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  CAPÍTULO III 6 страница



Parou diante dos portões de uma estalagem que ficava afastada da estrada e cujo fundo confinava com o rio. Os trovões pareciam ter diminuído bastante, embora o ar ainda estivesse pesado, quando Adam estacionou o Rover. Maria saiu do carro sem esperar sua ajuda; depois de fechar as portas do carro, encaminharam-se para a entrada.

Em volta da casa havia uma varanda; segundo Adam, Maria observou que atrás da construção havia um pequeno ancoradouro com um ou dois barcos. Salgueiros tocavam a superfície da égua, providenciando sombra em tardes de sol. Era muito atraente e Maria esqueceu sua apreensão ao apreciar a paisagem.

No entanto, havia poucas pessoas e 0 proprietário foi ao encontro de Adam com um amplo sorriso.

— Olá — disse, o que deu a Maria a certeza de que eram velhos conhecidos. — O que posso oferecer-lhe hoje?

Adam sorriu, passando a mão pelo cabelo; tinha uma aparência consideravelmente mais jovem do que quando seu rosto estava sério.

— Só chá, Bert, e alguns dos bolinhos de Linda.

— Está bem — Bert assentiu, e foi buscar o pedido, enquanto Adam indicava que podiam sentar-se à mesa da varanda, perto do parapeito, sobre o ancoradouro e o rio.

Maria sentou-se, sentindo-se levemente nervosa, e olhou para o rio onde uma família de patos estava mergulhando entre os juncos. Aí tudo era calmo, sossegado. Era difícil acreditar que estavam a poucos quilómetros de Londres. Segurando o queixo com a mão, jogou os cabelos para trás e suspirou. Depois percebeu que estava sendo observada por Adam e tentou não notá-lo.

— A sra. Lacey vai se perguntar onde você está — comentou ele estranhamente.

Maria olhou rapidamente para ele.

— Não disse a ela que ia encontrar-se comigo?

— Não. — Seu tom foi seco.

— Por quê?

Encolheu os ombros, acendendo um charuto.

— Não tenho o costume de prestar contas de meus movimentos, a menos que esteja de plantão, e hoje à tarde não estou de plantão.

— Ela ficará preocupada. Normalmente estou em casa por volta das quatro e meia.

Adam ergueu as sobrancelhas num gesto de indiferença e ela desviou o olhar, perguntando-se se devia entrar e pedir para usar o telefone. Depois ocorreu-lhe, sem motivo aparente, que Adam podia não querer que a sra. Lacey soubesse que tinha convidado Maria para tornar chá. Se Loren Griffiths telefonasse, certamente a sra. Lacey ia dizer-lhe onde ele estava, e isso não agradaria à outra mulher.

Maria mordeu o lábio e Adam olhou-a pensativo.

— Pelo amor de Deus, vá telefonar, se isso significa tanto para você! — esbravejou ele. — Certamente a sra. Lacey não chamará uma patrulha de busca porque você está meia hora atrasada.

Maria ia dizer que iria atrasar-se mais do que meia hora mas guardou esse pensamento para si mesma; nesse momento Bert chegou com uma bandeja contendo chá para dois, bolinhos quentes com geléia e creme e uma grande variedade de doces. Colocou a bandeja diante de Maria, que, depois de Bert ir embora, serviu o chá e ofereceu-o a Adam.

Adam tomou duas xícaras de chá, mas não comeu nada, e Maria teve de mostrar que os bolinhos eram tão deliciosos quanto pare­ciam. Mesmo assim, ela também não estava com muita fome e sentiu-se aliviada quando Adam apagou o charuto e perguntou se ela estava pronta para ir embora.

Ele disse até logo a Bert, parando na porta da cozinha para uma palavrinha com a mulher de Bert, Linda; depois voltaram para o carro. Ele abriu a porta de Maria e ela entrou rapidamente, alisando a saia sobre os quadris. Ele deu a volta ao carro e sentou-se ao lado, e ela pensou, com um arrepio de excitação, como seu relacionamento agora era diferente do que fora quando ela o vira pela última vez, tantos anos atrás, em Kilcarney. Então ela era uma estudante, sem nada de especial, com um uniforme de ginástica azul-marinho e uma blusa branca. Não se lembrava do que ele lhe tivesse dito algo, a não ser que puxara seu rabo-de-cavalo algumas vezes e a chateara por causa de sua conversa de adolescente. Talvez ele pensasse que era ainda a mesma. As pessoas têm a tendência de lembrar as coisas como eram sem pensar na maturidade que sempre se segue. Com Adam era diferente. Cinco anos atrás era o mesmo; no entanto, agora ela era uma mulher e não mais uma criança.

Adam soltou o colarinho e afrouxou a gravata.

— Está quente demais! — murmurou, dando a partida. Olhou para Maria uma vez, notando como estava atraente com um vestido' sem mangas, listrado de vermelho e branco, cuja saia curta deixara] as pernas à mostra, e notou o rubor repentino em seu rosto, que se devia menos à temperatura do que a suas emoções perturbadoras.

Adam conduziu o Rover para fora do estacionamento e parou na entrada, olhando atentamente para a esquerda e para a direita.

— É uma pena que não tenhamos roupa de banho — comentou

secamente. — Conheço um lugar perto daqui onde poderíamos nadar.

— Parece ótimo — murmurou ela sem jeito, e ele a olhou rapidamente.

— Não está sugerindo que deveríamos desrespeitar as conven­ções, não é? — perguntou severamente,

— Claro que não. — Seu rosto queimava. Adam ergueu as sobrancelhas escuras.

— Você me surpreende. Com sua maneira moderna de encarar a vida, não pensei que considerasse essencial ter roupa de banho!

— Seu tom era deliberadamente ferino.

Maria virou a cabeça, concentrando-se num inseto que tentava desesperadamente escapar através de uma das janelas.

— Não tem o direito de dizer-me tal coisa! — disse tensa. — Foi para isso que me trouxe aqui? Para humilhar-me de todas as formas que puder?

Adam engrenou o carro e entrou de repente na estrada, no sentido que levava de volta à cidade. Não falou mais nada, e Maria não poderia participar de uma conversa, se ele tivesse ten­tado faiar. Depois dos dez minutos tensos que haviam acabado de passar, sentia-se mole e abalada; não podia entender por que Adam desejara ser tão brutal. Por um instante, olhara-a como se a odiasse, e isso a fizera sentir-se fraca e trémula.

Entraram num engarrafamento na periferia da cidade, porém Adam saiu das avenidas principais, passando por um labirinto de ruas secundárias, até saírem na avenida que levava a Virgínia Grove. Ele parou o carro perto do bosque e, inclinando-se sobre ela, abriu a porta. Por um instante, a rijeza de seu corpo encostou-se ao corpo dela e ela pôde sentir o cheiro suave do tabaco, da loção após-barba e o calor que emanava dele. E nesse instante desejou tocá-lo, desejou tanto que teve de apertar seus livros com força para evitar fazê-lo.

— Obrigada — tentou dizer, sem jeito, e saiu do carro; sem uma palavra, Adam bateu a porta e foi embora.

 

 

                                                       CAPÍTULO VIII

Durante o resto da semana Maria viu Adam pou­cas vezes e disse a si mesma que estava contente. Teve muito trabalho no colégio e, no fim da tarde e à noite, ocu­pava-se com os estudos. Larry Hadley telefonou-lhe no sábado de manhã, convidando-a para jogar tênis. Maria aceitou, decidindo que esse era o melhor método de mostrar a David que não tinha intenções de envolver-se seriamente com qualquer um dos dois. No entanto, David estava lá e ele e Larry passaram a tarde olhando um para o outro com hostilidade pouco contida.

No domingo, Maria tomou banho de sol no jardim, pela manhã. Adam desapareceu depois do café e a sra. Lacey disse a Maria que ele havia ido jogar golfe com um de seus colegas. Durante a tarde ela leu. Adam não voltou para o almoço e já era quase noite quando ela ouviu o carro chegar. Depois não o viu mais. Adam voltou para casa, trocou-se e desapareceu novamente antes do jantar. Ela não precisava perguntar aonde havia ido. Podia adivinhar.

Quase na metade da semana seguinte, Adam voltou a casa para jantar e deixou cair um envelope branco diante de Maria. Ela, que só trocara com ele cumprimentos distantes, na última semana, levantou os olhos, surpresa. Ele a olhou desafiadoramente e disse:

— É um convite. Abra-o!

Maria hesitou, depois obedientemente abriu o envelope. Dentro havia um cartão branco gravado com letras douradas. Para sua surpresa, descobriu que era de Loren Griffiths, convidando-a para um buffet em sua casa de Londres, na sexta-feira à noite.

Maria leu o convite mais uma vez, depois olhou inexpressiva-mente para Adam.

— Por que fui convidada? — perguntou, com mais calma do que realmente sentia.

Adam levantou os ombros com indiferença.

— Imagino que seja porque ela achou que você se divertia. Maria abaixou os olhos antes que ele pudesse ler o ceticismo

que continham. — Bem, não irei, naturalmente.

— Por quê? — Adam foi rude.

— Porque não conheço ninguém, lá. Os amigos de Loren Grif-fiths não são meus amigos.

— Eu estarei lá.

— Sim, eu sei. — Maria mordeu o lábio. Não ousava dizer que era pouco provável que ela o visse com Loren por perto. — Além disso — continuou, procurando uma desculpa —, não tenho nada para vestir.

— Tem tempo de sobra para comprar alguma coisa.

— Então, está bem — disse com certa relutância. — É que não quero ir.

Adam soltou uma exclamação:

— Por quê, pelo amor de Deus?! Pensei que ia achar um acon­tecimento interessante.

— Você pensou? — Maria olhou para cima. — Então você su­geriu que eu deveria ser convidada. Devia ter sabido!

Adam passou a mão pelos cabelos.

— Estou tentando manter a calma, Maria, mas você torna as coisas muito difíceis!

Maria pôs o cartão de volta no envelope.

— Não tem de se preocupar comigo. Já lhe disse antes.

— Maldição! Não diga mais nada! — vociferou com violência. — Loren a convidou e o mínimo que você pode fazer, decentemente, é aceitar.

— Mas ela nem mesmo gosta de mim.

— Você mal a conhece — retrucou Adam. — Por que deveria imaginar que ela não gosta de você?                                           

Maria encolheu os ombros, não querendo começar uma discus-são sobre seu relacionamento com Loren.

— Não é bem esse o ponto — disse ela.

— Então qual é o ponto? — inquiriu Adam ironicamente. — Que desculpa vai dar quando recusar o convite? Devo dizer-lhe que não tem idade suficiente para participar de uma reunião de adultos como essa ou prefere dizê-lo você mesma?

Maria sentiu-se atingida por aquele tom zombeteiro.

— Eu só não quero envolver-me, mais nada! — exclamou. — por que, de repente, ela decidiu convidar-me? Precisa demonstrar niais uma vez que você é sua propriedade exclusiva?

Adam parecia querer usar a força física contra ela e ela desviou o olhar de seus olhos penetrantes e escuros.

— Que mente pequena e miserável você tem, Maria — disse ele com desdém. — Você tem a idéia ridícula de que o meu rela­cionamento com Loren não é convencional. Precisa categorizar tudo, pôr rótulos nas pessoas, como se fossem coisas. Bem. assim não pode ser. Quanto antes perceber isso, melhor.

— Não sei o que está querendo dizer. — O rosto de Maria queimava.

— Oh, sim, sabe. Está constante mente sondando, tentando su­gerir que, no que se refere a Loren, não tenho vontade própria. Talvez lhe interesse saber que eu gosto do nosso relacionamento!

— Não quero saber nada sobre isso — gritou, respirando de­pressa. — E pode dizer a Loren Griffiths o que quiser! — E com isso correu para fora da sala.

No quarto, jogou-se sobre a cama, afundando o rosto nas cobertas macias. Adam conseguia ser tão cruel e ela era uma tola por permitir que a ferisse tanto. No entanto, quase sem que percebesse, tudo o que Adam dizia ou fazia tornava-se importante para ela, e a corrosiva angústia que ele despertara dentro dela não podia mais ser ignorada. Suas razões para evitar a festa de Loren Griffiths tinham menos a ver com a própria atriz do que com a tortura de ver Adam com ela, perto dela, falando-lhe, fazendo-lhe carinhos...

Apertou a mão trêmula contra a boca. Devia parar de pensar nisso. Não importava o que acontecesse, Adam a via apenas como uma criança, uma espécie de irmã, o envolvimento deles era au­mentado pelo relacionamento de sua mãe com o pai dela. Sem esse relacionamento, ele nunca a teria notado. Encontrava dúzias de moças como ela em seu trabalho moças para as quais sorria, falava e depois as esquecia. Mas quando se tratara de problemas emocionais, escolhera alguém como Loren, uma mulher tão bonita e sofisticada quanto experiente, capaz de satisfazê-lo de todas as maneiras. Ela era imatura, como ele dissera, e sua recusa em aceitar o convite de Loren era uma prova disso.

Mordendo os lábios, levantou-se decididamente da cama. Ia pro­var que não era uma criança. Iria à festa de Loren e mostraria a Adam que podia ser adulta e interessante para outros homens, já que não o era para ele.

Quando entrou na sala de jantar de novo, encontrou Adam lendo o jornal da tarde, enquanto se servia de um pedaço do delicioso bolo de morangos da sra. Lacey; sentiu, com uma frustração crescente, que sua discussão não tivera efeitos visíveis sobre ele.

Ele olhou para cima, quando ela se aproximou da mesa, e disse:

— A sra. Lacey levou seu jantar. Pensou que não estivesse com fome.

Maria apertou os lábios.

— Não estou — retrucou altivamente, depois reuniu toda sua segurança e acrescentou: — Pode dizer à srta. Griffiths que ficarei encantada era aceitar o convite para sua festa.

Adam apertou os olhos.

— Você vai?

— Sim.

Ele levantou os ombros num gesto eloquente.

— Muito bem — respondeu friamente. — Eu mesmo a levarei. Esteja pronta às nove.

Maria esteve a ponto de dizer que preferia ir sozinha, mas percebeu que isso também pareceria infantil, o que era verdade.

— Está bem — disse, fazendo um gesto com a cabeça. — Obrigada.

Na sexta-feira à tarde Maria passou horas em seu quarto, arru­mando-se. Estava decidida a mostrar sua melhor aparência e desejou que Geraldine estivesse por perto para aconselhá-la. No passado, a mãe de Adam interessara-se ativamente em ajudá-la a escolher as roupas, e, sem sua orientação, o pai de Maria teria considerado o tipo de roupas que ela usava inadequadas e extravagantes.

Na quinta-feira à tarde, após as aulas, Maria caminhara pelas lojas em Knightsbridge, procurando algo para vestir, e finalmente, numa butique, encontrara exatamente o que queria. Era um ves-tido longo, em estilo de caftan, com grandes mangas e gola alta; fundo azul estampado de dourado c verde. A simplicidade do mo­delo era compensada pela cor, que combinava muito bem com sua pele ligeiramente escura e o cabelo castanho. Usou pouca maqui- lagem, iluminando apenas os olhos e os cílios, e passou nos lábios um batom incolor.

Eram quase nove horas quando se aventurou a descer e en­controu a sra. Lacey no saguão. A empregada olhou-a com o cenho franzido e riu.

— Bem, bem — disse, apreciando o vestido —, está muito bonita.

Maria mordeu o lábio.

— Acha que estou bem? Não é brilhante demais ou algo parecido?

— Não, senhorita, pelo menos não adere como uma segunda

pele, como certos vestidos de noite.

Maria olhou as pregas suaves em torno das pernas e dos quadris.

— Acho que um vestido desses não me ficaria bem — murmurou.

— Talvez a srta. Griffiths... — Parou e deu de ombros, e a sra.

Lacey acenou com a cabeça, concordando.

— Oh, sem dúvida ela ofuscará a todas — disse resignadamente, e Maria teve de sorrir.

— A senhora não gosta dela, não é?

A sra. Lacey abriu a boca para responder, depois ambas per­ceberam que a porta da sala se abrira e Adam estava apoiado ao batente da porta, olhando-as. Maria nunca o vira de smoking, antes, e o escuro do traje acentuava o tom escuro de sua pele, o colarinho branco formando uma linha divisória. Estava perturba-doramente atraente, e a cor de Maria acentuou-se, ao sentir os olhos dele passarem por ela.

— Está pronta? — perguntou, com voz fria e sem expressão.

— Estou. Preciso levar um casaco?

— Acho que não. Está uma noite quente. Podemos ir?

Cumprimentou a sra. Lacey com um aceno da cabeça e adian­tou-se para abrir a porta, deixando que Maria saísse primeiro. Embora fosse uma noite quente, Maria tremeu involuntariamente, perguntando-se o que havia com Adam que a reduzia a um trêmulo amontoado de nervos. Ele abriu o Rover e ajudou-a a entrar, do­brando a saia para que não ficasse presa na porta. Depois sentou-se ao seu lado e acendeu um charuto, antes de ligar o motor. Olhou para os lados e saiu habilmente do estacionamento, conduzindo com facilidade o carro até a avenida principal.

Maria concentrou-se na estrada, considerando, com uma sen­sação desagradável, se fizera bem em aceitar o convite. Uma coisa era pensar na idéia na segurança de seu quarto, outra bem dife­rente era realizá-la. Porém agora já se comprometera e o melhor era aproveitar o máximo.

Adam brecou de repente, quando um Mini entrou perigosamente à sua frente, e Maria segurou-se ao banco para não ser atirada para a frente. Adam soltou uma exclamação não muito gentil, depois lançou-lhe um olhar, como se o incidente imprevisto com o outro carro o tivesse feito lembrar-se da presença dela.

— Diga-me — disse, com sarcasmo proposital —, fala a meu respeito com a sra. Lacey também?

Maria virou a cabeça de repente. Estivera tão absorta era seus pensamentos que a cena passada no saguão saíra-lhe completa-mente da cabeça. Mas não ia dar-lhe a satisfação de desconcertá-la mais uma vez; com relutância estudada, retrucou:

— Às vezes.

Sua resposta naturalmente o surpreendeu, pois lançou-lhe um olhar rápido de apreço antes de dizer:

— Sem dúvida, terá muito que dizer depois desta noite. Maria não respondeu. Sabia que ele só estava tentando ator-

mentá-la e não queria dar-lhe o prazer de vê-la aborrecida. Voltou a concentrar a atenção no cenário que se desenrolava do lado de fora, achando o panorama constantemente mutável mais do que satisfatório. Havia algo cativante em Londres, à noitinha, as ruas repletas de turistas de todas as nacionalidades. Desejou conhecer bem a cidade para poder passear em segurança e sorriu para si mesma, ao lembrar os primeiros dias que passara na Inglaterra e o encontro com a desconhecida no parque. Adam percebeu seu divertimento e disse:

— Algo engraçado? — E ela suspirou, relaxando um pouco.

— Estava pensando naquela mulher que falou comigo no parque — disse.

— Pensando nisso agora, parece que aconteceu há muito tempo.

— Sim, você foi bastante maluca — observou Adam com ar de troça. — Espero que não vá ter dificuldades sociais hoje à noite. Tem a especialidade de fazer amizade com as pessoas erradas!

Maria sentiu-se furiosa.

— Como ousa dizer tal coisa? — exclamou zangada. — Só porque falei com uma mulher que parecia inofensiva, você age como se

- eu tivesse o costume de me meter em situações complicadas!

— E não tem? — perguntou Adam secamente.

— Recuso-me a discutir com você. Não sei o que há com você. Convidou-me a acompanhá-lo a esta festa. Se soubesse que ia com­portar-se assim, teria chamado um táxi. O seu não é o único transporte de Londres, sabe? Talvez, se eu tivesse falado com a srta. Griffiths, ela teria dito que eu podia convidar David ou Larry, e poderia ter ido com eles. Pelo menos não ficam brigando o tempo todo!

Da maneira como seus dedos apertaram o volante, Maria sentiu que o atingira, e esse pensamento deu-lhe certa satisfação. Se não queria que ela viesse, por que insistira tanto quando lhe entregara o convite? Ela estava certa de que ele poderia persuadir Loren a não mandar o convite. Adam estava deliberadamente destruindo sua pouca segurança, e ela desejou que houvesse um meio de feri-lo assim como ele a estava ferindo.

A pequena praça onde ficava a casa de Loren já estava cheia de automóveis, quando chegaram, e Maria se sentiu inquieta. Se, por um lado, ficou aliviada, ao ver que havia uma multidão de convidados no meio dos quais poderia passar despercebida, por outro sentiu apreensão por ter de entrar na casa de Loren e en­contrar tantas pessoas estranhas, e, provavelmente, sozinha. Tinha certeza de que Loren faria com que ela e Adam ficassem separados. O próprio Adam dissera que gostava do seu relacionamento com Loren, e, sem dúvida, preferiria qualquer companhia à de Maria. Adam conseguiu estacionar o carro numa pequena cavalariça e os dois caminharam juntos pela praça até a casa de Loren, que res­plandecia de luzes mesmo sendo cedo e estando ainda claro do lado de fora. Os fracos acordes da música provinham do andar superior e Maria imaginou se haveria dança também. Esperava que não. A parte alguns poucos ritmos modernos, não conhecia danças de salão. Adam olhou para ela enquanto atravessavam a praça e disse:

— Onde comprou esse vestido? Maria olhou para baixo, embaraçada.

— Numa butique em Knightsbridge retrucou, já na defensiva.

— Gosto dele — disse Adam decididamente. — Fica muito bem em você.

Seu comentário foi tão inesperado que Maria lhe lançou um olhar surpreso e encontrou seu olhar.

— Fico feliz por ver que alguma coisa lhe agrada — murmurou suavemente; subitamente ele sorriu, mostrando os dentes muito alvos à luz fraca.

— Você me agrada quando evita fazer comentários desneces­sários sobre coisas que não entende — disse ele, pegando o cotovelo dela, os dedos apertando a pele macia do braço.

O toque de sua mão provocou um arrepio de prazer na espinha de Maria e ela se perguntou o que ele faria se lhe pedisse para não abandoná-la assim que entrassem na casa de Loren. Com ele, podia quase acreditar que se divertiria; no entanto, se ele ficasse com Loren...

Quando entraram na casa, ele tirou a mão e uma criada unifor­mizada levou Maria ao toalete das senhoras. Maria não desejava especialmente ir ao toalete, mas não teve escolha, pois Adam se virou para falar com alguém que conhecia e só lhe restou seguir a criada. O saguão estava cheio de hóspedes que tiravam os casacos e conversavam, e, se Adam estava à vontade, com certeza ela não sentia o mesmo.

O toalete não era melhor; depois de olhar-se num dos muitos espelhos que ornavam as paredes, decidiu que não queria checar mais perto. Observou as jóias de algumas mulheres e o modo como seus vestidos brilhavam quando se moviam, e olhou com certa dúvida para o seu próprio vestido. Seu cabelo também, sedoso e liso, descia-lhe solto até os ombros, enquanto a maioria daquelas mulheres usava elaborados penteados, cheios de efeito. Lançaram-lhe diversos olhares, mas ninguém falou com ela; depois de um instante, abriu a porta e foi novamente para o saguão.

Por um momento não conseguiu ver Adam e seu coração quase parou de bater. Mas lá estava ele, ainda falando com o homem perto da porta, e pareceu-lhe maravilhosamente querido e familiar. Abriu caminho até ele, pegando sua mão para chamar-lhe a atenção, e ficou surpresa quando ele fechou os dedos sobre os dela, puxando-a para perto de si. Olhou-a preguiçosamente e lhe perguntou:

— Onde estava? — num tom quente e íntimo. Maria esboçou um leve sorriso.

— No toalete — respondeu. — A empregada praticamente ob­rigou-me a ir até lá. O que fazemos agora?

Adam olhou para o homem com o qual estava e disse:

— Esta é minha meia-irmã, Louis. Maria, este é Louis Mark-ham, um dos mais conhecidos colunistas de Fleet Street.

Maria sorriu e deixou que Louis Markham apertasse sua mão; depois, com consentimento mútuo, todos se moveram em direção à escadaria.

Maria olhou ao redor com interesse indisfarçável. Era a primeira oportunidade que tinha de olhar o lugar onde estava e notou as paredes recobertas com tapeçarias e a delicadeza do lustre que iluminava o caminho para cima. Um tapete azul muito macio ab­sorvia o som dos passos e o branco balaústre de ferro batido era delicadamente enfeitado com motivos de folhas. No alto da escada, a plataforma fora ampliada e batentes em forma de arcos condu­ziam para uma grande sala que, outrora, fora dividida em pequenas salas. Aqui o tapete mudava dramaticamente para vermelho-es-curo e os sofás e poltronas baixos que aí se encontravam era todos feitos de couro macio. A sala estava cheia de pessoas, todas mo­vimentando-se e conversando, e tomando drinques servidos por uma dúzia de garçons que passavam por entre elas. Havia um aroma de perfume, tabaco e álcool, ao mesmo tempo que um gostoso cheiro de comida saborosa invadia todos os ambientes. Era ligei­ramente estonteante, para alguém que jamais participara de tal função, e Maria hesitou na soleira da porta, nervosa.

— Venha cumprimentar sua anfitriã — murmurou Adam em seu ouvido, e Maria respirou profundamente. A qualquer momento Adam ia transformar-se no homem irônico, às vezes sarcástico, que a ator­mentava tão impiedosamente; por enquanto, porém, a estava tratando de igual para igual, o que constituía uma experiência doce-amarga.

Deixaram Louis Markham e encaminharam-se através da mul­tidão, até o lugar em que diversas pessoas circundavam a mulher que estava reclinada num sofá baixo e sorria. O barulho da con­versação fez Maria ficar um pouco tonta, enquanto acompanhava Adam, e uma leve camada de suor cobriu-lhe a testa.

Loren viu Adam assim que ele se aproximou de seu devoto círculo de amigos; ergueu-se do sofá, perturbando os dois homens que esta­vam falando e rindo ao seu lado, e caminhou até o lado de Adam.

— Querido! — exclamou. — Pensei que tivesse dito que viria cedo. São quase nove e meia.

Adam sorriu levemente enquanto as unhas laqueadas de Loren alisavam possessivamente a manga de seu paletó.

— E não é cedo? contrariou-a brandamente. — Sempre pensei que as pessoas de teatro preferiam a vida noturna.

Loren riu, mostrando os dentes pequenos e perfeitos.

— Oh, nós preferimos, sim, querido, mas agora tenho de estar no estúdio todas as manhãs, às sete, e os momentos que passamos juntos são cada vez mais curtos. — Fez uma careta graciosa e Maria forçou-se a olhar para outra coisa que não fossem aquelas mãos tão ciumentamente grudadas em Adam.



  

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