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CAPÍTULO VI



 

Sim, à s vezes ele era delicado, mas os pensamentos de Í ris estavam dominados pelo outro lado de Zonar Mavrakis, o homem que a tinha tomado nos braç os e forç ado a beijá -lo.

Ela nã o podia imaginar a mesma cena com Colette, que ofereceria os lá bios com sofreguidã o e o envolveria com os braç os, sem medo de corresponder à s suas exigê ncias masculinas.

— A senhorita vai jantar antes de cuidar dos machucados? Í ris concordou e a bandeja foi colocada em seus joelhos.

— Depois vou pô r o anti-sé ptico, Louise. Vá jantar.

— Mas o sr. Mavrakis mandou que eu a ajudasse, senhorita.

— Eu ponho sozinha — Í ris assegurou. — Acho que você está louca para descansar, depois de ter trabalhado o dia todo.

— Hoje tem Kojak na televisã o... ele també m é grego. — Louise sorriu. — Eles sã o muito autoritá rios, nã o é?

— Oh, sim. — A voz de Í ris estava fria. — Acho que eles ainda consideram as mulheres como um objeto. Os pais ainda costumam dar um bode e algumas galinhas junto com a noiva.

— Aquiles contou para a cozinheira que o kyrios perdeu a mulher num acidente quando o menino ainda era bebê. Acho uma pena, nã o é, senhorita? Será que ele está interessado na srta. Morei? Ela é encantadora... Só nã o sei como é que ela consegue andar com saltos tã o altos, mas acho que já está acostumada, pois é modelo...

— Sim... — Í ris pensou em seu encontro com Colette no jardim, tinham sido colegas, mas agora eram mulheres jovens envolvidas com o mesmo homem, embora de maneiras diferentes. Como sempre, o destino.

— Vá ver seu programa de televisã o, Louise. E melhor comer as costeletas antes que esfriem.

— Está bem, senhorita. Nã o se esqueç a de passar o remé dio, pois o kyrios vai ficar bravo comigo se os machucados nã o melhorarem. A senhorita se machucou bastante, hein?

— Sim. — Í ris deu um sorriso desanimado. — De qualquer maneira, nã o pretendo deixar que o sr. Mavrakis me examine.

— É claro que nã o, mas sabemos que ele faz o que quer. Ele é muito autoritá rio, mas nã o chega a ser um tirano, a senhorita está entendendo o que quero dizer?

— Estou, sim. Ele tem uma autoridade natural, auxiliada pelo dinheiro e pelo carisma.

— Carisma, senhorita?

— É uma palavra grega que significa magnetismo de um tipo muito pessoal. Quando certas pessoas entram numa sala, ningué m percebe, mas o kyrios é logo notado.

— Sim, é isso mesmo, senhorita! — Louise parecia impressionada com a explicaç ã o de Í ris. — Imagine a senhorita saber disso tudo, tendo vindo de um convento e pronta para se tornar freira!

— As freiras també m sabem das coisas. — Í ris deu um sorriso diante do espanto da moç a. — Muitas vezes elas vã o trabalhar nas piores regiõ es do mundo e o fato de ser uma religiosa nã o significa ignorar a vida. As melhores enfermeiras sã o freiras, você sabe disso.

— A senhorita vai ser enfermeira?

— A madre superiora é quem vai resolver.

Louise ficou estudando Í ris, que jantava, enquanto refletia sobre as restriç õ es da vida de uma freira.

— Nã o é isto que eu quero — ela observou. — Tenho um namorado e vamos nos casar assim que tivermos economizado o suficiente. Quero ter algué m especial para cuidar de mim. É uma sensaç ã o tã o boa, senhorita, tã o excitante...

— Deve ser mesmo. — Í ris sorriu ligeiramente.

— Nada me faria desistir disso, senhorita. — Louise abriu a porta, como se tivesse que fugir rapidamente de Í ris, caso a vontade de se tornar freira fosse contagiante. — Boa noite, senhorita, e nã o se esqueç a de pô r o remé dio.

O sorriso de Í ris aumentou ao despedir-se da moç a. A porta fechou-se atrá s dela e Í ris afastou o prato de comida e olhou para a sobremesa, duas pê ras com creme. O tipo de sobremesa que nunca mais comeria quando deixasse aquela casa para voltar ao convento.

Mas comeu as pê ras com todo o prazer. Naquele mesmo instante seu patrã o deveria estar jantando com Colette antes de irem ao teatro. Colette estaria usando um vestido fascinante, provavelmente comprado em Paris. Sem dú vida os dois conversariam sobre o encontro em Paris... eles ficavam à vontade juntos, conversando e rindo sem qualquer sensaç ã o de conflito.

Talvez eles estejam começ ando a ficar apaixonados, pensou ela. Era excitante, Louise tinha dito, ter algué m para cuidar da gente.

Í ris afastou a bandeja e se recostou nos travesseiros. Ela nunca iria conhecer o fascí nio do amor, a excitaç ã o e o ardor de um sonho transformado em realidade. Sabia em que direç ã o seu destino a levava... era para longe dos sonhos que as outras moç as podiam ter.

Evidentemente, para longe de Zonar Mavrakis. Segurou a cruzinha que estava em seu pescoç o.

" Chegará o dia em que você terá que enfrentar o demô nio", uma das irmã s tinha avisado, " e você precisará de toda a sua forç a para expulsá -lo”!

Seus dedos apertaram a cruz, como se ela pudesse ajudá -la a evitar pensamentos proibidos. Como tinha aprendido a encarar a verdade, sabia que o grego alto tinha invadido suas defesas... Quando falou com ela, quando a olhou, quando a tocou com as mã os e com os lá bios, Í ris tinha sentido como se sua mente estivesse se separando do corpo, ela queria saber o que ele estava fazendo, e ele sabia disso. O que mais a atormentava era saber que aquela boca ardente em sua pele tinha despertado toda a sua necessidade reprimida de afeiç ã o... Era a primeira vez que era beijada e que sentia outro ser humano tã o perto. Em sua inocê ncia, ela nã o sabia que o corpo podia ser tã o sensí vel e responder tã o avidamente ao contato de um homem.

Seu rosto estava em fogo e nem mesmo algumas ave-marias rezadas com fervor puderam afastar de sua memó ria aqueles momentos em que quase abraç ou Zonar Mavrakis.

Era por compaixã o pelo homem que tinha tirado o filho do corpo inerte da esposa?

Í ris procurou acreditar nisso, mas sabia, no fundo do coraç ã o, que nã o era verdade. Enfiou o rosto no travesseiro, percebendo que a dor que sentia por dentro nã o tinha nada a ver com o acidente.

— Nã o posso... é pecado me sentir assim!

Mesmo com os olhos fechados ela podia ver o rosto dele... os olhos magnetizantes, o nariz grego, a forç a do maxilar.

Í ris agarrou as cobertas, sabendo que estava lutando com seu demô nio... a consciê ncia de seu lado fí sico, que ela devia negar se quisesse encontrar o estado de graç a total exigido de uma freira. Mesmo fugindo daquela casa, nã o poderia escapar de si mesma... Oh, como tinha sido tola em deixar que aquilo acontecesse, sabendo que nunca significaria nada para ele. Zonar nã o levava as mulheres a sé rio, menos ainda uma garota sem graç a e com a metade de sua idade, saí da de um convento, e que tinha tanta sofisticaç ã o quanto uma borboletinha de jardim.

— Sua boba! — ela se censurou. Com ar cansado, saiu da cama e pegou o vidro de anti-sé ptico, depois aplicou-o nos machucados, que pareciam muito escuros na brancura de sua pele. Seus joelhos tremiam e a combinaç ã o de tantas dores trouxe lá grimas a seus olhos. Teria sido um conforto ter algué m para cuidar dela, mas havia crescido num lugar onde a dor era escondida ou vencida. O Santa Clara nã o aceitava qualquer tipo de tolerâ ncia.

Í ris vestiu a camisola e estremeceu quando levantou o braç o para escovar o cabelo. Depois estudou seu reflexo no espelho, com olhos crí ticos. O que tinha feito Colette imaginar que Zonar Mavrakis estava atraí do pela figura de ar ingê nuo que ela via agora no espelho? A camisola simples chegava aos tornozelos e escondia suas curvas... Colette nã o tinha nada a temer e estava exagerando, só porque ele a salvara, tirando-a daquele penhasco como faria com um gatinho ou com um passarinho de asa ferida.

Voltou para a cama, acomodando-se com um suspiro. Estava estendendo a mã o para apagar a luz quando a porta se abriu e Aleko apareceu, com ar sonolento.

— Posso dormir com você?

A primeira reaç ã o de Í ris foi dizer nã o, mas, antes que ela conseguisse se apoiar no cotovelo e lhe dizer que voltasse para o quarto, o menino já estava aconchegado a seu lado.

— Tive um pesadelo — ele explicou. — Aquele do carrossel.

— Carrossel, Aleko?

— Vai girando e girando e depois eu caio. — Ele piscou, apoiando a cabeç a no ombro dela.

— Sei. O que você comeu no jantar?

— Omelete de queijo.

— Você acha que tem alguma coisa a ver com seu sonho?

— Provavelmente. — Ele bocejou, comentando: — Você está com cheiro de remé dio e está com um machucado horrí vel no braç o.

— Foi por isso mesmo que passei o remé dio. Você sonha sempre com o carrossel, Aleko?

— De vez em quando. — Suas pá lpebras estavam ficando pesadas. — E tã o bom ficar com você, Í ris. Você nã o vai me mandar de volta para meu quarto, nã o é mesmo?

Ela hesitou... nã o havia mal em deixar que ele passasse a noite com ela, mas isto nã o podia se tornar um há bito. Ela gostava da companhia, pois ele era apenas um menino, uma ré plica jovem e inocente do pai. Seus olhos se fecharam e Aleko se acomodou para dormir, bem perto dela. À s vezes, no convento, ela passava a noite ao lado de alguma crianç a doente, mas nã o era permitido que a crianç a fosse para sua cama. Ela nunca tinha dormido com ningué m, ouvido a respiraç ã o de outra pessoa e sentido seus movimentos enquanto dormia. Apagou a luz e preparou-se para dormir.

Acordou sobressaltada. A luz da galeria entrava em seu quarto e algué m se inclinava sobre sua cama. Confusa e ainda meio adormecida, olhou para o vulto e viu seus olhos brilhando na penumbra.

— Onde o menino se meteu? — Zonar parecia irritado. — A cama dele está vazia. Ele está com você, nã o é?

— Sim... — Ela se sentia ameaç ada pela figura alta, sem saber se ele estava irritado com ela ou aborrecido com o susto que tinha levado. — Aleko acordou por causa de um sonho desagradá vel e veio ficar comigo.

— Porque você estava por perto enquanto eu me divertia, hein?

— E difí cil ele acordar durante a noite — ela estava ligeiramente irritada —, por isso o sonho deve ter sido bem ruim, senhor.

— Sem dú vida ele ficou perturbado com o seu acidente. — Ele deu a volta na cama e olhou para o menino profundamente adormecido. — Se eu o tirar daí pode ser que ele acorde, e isto seria uma pena. E melhor Aleko ficar com você até amanhã.

— Espero que o senhor nã o se aborreç a por isso.

— Aborrecer? — Ele levantou as sobrancelhas. — Meu filho é um Mavrakis e está seguindo uma inclinaç ã o natural, se você ainda nã o percebeu.

— Ele ainda é pequeno...

— Ele é meu filho, menina. — Os olhos escuros brilharam e depois tornaram a ficar sombrios. — Ele també m sente falta daquilo que a maioria dos meninos tem: a afeiç ã o e o carinho de uma mã e. Tome cuidado para ele nã o a incomodar, pois já está machucada demais. Quando acordar, você vai se sentir como se tivesse levado uma surra, por isso tenha calma amanhã. Nada de sair com Aleko. Descanse para sarar logo.

Dizendo isto, ele saiu do quarto, fechando a porta com cuidado e deixando-a na escuridã o. Ela ficou ouvindo a respiraç ã o de Aleko e as batidas agitadas de seu pró prio coraç ã o. Havia um lado contraditó rio em Zonar Mavrakis que era mais perturbador do que sua energia... ele tinha uma ternura que se revelava em momentos inesperados, deixando a mulher completamente sem defesa.

Ele era um demô nio com muito charme. Sua feminilidade lhe dizia que ele tinha gostado de vê -la deitada ao lado de seu filho... o menino que continuaria seu nome e que cresceria duro e autoritá rio como ele.

Quando Í ris acordou, a luz da manhã iluminava seu quarto. Louise tinha aberto as cortinas e a bandeja com o chá estava no criado-mudo. Aleko tinha ido embora, deixando a marca de sua cabeç a no travesseiro. Quando se sentou para tomar o chá, Í ris percebeu que estava toda dolorida. Os braç os doí am do ombro ao pulso e sua mã o tremia quando serviu o chá.

Louise voltou ao quarto trazendo toalhas limpas.

— Bom dia, senhorita. Como está se sentindo hoje?

— Aos pedaç os. — Í ris tomou o chá, perguntando-se como ia conseguir sair da cama.

— O menininho estava acordando quando entrei para abrir as cortinas. — Louise olhou-a com simpatia. — Essas crianç as gregas sã o muito carinhosas, nã o é mesmo? E o coitado nã o tem uma mã e para abraç á -lo nem beijá -lo, apesar do kyrios ser um pai muito bom. A senhorita acha que ele está pensando em se casar de novo? Aquiles o levou para o teatro com a srta. Morei e eles estavam conversando muito, e depois Aquiles disse que ela estava com a cabeç a no ombro dele, e ele entrou com ela no hotel e só saiu depois de uma hora.

Um nervo contorceu-se dentro de Í ris quando Louise deu um sorriso malicioso, insinuando que ele tinha ido para o quarto de Colette e ficado para fazer amor com ela.

Í ris lembrou-se dele, ao lado de sua cama, sem paletó nem gravata, a camisa de seda aberta no pescoç o, com um ar de forç a e de paixã o enquanto olhava para o filho adormecido.

Havia uma expressã o no olhar dele, uma dilataç ã o nas pupilas, que agora estava explicada. Ela explorou seus sentimentos enquanto tomava o chá... estava chocada porque Colette tinha sido aluna do convento como ela, ou seu romantismo ficava ofendido porque achava que um homem e uma mulher deviam passar antes por um altar e ter seu amor abenç oado pelo sacramento do matrimô nio? Afastou as cobertas e mal pode impedir um gemido quando se dirigiu, cambaleando, para o banheiro, pois parecia que tinha levado uma surra. Louise olhou-a, preocupada.

— Talvez fosse melhor chamar o mé dico, senhorita. Pode ter havido alguma fratura.

— Nã o. — Í ris sacudiu a cabeç a. — Vou tomar um banho de chuveiro e pode ser que melhore. Eu devia ter tomado cuidado.

— A senhorita tem certeza de que está bem? — Louise hesitava, parada na porta.

— Ficarei ó tima. — Í ris conseguiu sorrir, embora sentisse uma fraqueza nos joelhos e mal pudesse levantar o braç o para abrir o chuveiro. Embaixo da á gua morna, sentiu-se um pouco melhor, por isso deixou-se ficar ali, com a á gua escorrendo em seu corpo. Massageou os braç os e os ombros com as pontas dos dedos, mas, quando tentou se inclinar, percebeu que seus quadris estavam duros.

— A velhice é assim — ela disse, brincando.

Velhice... a palavra ficou danç ando em sua mente, a vida acabando sem nunca ter tido um romance.

— Nã o seja boba! — censurou-se, saindo do chuveiro para se embrulhar numa toalha.

Enxugou-se um pouco, depois entrou no quarto... parando logo quando viu a figura alta perto de uma janela.

— Oh...

Ao ouvir a exclamaç ã o, Zonar virou-se para olhá -la. Seu rosto estava barbeado, seu cabelo preto bem penteado, seu terno era bege e sua gravata marrom. Ele estava pronto para ir para o trabalho, mas ficou ali, olhando para ela.

— Perguntei para Louise como você estava se sentindo — ele disse por fim. — Ela me falou que você estava dura como uma tá bua.

— Estava... — Í ris admitiu, olhando-o, espantada, enrolada na toalha, mas lembrando-se de que ele já tinha visto o que a toalha cobria. — Tomei um banho de chuveiro e agora estou melhor.

— Tem certeza de que nã o deslocou nada? — Ele avanç ou para ela e Í ris instintivamente recuou, segurando a toalha com toda a forç a e desafiando-o a colocar a mã o nela... nã o, nã o a mã o que tinha acariciado Colette!

— Eu nã o seria capaz de me mexer, senhor. A rigidez vai desaparecer.

— Até sua voz parece doí da — ele comentou lentamente. — E pare de me olhar como se eu fosse arrancar a toalha e me aproveitar de seu corpo dolorido. Você acha que eu sou um monstro?

Com um esforç o, ela afastou o olhar.

— O senhor deve perceber que nã o estou acostumada a ter um homem em meu quarto... Nã o é uma coisa incentivada no Santa Clara.

— Melhor agora. — A voz dele ficou ainda mais arrastada. — Sua voz está mais forte. Entretanto, vou chamar o mé dico para examiná -la.

— Nã o é preciso... estou bem — ela protestou.

— Nã o parece — ele insistiu. — Sei que você nã o está se sentindo bem. Como seu patrã o, posso mandá -la descansar hoje, nã o é verdade?

— Vou trabalhar, sr. Mavrakis. Posso muito bem cuidar de Aleko.

Ela tinha que inclinar a cabeç a para trá s para olhar para ele, descalç a, mal chegava nos ombros dele... ombros largos, cobertos por um terno muito bem talhado.

— Assim como o caviar é comprimido num potinho — ele sorriu —, em você só há independê ncia. Nã o, você nã o iria se queixar. Um pouco de tortura faz bem para a alma, nã o é?

Ouvindo isto, Í ris percebeu que ele nã o estava longe da verdade: ela tinha sido educada para suportar tudo sem se queixar, e nã o havia como negar que seu corpo doí a como se ela tivesse sido torturada.

— Volte para a cama. Esta é sua camisola?

Louise tinha tirado uma camisola limpa, comprida, muito simples e com a gola alta. Ele a pegou e o olhar que lanç ou já dizia tudo. Í ris olhou-o, assustada, e ele a imitou ao lhe entregar a camisola.

— Ficarei de costas, senhorita. Nã o vou afligi-la ainda mais oferecendo-me para ajudá -la a vestir essa camisola do sé culo passado.

— Espero que nã o, mesmo! — Í ris agarrou a camisola e foi vesti-la no banheiro. Seu rosto estava em fogo e a fraqueza das pernas parecia pior do que nunca. Ele era realmente o cú mulo, entrando e saindo de seu quarto como se tivesse o direito de fazer isto... Para ele estava muito bem ficar dizendo que tinha idade suficiente para ser seu pai, mas, para as outras pessoas da casa, ele era um homem e ela uma mulher, e nã o iriam demorar muito para falar dela o que diziam de Colette.

— Você é respeitá vel? — Ele a tirou do chã o, levando-a para a cama com toda a facilidade. — Como você é frá gil, srta. Ardath! Acho que só a forç a de vontade a manteve suspensa naqueles penhascos.

— Meu braç os nã o concordam... — Ela mordeu os lá bios, desviando o olhar da linha rija do maxilar.

— O que um homem pode fazer com você? — O ar que ele expirava estava quente. — Você sofre tudo em silê ncio... tudo?

— Nã o gosto de fazer onda.

— As emoç õ es, como já disse antes, menina, devem ser exprimidas e nã o controladas. — Ele a colocou na cama e estava arrumando as cobertas quando viu os pé s dela, arroxeados contra a brancura do lenç ol. Ele prendeu a respiraç ã o, pegando um dos pé s. Í ris olhou de seu pé para o rosto dele com uma espé cie de impotê ncia.

— O machucado parece pior por causa do meu tipo de pele. Qualquer coisa aparece.

— Estou vendo. — Ele passou o polegar pelo peito do pé dela.

— Você precisa tomar um pouco de sol na Gré cia, comer ao ar livre, tomar banho de mar e deitar na areia. Você logo ficaria com a pele bronzeada.

— Nã o adianta falar nisso. — A voz dela diminuiu num murmú rio. — Pare de falar de coisas que nã o vou conhecer.

— Por que nã o? — As sobrancelhas pretas se contraí ram. — Você pode ir de aviã o para a Gré cia com Aleko.

— Nã o! — Ela mexeu os pé s e Zonar os segurou com mais forç a.

— O senhor sabe que nã o é possí vel.

— Sei? — Ele a examinou bem. — Talvez... Vou precisar ficar mais um pouco aqui e há sempre a possibilidade de você encontrar um penhasco na Gré cia para despencar. O que acontece comigo, eu me pergunto... Que maldiç ã o vem perturbar minha vida justo quando...

Ele interrompeu-se e com toda a delicadeza colocou os pé s machucados de Í ris entre os lenç ó is, depois se afastou, parando perto da janela para contemplar o mar iluminado pelo sol. Í ris olhou-o indecisa, perguntando-se qual seria o significado das palavras interrompidas... Embora fosse um homem sofisticado em muitos sentidos, ele era sobretudo um grego e as superstiç õ es de seu povo estavam em suas veias.

Í ris encolheu os pé s, mas continuou a sentir o toque das mã os dele, provavelmente porque sua pele estava ferida. Ele acreditava que a morte prematura de sua mulher tinha deixado uma nuvem que ameaç ava qualquer outro amor que pudesse ter? Ele sentia algum tipo de premoniç ã o, pensando talvez que Colette podia se ferir, por causa de sua ligaç ã o com ele?

Houve uma batida na porta e Zonar virou-se. A porta abriu-se, dando passagem a Louise seguida por um homem de bigode, com uma maleta preta.

— O dr. Warren está aqui, senhor. — O olhar de Louise passou de Zonar para Í ris.

— Bom dia. — Os dois homens cumprimentaram-se. — A srta. Ardath, a governanta de meu filho, machucou-se bastante por causa de uma queda e eu gostaria que o senhor a examinasse e receitasse alguma coisa para aliviar a dor.

— Ouvi falar do acidente... Com licenç a. — O dr. Warren sentou-se numa cadeira ao lado da cama e examinou o rosto de Í ris enquanto tomava seu pulso. Ela sabia que seu pulso estava batendo rapidamente por causa de seu nervosismo e da presenç a de Zonar ao lado da cama. Depois de tomar o pulso, o mé dico olhou para Zonar. — Quero examinar a srta. Ardath.

— É claro! — Zonar saiu do quarto e fechou a porta. O dr. Warren olhou para Í ris, com ar pensativo.

— Você sente alguma dor especí fica?

— É uma dor generalizada — ela admitiu. — Meus braç os estã o muito doloridos.

— Vamos ver.

— O exame foi completo e durou quase vinte minutos. No fim, o dr. Warren guardou o estetoscó pio e franziu os lá bios.

— Você está muito machucada, menina, e teve um choque muito grande. Vou lhe receitar um tô nico, alé m de um remé dio para a dor. Acredito que sua visã o seja boa, nã o é?

— Sim, por quê? — Ela o olhou, surpresa.

— Quando jovens caem de penhascos, eu me pergunto por quê. Você tem um tipo de olhos grandes que à s vezes sã o mí opes. Você nã o estava olhando para onde ia... ou estava fugindo de algué m?

— Algué m? — Ela se recostou nos travesseiros, quase na defensiva.

O mé dico olhou para a porta fechada e depois para ela de novo.

— O sr. Mavrakis é grego, nã o é mesmo? Ele é uma pessoa desconhecida na regiã o... o novo proprietá rio do Monarch, foi o que entendi.

— Sim. — Í ris olhava para o mé dico, que escrevia a receita. O sr. Mavrakis nã o tem nada a ver com minha queda. Eu fiquei pendurada e ele desceu para me buscar.

— O cavaleiro salvando a donzela, hein? — O mé dico leu o que tinha escrito, como se tivesse dificuldade em entender sua pró pria letra. — Você gosta de trabalhar para ele? Você estava nervosa com a presenç a dele, sabia? Depois que ele saiu do quarto seu pulso acalmou.

— Fiquei agitada porque ele mandou buscar o senhor. — Isto nã o chegava a ser uma mentira. — Eu nã o estou doente. Só estou machucada.

— Mesmo assim — o mé dico levantou-se — vou sugerir ao sr. Mavrakis que você passe uns dias na cama. Nã o adianta discutir, menina. Você teve um choque muito grande e vou lhe dizer que nã o gosto da maneira como você s vivem fazendo regime atualmente. No seu caso nã o é necessá rio.

— Eu... eu nã o faç o regime!

— Você está um pouco desnutrida — ele disse com um ar esquisito. — Você nã o é desta regiã o, nã o é mesmo? Você é de Londres?

— Nã o, sou de Essex. — Ela apertou as mã os, procurando evitar o olhar penetrante do dr. Warren. — Moro num convento e este emprego é temporá rio. Vou ser freira.

— Ah! — O mé dico fechou a maleta com um estalo. — Entã o é por isso!

Ela olhou para ele, curiosa, mas o mé dico mudou de assunto.

— Cuide-se, srta. Ardath, e procure nã o cair mais dos penhascos de Devonshire. Vou falar com seu patrã o para que ele mande providenciar os remé dios.

— Obrigada, doutor. — Í ris viu a porta fechar-se e gradualmente seus dedos descontraí ram-se. Ela suspirou, acomodou a cabeç a no travesseiro e fechou os olhos. De repente, teve vontade de dormir e de nã o ter que pensar em mais nada, depois foi relaxando aos poucos e tirando de sua mente a sensaç ã o de culpa por estar na cama durante o dia. No convento, ela se levantava à s seis da manhã e todas as horas do dia eram ocupadas com alguma atividade.

Por entre os olhos semicerrados, observou o cé u, a brisa trazia o cheiro do mar e ela conseguia ouvir o barulho de uma lancha na á gua. As gaivotas voavam e ela podia imaginá -las em redor da pedra enorme que havia ao largo.

Por fim conseguiu dormir e o tempo parou num sono sem sonhos, seus cí lios batendo apenas uma fraç ã o de segundo em seu rosto, como se ela sentisse por um momento a sombra longa que desceu sobre-sua cama, retirando-se depois silenciosamente.

Nos dias seguintes, Í ris descansou bastante. O mé dico voltou para examiná -la, achou que ela estava muito melhor e depois deixou que se levantasse. A primeira coisa que ela e Aleko fizeram foi ir à praia... ah, como foi bom respirar a brisa do mar e sentir o calor do sol na pele. Como era bom viver!

Aos dias sucediam noites em que Zonar dava jantares de negó cios, e o salã o da casa enchia-se com o barulho de conversas e com a fumaç a de charutos.

Í ris ouvia as conversas e tudo parecia muito diferente da vida que tinha conhecido no Santa Clara, quando as noites passavam tranqü ilamente, com exceç ã o do badalar dos sinos e do farfalhar dos há bitos quando as freiras iam fazer a oraç ã o da noite na capela.

Colette aparecia sempre. Ficava olhando enquanto os homens jogavam sinuca no longo salã o e à s vezes, cantava no piano preto, Í ris lembrava que ela tinha tomado aulas quando estava no convento e, embora sua voz nã o fosse vibrante, tinha uma sensualidade que parecia agradar Zonar. Colette murmurava frases de amor, olhando nos olhos escuros e, com um sorriso, ele lhe dava uma taç a de champanhe.

Í ris ficava escondida num canto, sem se incomodar muito por ele ignorar sua presenç a. Ela preferia o anonimato. Enquanto recebesse todas as atenç õ es, Colette nã o incomodaria Í ris com suas perguntas nem com sua curiosidade. A francesa se aquecia com o sorriso de Zonar e flertava abertamente com ele diante dos outros convidados, irradiava a excitaç ã o de uma mulher que tinha um homem interessado por ela, os ombros bronzeados realç ados pelo decote de um vestido de Paris, uma corrente de ouro brilhando em redor de seu pescoç o.

Quando ela e Í ris ficavam sozinhas, nã o hesitava em dizer que seu objetivo era casar na famí lia Mavrakis.

— A gente tem que tomar cuidado com os gregos — disse ela. — Mesmo agora eles querem ser o primeiro homem de uma mulher.

— E este é seu caso? — Í ris nã o pô de deixar de perguntar. Ela agora estava um pouco fria com sua ex-colega e sempre tomava cuidado para nã o conversarem perto de penhascos.

— É claro, ché rie. — Colette riu, inclinando-se para servir mais café de um bule de prata. Í ris achou que a risada de Colette estava um pouco desenxabida. — Outro dia Zonar me contou que tem um ditado grego que diz: " Amar nã o é nada. Ser amado é alguma coisa. Amar e ser amado é tudo". Ningué m imaginaria que ele é um homem sentimental, nã o é mesmo?

— As pessoas enganam — Í ris murmurou, muito discreta em sua saia creme e blusa cor de conhaque.

Colette tinha andado a cavalo, por isso estava muito bem vestida, como se saí sse da capa de uma revista, uma moç a para todas as ocasiõ es, a companheira ideal para um homem de sucesso.

— Você engana, ché rie! — Colette recostou-se na poltrona, com as pernas cruzadas enquanto tomava o café. Seus olhos, pintados até para andar a cavalo, pousaram em Í ris com um brilho divertido. — Imagino o que está escondido em sua alma. Haveria alguma paixã o? Á guas paradas sã o profundas, dizem.

— O passeio foi bom? — Í ris fugiu da pergunta. — Eles tê m cavalos muito bons aqui, nã o é verdade? Uma das moç as me disse que sã o criados na charneca. Aleko adora cavalos.

— Você devia aprender a andar a cavalo. — Colette mordeu um biscoito. — Você tem medo de criaturas grandes e fortes... como homens e cavalos?

— Nã o tenho, nã o. — O sorriso de Í ris foi um pouco melancó lico, embora ela nã o percebesse. — Acho que nã o quero ficar gostando de coisas que nã o vou poder fazer no futuro.

— Ainda resolvida a se sacrificar, hein? E um misté rio para mim saber como você ainda nã o desistiu... quero dizer, depois disto tudo.

Í ris olhou para a sala com seu tapete amarelado, seus quadros e seus bibelô s muito bem arrumados, suas cortinas de seda. Uma sala elegante e muito bem decorada, com a luz do sol e o canto dos passarinhos entrando pela janela.

É uma sala linda — Í ris admitiu.

— Zonar tem uma casa na Gré cia. — Colette examinava as unhas vermelhas. — Estou louca para ir para lá e para aquela ilha do irmã o. Petaloudes, a ilha das borboletas!

— Que sã o cegas e voam guiadas pelo olfato. — Zonar tinha dito que o amor era cego, talvez ele tivesse resolvido ignorar que a fachada encantadora de Colette escondia uma â nsia por prazeres e pelos bens que o dinheiro pode comprar. Uma vez ele tinha amado com todo o coraç ã o... talvez agora se contentasse em amar só com os sentidos. Colette saberia satisfazê -los e Aleko parecia achá -la divertida, ele a chamava de Gatinha por causa de seus olhos rasgados. Outro dia ele tinha perguntado se ela sabia ronronar. Colette lhe deu um tapinha na cabeç a, chamou-o de petit e ficou pensativa, como se já tivesse decidido que ele iria para a escola quando chegasse a hora, para nã o ficar atrapalhando.

Colette estava olhando para um quadro, parecia da escola francesa e mostrava uma jovem andando entre uma porç ã o de flores.

— Parece você! — Colette exclamou. — Você me lembra uma fada, sabia, ché rie?

— Fora deste mundo, hein? — As janelas do terraç o escureceram quando uma figura alta parou, bloqueando a luz do sol. Í ris lanç ou um olhar naquela direç ã o e viu Zonar muito à vontade, usando um sué ter e uma calç a esporte, o sué ter era de tricô, com desenhos formando motivos gregos.

— Mon ami... — Colette estendeu a mã o e ele veio em sua direç ã o, para beijá -la.

— Você é bem deste mundo — disse ele.

— E satisfeita com ele! — A francesa o examinou. — Você esta ó timo, Zonar! Nã o conhecia esse sué ter... Fica tã o bem em você!

— Foi feito à mã o e eu o recebi esta manhã pelo correio.

— Verdade? E quem é que faz sué teres tã o lindos? Se for uma mulher bonita, vou lhe arrancar os olhos!

— Encoste a mã o em Fenella e terá que se haver comigo, gatinha. — Ele olhou para o bule de café. — Vou querer uma xí cara de café. Levei meu filho para o hotel esta manhã e ele nã o parou nem um instante. Deixei-o com um menino que está hospedado lá com os pais, por isso, srta. Ardath, ficaria muito agradecido se fosse buscá -lo mais tarde.

— É claro, senhor. — Í ris serviu o café, entregando-lhe depois a xí cara. Quando ele a pegou, ela se levantou, desculpando-se. — Tenho algumas coisas para fazer.

— Você gostou do meu sué ter?

— Está muito bem-feito, senhor. — De repente, ocorreu-lhe uma idé ia. — Por acaso é seu aniversá rio?

Ele deu um sorriso, inclinando a cabeç a.

— Muitas felicidades... — Mas, antes que ela pudesse acabar a frase, Colette pulou da cadeira, passando os braç os em volta do pescoç o dele, puxando-lhe a cabeç a até que seus lá bios se encontraram.

— Você devia ter dito, querido! Quando formos à cidade vou comprar alguma coisa muito, muito bonita! — Ela acariciou o maxilar dele.

Sacudindo ligeiramente os ombros, Í ris saiu da sala em silê ncio. Olhou para o reló gio do hall e viu que estava quase na hora do almoç o. De repente, perdera a vontade de almoç ar com Colette, vendo-a flertar com Zonar. Era melhor pegar alguns sanduí ches, um pouco de chá e ir fazer um piquenique solitá rio na caverna Peachstone. A praia tinha esse nome porque a areia estava salpicada de pedras avermelhadas, redondas e lisas.

Í ris fez sanduí ches de presunto e pô s chá numa garrafa té rmica. Estava conversando com a cozinheira quando Aquiles entrou, vindo da garagem, onde estava polindo os carros. Ele sorriu ao ver Í ris.

— Aonde você vai? — ele perguntou, com o cabelo caí do na testa, a camisa bem aberta mostrando o peito musculoso.

— Vou dar um passeio — ela respondeu com voz fria.

— Sozinha? Nã o vai ser muito divertido... Por que nã o me convida també m?

— Tenho que buscar Aleko no hotel. — Ela pegou o pacote de sanduí ches e sorriu para a cozinheira. — Obrigada pelo presunto, parece ó timo.

— Você també m — Aquiles murmurou. — Como um sorvete que derrete na boca.

Í ris o ignorou e saiu da cozinha, andando depressa, com medo de que ele a seguisse. Ela sempre o evitava. Ele nã o a incomodava quando Aleko estava junto, pois sabia que o menino contava para o pai tudo o que se passava, mas, vendo-a com uma cesta de piquenique, provavelmente imaginou que ela ia à praia sozinha.

Parou e olhou para a casa. Parecia silenciosa e sossegada à luz do sol. Talvez comesse os sanduí ches no mirante, evitando assim a praia, que era pouco usada em comparaç ã o com as praias mais largas perto da cidade. Aquela parte de Tormont era acidentada e solitá ria.

O mar brilhava como uma lâ mina de praia e o sol ardia num cé u do mais puro azul. A vista do outro lado da baí a estava maravilhosa e a brisa suave acariciava sua pele. Uma gaivota abriu as asas e pairou por alguns segundos no ouro e no azul, depois mergulhou no mar. Í ris resolveu descer o atalho que ia até a praia.

Ela precisava ficar sozinha, estava muito longe da capela do Santa Clara, onde muitas vezes ficava meditando, quando alguma coisa a perturbava.

Tinha ficado perturbada antes ou depois que Zonar apareceu com o sué ter novo? Nã o tinha certeza, mas sabia que a sensaç ã o de ansiedade estava relacionada com aquela desconhecida chamada Fenella. Quando ele disse o nome dela, seus olhos pareceram... apaixonados?

Sim, Í ris concluiu. Zonar gostava de Fenella de uma maneira diferente da que gostava de Colette... era como se ele deixasse que Colette o namorasse, mas sem lhe entregar o coraç ã o.

Saiu do sol, caminhando pelo atalho í ngreme que descia até a praia, em degraus de pedra, cobertos de hera e de samambaias. Havia um zumbido de insetos, galhos baixos que tinha que evitar e, preso num arbusto, o corpo de uma gaivota, que lembrou a Í ris seu acidente no penhasco. As equimoses tinham desaparecido, mas as recordaç õ es continuavam, perturbando seus sonhos à noite e fazendo com que ela acordasse assustada... Era como se estivesse caindo de novo, mas desta vez ningué m se incomodava em lhe estender a mã o para que ela nã o mergulhasse no mar gelado.

Ouviu o barulho do mar ao chegar na caverna, que tinha a forma de uma meia-lua e estava cheia das pedras vermelhas, redondas. Era um lugar deserto, um pouco sinistro, pois a caverna era rodeada por pedras enormes que saí am da á gua como focinhos de monstros marinhos. Procurando afastar sua inquietaç ã o, Í ris acomodou-se na areia para comer um sanduí che e tomar chá. O presunto estava delicioso e o chá bem quente. Depois que acabou de comer, deitou-se na esteira, tirou as sandá lias e resolveu descansar um pouco. Aleko devia estar se divertindo com o outro menino, por isso nã o precisava ir buscá -lo ainda.

Fechou os olhos e prestou atenç ã o ao barulho do mar. Tinha quase a sensaç ã o de estar sendo embalada, mas nã o deixou que seus pensamentos se aventurassem pelas regiõ es mais secretas de sua mente. Nã o queria se arriscar a descobrir o que havia lá, tinha que ficar muito bem enterrado até que parasse de querer se libertar. Sem luz nem sustento, tudo terminaria... tinha que ser assim.

Í ris acordou de repente, sentando-se, assustada. O tempo tinha passado e a tarde já estava caindo alongando as sombras e tingindo o mar de vermelho. Oh, Deus, ela devia buscar Aleko no hotel e ainda estava lá, na caverna, onde o mar já começ ava a entrar por entre as pedras. Levantou-se e começ ou a procurar as sandá lias.

— Procurando isto?

Um vulto saiu das sombras, parando contra o sol que se punha. As sandá lias estavam penduradas em suas mã os.

— Você?!

— Sim, governanta, eu! — Aquiles avanç ou com ar resoluto. Í ris estendeu a mã o para pegar as sandá lias, mas ele recuou o braç o, sorrindo.

— Queria vir um pouco mais cedo, mas tive que ir até a estaç ã o com o patrã o para buscar umas pessoas, que depois foram tomar chá no hotel. O menino estava lá, por isso imaginei que você ainda nã o tinha voltado.

Í ris umedeceu os lá bios, que estavam secos.

— Quero minhas sandá lias. — Ela estendeu a mã o, mas nã o quis dar o passo que a aproximaria de Aquiles, que, contra o cé u vermelho, lhe dava uma sensaç ã o de ameaç a. Seu coraç ã o batia com forç a e ela nã o sabia como sair dali sem passar por ele. Se corresse, ele a agarraria com aquelas mã os enormes e a envolveria com os braç os cobertos de pê los pretos.

Ele jogou as sandá lias no chã o.

— Se quer tanto as sandá lias governanta entã o venha buscá -las.

— A maré está subindo, você mesmo pode ver. — A ú nica coisa que Í ris queria era voltar para casa.

— Temos ainda meia hora, o tempo suficiente para fazer o que quero... Você sabe o que estou querendo, nã o é, meu bem?

— Sim, você quer perder um ó timo emprego. — Ela lutava para afastar o pâ nico de sua voz, mas o medo aumentava, a caverna ficava mais escura a cada momento e ela nã o sabia o que fazer se Aquiles a agarrasse. Sentia-se indefesa, irritada... e apavorada.

— Você nã o vai contar para ningué m. Você é do tipo que guarda as coisas... — Ele começ ou a se aproximar, com as mã os abertas ao lado das pernas. — Venha, é mais divertido nã o lutar com o homem. As moç as sempre ficam um pouco nervosas na primeira vez, mas ficam loucas depois de sentirem o gosto de um homem. Você vai ver. Ficaremos muito bons amigos depois, e quando tivermos algum tempo livre poderemos aproveitar juntos. Vamos, nã o fuja... senã o vou perder a paciê ncia e nã o quero que essa pele macia fique machucada de novo.

Com um movimento repentino, ele estendeu os braç os e quase tocou nela, mas Í ris pulou para o lado, aproximando-se dos degraus de pedra. Aquiles era muito mais pesado do que ela e Í ris sabia que poderia fugir se conseguisse iludi-lo. Começ ou a correr, mas ele a agarrou pela blusa, que rasgou. Ela gritou ao sentir a compressã o de seus braç os selvagens.

Aquiles segurou-a com forç a, quase sufocando-a. O medo e a repulsa foram fortes demais quando o motorista procurou beijá -la na boca, ela desviou a cabeç a, e isto provocou uma dor muito forte em seu pescoç o.

— Você vai me beijar — ele falou, arfando. — Vou esquentá -la, madaminha, andando por aquela casa, importante e fria, como se guardasse os sentimentos numa geladeira. Conheç o seu tipo! Quente como mostarda quando derrete!

Í ris teve a sensaç ã o de que sua espinha ia se quebrar quando Aquiles, prendendo seu corpo, pô s os lá bios no lugar em que a blusa rasgara. Sua boca estava quente, exigente, e ela acabou perdendo o equilí brio, caindo com ele na areia. Aquiles estava em cima dela e tudo parecia um pesadelo. Segurando-a com firmeza, ele abriu mais a blusa e começ ou a mexer no có s da saia.

Ela lutou desesperadamente, mas Aquiles a prendia com o peso de seu corpo. Í ris sentiu que ele abria o zí per da saia e que tentava tirá -la. Ele arfava e cheirava a tabaco, depois ela sentiu o ar frio em suas pernas e o calor da mã o á spera que a acariciava.

— Ah, que pernas que você tem, macias e finas... Que inferno, fique quieta!

Ela gritou um nome, sem perceber, e Aquiles riu.

— Ele nã o vai aparecer para ajudá -la desta vez, governanta. O patrã o está envolvido demais com os casos que tem, por isso esqueç a-o e fique quieta!

Aquiles pegou em sua coxa e ela, apavorada, levantou o joelho. O motorista deu um gemido e Í ris aproveitou-se da distraç ã o para fugir.

— Nã o! — Enquanto Í ris tentava fugir, ele agarrou seu tornozelo e ela caiu de bruç os... batendo a cabeç a numa das pedras espalhadas pela praia. A dor explodiu em sua cabeç a e ela perdeu a consciê ncia. Tudo escureceu enquanto jazia largada como uma boneca, com Aquiles inclinado em cima dela.

 



  

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