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CAPÍTULO II



CAPÍTULO II

 

Penn Warren era uma velha mansão situada nos arredores da aldeia. Os Kemble a haviam modernizado, mas muito da antiga atmosfera subsistia nas paredes cobertas por painéis de carvalho e nas enormes lareiras. À medida que os rapazes cresciam, batiam constantemente com a cabeça nas vigas do teto, mas mesmo assim não admitiriam que a casa fosse reformada.

Para Sophie, a propriedade recordava os dias da infância e da adolescência. Evocava os longos dias de verão, quando nadava ou pescava com os rapazes, ou jogava tênis no jardim; lembrava-se do outono com suas fogueiras e castanhas assadas; do inverno, quando a neve cobria inteiramente as árvores e eles se sentavam diante da lareira tomando canecas de vinho quente. Sempre fora feliz lá e era-lhe duplamente difícil aceitar que aquela felicidade dependera de seu amor por Robert.

Despertou na manha seguinte com um sentimento pouco habitual de depressão, que lhe causava uma dor incômoda por detrás dos olhos. A recordação dos acontecimentos da véspera voltou e ela se deitou de bruços, enterrando o rosto no travesseiro. Oh, meu Deus, pensou desesperada, o que vou fazer?

Já estava quase na hora de jantar, quando chegaram, na véspera. Para seu alívio, o pai fora atender um paciente e somente Laura e Simon estavam lá para recebê-la. Pensou em Simon com afeto. Ele era tão tranqüilizante, tão normal... Mostrou-se extremamente contente por tê-la de volta; era tão bom, tão terno, tinha um gênio excelente... Tornou as coisas muito mais fáceis para ela e, apesar de ocasionalmente surpreendê-lo a olhar com uma expressão um tanto ansiosa, não achou que sua madrasta notasse algo de equívoco em seu relacionamento com Robert. Quando o pai voltou para casa, após o parto do quarto filho da sra. Jones, o jantar havia acabado e Sophie conseguira controlar o nervosismo inicial. Robert saiu logo depois. Apresentou desculpas, pretextando ir visitar John Meredith, filho do latifundiário local, que estivera com ele na universidade, e ninguém reparou. Na realidade, se Sophie não estivesse tão envolvida com sua própria infelicidade, teria notado que sua madrasta e Simon ficaram mais à vontade assim que Robert partiu.

Apoiou-se no cotovelo e ficou contemplando o despertador pousado sobre a mesa-de-cabeceira e seu tique-taque interminável. Fora um presente dos rapazes quando ela fizera sete anos e ela se apegara demais àquele objeto, guardando-o como uma de suas mais caras lembranças.

Sentiu um sobressalto. Era possível que já fossem dez e meia? Tinha ficado acordada durante muito tempo, na noite anterior, ouvira o barulho do carro de Robert voltando... Mas por que ninguém a despertara? Deu de ombros. E por que haveria de querer que o fizessem? Era melhor entregar-se ao sono e esquecer o que tinha acontecido.

Mas não podia ficar na cama o dia inteiro. Devia dominar-se e agir normalmente, pelo menos em consideração a seus pais. Afinal de contas, nada mudara de verdade e era isso que mais a surpreendia. A situação não se alterara só porque suas ilusões tinham ficado abaladas. No que dizia respeito a Robert, ela ainda era a irmãzinha pela qual ele sempre tivera consideração.

Forçou-se a desviar o pensamento desse assunto. Naquele momento era quase impossível aceitar que jamais, em tempo algum, ele a encarara sob outro aspecto. Ela teria de aceitar o fato, claro, mas no momento a atitude mais sensata seria tentar comportar-se em relação a ele como sempre tinha feito. Seu relacionamento fora sempre tão profundo e satisfatório... Esperava que isso também não tivesse sido destruído. Quem sabe, no futuro, ele poderia sentir-se atraído por ela...

Com uma determinação que ignorava possuir, Sophie banhou-se e vasculhava o guarda-roupa, à procura de um blue-jeans, quando bateram à porta.

— Quem é? — perguntou meio ansiosa, prendendo a respiração e sentindo-se aliviada ao ver que era sua madrasta.

— Ah, você já levantou! — ela exclamou, abrindo a porta e entrando com uma bandeja com suco de frutas, ovos e presunto, torradas e geléia. — Eu ia lhe servir o café da manhã na cama. Você parecia um tanto cansada ontem à noite e eu disse a seu pai que com um bom descanso você se recuperaria.

Sophie forçou um sorriso.

— Estou muito bem, bem de verdade. Mas foi muita bondade

de sua parte, mamãe.

— Bem, por que não põe o roupão e volta para a cama? — sugeriu Laura, acomodando a bandeja na mesa-de-cabeceira. — Não há nada para fazer, você não tem a menor necessidade de se levantar. Seu pai foi fazer uma operação e só voltará dentro de meia hora. Então você poderá descer e tomar café com ele.

Sophie hesitou. Não tinha fome e a perspectiva de tomar todo aquele farto café da manhã a deixava enjoada. Mas talvez fosse melhor disfarçar a falta de apetite para não ser importunada com perguntas.

— Está certo — concordou, pondo o roupão. — Vamos dar

uma chance à preguiça.

Laura pousou a bandeja sobre o colo de Sophie e ficou a contemplá-la pensativa, enquanto a garota engolia corajosamente o suco de frutas.

— Você está bem, querida? — perguntou inesperadamente. Sophie ficou ruborizada e quase engasgou com o suco.

— Claro que sim... Por que não deveria estar? Laura abanou a cabeça.

— Sim, claro. — Pez uma pausa. — Granam White esteve aqui na semana passada perguntando quando é que você ia voltar. Acho que ele está com vontade de vê-la.

Sophie pousou o copo.

— Graham White?

— Sim. Você o conhece. Seu pai e o dele de vez em quando jogavam golfe.

— Oh, sim. — Sentindo o olhar de Laura, levantou o garfo e levou um pequeno cogumelo à boca. — Não o conheço tão bem assim. Ele está no ginásio, não é?

— Sim. — Laura mordeu o lábio. — Convidei-o para passar o fim de semana aqui. Acho que você e ele gostariam de jogar umas partidas de tênis.

— Oh, mamãe! — Sophie não conseguia disfarçar seu desapontamento. — Posso jogar tênis com Simon e... Robert!

— Eu sei. E tenho certeza de que Simon concordará com a maior boa vontade, mas Robert talvez esteja ocupado.

Sophie concentrou toda sua atenção no prato.

— Está certo, não me importo. Posso me divertir sozinha.

— Mas você deveria ter amigos de sua idade, Sophie! — protestou Laura. — Você passa tempo demais na companhia de Simon e Robert.

Sophie levantou os olhos.

— Sinceramente, mamãe, você não precisa fazer planos para mim. Sou perfeitamente capaz de tomar conta de mim. — Esboçou um gesto desajeitado. — Na verdade, estou até pensando em arranjar um emprego.

A idéia acabara de lhe ocorrer, mas Laura não podia ter adivinhado, e seu rosto assumiu uma expressão ansiosa,

— Um emprego, Shophie? Acho que seu pai não ia querer que você fizesse uma coisa dessas.

— Por que não? Afinal de contas, não é má idéia.

— Bem... Você mal terminou o colégio. Acho que ele espera que você passe este ano conosco, antes de ir para a universidade.

— Ainda não resolvi se quero ir para a universidade, mamãe — disse calmamente.

— O quê? Não quer ir para a universidade? — Laura estava horrorizada. — Ora, não seja tola, Sophie, claro que você vai para a universidade. Seu pai tem grandes planos para você. Tenho certeza de que você não vai querer decepcioná-lo!

Sophie comprimiu os lábios.

— A universidade não é tudo.

— O que quer dizer com isso?

— Bem... eu... eu poderia querer fazer algo diferente. Casar-me, por exemplo.

— Casar-se? — Laura sacudiu a cabeça com impaciência. — Sophie, você está dizendo uma bobagem e sabe muito bem disso. Meu Deus do céu, você só tem dezessete anos! É impossível que esteja pensando seriamente em abandonar seus estudos por algo tão remoto quanto o casamento!

Sophie respirou fundo.

— Como disse, ainda não tomei uma decisão.

— Tenho certeza de que, se você falar a respeito disso com seu pai, ele ficará muitíssimo magoado. Sei que ele gosta demais dos rapazes e sempre os tratou como se fossem seus filhos... mas na realidade eles não o são. Você é a filha dele. Certamente isto deve significar algo para você. E você há de permitir que ele faça por você o que fez pelos rapazes, não é mesmo?

Sophie ajeitou-se na cama, meio desapontada. Claro que Laura tinha razão. Se ela decidisse não prosseguir com os estudos, seu pai ficaria muito desapontado. E também muito magoado, se ela levasse a sinceridade até o fim. Suspirando, pôs a bandeja de lado.

— Sinto muito, mamãe. Não estou com muita fome. Laura, que tinha dado alguns passos em direção à porta, voltou até a cama. Parecia perturbada.

— Eu também sinto muito, Sophie. E sua primeira manhã em casa e já a estou deixando preocupada. Acho que no momento é melhor deixar as coisas como estão. Não há pressa, seja qual for sua decisão.

Subitamente Sophie sentiu-se terrivelmente culpada.

— Oh, mamãe! — exclamou, pondo-se de joelhos e abraçando a madrasta. — Eu também não tinha intenção de preocupá-la. — Recuou e encarou-a. — Mas eu bem que poderia conseguir um emprego. Muita gente consegue. Mesmo... mesmo que seja... até eu entrar na. universidade,

A expressão de Laura desanuviou-se. Contemplou sua enteada com afeto. Sempre tiveram um relacionamento excelente e ela não queria pôr tudo a perder.

— Muito bem, querida — ela concordou com um sorriso. — Falaremos a respeito disso. Mas já, já, não. Dê alguns dias a seu pai para que ele se acostume com a idéia de tê-la de volta. Você sabe como ele sente falta de você.

Sophie sentou-se nos calcanhares.

— Muito bem. — Olhou à sua volta. — Agora acho melhor me vestir. Quero sair e dar uma volta por aí.

Laura pegou a bandeja e saiu, aparentemente tranqüilizada com a aquiescência de Sophie. Ela tirou o roupão e achou o blue-jeans no fundo do guarda-roupa. No verão anterior tomara um banho vestida, para que o blue-jeans ficasse bem apertado, mas agora mal conseguia entrar nele. Ganhara peso, e a roupa já não lhe servia mais. Suspirou. Era tudo o que ela tinha e teria que se arranjar assim mesmo até fazer umas compras. Com uma careta enfiou uma camisa de malha com o retrato de um ídolo de musica pop estampado na frente e passou uma escova pelo cabelo comprido e aloirado.

Encontrou-se com Simon saindo de seu quarto e, quando ele a viu, surgiu em seu rosto uma expressão de horror,

— Meu Deus! — ele exclamou bem-humorado. — Você não pretende sair à rua vestida desse jeito, não é?

Sophie não se ofendeu com a observação.

— Não gosta da minha roupa? Simon sorriu zombeteira mente.

— Oh, sim, gosto. Mas acho que quem não vai gostar é seu pai.

Sophie suspirou, puxando com impaciência a calça muito justa.

— Não posso fazer nada. Eu a encolhi no ano passado e agora está apertada demais.

— Ponha o casaco e irei com você até Hereford comprar outra — sugeriu Simon.

Sophie sentiu-se tentada a aceitar o convite, mas ainda não tinha descido a escada. Não sabia o que Robert estaria fazendo. A única coisa de que tinha certeza era que ele de modo algum a convidaria para ir em sua companhia.

— Não sei, não... — ela começou a falar muito sem jeito.

Simon assumiu uma expressão de tolerância.

— Rob não está em casa, foi velejar com John. Combinaram ontem à noite.

— Oh! Sei. — Sophie encaminhou-se para a escada. — Papai já voltou?

— Parece que é o carro dele que está chegando. — Fez uma pausa. — Então, vamos a Hereford?

— Muito bem. Se você quiser. — Ouviu os passos do pai, que galgavam os degraus da escada da frente. — Mas prometi que antes tomaria café com papai.

— Está certo. — Simon abriu a porta do quarto. — Estarei pronto dentro de meia hora.

Simon estava certo ao presumir que o dr. Kemble não aprovaria aquele blue-jeans tão indiscreto.

— Você não pode sair desse jeito. Sophie — ele exclamou, enquanto sentavam em seu estúdio, servindo-se de café. Laura, mostrando muito teto, deixou-os a sós. e Sophie sentiu-se quase feliz, sentada na pesada poltrona de couro, naquele aposento atulhado de livros que ela tanto apreciava desde que se conhecia por gente.

— Simon disse que vai me levar a Hereford para comprar uma calça — ela replicou, tomando o café com evidente prazer.

— O único problema é...

Fez uma pausa e seu pai riu.

— Já sei. Você não tem dinheiro.

— Como foi que você adivinhou? — Sophie deu um muxoxo.

— Mamãe disse que compraria roupas para mim por esses dias. Tudo o que uso está ficando pequeno demais para mim.

— Isso não me surpreende — observou o dr. Kemble. — Você está crescendo, Sophie. Você agora é uma mulher.

— Sim. — Suas palavras tiveram o dom de evocar, com bastante clareza, o modo como Robert a tinha rejeitado.

Se o pai notou seu súbito retraimento, preferiu ignorar o fato e prosseguiu:

— Vá até a loja Levinsons. Sua mãe tem conta lá. Pode comprar o que quiser.

— Obrigada. — Sophie aparentava entusiasmo. — Mas não vou comprar muita coisa. Esperarei até que mamãe possa ir comigo.

— Está bem, como quiser. — Seu pai preenchia um cheque enquanto falava. — Tome. — Entregou-lhe o cheque e ela contemplou atônita a soma que seu pai havia escrito.

— Mas, papai...

— Leve-o até o banco e deposite-o em seu nome. Não quero que você tenha de me pedir dinheiro toda vez que desfiar a meia ou precisar de um batom novo.

— Mas, papai... — Sophie apontou para o cheque generoso.

— Com isso não vou precisar comprar meias e cosméticos durante anos!

O dr. Kemble guardou a caneta no bolso com um sorriso.

— Melhor para você. Mas acho que não vai durar tanto quanto você imagina. Tudo está cada vez mais caro e não quero ver minha filha forçada a fazer compras em liquidações.

— Oh, papai! — Sophie levantou-se e foi correndo abraçá-lo.

— Oh, papai, eu te amo!

— Eu também te amo — ele respondeu comovido, fazendo-a sentar-se em seu colo. No mesmo momento ela ficou tensa. A coisa durou apenas um momento. Aquela cena era por demais familiar; a mesma sala e até mesmo a mesma cadeira! Soluçando, abraçou o pai e pôs-se a chorar.

Ele a deixou chorar por alguns minutos. Em seguida pôs o lenço em sua mão e disse:

— Já sei de tudo. Rob me contou. Ele também me disse que você... bem, que você reagiu muito mal. Meu bem, é natural. Rob é um homem muito atraente. Qualquer garota sentiria o mesmo. Mas você precisa ver as coisas como elas são. Rob é doze anos mais velho que você. Ele tem de viver a vida dele e você a sua. Agora vá lavar o rosto e apronte-se para sair com Simon. E... Sophie — acrescentou, enquanto ela parava tensa diante da porta —, não comece a pôr minhocas na cabeça também em relação a Simon, ouviu, querida?

Simon tinha uma perua, um veículo bem menos convencional que o carro elegante do irmão, e bem mais apropriado às estradas do interior, às vezes mal conservadas. Sophie colocara uma saia de lã creme, e uma blusa verde-oliva. Com os cabelos penteados para cima parecia muito mais velha, e Simon olhou-a duas vezes, enquanto ela caminhava em direção à perua.

— Você está bonita — ele comentou. — Podemos ir?

— Hum. — Sophie olhou para trás e acenou para o pai e a madrasta. — Estou pronta. Podemos ir, sim.

Como Laura dissera, a manhã estava feia, mas gradualmente o sol apareceu através das nuvens e, apesar de o dia não apresentar aquele calor úmido da véspera, continuava quente. Simon guiava calmamente e após alguns momentos Sophie sentiu que seus nervos tensos relaxavam. Será que Simon notara que ela estivera chorando? Se notou, não fez o menor comentário.

Hereford estava cheia de gente que tinha ido passar o fim de semana lá e eles tiveram dificuldade para estacionar. Conseguiram uma vaga bem apertada entre um caminhão de entregas e um carro esporte. Simon trancou o carro e caminharam em direção à rua principal, onde a loja Levinsons ocupava quase um quarteirão.

— Você não precisa vir comigo à seção de adolescentes — disse-lhe Sophie, ao chegarem ao elevador,

Simon enfiou as mãos nos bolsos de seu paletó de camurça.

— Não quer que eu vá com você? Sophie suspirou.

— Achei que você não ia querer.

— Mas como? — Simon balançou a cabeça. — E arriscar ver você com um jeans semelhante àquele que você estava usando há pouco? — ele disse brincando.

Sophie sentiu uma comichão nos lábios.

— Está bem. Obrigada, Simon.

Entraram no elevador estreito e ela viu que ele a olhava com intensidade. A expressão de seu olhar mudou rapidamente e ele disse em tom ligeiro:

— Está certo. Eu me divertirei vendo as vitrinas.

Sophie comprou duas calças — uma feita de brim, semelhante à que ela tinha posto de lado, e outra de veludo amarelo. Escolheu também algumas blusas e uma saia comprida, de algodão. Simon aprovou sua escolha e assim que entraram na perua sugeriu que almoçassem na cidade.

— Mas mamãe não está à nossa espera? — perguntou Sophie, hesitante.

— Eu lhe disse que talvez nós almoçássemos fora. Hoje só vão servir pratos frios lá em casa, que não se estragarão se não estivermos lá.

— Está bem. Acho que vai ser gostoso.

— Ótimo. Aonde iremos?

Comeram em um pequeno restaurante italiano que Simon descobrira algumas semanas antes em uma travessa do mercado. As mesas eram cobertas com toalhas vermelhas e o ar condicionado mantinha a temperatura do ambiente muito agradável. Comeram ovos com anchova, costeletas de vitela cozidas na manteiga e, como sobremesa, pêssegos ao vinho. Sophie não conseguia resistir àqueles pratos deliciosos e almoçou muito bem. Finalmente recostou-se, incapaz de acabar o pêssego, mas sentindo-se muito bem. Simon contemplou com satisfação seu rosto corado e disse:

— E então, gostou?

Sophie tomou o último gole de vinho e assentiu:

— Sim, estava uma maravilha!

— Bem, foi a primeira refeição que você comeu desde que chegou em casa — observou Simon. — Você mal tocou em seu prato durante o jantar e eu vi a bandeja com o café da manhã quando minha mãe a trouxe para baixo hoje.

— Este restaurante funciona há muito tempo? Não me lembro de tê-lo visto por ocasião da Semana Santa.

— Acho que há uns três meses. — Simon apoiou os cotovelos na mesa, contemplando-a. — Sabia que nossos pais combinaram que iremos todos à França em agosto?

— França? — Sophie contemplou-o surpreendida. — Não, não sabia. — Franziu o cenho — Você falou no plural. A quem se refere?

— Você, eu, mamãe e papai, os Page...

— Oh, não! — gemeu Sophie. — Com Vicky Page, nunca!

— E os pais dela também. Mamãe e papai alugaram uma casa na Bretanha. — Simon fez uma careta. — É mesmo para ficar preocupado. Ela está atrás de mim e todo mundo sabe disso. Aliás, tenho certeza de que nossos pais aprovam. Afinal, ela é filha do veterinário, é um partido muito conveniente. Infelizmente, ela não me convém.

Sophie olhou-o com simpatia enquanto ele tomava o vinho.

— Acho que eles estão imaginando que já é tempo de você assumir um compromisso — opinou.

Os olhos de Simon não eram cinza como os de seu irmão, mas azuis. Tornaram-se sombrios quando pousaram sobre o rosto compreensivo de Sophie.

— Eu também acho — concordou. — Mas não há de ser com Vicky Page.

Sophie sentiu o rubor que invadia seu rosto e ficou contente que a iluminação fosse fraca, pois assim conseguiria disfarçar o constrangimento de que estava tomada. Não era possível, disse a si mesma. Não devia nunca imaginar semelhante coisa. Simon não estava, não podia estar interessado nela! Sua experiência com Robert a tinha ensinado sobre os perigos de interpretar mal uma situação.

— Espero que haja muitas outras garotas na aldeia a quem você possa escolher — exclamou apressadamente. — E, por outro lado, Hereford não fica tão longe...

— Sophie! — A mão de Simon deslizou pela mesa e cobriu a dela. — Pare de falar bobagens. Você sabe perfeitamente o que eu quero dizer. Não estou interessado nem nas garotas da aldeia, nem nas de Hereford, ou em qualquer outra. É você que eu quero e tenho certeza de que você sabe disso.

— Oh, Simon!

Sophie retirou a mão e colocou-a sobre o colo. Ele deu de ombros e recostou-se na cadeira.

— Está certo. Sei que você não sente a mesma coisa que eu. Mas você ainda é jovem demais para saber o que quer. — Tirou do bolso um maço de cigarros e pegou um deles. — Estou preparado para esperar. Mas veja lá se não casa com outra pessoa, enquanto isso.

Sophie sacudiu a cabeça, desarvorada.

— Oh, Simon — disse novamente. — Por que me diz uma coisa dessas?

Simon acendeu o cigarro e aspirou profundamente.

— Você parecia um bocado deprimida após... bem, após conversar com Rob. Olhe, eu também sei da história. Rob me contou, na verdade, contou para todos nós. Fiquei muito zangado no momento, mas agora superei o problema. Essas coisas acontecem. Acho que fazem parte do processo de amadurecimento. Sei que você sempre teve adoração por Rob, mas as coisas não deveriam ter passado daí, Sophie, creia-me! Rob é velho demais para você, é por demais experiente. Ele merece alguém como Emma.

— Emma? Emma Norton? — Sophie sentiu-se ligeiramente mal. Então ela ainda estava por perto... Tivera razão em supor que Emma não seria tão facilmente descartável como as suas outras namoradas.

— Bom, não vamos falar a respeito disso agora — disse Simon, chamando o garçom. — Que tal um pouco mais de café? Em seguida podemos dar um passeio pelo parque de Brecon Beacons e chegaremos em casa a tempo de tomar chá. — Sorriu ao ver que Sophie tinha um ar de suspeita. — Não se preocupe, não vou tentar nada. A menos que você queira...

O Parque Nacional de Brecon Beacons estendia-se por uma região pontilhada de colinas e era um dos lugares mais belos do sul de Gales. Sophie costumava freqüentá-lo com os pais, quando criança, e uma vez ela, Robert, Simon e alguns amigos acamparam lá durante um fim de semana. Era gostoso sair do carro e esticar as pernas. Ao longe despontavam as colinas de arenito vermelho. Numerosos regatos cortavam o parque e suas águas eram frescas e convidativas. Simon manteve a promessa de não tocá-la. Sophie relaxou e pôs-se a contemplar a paisagem, feliz.

Chegaram em Penn Warren pouco depois das cinco e viram um Jaguar creme ao lado do carro de Robert, diante da garagem.

— É o carro de John — observou Simon, em resposta ao olhar intrigado de Sophie. — Conhece John?

Sophie mordeu o lábio.

— Vagamente, acho. Ele não costumava aparecer muito por aqui, quando eu estava de férias.

Simon pós a perua na garagem e abriu a porta.

— Pois então venha ser apresentada a ele. Vai gostar dele. É noivo de Joanna White. Quando Emma está aqui, os quatro costumam sair juntos. — Ao notar que Sophie ficara tensa, ele indagou: — Você conhece Joanna, não é mesmo?

— Não é a irmã de Graham White?

— Isso mesmo.

— Ah, sim... — Nesse momento a expressão de Simon mudou. — Parece que você andou fazendo uma conquista, não? Graham esteve aqui na semana passada perguntando quando você estaria de volta.

— Já sei. Mamãe me contou. — Sophie sentiu-se grata por ele deixar de lado aquele assunto incômodo relativo a Emma e Robert. — Ela o convidou para vir aqui no fim de semana. Que bobagem! Nós apenas jogamos algumas partidas de tênis durante a Semana Santa.

— E o seu charme irresistível — observou Simon com uma ponta de ironia.

Robert e John Meredith estavam na sala de estar, debruçados sobre a mesa coberta de mapas. Ambos levantaram os olhos quando Sophie e Simon surgiram na porta e imediatamente se levantaram.

John Meredith não era tão alto quanto Robert, mas também era moreno e mais cheio de corpo. Seu sorriso era muito atraente e aproximou-se de Sophie sem disfarçar a admiração que sentia por ela.

— Olá, Sophie. — Cumprimentou-a com efusão. — Você é a Sophie, não é mesmo? Sei que é um clichê, mas, puxa! Como você mudou! — Pegara sua mão e continuava a segurá-la. — Da última vez que a vi você usava rabo-de-cavalo e short bem curtinho! — Seu sorriso tornou-se mais amplo e seus olhos percorreram o corpo de Sophie, demorando-se em suas pernas esguias. — Acho que usar aquele short não era uma idéia tão má assim!

Sophie sentiu-se envolvida por aquela personalidade.

— É muito lisonjeiro, sr. Meredith — replicou rindo —, mas posso lhe garantir que jamais usei rabo-de-cavalo!

John sacudiu a cabeça.

— Então deve ter sido outra pessoa. Mas lembro-me de que você usava aquele short.

— Sinto muito, mas não consigo me lembrar do senhor.

— Costumo causar esse efeito sobre as pessoas... Por favor, chame-me de John. Ainda não tenho idade suficiente para ser seu pai, ouviu?

Robert interrompeu a conversa.

— Podemos terminar o que estávamos fazendo, John? — perguntou secamente. — Sabe, tenho um trabalho para fazer hoje à tarde.

John fez uma careta para Sophie e voltou-se para encarar Robert, piscando ao mesmo tempo para Simon.

— Está certo, está certo. Não seja tão impaciente. Você pode falar com esta linda criatura sempre que lhe convier...

— John, por favor! — Robert olhou para os mapas; John soltou a mão de Sophie e caminhou em direção à mesa. Assim que Sophie e Simon deram as costas a fim de sair, Robert levantou novamente os olhos. — Onde foi que você esteve, Simon? — perguntou.

— Por aí.

— Onde?

— Almoçamos em Hereford e depois fomos até o parque nacional.

— Passaram o dia inteiro fora?

A expressão de Simon tornou-se tensa.

— Sim. Se você tivesse dito que queria um relatório, eu teria providenciado.

O semblante de Robert não era lá muito encorajador.

— Não acha que teria sido mais apropriado para Sophie passar o seu primeiro dia em casa, na companhia do pai? — insinuou, com uma ponta de agressividade.

Sophie corou e até mesmo John ficou um tanto sem jeito. Simon, porém, não perdeu a calma, apesar de um pouco tenso.

— Acho que você deveria cuidar de sua vida — respondeu sucintamente.

— É o que estou fazendo — retrucou Robert com frieza.

— Não é, não — replicou Simon, com idêntica atitude. — E se eu fosse você, ficaria quieto. Com Emma ou sem Emma, as pessoas podem achar que você está com ciúme!

Fez-se um momento de silêncio e Sophie achou que aquilo terminaria em uma cena de violência. Demonstrando grande presença de espírito, John disse: — Agora que você acabou, Robert, talvez possamos prosseguir. Eu também tenho muito trabalho para fazer hoje à tarde.

Simon deu as costas e saiu da sala, seguido por Sophie, que não olhou para trás. Nunca vira os irmãos reagirem desse modo antes e ficara perturbada. Alcançou Simon pouco antes de ele entrar na cozinha.

— Simon — disse, tocando-lhe o braço.

O rosto de Simon relaxou e ele conseguiu esboçar um ligeiro sorriso.

— Não foi nada, Sophie, não fique tão preocupada.

— Não, mesmo? — Sophie não podia acreditar.

— Não. — Simon suspirou, olhando-a com ar de resignação. — Algumas vezes penso que Robert mergulhou em uma situação da qual ele gostaria de se safar.

Após essas palavras enigmáticas, abriu a porta da cozinha e entrou.


 



  

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