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CAPÍTULO III



 

O grego alto parecia ter estado trabalhando muito a maior parte do dia, sua gravata estava afrouxada no colarinho e seu cabelo preto despenteado, como se tivesse enfiado os dedos nele muitas vezes. Com muito carinho, beijou o filho, que se pendurou em seus ombros fortes, encostando o rosto nele. Í ris ficou impressionada com a cena e logo seu coraç ã o começ ou a bater com mais forç a quando os olhos pretos fixaram-se nela. Ele nã o sorriu, apenas olhou-a, observando o cabelo preto que contornava o rosto delicado. Depois o olhar desceu para seu corpo e Í ris percebeu que, agora que estava sem uniforme, parecia mais velha, nã o dando muito a impressã o da aluna do convento que ele contratara para tomar conta do filho durante o verã o.

— Boa tarde, srta. Ardath. — Ele falava inglê s com um tom ligeiramente á spero. A voz combinava com sua aparê ncia, pois no saguã o abobadado do hotel ele parecia ainda mais moreno... o cabelo, os olhos e o maxilar forte sombreado pela barba que já precisava ser feita de novo.

— Boa tarde, senhor. — Í ris conseguiu falar com o tom frio que aprendera com as freiras. Ela manteve-se sé ria enquanto ele a examinava, conseguindo esconder seu nervosismo.

— Espero que você tenha feito uma viagem interessante de Londres para cá. — Havia alguma coisa nos olhos dele, um brilho de divertimento ou de zombaria.

— Gostamos muito da viagem, senhor. — Í ris estava ficando tensa; tinha certeza de que parecia deslocada naquele ambiente luxuoso, com os cabelos sem corte, a saia comprida demais e os sapatos sem salto nenhum. Mas Zonar Mavrakis sabia de onde ela vinha e era crueldade achá -la... cô mica.

— Vamos para o escritó rio.

Ele virou-se, ainda carregando Aleko. Por cima do ombro, pediu que mandassem servir café com biscoitos. Depois passou pela recepç ã o, onde uma das moç as parou o que estava fazendo para acompanhá -lo com o olhar. Í ris seguiu-o, passando por uma porta bem atrá s do balcã o, e sentiu que sua mã o tremia quando fechou a porta, começ ando a participar da intimidade do pai com o filho.

— Bem, Aleko, o que você achou de sua governanta?

O menino inclinou-se para frente e murmurou alguma coisa no ouvido do pai. Í ris apertou as mã os por trá s das costas, querendo protestar, dizer que nã o estava lá para divertir ningué m e que Zonar Mavrakis devia ensinar ao filho que nã o era delicado cochichar na frente de outras pessoas. Mas, para seu espanto, ele falou:

— Agora, Aleko, você vai dizer alto para a srta. Ardath o que acabou de me contar no ouvido.

— Contei para papai que você vai se tornar freira, por isso era melhor ele nã o esperar que você se apaixonasse por ele.

— Que idé ia! — Ela corou, sem saber onde meter o rosto.

— Nã o se preocupe, srta. Ardath. — Pô s o filho no chã o. — As crianç as tê m o há bito desconcertante de revelar verdades que nó s, adultos, preferimos esconder. Garanto que você vai voltar para o convento tã o pura quanto chegou aqui. Um menino sem mã e está constantemente em alerta para ver se o pai está pensando em lhe arranjar uma nova mã e. Mas eu lhe asseguro que a madre superiora deixou perfeitamente claro que você deve entrar para a Ordem de Santa Clara quando voltar, por isso faç a o favor de nã o me olhar como se eu fosse atrapalhar seus planos. Eu lhe asseguro, jovem, que isso nunca me passou pela cabeç a.

Enquanto falava, seus olhos a examinaram da cabeç a aos pé s, parando nos sapatos, que pareciam tã o deselegantes. Mas felizmente algué m bateu na porta e ele afastou os olhos dela.

— Entre! — Uma camareira entrou com uma bandeja onde havia um bule de café, xí caras grandes e um prato de biscoitos.

— Por favor, deixe a bandeja ali. — O grego mostrou uma mesa perto da janela, que dava para a entrada do hotel. — Quer tomar alguma coisa, srta. Ardath?

— Já tomamos chá, senhor...

— Mas eu gostaria que me fizessem companhia. Por favor, traga sorvete de chocolate para meu filho — disse para a camareira. — Sim, srta. Ardath, sei que ele já comeu balas e bolos, mas, só desta vez, deixe-me fazer a vontade dele.

— Ele é seu filho, Sr. Mavrakis.

— Sim! E porque é meu filho lembro-me que quando tinha a idade dele nã o tinha idé ia de como era o gosto de chocolate ou de sorvete. Sou grego, srta. Ardath, e meu filho é muito especial para mim.

— Tenho certeza que... — Í ris mordeu os lá bios — que o senhor pode estragá -lo à vontade, naturalmente.

— Estragar!

Í ris olhou firmemente para o rosto moreno e distinto e viu que os olhos dele brilhavam de raiva.

— Parece que ele vive fazendo o que quer, nã o é, senhor?

— Você acha?

— Foi o que me pareceu.

— Você veio de um convento.

— Isto nã o quer dizer que eu tenha sido chicoteada e me alimentado de pã o e á gua, mas um pouco de disciplina nã o faz mal a ningué m.

— Nã o contratei você para disciplinar meu filho. Quero algué m que lhe faç a companhia e que lhe dê um pouco de instruç ã o quando ele perguntar alguma coisa, mas nã o quero, absolutamente, que ele tenha uma boba por governanta.

— Eu nã o sou...

— Nã o? — Seus lá bios moveram-se ligeiramente e ele olhou para Aleko, que estava sentado numa poltrona diante de uma escrivaninha, com ar aborrecido. — Aleko, o que você acha desta moç a? Você gosta dela ou ela está sendo muito chata com você?

Aleko olhou para Í ris, depois sorriu, sacudindo a cabeç a.

— Ela é boa, papai. Mas me fez lavar as mã os e o rosto.

— Fez mesmo?

Aleko concordou e pegou uma caneta de ouro que estava na escrivaninha.

— Posso ficar com ela, papai?

— E acabar perdendo? — Í ris nã o pô de deixar de interferir. — Canetas de ouro nã o sã o para meninos. Eu tenho certeza de que você tem lá pis de cor na sua sala de jogos e, quando voltarmos, podemos nos distrair com eles.

Aleko ficou zangado por alguns instantes, mas pô s a caneta na mesa. Zonar Mavrakis ficou olhando e Í ris percebeu logo que ele a julgava. Se quisesse mandá -la de volta para o convento, que o fizesse logo, mas ela tinha razã o em ser firme com o menino. Aleko nã o a respeitaria se pudesse fazer o que quisesse com ela, mas se era esse tipo de governanta que seu pai queria, entã o era melhor mandá -la embora naquele mesmo instante.

— Tenho um livro de colorir cheio de trens. — Aleko desceu da cadeira e correu para ela. — Podemos colorir quando chegarmos em casa? Podemos, srta. Í ris?

— E claro. — Ela sorriu, dando a mã o para o menino. — També m gosto de trens. Nã o que tenha viajado muito, só quando fizemos um passeio de um dia com as irmã s. Eles sã o muito emocionantes, você nã o acha?

O menino concordou e entã o o pai dirigiu-se de repente para a mesa perto da janela.

— A senhorita poderia me servir o café? Eu també m gosto de ser mimado...

— Sim, senhor. — Ela largou a mã o do menino e, quando se aproximou da figura alta, enquadrada pela janela, percebeu que ali estava um homem complexo e que nã o ia ser fá cil lidar com ele. Ele fazia sempre o que queria! E també m estava acostumado com isto, pelo menos no que se referia à s mulheres. Entretanto Í ris era diferente de todas as outras mulheres que ele tinha conhecido... Ela estava do outro lado de uma cerca que ele estava proibido de atravessar.

— O senhor quer creme e aç ú car?

— O creme esfria o café — ele respondeu. — O café deste bule é grego e nã o quero estragar seu sabor com aç ú car.

— Entã o o senhor gosta de café ao natural?

— Como a maioria das coisas — ele acrescentou. — A vida é um desafio neste mundo cruel... como você vai acabar descobrindo.

A disciplina manteve a mã o de Í ris firme enquanto ela servia o café, mas quando estendeu a xí cara e teve que olhar para ele... os olhos escuros nã o estavam caç oando dela e sim a desafiando, e Í ris sentiu que seu coraç ã o batia com forç a. Por um instante, quase pediu para ser mandada de volta para trá s dos muros do Santa Clara, onde ficaria a salvo da obstinaç ã o e do domí nio daquele homem que conhecia o mundo bem demais.

Ela respirou fundo, mas, antes que pudesse falar, a camareira entrou com o sorvete de Aleko.

— Se fosse você, també m tomaria sorvete — ele observou. — Você iria achar o café grego forte demais.

— Acho que sim, senhor. Especialmente da maneira como o senhor toma.

— É claro que você poderia pô r creme e aç ú car. Pelo que parece você nã o deve pesar muito. Você trabalha muito no convento?

— Sim, senhor. O diabo sempre encontra serviç o para mã os indolentes.

— Você me olha como se achasse que sou aliado dele.

— De jeito nenhum, senhor...

— O protesto saiu rá pido demais, senhorita. — Ele esvaziou a xí cara, estendendo-a depois para ser enchida novamente.

Í ris, instintivamente obediente, pegou a xí cara e despejou o café forte do bule. Quando a devolveu, teve novamente que retesar os nervos para enfrentar aqueles olhos caç oí stas... Sem querer, ela se lembrou do que Aleko lhe dissera sobre Fenella, a mulher do irmã o dele, com quem falava com uma voz sé ria e delicada. Será que ele a amava e que era por isso que continuava viú vo?

—Você tem olhos cautelosos, srta. Ardath, como acho que devem ser os olhos de uma moç a que cresce atrá s dos muros de um convento. Como é que você se sente livre no mundo, sem ningué m para vigiá -la?

— É estranho — ela admitiu —, mas interessante. Tormont parece ser muito pitoresca.

— Entã o você acha que vai gostar do lugar? Sim, é pitoresco e eu acho que foi por isso que sugeri a meus irmã os que comprá ssemos o Monarch. É bem bonito, nã o? Foi construí do nesta costa no fim do sé culo passado, quando era usado para receber membros da famí lia real. Ainda tem sua fama e as partes que nã o foram modernizadas sã o magní ficas. Esta tarde, fui olhar as dependê ncias dos empregados e nã o gostei. Sã o tristes, parecem um quartel. Há empregados que dormem aqui e eles devem ter mais conforto. També m nã o gostei muito da sala onde tomam as refeiç õ es. Estou mexendo em tudo.

De repente ele sorriu e Í ris entendeu imediatamente por que as mulheres se sentiam atraí das por ele. O sorriso aprofundou as linhas de seu rosto e brincou em seus olhos, mostrando um homem que gostava de aproveitar a vida com o mesmo vigor com que trabalhava. Seus olhos se encontraram com os dela e Í ris sentiu uma faí sca elé trica percorrendo sua espinha... O instinto lhe contou que muitos anos atrá s ele tinha percorrido um corredor escuro de dores emocionais, que a tristeza havia penetrado em seus ossos, em sua medula, alimentando suas recordaç õ es talvez por muito tempo. E que ele tinha saí do daquele tú nel muito forte, mas cí nico, como se realmente nã o acreditasse que poderia reencontrar a felicidade.

Por isso ele trabalhava e se divertia muito e Í ris, apesar de toda a sua ingenuidade, soube reconhecer tudo isso naquele rosto anguloso, curtido pelos ventos do destino. Naquelas feiç õ es estavam gravados anos de luta, de determinaç ã o tenaz e uma certa rudeza que é uma espé cie de verniz no rosto do homem que se fez sozinho.

Í ris nã o podia saber, mas se tivesse visto Zonar Mavrakis ao lado de Lion ficaria surpresa com a semelhanç a. Lion, entretanto, tinha encontrado a felicidade ao lado de uma mulher, o que o abrandou um pouco, mas Zonar tinha ficado duro e distante, suavizando-se somente para seu filho, para a moç a que ocasionalmente o interessava e para a recordaç ã o de uma jovem, que jazia agora sob o solo pedregoso da Gré cia.

Olhar nos olhos dele, Í ris tornou a pensar, era como voar na noite. Embora fosse um homem que conhecia muita gente, ele sempre conservaria sua reserva, longe do contato í ntimo de dois coraç õ es. No que se referia à s mulheres, ele tomava e em troca dava muitos presentes caros, mas nunca se entregava.

— Que olhar profundo — ele murmurou. — Você está tentando examinar minha alma, freirinha?

Í ris ficou confusa, porque era exatamente aquilo que tentava fazer.

— As pessoas por enquanto estã o me deixando curiosa. A atmosfera dentro de um convento é muito fechada.

— Por causa da castidade? — ele murmurou. — Onde os instintos da carne sã o reprimidos? Você fica amedrontada, srta. Ardath, por estar na companhia de um homem que acha o autocontrole um misté rio?

— Ser casta nã o é ser puritana — ela respondeu. — Nã o saí para o mundo esperando que os homens fossem como os jesuí tas. Nã o sou crianç a, sr. Mavrakis.

— Mas realmente sabe o que quer? — Ele a examinou atravé s de seus olhos semicerrados. — Olhe para Aleko se divertindo com o sorvete de chocolate e se lambuzando todo. Encantador, nã o é? Pois ele é algo que freira nenhuma pode ter. Você vai se privar disso?

— Serei recompensada de outras maneiras, senhor. — Í ris levantou o queixo e enfrentou o olhar cí nico. — O senhor nã o entenderia.

— Nã o tenho estofo para má rtir, nã o é? — Ele mexeu no bolso e tirou um estojo, de onde pegou um charuto fino que colocou entre os lá bios. Acendeu o isqueiro e inclinou a cabeç a escura para a chama e a luz do entardecer, que entrava pela janela e realç ava o brilho de seus cabelos.

Zonar Mavrakis tinha trinta e cinco anos e nã o parecia ter um ano a menos... Í ris sentiu um temor estranho ao pensar em como ele era experiente em contraste com ela, uma moç a de dezoito anos que nunca se entregaria a um homem.

Atrá s da cabeç a escura o sol brilhava como fogo, a autoridade e a forç a do homem eram assustadoras naquele momento, enquanto ficavam cara a cara, e a fumaç a forte mas perfumada do charuto penetrava em suas narinas.

O aroma parecia intensificar a virilidade dele e, pela primeira vez na vida, Í ris sentiu as diferenç as entre um homem e uma mulher. Em pensamentos, palavras e atos eles estavam em lados opostos. Eram um penhasco rochoso e a á gua profunda. Eram a elasticidade do tigre e o vô o da andorinha.

Enquanto a sala mergulhava numa sombra avermelhada, Í ris nã o conseguia tirar os olhos da figura alta. Ele era um pagã o e ela ia viver em sua casa... Seus dedos prenderam a cruz que trazia pendurada no pescoç o.

— Aleko está quieto demais. — De repente Zonar atravessou a sala com passos largos. Depois riu indulgentemente. — Meu filho dormiu... Devia estar muito cansado da viagem de carro e empanturrado de sorvete. Meu carro está lá fora, no pá tio, srta. Ardath, por isso vou levá -los para casa.

Casa! Era uma palavra estranha para Í ris. O convento nã o era uma casa no sentido mais verdadeiro da palavra, era uma casa de oraç ã o e trabalho, onde o amor fí sico estava excluí do.

— Venha! — Zonar Mavrakis carregou o menino. — Vamos para casa.

Í ris saiu do escritó rio com eles, fechando cuidadosamente a porta. No pá tio, a brisa do mar tinha ficado mais fria e ela estremeceu. O sol tinha desaparecido e as luzes brilhavam nas casas do outro lado da baí a.

— Vá depressa para o carro — o grego ordenou e ela obedeceu. Ele colocou Aleko a seu lado, de modo que a cabecinha adormecida encostou-se nela.

— O mar está escuro. — As palavras vieram de cima dos ombros largos enquanto subiam a rampa com o carro. — Você sabe nadar, srta. Ardath?

— Sim — ela respondeu. — Aprendemos numa piscina, mas acho que o mar nesse pedaç o da costa é mais perigoso.

— É, sim, e à s vezes parece o mar da Gré cia. Com certeza você nã o anda a cavalo?

— Nã o.

— Entã o precisa aprender.

— Preciso, senhor?

— Sim, você terá aulas com Aleko. Você nã o tem medo de cavalos, nã o é?

— Acho que nã o, senhor.

— Mas tem medo de homens, hein?

— Nã o...

— Freirinhas nã o devem mentir — ele a censurou. — Sei perfeitamente que você tem medo de mim. E natural, para uma moç a que sempre viveu entre religiosas. Nã o sou santo nem monge, nem tenho intenç ã o de me comportar como um deles por sua causa. Você sabe disso, nã o é verdade?

— Sei, sim.

— É bom assim para que tudo fique claro e você nã o espere que eu controle cada palavra ou aç ã o. Falo o que me passa pela cabeç a, srta. Ardath, e à s vezes perco a paciê ncia. Gosto de tomar uí sque e de receber amigos para jogar baralho. També m convido mulheres. Você pode desaprovar meus há bitos, mas nã o tente me reformar, ouviu?

— Nã o ousaria nem tentar, senhor.

— Você teria muito que fazer, caso tentasse! Ningué m vai conseguir me mudar agora.

— Firmemente entranhado na pele — ela disse com serenidade.

— Hein? O que foi que você disse?

— Que um tigre nã o pode tirar suas listras, senhor.

— Você tem medo de tigres?

Ela ouviu a risada dele, suave e insinuante na escuridã o. O carro entrou no jardim da casa e de repente a luz começ ou a jorrar de suas janelas. O barulho do carro tinha sido ouvido e a porta da frente foi aberta. Í ris sentiu que o menino se mexia, aconchegando-se mais. Ela ficou sentada enquanto Zonar Mavrakis saí a de seu lugar e, quando ele se aproximou para pegar o menino, seus olhos se encontraram.

— Você tem medo? — ele tornou a perguntar.

— Uma irmã do convento uma vez nos levou ao zooló gico — ela contou. — Os tigres estavam atrá s das grades e eu... eu achei que era uma pena.

— Ah — disse ele suavemente. — Em você há mais do que salta à vista, nã o é verdade?

— É, senhor?

— Nã o finja que é tã o inocente — ele caç oou. — Você parece que foi alimentada de folhas de limoeiro e de ervas, mas, como dizemos na Gré cia, uma dieta frugal alimenta a mente. Já vou lhe avisando, senhorita, pode ser que eu a convide algumas vezes para meu covil. Você ousaria entrar nele?

— Se o senhor me ordenar, terei que obedecer.

— A obediê ncia é uma regra fundamental no Santa Clara?

— Faz parte da autodisciplina — ela respondeu e, encostado na porta do carro, ele parecia encher o mundo, grande e autoritá rio, e curioso porque ela tinha levado uma vida tã o enclausurada... afastada de homens como ele.

— Sua autodisciplina é completa, srta. Ardath? — Ele carregou o menino.

— Ningué m pode dizer isso — ela respondeu cuidadosamente. — Nã o sou um camundongo, se é isto que o senhor está imaginando, sr. Mavrakis.

— O que é que a faz pensar que imagino coisas a seu respeito. srta. Ardath? — Ele a examinou enquanto subiam os degraus de entrada. Depois, ficaram embaixo de um lustre que lanç ava uma luz ardente e a empregada fechou a porta atrá s deles, silenciosamente.

— Acho que o senhor sente muita curiosidade sobre tudo e sobre todos — Í ris respondeu.

Aleko começ ou a piscar, acordando. Seu pai o olhou e um sorriso suavizou o contorno firme de sua boca.

— Já para a cama, menino, seu dia foi cheio demais. Você pode jantar na cama.

— Preciso mesmo ir me deitar, papai? — O menino nã o parava de bocejar. — Nã o posso jantar com você?

— Vou ter que sair, kalo pedhi.

— Negó cios? — Aleko olhou para o pai, emburrado.

— É claro.

Eles subiram a escada, acompanhados por Í ris. Negó cios, ela se perguntou, ou uma mulher com longos cabelos sedosos, usando um vestido que mostrava os ombros e sapatos com saltos tã o altos que a aproximavam daquela boca atrevida que parecia nã o tolerar nenhuma desculpa quando ele se sentia ardente? Í ris ficou com o rosto vermelho... aquele homem provocava pensamentos que ela nã o podia controlar e seus olhos ficaram perturbados. Ela parou, segurando a balaustrada e olhando em redor, enquanto ele entrava no quarto de Aleko.

Aquele mundo nã o era o seu, mas ela estava ali. O barulho do mar penetrava por uma das janelas da galeria e ela se sentiu presa num sonho estranho... " Deixe-nos por trê s meses", a madre superiora tinha dito, " e descubra um pouco da vida, antes de se entregar a nó s. Descubra se o mundo alé m de nossos muros tem mais a lhe oferecer. Você tem que saber a resposta nesse perí odo".

Seria impossí vel? Í ris refletia, esbelta e delicada em suas roupas modestas, poupada pelas emoç õ es e experiê ncias que invadiram a natureza daquele homem que tinha penetrado autoritariamente em sua vida reclusa.

Um suspiro perplexo saiu de seus lá bios... Ela estava indecisa entre o desejo de explorar aquele mundo desconhecido e uma necessidade de se refugiar atrá s dos muros do convento. Ela sentia-se como uma criatura marinha que tivesse sido lanç ada numa praia estranha e que tivesse que esperar até que a maré a devolvesse para seu habitat... Enquanto isso, tinha que enfrentar os azares do desconhecido e possivelmente até a falta de escrú pulos.

Quando a madre Superiora disse que a famí lia Mavrakis era muito respeitada, ela tinha falado de uma maneira geral, da reputaç ã o que eles tinham como homens de negó cios.

Como era grande e cheio de vida aquele grego que tinha acabado de levar o filho para a cama, para poder gozar a vida noturna de Tormont... sem dú vida como tinha gozado os prazeres mais sofisticados de Atenas, de Paris e de Londres!

A madre superiora nã o podia imaginar uma coisa destas, Í ris refletiu. Ela achava que todos os homens eram iguais aos padres que visitavam o convento... Mas Í ris nã o tinha dú vida nenhuma de que Zonar Mavrakis era totalmente diferente deles!

 

Í ris e Aleko passaram os dias seguintes explorando as delí cias da cidade que se esparramava à beira-mar. A praia acompanhava a costa irregular, à s vezes bem larga e depois se estreitando numa faixa fina de cascalho. Algumas pedras eram tã o coloridas e macias que Aleko começ ou a colecioná -las e, naturalmente, era Í ris que tinha que carregá -las para casa.

A cada tarde ela se espantava com a beleza dos crepú sculos, era como se alguma coisa no mar se apropriasse da energia e da cor do sol que estava morrendo, e as cores se espalhavam, como um quadro que nunca cansava de admirar.

O terraç o da casa dava para o mar e era uma delí cia ficar lá depois de um dia cheio, passado com um menino com muita vitalidade. Ela nã o sabia que as crianç as podiam ser tã o exaustivas, ou entã o Aleko tinha herdado a energia do pai que saí a cedo para ir ao hotel e que à s vezes só voltava depois que Aleko estava na cama. O menino nunca dormia antes do pai aparecer em seu quarto, a ligaç ã o entre os dois era muito forte e Í ris sempre sumia quando Zonar Mavrakis chegava em casa.

No terraç o, enquanto escurecia, ela ouvia o som de risadas masculinas dentro de casa. Sabia instintivamente que o menino estava contando os acontecimentos do dia para o pai que, com sua vida mundana, provavelmente se divertia com a idé ia de uma jovem ter prazeres infantis como catar conchinhas, cavar a areia, explorar as cavernas e pegar pã o amanhecido na cozinha do hotel para dar à s gaivotas e aos pombos do porto.

Talvez o grego nunca encontrasse tempo para passear nos velhos cemité rios e ler os nomes escritos nas lá pides. Para comer bolinhos deliciosos em salõ es de chá antiquados. Para visitar uma aldeia de brinquedo perto de Tormont, onde havia có pias perfeitas de solares, uma estaç ã o ferroviá ria, um clube de crí quete, uma igreja e uma estalagem, construí das entre colinas e vales em miniatura, com as mesmas pedras usadas na vida real.

Eles haviam ido à aldeia de brinquedo naquele dia e agora Í ris sentia um cansaç o gostoso, enquanto estava sentada numa espreguiç adeira de vime e olhava as estrelas brilhando sobre a á gua parada da baí a. À s vezes, o mar estava agitado e ela ficava deitada, ouvindo o barulho, mas naquela noite a tranqü ilidade era uma bê nç ã o. Respirou a brisa que vinha do mar. Deus tinha feito um mundo maravilhoso, se ao menos as pessoas percebessem...

— Entã o você está aqui.

Um fio de fumaç a de charuto saiu pela porta do terraç o e o aroma chegou no nariz de Í ris. O timbre da voz grave brotou da escuridã o e ela perdeu a sensaç ã o de relaxamento, sentando-se reta na espreguiç adeira.

— Aleko se divertiu muito hoje, srta. Ardath. — A ponta do charuto brilhou como um olho vermelho. — Ele me contou que você s foram ao reino encantado de ô nibus. O carro e meu motorista estã o à sua disposiç ã o, você sabe disto.

— Aleko gostou de andar de ô nibus, senhor.

— Imagino, mas tem chovido um pouco e os ô nibus sã o raros enquanto nã o começ a a temporada de verã o. Por que nã o gozar um pouco de conforto? Você tem muitos anos de sacrifí cios pela frente, nã o é mesmo?

— Nã o vejo as coisas assim, senhor.

— Sou um homem, senhorita, que acha um tanto difí cil entender como uma jovem pode enfrentar a perspectiva de uma vida privada de muitas comodidades e prazeres. Obviamente você sabe lidar com crianç as. Você nã o tem vontade de ter filhos?

— Nunca pensei nisto, senhor. — Í ris percebeu que quando era obrigada a conversar com Zonar Mavrakis instintivamente falava com voz fria e distante. Ela nã o sabia por que tinha um pouco de medo dele... Admirava sua capacidade de trabalho e a devoç ã o que tinha por Aleko, mas, quando ele falava com ela, sentia a espinha enrijecer como uma estaca. Alé m disso, o assunto era pessoal demais para ele tocar, quase como se quisesse desconcertá -la.

— Mesmo uma jovem criada na tradiç ã o do convento deve pensar um pouco sobre o assunto. — Havia uma nota de insinuaç ã o em sua voz e Í ris ficou ainda mais rí gida ao constatar a altura dele a seu lado, enquanto ele andava pelo terraç o. A vontade de correr para dentro era forte demais e ela só pô de controlá -la devido a seu senso de disciplina.

— Devia ser um tema de conversa, pois as moç as sã o as mesmas em todas as partes do mundo — ele murmurou. — Ou você s só pensavam em rezar?

— Nã o sei em que isto pode lhe interessar, senhor. — A voz dela tremia ligeiramente, com uma mistura de nervosismo e de irritaç ã o. — Vim aqui para cuidar de Aleko, mas, quando tiver que voltar para o Santa Clara, farei isto com a plena consciê ncia de que os votos excluem... filhos. Outras coisas encherã o minha vida.

— Você ainda nã o começ ou a viver. — Ele jogou a cinza do charuto, quase desdenhosamente. — Você está no convento desde crianç a?

— Desde bebê.

— E em muitos sentidos ainda é tã o inocente quanto um bebê. — Ele encostou-se na parede do terraç o, com o rosto na sombra, mostrando apenas o brilho dos olhos e a brasa do charuto. — Aleko me disse que você s dois ficaram maravilhados com a cidade de brinquedo, duas crianç as no reino da fantasia, hein?

— Há alguma coisa de errado em ser... inocente? — ela murmurou. — Todo mundo tem que ser realista?

— Como eu, srta. Ardath?

— Sim, senhor. Talvez o senhor nunca tenha parado o suficiente para apreciar o que W. H. Davies escreveu.

— Você acha que nã o tenho tempo para parar e pensar?

— Será que o senhor já percebeu que a vista da baí a é maravilhosa e que os sons do mar nã o sã o sempre os mesmos? Espero que o senhor nã o se incomode por eu estar ensinando seu filho a reparar nessas coisas. O senhor me escolheu para ser governanta dele, mesmo sabendo que meu mundo era completamente diferente do seu.

— Foi de propó sito — ele concordou. Seu sorriso era apenas perceptí vel na luz fraca que vinha das arandelas pregadas na parede, um movimento cí nico dos lá bios. — Tinha chegado à conclusã o de que o mundo estava cheio de mulheres agradá veis, mas meu irmã o Heraklion sugeriu que eu contratasse uma governanta num lugar onde nã o se conhecesse a vida mundana. Por isso, que lugar melhor para escolher do que um convento? E como foi conveniente que sua madre superiora permitisse que um membro de sua ninhada viesse para minha casa! — A ponta do charuto brilhou na penumbra. — O que você acha de minha casa?

— A casa é muito bonita — ela respondeu com muita polidez na voz. — Gosto de Tormont e me divirto em companhia de Aleko.

— E na minha, srta. Ardath?

Ela segurou a grade do terraç o. O que deveria responder? Contar a verdade, dizendo que ele a intimidava, mas que a deixava curiosa porque representava tudo o que nunca tinha experimentado e que provavelmente nunca iria conhecer? Ele fazia parte do mundo cosmopolita povoado por homens de sucesso e mulheres elegantes e carismá ticas, como a que tinha saí do com ele em Paris.

Í ris nã o só suspeitava que ele se divertia com sua ingenuidade — como é que podia deixar de notar o movimento das sobrancelhas enquanto a examinava, dos sapatos amarrados até o cabelo? — como també m o instinto lhe dizia que ele a comparava à s outras moç as que apreciava, mas cuja sofisticaç ã o nã o queria que seu filho absorvesse por enquanto.

Uma luz brilhava dentro de casa, iluminando o terraç o e a figura alta de Zonar Mavrakis, que andava para cima e para baixo, silenciosamente, quase ameaç ador na escuridã o... como se a noite o chamasse, despertando nele a impaciê ncia de um animal em busca de sua presa.

— Aleko nã o chegou a conhecer a mã e — disse ele de repente. — Ela era muito jovem e morreu quando ele nasceu. Um imbecil jogou seu carro contra o meu e minha mulher foi atirada para fora. Ela devia estar usando o cinto de seguranç a, mas estava grá vida de oito meses e o cinto a incomodava. Eu devia ter insistido! Como me arrependo... Pelos deuses, um homem pode esquecer? Com o choque, a dor e o terror ela entrou em trabalho de parto e Aleko nasceu nas minhas mã os, ali mesmo na beira da estrada... Você pode imaginar o que passei? Nã o, como poderia, se sua visã o do mundo sempre foi atravé s dos vitrais de um convento? Como é que você poderia saber qualquer coisa do meu mundo?

— Nã o... nã o sou inteiramente crianç a, senhor! Í ris sentiu pena dele, mas sua reserva natural nã o permitia que demonstrasse sua piedade de uma maneira fí sica. As mulheres lhe abriam os braç os e lhe ofereciam seus corpos curvilí neos, para que ele pudesse se esquecer por um instante do corpo dilacerado da jovem que tinha amado e perdido. Í ris só podia fitá -lo com seus olhos enormes e ficar onde estava, distante e tensa, agarrando o ferro frio e duro no ar da noite, que trazia o cheiro do mar... o mar que recuava e avanç ava na areia.

O silê ncio parecia maior enquanto a fumaç a do charuto atravessava o terraç o, misturando-se com o cheiro do mar. Í ris ficou imó vel, sentindo com todos os nervos que ele se aproximava, alto e forte, ainda sofrendo por um golpe que o tempo nã o tinha suavizado nem o prazer aliviado, a nã o ser por algumas horas entre braç os perfumados.

— Minha mulher tinha a sua idade. — A voz dele estava grave.

— Eu també m era muito jovem naquela é poca, e a crianç a que ela estava carregando no ventre fora concebida com paixã o e com amor, mas você nã o entende disto, nã o é? Para você é pecado oferecer os lá bios, envolver um homem com os braç os e permitir que ele a deixe louca de felicidade. Diga-me, freirinha, você nã o sente curiosidade por este tipo de paraí so?

— Nã o — disse ela, mas deu um suspiro quando ele segurou em sua cintura.

Ela procurou se afastar depressa, mas nã o antes de perceber que seus sentidos se inflamavam, que um fogo lento penetrava em sua pele, excitando as extremidades de seus nervos.

— Nã o faç a isso! — Ela deu meia-volta, ficando de costas para a parede do terraç o, como se estivesse fugindo de um incê ndio de verdade. Seus olhos ficaram ainda maiores, arregalados por causa do choque e do medo da masculinidade dele.

Franzindo as sobrancelhas, ele atirou longe a ponta do charuto.

— Foi só um teste — ele murmurou. — Ainda acho difí cil acreditar que tenho uma santinha entre minhas mã os calejadas.

— Nã o... nã o pretendo ser uma santa. — Ela ergueu o queixo, aborrecida porque ele a fazia sentir-se indefesa e com medo dele... ou tinha mais medo de si mesma? — Eu me dedico ao que quero e, se há regras, procuro entã o obedecê -las.

— Como você é correta — ele caç oou, enquanto examinava a silhueta esbelta vestida com roupas feias e simples. — Você nã o sente a vontade tã o feminina de usar coisas bonitas? Isto també m é pecado?

— É questã o de dinheiro. As coisas bonitas custam caro...

— Tenho muito dinheiro, srta. Ardath.

— O... o que o senhor quer dizer com isso?

— Vamos, você já mostrou que nã o é boba. Quero comprar para você algumas roupas mais adequadas. Posso abrir uma conta na melhor butique...

— É claro que nã o!

— Pelos deuses, qualquer outra moç a pularia de alegria com isto!

— Acredito, senhor, mas do senhor só quero o que merecer.

— E se eu lhe disser que nã o quero que meu filho seja visto com uma governanta vestida com roupas que parecem ter saí do de um baú? Esses sapatos sã o pavorosos e devem ser pesados e incô modos. Essa saia está comprida demais e a blusa parece um saco. Insisto em abrir a conta para você e, como seu patrã o, quero que você vá amanhã à loja para escolher algumas roupas bonitas, para usar de dia e de noite.

— Nã o... nã o posso aceitar sua oferta, sr. Mavrakis. Se o senhor nã o gosta do meu aspecto, entã o é melhor procurar outra pessoa para tomar conta de seu filho. — Com toda a dignidade, Í ris tentou passar por ele para entrar na casa, mas Zonar segurou com firmeza sua cintura. Ela tentou se afastar e imediatamente ele a puxou com toda a facilidade... no mesmo instante Í ris parou de lutar e o olhou desafiadoramente.

— Nã o tente lutar comigo, srta. Ardath. — O sorriso que ele deu era cruel e os olhos que a examinavam estavam tã o escuros e ameaç adores quanto o mar perdido na escuridã o. — Alé m de ser muito maior do que você, sou també m muito mais rude. Se você nã o for voluntariamente à loja para escolher as roupas, entã o a levarei, e a vendedora vai pensar que você é minha filha ou entã o minha amante.

— O senhor nã o ousaria me levar — Í ris acrescentou, tentando se livrar dele.

— Desafie um grego e ele fará quase tudo. — Os dentes brancos brilharam em contraste com a pele morena. E agora que estou pensando nisso, acho que é melhor você ir comigo à loja para escolher as roupas, pois você nã o deve ter a menor noç ã o do que lhe cai bem, pois sem dú vida sua mente pura deve estar cheia de imagens vestidas de há bito e com touca...

— E o que é que o senhor pretende que eu vista? — Ela estava corada. — Um biquí ni durante o dia e à noite um vestido de gaze preta decotado até o umbigo?

— Ah, entã o a freirinha tem uma lí ngua afiada, nã o é verdade? — Um brilho caç oí sta brincava em seus olhos como o luar na á gua escura. — Nã o, minha menina, gaze preta nã o é para você. Você tem que usar branco e azul para combinar com seus olhos imensos. E també m nã o gosto de biquí ni. Já resolvi que vou escolher as roupas. Vai ser divertido... ver seu embaraç o quando ficar parecendo mais uma moç a do que uma noviç a.

— O senhor nã o vai me forç ar a fazer nada... — Ela tentou novamente fugir dele, mas se debateu em vã o, como uma mariposa presa num alfinete. — Nã o vim aqui para isto... oh, maldito, me solte!

— Que palavra feia! — ele censurou. — Você terá que lavar a boca com á gua e sabã o.

— O senhor é muito esperto, nã o é mesmo? — Os olhos dela ardiam como brasas. — Para o senhor sou uma brincadeira, uma diversã o, algué m para provocar. Acho o senhor muito antipá tico.

— Muita gente també m acha — ele resmungou. — E o que se espera quando um grego se mete em negó cios. Ele é naturalmente competitivo e cada negó cio bem-sucedido lhe traz també m um inimigo ou dois. Se devo contá -la como um dos meus inimigos, que seja assim, srta. Ardath. Enquanto você der a meu filho toda a sua atenç ã o, nã o vou reclamar se você me der... migalhas.

Í ris olhou para o rosto bem definido, as sobrancelhas inclinadas sobre os olhos irô nicos, a boca ousada marcada com linhas de cinismo. Seu coraç ã o batia sem parar e ela sentia-se fraca. Oh, Deus, o que ele estava fazendo com ela, que nã o conseguia ir embora correndo mesmo depois de ficar livre?

— Vá embora — ele caç oou. — Por acaso estou impedindo?

— O senhor quer dizer... — ela engoliu em seco, para acalmar a pulsaç ã o na garganta — de volta para o convento?

— Nã o, sua tonta! — ele explodiu. — Vá jantar e pare de ter medo de que eu vá seduzi-la se você aceitar alguns vestidos. Faz parte do emprego... o uniforme, se você preferir. Vá beber um copo de vinho para trazer a cor de volta a seu rosto.

Enquanto ele ria, nã o muito alto mas como se estivesse caç oando dela, Í ris saiu correndo pelas janelas francesas, como se quisesse fugir daquela casa, de Tormont e daquele homem, cujo amor estava enterrado para sempre, com uma jovem grega morta.

Parou sem fô lego na galeria e sem querer começ ou a se examinar no vidro de uma das janelas ovais. Viu a imagem de uma moç a de cabelos pretos, rodeando um rosto pá lido e olhos grandes e incré dulos.

Era pecado pensar no tipo de amor que Zonar Mavrakis dava à s mulheres depois da perda da moç a que, morrendo, lhe tinha dado um filho?

Era por causa de Aleko que ficava naquela casa? Í ris apertou a cruzinha pendurada no pescoç o... tinha que acreditar que era por causa do menino. Ela nã o ousava encarar a possibilidade de que era o pai que a fascinava, com seu charme estranho.

 



  

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