Хелпикс

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CAPITULO IV



CAPITULO IV

 

Helen passou o domingo tentando escrever outra carta a Glenn, rasgando folha após folha, incapaz de expressar com palavras o que sentia. Se ao menos não tivesse sido tão apressada em mandar a primeira carta, ficaria tudo mais fácil, mas agora só podia esperar que uma súbita inspiração viesse em seu socorro.

Na noite anterior, após o jantar, despediu-se de Clay assim que surgiu a primeira oportunidade de sair sem parecer indelicada e foi para o quarto guardar a esmeralda no estojo. Assim que o escritório central abriu suas portas, na manhã de domingo, foi até lá e guardou a jóia num cofre. Profundamente aliviada, pensou que agora, mais tranqüila, poderia encontrar uma solução para o problema. Enquanto isso, a vida continuava normalmente.

Às três horas encontrou-se com James Keen e Sol Dayton, o pianista, para ensaiar algumas novas canções. Apesar da mudança semanal de público, gostava de variar o repertório, mais para manter a própria inspiração que para não desinteressar a platéia. Havia uma nova canção fazendo sucesso tanto na América quanto na Europa e os três decidiram incluí-la no programa já daquela noite, uma vez que se adaptava perfeitamente ao estilo de Helen. Depois do ensaio, ela agradeceu aos dois músicos pela ajuda, feliz por encontrar parceiros tão simpáticos. Quanto ao trabalho, portanto, não havia o menor problema, corria tudo às mil maravilhas. Pena que não acontecesse o mesmo em relação a outros aspectos da sua vida abordo.

Na segunda-feira de manhã, esperou que os demais passageiros deixassem o navio para depois descer até o porto de La Guaira. Na saída, encontrou Philip, que estava de serviço naquele dia. Ele a cumprimentou com alguma reserva.

— Não está pensando em anda por aí sozinha, está? — perguntou, ansioso. — Assim, com essa boniteza toda, vai arrumar problemas.

Helen estava com um conjunto cor-de-rosa, de calça comprida e blusa sem mangas, aberta só no pescoço, roupa que ela considerava ao mesmo tempo prática e discreta. Sorriu para Philip, ajeitou o chapéu branco na cabeça e deu um laço no lenço de seda que enfeitava a bolsa de ráfia, num gesto de quem afirma ser capaz de cuidar de si mesma.

— Estava pensando em ir até Caracas. Ouvi dizer que é um passeio inesquecível.

— E é, mas quando não há nuvens. Geralmente há muitas nuvens lá em cima impedindo a visão da paisagem aqui de baixo. Podia ter ido numa excursão organizada.

— Não gosto muito de organização. — Fez uma careta. — Onde é que posso tomar um táxi?

— Há um ponto no terminal. — Ele obviamente tinha percebido a inutilidade de discutir com ela. — Qualquer táxi pode levá-la onde quiser, mas combine o preço antes para não ser enganada.

— Obrigada. — De passagem, tocou de leve a mão dele. — Philip, não se preocupe comigo, vai dar tudo certo. Gosto de passear sozinha.

Helen passou mais tempo do que pretendia no edifício do terminal, admirando as lojas bem sortidas, que vendiam tudo que fosse possível imaginar. Gostou de umas moedas de ouro e pensou em comprar algumas para fazer um bracelete, mas achou que ali, tão perto do navio, os preços deviam ser mais elevados e decidiu procurar o mesmo artigo na cidade, onde certamente seria mais barato.

Saindo outra vez para a luz do sol, ficou deslumbrada com a imponente magnificência das montanhas que se elevavam a alturas incríveis, a partir da costa, completamente recobertas de nuvens nos pontos mais altos. Do outro lado desses picos ficava a cidade de Caracas, considerada uma das mais belas do mundo. Apesar do que havia dito a Philip ao sair do navio, desejou ter alguém com quem compartilhar todo aquele esplendor.

Afastando decididamente os pensamentos tristes, caminhou na direção do primeiro carro de uma fila de táxis que aguardavam passageiros, ignorando os olhares insistentes dos motoristas parados ao lado dos veículos. O motorista do carro escolhido por ela estava sentado no banco dianteiro, com um dos braços apoiado no vidro aberto lendo um jornal. Seus olhos se iluminaram ao vê-Ia, talvez pela perspectiva do dinheiro que iria ganhar, talvez por ter se entusiasmado com a beleza de Helen. Era um homem ainda jovem, moreno e bem-apessoado. Mas o que mais a interessou foi o cartãozinho pregado no vidro dianteiro, que indicava que o motorista falava inglês. Com o pouco que sabia de castelhano, ela jamais seria capaz de discutir preços com ele.

— Gostaria de ir até a estação, por favor — pediu e viu que o rosto do rapaz se iluminava num largo sorriso.

— Claro, madame. — Desceu para abrir a porta traseira para ela, parecendo bem à vontade com uma camiseta branca de algodão. — Lindo dia para um passeio até as montanhas.

— Quanto você cobra? — perguntou ela, já com um dos pés dentro do carro. — Há um preço fixo para esse trajeto?

— Não, não há uma quantia prefixada. — Sacudiu a cabeça e tornou a sorrir. — Pedro não vai enganá-la, senhora.

Helen riu. Havia qualquer coisa nele que inspirava confiança.

— Acredito em você.

Ele fechou todas as janelas e ligou o ar condicionado antes de dar a partida, rum ando em seguida para a estação. Helen chegou a abrir a boca para dizer que não pretendia andar num carro todo fechado, mas calou-se ao sentir a deliciosa sensação de frescor produzida pelo aparelho. Mais tarde teria tempo para sentir ao vivo o clima venezuelano.

La Guaira era uma cidadezinha compacta, de estilo colonial, salpica aqui e ali de modernos edifícios onde funcionavam as lojas e escritórios, rodeada de montanhas em cujas encostas amontoavam-se milhares de casebres miseráveis, aparentemente prontos a desabar a qualquer instante.

— É aqui que vivem as pessoas do povo — comentou Pedro, percebendo pelo retrovisor a direção do olhar de Helen. — Quanto mais pobres, mais em cima vivem. O governo constrói apartamentos para essa gente mas, como o aluguel é muito alto, blocos inteiros de edifícios continuam vazios. Coisas da vida, como diriam vocês lá no seu mundo.

Helen achou conveniente mudar de assunto.

— Onde aprendeu a falar tão bem o inglês?

— Com os americanos — respondeu rindo e carregando no sotaque. — Há turistas em La Guaira durante todo o ano, mas não temos muitos ingleses.

— Esta é minha primeira viagem à América do Sul. Gostaria de ter mais tempo para conhecer tudo. Impossível ter uma boa idéia da cidade em apenas um dia.

— Para conhecer bem um lugar é preciso viver nele, senhora. Vai gostar de Caracas. Todos os turistas gostam.

— Tenho certeza que sim. — Helen percebeu que não ia conseguir convencer aquele venezuelano cínico de que sentia um verdadeiro interesse pelo país. Para ele, ela não passava de mais um turista rico que podia se dar ao luxo de viajar pelo mundo sem se preocupar com as despesas. Não adiantaria nada mencionar que esta ali a serviço.

O terminal dos teleféricos era uma construção imensa, de teto abobadado, cercada de pilares de concreto que não deixavam entrar a luz do sol. Pedro foi até o guichê, comprou uma passagem para ela e voltou até a fila de pessoas que esperavam diante dos carros amarelos.

— Suba, veja tudo que quiser e depois desça em outro carro. — disse ele. — Espero você do outro lado para levá-la a dar um giro por Caracas e depois voltamos ao navio através do desfiladeiro da montanha. Assim pode ver tudo.

Parecia uma idéia melhor que andar à procura de outra condução quando chegasse à capital. Sem dúvida o passeio sairia muito caro, mas Helen achou que estava ganhando o suficiente para essa extravagância.

— E se eu decidir não ir até o outro lado? — sugeriu em tom de brincadeira. — Posso muito bem aproveitar a oportunidade e ir embora sem lhe pagar nada!

— Senhora, — respondeu com um sorriso simpático — se duvidasse da senhora, não faria a oferta, A viagem até o alto leva meia hora. Geralmente as pessoas ficam em torno de uma hora lá em cima, portanto daqui a duas horas estarei esperando do outro Iado.

Como Helen estava no começo da fila, tomou o primeiro carro. Pedro acenou para ela quando os carros começaram a subir e depois voltou para o táxi. Helen segurou com firmeza a barra de ferro que havia diante dela, sentindo uma reviravolta no estômago quando saíram da obscuridade para o brilho intenso do sol, iniciando a subida da encosta íngreme da montanha.

Logo o terminal não passava de uma pequena mancha de concreto lá em baixo, enquanto adiante e de ambos os lados estendia-se a imensidão azul do mar e a linha brilhante da costa. Ao redor do mar, erguiam-se as montanhas, verdes e imponentes, cortadas por inúmeras trilhas esbranquiçadas que pareciam não levar a parte alguma. Aqui e ali, pequenas casinhas brancas repousavam sobre protuberâncias da rocha.

Mais em cima, florestas imensas de pinheiros elevavam-se em direção ao céu, como sentinelas com suas baionetas. À medida que o bondinho subia, alinha da costa foi desaparecendo aos poucos, até restar diante deles apenas a montanha, que dava a impressão de sair diretamente de dentro do mar. Um perfume forte, no ar, penetrava agradavelmente pelas narinas. A claridade fazia com que a massa imponente diante dela parecesse um jorro de luz subindo em direção ao céu. Invadida por uma sensação nunca antes experimentada. Helen contemplava em êxtase aquela maravilha, esquecida dos demais passageiros. Jamais esqueceria aquela cena.

A chegada ao topo foi praticamente um anticlímax. Ansiosa para ver a vista que se descortinava das alturas, não se conformou em permanecer dentro do edifício do terminal, onde ficavam algumas lojas e um restaurante. Seguindo por uma rampa que conduzia ao lado de fora, tomou um caminho pavimentado que se estendia até o ponto mais alto da montanha, onde uma construção em forma de torre apontava para o céu, como um dedo. Havia um outro cabo correndo paralelo ao caminho, alguns metros acima, mas os bondinhos estavam parados. Helen lembrou-se de ter ouvido Glenn falar de um hotel construído ali em cima como atração turística, fechado logo em seguida devido à freqüência com que as nuvens obscureciam a vista do panorama lá de baixo. O dono sem dúvida devia ter perdido uma fortuna, simplesmente por falta de previsão. Mas felizmente naquele dia o ar estava claro e sem nuvens.

O lugar estava fechado e já semi-destruído. Helen olhou através das portas de vidro para as paredes de mosaico trabalhado e as imensas janelas do que antigamente devia ter sido um salão luxuoso, imaginando que destino poderiam dar àquele descomunal elefante branco. Diante do edifício principal estendia-se um pátio circular, lindamente decorado com canteiros, que deviam ter sido magníficos nos seus tempos de esplendor, e vários bancos. Seguiu um pequeno grupo de turistas americanos até uma mureta de pedra que rodeava todo o pátio e descobriu, maravilhada, a cidade de Caracas, que se estendia lá em baixo em todo seu esplendor — um mundo perdido no meio da muralha representada pelas montanhas.

Algumas nuvens passavam como flocos de algodão alguns metros abaixo, produzindo manchas de luz e sombra no fundo do vale. Mesmo daquela distância, era possível avistar as ruas e avenidas, parques e praças e as filas de automóveis, que se assemelhavam a formiguinhas. Era difícil acreditar que dentro de poucas horas ela própria estaria lá em baixo em todo seu esplendor — um mundo perdido no meio da muralha representada pelas montanhas.

De volta ao terminal, comprou cartões postais e selos, escreveu algumas linhas rápidas e enviou-os a alguns amigos de Londres. Nesse instante chegava outro bondinho de La Guaira, lotado de pessoas que riam e falavam alto, espalhando-se em pequenos grupos pela estação.

Os bondinhos que desciam para Caracas eram cor-de-laranja, ao contrário dos que vinham de La Guaira e que eram amarelos. As amplas plataformas estavam apinhadas, especialmente de estudantes ainda bem novos, coordenados por duas professoras de aparência preocupada, cuja tarefa Helen não invejava. Tentando descobrir onde começava a fila, ela se viu envolvida e arrastada pela multidão alegre de crianças para dentro de um dos bondinhos. Uma mão segurou-a de leve pelo cotovelo, dirigindo-a até um assento, no exato momento em que as portas se fechavam com ruído e o carro se punha em andamento. Virou-se para agradecer ao homem que estava sentado a seu lado, mas sentiu as palavras morrerem nos lábios quando encontrou o olhar irônico tão seu conhecido.

— Parece que vamos ter que nos suportar pelos próximos vinte minutos — disse Clay.

— Problemas de quem cai no meio de um grupo de estudantes. Veio de La Guaira sozinha?

— Vim. — Helen tentou reunir as próprias idéias num conjunto lógico, atordoada com as perguntas que lhe vinham à cabeça aos borbotões. Ele nem parecia a mesma pessoa sem o uniforme, mas o olhar permanecia o mesmo. — Como foi que você... .isto é, não tinha visto você lá no terminal.

— Não? — Deu de ombros. — Estava em companhia de dois passageiros, mas acho que eles ficaram para trás. Com certeza virão no próximo carro.

Teria que suportar a companhia dele, quisesse ou não. Bem, de qualquer maneira, não se sentia obrigada a tentar parecer educada depois do episódio de sábado. Tinha vindo para ver a paisagem e era isso que faria, embora metade do prazer já estivesse arruinado pela presença de Clay.

Mas ela não conseguiu conter algumas exclamações de admiração e prazer, à medida que a cidade se aproximava. Também não deixou de notar a familiaridade de Clay com a região, pois ele foi dando explicações durante todo o percurso.

— Aquilo lá é La Rinconada, uma pista de corrida — explicou, indicando uma grande área desmatada à direita. — Não há outro igual. Hoje não há corrida, mas está sempre aberta para visitas. Só que você vai precisar de um táxi para ir até lá.

— Já contratei um táxi — explicou Helen. — O homem que me levou ao terminal do teleférico vai me esperar do outro lado. Pelo menos ele disse que esperaria.

— Claro que ele vai estar lá. É uma prática comum. Ganhar um dia inteiro é melhor do que fazer algumas poucas corridas baratas. Combinou um preço com ele antes?

— Não, não combinei. Ele disse que não cobraria demais.

— Depende do que ele considera cobrar demais. As mulheres geralmente não passeiam por aqui desacompanhadas, ele pode se sentir tentado atirar vantagem. — Helen arriscou um olhar para ele e encontrou os mesmos olhos irônicos de sempre. — Nos sentidos, se você não tomar cuidado.

— Não vejo por que você deva se preocupar com isso.

— Você é do Andrômeda, portanto está sob minha responsabilidade. É melhor eu dar uma palavrinha com esse chofer quando chegarmos lá em baixo.

— Eu cuido de mim, obrigada.

— Não, não cuida. — A afirmação foi feita num tom que não deixava margem para discussão.

Passaram o resto do tempo em silêncio, mas Helen não conseguiu mais se concentrar na paisagem. A não ser que se escondesse de Clay quando o bondinho chegasse a Caracas, não via como se livrar dele. Sentia-se profundamente irritada com a interferência, mesmo reconhecendo um certo fundamento no que ele havia dito. Se Pedro cobrasse quatro mil cruzeiros pelo dia de trabalho, ela não teria meios de saber se aquele era o preço normal ou se ele a estava explorando.

Assim que desceu do bondinho, no meio da multidão ruidosa de garotos, avistou Pedro. Clay acompanhou-a até o táxi e conversou com o motorista.

— Vai levar esta moça para dar um passeio pela cidade?

Helen percebeu o desagrado de Pedro e encolheu os ombros, como quem se exime de responsabilidade pela intrusão. Embaraçada, fingiu grande interesse pela paisagem e tentou não ouvir a conversa dos dois homens. Uma multidão de passageiros do teleférico aproximou-se do ponto de táxi, forçando-a a sair do caminho. Depois que eles passaram, Clay virou-se para ela.

Está combinado. Mil e quinhentos cruzeiros pelo dia todo, mais uma gorjeta que nós considerarmos justa.

— Nós? — Helen sentiu que o coração lhe saltava no peito.

— Vou com você. — Seu tom não admitia recusas. — Vamos a La Rinconada primeiro, depois almoçamos e em seguida vemos o resto.

Helen não conseguiu sufocar uma pontada de prazer involuntário. Embora a razão se revoltasse contra ele, os sentidos não podiam deixar de reconhecer a enorme atração daquele homem. Na verdade, Helen temia mais a si própria do que a Clay.

— Não está sendo um pouco pretensioso? — perguntou ela, recusando-se a entregar os pontos sem luta. — Não pensou que eu pudesse preferir continuar o passeio sozinha?

— Pensei. E sem dúvida não foi por falta de quem quisesse acompanhá-la. — O rosto de Clay continuava impassível. — Mas vou com você assim mesmo, portanto sugiro que relaxe e tente aproveitar o passeio. — Fez uma pausa e prosseguiu num tom menos agressivo. — Será que não podemos esquecer os desentendimentos só por um dia?

— Uma trégua?

— Mais ou menos.

— Está bem. —  Aceitou a proposta de paz, tentando esquecer as suspeitas. Quem sabe agora Clay não se decidisse a ouvir a versão dela? Se ao menos conseguisse fazê-lo entender, se ao menos se tornassem amigos...

Pedro parecia ter aceitado a nova situação filosoficamente, apesar dos olhares curiosos que lançava a ela através do espelho retrovisor. Ela não sabia nem se interessava em saber o que ele pensava a respeito da intervenção de Clay. Sentiu no ombro a leve pressão do braço de Clay, que acabava de se acomodar ao lado dela, e afastou-se um pouco para evitar o contato.

— E seus amigos? — perguntou Helen, assim que o carro se pôs em movimento. — Não vão ficar preocupados com você?

— Não, sem dúvida devem ter percebido que resolvi continuar o passeio sozinho.

O trajeto até La Rinconada não levou muito tempo. Helen maravilhou-se com a simetria das linhas arquitetônicas e com a bem dosada mistura de elementos novos e antigos. Em volta da cidade, para qualquer direção que se olhasse, a muralha compacta de montanhas erguia-se como guardiã invencível da cidade.

La Rinconada era realmente um espetáculo à parte, desde os vastos jardins arborizados à vista deslumbrante da cidade proporcionada pelas arquibancadas. Rodeado pela pista, um jardim ornamental, com lagos e quedas d'água. Cada uma das três plataformas possuía seu próprio restaurante e um circuito fechado de televisão para aqueles que preferissem ver as corridas confortavelmente instalados nas cadeiras estofadas do bar.

Além disso tudo, Clay explicou que o hipódromo possuía um centro de criação e um hospital de primeira qualidade.

Apesar da admiração pela beleza da arquitetura, Helen não podia esquecer as choças miseráveis a respeito das quais Pedro havia falado. Milhões e milhões de cruzeiros deviam ter sido gastos para fazer de a Rinconada o que era, mas talvez pudessem ter tido melhor uso.

— Bem mais de oito bilhões — confirmou Clay, quando ela colocou a questão. Em seguida, percebendo onde ela queria chegar, justificou: — Mas proporciona emprego a mais de vinte mil famílias e contribui com mais da metade das suas rendas para o Tesouro Nacional. Em todos os países existem pobres. É parte da estrutura social.

— Você fala como Glenn — murmurou Helen sem pensar e, percebendo a reação dele, acrescentou depressa: — Como sabe tanta coisa a respeito deste lugar?

— Interesse. — Se ela pensava que ele não faria comentários sobre Glenn, estava enganada. — Tem se correspondido com os Freman?

— Eles me pediram que escrevesse. — Fez questão de enfatizar a palavra "eles".

— Ainda estou pensando no que fazer com o pingente — acrescentou num impulso. — Vou devolvê-lo, é claro, mas não quero ferir Glenn mais do que o necessário.

— Só você pode decidir isso — disse ele depois de alguns instantes de silêncio.

— Não estava pedindo sua opinião — retrucou, ofendida. — Ainda não acredita que eu não tinha percebido que era uma esmeralda verdadeira, não é?

— Nunca sei se devo acreditar em você ou não — respondeu com um encolher de ombros. — Se não fosse... — Clay calou-se com certo esforço. — Tínhamos combinado esquecer tudo isso por hoje.

— É, combinamos. — Mas ela não queria esquecer; preferia explicar de uma vez por todas o que tinha realmente existido entre Iam e ela, mas o instinto fez com que se calasse.

— Acho que já vi o essencial por aqui. Que tal irmos para outro lugar?

Pedro estava esperando no carro e endireitou-se no assento ao vê-los.

— Para onde? — perguntou, lacônico, dirigindo-se apenas à Clay.

— Para a rua Médio. Um restaurante chamado Blanco's.

Conheço o lugar. — Havia novo respeito no tom do venezuelano. — Trabalha nos navios?

— Trabalho. — Clay consultou o relógio. — Dê uma volta antes, porque acho que não vamos ter muito tempo depois do almoço.

Dirigiram-se ao coração da cidade por uma avenida de três pistas, duas vezes mais larga que qualquer outra conhecida por Helen. Gastaram meia hora para conhecer a antiga catedral, esplendoroso edifício de teto de ouro, e mais outro tanto no Panteão Nacional, onde jaziam os heróis nacionais. Um fotógrafo aproximou-se deles e perguntou se queriam tirar uma foto ao lado do monumento. Helen já ia recusar quando percebeu que Clay fazia um gesto afirmativo, ao mesmo tempo rodeando os ombros dela com um dos braços. Poucos minutos depois, examinando a foto, a primeira coisa que Helen notou foi o sorriso sarcástico de Clay.

A foto é sua, foi você quem pediu — retrucou, quando ele lhe ofereceu a fotografia.

— Pode pendurar na parede para usar como alvo, quando jogar dardos.

— Vamos comer — foi o único comentário de Clay.

O Blanco's era um restaurante pequeno e modesto,que jamais seria ,incluído nos guias turísticos. As paredes, forradas com mantas indianas, tinham como decoração arcos, flechas e bolsas de palha feitas a mão.

A especialidade da casa, as hallacas, eram uma mistura de milho, carne, vegetais e condimentos variados, tudo envolvido numa folha de bananeira e cozido na água. Como sobremesa, comeram fatias de abacaxi.

— A refeição estava uma delícia. Acho que comi demais — comentou Helen satisfeita.

— Você pode comer quanto quiser, com esse corpo. — Clay terminou de tomar o vinho e afastou um pouco a cadeira para poder esticar as pernas. — O lugar não é dos mais confortáveis, mas é o único onde se come hallacas como estas.

— Vem sempre aqui?

— Quase todas as semanas, mas geralmente alugo um carro e venho dirigindo eu mesmo. O passeio de hoje foi uma feliz exceção.

— Feliz?

— Para você. Pense no que teria perdido, se eu não estivesse junto.

— Teria perdido uma excelente refeição -respondeu Helen, encarando-o com frieza.

— Foi exatamente o que eu quis dizer. — Havia um brilho de desafio nos olhos dele.

— Se estivesse sozinha, sem dúvida teria ido almoçar no Hilton. Acho que a mudança de planos foi boa para você.

— Dizem que é bom variar. — Olhou instintivamente para o relógio. — A que horas sai o navio?

— Depois das seis. Ainda temos quase três horas.

— Você disse a Pedro para estar aqui às três.

— Mesmo que ele se atrase um pouco, ainda temos tempo de sobra para voltar a La Guairá. A viagem pela rodovia não leva mais que uma hora. Quer tomar alguma coisa?

Helen já ia sacudir a cabeça negativamente, mas mudou de idéia.

— Um licor.

— Duvido que Blanco tenha. Além das bebidas locais, ele geralmente só serve rum. Por que não experimenta um ponche? É muito refrescante.

De fato, era muito refrescante. Além de fortíssimo, é claro, mas Helen só foi perceber quando já estava quase terminando. Nessas alturas, estava tão alegre que não se importou muito. Sorridente, examinou o restaurantezinho escuro e barulhento e depois olhou para Clay.

— Estou contente que tenha me trazido aqui.

— O prazer é todo meu — respondeu Clay, acrescentando: — Pensei que seus gostos fossem mais sofisticados.

— Quer dizer que escolheu este lugar para me dar uma lição?

— De certa forma. Em matéria de comida, nenhum restaurante se iguala ao Blanco, mas...

— Mas não foi por isso que me trouxe aqui — completou, sem ressentimento. — A menos de três anos atrás, eu não só não comeria no Hilton, como nem sequer teria coragem de entrar lá. Pode-se comer bem em lugares simples, não há necessidade de se freqüentar só restaurantes sofisticados.

— Você mora em Kensington, não é?

— Moro. — Olhou-o, espantada. — Como sabia?

— June mencionou isso na carta. — Tomou um grande gole de ponche, colocando o copo na mesa com ruído. — Ian costumava ir lá?

— Jantou lá uma ou duas vezes. — Percebeu a incredulidade dele e tentou protestar:

— Clay, não é como você pensa, eu... nós não...

— Esqueça — interrompeu, brusco. — Não estou interessado.

— Então não devia ter tocado no assunto. — A raiva cresceu dentro dela. — Parece que não se importa de discutir os problemas conjugais de sua irmã com outras pessoas!

— Quem, por exemplo?

— Quer dizer que contou a mais de uma pessoa? — Não conseguia esconder o sarcasmo. — Talvez devesse selecionar melhor seus confidentes.

— Quem? — Os dedos dele se comprimiam com força em torno do copo, como se ele temesse agredi-la.

— Pergunte a sua namorada — respondeu Helen, dando de ombros.

— Minha... — Clay calou-se de repente e olhou-a com uma expressão estranha. — Por acaso está falando de Marian Lee?

Então era verdade! Helen tentou não dar importância ao choque que a abalou por um instante. A vida amorosa daquele homem não significava nada para ela, não podia significar nada para ela!

— Estou, e não é por acaso. Não sei exatamente o que disse a ela, mas...

— Não disse nada a ela. A única pessoa com quem comentei o fato foi você. Se Marian sabe de você e lan, deve ter ouvido uma de nossas conversas.

— Como podia ter ouvido? — perguntou, irônica.

— Talvez na noite em que você chegou ao Andrômeda. Encontrei-a na porta do Calypso assim que você foi embora. Pode ser que ela também estivesse no convés enquanto conversávamos. A noite o som se espalha com facilidade.

— Por que não pensou nisso quando começou a discutir o assunto? Todas as suas mulheres agem assim?

— O que foi que ela disse a você? — Os olhos dele demonstravam frieza.

— Por que não pergunta a ela?

— Estou perguntando a você!

— Não vou responder. — O efeito da bebida tinha cessado quase por completo, deixando-a num estranho estado de torpor. Nunca havia se sentido tão ausente como naquele instante. — A única coisa que vou dizer... e só para esclarecer bem as coisas... é que a última vez que vi lan foi na noite em que ele me disse que era casado. Pode acreditar ou não, como preferir, mas é a verdade. Vamos embora? Já são quase três e meia.

— Gostaria de acreditar em você — disse Clay, sem sair lugar. — Mas então teria de reconhecer que meu cunhado é um mentiroso.

— Ele não mentiu para mim. Apenas deixou de me dizer que era casado. — Queria convencê-lo, mas sentia que se o fizesse estaria deixando Ian em má situação. — Foi ele quem contou à sua irmã que estava se encontrando com alguém ou ela descobriu sozinha?

— Não tenho certeza. Ela me escreveu uma carta meio confusa sem entrar em detalhes. Se ela não desconfiava, ele não devia ter contado.

— Quer dizer que o homem pode fazer tudo que quiser, desde que a esposa não descubra?

— Não, não é isso. O que quero dizer é que ele podia evitar aborrecimentos para os dois, se ficasse de boca fechada. — Olhou demoradamente para ela. — Talvez ele tivesse medo de que você resolvesse contar tudo a June.

Ela sentiu a garganta apertar.

— Chega, já disse o suficiente.

— Estava apaixonada por lan? — Os olhos dele brilhavam estranhamente.

— Não exatamente, mas talvez estivesse perto disso. Tínhamos muito em comum.

— Encarou-o com um sorriso meio desanimado. — Ainda não acredita em mim, não é?

— Preciso me acostumar a um novo ponto de vista. Tinha certeza de que Ian havia sido encorajado por você. Eles estão casados há pouco mais de um ano. Normalmente no primeiro ano de casamento o homem não sente necessidade de procurar outras mulheres — concluiu com cinismo.

De certa forma eu o encorajei. Ele parecia tão...

— Tão o quê? — Pelo tom, Helen percebeu que ele não ia permitir que a frase ficasse no ar.

— Necessitado de alguém com quem conversar... com quem compartilhar suas horas livres — concluiu, em tom de desafio. — Talvez não seja problema meu, mas tem certeza de que o casamento de sua irmã era feliz, mesmo antes de tudo isso começar?

— Vendo-os três vezes por ano, não posso ter tanta certeza. June pode ser um pouco imatura, ainda, mas nunca deixou transparecer se alguma coisa saiu errada. Em setembro, quando a vi pela última vez, tive a impressão de que ela continuava tão louca por ele quanto antes. — Baixou os olhos para o copo. — Ele falou de June alguma vez?

— Não, nunca. Ele só disse que era casado, que sentia muito e foi embora. Isso aconteceu há três semanas atrás.

— Foi por isso que veio para o Andrômeda?

— Foi. Mas parece que não tive muita sorte.

— Deve ter tido um choque violento, quando me conheceu.

— Tive... principalmente quando percebi que espécie de pessoa você imaginava que eu fosse.

— Reagindo como reagiu, não podia esperar que tivesse outra idéia de você.

— Como queria que eu reagisse? Estaria preparado para me ouvir , se eu quisesse explicar minha versão naquele dia?

— Provavelmente não — admitiu ele. — Tinha intenção de fazê-la pagar caro pelo que havia feito a minha irmã.

— E agora? — perguntou, sem ousar encará-lo.

— Roma não foi feita em um dia. Você me deixou em dúvida, preciso pensar, mas...

— Olhou-a durante alguns instantes, pensativo. — Acho que só uma confirmação do próprio lan pode me dar certeza.

Se não fosse pelo incidente com a esmeralda de Glenn, Helen tinha quase certeza de que ele teria acreditado nela. Agora, Clay devia achar que ela era ou uma grande mentirosa ou uma ingênua, mas infelizmente as aparências pareciam reforçar mais a primeira hipótese. O instinto levou-a a não insistir mais no assunto até que Ian confirmasse a história... se é que ele desejava confirmá-la.

— Ele sabe que estou trabalhando no Andrômeda?

— Imagino que June tenha contado a ele. Escrevi assim que soube da sua vinda. Pensei que fosse receber uma resposta ainda esta semana.

— Talvez ela tenha decidido resolver sozinha seus próprios problemas, deixando para você a parte que me diz respeito. Na próxima carta vai poder dizer que a confiança que ela depositou em você não foi em vão.

— Não vou pedir desculpas -retrucou ele, com um sorriso cínico. — Foi você quem criou o problema. Acho que mesmo em circunstâncias diferentes haveria antagonismo entre nós, e você sabe por quê.

— Eu sei? — Uma sombra passou pelos olhos verdes de Helen.

— Claro. Porque você não gosta dos homens que não se deixam dominar. Talvez por isso tenha se dado tão bem com lan. Ele nunca teve uma personalidade muito forte.

— Parece que não gosta muito do seu cunhado.

— Isso não vem ao caso. Só acho que não é o tipo de homem com quem June devia ter se casado.

— Então por que concordou com o casamento?

— Ela tem idade para fazer o que quiser, sem me pedir permissão. — E acrescentou, com os olhos brilhando: — E não é fácil para mim ser duro com ela. Criar uma garota de doze anos foi uma enorme responsabilidade para mim.

— Quantos anos ela tem agora?

— Vinte e um.

Então ele devia ter mais ou menos vinte e cinco anos quando assumiu a responsabilidade de criar a irmã, pensou Helen, reconhecendo que não devia ter sido fácil, para um rapaz daquela idade, assumir tal tarefa. Sentiu vontade de perguntar se June tinha vivido com ele durante todos aqueles anos, mas decidiu que seria melhor calar-se. Como Sally Freeman e ela própria, a irmã de Clay também não tinha tido uma família, o que criava entre elas uma certa afinidade, mesmo naquelas circunstâncias.

— Não deve ter sido fácil para nenhum dos dois — comentou.

Ele fez menção de dizer alguma coisa mais, mas aparentemente mudou de idéia e afastou a cadeira com um movimento brusco.

— Vamos procurar aquele seu motorista antes que ele venha nos procurar.

Pedro esperava por eles na rua lateral onde haviam combinado encontrar-se e, pelo bocejo com que os recebeu, Helen concluiu que ele não tinha ido almoçar para descansar um pouco.

Deixaram a cidade pela via elevada que atravessava as montanhas em direção ao grande desfiladeiro, descendo lentamente até La Guairá. A rodovia às vezes cortava a montanha, passando por túneis muito extensos e ricamente iluminados, e desembocando do outro Iado, em vales muito verdes.

Por causa da presença de Pedro, a conversa entre Clay e Helen se limitava a observações sobre a beleza da paisagem, mas em momento algum a moça deixou de estar consciente do magnetismo do homem sentado ao seu lado. Houve um momento especial de tensão quando uma curva mais fechada fez com que ela escorregasse em direção a ele. Helen sentiu as mãos de Clay em torno de sua cintura, como já havia acontecido no bondinho. Só que, desta vez, ele não fez nenhum gesto para afastá-la; ao contrário, manteve-a firmemente junto dele, os lábios a poucos centímetros dos dela e uma expressão no olhar que a deixou quase sem fôlego. Ser desejada fisicamente não era uma experiência nova, mas daquela vez foi diferente. Aquele não era um homem qualquer e as sensações que o contato dele provocava diferiam de tudo que ela já sentira antes.

— Desculpe — disse Helen no tom mais natural que conseguiu emitir. — Não estava esperando aquela curva. — Afastou-se dele enquanto falava, aliviada e ao mesmo tempo decepcionada por ter sido solta sem protesto, desejando desesperadamente que ele a mantivesse junto de seu corpo forte.

— Em dez minutos estaremos no navio — foi o único comentário dele.

Eram exatamente cinco horas quando chegaram às docas. Helen não sabia como resolver o problema do pagamento, mas Clay livrou-a do aborrecimento. A gorjeta oferecida por ele devia ter sido muito generosa, pois o sorriso e as despedidas de Pedro foram calorosas.

— Gostaria de saber quanto lhe devo — perguntou Helen timidamente, quando subiam a prancha do navio.

— Não se preocupe com isso — respondeu ele com o habitual sorriso irônico.

— Não é justo.

— Não? — Pararam um instante no convés, um pouco afastados do grupo de passageiros que também estava voltando. Olhou-a enigmaticamente. — Também insistiu em pagar o passeio com Freeman?

— Não, claro que não. — Hesitou um pouco. — Mas aquilo foi diferente.

— Diferente em quê?

— Porque ele... eles... — calou-se e fez um gesto desconsolado. — Eu era convidada deles.

— Então considere-se minha convidada, se isso torna as coisas mais fáceis. Não quero mais ouvir falar em pagamento.

— Está bem. — Não havia razão para insistir. — Obrigada, então. Foi um dia inesquecível.

— Fugindo? — perguntou ele com suavidade quando ela fez menção de se afastar. Ela se esforçou para olhá-lo nos olhos.

— De quê?

— Nós dois sabemos de quê. O problema é o que fazer a respeito.

Com uma calma que nem ela mesma sabia de onde tinha vindo, respondeu:

— Não sei o que você vai fazer a respeito, mas eu vou descer. Obrigada mais uma vez pelo passeio.

A porta de um dos elevadores se abriu e sua única ocupante olhou para a placa fixada em uma das colunas.

— Este é o convés Carillon?

— Não, é o convés Caribbean — informou Helen. — Também vou para o convés Carillon.

Entrou no elevador e apertou o botão, sem olhar para o local onde havia deixado Clay Anderson. Que bom se pudesse odiá-lo, mas não conseguia, não o suficiente. Para um homem como ele, só havia um tipo de relacionamento possível com a mulher que ele imaginava que ela fosse. A atração existia... então por que não se deixar levar por ela? Os homens pareciam capazes de separar completamente o desejo físico de qualquer espécie de envolvimento emocional. Helen desejava possuir essa capacidade, que sem dúvida tornaria sua .vida bem mais fácil.

O encarregado da limpeza dos camarotes aproximou-se dela e saudou-a alegremente.

— Há uma pessoa esperando você. Disse que era uma grande amiga sua, por isso deixei-a esperar na sua cabine. — Fez uma careta quando ouviu o telefone soar. — Lá vou eu outra vez.

Afastou-se antes que Helen pudesse pedir maiores esclarecimento. Perplexa, ela caminhou até o camarote e abriu a porta, defrontando-se com uma linda moça de cabelos negros, que se levantou da cadeira onde estava sentada e encarou-a com uma mistura de ódio e ansiedade.

— Acho que não esperava me ver por aqui — disse a moça em tom cortante. — Sou June Marriot, a esposa do seu amante!

 

 



  

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