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CAPÍTULO VCAPÍTULO V
Sophie sentiu-se terrivelmente mal do estômago e sua indisposição serviu como desculpa mais do que plausível para não se juntar a seus pais e aos convidados. Depois do anúncio surpreendente de Simon, Robert levou quase um minuto para entender o que ele estava dizendo. Em seguida, deu-lhe as costas, contrariado, e afastou-se em direção a casa, deixando Sophie trêmula ao lado do carro. Ela ficara muito chocada, não conseguia mais se controlar, e Simon, penalizado, passou-lhe um braço sobre o ombro e quase a carregou para o quarto. Sophie ficou no banheiro, vomitando durante quase cinco minutos, e quando voltou, Simon estava apoiado contra a parede, com uma toalha nas mãos para ela limpar o rosto coberto de suor. Sentia-se fraca e trêmula, mas livre daquela apreensão doentia que se apoderara dela. Caminhou vacilante, e Simon, que a olhava ansiosamente, disse: — Você agora está bem? Sophie assentiu: — Claro. Deve... deve ter sido alguma coisa que eu comi. — Pare de mentir, Sophie. Só faltava isso! — ele exclamou, revoltado. — Sei muito bem o que se passa com você! Você não sabia que Robert é noivo, não é? Ele não lhe contou. Foi exatamente por esta razão que seu pai enviou-o ao seu encontro na estação, quando você voltou para casa, para que ele contasse. Mas ele, muito convenientemente, esqueceu! Os lábios de Sophie ressecaram. — Simon, por favor... Simon, muito tenso, cerrava e descerrava os punhos. — Eu seria capaz de matá-lo. Realmente seria! — Estou cansada, Simon... — Meu irmão! Eu sempre o admirei, sempre o tomei como exemplo! Mas ele não passa de um animal, um garanhão... — Simon! A voz de sua mãe o fez voltar à realidade, e ele corou no momento em que Laura entrou no quarto. Ela notou rapidamente a aparência desolada de Sophie. — Vá lá para baixo, Simon — ordenou friamente. — Vicky está à sua espera para despedir-se de você. Simon parecia disposto a replicar, mas mudou de idéia. Sem dizer uma palavra, deixou-as, batendo a porta com força. Em seguida Laura aproximou-se de sua enteada, ajudando-a a tirar as roupas. Assim que enfiou a camisola de algodão, Sophie puxou as cobertas da cama e aninhou-se entre os lençóis. Então pôs-se a fitar sua madrasta com ar profundamente infeliz, à espera de palavras de condenação. Laura, porém, limitou-se a sacudir a cabeça com ar de resignação e disse: — E agora, como se sente, Sophie? — Estou bem. — A voz de Sophie soava abafada. — Está mesmo? — Laura não tirava os olhos dela. — Meu bem, não queríamos que você ficasse magoada. Sophie fechou os olhos. Abertos, eles poderiam revelar muitas coisas. — Magoada? Não sei a que se refere. — Sabe sim, Sophie. Ouvi o que Simon disse. Robert não lhe contou nada, não é? Eu devia ter percebido. Você estava por demais feliz na companhia dele para saber de alguma coisa. — Balançou a cabeça. — Eu devia ter dado ouvidos a seu pai. Devia tê-la detido. Mas acreditávamos que você soubesse... — Ela interrompeu-se, — Bem, é melhor que você saiba tudo de uma vez. Emma vai passar alguns dias conosco. Robert voltará para seu emprego na próxima semana, mas ela ficará. Estão planejando se casar no fim do ano. Sophie achou que não ia resistir a tanta dor. O sentimento era tão intenso que deixou escapar um soluço. Sem se importar com Laura, deitou-se de bruços e enterrou ó rosto no travesseiro, soluçando descontrolada mente. — Oh, Sophie! — Laura sentou-se a seu lado na cama, abraçando-a. — Não leve a coisa por esse lado. Isso tinha de acontecer um dia. Você devia saber! Um dia ele acabaria encontrando a mulher certa, aquela a quem ele poderia amar... — Ele não a ama — disse Sophie, em meio aos soluços. — É a mim que ele ama... — Eu sei que ele a ama, querida. Você é a irmãzinha dele. Meus dois filhos a amam... — Não... não! — Sophie sacudia a cabeça. — Não desse jeito! Ele me ama... ele me ama de verdade! — Pare com isso, Sophie! — Laura estava ficando impaciente. — Você não deve se descontrolar tanto. Não é bom para você, e imagine como Emma se sentiria se pudesse ouvi-la... — Não me importo com Emma! — Isso não é lá muito gentil, não é mesmo? Sophie, Sophie... Emma vai ser sua cunhada. Você devia ficar feliz por ela, por eles dois. Acho que serão muito felizes na companhia um do outro. E pense como será bom ter uma irmã... A resposta de Sophie foi cobrir a cabeça com um travesseiro. Laura levantou-se, contrariada. — Acho que você está se comportando muito mal, Sophie — disse em tom de reprovação. — Tentei ser paciente, tentei compreendê-la, mas não posso aceitar um comportamento tão egoísta. Vou deixá-la para que você se controle. Falaremos mais tarde a respeito. — Fez uma pausa. — Não diga nada a Emma sobre isto, ela não deve ficar preocupada. Ficarei muito zangada se você causar problemas entre ela e Robert. Sophie não respondeu, e sua madrasta caminhou para a porta do quarto. Abriu-a e então murmurou: — Robert! O que você está fazendo aqui? Sophie parou de soluçar e prestou atenção. — Vim chamá-la, mamãe. Os Page já estão indo. — Olhou para dentro do quarto. — Onde está Sophie? Laura tentou interpor-se, mas Sophie ergueu a cabeça e fitou-o com o rosto banhado de lágrimas. — Meu Deus! Sophie! — ele murmurou. Teria empurrado sua mãe e entrado no quarto se ela não tivesse levantado a mão, dando-lhe um tapa no rosto. Era a primeira vez que ela punha a mão nele desde os seus tempos de escola. — Não ouse aproximar-se dela! — ordenou Laura, irada. — Não acha suficiente o que já fez? Robert olhou sua mãe sem poder acreditar no que via, tocando as marcas deixadas pelos dedos. Em seguida sua expressão endureceu. — O que há com Sophie? — ele perguntou. Laura estava fazendo o possível para se controlar e Sophie sentia o esforço que isso lhe custava. — Está com dor de cabeça — replicou sem se alterar. — Quero falar com ela — disse Robert, também tentando se dominar. — Você não pode... — Laura cerrou os punhos. — Robert... por favor... Sophie não suportou o apelo angustiado de sua mãe. Cobriu o rosto com o lençol, pondo o travesseiro sobre a cabeça. — Sophie! — Ouviu a voz de Robert, mas não saiu de onde estava. — Sophie, fale comigo! — Vá embora! — ela murmurou. — Vá embora. Não quero falar com ninguém! Em seguida ouviu a porta fechando e levantou a cabeça, temendo que sua madrasta ainda estivesse no quarto. Mas estava sozinha. Exausta, Sophie só acordou de manhãzinha, quando os primeiros raios do sol penetravam pela cortina do quarto. Tinha uma dor de cabeça insuportável e um gosto horrível na boca. Foi cambaleando até o banheiro, tomou duas aspirinas e, durante alguns minutos, conseguiu controlar seus pensamentos. Mas os acontecimentos da noite anterior voltaram e, desconsolada, sentou-se na beirada da cama, enterrando o rosto nas mãos. Não era de admirar que Robert mostrasse tamanha relutância em dizer que a amava. Agora ela duvidava de que ele a amasse mesmo. Talvez tivesse dito aquilo em resposta à declaração dela, talvez estivesse se sentindo culpado... Ergueu a cabeça e olhou seu reflexo no espelho da penteadeira. Estava com um aspecto horrível. Tinha olheiras e estava muito pálida. "Meu Deus", pensou consternada; o que Robert pensaria quando a visse naquele estado? Temia o dia que teria pela frente. Temia a idéia de encontrar Emma. Imaginá-la ao lado de Robert deixava seu coração dilacerado. Será que ele amaria Emma, ou teria alguma outra razão para casar com ela? Ela não era rica, nem tinha um pai influente, a exemplo de algumas outras garotas com quem ele saíra. Era atraente, mas Robert conhecia dezenas de garotas como ela. Sophie sacudiu a cabeça. O que Robert esperava que ela fizesse? Que razões o teriam trazido ao seu quarto na noite anterior? Será que ele estava pensando em desmanchar o noivado? Tantos pensamentos, tantas perguntas sem resposta... Ela acabaria por ficar doente se continuasse a atormentar-se daquele jeito. Sua dor de cabeça aumentara e as aspirinas pareciam fazer muito pouco efeito. Levantou-se, foi novamente para o banheiro e tomou um banho de chuveiro frio. O jato de água doía em sua pele quente e todo o seu corpo formigava. Quando terminou, sentiu-se um pouco melhor. Vestiu rapidamente a blusa e o blue-jeans, tomada de uma súbita energia. Escovou os cabelos e beliscou as bochechas, para dar um pouco de colorido e ficou quase satisfeita com o resultado. Já não parecia mais meio morta. Passava das sete horas quando desceu. Ninguém se levantara e ela pôs a chaleira no fogo, recolheu os jornais na porta da entrada e levou-os para a sala de estar. O aposento rescendia a bebida e fumaça de cigarro e ela abriu as janelas de par em par. O ar estava muito fresco e ela o aspirou repetidas vezes. Sentou-se no sofá, folheando os jornais, à espera de que a água da chaleira fervesse, e forçou-se a se concentrar nas notícias. As manchetes falavam de uma revolução em uma remota república sul-americana; havia também ameaça de greve na indústria automobilística e um político muito conhecido respondia a processo por reconhecimento de paternidade. Interessou-se por um artigo sobre um historiador local, empenhado em escrever sobre mitologia grega. Sophie sempre gostava de ler lendas gregas na escola, chegando mesmo a inscrever-se nas aulas de grego e a passar nos exames sem a menor dificuldade. Tinha muita facilidade para línguas e alguns anos atrás acariciara a idéia de tornar-se intérprete. A água começou a ferver; pôs os jornais de lado e saiu correndo para a cozinha. Preparou chá e colocou-o em uma bandeja para seus pais, com um prato de biscoitos. Pensou em levar chá para Robert e Simon, mas pôs a idéia de lado. Se fizesse isso, teria de servir Emma também, e não tinha vontade de encontrá-la, a menos que fosse absolutamente necessário. Laura estava acordada quando ela entrou no quarto dos pais. Estava deitada de costas, fitando o teto, mas, ao ver Sophie, uma expressão de alívio relaxou seu rosto. — Bom dia — sussurrou Sophie, vendo que seu pai parecia profundamente adormecido. — Onde posso colocar isto aqui? — Ali. — Laura sentou-se e apontou para a mesinha de cabeceira. No mesmo momento em que Sophie pousava a bandeja, perguntou: — Como é que você está, Sophie? Sophie endireitou-se. — Oh, estou bem. —Comprimiu os lábios. — Vai precisar de mais alguma coisa? — Não, não, obrigada — Laura mal olhou para a bandeja. — Sophie, sinto muito o que aconteceu... — Está tudo bem. Mesmo! — Sophie deu-lhe as costas. Não tinha vontade de conversar a respeito daquele assunto. — Mais tarde nos vemos. — Saiu rapidamente e fechou a porta. Ao chegar ao corredor, hesitou. A porta de Robert ficava a alguns passos de distância. Deveria ir até lá e conversar com ele, para saber de suas intenções? O desejo de deixar a situação perfeitamente esclarecida era irresistível. Andou pé ante pé e girou a maçaneta de sua porta. Entrou no quarto escuro, mas a cama de Robert estava vazia. Ele nem sequer havia dormido lá. Saiu, fechando a porta sem o menor ruído. Olhou para a porta do quarto de hóspedes, onde Emma estava dormindo, e a sensação de enjôo da noite anterior apossou-se novamente dela. Meu Deus, pensou, cambaleando em direção à escada. Ele deveria ter passado a noite na cama de Emma. Na cozinha o chá esfriava. Levantou a xícara e levou-a aos lábios, que tremiam. Como era possível que ele fizesse uma coisa dessas, pensou desesperada, como era possível? Estava tão entregue à infelicidade que nem notou o ruído de passos, até que a porta dos fundos se abriu. Voltou-se bruscamente, quase derrubando o chá, e prendeu a respiração ao ver que Robert entrava na cozinha. Ele disse, taciturno: — Desculpe se a assustei. Não esperava encontrar ninguém acordado. A xícara de Sophie chacoalhava no pires. — Onde... onde é que você esteve? — Ainda usava o terno cinza da noite anterior e a barba azulava-lhe o rosto. Robert não respondeu imediatamente. Dirigiu-se até o fogão e serviu-se de um pouco de chá. — Estive andando por aí. — Bebeu todo o conteúdo e serviu-se de mais chã. — E você? Sophie esboçou um gesto de impotência. — Eu... eu acabei de levantar. — Dormiu bem? — E você? Robert balançou a cabeça, contemplando a xícara. — Não fui para a cama. Seu pai e eu conversamos até as quatro da madrugada e então não consegui mais suportar a atmosfera desta casa. Tinha de sair e fui andando até High Apsdale. Sophie ficou espantada. — Mas fica a cinco quilômetros de distância! — Sei disso muito bem. — Robert passou a mão pelo rosto áspero. — Como estou barbudo! Preciso me arrumar. — Você deve estar exausto — ela exclamou. Sentiu o quanto seus pensamentos haviam sido injustos e isto deixou-a inteiramente ruborizada. — Sobre o que você e papai conversaram? Robert tirou a gravata. — Vários assuntos — ele respondeu vagamente. Sophie cerrou os punhos, nervosa. — A meu respeito? Ele engoliu o que restava da segunda xícara de chá. — Entre outras coisas. — Espreguiçou-se. — Agora, você vai me dar licença, pois não tenho muito tempo. Preciso de um chuveiro e tenho de trocar de roupa antes de partir. — Partir? — Sophie olhou para ele, atônita. — Mas... mas você não pode partir! — Não posso? — Robert encarou-a com firmeza. Sophie respirou fundo e deu-lhe as costas. — Você... não precisa partir — falou precipitadamente. — Sei que me comportei como uma tola a noite passada, mas não voltará a acontecer, garanto. — Fez uma pausa. — Não vá, se for por minha causa. Não lhe causarei mais dificuldade. Fez-se um momento de silêncio, interrompido unicamente pelo som de sua respiração ofegante, e em seguida Robert passou diante dela, indo para a porta do hall. — Não seja tola, Sophie! — ele murmurou bruscamente, saindo da cozinha. Sophie ficou por vários minutos imóvel. O que ele queria dizer com aquilo? Por que ia embora? E sua noiva? Sentiu-se confusa e desorientada. Teria havido alguma discussão violenta na noite anterior, depois que ela dormira? Não era possível que seu pai tivesse pedido a ele para ir embora. Seria por isso que Laura estava acordada? Coro toda certeza não dormira. Se o pai e Robert tivessem ficado acordados até as quatro horas da manhã, Laura fizera o mesmo. Começou a andar de um lado para o outro, inquieta. O que deveria fazer? Será que Laura sabia que seu filho iria partir? Para onde iria? Quando? Queria tanto que alguém pudesse lhe responder! Aqueles acontecimentos tinham dissipado sua depressão. No momento as intenções de Robert a deixavam mais perturbada do que o resto. Não queria ser responsável por destruir o sólido relacionamento que ele sempre tivera com seu pai, não queria que por causa dela Laura se afastasse de seu filho. O que poderia fazer? Tentara desculpar-se perante Robert e isso de nada adiantara, tornando-o talvez até mais impaciente com ela. E se lhe pedisse para ficar em consideração à sua mãe, ele lhe daria ouvidos? Duvidava. Seu rosto era duro e decidido e, no estado de confusão mental em que se encontrava, não podia confiar em suas próprias habilidades. Estava de pé no meio da cozinha, tomada da maior indecisão, quando sua madrasta entrou. Ainda não se vestira, mas carregava a bandeja que Sophie levara para cima. — Seu pai ainda está dormindo — explicou com voz cansada. — Prefiro não acordá-lo ainda. — Sophie assentiu e ela prosseguiu: — Acabo de falar com Robert. Disse-me que vai embora. — Sim. — Sophie voltou a concordar. — Ele... ele acaba de chegar. Esteve andando por aí. — Sim, eu sei. — Laura pousou a bandeja. — Ainda tem chá? Gostaria de tomar mais uma xícara. — Claro. — Laura pegou a xícara e sentou-se pesadamente em um banquinho. — Assim que acabar, vou preparar o café da manhã. Você está com fome? — Eu? — Sophie sacudiu a cabeça. — Não. Laura concentrou-se em sua xícara. — Eu também não. — Levantou a cabeça. — Robert quer o café da manhã? Sophie deu de ombros, num gesto de impotência. — Não perguntei. — Mordeu o lábio. — Para onde é que ele vai? Laura suspirou profundamente. — Vai passar o fim de semana em seu apartamento em Londres e na segunda-feira viaja para Cymtraeth. — Mas por quê? — Sophie explodiu. — Eu pensei que... isto é... — As palavras lhe faltavam. — Emma está aqui! — Ele tem plena consciência disso. — Laura falava em tom seco. Em seguida sacudiu a cabeça, evidenciando sua confusão. — Quem sabe o que Robert está pensando? Nunca imaginei que as coisas chegassem a este ponto! — O quê? Do que é que você está falando? — Sophie encarou-a, desesperada. — Mamãe, o que aconteceu ontem à noite? Laura pôs a xícara de lado. — Nada com que você precise se preocupar. Tudo vai terminar do melhor modo possível. No que diz respeito a Emma, Robert teve de voltar para o emprego dois dias antes do que tinha planejado, compreende? O rosto de Sophie endureceu. Ela compreendia. Compreendia também que com relação a Emma, as aparências tinham de ser mantidas a qualquer preço. Mas o que Robert pensava a respeito? O que haveria por trás daquela sua súbita partida para Londres? Nesse momento o desânimo se apoderou dela. Será que tudo aquilo importava de verdade? Se Robert quisesse dizer-lhe algo, a oportunidade tinha acontecido momentos atrás, e o fato de ele não ter dito indicava falta de interesse. Parecia mais do que evidente que houvera discussão na noite anterior e Robert partia a fim de evitar as conseqüências. Dentro de umas duas semanas tudo se acalmaria e as coisas prosseguiriam como antes, com a perspectiva do casamento tornando-se cada vez mais real. Laura tirava presunto e ovos da geladeira e ligava a grelha. O cheiro da comida crua deixava Sophie enjoada e, com uma breve explicação, ela saiu da cozinha. Sentia-se perdida e desesperada, um sentimento que não se alterou quando Robert desceu correndo as escadas, usando um jeans cor de terra e um pulôver creme. Gotas de água ainda brilhavam em seu cabelo escuro e, apesar de algumas rugas se delinearem em torno dos olhos e da boca, ele irradiava uma aura de força e superioridade. Vendo Sophie, disse asperamente: — Onde está minha mãe? — Na cozinha. — Sophie limpou as mãos úmidas na calça. — Robert... Robert, por que está indo embora? — Respirou fundo. — Eu... por favor... não se vá por minha causa. Robert parou diante dela, olhando-a sombriamente. — Pare de sentir tanta pena de si mesma! — ele disse bruscamente. — Tenho muito o que fazer em Londres, eis tudo. — E... e ontem? — ela conseguiu dizer. Robert suspirou. — Acho melhor você tentar esquecer o que aconteceu ontem. Sophie sentiu-se gelada interiormente. Até então alimentara a esperança tola de que Robert partia porque não conseguiria mais encarar sua noiva, sabendo que estava apaixonado por uma outra mulher. Agora, ao ouvi-lo dizer que procurasse esquecer aqueles momentos passados à beira do regato, o jantar tão íntimo e as cenas de paixão que aconteceram no carro, sentiu como se estivessem enfiando uma faca entre suas costelas. O horror que sentia devia aparecer em seu rosto, pois ele falou: — Não me olhe assim, Sophie, pelo amor de Deus! E para seu próprio bem! Você está perdendo tempo comigo! Murmurou um palavrão, afastou-a do caminho e entrou na cozinha.
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