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  CAPÍTULO III 1 страница



Foi com um pouco de relutância que Maria desceu para o almoço. Tinha desfeito as malas e pendu­rado as roupas no armário, sem se empenhar muito na tarefa. Se Loren Griffiths tivesse oportunidade, usaria sua influência junto a Adam para mandar Maria de volta a Kilcarney e essa perspectiva a deixava furiosa.

Pondo de lado esses pensamentos, lavou-se e pós um vestido de saia curta, cor de tangerina, que punha em evidência suas pernas longas e esbeltas, e escovou o cabelo até fazê-lo brilhar. Mesmo assim, só depois que a sra. Lacey a chamou se decidiu a descer.

Enquanto entrava na sala de jantar, assumiu uma expressão de desafio, porém não precisaria ter se preocupado, pois estava só. Mas a mesa estava posta para dois e uma ruga de preocupação toldou sua fronte. Ouvindo passos, voltou-se, esperando ver a sra. Lacey, mas foi o próprio Adam que entrou na sala, e ela sentiu um rubor incômodo subir-lhe às faces.

— Sente-se — disse ele, indicando as cadeiras junto à mesa, e Maria resolveu obedecer a criar qualquer tipo de discussão nessa hora. Adam foi servir-se de um uísque no barzinho ao lado das janelas e Maria observou-o com certa impaciência. Ele a convidaria a acompanhá-lo? E onde estava Loren Griffiths?

Adam voltou, tomando metade de seu uísque, e colocou o copo sobre a mesa. Sentou-se e olhou Maria seriamente, enquanto ela brin­cava com o guardanapo, desejando que ele dissesse qualquer coisa. Finalmente ela perguntou:

— Onde está a srta. Griffiths?

Adam levantou os ombros num gesto comum. — Tinha um compromisso com o produtor dela, acho eu.

— Produtor? — Maria passou a língua pelo lábio superior pen­sativamente. — O que ela é? Atriz?

A expressão de Adam tornou-se ligeiramente zombeteira.

— Você nunca ouviu falar dela?

— Deveria ter ouvido?

Ele fez uma careta, pensativo.

— Talvez não. Mas ela é famosa, principalmente aqui e nos Estados Unidos. Tem tido lá um sucesso considerável.

— Sei. — Maria moveu levemente a cabeça. — Percebi que ela esperava ser reconhecida. Acho que a desapontei, Adam.

Ele apertou os olhos e perguntou brandamente:

— Diga-me exatamente, o que estava acontecendo quando in­terrompi vocês?

As faces de Maria ficaram de um vermelho-brilhante.

— Ela não lhe contou?

— Se tivesse contado, eu estaria perguntando? Maria ergueu os ombros na defensiva.

— Bem, ela disse que eu não deveria ter vindo aqui sem ser convidada e que deveria ter procurado um apartamento para morar com outras moças de minha idade.

— Ela disse isso?! — Adam parecia bastante interessado. — E qual foi sua reação?

Maria apertou os lábios.

— Você pôde vê-la — disse ela brevemente.

— Ah! — assentiu Adam. — Bem, fico feliz por você ter expli­cado. Prefiro a verdade às evasivas. Lembre-se disso, sim?

A sra. Lacey entrou com a comida nesse momento e por algum tempo houve silêncio enquanto os dois se ocupavam com o delicioso almoço que a empregada havia preparado. Então Maria perguntou:

— Você não disse a sua mãe que estava noivo, disse? Adam levantou os olhos.

— Não.

— Por quê? — Maria mordeu o lábio. — Se você tivesse expli­cado, eu não teria dito o que disse.

Adam recostou-se preguiçosamente na cadeira.

— A esta altura, você já deve conhecer bem minha mãe. Acha que ela aprovaria Loren?

Maria descansou os cotovelos na mesa e apoiou o queixo nas mãos.

— Não sei. Talvez. Naturalmente, o mais importante é se você será feliz com ela.

Adam franziu a testa.

— Que conhecimento do mundo!

Maria suspirou.

— Acho que ela não o faria feliz — aventurou-se a dizer francamente.

Adam fitou-a, exasperado.

— Não me lembro de ter pedido sua opinião.

— Não, mas eu já a dei, se é que vale alguma coisa. — Maria examinava as unhas. — Você... você conhece a srta. Griffiths há

muito tempo?

— Há um ano — retrucou Adam, e Maria sentiu que o havia

aborrecido novamente.

Ele levantou-se da cadeira pouco depois, antes de a sra. Lacey trazer o café, e Maria observou-o com certa irritação. Certamente ele não ia deixá-la sozinha novamente. Levantando-se, deu a volta à mesa, unindo os dedos nervosamente.

— Sinto muito. Eu aborreci você, não é? Adam olhou-a impacientemente.

— Você me provoca, Maria. Ainda não estou totalmente con­vencido de que Loren não tinha razão ao sugerir que seria melhor você dividir um apartamento com outras moças.

Maria estranhou.

— Você não está falando a sério!

Adam olhou-a atentamente e encolheu os ombros largos.

— Por que não? Você deve admitir que sua chegada aqui foi um tanto precipitada!

Maria apertou os lábios numa sensação de impotência, sentindo

raiva ao ouvir as palavras ferinas.

— Você agora está tentando me provocar — acusou-o, veemente. Adam passou a mão pelos cabelos. Talvez ela estivesse certa.

Talvez estivesse sendo deliberadamente cruel, mas isso se devia ao fato de a franqueza dela despertar sua irritação.

Voltou-se, ao ouvir o telefone tocar. Abriu a porta e foi atendê-lo. Quando voltou, a sra. Lacey o esperava com a bandeja do café.

— Ora, com certeza o senhor não precisa sair tão depressa, sem tomar seu café, doutor — protestou ela, enquanto Adam se desculpava, dizendo que a chamada era urgente.

Maria interveio, desolada.

— O que houve? — e Adam olhou-a por um momento.

— Um de meus pacientes teve um ataque cardíaco — respondeu rapidamente. — Sinto muito ter de sair, mas acho que isso faz parte do romance da vida de um médico! — Seu tom era irônico e Maria achou que ele estava bem contente por ter a chance de escapar da conversa com ela.

Logo depois ela ouviu o ronco do motor do Rover que partia. Durante a tarde, Maria decidiu sair.

A sra. Lacey não ficou muito satisfeita por ela aventurar-se a ir longe sozinha, mas Maria não ligou às advertências e, levando apenas um casaco de tricô nos ombros, saiu por volta das duas horas. Sentia-se doente e irritada consigo mesma. Era impossível esquecer que no dia anterior estivera cheia de perspectivas e es­perança e hoje sentia-se tão melancólica e abatida.

Tentou lembrar mais coisas a respeito das visitas de Adam a Kilcarney, mas era difícil encontrar qualquer semelhança entre o homem que conhecera e o homem que conhecia agora. Naquela época suas impressões eram as de uma estudante e naturalmente ele impunha respeito por causa da idade e experiência. Mesmo assim, ele se mostrara humano e gentil e durante esse tempo todo Maria formara dele o retrato de um homem agradável, atraente, interessado em ouvi-la e em suas aspirações. Como ele era dife­rente, insistindo em considerá-la um transtorno desagradável! Pela primeira vez, perguntou-se se ele teria recusado a permissão de deixá-la vir, se ela tivesse esperado a resposta à carta da madrasta. Ela fora precipitada, como ele disse? De qualquer fornia, agora não importava mais e, repentinamente, sentiu saudade do calor e do afeto da casa do pai.

Parou em High Street, sem saber com certeza onde estava e lastimou não ter comprado um guia da cidade. No entanto, sempre imaginara que Adam estaria com ela para mostrar-lhe os lugares e nunca pensara que pudesse considerá-la um fardo.

Andou sem rumo, seguindo a rua principal sem muito entusiasmo e casualmente chegou a Piccadilly e, apesar de tudo, sentiu-se inte­ressada em explorar as mecas dos turistas. Tinha uma sensação agradável e suave por sentir-se no meio da multidão, perdendo a identidade entre a massa. Afinal, esta era a cidade sobre a qual lera tão avidamente: "A swinging Londres", como alardeavam todos os guias. Não "dançava'' muito, pelo que Maria podia ver, no entanto sentiu o calor do povo e um pouco da saudade desapareceu.

Passou a tarde andando de um lugar a outro, olhando extasiada as antigas construções que eram tudo o que restava de um passado turbulento. Parou um pouco na ponte da Torre, ficou observando as barcaças passarem e olhando as altas paredes enegrecidas da própria torre. História sempre fora uma de suas matérias prefe­ridas e ela conhecia bem os terríveis crimes que haviam sido co­metidos naqueles calabouços. Outro dia entraria na torre para ver as jóias da rainha e talvez parar um pouco no pátio onde duas rainhas inglesas foram decapitadas. A História inglesa era tão fascinante! Sentia-se a magia do passado em lugares como esse. Havia muitos outros que queria conhecer, e, embora tivesse apre­ciado muito essa tarde, teria sido muito mais interessante se hou­vesse alguém com ela para compartilhar de suas descobertas. Quando o sol começou a desaparecer, sua depressão voltou, e ela ficou pensando na perspectiva de mais um jantar solitário en­quanto Adam se ocupava com seus próprios negócios.

Lágrimas quase vieram a seus olhos, mas ela as reprimiu e começou a andar novamente. Não devia chorar. Não devia entre­gar-se à autocomiseração dessa maneira. Era por sua própria culpa que estava ali e precisava conformar-se se pretendia ficar. Se...

Em Piccadilly Circus parou, sentindo-se totalmente desnortea­da, enquanto muitas pessoas passavam por ela a caminho dos pontos de ônibus ou estações de metrô. Deveria chamar um táxi e voltar para casa, pois não sabia exatamente onde estava, mas as chances de conseguir chamar a atenção de um motorista de táxi nessa hora de rush eram mínimas. Então entrou numa pe­quena confeitaria, pediu café com rosquinhas e decidiu esperar.

Era bem agradável sentar-se perto da janela e observar a mul­tidão passando a caminho de casa. Lá não se sentia tão desanimada e ninguém a estava empurrando ou esbarrando nela. Tomou o café vagarosamente e percebeu que o tráfego, aos poucos, se tor­nava menos intenso. Ao terminar a terceira xícara de café, já era possível andar pela rua sem dificuldade e, enfiando as mãos nos bolsos do casaco de lã, foi andando em direção ao Hyde Park.

Suas pernas estavam doendo, então sentou-se num banco e tirou um dos sapatos para examinar a bolha do calcanhar. Até essa hora não tinha percebido como seus pés doíam realmente e decidiu que teria de tomar um táxi.

Uma mulher de idade veio sentar-se ao seu lado, sorrindo-lhe com simpatia.

— Bem, minha querida, estão me parecendo bem desconfortá­veis — disse ela, indicando as bolhas de Maria.

Maria forçou um sorriso.

— Estão mesmo — admitiu, estremecendo ao enfiar o pé de novo no sapato. — Estive caminhando quase a tarde toda.

A mulher examinou-a com interesse.

— É mesmo, querida? Você não é inglesa, não é? Maria sacudiu a cabeça.

— Não, sou irlandesa.

A mulher sorriu, à vontade.

— Foi o que pensei. Está há pouco em Londres, suponho.

— Oh, sim. — Maria suspirou. — E uma cidade tão grande!

— É sim. É difícil quando você não conhece ninguém. O que está fazendo aqui? Procurando emprego? À espera de algo, com certeza. Em hotel?

— Oh, não. Quero fazer um curso de secretária. — Franziu o cenho. — Gostaria de trabalhar num escritório.

A mulher observou-a detidamente.

— Então é isso? Trabalhar num escritório, hem? Então você não está atrás da fama?

Maria sorriu.

— Acho que não.

A mulher fitou-a penetrantemente.

— E se eu lhe dissesse que posso conseguir-lhe um emprego, num escritório, é claro, sem necessidade alguma do treinamento formal, que você faria?

Maria arregalou os olhos.

— Um emprego? Num escritório? A senhora poderia mesmo?

— Por coincidência, posso. Tenho um amigo, sabe, que está procurando uma moça bonita como você para fazer o arquivo e outras coisas. Trabalho fácil, boa remuneração, ótimas perspecti­vas. Exatamente o tipo de coisa para uma jovem como você.

Maria ficou perplexa.

— Não sei o que dizer.

A mulher sorriu e lhe bateu de leve na mão.

— Não diga nada, querida. Diga-me apenas seu nome, vou te­lefonar para meu amigo e combinarei.

Uma sombra projetou-se sobre elas e Maria olhou para cima, surpresa. Um policial alto estava de pé diante delas, olhando para baixo com solenidade.

— Então, Beatrice — disse ele severamente —, o que está acon­tecendo por aqui? De volta a seus velhos truques, hem?

A mulher levantou-se alisando o casaco de modo defensivo.

— Não sei o que o senhor quer dizer, seu guarda — disse ela altivamente. — Eu só estava sentada aqui, cuidando de minha própria vida, passando algum tempo com esta jovem.

— Isso é verdade, senhorita? — O policial olhou para Maria. — Ela não estava lhe oferecendo um emprego, estava?

Os olhos de Maria eram eloquentes e o policial olhou resigna-damente para a mulher que ele chamara Beatrice. — Oh, meu Deus, Beatrice—disse ele, — E depois de tudo que você prometeu...

A mulher olhou Maria com expressão zangada.

— Eu não fiz nada. Ela lhe disse que eu ofereci um emprego?

— Ela não precisou dizer — retrucou o policial, movendo a cabeça.

— Bem, o senhor está fazendo uma acusação?

— O policial franziu a testa.

— Isso depende.

— Dependo de quê?

— Depende da espécie de emprego que estava oferecendo à moça. Maria ouviu essa troca de palavras com uma crescente sensação

de ansiedade. O que estava acontecendo? A respeito do que era tudo isso? Por que o policial fazia todas essas perguntas? O que a mulher fizera?

Então ele se voltou para Maria.

— Bem, senhorita, o que ela lhe disse?

O olhar perturbado de Maria deslocou-se do rosto inquiridor do policial para o da mulher. Qualquer traço de amizade desaparecera e ela eslava olhando para Maria com uma expressão quase de medo. De repente, Maria decidiu que não queria ser envolvida nisso.

— Não sei — disse ao policial. — Realmente não sei. O policial enrijeceu-se e olhou Beatrice com resignação.

— Você tem sorte — disse secamente. — Uma sorte maldita! Beatrice apertou os lábios.

— Não estava fazendo mal algum — insistiu. — Posso ir agora? O policial encolheu os ombros e olhou de novo para Maria.

— Acho que sim — disse. — Desapareça.

A mulher afastou-se, caminhando rapidamente, apertando o casaco bem junto ao corpo e o policial olhou para Maria com olhos

Preocupados,

— E você, de onde vem? Maria engoliu em seco.

— Ken... Kensington — gaguejou.

— O que está fazendo por aqui?

— Eu estive visitando a cidade — replicou Maria.

— Sozinha?

— Sim.

— Você não tem pai nem mãe?

— Na Inglaterra, não.

O policial sacudiu a cabeça lentamente.

— Você mora sozinha, então?

— Não, moro com o filho de minha madrasta.

— Em Kensington?

— Sim. Ele é médico.

— E ele deixa você vir até aqui, correndo todo tipo de perigo? — O policial parecia atônito.

Maria engoliu em seco novamente.

— Não estou entendendo. Eu só estava sentada aqui, descan­sando os pés, quando aquela mulher chegou e falou-me. Pensei que ela estava apenas sendo gentil e amigável.

O policial olhou-a com ar de piedade.

— Oh, sim, Beatrice ia ser muito gentil e amigável. Pelo menos, até persuadir você de que perderia tempo tentando construir uma vida decente nesta cidade!

Maria levantou-se vacilante.

— Desculpe-me — disse trêmula. — Eu não estou entendendo. O policial suspirou.

— Naturalmente você sabe sobre o que estou falando. Uma moça de sua idade conhece os fatos da vida, ou não?

— O quê? — Maria fitou-o incredulamente. Depois apertou a boca com a mão, sentindo-se levemente enjoada. — O senhor não quer dizer...

— Isso mesmo. — O policial olhou-a com ar de exasperação. — Olhe, pegue um ônibus ou o metro e vá para casa, sim? Volte logo para o filho de sua madrasta. Gostaria de que ele tivesse um pouco mais de cabeça. E lembre-se, não fale novamente com es­tranhos no parque.

Maria sentiu uma onda de horror percorrê-la e com um rápido aceno com a cabeça, afastou-se dele, correndo em direção à rua. De repente sentia-se assustada o a casa de Adam acenava como um santuário abençoado em toda essa cidade hostil.

Agora os táxis estavam vazios e pôde facilmente chamar um deles, aconchegando-se no canto após ter dado o endereço ao mo­torista. Ela achou que ele a olhava com certa dúvida, mas não fez comentários e quando alcançaram o bosque ela desceu com as pernas trêmulas. Tentou encontrar troco suficiente para pagá-lo e depois subiu tropeçando pela entrada de carros até a casa. Enquanto se atrapalhava com a maçaneta da porta, esta foi subita­mente escancarada e ela quase caiu nos braços de Adam.

— Pelo amor de Deus, onde você esteve? — perguntou ele selvagemente e então notou o rosto pálido e assustado de Maria e puxou-a para dentro sem cerimónia, batendo a porta.

Maria ficou tremendo apreensivamente e ele resmungou uma exclamação e precedeu-a a caminho da sala.

— Venha cá! — ordenou, ao ver que ela não o seguiu imedia­tamente. Então com passos relutantes e vagarosos ela obedeceu.

Ele estava pondo conhaque num copo e, enquanto ela hesitava incerta ainda na porta, meteu-lhe o copo na mão e disse:

— Beba isso! Você parece um fantasma!

Maria obedeceu, embora o álcool a fizesse tossir por um instante enquanto descia, queimando, até o estômago. Adam ficou parado, olhando para ela pensativamente. Enquanto o calor da bebida penetrava em seu estômago, ela pensou na aparência triste que devia ter. Terminando a bebida, devolveu-lhe o copo e ele o segurou, continuando a olhar para ela com expectativa.

— Bera? — disse ele com voz controlada. — Já se sente pronta para dar algumas explicações, agora?

Maria moveu-se, na defensiva.

— Você esteve preocupado por minha causa? Adam soltou uma imprecação.

— Você já percebeu que são quase oito horas? — vociferou rudemente. — Fiquei quase maluco de preocupação por você, e você ousa ficar aí parada, perguntando isso!

Maria tremeu sob seu olhar penetrante.

— Sinto... sinto muito.

Adam respirou profundamente.

— Onde esteve? — perguntou tenso. Maria mordeu o lábio.

— Fui conhecer a cidade. Eu não pensei que fosse sentir a

minha falta.

— O que você pretende? — ele voltou-se rapidamente.

Ela tremeu.

— Nada. Mas, bom, pensei que você estaria trabalhando.

— Você só está tentando me contrariar! — disse com raiva. — Só porque fui um pouco rude com você, pensa que pode vingar-se, é isso?

— Não! — Maria estava indignada. — Ora, não foi por isso!

— Então o que foi? Que tipo de bobo você pensa que eu sou? Desaparece por mais de cinco horas e espera que a trate com gentileza! Isto é Londres, Maria, não Kilcarney! Pode ser perigoso para uma jovem sem experiência como você, não acostumada aos problemas de um lugar como este. Será que não pode entender isso?

Depois daquela horrível conversa com o policial, a raiva de Adamfoi demais para Maria. Com os dedos trémulos, cobriu os olhos e virou-se, tentando impedir que ele visse sua humilhação.

Com uma exclamação de impaciência Adam foi até junto dela, fazendo-a virar-se para olhá-lo de frente. Fitou exasperado as lá­grimas que corriam por suas faces, depois deu um suspiro.

— Está bem, está bem — disse roucamente —, sinto muito. Estou sendo um pouco cruel, eu sei, mas você quase me fez perder a cabeça desaparecendo dessa maneira!

O lábio superior de Maria tremia.

— Foi um dia horrível — disse ela com ar deplorável — horrível! Primeiro foi sua zanga no café da manhã, depois aquele negócio com a srta. Griffiths, depois... depois... agora mesmo...

Adam franziu a testa,

— Agora mesmo... o quê? Maria engoliu em seco.

— Eu estava no parque, acho que no Hyde Park e uma mulher começou a conversar comigo. Pensei que ela estava apenas que­rendo ajudar-me. Perguntou-me várias coisas a meu respeito e parecia mesmo interessada. Mas depois um policial chegou e en­xotou-a, dizendo-me que ela...

A voz faltou-lhe.

Adam apertou os lábios com força.

— Não precisa continuar — murmurou severamente. — Por Deus, Maria, você não tem juízo?

Maria fungou, esfregando as faces com os dedos, deixando mar­cas de sujeira.

— Aparentemente, não — sussurrou sufocada.

— Oh, Maria! — Adam sacudiu a cabeça preocupado. — O que vou fazer com você? — Levantou a mão e puxou uma mecha de cabelo sedosos que cobria um dos olhos da jovem. — Acho real­mente que eu mereço ser censurado. Não tentei entender exata-mente os motivos pelos quais veio para cá.

Maria olhou para ele com ar de súplica.

— Não queria ser um estorvo, Adam. Pensei, e sua mãe também, que você gostaria de minha companhia.

— Sim, acredito que minha mãe está por trás disso tudo — comentou. — Só me surpreende seu pai ter concordado.

— Meu pai gosta de você. Confia em você. Pensou que eu estaria

segura com você.

Adam sacudiu a cabeça.

— O que todos vocês parecem ter esquecido é que meu trabalho me deixa muito pouco tempo para ser sociável com alguém.

— Exceto Loren Griffiths — murmurou Maria com amargura, imperceptivelmente, mas Adam ouviu e seu maxilar endureceu.

— Não pretendo discutir meus problemas com você — disse ele com voz cortante. — Nem preciso de sua opinião, lembre-se disso- Mas por enquanto vamos tentar salvar algo da confusão. Você comeu alguma coisa desde que saiu?

— Um pouco de café e uma rosquinha lá pelas seis horas.

— E está com fome?

— Não muita.

Adam examinou-a com resignação. Depois deu de ombros.

— A sra. Lacey saiu para visitar a irmã, hoje à noite. Se você quiser algo para comer terá de confiar em minhas práticas culi­nárias não muito hábeis.

Maria ergueu as sobrancelhas.

— Sei cozinhar — disse baixinho.

Adam inclinou a cabeça com deferência proposital.

— É mesmo? Então talvez gostasse de preparar uma ceia para nós.

Maria arregalou os olhos.

— Você também está com fome? Adam olhou-a ironicamente.

— Bem, como eu só comi uma salada, e isso por volta das cinco e meia, pois a sra. Lacey queria sair cedo, acho que comeria alguma coisa.

— Você gostaria mesmo que eu fizesse...

— Por que não? Temos a casa ao nosso dispor.

— Você precisa, quero dizer... você vai sair de novo? Adam hesitou, depois ergueu os ombros.

— Espero que não — comentou secamente, e Maria também desejou isso, fervorosamente. Mais tarde, sentada com ele à mesa, comendo a omelete de camarão e as batatas fritas que preparara, Maria sentiu-se mais feliz do que em qualquer outra ocasião, desde que deixara Kilcarney. Assim ela imaginara que seria, falar com Adam sobre seu trabalho, escutar enquanto ele contava anedotas engraçadas de seus dias de hospital. Ela não pensava mais nas horas deprimentes que passara sozinha; não pensava em Loren Griffiths; ia apenas viver cada minuto e apreciá-lo.

 

 

                                                  CAPITULO IV

Na manhã seguinte, Maria dormiu demais e já pas­sava das nove quando os raios de sol, passando através da cortina verde-limão, fizeram-na abrir os olhos. Ficou dei­tada por alguns momentos, recordando com prazer os acontecimentos da noite anterior. Depois saltou da cama com agilidade.

Lavou-se e vestiu-se, desceu e foi para a cozinha, onde podia ouvir o rádio de pilha da sra. Lacey.

— Oh, a senhorita acordou finalmente — observou a empregada com um sorriso. — O doutor disse para não incomodá-la.

— Disse? — Maria fez um muxoxo, imaginando se o motivo de Adam ao dizer tal coisa era tão inocente quanto parecia. Decidiu ser otimista e disse: — Está um dia maravilhoso, não?

A sra. Lacey concordou e diminuiu o volume do rádio.

— Sim, muito bonito. Que tal se eu lhe servisse o café no quintal? Maria sorriu.

— Bem, só vou querer um pouco de café. Mas a idéia do quintal parece interessante.

— Então está bem. — A sra. Lacey ligou a cafeteira elétrica e Maria abriu a porta dos fundos e saiu para o jardim. Era sur­preendente saber que estavam realmente no centro de Londres. Ali tudo era silencioso, as árvores formavam uma massa de fo­lhagem que proporcionava alamedas de sombra.

Depois do café, voltou para a cozinha, mordendo os lábios pensativamente.

— Adam disse o que queria que eu fizesse hoje? — perguntou. — Isto é, estou aqui há dois dias e não estou acostumada a ficar sem fazer nada. Em casa havia sempre muito para fazer.

A sra. Lacey franziu a testa.

— Bem, senhorita, o doutor não me disse nada, exceto que eu não deveria deixá-la ir muito longe sozinha.

Maria ruborizou-se.

— Ele disse isso?

— Sim, senhorita. Ontem a senhorita o fez passar horas de preocupação e é natural que...

O que me aconteceu ontem poderia ter acontecido a qualquer pessoa! — retrucou zangada. — Afinal, o que a senhora teria feito se alguém lhe falasse no parque?

— Foi isso que aconteceu, senhorita?

— Pensei que a senhora soubesse.

— Não sei ao certo. O doutor disse apenas que tivera um en­contro com o pior lado de Londres e que a senhorita não estava acostumada a uma cidade tão grande.

— Dublin não é uma aldeia, a senhora sabe! — exclamou. A sra. Lacey abaixou a cabeça, evitando envolver-se.      

— Não, senhorita — replicou polidamente e Maria afastou-se com impaciência.

— E o que ele espera que eu faça? — gritou ela. — Vai voltar para o almoço hoje?

— Não disse que não voltaria.

— Está bem. Então vou tomar banho de sol.

Maria correu para o quarto, indignada. Sentia-se infantil e irres­ponsável, seu sentimento anterior de alegria se evaporara. Afinal o que havia sido a noite anterior? Uma tentativa de acalmar seus sentimentos exaltados? Pensava que ele tivesse apreciado sua com­panhia, mas agora não tinha mais tanta certeza. Ele se sentira, talvez, culpado de negligência, talvez tivesse ficado alarmado quando ela desapareceu, principalmente porque sua mãe, assim como o pai dela, esperavam que tomasse conta dela. Mas, mesmo assim, se ele imaginava que, tratando-a como uma criança, tudo ficaria bem, estava enganado. Ela não viera a Londres para ficar mais presa do que em casa. Era melhor que fizesse logo os arranjos para começar o curso comercial, subtraindo-se assim à autoridade de Adam. Quando ele voltasse para o almoço, ia falar-lhe sobre isso.



  

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