Хелпикс

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CAPÍTULO V



CAPÍTULO V

 

Passaram-se alguns segundos antes que Helen recuperasse a fala,

— Como veio parar aqui? — perguntou por fim, percebendo logo como era irrelevante a pergunta. Sacudiu a cabeça. — Isto é... por quê?

— Pensei que isso fosse óbvio. — A mulher de lan falava com voz trêmula. — Achei que já era hora de conhecê-la pessoalmente... e dizer o que penso de você! Mulheres que andam por aí roubando maridos das outras deviam ser presas, embora nem isso seja castigo suficiente para elas! — Os punhos cerrados da moça não lhe davam o necessário autocontrole. — Não existem homens em quantidade suficiente para você... seduzir? Precisa andar atrás de lan?

Helen fechou a porta antes de responder, escolhendo com cuidado as palavras para não piorar ainda mais a situação.

— Está enganada a respeito de seu marido e de mim. lan não lhe contou?

— Ele não precisou me contar. Eu já sabia. — June fez uma pausa e respirou fundo.

 — Uma amiga viu vocês num restaurante e resolveu me contar. Ian admitiu tudo, por isso não adianta você negar!

— O que foi que ele disse? — perguntou Helen com cuidado.

— A verdade. Que se conheceram no parque e que você o convidou para assistir sua apresentação. Que você insistiu até ele aceitar e que não o deixou mais em paz. Admitiu que se sentia atraído por você, mas tenho certeza de que ele jamais iria tão longe como foi sem que você o encorajasse. Ian nunca olhou para outra mulher depois que nos casamos, até que se viu envolvido nas suas garras!

Então Ian tinha mentido para salvar a própria pele. Mas por que havia de agir de outra forma? Se tentasse explicar àquela moça a verdade, ela sem dúvida não acreditaria. E se acreditasse, o que aconteceria? O casamento dos Marriot parecia prestes a terminar, considerando-se a presença de June no Andrômeda. Se revelasse a mentira de Ian, que chance teria ainda o casamento? Helen viu que precisava fazer alguma coisa, caso contrário ficaria com a consciência pesada para sempre. Decidiu mentir, sabendo que precisava ser convincente.

— Está bem — admitiu, procurando aparentar indiferença. — Tentei tirá-lo de você, mas falhei. Então por que tanta preocupação? Devia sentir-se feliz por ter um marido que se preocupa com você da maneira que Ian se preocupa. Talvez eu o tenha atraído, mas é a você que ele quer. Ele provou isso e você devia sentir-se grata.

A porta abriu-se violentamente por trás de Helen, quase atingindo-a no braço. Clay, parado na porta, o rosto contraído, olhou para ela e em seguida para a irmã. Tudo indicava que ele tinha ouvido a confissão, por isso seria inútil tentar convencê-lo de que tudo não passava de uma mentira. Mas também que importância tinha isso? De qualquer maneira ele saberia através da irmã.

— Que diabo está fazendo aqui, .June? Como veio até aqui!

— Tomei um avião esta manhã. Uma agência encarregou-se de todas as providências. — Falava depressa e num tom de desafio. Sabia que você não concordaria, por isso resolvi fazer uma surpresa. — Fez uma pausa antes de acrescentar com voz trêmula: — Deixei Ian.

Clay entrou e fechou a porta, desta vez com delicadeza.

— Por que esperou três semanas para decidir?

— Não consegui agüentar mais. Estar na mesma casa, olhar para ele, sempre vendo-o ao lado... dela! — Lançou um olhar de ódio a Helen. — Por que só eu devo fazer concessões?

— O problema não é fazer concessões, é manter o bom senso. Ele sabe onde você está?

— Não, não sabe. — Jogou para trás o cabelo negro, deixando ainda mais visível a tempestade que ia dentro dela. — Deixei uma carta dizendo que ia embora e que não pretendia voltar.

— Precisamos conversar sobre isso, mas antes vamos mandar um telegrama.

— Eu devia ter adivinhado que você ficaria do lado dele. — Ela mal conseguia conter as lágrimas. — Deve achar que sou uma tola por levar o caso tão a sério, não é?

— Pare com isso, June. — Clay falou com delicadeza, mas também com autoridade.

— Não estou do lado de Ian. Ele precisa pagar pelo que fez... e outras pessoas também.

— Lançou um olhar a ameaçador para Helen. — Mas não podemos deixá-lo sem notícias, ele deve estar preocupado. Já tem um camarote?

— Tenho, no mesmo andar que o seu.

— Então vamos para lá... depois de mandar o telegrama.

Helen afastou-se para deixar a moça passar. Sentia-se atordoada, presa na própria armadilha. Não havia nada que pudesse dizer, nada que pudesse fazer para remediar a situação. Só desejava que aquele pesadelo terminasse.

Mas era uma esperança vã. Percebeu isso quando Clay passou por ela, os braços em torno do ombro de June, fulminando-a com o olhar.

— Quanto a você, não pense que está tudo resolvido. Mais tarde vai ter que me explicar algumas coisinhas.

— Não vejo por que continuar discutindo esse assunto — disse Helen, recuperando um pouco o controle.

— Eu também não vejo — murmurou Clay, de dentes cerrados.

Quando se viu sozinha, Helen atirou-se sobre a poltrona onde June estava sentada há poucos instantes. Tudo aconteceu tão depressa que não houve tempo para análises. Mas o que mais podia ter feito ou dito? A única pessoa que podia salvar a situação era Ian, mas ele sem dúvida não ia fazer isso naquela hora.

Sentiu um calafrio ao relembrar a última observação de Clay. Confinada ao navio nas trinta e seis horas seguintes, seria muito difícil evitar uma confrontação com ele. E não precisava ser muito esperta para imaginar que o encontro não seria nada agradável. Teria que continuar blefando, apesar do sofrimento que isso lhe custaria, e talvez depois Clay a deixasse em paz. Tentou não pensar na tristeza que essa idéia despertava nela.

O navio partiu exatamente às seis horas, navegando com imponência em direção a alto-mar, na primeira parte da viagem até Barbados. Às seis e meia Helen se levantou da cama onde havia tentado descansar um pouco e abriu o guarda-roupa à procura de um vestido para o jantar, embora não sentisse um pingo de fome. Incapaz de ficar ali parada no camarote, à espera dos acontecimentos, subiu para o convés Beach assim que terminou de se arrumar. Sentiu-se ao mesmo tempo alegre e desconsolada quando Philip deixou o grupo onde estava e caminhou até ela.

— Teve um bom dia? — perguntou ele.

— Excelente, obrigada. — Procurou aparentar calma. — Estou ansiosa para conhecer melhor o lugar, da próxima vez.

— Ouvi dizer que você voltou com Clay — disse ele, depois de um momento de hesitação.

— É verdade. Nos encontramos lá em cima da montanha e ele se ofereceu para me mostrar alguns pontos turísticos. Fiquei muito impressionada com Caracas.

— Aconteceu a mesma coisa comigo, na primeira vez que estive lá. — Sorriu. — Marian Lee está espumando de raiva! Ela estava com Clay e mais uma ou duas pessoas do navio e não se conforma de ter sido deixada de lado por sua causa. Tome cuidado com ela ou ainda vai passar maus bocados, Helen.

Se Marian Lee fosse seu único problema, Helen estaria morrendo de rir. Será que Clay tinha mesmo dispensado Marian, como Philip dissera?

— Venha, vamos tomar alguma coisa com os rapazes — convidou Philip. — Quando não estamos de serviço, geralmente nos reunimos aqui em cima.

— Eles não vão gostar da intromissão de uma mulher .

— Está brincando! Foram eles que me pediram para vir buscar você. Parece que você não tem consciência da própria popularidade!

Helen deu uma olhada na direção do grupo reunido em uma das mesas do bar, viu que o homem com quem tinha dançado na primeira noite acenava para ela e tomou uma decisão rápida. Precisava esquecer os próprios problemas e Gerry Duncan era a pessoa indicada.

Foi saudada com entusiasmo pelos quatro oficiais, que a receberam como se pertencesse ao grupo. Philip lhe trouxe um martíni e ficou parado ao lado dela, numa tentativa de deixar claro que ninguém ali era mais íntimo que ele.

— Quem é a gatinha que Clay arranjou? — perguntou Gerry olhando para o casal que chegava.

Helen gelou ao ver os dois e baixou os olhos para o copo que tinha nas mãos. Ouviu Clay fazendo as apresentações e foi obrigada a olhar para cima, conseguindo sustentar os olhos cinzentos com admirável coragem.

June estava incrivelmente bonita com o vestido azul e branco. Sorria como se não tivesse preocupação alguma no mundo. Só quando encontraram os de Helen é que seus olhos perderam um pouco o brilho, mas ela se recuperou depressa e levantou o queixo num gesto que dizia muito mais que palavras. Apesar de tudo, Helen admirava sua coragem.

Sentiu-se aliviada quando chegou a hora do jantar. Era o pretexto que precisava para se afastar dali. Saindo do bar, percebeu que não conseguiria comer e decidiu ir para a cama, feliz por não ter que cantar naquela noite. Estava cansada e sem ânimo, depois de um dia em que tudo tinha dado errado. Dormir parecia a melhor solução.

Como tinha encontrado Clay no bar, não esperava vê-lo de novo antes da manhã seguinte. Já estava deitada há algum tempo, tentado sem sucesso conciliar o sono, quando ouviu abatida na porta. Só podia ser o camareiro, embora ele não costumasse vir sem ser chamado.

Com o coração aos saltos, levantou-se e vestiu o roupão antes de ir até a porta, onde ficou parada por alguns instantes, imóvel, incapaz de girar a maçaneta.

— Quem é?

— Quem mais você está esperando? — respondeu Clay, impaciente.

— Já estou deitada. Seja lá o que for quê tem para me dizer, pode esperar até amanhã. — Sentia a garganta seca e apertada.

— Não me interessa como você está. — A resposta cortante veio depois de um segundo de silêncio. — Ou abre a porta, ou vou buscar a chave extra e entro de qualquer jeito.

Helen olhou para o frágil pega-ladrão e abriu-o lentamente. Clay estava parado diante da porta, com uma das mãos na cintura e a outra no bolso. O uniforme branco destacava ainda mais o bronzeado da pele dele.

— É uma visita oficial? — perguntou com toda a frieza que consegui reunir. O rosto dele se contraiu.

— Posso tirar o uniforme, se ele a incomoda. — Atravessou o batente, obrigando-a a se afastar, fechou a porta e se encostou nela. — Não acreditou no que eu disse hoje à tarde?

— Não. — Agora que o momento tinha chegado, Helen estava preparada para enfrentá-lo sem medo, apesar da porta trancada. Deixaria que ele dissesse tudo que tivesse vontade e não tentaria se justificar, pois sabia que era pura perda de tempo. — Deve estar acostumado a tomar o partido da sua irmã.

\

— Alguém tem de tomar.

— Por quê? Ela não é mais criança, como você mesmo observou esta tarde. Por que não a trata como adulta pelo menos uma vez na vida?

— O ataque é a melhor defesa, não? — Os olhos dele brilhavam ameaçadores. — Eu, se fosse você, pararia por aí. Não seja tola, já provou que é uma mentirosa.

Helen estava de costas para o guarda-roupa, os punhos cerrados como quem sente uma grande dor .

— Você já tinha uma opinião formada sobre mim, mesmo antes de me conhecer. Então por que vou me preocupar com o que pensa de mim agora? E, depois, antes de jogar a culpa em outra pessoa, pense na sua responsabilidade. Talvez ela resolvesse melhor este problema se você não tivesse sido tão superprotetor, no passado. Aposto que ela nunca tomou uma decisão na vida sem sua valiosa ajuda!

— Foi uma boa tentativa — disse ele. — Mas não deu certo. Não vai se livrar assim tão facilmente. Talvez até você esteja certa em alguns pontos, mas acontece que não é esse o problema. O que precisamos esclarecer só diz respeito a nós dois.

Helen resolveu se calar, consciente da ameaça velada da última frase. Eram como dois lutadores esperando uma oportunidade de destruir o adversário, só que a luta era desigual e ambos sabiam disso. O que ela dissesse ou fizesse não tinha a menor importância, só importava a decisão dele. E, afinal, o que Clay pretendia?

— Já não está tudo esclarecido? Você demonstrou que estava certo a meu respeito e já disse o que eu sou. Não é suficiente?

— Não, não é suficiente. — O rosto dele continuava duro e inflexível. — Lembra que eu disse que ia lhe dar uma lição?

— Perfeitamente. — Cravou as unhas nas palmas das mãos, tensa. Clay caminhou em direção a ela com uma lentidão ameaçadora.

— Pois bem. Vamos resolver agora nossas diferenças.

Ela se contraiu instintivamente, os olhos brilhando de ódio e pavor.

— Prefiro ver você no inferno!

— Talvez nos vejamos mesmo por lá! — respondeu ele com um sorriso.

 

Quando estendeu as mãos para tocá-la, Helen tentou esbofeteá-lo, mas foi presa pelos pulsos, impossibilitada de reagir. Os lábios dele, implacáveis e cheios de desejo, esmagavam os dela, impedindo qualquer protesto. Empurrando-a até a cama e obrigando-a a cair deitada, inclinando-se sobre ela como um demônio enlouquecido. Só então Helen percebeu que Clay esperava ver medo em seus olhos, para ter uma desculpa para obrigá-la a se submeter. Decidiu não dar a ele essa satisfação, por mais que isso lhe custasse.

Parou de lutar e ficou imóvel nos braços dele, como se não tivesse mais forças para reagir. Com um sorriso cínico, ele procurou novamente seus lábios, dando total vazão ao seu desejo e despertando nela todos os sentidos. Clay sabia muita coisa sobre as mulheres; alias, sabia muito sobre muitas coisas. E foi preciso uma suprema força de vontade para continuar imóvel, para não corresponder às suas carícias mas ela conseguiu e continuou fria como gelo até que ele finalmente levantou a cabeça e a encarou.

Helen respirava com dificuldade, mas manteve o olhar firme diante do dele.

— Já provou o que queria provar — desafiou-o — ou este foi apenas o golpe preliminar?

Um brilho de admiração passou pelos olhos dele.

— Você não se rende, não é?

— Se para você se render quer dizer satisfazer seus desejos, não. Você veio aqui para demonstrar sua superioridade. Pois bem, consegui. No que diz respeito à força bruta, você venceu. Prometo não esquecer isso.

HeIen não conseguiu conter um gemido de dor quando as mãos dele se contraíram com violência.

— Continue assim e vai ver o que é força física! —  Clay ameaçou. — Sabe se fazer de fria muito bem, mas eu senti seu coração bater mais forte!

— E daí?

Os olhos dele faiscaram.

— E daí? Isso...

Os lábios dele, suaves e sensuais, colaram-se ao pescoço de Helen e, desta vez, não admitiam recusa. Ela fechou os olhos, sentindo que respondia ao contato dele, mesmo sem querer. Esquecida de tudo, só percebia a estranha sensação daquele momento, um momento de prazer que era quase dor. Precisou reunir todas as forças para interromper a onda de desejo que cresci-a dentro dela, antes que fosse tarde demais. Como podia pensar em fazer amor com Clay Anderson, um homem a quem odiava c que também a odiava?

— Chega — pediu com voz trêmula. — Clay, por favor.

Ele demorou alguns segundos para falar e precisou fazer um grande esforço para responder.

— Capitulação? — perguntou irônico.

— Se você prefere usar essa palavra... — Não havia escolha e o perigo ainda estava presente, mas ela se recusava a dar o braço a torcer. — Ninguém esta duvidando da sua eficiência.

— O que é preciso para obrigá-la a se render? — disse, depois de um momento de silêncio ameaçador. — E se continuarmos para descobrir?

O coração dela batia descompassadamente. Era isso que ela queria? Renunciar ao seu poder de decisão?

— Não quero continuar e não acredito que você tenha tido esta intenção.

— Não? — Pela expressão, era difícil adivinhar o que ele estava pesando.

— Não, não teve. Não arriscaria seu emprego assim.

— Por quê? Acha que ia correr esse risco?

— Eles não iriam ignorar uma queixa dessas, e você sabe muito bem.

— Sua palavra contra a minha! A essas alturas, todos já suspeitam que haja alguma coisa entre nós. Mulher nenhuma passa todo um dia em companhia de um homem que não suporta. Além do mais, você não faria queixa, porque prefere morrer a admitir que um homem levou a melhor sobre você.

— Você não me conhece tão bem quanto pensa. — Sentia a garganta apertada. — No seu caso, valeria a pena.

— Pode ser. — Ele a soltou e sentou-se. — Mas nunca vamos saber.

— Eu sei — disse Helen, com mais convicção do que a que realmente sentia. — E depois, você já está mesmo de saída.

Ele fez menção de se levantar, mas hesitou.

— Quer que eu fique?

— Não! — Helen mordeu o lábio. — Não quis dizer isso.

— Então explique o que quis dizer. — Passeou o olhar demoradamente por ela. — Não sou difícil de convencer. — Sorriu com sarcasmo ao ver a sombra que passou pelo rosto dela. — É uma questão de prioridades. No momento, não sinto a menor vontade de ir embora. Portanto, cuidado com o que diz.

Helen estava no limite das suas forças e mal conseguia controlar o tremor das pernas. Quando ele se levantou, ela se apoiou num dos cotovelos, procurando preservar o controle que ainda mantinha da situação.

— Supondo que já recebi a lição que merecia, podemos dar o caso por encerrado?

Ele demorou um pouco para responder, observando-a com cinismo.

— No dia em que você deixar o navio, o caso estará encerrado. Durma bem. Vai precisar de todas as suas energias para o espetáculo de amanhã.

Sozinha outra vez, Helen se jogou sobre os travesseiros, desanimada. Não conseguiria enfrentar, por tanto tempo, a perseguição implacável de Clay. Se não tivesse fugido, nada disso estaria acontecendo agora. Devia ter ficado na Inglaterra e enfrentado cara a cara o fim do relacionamento com Ian. A situação em que se envolvera agora era muito mais grave, e só teria um fim se ela fugisse outra vez. Mas que explicação daria a Barney? Podia até prever a reação dele: se o cunhado de Ian estava tornando a vida dela insuportável a bordo do Andrômeda, por que não levava o caso ao conhecimento de uma autoridade superior? Uma semana atrás, ela mesma acharia essa solução a mais viável, Mas, depois de tudo que se passara entre eles, era impossível apelar para uma terceira pessoa. Podia ter gritado por socorro quando Clay invadiu seu quarto, mas ficou calada. Por quê?

Não queria pensar na resposta naquele instante.

Apesar das ameaças, Clay não fez qualquer tentativa de se aproximar dela nos dias que se seguiram, e Helen, conhecendo melhor a rotina de trabalho dele, já sabia como evita-lo. Quanto a June, quando não estava em companhia do irmão, estava com um dos oficiais. Muitos guarda-costas para alguém que não precisava deles, pensou Helen.

Durante a semana, começou a passar cada vez mais tempo com Philip, mesmo sabendo que estava fazendo o que pretendia evitar. De que adiantaria recusar a única verdadeira amizade que lhe dedicavam no navio?

— Dizem que você esteve envolvida com o marido da irmã de Clay — confidenciou Philip certa manhã, quando tomavam sol no superior. — Eu... bem... achei que você devia saber.

Marian Lee, suspeitou Helen, não podia ser outra pessoa. Clay, por pior que fosse, não seria capaz de espalhar uma notícia dessas. Afinal, qual a intenção de Marian? Helen não sabia, mas desconfiava que a dançarina estava se aproveitando da situação para se aproximar de Clay.

— Quer saber se é verdade? — perguntou com franqueza. Philip corou um pouco.

— Mesmo que seja, tenho certeza de que não foi como dizem. Você não é esse tipo de pessoa.

Ela estendeu a mão, colocando-a carinhosamente sobre a mão de Philip.

— Você é um grande amigo, Philip. Obrigada. Gostaria que os outros confiassem em mim como você!

Ele virou a mão e segurou a de Helen com firmeza.

— É por isso que Clay está perseguindo você? Foi por isso que ele a seguiu na segunda-feira?

— Ele não me seguiu. Perdeu-se dos amigos por acaso. — Não acreditava muito nisso, mas não queria envolver Philip. Sorriu para ela e retirou a mão com delicadeza. — Tudo vai terminar bem.

— Não vejo como, com a irmã dele aqui no navio. Ele não devia ter concordado com a vinda dela. — Fez uma pausa. — Que terrível coincidência, não? Vir de tão longe e cair justamente nas mãos de Clay. Tenho certeza de que não sabia quem ele era, caso contrário não teria ficado tão espantada com o comportamento indelicado que ele demonstrou no primeiro dia.

— Foi mesmo uma coincidência. Coincidências acontecem com mais freqüência na vida real que na ficção. Como gostaria que ele esquecesse o assunto, como gostaria que todos esquecessem o assunto! — Sentou-se e ajeitou os óculos. — Acho que já tomamos bastante sol por hoje. Não quero ficar parecendo um frango assado esta noite.

— Seu bronzeado está perfeito. Não há perigo de ficar vermelha. Sempre achei que pessoas de pele clara não podiam tomar sol.

— Acho que minha pele está ficando resistente — comentou com irônia.

— Vai ficar linda sob a luz dos refletores. Vai usar aquela coisa flutuante?

— Aquela coisa flutuante, como você chama, é a peça mais cara do meu guarda-roupa, por isso refira-se a ela com respeito! — Sorriu. — Não estava pensando em usar aquele vestido, mas não vejo motivo algum para não usá-lo.

— Ótimo! Jimmy Keen acha que você vai fazer sucesso com o novo número.

— Espero que ele esteja certo. — Helen tentou mostrar entusiasmo. Jamais se sentira tão indiferente a uma apresentação, e achava que não tinha esse direito. Um verdadeiro profissional não podia permitir que os problemas pessoais interferissem no seu trabalho. Se quisesse empolgar a platéia naquela noite, tinha que esquecer completamente Clay Anderson.

Imaginando que talvez tivesse que compartilhar o camarim com Marian Lee, deixou para se trocar quase na hora do espetáculo; mas, felizmente, encontrou a sala vazia. O vestido negro ao qual Philip havia se referido já estava preparado no cabide. Só quando já estava maquilada e pronta para se vestir é que percebeu o longo rasgo.

Atordoada, examinou o estrago e chegou à conclusão de que o acidente não podia ter acontecido durante o trajeto do camarote até o camarim. Ou alguém havia danificado o vestido enquanto ele estava no guarda-roupa ou ali mesmo no camarim. Se a hipótese verdadeira fosse a última, só havia uma suspeita: Marian Lee!

Faltando apenas cinco minutos para entrar em cena, não tinha tempo para pensar no assunto, nem para ir buscar outra roupa. Hesitou um momento. Depois, apanhou uma tesoura e começou a cortar os babados superiores do vestido, arrancando-os fora. Terminada a tarefa, vestiu-se depressa, fechou o zíper e deu uma olhada no espelho, preocupada. O que havia restado da operação era um vestido de corte muito simples, com um bordado de pedrarias na linha do pescoço e mangas justas. Mas o que preocupava Helen era a maneira como o tecido marcava as formas do seu corpo, coisa que não acontecia quando os leves babados ainda existiam. No original, o vestido revelava pouco e sugeria muito, permitindo que a imaginação do público tentasse adivinhar o que havia por baixo. Como estava agora dava a ilusão de semitransparência. Sentia-se praticamente nua e não sabia como enfrentar os quase duzentos pares de olhos que a esperavam, mas não tinha escolha. Ou enfrentava a situação ou desistia, e não pretendia dar essa satisfação a Marian Lee.

Clay estava conversando com Kreenia, o mágico iugoslavo, que havia terminado seu número naquele instante, quando Helen atravessou o corredor para entrar no palco. Assim que a viu, ele interrompeu a frase no meio e examinou-a da cabeça aos pés com uma expressão que a fez tremer.

— Pretende impressionar as massas?

O iugoslavo também olhava para ela, mas com expressão bem diferente.

— As massas têm muita sorte — observou com entusiasmo, num sotaque carregado.

— Mulher alguma com um corpo tão bonito devia escondê-lo!

Helen ficou vermelha sem querer. Nos olhos de Kreenia, viu primeiro a surpresa e depois um brilho divertido, de quem compreendia a reação dela.

— Preciso entrar — murmurou, apressada, quando a orquestra começou a tocar as primeiras notas do seu número inicial. Sem olhar para Clay, passou pelos dois homens e entrou no círculo de luz que aguardava por ela.

Helen jamais conseguiu saber se a reação do público foi motivada por seu último número ou pelo vestido, mas os aplausos não deixaram nada a desejar. Precisou cantar mais dois números antes de deixar definitivamente o palco, exausta e ao mesmo tempo eufórica, depois de vinte e cinco minutos de tensão.

A primeira pessoa por quem passou foi Marian Lee, cujos olhos brilhando de inveja confirmaram as suspeitas de Helen.

— Devia ter feito um trabalho melhor — murmurou com suavidade ao passar pela dançarina.

Ficou feliz por não encontrar Clay no caminho até o camarim. Mas o alívio durou pouco pois, assim que abriu a porta, deparou com ele sentado, lá, a sua espera.

— O que aconteceu? — perguntou ele, sem preâmbulos, olhando as tiras espalhadas pelo chão.

— Tive vontade de reformar o vestido — respondeu, indiferente.

— Ora, vamos! Mulher alguma faria uma coisa dessas com um vestido daqueles. Não entendo muito desse assunto, mas acho que deve ter custado muito caro.

— Custou. — Helen entrou, deixando a porta aberta. — Mas houve um acidente e tive que tomar uma decisão rápida. Era isso, ou não entrar no palco.

— Que espécie de acidente?

— Prendi o vestido na porta e rasguei-o, ao soltá-lo. — Deu de ombros, com fingida indiferença. — Coisas que acontecem. Vou precisar de outro. — Fez uma pausa antes de acrescentar: — Felizmente, ainda posso usar o que sobrou. Não causei má impressão lá fora.

— Você não precisa de truques. E, já que tocamos no assunto, o rasgão no seu vestido foi feito a tesoura. Pode explicar isso?

— Não lhe devo explicações. — Helen sustentou o olhar dele sem se abalar.

— Se isto começou do jeito que acho que começou, quero saber de tudo. — Fez um gesto de impaciência. — Não será a primeira vez que teremos ciúmes profissionais abordo.

— Nesse caso, deve saber que o melhor meio de lidar com eles é ignorá-los.

— Desta vez foi só o vestido, da próxima pode ser mais sério.

— Ai, ai, ai — zombou Helen. — Drama em alto-mar! Por que não tenta escrever um livro?

Os olhos dele brilharam perigosamente.

— Se eu tentar alguma coisa, você vai ser a primeira a saber! Vou perguntar pela última vez. Alguém rasgou seu vestido?

Não era hora para teimosia e Helen fez um esforço para responder:

— Acho que alguém deve ter rasgado, mas o que é que você pode fazer?

— Posso impedir que aconteça de novo.

— Como?

— Isso é problema meu. — Caminhou até a porta. — De hoje em diante este camarim é só seu.

— Isso é um alívio, obrigada. — Ela não virou a cabeça para ele. — Por falar nisso, posso saber o que é que você está fazendo aqui?

Ele parou na porta e deu um sorriso irônico.

Marian ainda não tinha voltado quando Helen terminou de se arrumar. Pegou o vestido negro e os pedaços que estavam no chão e guardou-os em uma mala. Philip tinha sugerido que ela fosse até o Calypso depois do espetáculo, mas Helen não estava disposta a fingir descontração. Tentou imaginar como Clay agiria em relação à dançarina, mas não chegou a uma conclusão. Aquele homem era totalmente imprevisível, o que o tornava perigoso. E também fascinante, sugeriu uma pequena voz interior. O que era duplamente perigoso.

 

 



  

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