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  CAPÍTULO III 7 страница



Como se se lembrasse da presença dela, Adam voltou-se e pe­gou-a pelo pulso, puxando-a, embora ela resistisse.

— Você não esqueceu sua outra hóspede, não é, Loren? — per­guntou suavemente. — Não acha que está muito atraente hoje?

Maria poderia tê-lo esbofeteado, de tanto que detestou seu tom paternal, e seu rosto ardeu de raiva. Era como se, ao estar na presença de Loren, ele se transformasse no homem quase insen­sível ao qual ela já estava se habituando.

A própria Loren examinou Maria com aprovação, enquanto esta chegava à conclusão de que Loren realmente ofuscava qualquer outra mulher presente. Parecia incrivelmente bonita, num vestido preto de cetim que modelava o contorno jovem de seu corpo miúdo; penteara o cabelo em estilo grego, deixando dois cachos longos caírem sobre os ombros como anéis de ouro puro.

Voltou-se para Maria com condescendência, dizendo:

— Que pena que não haja pessoas jovens aqui para você poder conversar, Maria. Acho que considero os jovens muito aborrecidos! — Seu sorriso leve dispersava qualquer malícia que pudesse haver nesse comentário, e Maria preferiu não ofender-se.

— Tenho certeza de que me divertirei assim mesmo, srta. Griffiths — respondeu polidamente. — Estava admirando sua casa. Não pensei que fosse tão grande.

Loren pareceu complacente.

— Sim, é muito agradável, não é? — Sorriu novamente. — Uma firma de decoração de interiores a preparou há alguns meses.

Maria mordeu o lábio. A conversa terminara e tinha certeza de que Adam estava observando e escutando com divertimento evidente, o que a aborrecia ainda mais. Agora Loren parecia co-meçar a ficar aborrecida o voltou-se para Adam, buscando seus olhos numa íntima troca de olhares.

— Eu lhe disse, Adam — murmurou roucamente Loren, batendo no queixo dele com o dedo, o que fez Maria ficar muito embaraçada . —, eu lhe disse que Maria iria sentir-se... bem, fora de seu am-biente, aqui.

Maria virou a cabeça rapidamente e seu olhar encontrou o de Adam. Então fora ele quem quisera convidá-la! Ela devia saber que Loren Griffiths nunca concordaria em convidá-la sem ser le-vada a  isso. Sentindo enjôo pela mortificação, afastou-se, cami­nhando por entre os grupos de pessoas que conversavam, até a relativa solidão dos arcos da entrada.

Todas as pessoas pareciam estar com alguém, os garçons que a empurravam com as bandejas olhavam-na com curiosidade, sen­tindo que não era uma das hóspedes habituais de Loren. Maria lutou para manter a compostura. Desejava virar-se, correr pela escada até a entrada principal e fugir, mas fazer isso seria admitir sua própria imaturidade; em vez disso, ficou onde estava. rezando para ver-se livre de tudo.

— Boa noite, Maria. É Maria, não é?

Maria levantou a cabeça relutantemente e um leve rubor in- vadiu seu rosto pálido.

— Ora... ora, sr. Hallam! — exclamou. Era o pai de David. Victor Hallam olhou-a bondosamente.

— Não diga — disse sorrindo. — Deve estar se perguntando que diabo estou fazendo aqui, no meio de todas essas pessoas talentosa

Maria relaxou um pouco.

— Bem, estou surpresa — confessou. Victor assentiu.

— Isso é bastante natural. Não participo deste tipo de função normalmente, mas sou o advogado de Loren e, de vez em quando, sinto-me obrigado a aceitar seus convites.

— Ah, sei. — Maria ergueu levemente os cantos da boca. — Pensei que talvez tivesse um interesse oculto pela literatura ou algo parecido.

— Oh, não. — Victor sacudiu a cabeça. — Não sou dotado artisticamente. O que é uma confissão terrível, sendo o advogado de Loren. Nunca me agradou misturar trabalho e prazer. Mas diga-me, o que está fazendo aqui? Adam trouxe você?

Maria enrijeceu-se livremente.

— Sim... sim, ele me trouxe. Eu estava com ele até há pouco. Victor olhou em volta.

— E agora ele foi agarrado por Loren. Gostaria de saber quando ela vai parar de representar e decidir casar-se com ele. Ela gosta bastante dele, surpreende-me que não perceba o risco que está correndo em esperar tanto tempo.

Maria engoliu em seco.

— Acha que vai ser logo?

Victor encolheu os ombros, servindo-se de dois coquetéis de cham­panhe de um bandeja que passava, entregando um deles a Maria.

— Quem pode dizer? Se ela pudesse convencê-lo a deixar seu trabalho em Islington e entrar como sócio numa dessas elegantes clínicas da Zona Oeste, poderia ser na próxima semana. No en­tanto, não consigo ver Adam abandonando seus ideais assim.

Maria tomou seu coquetel enquanto refletia.

— Conhece Adam há muito tempo, não é?

— Sim, conhecíamos a família quando o pai de Adam estava vivo. Adam sempre quis ser médico. Mesmo quando criança. For­mou-se em medicina e cirurgia em Cambridge e todos esperávamos que se tornasse um cirurgião. Tinha o temperamento, sabe? Mas depois esse amigo seu morreu de leucemia; depois disso, decidiu que queria ser clínico geral.

— Sei — disse Maria com interesse. — Gostaria de saber o que o levou a tomar essa decisão.

Victor franziu a testa.

— Acho que percebeu claramente que nem todas as doenças podem ser curadas pela cirurgia. E quanto melhor o clínico geral, melhor o serviço que pode prestar aos pacientes. De qualquer for­ma, Adam é um idealista, como disse, e faz tudo o que pode para ajudar os menos privilegiados.

Maria assentiu, passando o dedo pela beirada do copo.

— Mas ele tem pacientes particulares, não tem?

— Oh, sim, tem alguns. Incluindo minha própria família. No en­tanto constituem uma pequena parte de seu trabalho. — Victor olhou-a sorridente. — Tem de ser. Ele não tem muito tempo para gastar.

Maria terminou a bebida e Victor ofereceu-lhe outra. Aceitou-a com relutância, ciente de que a bebida inebriante era mais forte do que qualquer outra a que estivesse acostumada. Contudo, sen­tia-se melhor com um copo na mão, embora tivesse recusado o cigarro que Victor lhe oferecera.

— David disse-me que vai fazer um curso de secretariado — observou Victor repentinamente. — Seu bom exemplo parece ter influenciado favoravelmente meu filho. Já sugeriu que vai começar a trabalhar um mês antes do que pretendia.

Maria riu suavemente.

— Não está falando sério.

— Ora, estou sim. David era como o resto do grupo com quem anda, preguiçoso e indolente; você o modificou.

Maria hesitou, depois perguntou:

— Imagino que o senhor conheça os Hadley também, os pais de Larry.

A expressão de Victor tornou-se sombria.

— Sim, conheço os Hadley. Conheço também Larry. Por quê? Ele também esteve tentando atrair sua atenção?

Maria enrubesceu.

— Bem, na verdade saí com ele algumas vezes. Mas Adam parece não gostar muito dele,

— E com bons motivos! — exclamou seu companheiro em voz alta. Maria fitou-o, absorta no que ele dizia.

— Por quê?

Victor sacudiu a cabeça.

— Não tem nada a ver comigo — retrucou severamente. Depois notou a expressão perturbada da moça e suspirou. — Talvez você deva saber, já que, ele está interessado em você. — Engoliu quase metade do coquetel de champanhe e olhou apreensivo para o copo. — Havia uma moça... você conhece o tipo de situação, não preciso entrar em detalhes, e Larry pediu ajuda a Adam. Naturalmente, não ousava apro­ximar-se do pai, mas Adam era jovem... — Encolheu os ombros. — E foi isso. Adam, naturalmente, não aceitou, e ouvi dizer que a moça teve o bebê: depois os Hadley conseguiram que fosse adotado.

O rosto de Maria estava rubro.

— Sei — disse, vacilando. — Não tinha idéia...

— E como poderia? Os Hadley são gente decente e não pode­ríamos afastar Larry completamente pelo que tinha feito. Aos pou­cos insinuou-se novamente no grupo, mas todas as moças sabem o que aconteceu e procedem com cautela.

Maria concordou, relembrando com clareza a maneira como bri­gara com Adam por ele ter criticado seu relacionamento com Larry. Ele apenas pensara nela, afinal, e agora ela se sentia envergo­nhada, e com razão.

Olhou através da sala de repente, procurando-o, perguntando-se se ele esquecera sua presença. Victor acendeu outro cigarro e Maria lhe pediu:

— Sua esposa não veio. sr. Hallam? Victor sacudiu a cabeça.

— Não. Está com dor de cabeça, ou pelo menos essa é a desculpa que deu. Não morre de amores pela namorada de Adam. Quase nenhuma mulher gosta dela. Loren costuma ofuscá-las a todas, fisicamente pelo menos.

— Eu sei. — Maria estava pensativa. Victor olhou-a interrogativamente.

— Você não a inveja, não é.

— Não exatamente. Mas ela é bonita, não é?

— Claro que é. Mas nem todas as coisas bonitas têm calor e profundidade. Não pensei que você tivesse com que se preocupar, minha jovem. Sua juventude e sua pele maravilhosamente lisa valem mais do que qualquer beleza artificiai. Daqui a dez anos, Loren começará a demonstrar a idade que tem, e então, cuidado.

Maria riu e Victor bateu-lhe no ombro com ar de conspiração. Depois ela percebeu que alguém mais se aproximava deles, com o rosto sombrio e chateado. Era Adam, e imediatamente o sorriso de Maria desapareceu. No entanto, Victor não demonstrou tais inibições, virando-se para o homem que os alcançara, disse:

— Devo agradecer-lhe. Adam. É a primeira vez que me divirto numa destas festas, e tudo graças a Maria.

Adam ergueu as sobrancelhas com indiferença.

— Obrigado por tomar conta dela, Victor — disse. — Estava tentando encontrá-la há algum tempo.

Maria terminou o champanhe e Victor tirou o copo de sua mão, colocando-o sobre uma mesinha.

— Tivemos uma boa conversa confidencial — observou ele bran­damente. — Enquanto isso, tomamos um pouco do excelente cham­panhe de Loren. Por falar nisso, onde está ela? Pensei que estivesse com você.

A expressão de Adam era enigmática.

— Acho que está lá em cima. Alguém estava lhe pedindo que cantasse, mas duvido que consiga. — Olhou deliberadamente para Maria. — Fico satisfeito por você conseguir cuidar-se tão bem.

— O sr. Hallam estava tomando conta de mim — retrucou Maria friamente, mais friamente do que realmente queria. — Não deixe que eu o afaste de sua noiva. — O modo como disse isto foi tão desafiador que o próprio Victor ergueu as sobran­celhas significativamente.

— Penso que Maria acha a atmosfera um tanto opressiva, assim como eu — disse lentamente, — Se quiser voltar para sua anfitriã ficaremos muito bem. Se quiser, posso levar Maria para casa. Adam parecia estar querendo controlar-se.

— Obrigado, mas eu levarei Maria para casa quando for ne­cessário — retrucou, num tom que não admitia réplica. — Agora, se der licença a Maria, eu a levarei para cear.

Maria lançou a Victor um olhar de desespero. A última coisa que desejava era separar-se da única pessoa com a qual podia conversar, no meio de toda aquela gente; a qualquer momento Loren apareceria novamente e exigiria a atenção de Adam, fazendo com que Maria se sentisse perdida de novo.

— Se não se incomoda, prefiro ir cear com o sr. Hallam, Adam — disse ela rapidamente. — Tenho certeza de que a srta. Griffiths não ficará ocupada por muito tempo e logo irá procurá-lo. Estou bem e não precisa preocupar-se comigo.

Adam olhou-a furiosamente, seus olhos faiscavam de raiva contida.

— Maria—começou, com voz de comando, então Victor adiantou-se.

— Na verdade, Adam. Maria estará bem. Estamos ambos no mesmo barco, pois nenhum de nós tem um parceiro. Ficarei feliz por tomar conta dela, assim você poderá sentir-se livre para aten-der a seus outros compromissos.

Houve um instante carregado de silêncio, durante o qual Maria teve certeza de que Adam ia fazer um comentário mordaz, depois, controlando-se, Adam disse:

— Está bem, Victor. Aceito sua oferta. — Olhou gelidamente para Maria. — No entanto, eu mesmo levarei Maria para casa, está claro?

— Se você insiste... — Victor sorriu e concordou. — Não ter idéia de como me sinto aliviado. Não precisarei conversar com alguma mulher sem espírito, cujos únicos atributos são suas es-tatísticas vitais.

No entanto Adam não sorriu e afastou-se, acenando levemente para Maria; alguns minutos depois, ela viu Loren enroscar-se nele. Abaixando a cabeça, tentou concentrar-se no que Victor estavas dizendo, embora isso fosse impossível, pois a visão daqueles dois juntos provocava-lhe dor de estômago. Desejou ter permitido que Adam a levasse para cear. Parecera-lhe que ele queria levá-la, e talvez tivesse sido rude, tratando-o tão friamente; contudo, sabia também que qualquer tentativa de analisar seus sentimentos com relação a ele levaria à conclusão de que, quanto mais tempo ficasse na Inglaterra, morando na casa de Adam, tanto mais ficaria emocionalmente envolvida com ele...

                                       CAPITULO IX

Eram quase onze horas quando Adam foi procurar Maria para irem embora. A essa altura ela já estava se sentindo bastante tonta, não pelo calor e falta de ar, mas também pela inusitada quantidade de champanhe que bebera. A ceia fora servida antes e, embora houvesse uma grande variedade de comidas deliciosas para escolher, Maria não sentira fome. Após a ceia, haviam sido entretidos por um grupo de músicos espanhóis acompanhados por um dançarino, cujo sapateado hipnotizara os presentes. Houve mais vinho e mais conversa; Maria e Victor Hal­lam juntaram-se a Louis Markham e sua acompanhante, uma bela jovem com cabelos loiros ondulados: depois solicitaram que Loren cantasse. Embora tivesse protestado sorrindo, acabara con­cordando e, mesmo que sua voz não fosse espetacular, era bastante agradável de ser ouvida. Cantou uma cantiga de amor cigana, acompanhada por dois guitarristas do grupo de músicos que se apresentara antes. Sua apresentação foi muito aplaudida, e Maria concluiu que o público era constituído de ardorosos admiradores de qualquer coisa que ela fizesse.

Depois disso, houve dança ao som de uma vitrola, e Victor não sugeriu que dançassem, o que deixou Maria aliviada. Estava con­tente em ver que a noite passava rapidamente e, embora ainda quisesse ir embora, pelo menos não estava atrapalhando Adam.

Quando Adam veio procurá-la, estava sentada num sofá a um canto, escutando distraída a discussão entre Victor e Louis a respeito dos benefícios de um tipo diferente de processo. Ambos os homens se levantaram quando Adam chegou perto e Victor espreguiçou-se.

— Veio privar-me de minha companheira? — perguntou em tom de reprovação. — Ainda é cedo.

Adam franziu as sobrancelhas escuras.

— Tarde suficiente — comentou secamente e olhou para Maria. — Está pronta para ir?

Maria levantou-se também, um pouco tonta por causa da at­mosfera pesada e Adam agarrou seu pulso.

— Sim, estou pronta — disse roucamente. — Onde está a srta. Griffiths? Gostaria de agradecer-lhe peia festa maravilhosa.

Os olhos do Adam ficaram mais escuros.

— Não será necessário. Maria — disse rudemente. — Boa noite, Victor, Louis.

Maria sorriu para os dois homens e, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Adam começou a andar, ainda segurando-a pelo pulso, e ela foi obrigada a acompanhá-lo.

Provocaram diversos olhares ao passarem pelos outros hóspedes devido à expressão de Adam; Maria perguntou-se com histeria; nervosa por que ele estava se comportando dessa maneira desa­gradável. Não queria ir embora tão cedo? Desejava ter permitido que Victor a levasse para casa?

No andar de baixo, um mordomo imaculadamente trajado abriu-lhes a porta, desejando-lhes polidamente "Boa noite, senhor, se­nhora!", mas Adam mal lhe respondeu, apenas acenou e empurrou Maria para fora da porta.

Fora, o ar da noite estava frio e agradável, mas foi demais para Maria, e ela se agarrou fracamente no corrimão de ferro que levava à rua, sentindo-se tonta. Adam parou e virou-se para olhá-la com os olhos muito escuros à fraca luz da rua.

— Pelo amor de Deus, Maria — disse zangado —, quanto você bebeu esta noite?

Maria sentiu-se levemente enjoada e pôs uma das mãos na testa tímida, tentando manter o equilíbrio.

— Oh, não, Adam, por favor — sussurrou trêmula. — Só estou me sentindo um pouco estranha, mais nada.

Adam apertou os lábios silenciosamente e, segurando-a pelo braço, conduziu-a pelos degraus. Com a ajuda dele, atravessaram a ampla praça, entraram na cavalariça onde o carro estava esta­cionado. Estava muito escuro e ela quase caiu, mas Adam estava bem firme e já abria a porta do carro para ajudá-la a entrar com toda a gentileza que normalmente reservava para os pacientes. Depois deu a volta e entrou, ligando o motor, sem falar.

Saíram da cavalariça e da praça, e, enquanto se dirigiam a Kensington, Maria sentiu-se obrigada a dizer alguma coisa. Olhan- do nervosamente para ele, disse:

— Está zangado comigo, Adam?

Adam olhou-a enquanto apertava com força o volante.

— Por que pensa isso? — perguntou, com certo sarcasmo. — Pelo amor de Deus, Maria, o que pensa que sou?

Maria apertou convulsivamente a bolsa.

— Não sei o que está querendo dizer — respondeu, pouco à vontade. Adam não conseguiu engatar a marcha e praguejou baixinho.

— Deveria saber o que estou querendo dizer — disse em tom forçado. — Jamais alguém lhe falou a respeito dos efeitos do álcool?

Maria suspirou.

— Claro que sim. Não estou bêbada, se é isso que quis dizer. Adam soltou uma exclamação de desdém.

— Então está fingindo estar bêbada muito bem — vociferou. — Há mais maneiras de intoxicar-se do que as que pode imaginar. Só porque é capaz de articular as palavras coerentemente não significa que esteja livre de outros efeitos.

A rosto de Maria estava ardendo.

— Você adora humilhar-me, não é? Adam fitou-a com impaciência.

— Se isso fosse verdade, teria deixado você ficar mais algumas horas na festa até não conseguir mais alcançar a porta sem ajuda.

— Não é verdade! — Maria estava escandalizada e durante o resto do percurso ficou calada, odiando-o por sua crueldade. Chegaram a Virgínia Grove e Adam conduziu o carro até a entrada silenciosamente, parando na posição habitual. Maria atrapalhou-se com o trinco da porta e saiu; mais uma vez o ar noturno foi demais para ela e teve do lutar para conseguir chegar à porta da frente sem outros desastres.

Adam seguiu-a, alcançando-a para pôr a chave na fechadura e abriu a porta para que ela entrasse no saguão. A casa estava às escuras, e Maria pensou que a sra. Lacey devia estar deitada. Afinal, já era tarde e a empregada não tinha idéia da hora que eles voltariam. Dirigiu-se para a escada, mas a voz de Adam a deteve.

— Não acha que seria melhor tomar um pouco de café? Poderá acordar com uma forte dor de cabeça amanhã.

Maria virou-se, segurando-se no corrimão.

— Obrigada, estou muito bem.

Adam encolheu os ombros com indiferença.

— Como quiser — disse.

Maria hesitou. Teria apreciado o café, mas nesse momento não poderia suportar mais o sarcasmo de Adam e continuou o subir a escada. Ouviu a porta da cozinha fechar-se atrás dele e desejou descer para ficar com Adam, não importava o que ele dissesse. Tinha pouco orgulho no que se referia a ele, acabara de descobrir isso e só o amor próprio evitava que bancasse completamente a tola. Seriam assim todas as mulheres, destinadas a amar os ho­mens mesmo quando eles as desprezavam e humilhavam? Amar os homens... Maria apertou a boca com a mão e entrou no quarto. O quarto girou quando se abaixou para acender o abajur, e esperou que tudo voltasse ao normal, antes de tentar despir-se. Talvez tivesse sido melhor tomar o café. Pelo menos teria tido o efeito de acalmar . seu organismo, que parecia bastante desequilibrado nesse momento. Abriu o zíper do vestido e tirou-o pelos pés, depois jogou-o des-cuidadamente sobre a cama. Foi até a penteadeira e, pegando a escova, começou a escovar o cabelo. A tarefa era calmante, e logo depois sentiu-se melhor. No entanto, quando recolocou a escova no lugar, uma grande mariposa voou em sua direção, saindo do lugar ao lado do perfume; surpresa, Maria levantou-se para fugir da mariposa. Seu gesto repentino fez o banquinho da penteadeira cair, o que provocou uma pancada que ecoou pela casa silenciosa. A mariposa voou em direção as janelas; com dedos trémulos Maria abriu a vidraça para que pudesse escapar. Então fechou novamente a janela e apoiou-se nela debilmente, os olhos fechados.  

Repentinamente a porta abriu-se e Adam parou à soleira, olhan­do-a com ansiedade.

— Maria! — exclamou, enquanto reparava no banquinho caído no chão. — Maria, você está bem?

Maria afastou-se da janela ainda vacilante e anuiu.

— Sim, estou bem.

Adam entrou no quarto, endireitando o banco.

— Caiu sobre isto? — perguntou.

Maria percebeu como estava pouco vestida e pós uma das mãos na garganta, para proteger-se.

— Não, claro que não — negou defendendo-se. — Havia uma mariposa. Ela me assustou, só isso.

Adam olhou-a com ar de dúvida e, de repente, ela o enfrentou; antes sentira-se fraca e agora o confronto inesperado despertou seu mecanismo de defesa.

— Não acredita em mim? Pensou que tivesse morrido por coma alcoólico ou algo parecido?

Adam aproximou-se dela, pegando-a pelos ombros e olhando-a com fúria.

— Fique quieta! — vociferou. — Quer acordar a sra. Lacey? Maria apertou os lábios com rebeldia.

— Isso não ficaria bem, não é? — provocou-o. Adam apertou-a com força.

— Talvez a surpreenda saber que estava preocupado com você — disse selvagemente. — Temi que se tivesse machucado.

Maria respirou com dificuldade.

— E o que teria feito se eu me machucasse mesmo? — perguntou roucamente. — Ia cuidar de mim com aquele maravilhoso com­portamento de médico que reserva para seus pacientes?

— Maria, estou prevenindo você. — Adam movia incessante­mente os dedos sobre sua pele. — Está brincando com fogo!

Maria ficou com as pernas moles,

— Estou? — murmurou suavemente, percebendo de repente que o modo como Adam a estava olhando era diferente de como sempre a olhara. — Como?

— Não sabe? — perguntou ele roucamente. Depois, com um gemido, acariciou-lhe os ombros macios e as costas, apertando seu corpo contra o dela. Maria abriu os lábios involuntariamente e os olhos dele escureceram quando aproximou a boca dos lábios dela.

Houve um momento em que ele poderia ter recuado, mas a reação dela foi tal que quase sem querer, endureceu a boca, e o beijo que começara timidamente tornou-se intenso e apaixonado. Maria segurou-o pelo pescoço, acariciando-lhe os cabelos e aper­tando mais contra ele, o que o fez protestar, auto-recriminando-se.

— Maria, isto é loucura — murmurou em tom abafado, acari­ciando-a quando poderia tê-la afastado, mas Maria segurou-lhe o queixo com as mãos, colando novamente a boca a dele; o calor de sua pele destruiu-lhe a vontade de deixá-la. — Meu Deus — gemeu ele roucamente. — Quero você! — Procurou com a boca a suavidade da garganta e dos ombros de Maria. — Não me deixe fazer isto! — Circundou-lhe a garganta com uma das mãos. — Você é tão, tão intocada!

Quase ao mesmo tempo ambos perceberam que alguém os es­tava observando, alguém que estava apoiado no batente da porta do quarto de Maria, uma das mãos na garganta e uma expressão atônita no rosto.

Imediatamente Adam afastou Maria e sua expressão refletiu

sua surpresa.

— Mamãe! — exclamou, ainda incrédulo.

— Geraldine!— A exclamação abafada de Maria foi quase inau-dível quando fitou a mãe de Adam.

Geraldine Sheridan olhou-os longamente, depois disse:

— Maria, minha filha, é muito tarde e deve estar cansada. Vá para a cama. Podemos conversar de manhã.

Pousou os olhos sobre o filho, que estava passando a mão pelo cabelo revolto, tentando arrumá-lo. Enquanto ela o observava, ele afrouxou o nó da gravata e desabotoou o paletó do smoking.

— Adam — disse ela friamente —, quer vir ao meu quarto? Precisamos conversar.

Adam respirou profundamente.

— Qualquer coisa que tenha para dizer, mamãe, deverá ser dita aqui e agora. Não sou um garotinho nem tenho o hábito de entrar no quarto de Maria. O que viu foi o resultado das circuns­tâncias e da champanhe em demasia por parte de Maria! — Fle­xionou os músculos dos ombros, cansado. — Por que não me avisou que viria ou seus motivos eram semelhantes aos de Maria quando ela chegou tão repentinamente?

— Adam! — A voz de Geraldine soou fria. — Quero falar com você.

— Bem, mamãe, agora não estou com vontade de falar — mur­murou Adam enfaticamente. Olhou para Maria com expressão velada.

Geraldine arrumou as dobras do chambre.

— Vamos pelo menos deixar que Maria vá para a cama — sugeriu e saiu majestosamente do quarto.

Adam hesitou por um instante e olhou para Maria.

— Você está bem? — perguntou suavemente e o rosto dela ficou rosado.

— E você está? — retrucou roucamente; Adam deixou o olhar demorar-se sobre sua boca de modo que ela sentiu como se ele a tivesse tocado.

— Não — respondeu ele tenso. — Nunca deveria ter começado algo tão desastroso. — Caminhou até a porta, depois olhou nova­mente para Maria. — Devo pedir desculpas?

Maria virou o rosto.

— Não, oh, não! — exclamou, tremendo e ouviu-o fechar a porta silenciosamente.

De manhã, Maria sentia-se horrível. A parte o fato de ter dormido mal, a cabeça doía-lhe muito, como dissera Adam. Além disso, temia encarar Geraldine e as inevitáveis perguntas que se seguiriam.

Foi só depois das dez que conseguiu levantar-se e descer; Adam saíra para a cirurgia há algumas horas. Vestiu um jeans e um suéter canelado, sentia-se deprimida, apreensiva e incapaz de en­frentar o dia que tinha diante de si.

Encontrou a madrasta na sala, lendo o jornal da manhã; ergueu os olhos e sorriu quando Maria entrou.

— Oh, levantou-se finalmente — disse ela. — Vou dizer à sra. Lacey que vamos tomar café. Quer comer alguma coisa?

Maria encolheu os ombros.

— Não, obrigada, mas posso ir falar com a sra. Lacey.



  

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