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CAPÍTULO III 5 страница— Deve ser uma distração para Alice, ter vindo para cá — murmurou em tom de insinuação, incapaz de resistir à observação. Adam lançou-lhe um olhar rápido, depois franziu a testa. — Não mais do que para qualquer um de nós — respondeu rispidamente. — Devo subentender alguma alusão? Maria encolheu os ombros, enrubesceu e desejou ter mantido a boca fechada. A hora que passara em companhia de Adam fora deliciosa e agora estragara tudo. Jogando a toalha sobre o ombro, virou-se e começou a caminhar em direção à ascada, mas ele a segurou pela nuca e impediu que continuasse. Estava bem atrás dela e Maria podia sentir o calor de seu corpo. — Maria! — disse — você não me respondeu. Maria recusou-se a encará-lo. — Você é sensível demais. Adam — respondeu. — Não quis dizer nada de especial. — Ora, quis sim. Mesmo que não saiba nada sobre você, já aprendi a entender quando está provocando. Está querendo dizer que a presença de Alice aqui é uma novidade? — Segurou-a com mais força. — Está? — Está me machucando! — Maria tentou afastar sua mão. — Você merece ser machucada — murmurou, sacudindo-a. Maria perdeu o equilíbrio e caiu em cima dele; por um instante seu corpo esteve junto ao dele. Foi só por um instante, no entanto, pois Adam empurrou-a sem dizer uma só palavra e, virando-se, foi buscar a toalha. Tremendo, Maria caminhou aos tropeções até os degraus do rochedo, subindo com as pernas bambas. Fora só por um momento e, provavelmente, a raiva tomara conta dele; porém, naquele momento ela sentira, com instinto feminino, que os dedos dele, ao passarem por seus ombros, teriam desejado acariciar... CAPÍTULO VII O Colégio de Tecnologia Bellamy ficava a vinte minutos de ônibus do final de Virginia Grove. Maria descobriu isso na terça-feira de manhã, ao comparecer a uma entrevista com o diretor. Telefonara-lhe na segunda-feira à tarde e, após ouvir o caso, ele sugerira que seria melhor ir conversar pessoalmente com ele, com o que ela concordou prontamente. Contudo, na segunda-feira, ainda estava ferida devido aos acontecimentos do fim de semana. Desde a chegada a casa com Adam, após terem nadado no domingo de manhã, desejara ir embora; além disso, as reações malignas de Loren a tudo o que fazia tornaram-se insuportáveis. Ficou imensamente aliviada quando Loren levou Adam para visitar uns amigos no domingo à tarde, e os dois só voltaram depois que ela tinha ido dormir. Na segunda-feira de manhã ficou na cama deliberadamente, até ouvir que Alice se levantara; quando Adam voltou da praia com o cabelo molhado, evitou seu olhar interrogativo. Chegaram a Londres logo depois das onze e Adam deixou Maria primeiro dizendo que ia ao hospital visitar um paciente depois de deixar Loren em casa. Depois disso, ela não o viu mais durante o resto do dia, sendo obrigada a fingir para a sra. Lacey que se divertira muito. A entrevista com o diretor do colégio foi um sucesso, quando ela sugeriu que poderia entrar no curso já começado, ele concordou, dizendo estar certo de que ela não teria dificuldades em acompanhar o curso. Saiu do edifício sentindo a confiança renascer, ao mesmo tempo que se sentia aliviada pois, a partir do dia seguinte, estaria ocupada o dia todo, em vez de ficar à toa. Voltou a Virginia Grove e contou a novidade à sra. Lacey, que a encorajou ainda mais. — Será muito bom para a senhorita encontrar pessoas de sua idade. Esta casa é muito chata para uma jovem. Maria esteve a ponto de contradizê-la, depois mudou de idéia. Era bom que a sra. Lacey pensasse que ela achava a casa e seus habitantes aborrecidos. Dessa maneira, não precisaria passar muito tempo lá. O telefone tocou e a sra. Lacey suspirou. — Eu atendo — disse Maria rapidamente. Para sua surpresa, era David Hallam, — Oi! — disse ele. — Lembra-se de mim? — Claro — Maria sorriu. — O que você quer? — Você — respondeu ele rindo. — Disse que telefonaria. Pensou que não ia telefonar? — Nem pensei nisso — retrucou ela com honestidade. — Ora, isso é que é sinceridade — disse secamente. — Falando sério, o que vai fazer hoje? — Agora mesmo? Estou ajudando a sra. Lacey a preparar o almoço. — Que tal lhe parece vir à nossa casa hoje à tardinha? Vou dar uma festa e pensei que gostaria de vir. Irei buscá-la, é claro. Maria hesitou. — Está bem — disse vagarosamente. — A que horas? Depois de combinar a hora com David, desligou e foi contar a sra. Lacey o que combinara, — O sr. Adam sabe, senhorita? — Como poderia saber? Nem eu sabia até alguns instantes atrás. Vou dizer-lhe na hora do almoço. Também tenho de falar-lhe sobre o curso. — Sinto muito, senhorita, o sr. Adam não vai voltar para o almoço. Telefonou pouco antes que a senhorita voltasse para dizer que a sra. Ainsley teve uma recaída e vai precisar ser operada hoje à tarde. Disse também que vai ser uma operação muito arriscada. — Oh! — Maria mordeu o lábio. — É a senhora que caiu, não é? — Isso mesmo, senhorita. Maria sacudiu a cabeça. — Que pena! A sra. Lacey encolheu os ombros. — Ela é idosa — disse, suspirando. — A idade é seu pior inimigo. Maria virou-se. De certa forma, parecia-lhe terrível ir a uma festa em casa de David quando as pessoas estavam passando muito mal, até morrendo, talvez. Era um pensamento inconsequente: pessoas morriam a toda hora. Mesmo assim, pensou que, na verdade, ela era feliz e arrependeu-se da autopiedade que sentira no fim de semana, quando Loren fora tão maldosa com ela. A festa em casa de David foi um sucesso. Maria sentiu-se aliviada ao descobrir que Larry Hadley não estava presente; no entanto, Evelyn James lá estava e olhou para Maria com interesse, ao ver como David estava sendo atencioso com ela. A casa de David era velha e grande e seus pais haviam instalado quadras de tênis e uma piscina. Havia cerca de trinta jovens em volta da piscina ou correndo energicamente pelas quadras, e Maria ficou contente por ter levado o maiô. Depois de apresentá-la à mãe, David elegeu-se seu guia e acompanhante. Embora a apresentasse a muitos dos outros hóspedes, alguns dos quais ela reconhecia da visita que fizera ao clube com Larry, deixou bem claro que, naquela tarde, ela estava com ele. Maria vestiu o maiô numa das cabines disponíveis, depois sentaram-se à beira da piscina, tomando Coca e conversando. Era outra tarde quente e ela se perguntou como todos aqueles jovens podiam dar-se ao luxo de passar a tarde toda sem fazer nada. Com certeza, alguns deles tinham muitos trabalhos para fazer. — Você saiu no fim de semana — comentou David, deitando-se numa cama de ar ao lado dela. — Telefonei duas vezes. Maria sorriu, puxando o cabelo para trás das orelhas. — É mesmo? Fui a Kent com Adam e Loren Griffiths. — Ah, sim, a bela Loren — observou ele levemente. — O que acha dela? — Mal a conheço. — É uma resposta diplomática — disse David rindo. — Ela já começou a mostrar as garras? — Não sei o que está querendo dizer. — Claro que sabe. Já deve ter percebido que ela considera Adam seu homem. — É o que todos dizem! — E você não pensa o mesmo? — David sorriu preguiçosamente. — Nem eu. Acho que Adam não é o homem de ninguém. Não é do tipo que deixa uma mulher tomar conta dele. — Não? — Não. E é isso o que encanta Loren Griffiths. — Você parece conhecê-lo bem. — Conheço-o há muito tempo. Meus pais conheciam a família antes de o pai de Adam morrer. — Ah, entendo — disse Maria, assentindo com a cabeça. — E a mãe de Adam casou-se com seu pai. E isso, não é? — Mariaanuiu e David continuou: — Mas o que a trouxe à Inglaterra? Adam convidou-a? — Não. Vou fazer um curso comercial. Começo no Colégio Bel-lamy amanhã. — Amanhã? Tão cedo? — Bem, vou entrar numa classe que já começou há diversas semanas. Tenho de tentar alcançá-la. Senão teria de esperar até setembro, para começar. — Então espere até setembro. Bolas, o tempo está começando a melhorar. Poderíamos nos divertir muito, juntos. — Você também não tem um emprego? — Não, pelo menos até setembro. Depois começarei a trabalhar. Com meu pai. — Ah, sei, ele é procurador, não é? — Larry lhe falou sobre isso? — Sim. — Maria olhou em volta. — Ele não está aqui, não é? David sacudiu a cabeça. — Não, achei melhor não convidá-lo, nestas circunstâncias. — Que circunstâncias? — Maria fitou-o. — O fato de você estar aqui. — David apertou os olhos e olhou-a. — E o que tem isso? Afinal, somos apenas amigos. David segurou os dedos dela. — Quem? — perguntou suavemente. — Você e Larry, ou você e eu? Maria ficou vermelha. — Todos nós. David ergueu-se para olhá-la interrogativamente. — Pensei que poderíamos ser mais do que amigos — murmurou roueamente. Passou-lhe os dedos pelo braço e, com um gesto gentil mas firme, ela o afastou. David era um ótimo rapaz; realmente, gostava mais dele do que de Larry, e mais nada. Não tinha intenção alguma de envolver-se com quem quer que fosse; após um instante, David encolheu os ombros expressivamente e deitou-se novamente. Embora a mãe de David a convidasse para jantar e conhecer o pai dele, Maria recusou. Estivera fora de casa praticamente o dia todo e queria ver Adam, para falar com ele. No entanto, depois de despedir-se de David, entrou em casa e descobriu que ele ainda não havia voltado. A sra. Lacey suspirou resignadamente. — Acho que ainda está no hospital — disse. — Provavelmente irá direto para a cirurgia, de modo que é melhor a senhorita jantar sem esperá-lo. Maria hesitou, depois fez que sim com a cabeça. Poderia comer agora. Não havia garantias de que Adam iria diretamente para casa, depois da cirurgia. De fato, eram quase onze horas quando ele chegou. A sra. Lacey já tinha ido dormir e Maria estava a ponto de subir. Sentia-se deprimida e zangada, por ter esperado tanto tempo para falar com ele, e pensou como ele era despreocupado por ter ido diretamente ao encontro de Loren Griffiths, sem nem mesmo telefonar após a cirurgia. Passou pela sua cabeça a idéia de que talvez não tivesse jantado ainda, mas isso não evitou que se sentisse sozinha e rejeitada. Continuou enrolada no sofá da sala e ouviu-o atravessar o saguão e abrir a poria, sem virar a cabeça. Ele havia visto a luz das lâmpadas, claro, mas ela não ia fazer esforço algum para demonstrar que percebera sua presença. Ele entrou na sala desabotoando o paletó de seu terno escuro, e pegou a caixa de charutos. Olhou em direção a Maria, mas ela se concentrou no livro e não olhou para cima. — Pensei que estivesse dormindo — disse ele, bruscamente, acendendo um charuto. Maria olhou-o pela primeira vez. — É mesmo? Bem, como pode ver, não estou. Adam aspirou profundamente. — Há café feito? A sra. Lacey deixou café para mim? Maria assumiu um ar de indiferença. — Melhor você olhar na cozinha — disse ela. — Não tenho a menor idéia. Adam olhou-a por algum tempo, depois saiu da sala. Depois que saiu, Maria sentiu-se envergonhada. Poderia ter ido buscar o café para ele. Não era pedir muito, já que era sua hóspede. Levantou-se do sofá e atravessou o saguão. Viu uma luz por baixo da porta da cozinha e com um esforço decidido abriu a porta e entrou. Adam estava enchendo a cafeteira elétrica; depois de lançar-lhe um olhar superficial, concentrou-se no que estava fazendo. Maria mordeu o lábio. — A sra. Lacey não lhe deixou nada? — Não. — Adam fez um eloquente gesto com a mão. — O que quer? Pensei que estivesse mergulhada no livro. — Chegou muito tarde — disse, tentando não sentir-se ofendida. Afinal, era ele que estava atrasado. Não deveria sentir-se culpada por não correr atrás dele, pois ele escolhera ficar fora até tal hora. — Sim. — Adam parecia aborrecido. — Eu... queria falar com você. — Oh, sim. Sobre o quê? Não poderia esperar até amanhã? — Não. Isto é... bem, vou começar o curso amanhã. Adam desviou os olhos do conteúdo da frigideira.. — Amanhã? — repetiu sem entender. — Não sabia. — Não. Por isso fiquei acordada até agora. Para contar-lhe. Hoje de manhã falei com o diretor. Adam enrijeceu-se. — Vai entrar no curso que já começou? — Sim. — Acha que vai dar certo? Afinal, é tudo novo para você... Maria torceu as mãos. — Não posso ficar à toa durante três meses, sem fazer nada. Adam encolheu os ombros. — Ora, está bem, é sua decisão. Maria suspirou exasperadamente. — Céus, está se comportando como se não quisesse que eu faça o curso! Pensei que ficaria contente por ver-me fora de seu caminho. O rosto de Adam ficou rígido. — Não me lembro de ter dito nada a esse respeito — retrucou bruscamente. — De qualquer forma, fará o que quiser, como sempre. Maria encarou-o com impaciência. — Esperei acordada de propósito para falar com você! — exclamou zangada. — Não posso fazer nada, se você volta para casa quase à meia-noite, e tenho de contar-lhe as coisas quando está cansado e obviamente, mal-humorado! Adam aproximou-se dela, os olhos queimando de violência contida. — Um dia, Maria, você irá longe demais! — disse selvagemcnte. — Não tenho de aguentar esse tipo de conversa de ninguém, muito menos de você! Maria fez uma careta e afastou-se. — Vou para a cama! — disse, vacilando. — É evidente que você está de péssimo humor. Sinto muito por não ter-lhe dado uma boa acolhida, mas pensei que a srta. Griffiths tivesse tomado conta de você adequadamente. Adam com os olhos faiscando, agarrou-a pelos ombros e obrigou-a a virar-se para encará-lo, — Talvez lhe interesse saber que não vi a srta. Griffiths hoje à noite — murmurou raivosamente. — Acabo de vir do Hospital St. Michael. A sra. Ainsley morreu há meia hora. — Oh! — Maria apertou a boca com a mão, horrorizada, — Oh, Adam! Eu... eu sinto muito! Adam soltou-a de repente e virou-se; um músculo saltava em seu rosto. — Vá para a cama! — Disse rudemente. — Como você observou, não sou a melhor das companhias. Maria mordeu nervosamente o lábio. — Vá sentar-se, Adam — disse. — Farei o café. — Não é necessário. — A voz de Adam estava fria. Tirou uma caneca do armário e olhou para a água na cafeteira, que começava a ferver. — Oh, por favor, deixe-me fazê-lo. — Maria mexeu-se com expressão infeliz. — Você deve estar com fome também. Comeu alguma coisa? Adam virou-se e olhou-a. — Não, mas não estou com fome. E tampouco preciso de sua ajuda. Vá e deixe-me sozinho. Maria hesitou por um instante, depois saiu da cozinha sem uma palavra. Era culpa sua, não havia ninguém mais em quem jogar a culpa, fora muito apressada em tirar conclusões a respeito de Adam. Ela era sensível demais e, além disso, não tinha nada a ver com o fato de Adam passar todas as noites com a noiva. Ou, pelo menos, não deveria ter... Maria não viu Adam ao café da manhã, no dia seguinte. Recebera um chamado cedo e ela safra para o colégio antes que ele tivesse voltado. Só quando já estava no ônibus lembrou-se de que não mencionara a Adam que estivera em casa de David no dia anterior. A conversa deles, na noite anterior, fora formal, para não dizer mais, e duvidava de que ele ainda se interessasse por alguma coisa, depois disso. O primeiro dia passou razoavelmente depressa. As vagas idéias que tivera a respeito das matérias do curso dissiparam-se logo, ao saber que, além de taquigrafia, datilografia e inglês, deveria aprender também comércio e contabilidade. Recebeu uma lista de livros de texto de que precisaria e, logo depois de ter almoçado na cantina do colégio, foi comprá-los. Voltou a casa de Adam por volta das quatro e meia da tarde, os braços cheios de livros e papel, e uma razoável quantidade de lições de casa para fazer. Adam estava na sala quando entrou e observou seus braços carregados apertando os olhos. — Você não pretende trabalhar a noite toda também, não é? — perguntou brevemente. Maria colocou as coisas sobre uma poltrona e sacudiu os braços doloridos. — Por que não? Adam levantou-se e pegou um dos livros com indiferença. Maria ficou com os dedos cruzados, observando-o, até que ele olhou para seu rosto apreensivo. — Não é necessário, você sabe—observou ele, quase ofensivamente. — O que não é necessário? — Maria não o estava entendendo. Adam deixou o livro cair. — Tudo isto! — Contraiu os músculos. — Estou pronto a aceitar que você achava a vida em Kilcarney muito limitada e sentiu vontade de escapar por algum tempo. Não farei objeções se ficar aqui mais um pouco. Maria fitou-o indignada. — Você pensa que vim para cá sem intenção alguma de fazer o curso, é isso? Adam encolheu os ombros. — Oh, não. Acho que suas intenções estavam bastante claras. Só que não é necessário, só isso. Maria suspirou. — No entanto, você pediu à sua recepcionista que se informasse a esse respeito. — Sabendo que não haveria nenhum curso que começasse antes das férias de verão — retrucou Adam impacientemente. — Estava certo de que você esperaria até lá para comprometer-se. — E comprometer você! — exclamou Maria zangada. — Enquanto eu estiver livre, você poderá despachar-me, quando tiver vontade! A expressão de Adam tornou-se sombria. — Espero que saiba o que está fazendo. Esses cursos podem durar até um ano. — Esse é um curso particular. Não dura tanto assim! — Ousaria dizer que você se esqueceu de que haverá as férias, de qualquer forma. Maria apertou os lábios. Esquecera-se desse pormenor. Seriam dois meses perdidos. — Eu... eu irei para casa no verão — retrucou decididamente. — Agora, se me dá licença... Adam segurou-a pelo braço. — Não trabalhe hoje à noite. — Por que não? — Maria sacudiu a cabeça. — Porque é demais. Está apenas começando. Dê-se tempo para adaptar-se ou poderá ficar doente. Além disso, está quente demais. Maria puxou o cabelo para trás da orelha com a mão livre. — Não tenho nada melhor para fazer! — respondeu. — Sim, tem. — O polegar de Adam moveu-se sobre sua pele. — Tenho de ir ver um paciente particular em Staines. Você poderia ir comigo. Um arrepio correu pela espinha de Maria e seu rosto ficou vermelho. Não. havia nada que desejasse mais do que passar a noite com Adam, mas algo a advertiu de que não devia. Não por ter medo dele; sabia que podia confiar nele, estava preocupada consigo mesma. Temia que chegasse um momento em que ele percebesse sua presença, como acontecera no fim de semana anterior, na praia, e ela poderia sucumbir à tentação de tornar isso físico assim como mental. Ele talvez pensasse que ela era ainda uma criança, no entanto ela sabia que não era assim, e os sentimentos que tinha com relação a Adam não deviam ser estimulados. — O-obrigada, mas não posso — murmurou. — Eu preciso continuar. Prometi a meu tutor, o sr. Lawson, que tentaria aprender algo disso tudo até amanhã. Adam soltou-a. — Muito bem — disse; sua voz estava fria novamente. — Esqueça! Durante a semana seguinte, Maria viu Adam muito pouco. Parecia estar constantemente sendo chamado e até mesmo as refeições eram interrompidas. Raramente fazia perguntas sobre seu trabalho, e como ela achasse difícil sentir-se à vontade com ele, conversavam pouco. Uma ou duas vezes ela tentou falar sobre David Hallam, o que não era fácil, pois as tentativas chocavam-se com um elevado grau de frieza. Maria sabia que ele também não estava encontrando Loren Griffiths. A atriz telefonou diversas vezes e Maria ficava feliz quando a sra. Lacey atendia ao telefone. Larry Hadley também telefonou, mas Maria recusou todos os convites, para ter bastante tempo livre para os deveres de casa. No fim de semana aceitou um convite para jogar tênis no domingo è tarde, na casa de David; desta vez conheceu seu pai. Victor Hallam era igual ao filho, tanto em aparência quanto em personalidade; Maria conversou com ele bem à vontade, discutindo suas ideias sobre como utilizar o tempo, juntando-se a ele contra a indolência assumida de David. Não sabia muito bem como Adam passara o fim de semana. Sabia que estava de plantão, naturalmente e, ficou feliz por não encontrá-lo em casa, quando voltou da visita aos Hallam. Na terça-feira seguinte Adam desceu para o café com aparência aborrecida e truculenta. Sentou-se à frente dela sem dar-lhe o bom-dia habitual, e ela olhou para ele com apreensão. E agora? Ao passar-lhe o café, evitou seu olhar, e ele disse asperamente: — Por que não me contou que andou saindo com David Hallam? Maria ficou vermelha. — Eu... bem... eu pensei que você não estava interessado — murmurou desajeitadamente. Adam fechou o punho. — Você pensou que não estava interessado — repetiu friamente. — Por que não? Maria engoliu em seco.. — Bem, eu só saí com ele duas vezes — admitiu, pouco à vontade. — Foi à casa dele duas vezes, o que é bem diferente! — vociferou Adam com raiva. — Naturalmente, ele lhe contou que os Hallam eram amigos meus. — Contou. E não lhe ocorreu que eu pareceria estúpido, se mencionassem que vocês dois eram amigos e eu não soubesse nada sobre isso? — Seu tom de voz era furioso, Maria abaixou a cabeça. — Eu ia contar-lhe. Não tive muitas oportunidades. — Em dez dias? Deve estar brincando! — Oh, Adam, não éimportante. — Como não é? Não gosto de bancar o trouxa! — Levantou-se de repente. — Entendi você dizer que precisava passar o tempo tentando alcançar seus companheiros de estudo, não espreguiçando-se na piscina dos Hallam! Maria olhou-o indignada. — Não posso trabalhar o tempo todo! Você mesmo disse isso. — No entanto recusou vir a Staines comigo. — Adam encarou-a com frieza. Maria arregalou os olhos. — O que está havendo? — escarneceu-o, zangada. — Está com ciúme? Assim que acabou de faiar, desejou poder retirar as palavras. Algo tão ridículo. Adam com ciúme dela! Adam olhou-a com desdém por alguns instantes, depois precipitou-se para o saguão, no momento em que a sra. Lacey entrava trazendo os ovos com presunto. Olhou-o consternada. — O que há de errado? — perguntou. — Não escutei o telefone. — Não há nada errado, sra. Lacey — respondeu Adam rapidamente. — Não quero mais nada, obrigado. Com isso saiu, batendo a porta. Maria continuou sentada, imóvel, controlando o tremor que ameaçava tomar conta de seu corpo. A sra. Lacey levou a bandeja até a mesa e aí a colocou, sem entender o que se passava. Olhou para a expressão tensa de Maria e estalou a língua. — E agora, o que aconteceu? — exclamou com impaciência. — Nunca vi o sr. Adam fazer isso antes. Maria tremeu fortemente. — Fazer o quê? — perguntou, fingindo não entender. — Sair sem o café da manhã — retrucou a sra. Lacey. — O que andou lhe dizendo, senhorita? Maria levantou-se da cadeira. — Nós tivemos apenas uma... uma divergência de opiniões, só isso. Também não quero mais nada. — E o que vou fazer com tudo isto? — gritou a sra. Lacey, mostrando a bandeja com 0 presunto, os ovos e as torradas. Maria sacudiu a cabeça. — A senhora mesma poderá comer tudo — sugeriu, tentando fazer uma brincadeira; depois saiu para buscar os livros do colégio. O dia todo foi péssimo. Para começar, o sr. Lawson não estava no melhor dos humores e, como o tempo estivesse escuro e abafado, as coisas só pioraram. Maria estava agitada, batia nas teclas erradas da máquina de escrever, até que o sr. Lawson ficou impaciente com seu descuido e quase a fez chorar. Foi um alívio quando, às quatro horas, pôde escapar. Juntou os livros e saiu pela entrada principal, descendo os degraus até a rua. Um carro como o de Adam estava estacionado perto da entrada, mas ela não lhe prestou muita atenção até que a porta foi escancarada e Adam disse: — Entre! — num tom que não admitia recusas. Maria obedeceu, entrando na parte dianteira do carro, bastante nervosa. — É uma surpresa — murmurou, sem jeito. — Pensei que ia chover — retrucou Adam, engrenando o carro. Maria olhou para cima. O céu estava carregado de nuvens e um barulho fraco de trovão podia ser ouvido à distância. — Obrigada — foi tudo o que conseguiu dizer; com um aceno da cabeça, ele ligou o carro. No entanto, Adam não se dirigiu a Kensington. Foi em direção contrária, atravessando o Tamisa e continuando na estrada que leva a Richmond. Maria olhou-o ansiosamente. De imediato, pensara que ele pretendia passar pelo hospital, mas ele passou direto, sem parar: ela não sabia para onde a estava levando. Como se sentisse seu desconforto, Adam deu-lhe uma olhada. — Pensei em tomarmos chá num lugar que conheço perto do rio — comentou baixinho. — Se não se opõe. — Claro que não. — Maria apertou os lábios. — Ótimo. — Adam voltou a concentrar-se na direção e, por algum tempo, o único ruído foi o do motor.
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