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CAPÍTULO VII



 

Foi a á gua fria que despertou Í ris. O mar tinha passado pelas pedras e começ ava a atingir o lugar onde ela estava.

Sua cabeç a latejava e a á gua estava chegando em suas pernas. Ela sentou-se lentamente, tremendo por causa do ar frio que entrava pelos rasgõ es de sua blusa. Olhou em volta, vendo as pedras escuras e o reflexo pá lido das estrelas no mar, na crista das ondas que chegavam até a caverna.

— Oh, Deus! — Ela pô s a mã o na testa, apalpando o lugar machucado. Depois se levantou cambaleando e respirou fundo vá rias vezes para se acalmar. Foi entã o que se lembrou do que estava acontecendo antes que desmaiasse e nem quis pensar no que podia ter ocorrido enquanto estava desacordada. As ondas aumentavam e ela tinha que subir os degraus de pedra antes que a caverna ficasse inundada. Todos aqueles degraus e depois o jardim para atravessar, esperando que ningué m a visse naquele estado e começ asse a fazer perguntas... principalmente seu patrã o.

Ficou assustada com a idé ia de encontrar-se com ele daquele jeito, com a frente da blusa rasgada, a saia molhada com á gua do mar, a testa machucada. Ele ia querer saber o que tinha acontecido e ela teria que mentir. Nã o podia lhe dizer que Aquiles a atacara, transformar em palavras a feiú ra de tudo aquilo e ver a tempestade formar-se em seus olhos. Sabia que ele ia acabar com Aquiles e ela nã o queria mais violê ncia.

Ainda atordoada, passou da á gua para os degraus e começ ou a longa subida até o jardim. Estava escuro e os degraus machucavam seus pé s nus, criaturas invisí veis ocultavam-se nos arbustos e ela estava apavorada com a idé ia de que pudesse ser atacada de novo. Estava cambaleando e exausta quando chegou em cima e sua testa estava sangrando de novo. " Nossa Senhora, fazei-me chegar a meu quarto sem ser vista por ningué m! ", pensou. Foi difí cil atravessar o hall e o coraç ã o dela subiu na garganta quando ouviu o som de vozes e risadas vindo do salã o. Conseguiu subir a escada e passar pela galeria, por isso deixou escapar um suspiro de alí vio quando chegou em seu quarto. Quase desmaiando, fechou a porta pelo lado de dentro e deixou-se cair numa poltrona para retomar o fô lego.

Graç as a Deus naquela noite havia convidados para manter Zonar ocupado... ele nã o podia vê -la chegar em casa naquele estado! Ela precisava tirar as roupas rasgadas! Tinha que tomar um banho de chuveiro e se arrumar, e depois, se ele mandasse algué m procurá -la... No banheiro, com a porta trancada, ela se olhou no espelho e viu a expressã o de incredulidade em seus pró prios olhos. Parecia uma boneca de trapos que tivesse caí do na lama.

Com as mã os tremendo, tirou a roupa e entrou no chuveiro, abriu toda a torneira para que a á gua, batendo em sua pele, tirasse de seu corpo, a sensaç ã o de que tinha sido atacada.

Ensaboou-se com muito cuidado e usou uma esponja para se limpar bem, mas nã o podia tirar da memó ria sua luta com Aquiles. As marcas dos dedos dele estavam em seus braç os e havia outros sinais na brancura de sua coxa. Ela nã o tinha certeza da extensã o do ataque, sabia apenas que tinha ficado inconsciente o tempo suficiente para Aquiles conseguir o que queria. Curiosamente era o ardor de seu olhar que ela nã o conseguia tirar da cabeç a, ao sair do chuveiro para se enxugar.

O espelho mostrou seu reflexo... Ela parecia a mesma moç a a nã o ser por um resto de terror nos olhos e o machucado na testa, que tinha que esconder com o cabelo. Pegou a blusa rasgada e a combinaç ã o com a alç a arrebentada e pensou com pesar que, se continuasse assim, acabaria sem blusas. A blusa parecia sem conserto... assim como sua inocê ncia.

O que deveria fazer? Deixar a casa e voltar para o convento? Lentamente fez uma bola com a blusa de seda, escondendo-a em sua bolsa. Sumiria com ela de manhã, como se fosse a prova de um crime, como se tivesse consentido com o que se passou na caverna. Era o que Aquiles alegaria, e como ela nã o tinha contado nada para ningué m, ao voltar para casa, ia parecer que ele tinha falado a verdade.

Suspirando, foi até a penteadeira e começ ou a escovar os cabelos, cobrindo a testa para esconder a prova de sua queda. Zonar nã o podia ficar sabendo da luta degradante na areia, do toque das mã os de outro homem em seu corpo, da sensaç ã o quente dos lá bios que procuravam beijá -la no escuro, de seu desamparo...

Chamavam aquilo de luxú ria... no pró prio amor tinha que haver um pouco de luxú ria, e com um soluç o ela virou as costas para o espelho, enfiando o rosto nas mã os.

Í ris nã o ouviu a batida na porta, nã o percebeu que algué m entrava no quarto até que uma mã o tocou em seu ombro com muita delicadeza, mas produzindo o efeito de um choque elé trico. Ela estremeceu, afastando-se rapidamente, e tirando as mã os do rosto.

— Onde é que você estava? — Zonar perguntou. — Faz tempo que você sumiu e eu trouxe Aleko comigo, de volta do hotel. O que houve com você?

Ele virou-a para examinar seu rosto, por isso ela teve que se esforç ar para compor suas feiç õ es.

— Fui... fui passear de ô nibus. — Í ris nunca tinha mentido antes com tanta desfaç atez. — Fui mais longe do que imaginei e... me perdi num lugar em que havia muitos barcos. Sabia que Aleko estava bem porque estava no hotel, por isso tomei chá e depois fui tomar o ô nibus certo para voltar para Tormont. Já tinha escurecido. Percebi que o senhor estava com visitas, entã o subi para tomar um banho de chuveiro.

Zonar ouviu atentamente e ela precisou controlar a vontade de pô r a mã o na testa para que ele nã o notasse a contusã o. Procurava desesperadamente uma explicaç ã o caso aqueles olhos penetrantes percebessem o que havia debaixo do cabelo.

— Você está... esquisita. — Ele estreitou os olhos, para examinar-lhe o rosto e o pescoç o, até a abertura do roupã o. — Alguma coisa a assustou?

— Nã o. — Ela deu um sorriso forç ado. — Por quê?

— Nã o sei, mas há qualquer coisa em você que nã o estou entendendo. Alé m disso, nã o é há bito seu sair sozinha quando dei uma ordem relacionada com Aleko. Você está falando a verdade?

O brilho dos olhos dele provocou-lhe medo de ser descoberta, por isso mentiu de novo.

— É claro. Peguei o ô nibus errado e fui parar longe demais. Desculpe-me. Isto nã o vai acontecer de novo... na verdade...

— O que foi?

— Estava pensando em voltar para o Santa Clara. Nã o pertenç o a este lugar.

— Eu lhe direi a hora de ir embora!

Ele segurou seus ombros, um contato que chegou até os ossos, sem lhe dar a repulsa que sentiu quando Aquiles a agarrou. Alguma coisa agitou-se dentro dela e, se ele nã o a estivesse segurando, ela teria caí do.

— Como você está fraca! — Ele tornou a examinar seu rosto. — Você passou a tarde inteira dando voltas de ô nibus, tentando se convencer de que deve fugir de mim?

— Do senhor? — Ela olhou para ele, sabendo o que seus sentidos queriam e o que deveria negar-lhes.

— Sim! Você sabe tã o bem quanto eu que um homem e uma moç a nã o podem viver debaixo do mesmo teto sem terem consciê ncia um do outro...

— O senhor tem Colette — ela interrompeu. — Por favor, deixe-me ir embora!

— Sei muito bem que posso ter Colette, ou uma dú zia de outras moç as como ela. Mas você... você é estranha, reservada, intrigante. Nã o vou deixá -la voltar para aquela casa de ossos ressecados e de boas aç õ es, para que você se envolva naquelas roupas pretas e se negue isto — seus lá bios comprimiram os olhos dela — e isto també m... — Zonar beijou-lhe a boca, e seus braç os fortes levantaram-na do chã o, abraç ando-a.

Até entã o ela nã o sabia que o paraí so podia ser encontrado na terra, e suspirou de prazer contra aquele corpo musculoso. Ele abriu o roupã o com os lá bios e aquele contato na pele nua foi quase insuportá vel.

— Zonar! — ela exclamou o nome dele pela primeira vez e isto lhe deu um choque. — Nã o!

Í ris o empurrou e, tomado de surpresa, ele a colocou no chã o. Ela recuou, recompondo o roupã o. Suas pernas tremiam e parecia que o chã o balanç ava sob seus pé s. O pesadelo e o sonho misturaram-se em sua mente confusa e lhe pareceu que estava de novo na caverna, sentindo-se ameaç ada.

— Já nã o foi demais o que o senhor fez comigo? — ela disse com voz ofegante. — O senhor é um bruto... um animal... tudo o que eu quero é ficar em paz! E o senhor só quer me destruir!

Ele estava parado e seu rosto era uma má scara onde só os olhos tinham vida, brilhando como se estivessem em chamas.

— Você acredita mesmo nisso? — ele perguntou. — Ou é no que você quer acreditar?

Ela prendeu a gola do roupã o no pescoç o e o homem diante dela entrou de novo em foco, fora da confusã o que tinha invadido sua mente como o mar que formava redemoinhos entre as pedras.

Zonar, Í ris compreendeu, tinha os braç os, os lá bios, o calor em que ela queria se fundir.

— Entã o? — ele quase gritou. — Você acha que quero destruir seu sonho puritano de se tornar freira? É isto?

— Sim.

— Sim, sim — ele concordou, quase com desprezo. — Gostaria de tirar de sua cabeç a a idé ia de esterilidade... Na verdade, estou tentado a jogá -la naquela cama e provar de uma vez por todas para o que você foi feita.

Ele deu um passo, depois se afastou, exclamando uma praga em grego.

— Pelos deuses! Você quase me fez perder a cabeç a! Vista-se e desç a para o salã o. Quero que fique conhecendo meu irmã o e minha cunhada que chegaram da Gré cia.

Ela ficou muito surpresa, mas depois lembrou-se de que Aquiles tinha levado Zonar até a estaç ã o para buscar algumas pessoas. Lion Mavrakis e sua mulher Fenella, a ú nica mulher que parecia enternecer Zonar.

— Por favor, hoje nã o — ela pediu.

— Hoje — disse ele com firmeza. — Meu irmã o e minha cunhada vã o passar só alguns dias em Devon, depois Fenella vai fazer uma pequena operaç ã o num hospital e Lion vai ficar com ela. Parece que há uma possibilidade deles terem um filho... Por incrí vel que pareç a, Lion nã o se preocupa tanto com isso quanto Fenny. Ela perdeu o primeiro filho, eu estava com ela e sei como sofreu. Fenny é uma pessoa muito doce e eu quero que você jante conosco esta noite.

— É uma ordem, senhor? — Í ris perguntou serenamente.

— É — ele concordou. — Você me deve obediê ncia depois desta tarde, nã o é mesmo?

Ela estremeceu com a lembranç a e ele percebeu, porque franziu as sobrancelhas.

— Onde você esteve, Í ris?

— Já disse que...

— Você gaguejou alguma coisa, mas acho que era tudo mentira. — Seus olhos estreitaram-se tanto que só aparecia uma faí sca entre os cí lios escuros. — Você esteve com um homem? Pensaria isto de qualquer moç a, menos de você, e acho que quebraria o pescoç o dele...

— O senhor está dizendo uma bobagem — ela o interrompeu.

— É verdade? — Ele levantou as sobrancelhas. — Você está falando com seu patrã o!

— À s vezes o senhor se comporta mais como um ditador!

— É mesmo? — Ele sorriu. — Se você acha que sou um tirano, espere até conhecer Lion. Só Fenella tem a chave de seu coraç ã o, e a pobrezinha teve que ir até o fundo do inferno para conquistá -lo. Estou sendo duro com você?

Duro, implacá vel, indomá vel. Ela só podia inclinar a cabeç a... talvez todos os gregos fossem assim até que uma mulher encontrasse a chave de seu coraç ã o. De repente ela ficou curiosa e quis conhecer a inglesa de quem ele falava com tanta ternura, até com um pouco de intimidade. Zonar tinha estado com ela quando perdeu o bebê. Ele tinha sugerido que a vida dela nem sempre tinha sido fá cil ao lado do chefe poderoso da Companhia Mavrakis.

— Está bem — Í ris murmurou. — Vou me arrumar.

— Vou escolher seu vestido.

Ele abriu a porta do armá rio e Í ris ficou observando enquanto ele mexia nos vestidos... com um formigamento no fim da espinha, como se ele estivesse tocando nela. Zonar pegou o vestido de crepe-da-china, num tom suave de amarelo.

— Na minha opiniã o, uma bela escolha. — Ele pô s o vestido em cima da cama, com um brilho de arrogâ ncia nos olhos. — Espero você lá embaixo dentro de meia hora. Aleko vai jantar conosco porque esta é uma ocasiã o especial, agora ele está conversando com Fenella. Você pode se vestir sozinha?

— Eu me visto sozinha desde que era bem menor do que Aleko.

— Com roupas do convento. Este vestido tem um zí per que vai do pescoç o até embaixo e você pode precisar de ajuda. — Seus olhos prenderam os dela. Depois, com uma risada, ele caminhou até a porta. — Estou sendo paternal. Sei muito bem que seu senso de pudor nã o permite que ningué m a ajude a se vestir... como faç o com Aleko.

— Sou um pouco mais velha do que Aleko — ela comentou secamente. — E eu lhe asseguro, senhor, que nã o vou descer para jantar com o vestido colocado ao contrá rio.

— Menina engraç ada. — Ele parou, mantendo a porta aberta. — Muito reservada quando quer, mas lhe asseguro que vou descobrir onde esteve e o que fez a tarde inteira.

O coraç ã o de Í ris bateu mais depressa. Ela ainda estava chocada com o encontro na praia, mas achava que nã o demonstrava externamente que tinha sido maltratada pelo motorista. Nã o, Í ris se assegurou, Zonar estava fazendo perguntas porque ela geralmente obedeceria a todas as ordens.

— Continuo achando que você está escondendo qualquer coisa de mim. — Depois ele olhou para o reló gio. — Vou marcar o tempo. Veja se nã o demora a noite toda para se arrumar.

Ele foi embora, com seu ar decidido, e Í ris continuou com a sensaç ã o de que Zonar ainda estava lá, alto e moreno, com as sobrancelhas satâ nicas levantadas, numa mistura de zombaria e de ameaç a. Tinha que se vestir e descer porque ele mandara, mas, ao mesmo tempo, estava curiosa para conhecer Fenella Mavrakis... a mulher que Zonar nã o tinha o direito de querer porque era a esposa de seu irmã o.

Í ris vestiu-se em menos de meia hora, teve um pouco de dificuldade com o zí per nas costas do vestido, mas agora já estava pronta, o traje de noite caindo até abaixo dos joelhos delicados e envolvendo seus ombros de maneira a deixar o pescoç o nu, mostrando a cruzinha de ouro que sempre usava. Os sapatos tinham um salto de cinco centí metros, por isso ela andou um pouco pelo quarto para se acostumar.

Í ris tinha que admitir que estava completamente diferente da moç a que chegou ali, com uma blusa e uma saí a mal talhadas, usando aqueles sapatos que tinham provocado a implicâ ncia de Zonar. Com a consciê ncia um pouco pesada admirou suas pernas esbeltas vestidas com meias muito finas, os sapatos que Zonar lhe comprou pareciam acentuar seus tornozelos finos. Isto era vaidade, mas ele nã o podia deixar de gostar do contato da seda na pele... Depois pô s um pouco de perfume e saiu correndo do quarto, como se chamada pelo pró prio diabo.

Ao se aproximar do salã o, sentiu-se constrangida. Com um movimento nervoso ajeitou a saia do vestido e passou a mã o pelo cabelo para ver se estava cobrindo direito o machucado que ainda latejava. Depois respirou fundo e entrou no salã o.

Houve uma pausa na conversa e todos olharam para ela. Í ris nunca se sentira tã o constrangida em sua vida. Zonar estava ao lado do irmã o e, num dos sofá s de veludo, estava uma mulher esbelta, com cabelos até os ombros, usando um vestido verde-es-meralda. Ela trazia brilhantes nos ló bulos das orelhas, na mã o e ao redor do pescoç o. Aleko estava a seu lado, vestido com sua melhor roupa. Ele sorriu para Í ris, mas nã o quis sair de perto da tia.

— Srta. Ardath, quero apresentá -la, — Zonar segurou em seu cotovelo com firmeza — em primeiro lugar, para minha cunhada Fenella, a mulher mais bonita que conheç o.

Fenella sorriu, sacudindo a cabeç a como se o censurasse.

— Ainda bem que Lion sabe que nã o o levo a sé rio, Zonar.

— Que pena, pois estou falando a verdade. Você está linda, Fenny. Espero que Lion reconheç a a sorte que tem.

— Nã o se preocupe com minha sorte.

A fumaç a de charuto saí a das narinas de Lion Mavrakis e Í ris quase perdeu o fô lego quando viu os olhos do homem. Ela esperava que fossem escuros como os de Zonar, mas eram amarelados, o ú nico traç o bonito no rosto moreno que mostrava as marcas de uma vida difí cil de um homem que tinha aberto caminho desde as vielas da Gré cia, usando as mã os, o cé rebro e muita determinaç ã o. Ele prendeu o olhar de Í ris enquanto continuava a fumar o charuto.

— Í ris, hein? A mensageira dos deuses.

Ela ficou vermelha e Zonar apertou seu braç o.

— Os deuses gregos — disse ele. — Fenny, esta é a governanta de meu filho, que sempre viveu tranqü ilamente num convento até vir morar conosco.

— Muito prazer em conhecê -la. Que nome bonito que você tem! — Fenny sorriu. Seus olhos eram azuis, como um cé u sem nuvens, desanuviados agora, embora Zonar tivesse sugerido que sua vida nã o tinha sido fá cil ao lado do grego alto e musculoso.

— Agora venha me cumprimentar — Lion ordenou. — Nã o estou acostumado a encontrar moç as de convento e já fui informado por meu sobrinho de que você vai se tornar freira. É verdade?

Ele a examinou intensamente, desconcertando-a. Í ris quis se aproximar mais de Zonar, mas ele tinha se dirigido para a mesa de bebidas, deixando-a desprotegida. Entã o, inesperadamente, Lion Mavrakis sorriu com tanto charme que ela entendeu imediatamente por que uma moç a delicada como Fenella tinha se apaixonado por ele.

— Nã o fique com medo de mim. Em certos sentidos sou muito menos perigoso do que aquele meu irmã o bonitã o, e você já mora nesta casa há vá rias semanas. Você se dá bem com Aleko, nã o é?

— Sim, somos bons amigos, sr. Mavrakis. — Ela ainda estava um pouco intimidada, porque ele parecia mais estrangeiro, mais grego do que Zonar.

Í ris olhou para Zonar que estava servindo champanhe e sentiu pena dele. Ele parecia solitá rio e ela nã o pô de deixar de se perguntar por que nã o tinha convidado Colette para jantar com eles.

— Sei como você gosta, Fenny. — Os olhos dele pareciam acariciar a pele clara da cunhada. — Pus um pouco de suco de laranja no seu champanhe.

— Obrigada. — Ela sorriu, e depois olhou para Aleko, que estava distraí do, folheando um livro ilustrado sobre dinossauros e outros monstros extintos. — Aleko está muito parecido com você.

— Ele també m se parece um pouco com a mã e. — Zonar atravessou a sala com a bandeja cheia de taç as. — Vamos fazer um brinde, porque faz tempo que nã o nos reunimos.

— També m vou tomar champanhe, papai? — Aleko sorriu para Zonar e, quando os olhos escuros se estreitaram, Í ris percebeu que seu patrã o estava achando alguma semelhanç a entre o menino e sua mã e.

Champanhe com suco de laranja, como o de sua tia, e o mesmo para a srta. Ardath. — Os olhos escuros fixaram-se em Í ris por algum tempo, depois ele foi para perto do irmã o, que estava ao lado de uma das janelas que davam para o penhasco.

Chairete! — Lion levantou o copo. — Nã o é fá cil encontrar a felicidade, mas vale a pena procurar.

Enquanto eles bebí am, Fenella convidou Í ris para se sentar a seu lado. Ela já estava mais à vontade com as outras pessoas, mas ainda se sentia insegura a seu respeito. O vestido caí a bem em seu corpo, mas nã o na pessoa que planejara ser. Dentro do convento tinha sido muito fá cil seguir um determinado caminho, mas agora ela se sentia perdida, vulnerá vel e incerta sobre a felicidade. Se o amor era felicidade, entã o isto lhe seria negado.

— Que vestido bonito! — Fenny comentou. — Foi comprado aqui? Sei que há lojas muito boas na cidade.

— Foi o sr. Mavrakis quem comprou.

— Entendo... — Fenny sorriu. — Ele nã o gostava das roupas que você trouxe do convento, nã o é?

— Foi isso mesmo — Í ris admitiu.

Fenny parecia divertida e olhou para onde os dois gregos estavam conversando.

— Meu marido e Zonar sã o famosos por sua sinceridade, você acha que eles se parecem?

— Sim — Í ris respondeu imediatamente. — Quando sorriem.

— Sei exatamente o que você quer dizer. Lion fica muito charmoso quando sorri, mas quando está sé rio amedronta todo mundo. Eu també m morria de medo, mas isso foi há muito tempo. Zonar a amedronta?

Í ris ficou pensando na pergunta. Havia muitas maneiras de se sentir amedrontada por um homem e ela sabia — e como! — que Zonar nunca exerceria seu poder para ferir ou desonrar uma mulher. Por isso, respondeu tranqü ilamente:

— Ele é um cavalheiro.

— Sim — Fenny concordou. — Lion sabe disso e tem muito orgulho por Zonar ser assim. Ele lutou muito para conseguir pô r os dois irmã os no colé gio. Há uma bondade inata em Zonar, uma compreensã o que faz dele um ó timo amigo quando se tem problemas. Tive problemas, sabe, e Zonar me ajudou muito na ocasiã o. Sempre lhe serei grata por ele ter me emprestado seu ombro, quando precisei. Diga-me... — Fenny hesitou, olhando para Í ris — provavelmente você sabe que ele anda se encontrando com uma moç a no hotel... Colette, acho que ela se chama assim. Ela estava lá quando tomamos chá, depois que ele foi mostrar o Monarch para Lion. Uma moç a muito moderna, uma modelo de Paris. Você a conhece?

— Sim, conheç o. — Í ris podia imaginar o que Fenny queria saber.

— Você acha que a coisa é sé ria? — Fenny perguntou, abaixando a voz.

— Nã o sei direito... — Í ris procurou evitar a pergunta. — Sou apenas governanta e nã o me cabe ficar fazendo suposiç õ es sobre o sr. Mavrakis. Ele vê Colette com muita freqü ê ncia, acho que ela o diverte e ela é muito atraente.

— É atraente mesmo — ela concordou. — Mas do tipo que quer se casar com um homem com dinheiro e posiç ã o, e algué m como Zonar deve ser escolhido apenas por ele mesmo. Ele precisa ser amado e as pessoas superficiais nã o sabem o significado desta palavra! A moç a do hotel é superficial, nã o é verdade? Você també m acha... posso ver em seus olhos.

— Nã o me compete dar uma opiniã o, sra. Mavrakis. — Ela abaixou os olhos para a taç a de champanhe.

— Nã o mesmo? — Fenny pegou a mã o dela. — Chame-me de Fenny, quero que seja minha amiga. É verdade que você vai entrar para o convento?

— Sim.

— É um passo muito difí cil. Nã o sei se eu teria forç as para tanto.

Fenny tornou a olhar para o marido e Í ris viu de novo um brilho de amor nos olhos bonitos. Sim, o encanto de amar e ser amada ardentemente estava nos olhos lindos daquela mulher, qualquer que tivesse sido seu pesadelo, agora era um sonho que a arrebatava. Era evidente que ela amava Lion... que o adorava. Sem querer, Í ris começ ou a examinar o rosto de Zonar. Fenny era muito diferente do retrato da mulher de Zonar, que estava na cabeceira de Aleko. Ela era morena e Fenny loira. Seus olhos eram castanhos e os de Fenny azuis. Ela era grega como os irmã os Mavrakis.

Com uma risada, Zonar disse para Fenny:

— Seu marido está muito mais charmoso agora. Você lhe deu aulas?

Fenny sorriu, mas Lion respondeu por ela:

— Nã o, irmã o, aprendemos juntos sobre a felicidade. E o fato de estarmos juntos. É bem simples.

— Estou impressionado. — Zonar levantou as sobrancelhas. — Você tem viajado no caí que de vela preta ultimamente?

— Fui para Creta há pouco tempo. A ida foi ó tima e eu pesquei um tubarã ozinho.

— Um tubarã o? — Aleko olhou interessado. — E ele resistiu muito, thios?

— Pode apostar que sim, Aleko. Você precisa passar algum tempo conosco. Vou lhe ensinar a pescar no mar Egeu. Você quer?

Aleko concordou, depois esfregou a testa, muito pá lido e com olheiras. Í ris ficou preocupada. Provavelmente tinha brincado no sol e se cansado, mas ela nã o queria sugerir para Zonar que o menino devia ir para cama. Achariam que ela era desmancha-prazeres.

Foram jantar na sala de teto alto, que captava o barulho do mar. As paredes eram revestidas de madeira cor de mel e enfeitadas com belas gravuras com cenas campestres. A mesa oval, rodeada de cadeiras de espaldar alto, era iluminada por um lustre baixo que tirava faí scas dos cristais e da prataria, e no centro havia uma floreira com rosas do jardim.

— Tudo isto é muito bonito — Fenny sorriu ao sentar-se à mesa. — Esta casa é uma beleza. Que sorte você teve de encontrá -la!

— Casa e governanta — Lion comentou, lanç ando um olhar zombeteiro para Í ris. — Há possibilidade de compra?

— Da casa ou da governanta? — Zonar perguntou.

— Qual você prefere, irmã o?

— Ç omportem-se, você s dois — Fenny ordenou. — Í ris nã o está acostumada com a conversa de taberna dos gregos quando se encontram.

— É verdade? — Lion estendeu a mã o e brincou com o pingente de brilhantes do brinco da mulher. — Se ela mora com meu irmã o, já deve ter descoberto que ele nem sempre faz o que deve.

— Í ris nã o é... bem, você sabe. — Fenny olhou para Aleko que estava ao lado do pai, um pouco quieto demais para o sossego de Í ris.

— É claro que sei. E só olhar para ela.

— Entã o pare de falar bobagens.

— Você sabe que eu sou assim desde que me pegou no altar — ele caç oou, fazendo com que Fenny ficasse vermelha. — Veja, Zonar! Eu ainda consigo deixá -la envergonhada!

Zonar sorriu, do outro lado da mesa.

— Se Lion ainda nã o sabe que se casou com um anjo disfarç ado, entã o nã o vai saber nunca!

— Nã o sou nenhum anjo — ela protestou. — Ele era tã o louco que quase me quebrou o pescoç o... Gostaria de saber como tive coragem para fazer o que fiz. Acho que era jovem e muito româ ntica. Os outros homens, perto dele, perdiam a graç a.

— Mulher, espero que ainda seja assim! — Lion exclamou.

— E é, querido, a nã o ser quando Zonar está na mesma sala que você.

Em outra ocasiã o Í ris teria ficado intrigada, senã o um pouco espantada, com aquela conversa, mas estava observando Aleko. Quando Lion se serviu de um prato de mariscos preparados com tomate e pimentõ es, o menino sentiu o cheiro do alho e teve uma â nsia de vô mito. Í ris levantou-se imediatamente para socorrê -lo. O rosto de Aleko estava branco como giz e ele estava curvado, com a mã o no estô mago.

— O que você comeu? — Zonar perguntou.

— Mexilhõ es — ele choramingou. — Numa barraca perto do porto.

— Pelos deuses! — Zonar pegou o filho nos braç os. — Leite! Ele vai tomar leite até que saia pelas orelhas! Enquanto isso, Í ris, chame aquele mé dico que veio examiná -la. Diga-lhe o que esse diabinho andou comendo, e rá pido!

— Posso ajudar em alguma coisa? — Lion estava em pé, com Fenny a seu lado, muito preocupado.

— Papai... — Aleko gemeu. — Está doendo...

— Você já vai melhorar. — Zonar sacudiu a cabeç a em resposta a Lion, depois foi em direç ã o à cozinha. Í ris, que estava ao lado do telefone, ligando para o mé dico, ouviu-o dizer ao menino:

— Você vai se encharcar de leite. O que foi que eu disse sobre comer peixe nas barracas?

— Mas você comia... comia polvo.

— Eu era um menino de rua, com estô mago de avestruz... — A voz grave desapareceu e o estô mago de Í ris contraiu-se enquanto explicava a situaç ã o para o mé dico, que felizmente estava em casa, podendo atender Aleko imediatamente.

Ela suspirou quando colocou o fone no lugar. Algué m tocou em seu ombro e, quando ela se virou, viu que era Lion.

— Beba isto. Você está tã o pá lida quanto o menino.

Ele lhe deu um copo com conhaque, que ela bebeu automaticamente.

— Nã o se preocupe. O mé dico já vem vindo para cá e Zonar é muito eficiente numa crise... na verdade, melhor do que eu.

— Foi minha culpa! — Ela estava muito abalada. — Eu devia ter ido diretamente para o hotel esta tarde, mas fui para a praia e... e caí no sono.

De repente, ela deixou escapar um soluç o e no instante seguinte estava nos braç os de Lion. Ele disse alguma coisa em grego para a mulher, mas Í ris estava muito aflita... e as lá grimas começ aram a jorrar de seus olhos, sem que pudesse controlá -las. Um lenç o enorme veio parar em suas mã os, e ela o levou ao rosto, sentindo o cheiro de charuto que lhe lembrava Zonar.

— Aleko vai ficar bom — Fenny assegurou-lhe. — Você nã o deve ficar tã o preocupada, ou també m vai precisar do mé dico.

— Estou bem agora. — Í ris enxugou as lá grimas, controlando-se. — Ela se afastou de Lion e olhou para o corredor que levava à cozinha. — Quero ver se Aleko está melhor... será que posso?

— Vá! — Lion falou sem vacilar. — Mais vale você ficar ao lado dele do que se desesperando aqui. Vá logo. Fenny e eu esperaremos o mé dico.

 



  

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