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CAPÍTULO UM



CAPÍTULO UM

 

Oliver estava parado, olhando pela extensa janela de vidro, em seu escritório no 14° andar, quando o interfone de sua escrivaninha tocou baixinho.

Suspirando, deu as costas para a vista das ruas de Newcastle, molhadas de chuva, atravessou o amplo es­critório, apertando o botão que o conectava com a secre­tária.

— Sim? — falou, secamente e a sra. Clements lim­pou a garganta, antes de falar.

— E seu irmão, sr. Ferreira. — Ele ficou assombra­do. — Eu disse que estava ocupado, mas ele insistiu.

Oliver ainda pensava em como seu irmão tivera a pe­tulância de aparecer quando escutou um barulho fora do escritório. Thomas Ferreira não gostava de esperar e, em seguida, a porta de Oliver se abriu. Um homem alto, de ombros largos, parou na soleira enfurecido, com a minúscula figura da sra. Clements pairando ansiosa atrás.

— Que diabo é isso? — quis saber, as belas feições coradas de raiva. — Agora preciso marcar para vê-lo, Oliver? Sei que faz algum tempo desde que conversa­mos, mas acalme-se, sim?

Oliver soltou o botão do interfone e se endireitou, afastando-se da escrivaninha. Ignorando o irmão, olhou para a sua agitada secretária.

— Está tudo bem, sra. Clements. Sei que fez o que pôde para não deixá-lo entrar.

A sra. Clements apertou as mãos.

— Não se esqueça da reunião com o sr. Adler às qua­tro horas, certo, sr. Ferreira?

— Ele não esquecerá — falou Thomas rudemente, ocupando a porta.

— Não pretendo tomar-lhe muito tempo, não fique tão preocupada. Sou apenas o irmão dele, não um fiscal de renda.

A sra. Clements ignorou aquele comentário e conse­guiu se esgueirar entre a porta e aquela figura maciça.

— Posso trazer algo, sr. Ferreira? Talvez um chá ou café?

— Desde que não seja uma garrafa de uísque — in­terrompeu Thomas sarcástico.

Mas Oliver o ignorou e falou, educadamente.

— Chá, sra. Clements, se não for muito incômodo?

— Claro que não é incômodo algum — Thomas imi­tou a mulher enquanto fechava a porta. — Oliver, com certeza sabe que essa mulher pisa em brasas se você pe­dir. Como a maioria das mulheres.

— Nem todas — observou Oliver, sentindo um súbi­to amargor. Depois, seus olhos escuros ficaram impa­cientes. — O que deseja, Tom? Como ouviu, não tenho muito tempo.

A resposta de Tom foi se afastar da porta e sentar numa das cadeiras de couro usadas pelos visitantes.

— Podemos esperar até a chegada do chá? Eu prefe­ria que a velha sra. Clements não participasse da con­versa.

Oliver escondeu a irritação.

— A sra. Clements é perfeitamente confiável. Você não precisa se preocupar.

— Ainda assim... — Tom deu de ombros, olhando-o. — Eu tinha esquecido a vista que se tem daqui. Aposto que você também, quando estava internado em Abbey.

As narinas de Oliver tremeram e ele ficou tentado a empurrar seu irmão para fora do escritório. Mas fazer aquilo levaria a mais perguntas do que respostas e, até ouvir o que Tom queria, resolveu se conter.

No entanto, aquilo não mudou o modo como se sentia ao vê-lo novamente. Já fazia quase quatro anos desde que tinham tido uma conversa séria e, embora se ressen­tisse do desplante dele aparecer, não podia negar a cu­riosidade quanto ao que seu irmão queria.

Além do mais, talvez fosse hora de deixarem o passa­do para trás. Tinham sido bons amigos quando crianças, antes da traição de Tom e do fim do casamento de Oli­ver, quando haviam se afastado. O fato do fim do casa­mento ter sido tanto culpa de Sophie quanto de seu ir­mão era algo com o que ele precisava conviver. Afinal, ela era sua esposa e Tom um homem livre.

Lógico que aquilo não mudava o fato de encontrar di­ficuldade em confiar novamente no irmão. O divórcio de Oliver e Sophie fora doloroso e destrutivo e, por me­ses, o único consolo que encontrara fora no fundo de um copo. O comentário sarcástico de Tom sobre a garrafa de uísque e sua referência à estada de Oliver em Blackstone Abbey — um conhecido centro de desintoxicação de drogas ou álcool — deixava claro que não estava aqui para fazer correções em seu comportamento. Pro­vavelmente, ele queria algo, pensou Oliver, amargo. No passado, não costumava procurá-lo.

Sentando-se, Oliver recostou-se e tamborilou, olhan­do interrogativamente o outro homem. Tom parecia mais velho, mas ele também. Trauma -— principalmente trauma emocional — causava aquilo.

— Como está Sophie? — Ele perguntou, afinal, re­solvendo se superar, admirado de quão pouca emoção sentia. Por meses depois do divórcio, só de ouvir o nome dela fazia com que sentisse um incrível desejo destrutivo. Mas agora sentia apenas um leve lamento pelo que podia ter sido e uma recordação cruel de como fora um rematado tolo.

Tom pareceu surpreso.

— Acho que está bem. Por que não liga para ela e descobre?

Oliver teve de se esforçar para não parecer tão as­sombrado quanto se sentia.

— Acho que não. — Depois, quando a sra. Clements reapareceu com uma bandeja, conseguiu sorrir, murmu­rando: — Obrigado.

— Se precisar de mais alguma coisa, é só chamar — ela falou, calorosamente. Os olhos dela pousaram rápi­do no visitante e Oliver, praticamente, pôde ver o que ela pensava. A sra. Clements era totalmente leal e ficara chocada e furiosa com a traição de seu irmão.

— Chamaremos — respondeu Tom, fazendo-a corar. Ele também sabia dos sentimentos da mulher e este era o seu jeito de lembrá-la que a sua opinião significava menos do que nada para ele.

A porta fechou-se atrás dela, mas Oliver nem tentou tocar a bandeja com o chá. Se Tom queria chá, que se servisse.

— O que deseja? — perguntou, com um suspiro re­signado. — Se é dinheiro, está perdendo tempo. Além da minha ex-esposa ter feito de tudo para me limpar, tem havido muita queda no mercado residencial.

— Não finja que os seus negócios se baseiam em contratos domésticos — retorquiu Tom, rude. — Acon­tece que acabei de fazer um acordo para projetar o com­plexo do shopping que vão construir em Vicker's Wharf. — Ele franziu o rosto, suas feições ficando me­nos atraentes. — De qualquer forma, eu não disse que quero dinheiro. Desde que Sophie investiu quase tudo que conseguiu com o divórcio no centro de jardinagem, ele vai muito bem. — Parou, parecendo hesitar. — Na verdade, acabei de comprar um galpão anexo ao centro e espero que também possamos vender plantas de estufa no futuro. Atualmente são muito procuradas, como deve saber.

— Bom para você.

Oliver estava contente por saber que os negócios de seu irmão iam bem, sem problemas de aplaudir o suces­so dele. O centro de jardinagem Ferreira fora o negócio do pai deles antes de se aposentar, mas Tom fora o único dos filhos a compartilhar seu amor pela terra. Desde que Tom assumira o centro, o interesse por jardinagem tinha permitido que ele praticamente dobrasse os seus lucros. Aquilo e, claro, a contribuição da ex-esposa de Oliver.

— Não seja condescendente — seu irmão murmu­rou, percebendo claramente algo além de simples apro­vação na voz de Oliver. — Nem todos podemos ser gê­nios acadêmicos. Alguns de nós temos ambições bem mais modestas.

Oliver se controlou para não discutir. Essa era uma rixa antiga, à qual ele não queria voltar. Tom sabia mui­to bem que ele não era um gênio e tampouco acadêmico. Mas fora bom em matemática na escola e trabalhando com computadores, tivera um progresso automático. O fato é que o seu diploma em ciência de computação o levara à carreira em engenharia de planejamento, o que era tão natural para ele quanto trabalhar em horticultura para seu irmão.

— Então, se não é dinheiro, o que quer? Não acreditou que veio aqui perguntar pela minha saúde.

— Por que não? — A resposta de Tom foi dura e ressentida. — Ainda é meu irmão, não é? Só porque tive­mos nossas diferenças no passado...

— Seduzir minha esposa e romper meu casamento não pode ser tomado como "diferenças" — retorquiu Oliver rudemente.

— Eu sei — Tom parecia aborrecido. — Como disse, tivemos os nossos problemas, não nego. E não vou ne­gar que fui o culpado. Mas, inferno, eu não poderia ter seduzido Sophie se ela não estivesse disposta, poderia? Você estava sempre ausente, querendo se tornar sócio na Faulkner, negligen-ciando sua esposa, Oliver. Admi­ta.

Oliver cerrou os dentes.

— Não pretendo admitir nada, Tom. E se esta é a sua maneira de justificar o que fez...

— Não é. — Tom interrompeu-o rapidamente se in­clinando à frente, a expressão triste, suplicante. — Veja, você se sentiria um pouco melhor se eu dissesse que... o que aconteceu foi um erro? Nunca deveria ter ido tão longe. — Ele mordeu o lábio inferior. — Eu fui um tolo, um tolo egoísta, arrogante. Você não lamenta mais do que eu.

Empurrando a cadeira com força, Oliver se levantou.

— É melhor você ir embora — falou irritado, com uma risadinha descrente. — Você não tem preço, sabia? Pensando que vir aqui e dizer que cometeu um erro... um, entre tudo... seria consolação!

— Pensei que podia — murmurou Tom. — Todos cometemos erros, não é?

— Vá embora, Tom. Antes de dizermos algo de que possamos nos arrepender.

Tom franziu os ombros, mas não se moveu. Oliver olhou para o relógio em seu pulso. Três e meia. Só fazia quinze minutos desde que Tom chegara?

Respirou fundo, impaciente, olhando sem expressão para a figura forte do irmão. E agora? O outro homem faria com que ele o botasse para fora? Embora Tom fos­se grande e forte, Oliver era mais musculoso e tinha pelo menos uns dez centímetros mais do que ele.

Porém, a perspectiva não o agradava. A idéia de em­purrar seu irmão através da sala da sra. Clements e pelo corredor, ladeado por escritórios dos dois lados, não pa­recia boa. Já fora duro o bastante suportar a simpatia dos colegas quando Sophie o deixara e a sua conseqüente dependência de álcool, que o levara a Blackstone Abbey. Não queria relembrar aquilo ou dar a alguém a im­pressão de que ainda se importava tanto, a ponto de que­rer causar danos ao seu irmão. Incrédulo, percebeu que não queria. Tudo o que sentia era desdém, por Tom ima­ginar que ele era tolo o bastante de acreditar em suas mentiras.

— Veja, tenho uma reunião — disse, percebendo que ficar com raiva não faria bem algum. Por algum motivo, Tom estava decidido a ficar ali até dizer por que viera. E Oliver pressentia de que o pior estava por vir.

— Eu sei, ouvi o que a velha Clements disse.

— Então, sabe que não pode ficar. Sugiro que se vá,V antes de bancar o bobo.

Tom olhou para ele com olhos acusadores.

— Você não se preocupa nem um pouco comigo, não é? Não se importa com o que acontece comigo?

— O que acontece com você? — Oliver olhou-o. — O que é isto? De alguma forma, espera que tudo fique certo entre nós?

Tom deu de ombros.

— Não exatamente.

— Aprecio ouvir isto.

— Você é tão presunçoso. Por que nunca percebi isto antes? Você não se preocupa com ninguém, não é, Oliver? Deus, não é de admirar que Sophie vivia desespe­rada por afeto, que nunca conseguiria de um sacana frio como você!

Oliver contornou a escrivaninha, agarrando a camisa do irmão, erguendo-o da cadeira antes de conseguir se controlar.

— Seu miserável filho-da-mãe — rosnou, o pulso se afastando para socar o irmão. Mas, quando ao invés de tentar se defender, Tom apenas fechou os olhos e se pre­parou para ser punido, Oliver descobriu que não podia. Com um safanão, afastou-se, andando para a janela, lu­tando para se recompor.

Depois daquilo, houve um longo silêncio. Oliver aproveitou para acalmar a respiração, afastando a espes­sa massa de cabelos escuros que tocava o colarinho. Es­ticou o paletó de seu terno cinza-claro, verificou se a gravata estava caindo bem sobre os botões perolados da camisa branca e fez o melhor para lembrar que aqui, ele era a vítima, não o homem aparentemente humilde que estava sentado imóvel, silencioso.

Finalmente, teve que se virar novamente. Faltavam quase vinte minutos para as quatro e precisava tirar Tom dali antes de Sidney Adler chegar. Adler era um político local que tinha intermediado para a Faulkner receber o contrato para projetar o novo complexo do shopping. Também era o amigo mais próximo do sócio de Oliver, Andrew Faulkner, e não ficaria bem impressionado por Oliver levar problemas pessoais para o escritório.

Voltou para a escrivaninha e parou por uns instantes, olhando a cabeça baixa de Tom. Depois, perguntou, se­camente:

— O que você deseja, Tom? Não posso absolvê-lo. E duvido que Sophie gostaria de saber que esteve aqui, fa­lando comigo.

— Ela não se importaria — retrucou Tom, tirando um lenço do bolso e assoando o nariz ruidosamente. — Na verdade, provavelmente eu a assustei. Queria termi­nai: o nosso relacionamento tanto quanto eu.

O queixo de Oliver quase caiu.

— O quê? Veio aqui para me dizer que você e Sophie se separaram?

— O que mais? — murmurou Tom, com um gesto indiferente. — No momento, ela está com a mãe. Como eu disse, foi tudo um terrível erro.

Eram quase seis horas quando Oliver saiu do escri­tório.

Descobriu que Adler se comportava como uma mu­lher velha, tendo perdido quase metade do tempo em que estiveram juntos, fofocando sobre outros burocratas locais. Houve pouca conversa útil e Oliver suspeitou que errara, ao mostrar ao homem a garrafa de uísque que guardava para as visitas. Adler aceitara mais de um copo e agora Oliver sentia-se saciado, com a quantidade de Coca-Cola Diet que tinha bebido, para acompanhar.

O seu carro estava estacionado na garagem do subsolo. Um Porsche com doze anos, o presente que Oliver se dera quando viera trabalhar para a Faulkner Engineering. Também, tinha sido o único luxo que se recusara a vender quando Sophie o deixara. A casa que eles com­partilhavam tinha ido embora, assim como a maioria de suas coisas. Também, o apartamento tipo estúdio para onde se mudara não tinha espaço para elas.

Antes do divórcio, ele e Sophie viviam num condo­mínio fechado, ao norte de Newcastle. Não ficava longe do centro de jardinagem, que também estava localizado num vilarejo, ao norte da cidade, quando eles se encon­travam muito com os pais dele e seu irmão. Mas, desde a aposentadoria do pai, seus pais passavam pelo menos a metade do ano viajando. Tinham comprado uma casa no sul da Espanha, lugar dos ancestrais da família, e o velho sempre pensava estar voltando às origens.

Mas lembrar de seus pais invariavelmente fazia Oli­ver lembrar do irmão. Não tinha sido fácil dissuadi-lo a partir calmamente e Oliver ainda não sabia o motivo da visita. O que Tom queria? Talvez que perdoasse tudo sabendo que ele e Sophie tinham se separado? Era inge­nuidade demais e Tom não era tão idiota.

Então, por que viera? Oliver duvidava que voltassem a ser amigos. E se Tom esperava uma reação diferente, ficaria desapontado.

Passou rapidamente pela sua cabeça que Sophie po­dia tê-lo mandado. Se estivessem separados, talvez ela pensasse em reatar o relacionamento deles. O que era igualmente ridículo.

De qualquer modo, não desejava reavivar seu rela­cionamento com sua ex-esposa. Tinha superado. E nun­ca tivera certeza quanto a Sophie. A traição de seu ir­mão também significara muito.

Porém, concordara em encontrar Tom novamente. Fora a única maneira de fazê-lo sair do escritório antes de Adler chegar.

Tinham marcado um encontro no dia seguinte, para o almoço, no The Crown, em Tayford. Há anos Oliver vi­sitava o pub, que ficava perto da casa de seus pais. Fe­lizmente, eles estavam fora, assim, não seriam envolvi­dos. Ele sabia que sua mãe se preocupava por ele estra­nhar o irmão, e pensava que acertariam suas diferenças.

Por impulso, Oliver virou na direção oposta ao seu apartamento perto do porto. Um desejo de ver o centro de jardinagem fez com que se dirigisse para o norte de Newcastle, na direção do aeroporto. Mas próximo dele virou para oeste, na direção de Belsay, na estrada que enveredava para a área rural da Nortúmbria.

Com a chuva cedendo lugar ao sol brilhando na água de uma tarde de maio, sentiu um bem-estar incomum. Há tempos não passava ali.

Antes de chegar à Belsay, virou novamente à esquer­da. O centro de jardinagem tinha uma sinalização na es­trada principal e ficava a quinhentos metros, nos limites de Ridsgate, a aldeia próxima a Tayford.

Da estrada, o Ferreira's Plant World parecia um lu­gar impressionante. Recentemente, adquirira uma ótima reputação e as pessoas vinham de longe para passear pelos jardins e estufas. Além disso, havia uma loja, um café, uma floricultura e uma área com brinquedos para crianças. E, mesmo passando das seis horas, ainda esta­va funcionando.

Vários carros estavam parados no estacionamento e, embora não pretendesse parar, Oliver estacionou o Porsche. Ficou sentado por alguns minutos, tamborilando na direção, pensando que diabo estava fazendo ali. Depois, achando que não partiria sem ter certeza que Tom realmente não estava com dificuldades financei­ras, desligou o motor e saiu do carro.

Ele a viu enquanto trancava o carro. Estava perto de uma das estufas, aparentemente supervisionando o car­regamento de sacos de adubo na carroceria de um utili­tário.

Era alta, facilmente mais de 1,70m e ele pensou que era a sua altura que o atraía. Mas, com as longas pernas dentro do jeans mais apertado que eleja vira e um corpo delgado, porém moldado, era notada instantaneamente. Sem falar de sua beleza luminosa e quente, e da massa de cabelos loiro-avermelhados, presos numa trança gor­da, que sozinha causava impacto.

Talvez tenha sido a intensidade do olhar dele que a fez sentir que a olhava. Olhos emoldurados por cílios escuros, viraram em sua direção e uma expressão de es­panto passou pelo seu rosto. Um dos homens carregan­do a caminhonete falou com ela, que afastou o olhar, não antes de um leve sorriso de dúvida — convite? — tocar seus lábios generosos.

Achando que estava se deixando levar pela imaginação, Oliver guardou as chaves e foi para os jardins. Evitando a loja, esperava não ser reconhecido pelos membros mais velhos do pessoal de Tom.

Não havia sinal de Tom e ele não sabia se estava sa­tisfeito ou triste. Agora, não tinha desculpa para faltar ao encontro deles. No fundo, achava que tinha esperado poder descobrir o que estava acontecendo, sem perder tempo com conversa inútil.

Caminhou para o outro lado, percebendo que o irmão era tão bom quanto a sua palavra. O trabalho de escava­ção já começara no terreno ao lado. Havia várias máquinas e o local onde existia a casa do antigo dono estava nivelado.

— Parece bem feio, não é? — Uma voz rouca falou, atrás dele. Oliver virou-se e viu a garota de antes, encos­tada numa pedra ao lado da cerca. De perto, Oliver po­dia ver que a sua pele era acetinada como um pêssego, o nariz reto e não muito grande, os olhos grandes de uma incrível tonalidade verde.

— Parece. — Enfiou as mãos nos bolsos e tentou desviar o olhar. — Mas todos os projetos de prédios são assim no início.

— E você deve saber — disse ela, surpreendendo-o. — É um engenheiro projetista. — Quando ele ergueu a sobrancelha, ela acrescentou: — É o irmão do Tom, Oli­ver, acho. Ele disse que talvez fosse vê-lo hoje.

— Disse

— Disse. Mas não disse que viria aqui. — Ela sorriu, mostrando uma fileira de dentes iguais, brancos. — Sou Grace Lovell. Sei que ele gostará de vê-lo — ela conti­nuou, voltando ao tema anterior. — A sra. Ferreira disse que tem andado sumido.

— Sra. Ferreira? — Ele não sabia que Sophie ainda se chamava assim.

— Sua mãe — Grace explicou, parecendo ver a con­fusão dele. — Eu conheço muito bem seus pais. Eles passam muito tempo em San Luís.

Oliver reviu a sua opinião inicial.

— Você é espanhola?

— Não. Meu pai é americano. Mas trabalha para o governo britânico, por isso, passei a maior parte da mi­nha vida na Inglaterra.

— Sei. E a conexão com San Luís?

— Meus pais também têm uma casa em San Luís. Na verdade, foi onde conheci Tom. E foi como o convenci a me dar esse emprego.

— E você gosta? Do emprego, quero dizer.

Ela deu de ombros, se afastando da pedra, e nova­mente ele ficou atento à sua altura. Só que, diferente de uma modelo, ela tinha curvas mais generosas e, apesar do fato de não parecer usar sutiã, seus seios eram firmes e erguidos...

E de onde vinha aquilo?, pensou. Estava ficando in­teressado demais. Inferno. Fazia anos que não percebia os seios de uma mulher estranha. Não era desculpa que o ar frio os deixassem mais perceptíveis. Provavelmente, ela estava gelada, ciente dos mamilos duros contra a camiseta fina. Também estava bem claro que o calor que ele sentia, definitivamente, não era causado pelo clima.

— É bom — disse ela, e ele demorou um minuto para perceber que estava respondendo à pergunta e não desculpando o olhar tão pessoal dele. — Quando saí da fa­culdade, pensei que queria lecionar, mas, depois de seis anos trabalhando no interior, achei que precisava mudar de cenário.

Oliver fez um gesto e eles começaram a andar na di­reção do prédio principal. Enquanto andava, ele perce­beu que também precisava rever a sua avaliação da ida­de dela. Pensara que podia ser 22 ou 23, mas, agora, 30 anos não devia ficar longe da idade certa.

Não que importasse. Só por ser mais velha do que ele pensara não mudava em nada a sua posição. Afinal, ele tinha 34 anos, com uma história que ninguém invejaria e uma namorada atual. Além do mais, provavelmente teria um namorado. Era atraente demais para ficar sozi­nha.

— Há quanto tempo está aqui? — perguntou, dese­jando ter uma desculpa para não ir à loja. Ele não a cor­rigira quando ela imaginara que ainda não vira seu ir­mão, e seria terrivelmente desagradável se Tom apare­cesse.

— Uns sete meses — ela sorriu forçado. — Atraves­sei um dos piores invernos já registrados! Duas estufas ficaram inundadas. Tivemos que trabalhar com botas de borracha até os joelhos!

Oliver conseguiu sorrir.

— Um batismo de fogo.

— Bem de água — corrigiu ela, com humor. Depois, riu. — Que boba! Geralmente, os batismos são de água, não são?

Oliver sorriu e estava para perguntar o que ela pensa­va do norte da Inglaterra, quando seu rosto mudou. Suas bochechas ficaram rosadas e ele pensou como era char­mosa. Depois, outra voz feminina falou o seu nome e ele emitiu um gemido, enquanto se virava, reconhecendo sua ex-esposa.



  

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