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Vidas em Conflito. No Gentle Persuasion). Kay Thorpe. Capítulo I



  Vidas em Conflito

(No Gentle Persuasion)

Kay Thorpe

 

O AMOR LANÇOU LAUREN NUMA ARMADILHA INESPERADA.

Ao percorrer os corredores frios e silenciosos do palácio em Veneza, onde agora morava, Lauren convenceu-se mais uma vez de que seu casamento com Nick fora um erro. Como pudera se envolver naquele mundo tão diferente do seu?

Havia sido uma louca, ao apaixonar-se por ele. Cega de amor, não se dera conta de que Nick apenas queria usá-la para se vingar da família!

 

Digitalização: Tinna

Revisão: Márcia Goto

 

Copyright: Kay Thorpe

Título original: "No Gentle Persuasion"

Publicado originalmente em 1984 pela

Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

Tradução: Maurício R. Gonçalves

Copyright para a língua portuguesa: 1986

Editora Nova Cultural Ltda. — São Paulo — Caixa Postal 2372

Esta obra foi composta na Fesan Editora Ltda. e

impressa na Divisão Gráfica da Editora Abril S. A.

Foto da capa: RJB

 

Capítulo I

A tarde começava esplêndida: raios de sol penetravam, convidativos, pela janela dupla. Sem pedir licença, invadiam a velha sala de escritório, dando um ar de vida àquele ambiente naturalmente sisudo, decorado com pesados móveis escuros. Absorta em seus pensamentos, olhando o vazio, Lauren nem percebeu a beleza daquele momento. Tamborilava as pontas dos dedos no braço da poltrona estrategicamente colocada em frente à porta. Inquieta, olhou mais uma vez para o relógio.

— Eles já devem estar acabando — a secretária tentou acalmá-la, ao perceber que a paciência de Lauren estava muito próxima do fim.

— Imagino que o sr. Brent também queira ir almoçar. — Ela esboçou um sorriso sem entusiasmo. Havia reservado uma mesa para o meio-dia e já era quase uma hora. Costumava almoçar com o pai várias vezes por semana, quando o horário de ambos permitia. Na atribulação de suas vidas era importante darem-se um tempo para colocar as coisas em dia.

Hoje, com certeza, não teriam nem tempo para o relaxante aperitivo antes da refeição. E a causa de tudo era aquele homem que aparecera assim tão abruptamente, justamente no horário de almoço, como se fosse a pessoa mais importante do mundo. Passou a mão pelos cabelos, dando um profundo suspiro contrariado.

Carol, a secretária, garantiu que não sabia o que os dois homens conversavam há tanto tempo. No entanto, era evidente que, por mais que tentasse disfarçar, a preocupação em seu rosto tinha aumentado consideravelmente nos últimos vinte minutos.

Já era tempo de seu pai tomar a iniciativa e pedir Carol em casamento, Lauren pensou, enquanto lhe observava o nervosismo crescente. Era evidente que eles se amavam; além disso, já estavam juntos há bastante tempo. Aprovaria inteiramente a união, caso se decidissem a concretizá-la. Na sua opinião, Carol era a mulher ideal para o seu pai. O relacionamento das duas era ótimo, e dez anos é um tempo muito grande para um homem ficar sozinho. Não conseguia entender por que ainda não haviam formalizado tudo.

Antes de partir para Bruxelas, onde assumiria seu novo emprego, gostaria de vê-los resolver a situação... Lauren suspirou de novo ao lembrar-se da viagem. Por que hesitara tanto em aceitar a oferta? Afinal, aos vinte e três anos, já era tempo de viver sua própria vida, conhecer pessoas e lugares diferentes. Apesar de bastante independente, nunca tinha ousado vôos mais altos. Dentro de um mês, estaria vivendo na Bélgica, jogando uma cartada decisiva em sua vida.

Isso se sobrevivesse até lá, pensou, sentindo seu estômago reclamar de fome.

— Carol, estou faminta. Será que você não pode inventar alguma desculpa para entrar lá e sondar se eles ainda vão demorar muito?

— O sr. Brent disse que não deveriam ser interrompidos por nenhum motivo. Mas já devem estar acabando.

— Você disse isso há mais de dez minutos — Lauren observou atentamente a expressão de Carol. — Há algo de errado, não é, Carol? Está estampado em seu rosto. O que está acontecendo?

— Eu não... — a secretária interrompeu-se, aliviada, ao ouvir a porta se abrir. O visitante acabava de sair da sala. — Já vai embora, sr. Brent? — perguntou, levantando-se.

— Já. E acho que o sr. Devlin está precisando de uma xícara de café bem forte.

Lauren virou-se para observar melhor o homem alto que acabava de sair da sala do pai. Constatou que era bem mais jovem do que imaginara. Não tinha mais que trinta anos. Vestia um terno elegante, que escondia um corpo que se adivinhava musculoso, perfeito. Os cabelos, castanhos e sedosos, estavam displicentemente penteados e combinavam com um par de penetrantes olhos verdes que encontraram os dela quase que imediatamente. Ele exalava sensualidade.

— Eu sou Lauren Devlin. Meu pai está passando mal?

— Bem, duvido que esteja cem por cento, neste momento — ele respondeu com um sorriso levemente sarcástico, o que atingiu Lauren como uma bofetada. — Mas posso lhe garantir que a causa não é orgânica.

A arrogância dele era ostensiva, e ela sentiu uma antipatia imediata por aquele homem que se julgava superior a todo mundo.

— Não estou entendendo. O senhor poderia explicar o que aconteceu?

— Peça a ele que lhe conte. Eu já estou atrasado.

Impassível, o homem passou tão rente a ela em direção à saída que Lauren pôde até sentir o cheiro suave de loção após barba. Estava literalmente furiosa. Esforçou-se ao máximo para não lhe segurar o braço, exigindo explicações mais detalhadas sobre o que havia se passado entre ele e seu pai.

Carol foi a primeira a reagir. Entrou rapidamente no escritório do sr. Devlin. Lauren só conseguiu mover-se alguns segundos depois.

Henry Devlin estava com a poltrona virada para uma ampla janela. Parecia estar observando a paisagem, mas seus olhos transtornados fitavam o vazio. Estava tão concentrado em seus problemas que nem percebeu quando as duas mulheres se aproximaram.

 — Papai, você está bem? — Lauren ajoelhou-se ao lado da poltrona, preocupada com a palidez do rosto dele.

— Eu fui um tolo — Henry comentou, como que retornando de um transe. — Pensei que pudesse me sair bem dessa.

— É a Companhia Clayfield, não é? — Carol perguntou suavemente. — Eles querem todo o dinheiro agora.

— Você sabia de tudo? — Ele encarou a secretária, surpreso.

— Apenas suspeitava. Percebi como você ficava, sempre que essa transação era mencionada.

— Será que um de vocês poderia me explicar sobre o que estão falando? — Lauren pediu, ansiosa, certa de que as coisas eram bem piores do que pensara a princípio.

— Não há mais por que esconder de você, querida — o senhor Devlin falou, olhando fixamente para a filha. — Eu desviei uma enorme quantia de dinheiro que deveríamos investir na Companhia Clayfield e efetuei um negócio particular. As coisas não saíram como eu imaginava, e agora não tenho como repor aquele dinheiro.

— Oh, meu Deus. E agora, papai? O que eles vão fazer?

— A única coisa que podem fazer. Tenho até a próxima segunda-feira para conseguir o dinheiro. Depois, eles entregarão o caso à polícia.

— Não pode ser! — Lauren exclamou. — Hoje já é sexta. É humanamente impossível levantar uma quantia tão alta em apenas dois dias. Eles não podem fazer isso. Não é justo.

— Não, querida. Eu sabia muito bem os riscos que estava correndo quando fiz o investimento. Apenas pensei que teria tempo para repor tudo antes que dessem pela falta... Agora tenho que arcar com as conseqüências.

— Mas esta é a primeira vez que isso acontece com você! Será que não poderiam ser mais compreensivos?

— Não existe nenhum tipo de condescendência no mundo dos negócios, Carol. Principalmente quando grandes somas em dinheiro estão em jogo.

— Mas todos podem errar uma vez, não, papai?

— No mundo dos negócios, um único erro pode ser fatal, Lauren. — Henry mergulhou novamente numa apatia profunda, concluindo com voz fraca: — Se ao menos eu tivesse mais três semanas... Aí então teria condições de conseguir....

— Quer dizer que se eles esperassem mais três semanas você conseguiria reembolsá-los? — Lauren encarou o pai, vislumbrando uma luz no fim do túnel.

— Sem dúvida. Mas tenho certeza de que Nick Brent não concordaria em prorrogar o prazo. E se os outros souberem...

— Você quer dizer que ele é o único que sabe disso até agora?

— Exatamente. Foi ele o primeiro a dar pela falta do dinheiro, pois está cuidando pessoalmente dos investimentos que estamos fazendo. Tudo está nas mãos dele, e Brent não é do tipo que faz concessões, é extremamente rígido. Veio avisar-se de que vai expor tudo à diretoria da Clayfield na segunda de manhã.

— Antes ou depois de entregar o caso à polícia? — Lauren exaltou-se. Uma raiva surda, impotente, tomava conta de todo o seu ser. Abominava aquele homem que mal conhecia. Provavelmente ele seria inflexível a ponto de colocar seu pai na cadeia.

— E isso tem alguma importância, filha?

— Mas ele não fará isso até a segunda-feira, não é?

— Foi o que eu disse. Agora gostaria de ficar alguns minutos sozinho. Vocês me permitem, não?

— Claro, papai. Estaremos na sala de Carol. É só chamar, caso precise de alguma coisa.

Lauren tocou levemente no braço de Carol, e as duas saíram da sala de Henry Devlin. Assim que fechou a porta, ela se virou para a secretária:

— Você tem o endereço desse sr. Brent?

— Esqueça isso, Lauren. Não vai adiantar nada você ir lá. Ele não é do tipo de homem que volta atrás depois de tomar uma resolução.

— Mas você tem o endereço, não tem?

— Sei onde fica quando está na cidade. Ele viaja muito.

— É uma pena que não tenha ficado fora da cidade por mais algumas semanas. — Lauren percebeu imediatamente o olhar de reprovação que Carol lhe lançou. — Sei que papai errou. Mas tenho certeza de que não vai adiantar nada mandá-lo para a cadeia. Isso poderia até matá-lo.

— Talvez não chegue a tanto, Lauren. Seu pai nunca enfrentou problemas desse tipo. É à primeira vez que algo sai errado nos negócios dele.

— Carol, tenho certeza de que esse sr. Brent fará questão de que o caso de papai sirva de exemplo a todos os outros homens de negócios.

— Nesse caso, você estará perdendo seu tempo indo atrás dele.

— Mas assim mesmo tenho que tentar. Por favor, dê-me o endereço.

— E o que eu digo ao seu pai?

— A verdade. Ele não vai gostar, mas se houver uma única chance terá que agarrá-la com unhas e dentes.

Contrariada, a secretária consultou o arquivo e anotou o endereço num papel, entregando-o a Lauren.

— Obrigada, Carol. Cuide de papai, está bem?

— Fique tranqüila, não vou sair de perto dele. Boa sorte. Ficarei aqui com os dedos cruzados.

Lauren chamou um táxi, completamente alheia ao movimento da rua e a tudo que a cercava. Enquanto o carro transpunha rapidamente as ruas, encurtando a distância que a separava do apartamento de Nick Brent, ela concentrou todas as suas energias em busca de um argumento que fosse realmente convincente. Em vão.

Pelo pequeno contato que haviam tido, ele parecia ser uma pessoa intransigente, o que tornaria o diálogo muito difícil.

Pararam diante de um imponente prédio de apartamentos situado nos limites da cidade. Antes de ir embora, o motorista do táxi inclinou-se o suficiente para observá-la subir as escadas. Lauren já estava acostumada a esse tipo de atenção. A porta de vidro fume à sua frente refletia as delicadas formas de seu corpo bem-feito, perfeitamente emolduradas pelo vestido verde-claro que usava. Seus lisos cabelos castanhos balançavam ao vento, e os raios de sol faziam-nos brilhar suavemente.

No saguão, o porteiro informou-lhe que o sr. Brent não estava e que não fazia a menor idéia da hora em que estaria de volta. Nada no mundo faria Lauren mudar de idéia. Esperaria o tempo que fosse necessário. Gentilmente o funcionário apontou-lhe uma poltrona, onde poderia aguardar confortavelmente.

Por volta das quatro horas, depois de ter folheado inúmeras revistas sem conseguir ler uma linha, alguma coisa a alertou. Ergueu os olhos e avistou uma figura alta e forte entrando no saguão. Era Nicholas Brent.

Nervosa, observou o porteiro dizer qualquer coisa e apontá-la. Quando Nick se aproximou, Lauren fez um esforço sobre-humano para aparentar calma, mas estava longe de sentir domínio sobre si própria. Levantou a cabeça com dignidade, encarando-o.

— E então, srta. Devlin? A que devo essa visita? Seu pai a mandou?

— Não, em absoluto.

— E ele sabe que está aqui?

— Talvez agora já saiba. Mas que diferença isso faz? A iniciativa de vir até aqui partiu exclusivamente de mim.

— Quer que eu mude de idéia, não é? Pode desistir. Você não tem nenhuma chance.

— Mas você ainda nem me ouviu!

Ele a observou atentamente por alguns segundos. Seus olhos inquisitivos fixaram-se no rosto delicado, agora corado pela raiva e pela tensão.

Lauren se sentiu completamente nua quando ele lhe admirou os seios, que subiam e desciam rapidamente, ao ritmo de sua respiração ofegante. Reuniu todas as forças possíveis para enfrentar aquele olhar avaliador.

Quando a encarou novamente, Nick tinha uma evidente expressão de cinismo. Ele poderia pensar o que quisesse, ela estaria determinada a ir às últimas conseqüências.

— Está bem. Então é melhor subirmos até meu apartamento. Mas fique avisada de uma coisa: não costumo me arrepender de minhas decisões.

"Para tudo há uma primeira vez", ela pensou. Já era uma vitória conseguir que a ouvisse.

Nick morava na cobertura do prédio, ocupando todo o andar. Da ampla janela da sala era possível ter uma visão panorâmica da região e de um belo parque que ficava bem em frente ao edifício.

— Sente-se. — Ele apontou uma poltrona. — Acho que você está precisando de uma bebida. O que prefere?

— Será que você poderia preparar um gim-tônica, por favor?

— Claro. Vou preparar um para mim também.

Enquanto o observava preparar as bebidas, Lauren sentiu-se a última mulher do mundo e por instantes achou que não teria forças para convencê-lo. Uma vontade louca de sair correndo dali apoderou-se dela, mas a lembrança da expressão abatida do pai a segurou. Faria qualquer coisa para persuadir aquele homem a desistir de entregar o caso à polícia. Qualquer coisa...

O olhar que ele lhe havia lançado há alguns minutos não deixara dúvidas sobre o que poderia lhe exigir. Aquele tipo de olhar não era novo para ela, muito menos as intenções que ocultava. Sim, estava tudo muito claro. Nick seria capaz de propor algum acordo... Quanto mais pensava no destino que estava reservado ao seu pai, mas convicta ficava de que não haveria outra alternativa. Teria que levar aquilo até o fim, não importava o sacrifício que fizesse, o quanto lhe custasse intimamente, A sorte estava lançada. Precisava apenas de uma garantia de que Nick manteria sigilo por três semanas, livrando seu pai da cadeia.

Quase engasgou ao sorver um longo gole da bebida. O gim-tônica estava mais forte do que ela pensava. Nick, sentado no braço de uma poltrona perto da dela, observava-a atentamente. Não adiantava adiar aquela agonia, Lauren concluiu. Olhou-o nos olhos, com uma expressão de desafio.

— Acho que vai nos poupar um bom tempo se eu disser que estou disposta a fazer qualquer coisa para livrar meu pai da cadeia. Tudo que quero é sua promessa de que lhe dará uma chance para tentar consertar tudo. Em três semanas ele poderá arranjar...

— Ei, espere aí, mocinha! Você não acha que está indo rápido demais? Concordo que você é uma garota muito atraente e desejável, mas...

— Mas você não é o tipo de homem que tira vantagens de mulheres nessa situação, não é? — Lauren revidou, irônica.

— Bem, eu não diria exatamente isso, mas... Quantos anos você tem, garota?

— Já sou maior de idade, se é isso que o preocupa.

— E é um pouco cínica também, não acha? — Ele colocou o copo sobre uma mesinha de centro e voltou a encará-la. — Já que é assim, acho melhor irmos direto ao que interessa. Não tenho mesmo muito tempo para ficar desperdiçando.

Ela estava esperando por aquilo. Era inevitável. Na verdade, tinha tomado a iniciativa. Mas assim mesmo estava terrivelmente chocada. Segurava com tanta força seu copo que as pontas dos dedos tornaram-se completamente brancas. Parecia que suas forças a haviam abandonado.

— Mas... assim, desse jeito? — perguntou, apavorada.

Ele tirou-lhe o copo das mãos e colocou-o também na mesinha. Em seguida, puxou-a com delicadeza pelos braços, fazendo-a erguer-se. Ficaram em pé, um diante do outro.

— E de que jeito você acha que deveria ser? — perguntou com suavidade. — Você me fez uma oferta e eu aceitei. E, como já disse, não tenho muito tempo a perder.

— Mas você está esquecendo uma coisa. — Ela sentia as mãos tremerem e procurou desesperadamente ganhar tempo. — Quero uma garantia de que você vai cumprir sua parte no negócio. Isto é, que vai livrar meu pai de qualquer complicação.

— Pagamento apenas depois da entrega. Este é o meu modo de negociar. — Nick abraçou-a com um sorriso que Lauren achou odioso. — E apenas se a mercadoria valer o preço. Vamos, mostre-me o que você sabe fazer e então falaremos sobre o pagamento.

— Não — ela protestou. Com um movimento brusco, desvencilhou-se dos braços dele, afastando-se o máximo possível.

Mas Nick parecia decidido. Caminhou lentamente, pegou-a no colo e levou-a até o quarto. Seus gestos eram absolutamente tranqüilos, como para demonstrar-lhe que era o dono da situação. Quando deu por si, Lauren já estava estendida na cama. Em pânico, rolou para um dos cantos, tentando colocar-se em pé. Inútil. Os braços fortes daquele homem a impediam de fazer qualquer movimento para se libertar.

— Você é um crápula! — gritou.

— Ora, agora vai se fazer de santa? Você veio aqui para isso, não?

Ela ficou imóvel enquanto Nick tirava o paletó e a gravata. Lógico que poderia gritar por socorro e acusá-lo de tentativa de estupro, mas quem acreditaria nela? O porteiro havia sido testemunha de sua insistência em falar com ele...

— Mas você não vai se divertir nem um pouco. — Todo o ressentimento que sentia estava expresso na sua voz. Desviou depressa o olhar do peito bronzeado e musculoso de Nick, quando ele tirou a camisa. — Não vou levantar um dedo para lutar contra você, se é isso que está esperando. — Aquele era o seu grande e único trunfo.

— Então você vai bancar a garota fria e indiferente, não é? — Os dedos ágeis já desabotoavam o cinto de couro. — Pois é o que veremos.

Ao ouvir o telefone tocar, ele sobressaltou-se e ficou imóvel, olhando para ela como se estivesse indeciso entre atender ao chamado ou ignorá-lo completamente. Por fim, jogou o cinto no chão e comentou, dando de ombros:

— Salva pelo gongo. Eu estava esperando essa chamada para mais tarde. Com licença, mas terei de atendê-lo na outra sala. Você não se importa, não?

— De maneira alguma. Fique à vontade — ela respondeu, com redobrada ironia.

Assim que ele saiu do quarto, Lauren pôs-se em pé e passou a mão pelos cabelos, ainda não acreditando que estava mesmo ali, que aquele pesadelo era real. Colocou os sapatos, que haviam caído durante a tentativa de livrar-se dos braços de Nick. Tudo aquilo não tinha passado de uma loucura, constatou. Aquele homem não tinha escrúpulos, não ajudaria seu pai de maneira alguma, independente do que ela pudesse oferecer a ele. Se não fosse pela chamada telefônica, fatalmente a teria usado como queria, descartando-a em seguida. E ainda poderia fazer isso, caso ela não agisse rápido.

Nick continuava ao telefone quando Lauren abriu a porta. Estava de costas e falava rapidamente numa língua que parecia italiano. Ela caminhou silenciosamente até a poltrona onde havia deixado a bolsa, pegou-a e foi até a porta de saída, dando graças por notá-lo tão entretido.

No entanto, um misto de raiva e impotência tomou conta dela quando percebeu que a porta estava trancada e que a chave não estava na fechadura. Ficou parada ali, com a mão na maçaneta, olhando-o, completamente acuada.

— Não é assim tão fácil — ele falou com um sorriso, enquanto desligava o telefone. — A chave está comigo. Se quiser, pode vir pegá-la.

— Eu mudei de idéia — ela informou, reunindo todo o orgulho que lhe restava. — Quero ir embora.

— Quer dizer que seu pai não vale o sacrifício?

— Não é isso. Eu, simplesmente, não confio em você. Mesmo que prometesse livrar meu pai de toda essa confusão, eu não acreditaria. Fui muito tola em pensar que poderia resolver alguma coisa vindo aqui.

— Você foi tola em pensar que algumas horas com você na cama me fariam mudar de idéia. — Com um movimento brusco, Nick levantou-se da banqueta em que estava sentado e ela engoliu em seco ao ver o esplendor de seu peito nu. — Será que você realmente pensou que eu estava com falta de mulheres?

— Não pensei que você estivesse com falta de nada. — Uma raiva como nunca havia sentido na vida se apoderou dela; nunca fora tão humilhada. — Apenas não tinha mais nada para oferecer, só isso.

— Talvez você devesse ter começado com um simples pedido para que eu reconsiderasse minha decisão.

— E teria adiantado alguma coisa?

— É provável que não.

— Já suspeitava. Carol me avisou de que você era extremamente severo, intolerante.

— Carol? Quem é Carol?

— A secretária de meu pai.

— Ah, sim. A devotada srta. Gordon. É provável que ela também esteja envolvida em tudo isso, não?

— Ela não tem nada a ver com isso. Pode perguntar a meu pai. Ele lhe dirá a mesma coisa.

— E quem acredita na palavra de um criminoso?

— Não admito que fale assim dele — Lauren protestou, quase gritando. — Você não tem o direito.

— Claro que tenho. Afinal, ele utilizou dinheiro que não lhe pertencia.

— Ele devolverá tudo se você lhe der uma chance.

— Ah, claro. — A voz dele era puro escárnio.

— Bem, acho que não há por que continuarmos com esta conversa. — Ela o olhou com altivez. — Por favor, dê-me a chave. Quero ir embora.

Nick a olhou atentamente de cima a baixo, detendo-se por algum tempo na cintura e nos seios. Algo em sua expressão denunciava uma inusitada mudança.

— Pelo que você disse, seu pai precisa de algumas semanas, não é?

— Três semanas — Lauren respondeu com cautela, não acreditando no que ele poderia estar sugerindo. — Mas quero que você se comprometa por escrito antes de fazermos qualquer coisa.

— Sinto muito, mas acho que vai ter que se contentar com a minha palavra.

Tinha que confiar nele, ela pensou, desesperada. Não havia outra alternativa.

— Está bem. Vou acreditar em você. E, usando as suas próprias palavras, vamos logo ao que interessa.

— Você não ouve muito bem, não é? Já lhe disse que algumas horas na cama com você não me farão mudar de idéia. Parto para Roma na terça de manhã. Acho que há tempo suficiente para você arrumar suas malas, não?

— O quê? Acho que não entendi direito... — A expressão no rosto dela era de pura incredulidade.

— Eu viajo muito, a maioria das vezes sozinho. Gostaria de ter uma acompanhante desta vez. Com todas as despesas por minha conta, é claro.

— Você não acha que eu esteja levando essa proposta a sério, não é? Afinal, você mesmo disse que não tem falta de mulheres.

— Bem, existem mulheres e mulheres...

— Já entendi. Quer uma que faça tudo o que quiser e que não possa nunca dizer-lhe não, certo?

— Quem sabe?

— Ora, não seja impertinente. Além do mais, terei que assumir meu novo emprego no início do mês que vem.

— Isso não é problema. Ficaremos fora apenas durante a segunda quinzena deste mês. Você estará de volta no máximo até o dia vinte e oito.

— Você fala como se eu já tivesse concordado em ir.

— Bem, você já conhece as condições.

— Mas isso é chantagem!

— E há muita diferença entre chantagem e suborno?

— Mas...

— É pegar ou largar. E é melhor você se decidir rápido, antes que eu desista de tudo.

— Está bem. Aceito.

— Ótimo. — Ele olhou para o relógio de pulso. — Bem, agora tenho que sair. Vou telefonar para a portaria e pedir a George que chame um táxi para você.

— Não é necessário. Eu mesma posso chamar um táxi. — Por um momento, um pensamento deixou-a cheia de preocupação. — E o que devo falar ao meu pai?

— Ora, fale o que quiser. A verdade, se você acha que ele pode entender.

— Isso tudo não passa de um teste, não é? Você quer saber se ele é o tipo de homem que faz qualquer negócio para salvar a própria pele. Mas, se eu lhe contasse a verdade, com certeza papai faria qualquer coisa para impedir essa viagem.

— Então não conte. — Ele começava a ficar impaciente. — Foi você quem escolheu, portanto, invente qualquer desculpa. Quero que esteja aqui, pronta para viajar, na segunda à noite, senão voltaremos à estaca zero.

— Você é a pessoa mais abominável que eu já conheci.

— Bem, pelo menos sempre fui honesto e sempre honrei meus compromissos. No entanto, permanecer em silêncio a respeito do que seu pai fez pode manchar um pouco minha boa reputação...

— Tenho certeza de que sua consciência agüentará isso facilmente. — Lauren sentiu o estômago revirar, estava enojada com tudo aquilo. Nunca pensara que pudesse chegar a esse ponto. Uma sensação de repulsa a invadiu. Se pudesse, mataria aquele homem naquele instante, tanta era a sua raiva.

— Até segunda, srta. Devlin — ele despediu-se, jogando-lhe a chave. Ela agarrou-a no ar e imediatamente saiu do apartamento.

Já no táxi, de volta para o escritório do pai, Lauren perguntou-se se suportaria ficar duas ou três semanas na companhia daquele crápula. Bem, agora não adiantava mais ficar remoendo aquela questão. Afinal, não tinha outra escolha.

 



  

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