç ã o à s crianç as. Fenny simplesmente sorriu. Adelina seria a ú ltima pessoa do mundo a quem ela confiaria seus temores e segredos.

O filhinho de Zonar era um encanto de garoto, mas a babá mostrou-se possessiva e até mesmo um pouco rudecom Fenny. Era bem jovem e ocorreu a Fenny que ela devia estar apaixonada pelo atraente Zonar.

A vida no Castelo Azul oferecia-lhe mais um desafio do que um contentamento, mas Fenny nã o se importava com isso. Decidira nã o se deixar mais abater pela falta de amor de Lion. Havia sempre a possibilidade remota de que ele viesse a tratá -la com um pouco mais de carinho ou, quem sabe, até gostar dela. Era uma tê nue esperanç a, mas Fenny se agarrava a ela; do contrá rio, nã o lhe restaria nada e o futuro seria um abismo profundo e negro.

No castelo, despertou para a beleza selvagem da paisagem, o aroma dos limoeiros nos verdes pomares exuberantes, o brilho e o calor do sol. Mas, para perturbar tudo isso, havia sempre o barulho do helicó ptero subindo no cé u azul, levando Lion, que a deixava sozinha sem ao menos dizer adeus.

Depois daquela noite, ele nunca mais se mostrara delicado. Entrava e saí a do quarto dela quando bem entendia. — Você é minha esposa — disse com firmeza. — Nã o pretendo tratá -la como um í cone sagrado, que é beijado rapidamente e colocado de volta em seu branco nicho frio. Você é uma mulher e vai aprender a me satisfazer, quer queira, quer nã o.  

Depois de sete semanas no Castelo Azul, Fenny ficou sabendo que ia ter um bebê, mas nã o contou nada a Lion. Decidiu esconder de todos a novidade, guardando o segredo só para ela. Agarrava-se desesperadamente à fraca esperanç a de que um dia ele pudesse perdoá -la e mantê -la ali com ele. E, por amor à quela pequenina vida que estava crescendo em seu corpo magro, tentava absorver tudo que podia de beleza da ilha.

Logo descobriu por que chamavam o lugar de Petaloudes. Os galhos das á rvores estavam sempre cobertos por grandes borboletas, suas asas se agitando como renda. Sempre que possí vel, Fenny saí a em longos passeios. Seu refú gio preferido era o yali, uma casa de verã o na praia, de estilo turco, mobiliada com pequenas mesas e um divã com um grande almofadã o. Um tapete tranç ado cobria o chã o. Havia conforto e solidã o ali. Fenny gostava de ir lá quando Lion estava fora, para ouvir discos e ler revistas inglesas que ele comprava para ela no continente. Sempre ficava até o escurecer, e costumava nadar quando o sol se punha.

Enquanto nadava, pensava em Afrodite, que renovava a sua castidade no oceano. Se isto fosse possí vel para uma mulher que sabia que em seu corpo crescia um bebê de seu amante... Pensava sempre em Lion como amante, porque ele nunca se comportava como marido. Nunca discutia seus negó cios com ela, muito menos os planos para o futuro. Ao contrá rio, deixava claro que nã o tinham futuro algum, zombando dela, depois de fazerem amor.

— Vou sentir falta disso, minha pequena impostora, quando mandar você embora... para enganar outro homem rico.

Ela nã o discutia nem protestava, nã o adiantava nada. Ele jamais ouviria as suas lamú rias e, se ouvisse, nã o daria a menor atenç ã o. Preferia ficar calada, remoendo sozinha as suas tristezas.

Ele vinha, ficava um pouco com ela e depois partia para a outra vida, a vida de negó cios da cidade grande, onde provavelmente havia uma outra mulher, que devia saber mais de sua vida do que Fenny.

Por ora, nadar naquela á gua deliciosa, naquele mar divino e banhado pelo luar e pela luz das estrelas já era um alí vio muito grande para a dor que sentia e que algumas vezes se tornava uma verdadeira agonia. Entã o ouviu o barulho do helicó ptero seguindo em direç ã o ao planalto, onde as luzes em terra estavam sempre acesas, como se o esperassem. O aparelho sobrevoou o mar, fazendo cí rculos, até descer lentamente.

Fenny, que estava boiando, teve um sobressalto. Nã o esperava que Lion voltasse tã o cedo, porque Zonar tinha dito que iriam a uma conferê ncia em Chipre.

Embora sentisse um desejo irresistí vel de ir ao encontro de Lion, ficou na á gua e disse a si mesma que ele nã o queria vê -la correndo para seus braç os como toda esposa apaixonada faria. Nã o ficava bem para ela mostrar-lhe o que sentia.

Fenny estava sentada sozinha na praia deserta, mã os cruzadas sobre os joelhos, olhando para o mar, quando ouviu pedras rolando nos rochedos. Imediatamente percebeu que algué m descia pelo atalho, em direç ã o à praia. Seu coraç ã o bateu descompassado na esperanç a de que fosse Lion, procurando por ela.

Kalispera, kyria — disse uma profunda voz masculina.

Só que nã o era Lion quem vinha em sua direç ã o. O desapontamento foi tã o grande que Fenny enterrou as unhas nas palmas das mã os. Mas sorria, amigá vel, ao se voltar para Zonar.

— Boa noite, cunhado. Voltou cedo. Deixou meu marido trabalhando?

Esperava que Zonar lhe retribuí sse o sorriso e dissesse alguma coisa agradá vel. Em vez disso, ele ficou olhando para ela com uma austeridade incomum naquele rosto simpá tico. Fenny pressentiu que algo ruim tinha acontecido.

— O que foi? — Levantou-se rapidamente e agarrou o braç o dele. — Aconteceu alguma coisa com Lion? Diga logo, ou acabo ficando maluca!

— Preocupada? — Arqueou as sobrancelhas escuras, ficando muito parecido com Lion. — Você morreria se o perdesse, nã o é mesmo?

— Por Deus, sim! — Sacudiu o braç o do cunhado. — Nã o se comporte como ele! Nã o me atormente! Por que você voltou tã o depressa?

— Houve um acidente. Pelo amor de Deus, nã o há necessidade de ficar tã o apavorada!

Mas era tarde: a cabeç a de Fenny girou, e Zonar teve que carregá -la nos braç os até o yali. Empurrou a porta com os ombros e carregou-a para o divã, com um carinho que Lion nunca havia demonstrado. Tirou o cabelo dela do rosto pá lido e se ajoelhou a seu lado,

— Um acidente? — ela murmurou. — Lion foi ferido?

— Foi, mas fique calma. Ele é tã o forte como um verdadeiro grego deve ser, e a explosã o só o feriu de leve. O mé dico teve que extrair pedaç os de vidros de seu braç o e das costas. Eu estava almoç ando com... certa pessoa; portanto, nã o estava no pré dio da administraç ã o, quando a bomba explodiu. Até que Lion teve sorte, porque alguns dos outros homens foram mortos ou ficaram mutilados.

— Oh, Deus! Por que essas coisas tê m que acontecer? Por que as pessoas nã o se comportam como gente civilizada? É vandalismo ficar atirando bombas por aí, torturando um ao outro por causa de divergê ncias polí ticas. Preciso ir ficar com ele. Tenho certeza de que está precisando de mim.



  

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