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Verão Violento. Em sua inocência de noviça, Iris nunca imaginou que seu corpo respondesse tão avidamente ao contato de Zonar, aquele demônio!. Digitalização: Silvia. CAPÍTULO I



Verã o Violento

“Love is the Honey”

Violet Winspear

 

 


Em sua inocê ncia de noviç a, Iris nunca imaginou que seu corpo respondesse tã o avidamente ao contato de Zonar, aquele demô nio!

 

”Um dia você terá de enfrentar o demô nio”, a madre superiora tinha avisado, ´ ´ e precisará de todas as suas forç as para expulsá -lo. `` Deitada em sua cama, na casa de praia de Zonar Mavrakis, Iris apertava a cruz em seu pescoç o, tentando exorcizar os pensamentos proibidos. Mas a lembranç a daquele grego fascinante e autoritá rio voltava: Zonar segurando sua nuca, roç ando a pele do seu pescoç o com lá bios ardentes... Nã o Iris nã o podia cair em tentaç ã o! Quando aquele verã o terminasse, ela teria de retornar ao convento, fazer seus votos, tornar-se para sempre uma freira, longe da vaidade, dos prazeres... e do amor.

 

Digitalizaç ã o: Silvia


CAPÍ TULO I

 

Í ris nunca tinha entrado antes numa limusine, por isso sentiu-se intimidada com o conforto e o luxo que viu. O carro era forrado de madeira, o estofamento de couro era muito macio e havia um vidro separando os passageiros do motorista uniformizado.

Era incrí vel que ela estivesse ali, no carro prateado, pronta para ir à Costa Oeste, encarregada de cuidar do filho de um homem chamado Zonar Mavrakis.

Com o respeito que os gregos tinham pela educaç ã o cató lica, ele tinha procurado a madre superiora do Convento de Santa Clara e pedido que lhe arranjasse uma jovem para tomar conta de seu filho durante o verã o. Ele pretendia passar trê s meses na Inglaterra em companhia de Aleko, por isso queria contratar uma moç a inglesa para que o menino pudesse treinar o idioma.

A madre superiora mandou chamar Í ris para que ele a examinasse, vestida com o uniforme do convento. Ela parecia asseada e discreta e, depois de observá -la cuidadosamente, ele disse que ela servia. Í ris tinha passado toda a sua vida no Convento de Santa Clara, por isso achou o grego tã o amedrontador que teve vontade de dizer que nã o queria trabalhar para ele. Mas o respeito e a obediê ncia foram mais fortes e ela aceitou a decisã o da madre superiora.

O rosto daquele homem permaneceu em sua mente por muitos dias depois daquela breve entrevista na saleta. Lembrava do desafio que havia em seu olhar, das cicatrizes das lutas no mundo dos negó cios, da aura de autoridade que o cercava. Olhar em seus olhos tinha sido um mergulho atravé s da escuridã o, em mundos que sua inocê ncia nã o chegava nem a imaginar.

A madre superiora lhe informara que ele tinha assumido a direç ã o de um hotel enorme na costa de Devon, por isso precisava passar alguns meses no local. Ele havia alugado uma casa nos arredores e era lá que ela iria morar com Aleko, um menino de nove anos, ó rfã o de mã e.

Entã o aquele grego que tinha entrado no convento, passando a tomar conta de sua vida, era viú vo.

— A famí lia Mavrakis é muito respeitada na Gré cia — disse a madre superiora. — É gente de posiç ã o e se eu tivesse alguma dú vida a respeito desse homem, minha menina, teria recusado seu pedido. Mas você já está pronta para ver alguma coisa do mundo e, alé m do mais, vai fazer alguma coisa de ú til, tomando conta dessa crianç a. Você nã o está com medo, nã o é mesmo?

Í ris voltou a pensar no pai do menino, sentindo de novo um certo nervosismo. Quase se abriu com a madre superiora, mas ela a olhava com tanta tranqü ilidade que pareceu loucura deixar escapar que o grego moreno a deixara muito consciente de ser uma menina tí mida, educada num convento e que, em seus dezoito anos, só tinha conversado com os padres que vinham receber confissõ es no Santa Clara. Os olhos escuros daquele homem haviam examinado seu rosto e descoberto como ela era ingê nua... a companhia ideal para seu filho.

— E claro que no começ o você vai se sentir constrangida. — A madre superiora levantou-se para acompanhar Í ris até a saí da do convento, o ú nico lar que conhecera. Quando atravessaram o pá tio, em direç ã o do portã o, ela apertou a alç a da mala, sentindo-se agitada. Depois do portã o havia um mundo desconhecido para ela. Um carro a esperava para levá -la para longe da proteç ã o dos muros e da mã o firme, mas carinhosa das religiosas.

— Esses meses longe daqui vã o ajudá -la a se decidir sobre o futuro. — O portã o alto rangeu ao ser aberto. — Você tem direito a escolher. Como você sabe, Í ris, nã o gosto de pressionar minhas meninas. O desejo de entrar para nossa ordem deve estar bem fundo no coraç ã o. Vá e descubra a resposta que a trará para nó s ou que a fará seguir outro caminho.

Í ris despediu-se da madre superiora; o motorista do carro enorme pegou a mala e a colocou no porta-bagagem. Í ris estremeceu no ar fresco da manhã; um menino estava espiando pelo vidro, enquanto ela entrava no carro. A porta fechou-se, depois foi a vez do portã o do convento, e a crianç a continuou a examiná -la com olhos tã o escuros quanto os do pai.

— Você nã o é freira — disse ele, falando em inglê s. — Pensei que você fosse usar um vestido comprido preto e uma touca na cabeç a.

Í ris sorriu, nervosa. Estava usando um casaco azul-marinho simples e uma boina que mostrava apenas as pontas de seu cabelo.

— Só vou usar o há bito quando fizer os votos — ela explicou. — Você está muito desapontado porque nã o estou com uma touca na cabeç a?

Ele pensou na pergunta, com os olhos escuros fixos no rosto dela, que era muito pá lido, emoldurado por cabelos pretos, os lá bios sem pintura e muito vulnerá veis, os ossos da face dando-lhe um ar ligeiramente faminto.

— Acho que com uma saia comprida você nã o ia poder brincar na praia — disse Aleko. — Gosto muito de jogar vô lei. Papai e eu jogamos juntos e ele me faz correr tanto que acabo sem fô lego.

Í ris tentou imaginar o grego alto jogando bola e correndo na areia... Era difí cil acreditar, mas assim ele parecia menos enervante. Ele devia gostar muito do menino, pois o criara sozinho e, com certeza, devia ser muito mais gentil com ele do que com as outras pessoas.

— Sã o muito rigorosos os votos que você tem que fazer para se tornar freira? — Aleko prendeu o lá bio superior com os dentes enquanto a examinava.

— Nã o sã o rigorosos — ela respondeu com um sorriso —, e sim sé rios, por isso a pessoa tem que pensar muito antes de resolver.

— Enquanto isso a pessoa pode sair do convento?

Ela concordou, encostando-se no banco enquanto o automó vel se afastava do convento, deixando-o rodeado por seus muros altos na luz da manhã. Í ris olhou pelo vidro de trá s até perder de vista a torre com o sino. Foi entã o que quase ficou em pâ nico. Mas tratou de se acalmar, para enfrentar a tarefa que tinha pela frente.

Era a primeira vez que ficava inteiramente sozinha, sem a companhia das outras moç as e das freiras. Agora ela só podia contar com a sua iniciativa para provar à madre superiora que, se tinha tido coragem de enfrentar um mundo estranho, poderia muito bem entrar para a Congregaç ã o de Santa Clara.

Enquanto nã o visse e nã o experimentasse a vida do mundo exterior, nã o saberia que sacrifí cios teria que fazer caso entrasse para o convento.

Tinha que conhecer outras pessoas fora dos muros do convento e descobrir se sua fé era suficiente para enfrentar uma vida em que a devoç ã o mí stica substituí a o amor fí sico por um homem.

Í ris examinou o menino ao lado, uma ré plica menor do grego alto que mostrara tanta autoridade na saleta da madre superiora enquanto examinava detalhadamente a mocinha vestida com o uniforme austero. Lembrou-se vividamente do cabelo preto muito espesso, de uma pinta escura no maxilar esquerdo e da maneira como o sol da Gré cia havia queimado sua pele. Quando ele falou, quando disse decididamente " A jovem serve, madre superiora", o timbre profundo de sua voz tocou os centros nervosos de Í ris e ela quis, naquele mesmo instante, pedir à madre superiora que nã o a colocasse nas mã os dele. As mã os dele... A direita segurava um par de luvas de pele de porco e a esquerda mostrava duas alianç as juntas... Ostentaç ã o, foi o que ela pensou, até que a madre superiora lhe disse que ele era viú vo e que provavelmente usava a alianç a da mulher em sua memó ria.

Uma mulher nã o podia ter um filho, a menos que se entregasse a um homem. Í ris percebia que deviam ocorrer certas coisas e, em sua inocê ncia, ficou horrorizada quando se imaginou entre os braç os de algué m como o pai de Aleko, à mercê de seus lá bios e de seu desejo. Sentiu um calor ao tentar afastar a imagem... Em toda a sua vida ela nunca tinha encontrado ningué m que a fizesse pensar nessas coisas e teve vontade de fazer o sinal da cruz, como ela e as outras moç as sempre faziam quando passavam pelo pequeno cemité rio atrá s do convento.

Lá havia uma está tua de pedra de um monge, com a cabeç a coberta por um capuz e as mã os enfiadas nas mangas largas de seu há bito. Havia uma histó ria a seu respeito, que ele tinha preferido morrer a ceder aos artifí cios de uma mulher rica que queria que ele desrespeitasse seus votos. Ela tinha espalhado mentiras a seu respeito, por isso ele se retirou para sua cela, recusando-se a comer ou a beber enquanto ela nã o dissesse a verdade. Entretanto, ela saiu do paí s, deixando o pobre monge entregue a seu destino.

Uma das garotas nã o acreditou muito na histó ria, achando que era uma loucura morrer por causa de um princí pio.

— Ele morreu por sua fé — Í ris protestou. Colette riu dela e comentou que a fé nã o alimentava o corpo de ningué m, apenas a alma, e que ela preferia comer peixe cozido na manteiga, com molho de maionese.

Í ris achava Colette engraç ada, mas um pouquinho levada demais, mas quando ela saiu do convento para morar com a mã e, que era divorciada, sentiu falta de suas discussõ es e daquela amizade um tanto despropositada. Pecadoras e santas, era assim que Colette as chamava. Ela tinha dito que a simples idé ia de fazer voto de castidade já lhe dava horror.

— Quero viver minha vida plenamente — ela declarou. — Isto nã o é possí vel se você excluir os homens... eles é que dã o sabor à vida e eu quero me apaixonar por algué m, mesmo que isso me magoe. Seu problema, Í ris, é que você é basicamente insegura. Você veio tã o pequena para o convento que nã o se lembra como é ser beijada e acariciada.

Enquanto o carro enorme levava Í ris e o menino para longe do convento, ela admitia consigo mesma que tinha muito que aprender sobre a vida e que alguns meses longe do convento lhe indicariam se devia ou nã o entrar para a Congregaç ã o.

— Vamos levar vá rias horas para chegar ao hotel do papai — o menino disse de repente. — Temos que ir até Londres e passar pelo Parlamento antes de pegarmos a estrada. Você nã o acha divertido? E agora posso saber qual é seu nome?

— Eu me chamo Í ris. — Ela sentiu vontade de sorrir com a maneira como Aleko tinha escorregado no banco até ficar bem junto dela.

— É o nome de uma flor.

— Sei, mas aqui na Inglaterra à s vezes as meninas recebem nomes de flores.

— Você tem olhos muito bonitos.

— Você acha?

— Sim, sã o brilhantes!

Nunca reparei nisso, Aleko. As garotas que estã o no convento nã o podem ser vaidosas.

— Elas rezam muito?

— Vá rias vezes por dia.

— Eu rezo quando vou para a cama. Papai fica ouvindo e depois eu beijo o retrato de mamã e que fica sempre no meu criado-mudo. Nunca estive antes na Inglaterra, mas no ano passado fui com papai para Paris.

— Você deve ter-se divertido muito. — Í ris sorriu. — Enquanto esteve lá, você foi até o alto da Torre Eiffel?

— Sim. — Os olhos castanhos brilharam. — Foi muito divertido ir subindo cada vez mais e, quando chegamos lá em cima, vimos Paris inteira. Você já esteve lá?

Í ris sacudiu a cabeç a negativamente.

— Uma garota que esteve no convento disse que a cidade é muito bonita. Ela é francesa e mora num apartamento, em Paris, com a mã e. Ela me convidou para passar alguns dias com ela, mas acho que nã o vai ser possí vel.

— Por que você vai ser freira? — Aleko perguntou. — Você vai ter de ficar para sempre atrá s dos muros do convento?

— Nã o, só vou morar lá. Provavelmente vou trabalhar na enfermaria para ajudar a cuidar dos doentes e dos velhos.

— Entã o vai ser divertido tomar conta de mim, hein? — Ele deu uma risada e enfiou a mã o no bolso, tirando um pacote de caramelos. Ofereceu para Í ris, que aceitou.

— Obrigada.

— De nada. Eles sã o muito gostosos, nã o é mesmo?

— Deliciosos, mas você pode comer balas à vontade?

— Papai diz que as balas estragam os dentes, mas Aquiles, que guia o carro, me deixa comprar. Papai tem dentes muito bonitos, sabe, porque quando ele era pequeno, ele e os irmã os eram tã o pobres que nã o podiam comprar balas e costumavam pegar as melancias estragadas que os feirantes jogavam fora no fim do dia. Ou eles tinham sorte e um pescador lhes dava um pedaç o de polvo. Eles nã o tinham pai e thios Lion, o filho mais velho, cuidava de todos. Ele é um homem muito importante na Gré cia e agora está muito rico. A mulher dele é inglesa e tem um sorriso lindo. Gosto tanto quando ela sorri, mas ela vive triste, porque nã o tem filhos, por isso eu brinco no jardim quando vou para Petaloudes com papai para visitá -la. É uma ilha e tem tantas borboletas que você nem acredita. Gosto de ir lá e de sair no enorme barco preto do meu tio. Ele é tã o alto que quando me levanta até o ombro parece que estou voando. Eu queria... — o menino suspirou — mas queria mesmo que meu pai tivesse uma mulher como Fenella.

— Fenella é casada com seu tio, Aleko?

O menino concordou, mastigando o caramelo.

— Ela é muito boa e eu sei que papai gosta dela, por causa da maneira como a olha. Sua mã e també m morreu quando você era bebê?

Í ris concordou, pois uma crianç a de nove anos nã o entenderia sua verdadeira histó ria. Ela fora levada para o Santa Clara por uma mulher das redondezas, havia dezoito anos. Sua mã e tinha sumido da hospedaria da mulher sem nenhuma palavra de explicaç ã o, levando as poucas coisas que tinha, mas deixando o bebê. Como a polí cia nã o conseguiu encontrar sua mã e, Í ris foi criada no convento, recebendo oficialmente o sobrenome de Ardath, que era o que sua mã e tinha usado.

— Tive sorte. — A mã o melada de Aleko procurou a dela. — Eu tinha papai para cuidar de mim. O que aconteceu com o seu pai?

— Ele foi embora e nunca mais voltou, Aleko.

— E você ficou morando com as freiras?

— Sim. Elas sã o muito boas. — Boas, ela pensou, mas sempre um pouco distantes, de modo que à s vezes ela imaginava como seria ser abraç ada e beijada por algué m que gostasse dela. Í ris nã o tinha conhecido esse tipo de afeiç ã o, embora tivesse recebido alimento, roupas e boa educaç ã o.

As ó rfã s que eram educadas no Santa Clara entravam mais tarde para a Ordem. Í ris nunca se revoltara com isso, como també m nunca se rebelara com os rosá rios, com os cantos e com as horas de meditaç ã o. Ela nã o conhecia nada fora do ambiente do convento, com seus vitrais e seus sinos que tocavam no alto do campaná rio estreito, as freiras com seus há bitos de mangas largas e suas toucas brancas que lhes davam um ar mí stico. O Convento de Santa Clara tinha substituí do a vida agitada mas cheia de afeiç ã o das meninas que tinham famí lia.

Í ris nã o sentia muita falta de uma famí lia porque nunca tinha tido uma e, pelo que Colette lhe contara, a vida familiar nem sempre era perfeita. Os pais de Colette haviam brigado durante oito anos de casamento, até que finalmente se divorciaram, e Í ris sentia-se inclinada a duvidar que o amor entre um homem e uma mulher tivesse mesmo o encantamento descrito pelos poetas româ nticos: duas pessoas se encontrando por obra do destino e apaixonando-se tanto que só se sentiriam felizes juntas.

Era apenas um mito, ela achava. Uma coisa imaginada pelos escritores para vender sonhos à s pessoas. Os sonhos sumiam no momento em que você abrisse os olhos na luz da manhã e era melhor nã o acreditar que isso pudesse ser verdade.

Enquanto o carro atravessava Londres, a luz da manhã se espalhava sobre Westminster e se refletia nas á guas do Tâ misa. Aleko observava tudo ansiosamente, com medo de perder alguma coisa. Ele falava muito e parecia nã o possuir a timidez inicial das crianç as inglesas. O Tâ misa nã o era como o Sena, ele contou para ela, e nã o era engraç ado que os rios fossem tã o diferentes, uma vez que todos eram feitos de á gua?

— Provavelmente sã o os pré dios ao lado deles que os tornam diferentes — disse ela e, como o menino, ficou maravilhada com o aspecto de Londres naquele instante. A cidade tinha uma espé cie de magia que mais tarde seria perturbada pelo trá fego e pela fumaç a dos veí culos, uma belí ssima mistura do antigo e do moderno na luz da manhã. Era um quadro que Í ris ia pendurar em sua mente, como uma lembranç a daquela viagem inesperada para a Costa Oeste, para trabalhar como governanta do menino grego enquanto o pai começ ava a tomar conta do Monarch Hotel, que a Companhia Mavrakis tinha acrescentado à sua cadeia.

Aleko já tinha contado que os Mavrakis possuí am hoté is nas cidades mais importantes e que també m eram donos da Companhia Aé rea e Marí tima Sunline, uma empresa que estava aumentando seus negó cios. Isto a deixava ainda mais nervosa, pois Zonar Mavrakis, com certeza, queria seu filho por perto para que ele aprendesse desde cedo a gostar das finanç as. Os irmã os Mavrakis tinham percorrido um longo caminho desde a é poca em que consideravam um luxo melancias machucadas ou um pedaç o de polvo.

Por volta de meio-dia, Aquiles, o motorista, parou num restaurante na beira da estrada e eles entraram para descansar e almoç ar. Para alí vio de Í ris, Aquiles se encarregou de tudo. Ela imaginou que provavelmente os homens gregos costumavam tomar conta de qualquer situaç ã o. Ele pediu bife, batata frita e salada para os trê s.

— Aleko vai tomar limonada. A senhorita nã o gostaria de tomar um copo de cerveja? — ele perguntou.

— Gostaria sim. — Ela sorriu. — Nunca tomei cerveja em minha vida. É bom?

— E bom como muitas outras coisas que uma moç a nã o experimenta enquanto um homem nã o lhe oferece. — Seus olhos eram tã o escuros quanto o bigode e as costeletas que acompanhavam suas feiç õ es estrangeiras. Í ris, que sempre tinha vivido entre as freiras, ficou atrapalhada. Ela queria fazer amizade com os outros empregados de Zonar Mavrakis, mas nã o pensava em namorar nenhum deles.

— No convento — disse ela — só tomamos á gua nas refeiç õ es, por isso nã o vale a pena que eu fique gostando de cerveja.

— Agora você está a quilô metros do convento — Aquiles acrescentou significativamente.

— Mas vou voltar no fim do verã o para fazer meus votos.

— Você vai voltar mesmo? — ele perguntou. Seus olhos brilharam. — E um passo difí cil para uma moç a dar. E se você ficar gostando de outras coisas, alé m de cerveja, enquanto estiver aqui fora?

— Que coisas?

— As coisas que naturalmente atraem as moç as. Vestidos, maquiagem, danç ar ou ir ao cinema com um homem. — Ele a examinou desde os sapatos de salto baixo até a boina. — Sabe, nã o é um crime. A vida tem que ser vivida.

— Sei o que quero fazer com minha vida — ela acrescentou.

— Mesmo sendo tã o jovem? — Ele alisou o bigode, enquanto olhava para ela.

Aleko estava prestando muita atenç ã o na conversa.

— A vida dá muitas voltas e nó s, os gregos, temos um ditado que diz que mulher nenhuma deve viver como uma figueira esté ril.

— Sou inglesa, obrigada, e vou viver da maneira que quiser.

— Você sempre morou no convento?

— Sim.

— Entã o vai ser bem diferente agora, hein, ficar longe daquelas rezas todas?

— Você está sendo desagradá vel e, se nã o se incomodar, prefiro mudar de assunto.

— Você vai contar ao patrã o que eu a amolei? — Ele deu um sorriso e depois olhou para Aleko. — Você nã o quer uma garota emproada para governanta, nã o é mesmo? E seu pai gosta de um copo de vinho e das mulheres, hein?

— Isso nã o é maneira de falar com uma crianç a! — Í ris exclamou.

— Você ficou chocada? — Aquiles caç oou. — Aleko sabe muito bem que o pai dele nã o é um santo, mas um homem. Um homem, é tudo. — O motorista inclinou-se na mesa até que Í ris viu seu pró prio reflexo naqueles olhos ousados. — Você nã o sabe muita coisa sobre os homens, nã o é verdade? Você quer que eu seja seu professor?

— Nã o, obrigada! — Í ris parecia desdenhosa. — Posso lhe assegurar que nenhum aspecto de minha educaç ã o foi negligenciado. Posso passar muito bem sem o tipo de liç õ es que você tem em mente.

— Você pode se aborrecer ficando o tempo todo com uma crianç a. Posso lhe mostrar um pouco da vida enquanto você ainda tem uma oportunidade.

— Fui contratada para tomar conta de Aleko e espero encontrar muita coisa com que me divertir em Tormont.

— Remar na á gua parada e fazer castelos de areia?

— Sim, tudo o que divertir Aleko. É para isto que estou sendo paga.

— Entã o você é do tipo abnegado, hein? — Ele recostou-se na cadeira com uma risada. — Tudo o que o patrã o quiser de você? Mas acho que ele nã o se interessa por puritanas!

— Isto nã o vem ao caso — disse ela vivamente. — E agora vamos almoç ar para podermos ir embora logo. Nã o pretendo passar o dia inteiro viajando para chegar em Tormont.

— Uma moç a correta, hein? — Aquiles piscou para Aleko. — O que é que você vai fazer com essa governanta tã o brava que o patrã o arranjou para você?

— Ela é boa para mim. — Aleko chupou o canudinho, acabando com a limonada. — Você acha que todas as moç as gostam de você, assim de uniforme e botas de couro, Aquiles, mas a srta. Í ris vai ser freira e elas nã o devem se meter com homens.

— E verdade, garota? — Aquiles deu uma risada para Í ris. — Ele é um menino inteligente, nã o é mesmo? É porque viaja por toda parte com o pai e fica conhecendo algumas namoradas dele. Você se lembra daquela de Paris, garotinho? Era um espetá culo nã o? Cabelos loiros longos, olhos verdes e nã o muito mais velha do que a sua srta. Í ris. O patrã o ficou gamado, hein? Você quase ganhou uma mã e nova, mas o patrã o nã o é bobo. Ele gosta muito da liberdade que tem e o mar está cheio demais de peixes para ele se contentar com uma pescaria pequena. Mas mesmo assim ela era um estouro. Tinha o que os gregos chamam de carisma. Você sabe o que isto quer dizer, governantinha?

— É uma espé cie de magia.

Aquiles cortou vigorosamente o seu bife, colocando depois um pedaç o na boca. Ele olhou para Í ris enquanto mastigava.

— O patrã o nã o vai nem olhar para você, sabe disso? Talvez você esteja pretendendo atrair a atenç ã o dele, mas ele tem os gostos dos ricos e prefere mulheres que gostam de champanhe... e você nunca tomou cerveja! Vamos, experimente agora.

Í ris pegou o copo com a cerveja dourada e tomou um gole. Achou ligeiramente amarga, mas nã o ficou surpresa com o que Aquiles tinha dito sobre Zonar Mavrakis. Ela mesma tinha achado que ele era do tipo conquistador, que considera mulheres bonitas como prê mios para um bom trabalho. Í ris sabia que nunca atrairia seu gosto requintado, pois estava catalogada entre as pessoas feias mas ú teis, e que nã o lhe causaria problemas como governanta do filho durante o verã o.

— O que você está achando da cerveja? — Aquiles perguntou.

— E boa, mas acho que nã o vou ficar louca por ela.

— Está esperando que o patrã o lhe dê champanhe? — ele caç oou.

— Nã o — ela respondeu. — Nã o imagino que seja muito diferente da cerveja.

— Tome uma taç a ou duas e descubra a diferenç a! Vai logo virar sua cabeç a e talvez derreter um pouco do gelo que há em suas veias. Você deveria ver Atenas e tomar ouzo enquanto os homens danç am a mú sica bouzouki. Isto é que é viver!

Í ris resolveu que a melhor maneira de lidar com Aquiles era ignorá -lo. Provavelmente ele se achava irresistí vel com o uniforme elegante e as botas de couro e tinha que provar a si mesmo que també m podia virar a cabeç a de uma moç a saí da do convento. Ela deu toda a atenç ã o a Aleko e ficou aliviada quando voltaram para o carro, para fazer a ú ltima etapa da viagem.

Depois do almoç o o menino ficou sonolento e acabou dormindo entre os braç os dela. Í ris examinou o rostinho e os cí lios longos que cobriam os olhos enquanto o garoto dormia.

Ela ainda estranhava estar tomando conta de uma crianç a e se perguntava o que as semanas seguintes trariam. No começ o tudo deveria parecer confuso, sentiria falta da rotina a que estava acostumada e teria que se adaptar à vida de uma casa estranha.

Nas feiç õ es de Aleko via traç os do pai, aquele homem cuja estrutura tinha que ser muito firme. Os homens nã o se tornavam bem-sucedidos nos negó cios se nã o tivessem nervos de aç os, cé rebros agudos e um corpo que resistisse à pressã o.

Zonar Mavrakis lhe pareceu um homem muito grande porque estava acostumada a ver apenas os padres idosos que iam ao convento. Tinha notado os ombros fortes e flexí veis, o ar confiante e seu jeito mundano... o olhar que dominava uma mulher. Ele nã o teve dificuldade em dobrar a madre superiora, uma mulher de cará ter firme que nem as outras freiras nem as moç as jamais pensaram em desobedecer. Somente Colette foi atrevida com ela, mas nã o tinha sido punida porque era tã o bonita que as pessoas costumavam lhe perdoar tudo, como se fosse um gatinho levado.

Í ris quis desobedecer à madre superiora quando o grego a examinou como se fosse um objeto numa prateleira que talvez comprasse. Lembrava que ele estava usando um terno escuro de listras finas, uma camisa cinza e uma gravata de seda. Roupas caras, que lhe caí am muito bem. Ele podia ter o que desejava e agora queria ter uma governanta inglesa entre seus empregados durante o verã o.

Í ris esperava que ele nã o reparasse nela, desde que cuidasse bem do menino. Nove anos parecia muito tempo para um homem tã o vigoroso ficar viú vo. Í ris tinha ouvido dizer que as mulheres gregas raramente casavam de novo quando perdiam o marido... será que os homens daquele paí s també m agiam assim? Ou convinha a Zonar Mavrakis satisfazer seu desejo como fosse mais fá cil?

Uma onda de calor percorreu o corpo de Í ris. Geralmente ela nã o pensava nessas coisas, por isso achou que tinha alguma coisa a ver com o fato de estar fora do convento. Quer aquele homem reparasse nela ou nã o, iria viver sob seu teto. Ela, uma moç a que sempre morou entre mulheres que tinham feito voto de castidade...

Aleko estremeceu, aproximando-se mais dela, encostando a cabeç a em seu peito. Í ris mordeu os lá bios... os contatos fí sicos nã o eram encorajados no convento e nunca ningué m estivera tã o perto dela assim.

O menino que estava entre seus braç os era filho de um homem cuja aparê ncia dominadora a deixava muito insegura. Ele poderia facilmente ignorar a presenç a dela, mas Í ris tinha a estranha sensaç ã o de que viver na mesma casa com ele nã o ia ser uma experiê ncia tranqü ila. Ele era muito grande e má sculo demais, e tinha uma personalidade tã o definida que nã o podia deixar de impressioná -la. Mas agora era tarde demais para desejar ter tido a coragem de recusar o emprego.

Ela e Aleko já eram amigos, mas Í ris desejava ardentemente que ele tivesse um pai menos perturbador. O menino se mexeu, meio acordado, e olhou para ela.

— Já estamos perto? — ele bocejou.

Í ris olhou pela janela do carro e viu palmeiras ao lado da estrada que subia em direç ã o a penhascos e a um cé u muito azul. Seu coraç ã o quase parou de bater... sim, estavam perto! Logo estariam chegando!

 



  

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