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CAPÍTULO VIII



CAPÍTULO VIII

 

Apesar de sua madrasta parecer um tanto contrariada à hora do almoço, não fez a menor referência à discussão que tivera com Robert, o que deixou Sophie muito surpreendida. Laura tratou a visita dele como algo casual, dizendo a seu marido e a Simon que ele simplesmente dera uma parada, pois seguia para Londres. Simon passara a manhã em Hereford e Sophie sentiu-se aliviada por ele não ter sido envolvido na discussão.

Laura mostrou-se muito mais coerente no que dizia respeito à intenção de Sophie de sair com John Meredith, e o dr. Kemble acrescentou sua desaprovação à da esposa e do enteado.

— Você não é totalmente culpada, Sophie — disse ele gravemente. — Meredith devia ter mais juízo e não sair por aí marcando encontros com moças de boa família.

Sophie pôs o prato de lado.

— Isto quer dizer que se eu não fosse de boa família não teria importância?

— Não fale com seu pai nesse tom! — Laura disse, aborrecida. Sophie ruborizou-se e seu pai suspirou.

— Pode deixar que eu me encarrego disto, Laura, obrigado — disse, olhando o vinho no copo. — Sophie, por que você quer sair com este homem? Meu Deus, não há por aqui rapazes de sua idade?

— Os rapazes de minha idade me aborrecem! — replicou Sophie revoltada.

O dr. Kemble sacudiu a cabeça.

— Não é de se estranhar. Você passou tempo demais na companhia de Robert e Simon.

— Não é verdade! — exclamou Sophie, indignada. — Estive no colégio interno durante cinco anos e lá conheci muitos rapazes. E, de qualquer maneira, gosto de John. Ele é... — olhou muito sem jeito para Simon — ele é muito boa companhia.

A sra. Forrest trouxe a sobremesa, distraindo a atenção geral e Simon retomou o assunto quando estavam no jardim.

— Você sabe de uma coisa? — disse ele em tom confidencial. — Rob não gostaria que você se envolvesse com John Meredith, e o mesmo acontece com todos nós.

— Você acha que eu me importo com o que Robert gosta?

— Acho que se importa, sim!

Sophie deu-lhe as costas e contemplou o jardim, pensativa.

— Acho que vou aceitar a oferta da sra. Tarrant — disse com amargura, — Pelo menos ficarei longe de todos.

— Pare de dizer bobagem! Você sabe muito bem que na raiz de tudo está Rob. Você acha que escapar vai resolver o que quer que seja?

Os lábios de Sophie tremeram. — Então o que é que você sugere? Que eu viva aqui como uma reclusa?

— Claro que não. Você deve pensar em seu futuro, o futuro de verdade, não esses meses que estão para vir.

— Um emprego com a sra. Tarrant poderia durar mais do que alguns meses.

— O que você quer dizer com isso? Que você deixaria seus estudos para tornar-se uma tradutora? A assistente de alguém, quando você tem a capacidade de conseguir um diploma?

— Seria um trabalho muito interessante, Simon, e eu gostaria bastante.

— Gostaria bastante! Mas que desperdício!

— E você? — replicou ela. — Você não é ambicioso e se contenta em lecionar em Conwynneth.

— Não tem nada a ver.

— Como, não tem nada a ver?

— Não sou como você e Rob. Não tenho nenhuma inteligência brilhante e conheço minhas limitações.

— Talvez eu conheça as minhas.

— Eu sei que você pode entrar na universidade.

— Em termos práticos, sim. Mas e se eu não quiser?

— Você sabe o que quer?

— Sabia... — Sophie baixou a voz. Simon olhou-a fixamente.

— Rob, imagino. Bem, Rob vai se casar com Emma e quanto mais cedo você aceitar o fato, melhor.

Sophie deu de ombros.

— Você acha que esqueci?

— Você devia saber que isto não lhe servia. Nossos pais foram contra, desde o princípio.

— Lembre-se de que eu não sabia disto até recentemente. — De repente, teve vontade de magoá-lo como ele a havia magoado. — Se é assim, por que me diz que me quer? O mesmo critério deverá ser aplicado.

— Não tenho pressa e posso esperar. Esperarei até que você se forme e dê um rumo a sua vida. Muita coisa pode acontecer em cinco ou seis anos, e uma mulher com vinte e poucos anos é muito diferente de uma adolescente.

Sophie deu-lhe as costas. Seus planos calculistas não lhe agradavam. Será que sua mãe sabia como ele se sentia? Concordaria com o fato, quando a ocasião se apresentasse?

— Eu poderia conhecer alguém na universidade — disse sem encará-lo. — Universidade ou Grécia, não vejo diferença.

— Cursando a universidade você estaria na Inglaterra, em outras palavras, seria acessível. E se encontrasse outra pessoa... eu encararia a situação quando ela se apresentasse.

— Oh, Simon, não fale assim. — Tapou os ouvidos. — Você não pode decidir a vida das pessoas por elas.

Simon levantou-se.

— Prometi ao vigário que levaria os slides para mostrá-los esta tarde. Quer ir?

Sophie sacudiu a cabeça e Simon, contrariado, saiu. Será que nunca deixaria de se sentir chocada com a duplicidade de sua família? Robert, Laura, Simon — todos eles tentavam manipular as pessoas para alcançar seus próprios fins.

Na noite seguinte John levou Sophie para jantar num hotel nos arredores de Hereford. Era um lugar novo e popular, e várias pessoas os reconheceram e falaram com eles, enquanto se acomodavam. Sabendo que era alvo de olhares, Sophie sentiu-se nervosa, mas John logo a pôs à vontade, fazendo piadas. Seus olhos diziam que ela era atraente e seu bom humor mostrava que ele estava se divertindo muito.

Sophie tomara o maior cuidado com a aparência, em claro desafio à desaprovação da família. Seu vestido era simples, de jérsei branco, mas moldava as curvas de seu corpo esbelto e valorizava o dourado de sua pele queimada de sol. Isso lhe dava a segurança de que agora ela era uma mulher e não mais uma garota, como algumas vezes a tratavam.

Após o jantar sentaram-se no bar, e falaram principalmente a respeito de coisas inconseqüentes: filmes, televisão, livros que tinham lido, lugares conhecidos. Era tudo muito fácil e relaxante e Sophie divertia-se de verdade.

Voltaram para Conwynneth logo depois das dez e, por consentimento mútuo, estacionaram o carro no fim da alameda para que John a acompanhasse alguns metros a pé. A casa estava escura e deserta e ela lembrou-se de que seus pais e Simon tinham planejado ir à casa dos Page naquele noite. Era ainda bastante cedo e obviamente ainda não haviam chegado.

Ao chegarem à entrada da casa, Sophie voltou-se para John, cheia de gratidão.

— Foi uma noite ótima — disse calorosamente, tocando em seu braço. — Obrigada por tanta gentileza.

Mesmo na escuridão Sophie notou a expressão de ironia estampada em seu rosto.

— Este é um substantivo que espanta o mais ardente dos pretendentes! — caçoou. — Gentileza! Não posso me esquecer desta palavra.

Sophie riu.

— Você sabe o que estou querendo dizer. Você é gentil. Apenas quero... — interrompeu-se, abriu a bolsa à procura da chave. Tirou-a com ar de triunfo e voltou a encará-lo. — Bem, boa noite, John.

John franziu o cenho.

— Não há ninguém em casa?

— Acho que não. Meus pais foram passar a noite com os Page. Voltarão logo.

— Quer que eu entre com você? Sophie hesitou.

— Eu... Não, acho que não, obrigada. Eles não haveriam de... gostar.

John concordou.

 — Está bem, então vamos nos dizer boa-noite. Até logo. Sophie. — Antes que ela pudesse detê-lo, ele inclinou a cabeça e deu-lhe um beijo na boca.

Ela arfou assim que ele a soltou pois, quase no mesmo momento, uma luz se acendeu no hall da casa, iluminando a varanda. Ela esboçou um gesto de impotência.

— Pelo visto eu me enganei. Eles estão em casa. John parecia não estar convencido.

— Tem certeza? Não quer que eu vã verificar?

— Por quê? Você não está pensando que... oh, não! — O rosto de Sophie revelava espanto. — Nenhum ladrão acende as luzes. — Em seguida dominou-se. — Bem, só há um modo de descobrir. — Girou a maçaneta e abriu a porta. — Veja só, não está fechada. — Entrou no hall. — Papai, mamãe! Cheguei!

A porta do estúdio de seu pai estava aberta e ela caminhou hesitante até lá, ridicularizando-se pela apreensão que estava sentindo.

— Papai... Você está aí?

Deu uma passo atrás quando Robert saiu do estúdio.

— Alô, Sophie — disse secamente. Seu olhar pousou em John, que ainda estava na entrada da casa, disposto a vir em auxílio de Sophie, caso fosse necessário. — Alô, John. Achei que deveria mesmo ser você.

John parecia muito surpreso.

— Pelo que o vigário me disse você partiu ontem pela manhã, Rob. O que é isso? Uma série de visitas relâmpago, ou Emma está com você?

A menção ao nome de Emma foi proposital e Sophie ficou tensa. Robert, no entanto, limitou-se a sacudir a cabeça.

— Estou só, John. — Seus olhos detiveram-se em Sophie, aparentemente sem a menor satisfação. — Onde estão nossos pais?

— Foram à casa dos Page. Simon também, acho.

— Entendo. — Robert voltou a olhar para John. — Você vai entrar ou já está de saída?

John franziu o cenho.

— Tenho escolha?

Robert fez um gesto negativo.

— Isto é com Sophie — e entrou no estúdio, fechando a porta com decisão.

John sacudiu a cabeça, incapaz de compreender o comportamento intempestivo de seu amigo.

— E então, Sophie?

— Acho melhor você ir embora — disse Sophie com firmeza.

— Obrigada mais uma vez pelo jantar. Gostei muito.

— Eu também gostei. — Hesitou, dando a impressão de que queria dizer mais uma coisa, mas logo em seguida deu as costas. — Certo, Sophie. A gente se vê.

Sophie fechou a porta, sentindo um certo alívio. Tinha o pressentimento de que se tivesse convidado John para ficar, Robert voltaria a aparecer e a partir daí não sabia o que poderia acontecer.

Suspirando, colocou a bolsa sobre uma mesinha do hall, tirou os sapatos e foi para a cozinha, apanhar um refrigerante na geladeira. Estava se servindo quando sentiu que alguém a observava.

Robert estava parado na porta, também estava descalço, o que demonstrava que já estava em casa havia algum tempo.

— Ele foi embora — afirmou.

— Sim. — Sophie acabou de se servir e mostrou o copo. — Quer um pouco?

Robert sacudiu a cabeça.

— Onde é que você foi?

Sophie forçou-se a tomar um gole antes de responder. Não se deixaria intimidar por ele.

— Jantamos em um hotel nos arredores de Hereford. O Cisne. Você nunca esteve lá?

— Imagino que ele a convidou, enquanto estava aqui ontem.

— Robert falava com calma, mas por trás de suas palavras havia um tom de ameaça que não passou despercebido a Sophie.

— Eu... sim, para falar a verdade foi ontem, sim. — Fez uma pausa. — Na realidade, ele me convidou há algumas semanas, mas fiquei doente e... não pude aceitar.

— É? E quando é que foi? Sophie tomou mais um gole.

— Nós... isto é, Simon e eu fomos a uma festa na Prefeitura. John e... sua noiva estavam lá. Aconteceu... quando Emma estava aqui. Convidaram-na para ir com eles. Ela... ela não lhe contou?

Robert parecia pouco inclinado a responder à pergunta.

— E você gosta dele? Sophie sentiu que corava.

— Mas que pergunta! — respondeu ela com desenvoltura.

— Claro que gosto dele.

Sem que ela pudesse prever, Robert cobriu o espaço que os separava com passadas rápidas e fez com que ela o encarasse, segurando-a com toda força.

— Até que ponto você gosta dele? — perguntou brutalmente.

— Diga-me! Quero saber!

Sophie prendeu a respiração, segurando o copo com as duas mãos.

— Eu... apenas... gosto dele — respondeu, insegura.

— Do jeito como gosta de Simon? — Ele fez uma pausa. — Ou de min?

Sophie lutou para desvencilhar-se.

— Acho que isso não lhe diz respeito.

— É mesmo? — Ele tirou o copo de suas mãos e colocou-o de lado com impaciência. Então puxou-a para perto dele, tão perto que ela conseguiu sentir a rigidez e o calor de sua masculinidade.

— Sophie, não estou perguntando por mera curiosidade — disse ele com voz rouca. — Mas... — Ele hesitou, contemplando seu decote e a linha de seus seios. — Tenho de saber, Sophie. Tenho de saber se na companhia de John... ou de Simon, você esquece tudo o que dissemos às margens daquele regato, há duas semanas!

Sophie encarou-o e seus olhares se cruzaram. Ela tentou em vão subtrair-se a seus braços.

— Mas... como é que você pode me perguntar uma coisa dessa? Como é possível isso?

Robert a olhou, como se quisesse penetrar em seus segredos mais íntimos e disse:

— Isso é tudo o que eu queria saber.

Ele afrouxou os braços e ela aproveitou para desvencilhar-se dele, encostando-se na parede.

— Por favor — suplicou. — Vá-se embora e deixe-me só. Não sei o que você deseja de mim, mas não posso dá-lo.

Robert caminhou em direção a ela, ignorando seu apelo e o tremor que traía suas emoções. Colocou-a de encontro à parede, bloqueando qualquer tentativa de fuga. Seu rosto moreno estava sombrio e ela percebia sua sensualidade, mas os pensamentos dele se ocultavam por detrás da espessura de suas pestanas.

Tendo-a encurralada, Robert parecia não ter a menor pressa em ir mais adiante. Ao contrário, parecia sentir uma certa satisfação só de olhar o jogo de emoções no rosto expressivo de Sophie, bem como seus seios, que arfavam. Sophie apoiava as mãos na parede e a tensão aumentava, dando-lhe a sensação de que havia um nó em seu estômago.

— Oh, por favor, Robert, deixe-me!

Em resposta, ele encostou o corpo ao dela e suas coxas procuraram uma intimidade que ela não tinha força — ou vontade — de lhe negar. Robert inclinou a cabeça, à procura de sua boca. Seus lábios apertaram os de Sophie, amoldaram-se a seu rosto, percorreram a curva de seu nariz e as concavidades escondidas de suas orelhas. Tomou suas mãos, levando-as a seu corpo, indicando que ela deveria fazer com ele o que bem entendesse. Com um pequeno soluço ela correspondeu, reagindo com um abandono que a deixaria chocada ao pensar em tudo aquilo mais tarde, e não mais se importando com o fato de que seus pais poderiam chegar a qualquer momento e encontrá-los naquela situação.

Com efeito, foi o barulho do carro do pai de Sophie chegando que a trouxe de volta à realidade. Enfraquecido pelas solicitações de seu próprio corpo, Robert não tinha condições de detê-la quando ela se desprendeu dele e saiu correndo para a sala de estar antes que a porta da entrada se abrisse. Teve o bom senso de fechar a porta da cozinha assim que saiu, dando a Robert um pouco de tempo para se recompor. Quando sua madrasta entrou na sala de estar, encontrou Sophie sentada em uma poltrona, aparentemente absorta na leitura de uma revista.

— Vimos as luzes acesas — observou Laura, entrando e tirando o xale. — Imaginamos que você já devia estar em casa.

Sophie limpou a garganta.

— Bem... para falar a verdade, Robert estava em casa... antes de mim.

Laura franziu o cenho.

— Robert? Está aqui? — E diante do aceno de cabeça de Sophie, indagou: — Mas onde?

O dr. Kemble e Simon entraram na sala, naquele momento, e Sophie fez uma pequena pausa e lhes falou em um tom que esperava ser bastante casual:

— Eu... acho que está na cozinha. Não tenho certeza. Laura olhou para seu marido.

— Robert chegou — disse, indo ao encontro de seu filho mais velho.

— Robert? — o dr. Kemble voltou-se para Sophie. — Robert está aqui?

— Sim!

Sophie parecia irritada, mas não conseguiu evitá-lo. Emoções descontroladas ameaçavam apoderar-se dela e ela procurou refúgio no mau humor. Agora que estava se recuperando daquele encontro excitante na cozinha, um sentimento de vergonha e autodesprezo a invadia. Como era possível ter-se comportado lubricamente?, perguntou a si mesma com amargura. Como podia ter permitido que ele a tocasse de modo tão íntimo? Simon é quem tinha razão. Robert era um porco, fazendo-lhe a corte enquanto sua noiva estava sozinha em Londres. Seria ele naturalmente promíscuo? Ou o que acontecera entre eles era forte demais para que ele pudesse resistir? Aquele laço nunca tinha deixado de estar lá e isso ela tinha de reconhecer. Ela, porém, era uma tola em lhe conceder privilégios que ele, obviamente, não encarava de maneira séria. Caso seus pais não tivessem chegado, ela teria experimentado a tentação de ser possuída por ele? Então, o que teria acontecido...?

— Há quanto tempo você chegou, Sophie? — perguntou Simon, e ela percebeu que ele estava imaginando quanto tempo ela e Robert tinham ficado a sós.

Ela deu de ombros.

— Não sei exatamente. Vinte minutos, meia hora, talvez. Por quê?

— Só por perguntar. — Simon deu as costas, enfiando as mãos nos bolsos do paletó. — Alguém quer café?

O dr. Kemble, confortavelmente instalado, pegou o cachimbo e levantou os olhos.

— Café? Aceito. E você, Sophie?

— Para mim não, obrigada. — Levantou-se. — Não se importa que eu vá me deitar, papai? Estou um pouco cansada.

— Absolutamente, meu bem. — O riso do dr. Kemble continha uma certa ansiedade.

Sophie debruçou-se e beijou-lhe o rosto.

— Então, até amanhã. Boa noite, Simon.

Ouviu o som da voz de Robert e de sua madrasta ao se aproximar da cozinha, mas tinha de lhes desejar boa-noite como se nada de anormal houvesse ocorrido. Abrindo a porta, disse:

— Já estou indo deitar, mamãe. Boa noite.

Robert estava ao lado da geladeira bebendo cerveja, mas interrompeu-se e limpou a boca no momento em que viu Sophie. Percebeu um certo langor em seus olhos e uma expressão de sensualidade em sua boca. Só de olhá-lo sentia ondas de emoção correndo por suas veias, umedecendo a palma das mãos e enfraquecendo-lhe os joelhos. Queria voltar para seus braços, ficar neles e, ao pensar nisso, um rubor intenso subiu-lhe ao rosto.

Felizmente Laura estava enchendo a chaleira de água, preocupada com o que estivera dizendo a Robert para prestar atenção em Sophie. Mal olhou para ela, dizendo brevemente:

— Está certo, Sophie. Boa noite! — Nem mesmo lhe estendeu o rosto para ser beijado, como fazia habitualmente. Sophie caminhou para seu quarto, sentindo-se mal diante da reação de Laura.

Enquanto se despia, pensava no que tinha sucedido. Na escola, na reclusão do dormitório, tinha-se abandonado a fantasias com Robert, mas nunca em sua imaginação tinha experimentado aquelas sensações incríveis que ele despertara aquela noite. Não era justo que ele a excitasse tanto e depois esperasse que ela agisse como se nada tivesse acontecido. Nem a vergonha, nem a auto-recriminação poderia livrá-la da lembrança de seus lábios ardentes e ousados, do êxtase total que uma entrega completa lhe proporcionaria.

Uma coisa se tornava cada vez mais aparente: teria de ir embora de casa, afastar-se da presença de Robert, eliminar a possibilidade de que um dia cedesse a ele, perdendo o auto-respeito e as oportunidades de ser feliz com outra pessoa.

Fechou os olhos com força, sentindo as lágrimas quentes que lhe desciam pelo rosto. Devia fazer o possível para controlar-se, pensou com altivez. Chorar não resolveria nada. Deveria ter sempre em mente que tipo de homem Robert era na verdade.

Saiu do banheiro com a cabeça baixa, envolta nas dobras do roupão. O instinto, porém, a fez levantar a cabeça e ela surpreendeu-se ao ver Robert indolentemente apoiado no batente da porta.

— Quero conversar com você. Sophie. Sophie olhou automaticamente o corredor.

— Sua mãe sabe que você está aqui?

Robert comprimiu os lábios.

— Entre aqui no quarto. Não pretendo iniciar uma discussão no corredor.

— Acho que você não devia estar aqui. É tarde e estou cansada...

— Maldição, venha cá! — disse, perdendo a paciência. Agarrou-lhe o braço e arrastou-a para o quarto.

— O que você quer? Robert ofegava.

— Isso depende de você.

— O que você quer dizer?

— Rompi meu noivado com Emma ontem à noite.

— O quê? — Sophie não podia acreditar no que estava ouvindo. — Você me ouviu — suspirou. — E você sabe por quê. Os dedos de Sophie tremiam, agarrando as dobras do roupão.

— Não tenho tanta certeza assim.

Robert a olhava, fixamente. A respiração de Sophie alterou-se ao notar a paixão contida em seu olhar.

— Eu a amo, Sophie. Sempre a amei, e acho que sempre a amarei.

Sophie pegou o cinto do roupão e amarrou-o em volta da cintura.

— Tudo isto... é um tanto... súbito, não é mesmo? — perguntou, tentando inutilmente assumir um tom ligeiro.

— Oh, pare com isso, Sophie! — Os nervos de Robert estavam tão tensos quanto os dela. Cerrara os punhos e sob a tez queimada de sol notava-se a palidez que se apoderara dele. — Muito bem. Você merece uma explicação e é o que vou fazer. — Fez uma pausa significativa. — Seu pai e minha mãe são contra nosso relacionamento. Aliás, sempre foram. Acham que sou velho demais para você e é verdade. Não — disse ao notar que ela ia protestar —, deixe-me terminar. Eu também pensei assim.

— Robert...

— Por favor, Sophie, tenho de continuar. Havia outros fatores, da maior relevância, e que não podiam ser ignorados. Conhecíamos um ao outro bem demais, tínhamos estado muito próximos um do outro e você não tivera a oportunidade de conhecer outros rapazes, manter outros relacionamentos. Eles, nossos pais, insistiram em que eu não deveria envolver-me com você. E eu aceitei. Dois anos atrás, como lhe disse no dia em que você chegou da escola, eu me desprezei por tê-la tocado. Você era tão jovem e tinha toda uma vida a sua frente. Ainda tem... — Comprimiu os lábios. — Bem, contei para eles o que tinha acontecido. Precisava tranqüilizar minha consciência e em parte consegui. Enquanto você estava longe daqui, pude convencer a mim mesmo que eles estavam certos. Disse a mim mesmo que com o tempo acabaria superando o que sentia por você. Eu tinha de me convencer disso ou então enlouqueceria!

— Oh, Robert! — Fez menção de ir até ele mas, com um gesto, ele indicou que ela ficasse onde estava.

— Meu trabalho era, aliás, é interessante. Você estava na escola. Durante suas férias eu estava sempre fora, trabalhando, e Emma estava a minha disposição. Reconheço que usei Emma, mas só porque ela queria ser usada-

Sophie umedeceu os lábios.

— Você... alguma vez conversou com Emma a meu respeito?

— Algumas vezes. Certa ocasião, em um momento de sentimentalismo, confessei-lhe que a tinha beijado. Depois levei a coisa na brincadeira, mas acho que ela adivinhou o resto.

— E... agora?

Robert sacudiu a cabeça.

— Não posso mais levar este meu noivado adiante. Não sinto o menor orgulho de meu procedimento. Quando consegui trabalho em Gales entrei em pânico. Um pânico real, sabia disto? Sabia que você deveria vir de férias, que você ficaria aqui por um tempo considerável e eu não confiava em mim! — Sua expressão espelhava o desprezo que ele sentia por si mesmo. — Tomei uma bebedeira, uma bebedeira daquelas, e acabei pedindo Emma em casamento. Não me lembro muito das circunstâncias, mas acho que eu estava desesperado demais para fazer o que quer que fosse. Isso é tudo, exceto que eu estava decidido a falar sobre meu noivado quando vim a seu encontro. E o teria feito se não fosse aquela tempestade.

Sophie já não podia mais conter suas emoções.

— E como foi que você se sentiu depois?

— Como é que você acha que me senti? Tentei me afastar de você.

— Você foi para Londres e esteve com Emma.

— Sim, fiz isso algumas vezes. Ela, é claro, estava trabalhando. Também saí para velejar com John. Fiz um trabalho extra para a companhia, pratiquei um pouco de alpinismo. Tentei me cansar o mais que podia, de tal forma que quando fosse para a cama dormia um sono só. Mas nada disso adiantou.

— E daí?

— Você estava sempre com Simon e eu fiquei morto de ciúme. Então você foi nadar na casa dos Meredith... Meu Deus, naquele dia eu teria sido capaz de matar John! Daí fuide encontro à vontade de nossos pais e levei-a a dar um passeio. Naquele dia em Gloucester eu sabia que não tinha condições de prosseguir, fingindo que não me importava com o que estava acontecendo. E então quando voltamos para casa... — Ele estremeceu. — Não sabia que Emma tinha chegado, juro que não. Minha mãe a convidou sem que eu soubesse. — Inclinou a cabeça. — Quando eu fui até seu quarto... Não sei se você sabe, mas houve uma discussão tremenda naquela noite.

— Não sabia.

— Não. Você deve ter ouvido apenas algumas palavras.

— Você partiu na manhã seguinte.

— É isso mesmo. Sophie estava inquieta.

— Sua mãe disse que você tinha ido para Londres, mas que Emma ficaria conosco.

— Sim... Passei o fim de semana em meu apartamento, refletindo. Os mesmos argumentos, aceitos antes, não me pareciam mais importantes. Só que seu pai possui uma habilidade inata em fazer com que o absurdo pareça razoável. Eu estava preparado para me esforçar e enxergar as coisas à maneira dele. Então você ficou doente e ninguém me informou. Telefonei para minha mãe, a sra. Forrest atendeu e me contou, pois gosta de uma boa novidade. Consegui extrair a verdade de minha mãe e tivemos uma discussão sobre o assunto. Ainda assim eu me mantive afastado. Mas quando vim até aqui para visitá-la, o que vi? Você, tomando café com John, divertindo-se em sua companhia, em vez de estar comigo!

— Ele disse que você sentiu ciúme.

— E era verdade. Fiquei furioso. — Sacudiu a cabeça, ao lembrar de tudo. — Então tive certeza de que essa farsa não poderia prosseguir e disse a minha mãe que ia romper com Emma.

— Acho que ouvi vocês dois discutindo.

— Para ela foi um golpe compreender que eu já não estava mais disposto a colocar os seus desejos acima dos meus. Parti para Londres e falei com Emma ontem à noite.

Sophie tentou absorver o que ele estava lhe dizendo. Seria possível que depois do sofrimento das últimas semanas tudo ia acontecer como ela tinha sonhado? Parecia que sim, mas ela não esperava que Emma desistisse facilmente. Gostaria de ter perguntado o que Emma tinha dito, mas não teve coragem. Aquele assunto dizia respeito a Robert e à ex-noiva, a mais ninguém. Agora ele a encarava fixamente, esperando alguma reação. Sophie ergueu as mãos, pressionando uma contra a outra, num gesto de súplica.

— E agora? — disse ela, trêmula.

— Agora...Como já disse, cabe a você decidir. Neste momento minha mãe deve estar dando a notícia a seu pai. O que acontecerá em seguida depende unicamente de você.

Sophie, hesitando, deu um passo em direção a ele.

— Sua mãe lhe contou que me ofereceram um emprego? Robert deu um suspiro, resignado.

— Sim, ela me disse. Deu a entender que, assim que você melhorasse, aceitaria.

— É mesmo? — Sophie sentiu um nó na boca do estômago. Claro que já tinha lhe passado pela cabeça que Laura aprovaria sua decisão. Isto certamente resolveria todos os problemas.

— E você? — A voz de Robert agora estava mais calma. — A perspectiva de trabalhar na Grécia lhe agrada?

Os lábios de Sophie tremeram. Teria rido, se o assunto não fosse tão sério. Será que trabalhar na Grécia lhe agradaria? Mas em comparação a quê? Em comparação ao fato de ficar lá e ver Robert casar-se com Emma, sim. Em comparação ao fato de ela mesma casar com Robert, claro que não! Mas ele ainda não a pedira em casamento, não é mesmo?

Em tom ligeiro, de maneira que ele não suspeitasse de seu extremo nervosismo, ela disse:

— Você tem algo a oferecer? Robert tornou-se imediatamente tenso.

— Não brinque comigo, Sophie! Ela arregalou os olhos.

— Não estou brincando com você. Eu... apenas não sei o que você deseja de mim.

— Não sabe? — Robert a fez sentar-se na cama e acomodou-se a seu lado. — O que você acha que estou lhe dizendo desde que entrei aqui? — perguntou brutalmente, tomando-a pelas cabelos e sacudindo-lhe a cabeça com crueldade. Seus lábios pousaram-se sobre a curva suave de seu pescoço, seus dentes mordiscaram o lóbulo da orelha e uma de suas pernas aprisionou as pernas de Sophie. — Você sabe muito bem o que eu quero, Sophie — murmurou ele a seus ouvidos. — Quero você! — Seus lábios esmagaram os dela, que se abriram como uma flor.

Sua febre passou para ela, de tal forma que Sophie não fez o menor gesto para detê-lo quando ele enfiou a mão por dentro do roupão, à procura de sua carne tão desejada. Mas, consciente de suas responsabilidades, ele protestou subitamente, desvencilhando-se dos braços de Sophie e afastando-se dela.

— Não, Sophie! — murmurou ele. — Aqui não. Desse jeito não. Primeiro temos de conversar.

Suas palavras a acalmaram e ela estava se recompondo quando bateram à porta. Sem esperar resposta, seu pai e sua madrasta entraram no quarto, surpreendendo Sophie ainda deitada na cama e Robert ao lado da janela, com a camisa desabotoada. Com um movimento ágil saltou da cama, dizendo:

— Tranqüilizem-se. Robert não me seduziu, O dr. Kemble foi o primeiro a falar.

— Robert! Sua mãe me contou que você terminou seu noivado com Emma. Só quero saber de uma coisa: o que é que você pretende fazer?

Robert deu de ombros.

— Minha mãe não lhe contou?

O dr. Kemble suspirou impacientemente.

— Ela disse que você vai pedir a Sophie que o despose, É verdade?

Sophie juntou as mãos e seus olhos pousaram sobre Robert, repletos de alegria. Ele deu um leve sorriso que os envolvia em uma relação íntima, da qual mais ninguém podia compartilhar. Em seguida voltou-se para o pai de Sophie.

— É verdade — concordou.

— E você já o fez?

— Ainda não...

— Então prefiro que não o faça.

— Papai!

O dr. Kemble ignorou o protesto de Sophie, continuando a olhar para seu enteado.

— Você não pode pedir a Sophie que o despose, Robert. Todos os seus deveres são para com Emma, neste momento. Não disse nada antes porque ela me pediu que não o fizesse, mas Emma me contou, enquanto estava aqui, que tinha grandes suspeitas de que estava grávida!


 



  

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