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CAPÍTULO II



 

A limusine subia suavemente a encosta, permitindo vistas deslumbrantes da baí a de Tormont, sobre a qual ficava o Monarch Hotel. Eles tinham que passar pelo hotel para chegar à casa e Í ris ficou admirada com o tamanho do lugar. O pré dio era feito de pedras brancas e parecia um palá cio florentino, com balcõ es diante das janelas. Na entrada havia um porteiro uniformizado, com luvas brancas. Vá rios carros elegantes estavam parados ao lado do caminho de entrada e o pró prio pré dio estava cercado de jardins que subiam até os penhascos. As palmeiras davam ao lugar um ar tropical e havia uma faixa verde de campos de golfe, entremeados por bancos de areia.

— É o hotel do papai — disse Aleko, ansioso. — Nã o é maravilhoso?

— É maravilhoso mesmo — Í ris concordou. — Gosto da maneira como os jardins vã o até a praia.

Nã o era de admirar que Zonar Mavrakis quisesse supervisionar a direç ã o do hotel por algum tempo! Obviamente, era um lugar que atraí a gente com dinheiro, um hotel de cinco estrelas, com piscinas ao ar livre e cobertas, um par de salõ es de baile, salas de estar elegantes, um pianista contratado e o chá das cinco horas servido por garç onetes. Í ris tinha lido um livro em que se descrevia um hotel parecido. A sala de aula do convento estava cheia de livros de escritores famosos, por isso ela podia imaginar o tipo de gente que se hospedava no Monarch.

O carro continuava a subir a encosta e a vista do mar ficava cada vez mais espetacular. Í ris nunca tinha visto á gua tã o azul, com uma camada espessa de espuma que se quebrava no cascalho da praia e nas pedras. Algumas pedras levantavam-se isoladas no mar, dando abrigo a bandos de gaivotas.

Aquiles fez uma curva fechada com o carro e ali estava a Vila Circe, num espaç o escavado no penhasco.

Í ris nã o podia acreditar, depois de ter passado toda a sua vida na atmosfera um tanto melancó lica do Santa Clara, que fosse passar os pró ximos meses num lugar tã o encantador. Depois que saiu do carro ficou olhando embasbacada para a casa, a ala esquerda tinha dois andares com balcõ es e partes curvas, depois o corpo central em cí rculo, com um telhado pontudo. A ala direita tinha só um andar e um estilo confuso, com janelas e portas de tamanhos diferentes. O pré dio tinha paredes brancas e telhas cor de ferrugem. Os jardins desciam até o mar e eram cheios de tufos de plantas. Cercando a casa, havia penhascos de pedra vermelha.

Parecia um quadro que ganhasse vida e Í ris prendeu a respiraç ã o, maravilhada. Ela nã o sabia que existiam casas como aquela e gente que tivesse a sorte de morar nelas. O dinheiro, para ela, era uma ficç ã o, mas nã o devia esquecer que os irmã os gregos, que podiam se permitir esse tipo de vida, tinham trabalhado muito, usando a forç a e o cé rebro para ganhar dinheiro. Quando eram crianç as, muitas vezes tinham ficado sem comer e Zonar Mavrakis nã o se vestia como seu filho, com um casaco de couro de gola de lã.

Í ris voltou-se para olhar para ele, parado ao lado do carro enorme, enquanto Aquiles tirava a bagagem do porta-malas. O menino estava batendo na mascote do capo do carro, uma mulher prateada, com um manto esvoaç ante.

— Seus olhos parecem tã o grandes — ele comentou, dando uma risada para ela.

— Será uma mudanç a para sua governanta... — disse Aquiles — descobrir que, alé m dos muros sombrios do convento, o mar é azul e o ar acaricia a pele como se fosse seda. Ela está acostumada demais com a camisa de penitê ncia.

— Você usa isso? — O menino perguntou com curiosidade. Aquiles deu uma gargalhada enquanto subia os degraus da casa com a bagagem.

— Ele é um barato, nã o é mesmo? Este garoto só tem conhecido as namoradinhas do pai, e elas só usam roupas de baixo de renda.

— Você nã o deve falar assim — Í ris o criticou. — Tenho certeza de que o Sr. Mavrakis nã o gosta que você fale destas coisas na frente de Aleko.

— Você vai me denunciar? — Aquiles caç oou, apertando o botã o da campainha colocada ao lado da porta de entrada.

Havia vasos de plantas cheias de flores de cada lado da porta e o ar que vinha do mar parecia acariciar o rosto e o pescoç o de Í ris. De repente ela sentiu-se desajeitada em seu casaco azul-marinho e muito consciente de como devia parecer diferente das jovens que costumavam descer do carro enorme de Zonar Mavrakis. Ela nã o tinha charme nenhum e, debaixo de sua blusa e de sua saia, suas roupas eram de algodã o.

Quando a empregada abriu a porta da casa, Í ris tropeç ou no degrau, em vez de entrar com toda a compostura.

— Foi aquela cerveja. — Aquiles riu.

A empregada pareceu levar o comentá rio a sé rio, olhando para Í ris com ar de censura.

— Venha por aqui, senhorita, que vou lhe mostrar seu quarto.

— Posso ir també m? — Aquiles perguntou. — Para levar a bagagem.

A empregada falou alguma coisa que Í ris nã o ouviu direito. Estava ocupada demais olhando para o hall, onde havia, numa extremidade, portas de ferro batido que davam para um terraç o com uma mobí lia de vime. Enquanto eles atravessavam o hall, ela notou que o chã o era feito com ladrilhos muito pequenos, formando uma espé cie de mosaico. Olhando melhor, percebeu que havia um sí mbolo oculto neles: o sol e a lua encontravam-se no meio de uma porç ã o de estrelas.

Riu consigo mesma e apoiou a mã o no corrimã o da escada, macio como seda. A casa era bastante grande, mas nã o era fria. Havia um brilho acolhedor no assoalho de carvalho, onde estavam espalhados tapetes orientais coloridos. Eles passaram por baixo de um arco de ladrilhos vermelho-escuros que dava para uma galeria. A empregada abriu uma porta logo depois do arco, olhando para Í ris com curiosidade, como se estivesse reparando na má qualidade de suas roupas, um olhar que dizia que Í ris nunca tinha dormido antes num quarto como aquele.

E era verdade, por isso ela nã o conseguiu reter uma exclamaç ã o de espanto. Sempre havia compartilhado o dormitó rio com outras garotas e dormido numa cama estreita, coberta com lenç ó is resistentes. À s vezes, no inverno, as garotas tremiam à noite porque os cobertores tinham ficado finos de tanto uso e, nas manhã s de inverno, seus pé s nus tocavam num chã o duro e gelado. Algumas garotas dormiam de meias, mas Í ris preferia calç á -las só de manhã.

Naquele quarto de teto alto, encostada numa parede coberta com um papel florido, havia uma cama larga com a cabeceira de brocado e com uma colcha cor de damasco, que caí a até o tapete. Havia també m cadeiras com almofadas, uma penteadeira com abajures de porcelana, um espelho grande e potes cujas tampas de prata refletiam a luz do mar que atravessava as janelas enormes. Numa mesinha de canto tinha um vaso de cristal cheio de flores e, no criado-mudo, havia outro abajur, um reloginho e alguns livros. Aleko sentou-se na cama e ficou olhando para Í ris que examinava o quarto, apertando de encontro ao corpo a bolsa antiquada que uma das freiras lhe havia dado. Tudo o que havia dentro era um lenç o, uma carteira e um pente. Í ris nunca teve uma caixa de pó -de-arroz, por isso nã o conseguia tirar os olhos dos potes com tampas de prata e dos frascos de perfume com seu lí quido dourado.

— Eu... — Í ris voltou-se para a empregada — é claro que nã o vou dormir aqui. Acho que seria melhor um quarto mais simples. Eu prefiro.

A empregada a olhou como se estivesse doida.

— O patrã o deu ordens para que a senhorita dormisse neste quarto. A governanta me fez passar a manhã inteira aqui, arrumando e limpando tudo. O que há de errado com o quarto?

— É maravilhoso! — Í ris ficou vermelha ao perceber um brilho de desprezo nos olhos da empregada. — É que eu nã o esperava um quarto assim. Moro num convento, sabe, e nã o estamos acostumadas a este tipo de luxo. Posso falar com a governanta para ela me arranjar outro quarto.

— Você está com medo de ficar gostando disto tudo? — Aquiles olhou em volta. — Considere-se uma pessoa de sorte, srta. Í ris. Meu quarto em cima da garagem nã o é tã o elegante nem tã o confortá vel. Se fosse você, nã o criaria problemas. O patrã o pode ficar aborrecido.

— O Sr. Mavrakis quer que seja assim — a empregada concordou. — O quarto do patrã ozinho é ao lado e os dois quartos tê m uma sacada para o mar. A senhorita tem que reconhecer sua sorte. Já trabalhei para gente que nã o tinha tanta consideraç ã o assim com o quarto da governanta.

— Tenho certeza de que o Sr. Mavrakis quis... — Í ris sentiu que seu rosto estava em fogo.

— Ele sempre faz o que quer! — A empregada dirigiu-se para o quarto ao lado e abriu a porta de comunicaç ã o, mostrando um aposento parecido, mas com uma cama pequena e a decoraç ã o em verde. — O chá será servido agora, senhorita, se quiser ir à sala de estar.

— Vai ter bolinhos de creme? — Aleko pulava na cama de Í ris, que ouvia o protesto cansado das molas sob o colchã o macio.

— Vou falar para a cozinheira que você quer — disse a empregada. — E pare de desarrumar a cama, comporte-se. Veja o que você está fazendo com a coberta!

O menino estava rolando na cama e Í ris resolveu que era melhor mostrar à empregada que ela nã o era a boba que eles pensavam. Por isso, fez Aleko sair da cama e arrumou a coberta, o contato com o brocado sedoso deixou seus dedos formigando de vontade de tocar na seda.

— Você deve tratar as coisas bonitas com mais respeito, Aleko — disse. — Elas custam muito caro.

— Papai tem montes de dinheiro — o menino respondeu descuidadamente. — É uma cama tã o gostosa que acho que vou dormir com você. À s vezes durmo na cama de papai e é muito melhor do que ficar sozinho.

— Igualzinho ao pai! — Aquiles deu uma gargalhada, provocando' um olhar furioso de Í ris.

— Aleko sabe muito bem que vai dormir na cama dele. E agora, se você s nã o se incomodarem, gostaria de me arrumar um pouco antes de descer para o chá.

— Aleko tem razã o. — Aquiles enfrentou os olhos dela com um ar atrevido. — É melhor do que ficar sozinho.

— Você se importa de ir embora? — Ela ficou parada ao lado da porta, esperando estar lhe dirigindo um dos olhares mais gelados da irmã Raquel. Esta freira tinha trabalhado na Á frica e uma vez conteve uma revolta na aldeia apenas olhando com desprezo para o chefe, que a ameaç ava com uma faca.

Aquiles sorriu para Í ris e depois se dirigiu lentamente para a porta, onde parou, segurando a maç aneta.

— Se você quiser fazer qualquer passeio, fale comigo. O menino vai ter aulas de equitaç ã o nas cocheiras Honeyton, que ficam longe demais para se ir a pé, e lá há um barzinho onde podemos tomar qualquer coisa juntos. Estou à sua disposiç ã o quando o patrã o nã o precisar de mim.

— Está bem — ela respondeu. — E muito obrigada por me falar das aulas de equitaç ã o.

— De nada, srta. Í ris. — Aquiles estava caç oando abertamente do jeito dela. — Ele també m está aprendendo a nadar com um professor do hotel e a jogar pingue-pongue. Espero que o patrã o goste de você. — O motorista piscou e fechou a porta, mas Í ris pô de ouvir que ele falava alguma coisa dela para a empregada. Depois se afastaram e ela ficou em silê ncio por alguns instantes, tremendo de nervosismo. Parecia que ela ia ter que entrar no hotel enorme, e isto a deixava apavorada.

Depois tirou a boina e desabotoou o casaco.

— Você gosta de cavalos, Aleko? — perguntou, levando o casaco para o guarda-roupa, onde uma fileira de cabides esperavam vestidos bonitos e roupas elegantes. Ela só tinha um vestido para usar à noite, que tinha mangas compridas e decote alto, e era de um tom de roxo um tanto sem vida. A irmã Ruth lhe fizera dois vestidos para usar durante o dia e, alé m disto, ela só tinha uma saia marrom e trê s blusas brancas que pareciam iguais. Seus sapatos eram de salto baixo e muito resistentes... Ela nã o fazia idé ia de como seria usar sapatos elegantes com saltos bem altos.

— Andar a cavalo é muito divertido. — Aleko aproximou-se para olhar para o guarda-roupa. — É muito grande, nã o é, srta. Í ris?

— Sim — ela suspirou —, grande demais para o pouco de roupa que tenho. Acho que as pessoas que ficam no hotel de seu pai sã o muito elegantes, especialmente as mulheres.

— E bonitas. — O menino olhou para ela. — Seu cabelo é uma beleza, tem cor de caramelo de chocolate. Depois do chá, podemos ir ao hotel para ver papai? Ele está lá cuidando das coisas.

— É o que ele faz. — Ela sorriu e, sem perceber, levantou a mã o até o cabelo macio, que à s vezes admirava, com uma sensaç ã o de culpa.

A vaidade era firmemente reprimida entre as alunas do convento e havia muito poucos espelhos no Santa Clara, e é claro que nenhum tinha o comprimento do que estava pregado no lado de dentro da porta do armá rio. O espelho mostrava uma imagem que a espantava; mostrava, por exemplo, que ela tinha uma silhueta esbelta quase delicada, com um pescoç o pá lido saindo da gola alta da blusa e que seus tornozelos també m tinham um aspecto frá gil, agü entando o peso dos sapatos pretos fechados que eram muito deselegantes. Se algué m lhe dissesse que tinha mã os bem-feitas e pele bonita, ela teria ficado espantada e confusa.

O espí rito do convento tinha penetrado muito em Í ris e nã o estava em sua natureza pensar em si pró pria. Ela olhou para seu reflexo como se estivesse diante de uma estranha. Sua saia estava trê s dedos mais comprida que a das moç as que estavam fazendo compras ou passeando com seus cachorros e que ela tinha observado das janelas do carro. També m usavam penteados elegantes e Í ris achou que devia parecer antiquada comparada a elas.

— Vamos cuidar de seu rosto e de suas mã os? — ela disse para Aleko.

— Posso me lavar sozinho.

— Sem precisar mandar? — Í ris abriu uma porta meio escondida num canto do quarto e lá havia um banheiro ladrilhado de azul de cima a baixo. Ficou espantada com o luxo, a banheira enorme, a pia de porcelana decorada e o resto das peç as combinando. O chã o estava carpetado e nunca em sua vida Í ris tinha visto um banheiro com tapete!

— Veja, cavalos-marinhos. — Aleko estava mexendo nas torneiras da pia. — Papai disse que esta casa era bonita. Você gosta?

— Nem posso acreditar que seja real. — Ela pegou um sabonete transparente e cheirou o perfume delicado. — Você tem muita sorte, Aleko, por ter um pai que pode gastar tanto assim. Você ao menos agradece a ele as coisas que tem?

— Você é muito pobre? — Aleko passou sabã o numa toalhinha, esfregou-a muito de leve no rosto e depois a jogou na á gua.

— Isto nã o é jeito de lavar o rosto, rapazinho. — Í ris pô s-se a cuidar dele. — O dinheiro nã o é tudo, você sabe. Há muitas outras coisas na vida, como ajudar as outras pessoas, plantar coisas no jardim, ouvir mú sica. Você nã o deve confundir pobreza do bolso com pobreza da alma. Uma pessoa pode ser rica sem ter dinheiro no banco.

— Mas dinheiro compra um monte de coisas. — Aleko levantou o rosto para ela enxugar e, quando bateu os cí lios molhados, Í ris achou que ele devia ser muito carinhoso e teve vontade de abraç á -lo. Estes impulsos nã o eram encorajados nem bem-vindos no convento, onde se ensinava o controle, por isso ela deu um tapinha no rosto do menino.

— Agora as mã os, garoto. — Ele mergulhou as mã os meladas na pia e ficou olhando enquanto ela passava sabã o. — Você quer dizer uma porç ã o de balas e brinquedos, para nã o falar das aulas de equitaç ã o? Será que seu pai nã o o está estragando, Aleko?

— Ele gosta muito de mim. — Aleko esticou as mã os limpas para serem enxutas. — Sabe, eu nã o tenho medo dele, mas muitas pessoas tê m. Ouvi Aquiles dizer isto. Ele diz que papai é duro na queda.

— Queda? — Í ris parecia espantada, pois nã o conhecia gí ria.

— Eles falam assim nos filmes, srta. Í ris. Aquiles à s vezes me leva, ao cinema e nó s comemos pipoca e tomamos sorvete. É muito divertido.

— Com certeza, se você passa a tarde toda comendo porcarias. Que tipo de filmes você vê?

— Sobre assaltos de banco, à s vezes um filme de cowboy, e uma vez nó s vimos um filme muito bom sobre um incê ndio na floresta. Foi ó timo!

— Sei. — Í ris estudou o menino enquanto penteava o cabelo escuro. Ele era bonito, com traç os do pai, mas com um charme inocente que provavelmente herdara da mã e, que tinha morrido tã o tragicamente. Sim, Zonar Mavrakis devia ter estragado o menino e, como era um homem muito ocupado, nã o era sempre que ele podia evitar a influê ncia de Aquiles.

— Diga-me, Aleko, por que o motorista de seu pai fala daquele jeito? Ele parece inglê s, mas é grego, nã o é verdade?

— Ele nasceu em Londres, mas a famí lia dele é grega. Eles moram lá, e o pai dele é dono de um café. Aquiles é um motorista muito bom e é por isso que ele guia os carros de papai.

— Os carros?

— Temos quatro — Aleko contou com orgulho. — O Rolls Royce é o melhor, é claro, e você devia ver o carro esporte de papai. Puxa, como corre! Aquiles gosta de guiá -lo e à s vezes sai escondido.

— Aquiles faz muita coisa que nã o deve, se você quer saber. — Í ris esvaziou a pia e a enxugou. Ela gostava de tudo limpo e em ordem, uma casa asseada significava um coraç ã o limpo, foi o que sempre aprendeu. Será que Zonar Mavrakis escolheu algué m como ela para cuidar do menino porque estava começ ando a ficar preocupado?

— Aquiles també m é duro na queda. — O menino pegou na mã o de Í ris e a puxou para fora do banheiro. — Vamos logo tomar chá. Estou morrendo de fome!

— Você nã o sabe o que isso quer dizer. — Ela sorriu.

Eles saí ram do quarto e atravessaram a galeria em direç ã o à escada. Antes que ela pudesse impedir, Aleko subiu no corrimã o e escorregou até o hall. O coraç ã o de Í ris bateu mais forte. Nem ousava pensar em como olharia para o pai se acontecesse alguma coisa com Aleko enquanto ele estivesse sob seus cuidados, mas, ao mesmo tempo, sabia que nã o podia prender a crianç a. Ele era um menino saudá vel, ativo e aventureiro, e ela queria que continuasse assim durante todo o tempo que ficasse lá.

Agora ele estava pulando com um pé só no hall, no mosaico que representava o sol e a lua. Quando Í ris se aproximou, ele perguntou:

— Você ficou com medo?

— Oh, nã o sou desmancha-prazeres — ela respondeu. — Mas quero que você se lembre de que se você se machucar seu pai vai pô r a culpa em mim. Isto seria justo?

— Aquiles diz que sou resistente como um gato — Aleko contou. — Ele diz que herdei isso de meu pai e de thios Lion. Sabe, eles sã o espartanos. Sã o daquela parte da Gré cia.

Os olhos de Í ris brilharam e seu sorriso, um pouco tí mido, tinha muito charme.

— Que estranho — ela murmurou. — Uma irmã do convento estava sempre repetindo que deví amos nos comportar como espartanas, encarando a vida como uma batalha e um desafio. Eu acho que foi isto que seu pai e os irmã os dele fizeram. — Entretanto, ela continuou pensando, provavelmente eles lutaram por dinheiro, enquanto ela, quando fizesse os votos, seria por razõ es espirituais.

Foi fá cil achar a sala onde o chá ia ser servido, eles só tiveram que seguir a empregada que empurrava o carrinho com as coisas. Outra empregada, Í ris percebeu, um pouco mais velha e com uma touca de rendas. Ela deixou o carrinho de chá perto de um sofá e Aleko correu para examinar o prato de bolinhos e um outro que tinha sanduichinhos em forma de triâ ngulos.

— Obrigada. — Í ris sorriu para a empregada, tentando nã o parecer intimidada na sala enorme. Havia um bule, uma leiteira e um aç ucareiro, todos de prata, e xí caras de porcelana tã o fina que eram quase transparentes. Afundou no sofá, ela que estava acostumada a cadeiras de encosto duro e a se sentar com as costas retas.

— A senhorita precisa de mais alguma coisa?

— Oh, nã o! — Aquele monte de bolinhos e de sanduí ches alimentariam uma dú zia de garotas no convento. — Isto é mais do que o suficiente!

— Está bem, senhorita.

A porta enorme fechou-se atrá s da empregada e, pela primeira vez na vida, Í ris pegou um bule de prata e serviu chá nas xí caras maravilhosas. Aleko serviu-se de sanduí ches e sentou-se num almofadã o de veludo. Í ris mexeu o chá enquanto olhava a sala, admirada... Parecia que ela estava sonhando acordada, pois havia um outro sofá de veludo, cortinas amarelas nas janelas, o brilho quente dos mó veis de mogno e um tapete maravilhoso. Tomou o chá enquanto olhava para o sol atravé s das cortinas de seda, levemente agitadas pela brisa que trazia o cheiro do mar. A madre superiora sabia que ela viria para uma casa assim?

— Agora posso comer bolinhos com creme? — Aleko perguntou.

— Você já comeu os sanduí ches?

— Sim, vamos logo. Quero ver meu pai. — Ele se aproximou dela, mordendo o bolinho. — Você nã o vai comer nada? Você só ficou olhando para a sala.

— É uma sala tã o linda, Aleko. Nã o temos nada assim no convento.

Ele sacudiu os ombros. Era um menino bastante mimado, cujo pai era rico.

— Quero ir agora para o hotel. Posso ir sozinho...

— Ficaria muito bonito, no meu primeiro dia como sua governanta! — ela interrompeu. — Eu ainda vou tomar outra xí cara de chá. Olhe, coma uma torta de maç ã e seja paciente. A paciê ncia é uma virtude.

O menino olhou para ela, parecendo gostar da idé ia, depois pegou uma tortinha e começ ou a comê -la.

— Você nã o tem fome? — ele perguntou. — As freiras nã o comem muita comida?

— Elas nã o fazem tudo o que querem, Aleko, e eu ainda nã o sou freira. Você quer mais um pouco de chá, ou talvez um pouco de leite?

— Leite — ele preferiu. — Posso beber na jarra?

— É claro que nã o! Dê sua xí cara.

— Você é uma megera? — ele perguntou, passando a xí cara.

— Onde foi que você ouviu essa palavra? — ela perguntou, enquanto servia o chá.

— É o que Aquiles diz da irmã, que ela é uma megera e que precisa levar umas palmadas. — Os olhos de Aleko brilhavam por cima da xí cara.

— É o que vai acabar acontecendo com você, se continuar me amolando — Í ris avisou. — Estou aqui para que você nã o faç a nenhuma travessura enquanto seu pai toma conta do hotel.

— Você acha que vai se apaixonar por ele?

— O... o que foi que você disse? — Ela arregalou os olhos, espantada, sem acreditar no que tinha ouvido.

— As moç as estã o sempre dando em cima de papai — Aleko contou. — Com você vai ser a mesma coisa, ou você nã o pode se apaixonar porque vai virar freira?

— É claro que nã o tenho a mí nima intenç ã o de... que idé ia! — A imagem do grego atraente passou pela cabeç a dela, com o cabelo muito preto formando costeletas de cada lado do maxilar fino, os olhos dominadores em cima do nariz bem talhado. Deus do cé u, porque o pai de Aleko nã o era um homenzinho dó cil em vez daquele magnata amedrontador, que tratava as moç as como brinquedos?

— Nunca mais você deve repetir isto, Aleko — ela censurou. — E um desrespeito para seu pai e para mim. Sou empregada dele e nã o uma moç a bobinha que nã o tem nada melhor para fazer do que correr atrá s de seu pai por causa de dinheiro!

— A moç a de Paris era linda — ele se lembrou. — Ela estava em cima da Torre Eiffel quando fomos lá e começ ou a conversar com papai; ela tinha cabelo comprido, que ficava voando com o vento. Vi que ela gostava de papai.

— E ele? — Í ris nã o pô de impedir sua curiosidade. — Gostava dela?

Ele inclinou a cabeç a, confirmando, depois acrescentou, pensativo:

— Mas eu acho que nã o como gosta de Fenella. Quando ele fala com ela, quando vamos a Petaloudes, sua voz fica sé ria e suave.

— A mulher de seu tio é bonita? — Í ris perguntou. Já estava começ ando a se interessar pelos Mavrakis e por aquela ilha de borboletas onde moravam o irmã o mais velho e sua mulher inglesa. Lion era um nome forte e raro, provavelmente a abreviatura de um nome grego mais comprido. Zonar també m tinha muita forç a e algo de oculto. Irmã os espartanos que atraí am o sucesso e as mulheres como uma lâ mpada atrai as mariposas.

— Fenella é linda. — Aleko ajoelhou-se na almofada e piscou seus cí lios compridos. — É o que papai acha. Ele diz que ela é tranqü ila e bonita como uma borboleta, mas a mulher de thios Demi me dá vontade de dar risada. Ela é muito divertida, mas é grega como a gente e os olhos dela sã o como os de um gato.

— Eles tê m filhos, Aleko?

— Duas meninas que nasceram juntas.

— Você quer dizer gê meas?

— É. Papai diz que sã o como ervilhas da mesma vagem. Divertido, nã o?

— Sim. — Í ris pensou na linda Fenella, que nã o tinha filhos, e imaginou como isto afetaria seu casamento com um grego que era chefe de uma grande organizaç ã o. Se ele nã o tivesse filhos, o futuro do menino que estava diante dela seria carregar uma grande carga em seus ombros.

— Podemos ir para o hotel agora? — ele pediu.

— Está bem. — Í ris levantou-se, alisando a saia reta. Estava nervosa, mas nã o tinha escapató ria, tinha que se preparar para o segundo encontro com Zonar Mavrakis. Nã o podia se esquecer daqueles olhos e da maneira como pareciam penetrar pelo tecido do uniforme do convento, uma sensaç ã o muito perturbadora para uma moç a cujos ú nicos homens que conhecia eram os padres jesuí tas que iam ao Santa Clara.

Ela e Aleko deixaram a casa banhada pelo sol da tarde, que já começ ava a tingir de cor-de-rosa a imensa baí a onde as casas e os pré dios acompanhavam as encostas das colinas. Respirou fundo o ar do mar, olhando admirada para as palmeiras que cresciam na terra avermelhada de Tormont.

Aquela parte da costa era chamada de Riviera de Devon. Era muito agradá vel e nem um pouco fria porque era protegida pelas colinas altas que rodeavam a baí a. Promontó rios de calcá rio faziam contraste com o arenito vermelho, criando um cená rio perfeito para o mar azul e para as á rvores tropicais.

Í ris sentiu-se excitada quando ela e o menino fizeram uma curva na estrada e chegaram à rampa que levava ao pá tio do Monarch Hotel. O hotel tinha portas girató rias, janelas enormes que chegavam quase até o chã o, subindo acima das paredes brancas muito só lidas, onde os quartos tinham balcõ es de ferro batido. Alguns dos hó spedes estavam sentados nos balcõ es, abrigados do sol.

Aleko desceu a rampa correndo e Í ris acompanhou-o com cuidado. O menino voou para o porteiro.

— Vim ver papai — ele disse, impaciente. — Onde é que ele está?

O porteiro levantou uma sobrancelha e olhou para Í ris, que se aproximava das portas girató rias.

— Este é o filho do Sr. Mavrakis — explicou Í ris, tentando desesperadamente nã o demonstrar seu nervosismo. — Acabamos de chegar de Londres e Aleko quer cumprimentar o pai.

O porteiro lanç ou um olhar cauteloso para Í ris, com sua saia reta e sua blusa branca. Ela teve vontade de rir, achando que o homem imaginava que ela era a mã e do menino. Que idé ia!

— Sou a governanta de Aleko — ela explicou ao porteiro.

— Entendo. — Ele os levou para o saguã o do hotel, uma sala redonda, rodeada por vitrinas de jó ias, de objetos antigos e de casacos de cashmere. Havia colunas de má rmore, lustres enormes e um par de cartazes atrá s de um balcã o, que ficava diante de uma estante com centenas de chaves penduradas em ganchos.

— Papai! — O menino saiu correndo pelo saguã o, pulando nos braç os de Zonar Mavrakis.

 



  

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