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CAPÍTULO VIl



CAPÍTULO VIl

 

Depois do almoço, Helen foi até a suíte de Glenn e o encontrou sentado numa poltrona, de roupão, ainda não completamente recuperado.

Tinha planejado desarmar Clay, contando ela mesma a verdade sobre Ian. Mas, quando se viu diante dele, todo seu sangue-frio desapareceu. Talvez fosse melhor outra pessoa assumir essa tarefa, deixando para ela apenas as explicações subseqüentes. Detestava a idéia de magoar Glenn, mas não havia outro jeito. O único consolo era pensar que, afinal de contas, o casamento deles não teria dado certo, como SaIly já havia percebido, e como ele talvez se desse conta com o tempo. Só lamentava perder a amizade da garota.

Com algum esforço, convenceu Glenn a descansar até a noite, prometendo que se encontraria com ele no bar Connaught às sete horas. Ficou grata por ele não ter insistido para que ficasse mais um pouco, pois sabia que o esforço de fingir seria insuportável.

Apesar das atrações proporcionadas em terra, o convés Beach estava lotado. Procurou um cantinho sossegado onde pudesse se concentrar nas cartas que precisava escrever e começou o trabalho, esforçando-se para transmitir a alegre despreocupação de alguém que está usufruindo das delícias do Caribe, enquanto outros suportam o frio e a umidade do fim de ano em Londres.

Surpresa, percebeu que o Natal estava se aproximando rapidamente. Ali no navio os dias sempre iguais pareciam correr fora do tempo, mas dizia-se que a semana do Natal, a bordo do Andrômeda, era uma experiência inesquecível. Helen esperava que, naquela data, o pior já houvesse passado.

O mais desesperador era pensar que teria que ver Clay todos os dias, durante o tempo que ainda restava do contrato, sem poder fazer nada para quebrar a barreira que os separava. Parecia completamente fora de lógica amá-lo tanto, depois de tudo que havia se passado entre eles. Mas será que a lógica tinha necessariamente que acompanhar as emoções? Ele tinha feito o que achava certo em face das evidências que havia contra ela e que, sem dúvida, não eram nada recomendáveis. A falsidade dessas evidências só ficaria patente quando surgissem provas. Ian era o único culpado, mas mesmo ele tinha tido motivos para agir como agiu. Só a procurara na noite anterior porque estava desesperado. Ian não representava senão um dos obstáculos que a separavam irremediavelmente de Clay.

Às seis horas, quando se dirigia ao camarote, Helen viu Philip Osbourne conversando com uma linda ruiva à beira da piscina, bastante animado. Após a chegada de Glenn, o jovem oficial não tinha mais tentado aproximar-se dela, talvez por considerar a competição muito desigual. Aquele era o grande problema com os homens, pensou Helen: todo o interesse que demonstravam pelas mulheres limitava-se à parte física. Justamente por isso Barney significava tanto para ela, porque tinha sido um dos poucos homens que não olhou para ela como um cachorro olha para o osso. O interesse dele, felizmente, residia só nos lucros proporcionados pelas apresentações, embora jamais se recusasse a ajudá-la nas dificuldades. Não seria melhor amar alguém assim? Não viveria grandes paixões, mas também não sofreria grandes desilusões.

Antes de entrar no banho, deixou preparada sobre a cama a roupa que ia vestir em seguida. Só quando já estava debaixo do chuveiro é que se lembrou de que havia esquecido a porta aberta, mas concluiu que não havia problema, já que o camareiro não costumava aparecer àquela hora. Deliciada, deixou que a água morna escorresse sobre o corpo, eliminando o suor excessivo provocado pelo calor da tarde. Quando fechou a torneira, pensou ter ouvido um barulho no quarto, mas como o ruído não se repetiu continuou a se enxugar.

Retirou a touca de banho e passou as mãos pelo cabelo para armá-Io um pouco; em seguida vestiu um roupão e voltou para o quarto

O choque imobilizou-a na porta. Ficou olhando, com uma sensação de irrealidade, o homem deitado na cama, com as cobertas jogadas descuidadamente sobre as pernas, deixando à mostra o tronco nu e bronzeado. Sobre a cadeira, jogadas ao acaso, uma calça e uma camisa.

Naquele mesmo instante ouviu-se uma batida na porta. Clay sorriu com ironia, apoiou-se em um dos braços e gritou:

— Entre!

Virando lentamente a cabeça, atordoada, Helen encontrou o olhar incrédulo de Glenn, que observava a cena com o coração partido. Ela não encontrou forças para abrir a boca e tudo que fez foi assistir à transformação por que passou o rosto de Glenn: -a incredulidade foi substituída pela dor e, em seguida, pelo desprezo.

— Então é verdade. Tudo o que aquela mulher me disse era verdade! — O homem que estava diante de Helen não parecia o mesmo das últimas semanas. — Parece que não é só a voz que você tem para oferecer. Sua habilidade merece um Oscar! É uma pena que não tenha sido mais cuidadosa. Uma pena para você, é claro, mas uma sorte para mim. — Olhou para Clay, que assistia toda acena, imperturbável. — Ela é toda sua. Vou desembarcar em La Guaira.

O ruído brusco da porta que se fechava retirou Helen da paralisia que havia tomado conta dela, mas não foi suficiente para devolver-lhe a capacidade de raciocinar com clareza. Sentiu-se perdida, como num sonho mau. Quando olhou para Clay, não havia ódio nos seus olhos, apenas ausência completa de emoções.

— Você sabia que ele vinha aqui.

— Sabia. — Não se moveu, só olhou para ela como quem acaba de lavar a própria honra. — Vi Marian Lee sair do camarote dele agora a pouco e apostei comigo mesmo como, em poucos minutos, ele estaria aqui. Foi uma sorte você estar no banho quando entrei. Sorriu um sorriso divertido. — Isso me deu tempo suficiente para preparar a cena. Vai ser muito difícil para você sair desta enrascada!

Helen respirou fundo e sentiu que o atordoamento começava a passar.

— Precisava envolver Glenn? Que mal ele fez a você?

— Nenhum, mas o que fiz a ele foi um favor. Da próxima vez, ele vai pensar duas vezes antes de se envolver com uma mulher que tem quase a metade da idade dele. — Afastou o lençol e passou as pernas pela guarda da cama, estendendo o braço para pegar a roupa. Virou-se para olhar para ela enquanto se vestia. — Agora já sei o que é amnésia parcial.

Helen não reagiu; suas pernas, trêmulas demais, não conseguiam coordenar os movimentos. Sentia o peito oprimido e a cabeça latejando, mas não pretendia dar a ele o gosto de vê-la desmaiar. Nem naquele momento, nem nunca. Guardaria a mágoa para si mesma, nem que isso significasse a morte.

— Não tem nada a dizer? — De camisa na mão, ele a olhava com leve surpresa.

— Nada que você consiga entender. — Precisou de todo seu autocontrole para não trair o tremor da própria voz. —  Podemos dar o caso por encerrado?

— Meu Deus, você não se entrega! — Agarrou a camisa com raiva, os músculos tensos. — É privilegiada em tudo: rosto, corpo, voz e... frieza... — calou-se, deixando que a camisa caísse no chão. — Bem, só existe um jeito de chegar até você!

— Não! — Protegeu-se instintivamente com os braços para impedi-lo de se aproximar. — Não ouse...

Não conseguiu dizer mais nada; foi envolvida nos braços dele e teve a boca fechada um beijo violento. Resistir não seria apenas inútil; o excitaria ainda mais. Rendeu-se porque não havia mais nada a fazer e deixou que suas emoções aflorassem. Quando ele finalmente se afastou para observar as reações de Helen, ela não fez nenhum movimento para afastar a cabeça. Ouviu a respiração ofegante de Clay e o silêncio pesado que se seguiu.

— Agora diga!

Não havia salvação; ele estava disposto a conseguir o que queria. Agarrou o queixo de Helen com raiva, impedindo-a de virar o rosto.

— Diga!

— Eu... não sei o que quer que eu diga. — Pronunciou cada palavra com indescritível esforço.

— Sabe sim. — A voz dele era baixa e cruel. — Apenas três palavrinhas: eu desejo você. E vai falar, agora ou mais tarde, mas vai falar. Desta vez não vai poder escapar. Decida-se logo ou eu digo por você... e não vai ser de uma forma delicada. — Obrigou-a a erguer o rosto para ele. — Olhe para mim!

Olhou para aqueles olhos duros como granito. O que ele estava fazendo com ela era pior do que qualquer castigo físico: obrigava-a a renunciar aos últimos vestígios de dignidade. E apesar de tudo ela o desejava...

— Eu o desejo...

Por um segundo ou dois, ele permaneceu imóvel, o rosto contraído, depois soltou-a e afastou-se. Vestiu a camisa, calçou os sapatos e, só depois de completamente vestido, se virou para ela.

— Agora podemos dar o caso por encerrado.

Helen ainda estava parada no mesmo lugar quando ouviu a porta fechar atrás dele. A barreira agora parecia intransponível.

Glenn partiu na manhã seguinte e Helen não tentou falar com ele, pois parecia inútil. Talvez até tivesse sido melhor as coisas acontecerem daquela forma. Ele estava ferido e desiludido e, por isso mesmo, o sofrimento duraria menos. Poderia também se consolar pensando que tinha tido sorte em escapar antes que fosse tarde demais. Mais tarde, naquela mesma manhã, Helen retirou o pingente do cofre-forte do navio e embrulhou-o com cuidado para devolvê-lo pelo correio. Um dos membros da tripulação encarregou-se de enviar a encomenda. A taxa de registro ficou uma fortuna, mas Helen se sentiu muito melhor depois de tudo resolvido. Agora tinha só um problema para atormentá-la.

Na noite anterior, esteve a ponto de alegar uma indisposição para que a dispensassem do espetáculo, mas um impulso mais forte que ela impediu-a de capitular. Entrou em cena com uma tranqüilidade e um senso profissional de espantar. Clay não tinha aparecido, mas sem dúvida devia estar por lá. Sem saber por que, quase que inconsciente, ela substituiu o último número, já ensaiado, por uma velha canção que estava reservando para a apresentação de terça-feira. Emprestou um sentimento especial a More than you know, sabendo, assim que terminou, que jamais voltaria a cantar aquela música, em parte porque não conseguiria repetir um desempenho como o daquela noite, em parte porque lhe traria lembranças que desejava esquecer .

A semana voou. Helen voltou a ocupar uma mesa para quatro, compartilhando-a agora com uma família de três pessoas. Os Benito tinham emigrado da Itália para os Estados Unidos vinte anos atrás e eram donos de uma cadeia de supermercados. Tinham uma filha, que breve iria se casar com um rapaz de uma das famílias mais influentes da cidade onde viviam, e um garoto de seis anos.

Na quarta-feira à noite Helen ficou com o menino para que o casal pudesse conhecer a vida noturna de Barbados. Jantaram cedo, por causa da criança, e depois Helen levou-o ao cinema. O filme, apropriado a todas as idades e a todas as nacionalidades, por ser basicamente visual, era falado em inglês, com legendas em castelhano. Sentada na escuridão do pequeno auditório, as gargalhadas fazendo vibrar as paredes, pela primeira vez em muitos dias ela conseguiu esquecer a depressão. Era bom ver o pequeno Michael gargalhar e imitar as caretas de Peter Sellers.

Ainda estava sorrindo quando as luzes se acenderam, mas o sorriso morreu imediatamente ao ver quem estava sentado duas fileiras atrás deles.

Clay envolvia os ombros da irmã com o braço, conduzindo-a na direção da saída. Não havia sinal de Ian. Encarou-a por um instante, depois desviou o olhar para a figurinha ao lado dela e voltou a fitá-la com expressão de surpresa. Helen podia até adivinhar o que ele estava pensando: alguém como ela não tinha o direito de assumir a responsabilidade de uma criança. Apertou com força a mão de Michael, que olhou para ela.

— Ainda não é hora de dormir, não é? —  perguntou, esperançoso. — Vamos ao cabaré?

— Acho que não, Michael. — Helen afastou para deixar algumas pessoas passarem. 

—  Sua mãe disse que você devia ir para a cama às nove e meia e já está quase na hora. Podemos pedir que o camareiro leve um refrigerante para você no camarote.

Tomaram o elevador para o convés Boat, onde estavam instalados os Benito, e enquanto Michael se preparava para dormir Helen providenciou o refrigerante prometido. Leu uma história para ele e retirou com cuidado o ursinho que o menino tinha nos braços assim que ele fechou os olhos. Quando saiu, deixou-o dormindo profundamente.

Passava um pouco das dez horas quando subiu para o convés Connaught, encontrando o cabaré em plena animação. Não fazia sentido ficar vagando pelo navio, sem destino, até as dez e meia, hora em que pretendia voltar ao camarote de Michael para ver se estava tudo bem. Então resolveu entrar no clube, onde conseguiu encontrar um lugar vago para sentar. Minutos depois Philip Osbourne estava sentado ao lado dela.

— Olá! É a primeira vez que a vejo sozinha nestes últimos dias.

— É — O que mais podia dizer? — O navio parece cheio esta semana.

— Pensei que você estivesse achando o navio mais vazio desde La Guaira

— respondeu, curioso. Fez uma pausa antes de acrescentar: — Ou foi você quem deu o fora nele? — Falava de Glenn é claro.

— Por que acha que rompemos? Ele precisou voltar por causa de um problema de trabalho.

— Ele deixou a passagem em aberto. Ninguém faz isso para depois mudar de idéia de repente. Não sem boas razões.

— Talvez ele tivesse boas razões — respondeu, sem olhar para ele.

— Clay?

Desta vez olhou para ele, o coração apertado.

— Philip...

— Eu sei, não tenho nada com isso, mas... — A hesitação foi breve. — É verdade que Freeman encontrou vocês dois juntos no camarote?

Será que todo mundo no navio sabia do incidente? , pensou Helen, arrasada. Analisou o rosto de Philip na semi-obscuridade, feliz por não ter ninguém por perto para ouvir a conversa. Podia tentar explicar o que havia acontecido, mas duvidava que ele fosse entender. Por que haveria de entender? E depois, não seria melhor deixar ele pensar que não valia a pena perder o sono por causa dela?

— Sim, é verdade. —  Levantou-se, pousando a mão de leve no ombro dele.

— Desculpe, Philip.

Pronto, estava feito: mais um jovem desiludido. Mas ele se recuperaria, pensou Helen, desejando que o mesmo acontecesse com ela. O peso que tinha sobre a cabeça estava se tornando demasiado.

O corredor onde se localizava o camarote dos Benito estava em silêncio. Como esperava encontrar Michael dormindo tranquilamente, levou um choque ao deparar com a cama vazia. Uma rápida olhada no banheiro e no resto da cabine confirmou a ausência do menino. Entrou em pânico ao tomar consciência dos riscos que o garoto podia estar correndo. Se ele estivesse fingindo que dormia, na hora em que Helen foi embora, tinha tido mais de meia hora para fugir. Sabe Deus onde podia estar naquele momento! Pensou no convés superior, sem grades de proteção, na profundidade da água em torno do navio, e precisou se controlar para não cair numa crise de choro.

Pensou em subir, mas lembrou que o menino tinha desejado conhecer o cabaré e resolveu começar a busca por ali.

A orquestra tocava com animação, quando voltou ao Connaught, mas Philip já havia ido embora. Ficou parada na porta por alguns instantes, imaginando por onde devia começar. Os pais de Michael estariam de volta às onze, no máximo. Como iria encará-los se não tivesse encontrado o menino até .lá?

— Perdeu alguma coisa? — perguntou uma voz irônica, por trás dela. — Se pensava encontrar Philip, devo informá-la de que ele saiu logo depois de você.

Helen mal reparou na ironia, necessitada como estava de ajuda. Se alguém podia ser útil naquela situação, esse alguém era Clay.

— Perdi o pequeno Michael Benito — disse, desesperada. — Pensei que ele pudesse ter vindo até aqui para ver os músicos.

— Quando o viu pela última vez?

— Há quarenta, quarenta e cinco minutos, no máximo. Pensei que ele estivesse dormindo quando saí. Ele...

— Não precisa dar explicações. A que horas os pais vão voltar?

— Às onze, foi o que me disseram.

— Nesse caso é melhor que você volte ao camarote, para que não o encontrem vazio ao chegarem. Vou dar o alerta pelos alto-falantes. Se você tivesse alertado o escritório antes já podíamos ter montado um esquema de busca.

Helen desceu, já que não tinha outra alternativa. Clay estava certo: não fazia sentido uma única pessoa procurar um garoto num navio do tamanho do Andrômeda. Todos estando avisados, havia muito mais chances de encontrar o fujão, que podia estar inclusive em alguma parte inacessível aos passageiros. Tinha deixado que o pânico anulasse o bom senso, e Clay não a deixaria esquecer isso.

Alimentava leves esperanças de que Michael pudesse ter voltado ao camarote durante aquele tempo, mas teve a desilusão de encontrá-lo completamente vazio. Quanto tempo levaria uma busca pelo navio todo? Uma hora? Duas horas? Mais ainda? O que ia dizer aos Benito quando voltassem? Tinham deixado Michael sob a responsabilidade dela e ela falhara.

Os vinte minutos que se seguiram foram os mais longos da vida de Helen. Quando Clay finalmente apareceu carregando nos braços a pequena figura adormecida, seu alívio foi tão grande que praticamente arrancou Michael do colo dele para abraçar o menino com ternura.

— Michael, querido, onde esteve? — perguntou, ansiosa. — Ficamos tão preocupados!

— Queria ver Peter Sellers de novo — respondeu o garoto, tentando se livrar dos braços dela. — Estou com sono.

— Ele estava deitado lá no fundo do cinema, dormindo — explicou Clay, enquanto o menino se acomodava entre as cobertas, dormindo imediatamente. -Deve ter entrado depois que começou a segunda sessão.

Passos soaram no corredor e logo em seguida entraram os Benito, que se alarmaram ao ver Clay.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou a mãe, correndo os olhos da figura adormecida do filho para Clay e Helen. — Michael teve pesadelos?

Clay sorriu e deu de ombros, procurando demonstrar despreocupação.

— Ele quis ver outra vez o filme que havia assistido antes com a srta. Gaynor e dormiu no cinema. Acabamos de trazê-lo de volta.

— Ah, menino levado! — Parecia mais aborrecida com o menino que alarmada com as possíveis conseqüências do pequeno passeio.

— Não devíamos deixá-lo sozinho, Tony. Ele sempre arruma confusão.

— Si — concordou o marido, sem muita preocupação. — Mas um garoto sadio tem mesmo que se meter em encrencas, às vezes.

— Sorriu para Helen sem nenhum sinal de censura. — Foi muito bondosa conosco. Amanhã de manhã, Michael vai lhe pedir desculpas pelo aborrecimento.

Poucos minutos depois, Helen caminhava pelo corredor ao lado de Clay. Só quando chegaram ao vestíbulo onde ficavam os elevadores é que ela se apoiou a uma coluna e deu um profundo suspiro de alívio.

— Esse foi um dos piores momentos que passei na vida. Graças a Deus tudo acabou bem! — Fez um esforço para olhar para o homem parado diante dela. — Ainda não agradeci a você. Eu não o teria encontrado a tempo.

— Talvez nem o tivesse encontrado, pelo menos não com vida. Quando se sentir inclinada a representar a boazinha outra vez, escolha pessoas que possam cuidar de si mesmas.

Raiva e mágoa misturadas provocaram uma reação violenta nela.

— Quem, por exemplo? Você? Tenho coisas melhores para fazer!

— Tenho certeza que sim. — Sua voz soava perigosamente suave. — Mas não inclua o jovem Philip nos seus planos.

— Pare de chamá-Io assim. Ele não é um menino!

— Em relação a você, ele não passa disso. Não vou ficar parado, vendo o rapaz ser destruído, só porque você quer coisa melhor para fazer.

— Está pretendendo fazer a mesma coisa que fez com Glenn? Talvez não seja tão fácil como você imagina.

— Nem tanto. Philip tem princípios e se afastaria assim que soubesse dos motivos que levaram Freeman a deixar o navio.

— Ele já sabe... o navio inteiro sabe! Pena você não ter parado um pouco para pensar na sua reputação enquanto se preocupava em destruir a minha!

— Minha reputação não vai sofrer nenhum abalo. — Riu com desprezo. — Esse é um privilégio masculino que você não vai conseguir derrubar de uma hora para outra.

— Sua irmã pode não concordar com você.

— Está pensando em contar a ela? —  Um brilho passou pelos olhos dele.

A raiva e a vontade de feri-lo morreram de repente, substituídas por um desgosto enorme.

— Não, não estou. Não acha que esse caso já foi longe demais?

— Não. Não enquanto minha irmã e o marido continuarem separados.

— Talvez a culpa seja tanto sua quanto minha.

— Minha culpa?

— É. — Tentou manter a calma. —June tem as mesmas idéias que você a respeito do relacionamento com outra pessoa. Ian é que tem que fazer sempre as concessões. Será que ele também não tem direito a um pouco de orgulho?

— Tanto direito quanto você. —  Aproximou-se com olhos ameaçadores.

— Clay, não! —  Tentou desesperadamente livrar-se dele. —  Pode aparecer alguém!

— E daí? Não acabou de dizer que todo o navio já sabe?

— A tripulação, não os passageiros. — As mãos dele pareciam de ferro, impedindo qualquer movimento. Desesperada, pensou que se ele a beijasse naquele momento não teria forças para reagir. Já não conseguia mais lutar contra ninguém. — Pense na reputação da companhia — argumentou, percebendo que havia vencido quando ele a soltou.

— Tem razão. Não vale a pena. — Com um sorriso irônico nos lábios, observou por alguns segundos o rosto contraído de Helen; depois se afastou. — Vamos esperar por um momento de maior intimidade.

Só depois de vê-Io dobrar a primeira curva da escada é que ela encontrou forças para se mover. Será que aquilo não ia terminar nunca?

 

 



  

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