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CAPÍTULO IV



 

 

A á gua era clara e lí mpida e Jessica estava sentada numa pedra, pescando. Pelo menos, segurava uma vara de pescar nas mã os, o anzol com a isca mergulhado dentro da á gua. Que mais poderia fazer para fisgar um peixe senã o sentar e esperar? Ela aproveitava cada momento, sentada sob a luz do sol, imaginando que há muitos anos atrá s talvez sua avó tivesse estado ali, sentindo toda a paz e tranquilidade daquele lindo vale, que Joe Trip disse chamar " Vale dos Bons Espí ritos". A serenidade do lugar era tã o imensa que parecia que nada de mal poderia acontecer.

Tinham chegado na vé spera, no fim da tarde, depois de uma viagem tortuosa pelas trilhas estreitas e, em alguns pontos, perigosas, pró ximas demais dos abismos. Estavam agora já bem perto dos picos, e havia bastante neve cobrindo as rochas. O ú ltimo dia de viagem tinha sido cansativo, a primeira visã o de Eagle Lake brilhando sob a luz do sol bastou para que se sentissem recompensados.

O acampamento foi erguido em pouco tempo e, depois do jantar, satisfeita por ter finalmente atingido o lugar de que sua avó tanto falava, Jessica entrou em seu saco de dormir e adormeceu profundamente na mesma barraca onde se alojaram Rhoda e Cindy. Com o dia inteiro pela frente, somente para passear pelas redondezas, eles nã o acordaram tã o cedo como nos outros dias de viagem. Depois do café, Jessica, Cindy e Danny armaram-se dos apetrechos para pesca e saí ram caminhando à beira do lago, procurando um bom lugar para tentar apanhar alguns peixes. Rhoda e Jan descobriram ama velha canoa e foram passear no lago.

No momento, nã o havia sinal deles e nem de Cindy e Danny, que haviam subido um pouco mais o rio, com a esperanç a de ter mais sorte na pesca. Por algum tempo, Jessica ainda foi capaz de ouvir as vozes deles, mas agora só havia o murmú rio da á gua nas pedras. Lembrou-se de Simon, que nã o via desde que tinha saí do para pescar. Na noite anterior, nas vezes em que ele se aproximou do cí rculo em volta da fogueira, Jessica fez questã o de ignorá -lo, determinada a provar que Rhoda estava enganada. Era ridí culo pensar que Simon tinha vindo à excursã o porque estava interessado nela. Ele era distante e inacessí vel como os picos daquelas montanhas, mas ainda assim, era impossí vel para Jessica nã o ficar sempre consciente de sua presenç a. Um puxã o na linha alertou-a e Jessica percebeu que tinha fisgado alguma coisa. Será possí vel que era mesmo um peixe? Ela ficou em pé e começ ou a enrolar a linha. Logo surgiu de dentro do rio, preso ao anzol, um peixinho brilhante que se agitava desesperadamente. Sem saber direito o que devia fazer a seguir, Jessica fitou o animalzinho por um momento, enquanto ele continuava se debatendo no chã o.

— O que se costuma fazer é retirar o anzol da boca dele! Simon falou atrá s dela, com aquela voz claramente divertida e zombeteira. Jessica se virou para ele.

— Há quanto tempo você está aí? — ela perguntou. Simon estava encostado ao tronco de uma á rvore.

— O bastante para ver sua dú vida quanto ao que fazer com o peixe que fisgou! — Ele começ ou a caminhar para perto. — Parece que é a primeira vez que apanha um peixe.

— E é! Mas, agora que o peguei, fiquei arrependida! Ele parece tã o frá gil, coitadinho...

Simon tinha os olhos tã o brilhantes quanto a á gua do lago. — É um peixe bem pequeno. — Ele segurou a linha com uma das mã os e com a outra retirou agilmente o anzol da boca do bichinho.

— Quer que o jogue de volta à á gua?

— Ele vai viver se fizer isso?

— Sim, nã o está machucado... É uma truta dourada, o lago está cheio delas. Sã o deliciosas, mas, neste tamanho, você precisaria apanhar uns dez!

— Entã o, por favor, atire-o de volta. Nã o quero que morra inutilmente. Minha primeira e ú ltima tentativa de pescar!

— Vai desistir assim com tanta facilidade? — Simon perguntou, surpreso, depois de atirar o peixe de volta ao lago.

— Nã o estou acostumada a matar. Gozado é que quando me sentei aqui, para pescar, em nenhum momento pensei que estaria matando os pobres bichinhos!

— Como faria entã o para sobreviver num lugar selvagem como este? Seria necessá rio pescar ou caç ar para obter o que comer! O Pemmican nã o cresce em á rvores.

— Pemmican? — Jessica perguntou, sentando-se de novo na rocha, onde estava antes.

— É um tipo de bolo de carne defumada, inventado pelos í ndios para preservar a carne dos bú falos que caç avam. Foram eles que ensinaram aos homens brancos, exploradores que mais tarde apareceram por aqui. £ uma comida nutritiva, apropriada para se levar quando se tem de viajar por regiõ es inó spitas como esta. Mas primeiro é necessá rio caç ar e matar o animal. Quando o nome do jogo é " sobrevivê ncia", nã o há lugar para coraç ã o mole! Acho que uma garota da cidade, como você, nã o sobreviveria muito tempo numa situaç ã o dessas.

— Ora, como é que pode afirmar isto? Sou muito mais forte do que aparento ser e você nã o deve me julgar por causa do lugar onde moro. Está sendo preconceituoso.

— Mas eu sou preconceituoso — ele concordou com uma expressã o estranha no rosto. — Principalmente com jovens viú vas, de cabelos e pele claros, que se dã o bem com garotos — ele continuou, insinuante. — Garotos como Danny.

Jessica virou-se bruscamente. Simon estava sem o chapé u, e ela podia ver os traç os retos e angulosos de seu rosto, a boca com lá bios firmes e vermelhos. Baixou os olhos e viu, logo abaixo da garganta, os pelos daquele peito forte e musculoso, que saiam pela gola da camisa entreaberta. Simon estava perto demais, o suficiente para deixá -la perturbada. Ela virou-se novamente para o lago, e viu a pequena ilha coberta de á rvores que saltava para fora da á gua. Nunca antes tinha sentido um desejo tã o forte de tocar uma pele bronzeada como aquela, de acariciá -la sem ser convidada a isso, nem mesmo no tempo em que esteve casada.

— O que você quer dizer com isso? — perguntou, tã o fria quanto possí vel.

— Danny gostou muito de você. — Simon começ ou a explicar devagar. — Nã o fez outra coisa senã o falar a seu respeito depois que voltamos daquele passeio a cavalo que fizemos pela floresta. Ele ficou maravilhado por você convidá -lo para a excursã o, o bastante até para desafiar minha autoridade.

— Está me culpando por Danny ter desafiado você? — ela perguntou, meio nervosa.

— Exatamente. Danny é um menino muito sensí vel, incapaz de contrariar os outros.

— É agora que vai me dizer que ele precisa de uma mã e?

— Nã o, nã o é! Oh, você nã o ousaria pensar que eu ia dizer uma coisa dessas!

—Nã o...?

— Você nã o hesitou em me dizer que nã o lhe dou afeto suficiente. Entã o, por que nã o vai até o fim?

— Por que você é tã o desconfiado e preconceituoso com relaç ã o à s mulheres que logo ia achar que estava me candidatando ao cargo de mã e adotiva de Danny!

— E nã o está? — ele perguntou num tom detestá vel.

— Nã o, nã o estou. Ser mã e adotiva deve ser uma das tarefas mais difí ceis do mundo!

— Só quando a crianç a pode se lembrar de sua verdadeira mã e, o que nã o é o caso de Danny! — Simon tinha ficado sé rio de repente.

— Mas ele pensa nela, pois sua memó ria foi mantida viva pelas outras pessoas.

— Pelos pais de Lou, para ser exato. Eles sempre cultivaram a memó ria da mã e aos olhos de Danny, ao mesmo tempo em que sempre construí am uma imagem errada a meu respeito; um marido ruim e um pai ainda pior! — A voz de Simon tinha um. tom profundamente amargo e Jessica podia compreender o quanto tudo aquilo era doloroso para ele. — Eles querem que Danny vá para Edmonton, viver com eles. E o garoto quer ir.

— Entã o, por que você nã o deixa?

— Porque seria admitir que nã o sei cumprir minhas tarefas de pai — respondeu levantando um pouco o queixo, com orgulho.

— Seria melhor esquecer o orgulho e deixá -lo ir, do que arruinar completamente a relaç ã o entre você s dois, até que um dia Danny termine por fugir de você!

Simon nã o esperava aquela resposta. — Você está fazendo de novo — ele acusou.

— Fazendo o quê?

— Mostrando preocupaç ã o demais. Por que deveria se importar com o que acontece na vida de Danny? Daqui a alguns dias já terá ido embora. Entã o, para que se importar? — A voz de Simon tinha algo de estranho, como se fosse difí cil para ele rejeitar a preocupaç ã o de Jessica.

— Você tem razã o. — Ela deixou que seus olhos se perdessem naquele cená rio tã o tranquilo, que talvez nunca mais visse. Sentia que os olhos se marejavam de lá grimas. — Sim, por que deveria me envolver... — Jessica murmurou e em seguida, obedecendo a um impulso profundo e incontrolá vel, ela exclamou: — Oh, queria nã o ter de voltar para a Inglaterra! Como seria bom ficar aqui no outono, no inverno e ver a primavera chegar mais uma vez!

Simon nã o disse nada, mas Jessica o sentia bem perto dela. Sabia que bastaria um leve movimento para se encostar ao corpo dele, bastaria aproximar-se um pouco para que seu ombro tocasse aquele peito musculoso. E entã o... tudo que tinha a fazer era virar seu rosto para ele e oferecer os lá bios... Por Deus! O que estava acontecendo com ela? Jessica endireitou o corpo, que estava relaxado e sensual, desejando ser acariciado. As montanhas continuavam só lidas e impá vidas e um grande pá ssaro escuro passou voando rasante sobre a á gua do lago, emitindo seu silvo alto e agudo. Simon se moveu, afastando-se um pouco da pedra e virou-se para poder vê -la de frente.

— E entã o, gosta daqui? — ele perguntou. — Nã o estou me referindo apenas ao lago, mas à floresta, à s montanhas, longe da cidade e do movimento...

— Eu adoro — ela falou com sinceridade. — Gostaria de ter tempo para viajar mais, conhecer o outro lado das montanhas... É estranho, mas me sinto como se estivesse em casa!

— O espí rito falou com você — Simon disse e, vendo o olhar surpreso de Jessica, continuou: — É uma coisa em que meu avô, Sam Benson, acreditava. Costumava dizer que se o espí rito de um lugar fala com você, entã o você vive ali. É uma crenç a indí gena e talvez seja o que está lhe acontecendo. Acha que poderia viver aqui?

— Sim, eu sinto isso.

— Entã o, por que nã o fica?

A pergunta a confundiu, pois nunca tinha considerado antes a possibilidade, nunca tinha pensado numa mudanç a tã o brusca em sua vida. Nos ú ltimos dois anos, havia se agarrado à rotina como uma maneira de nã o ter sentimentos, pois se os tivesse, temia que fosse sofrer de novo. No entanto, agora sentia que gostaria de ficar vivendo ali, junto daquele homem.

— Como é que poderia? Tenho que trabalhar para me sustentar e nã o é fá cil conseguir um emprego. Sou só uma visitante por aqui, uma estrangeira, o que torna tudo ainda mais difí cil.

— Eu poderia oferecer-lhe este emprego — ele falou secamente.

— Você?

— Sim, claro. — Atrá s de seus olhos, um riso secreto se escondia. — Preciso de uma assistente pessoal e, pelo que me disse em Edmonton, é o que você faz.

— Você está se divertindo comigo — ela acusou, já recolhendo o material de pesca, decidida a voltar para o acampamento.

— Nã o, nã o estou — ele insistiu, aproximando-se e segurando-a pelo braç o. — Talvez tenha me explicado mal, mas creio que posso lhe oferecer um trabalho.

— E que trabalho seria esse? Mã e adotiva de Danny, eu suponho... — Jessica tinha rancor na voz.

— Talvez. Mary Trip, filha de Joe, é quem cuida da casa, da alimentaç ã o de Danny e toma conta dele. Mas no fim deste mê s ela vai casar e preciso arrumar algué m para substituí -la, o que está bastante difí cil. Se nã o conseguir encontrar uma pessoa, terei que deixar Danny viver com os avó s, em Edmonton.

Simon fez uma pausa, limpando o suor da testa com a mã o marcada pelas cicatrizes. Era ó bvio que se esforç ava para ser claro naquilo que dizia. Ele continuou: — O que realmente quero dizer é que se algué m como você estiver em casa quando Danny voltar da escola, será diferente. Mary é ó tima pessoa, mas um pouco rude demais para um garoto como ele. Danny precisa de algué m que seja firme, mas gentil; algué m que possa estimular seu interesse pelas coisas que o rodeiam, algué m que converse com ele. Enfim, algué m como você.

Surpresa com tudo aquilo, Jessica nã o se opô s quando Simon segurou-lhe també m o outro braç o, como se isso desse mais ê nfase à s suas palavras. — Oh, você nã o sabe o que está me pedindo — ela protestou.

— Sim, eu sei. Talvez pareç a estranho depois da maneira como tenho agido... acho que estive pensando coisas má s a seu respeito, Jess Howard!

Ela estava cada vez mais surpresa. Era como se Simon tivesse destruí do a barreira que havia entre os dois desde o primeiro encontro. Imaginou como seria se aceitasse o emprego: seria entã o a mulher de um dia de trabalho. E tudo estaria bem, desde que nã o tivesse sentimentos de posse sobre ele, mesmo que Simon se mostrasse interessado em suas qualidades fí sicas. Nã o era só assim que ele tinha dito que conseguiria conviver com uma mulher?

— Desculpe-me por ter pensado aquelas coisas a seu respeito. — Simon estava bem pró ximo agora, suas mã os segurando os braç os de Jessica como se no momento seguinte fosse puxá -la para si e beijá -la.

Seria fá cil colocar os braç os na nuca dele e abraç á -lo, rendendo-se ao prová vel beijo. O desejo de fazer esse gesto crescia dentro de Jessica, transformando-se num nó em sua garganta. Seu corpo todo pedia isso e ela afastou-se, com medo de se entregar à quela sensaç ã o. — Claro que o desculpo... É natural ser desconfiado com uma pessoa estranha.

— Entã o, você aceitará o emprego, e verá o outono passar, o inverno, até chegar de novo a primavera.

Ela estava de fato tentada a aceitar a proposta, sem se preocupar onde tudo aquilo poderia levá -la. Seria uma maneira de se desligar do passado, começ ar vida nova num paí s diferente, longe daquelas memó rias tã o dolorosas. Entã o, talvez fosse possí vel se apaixonar outra vez. Contudo, amar novamente era a possibilidade de sofrer de novo. Aquele homem já a tinha machucado antes e Jessica hesitou, desviando o olhar. Simon soltou seus braç os e afastou-se um pouco.

— Você nã o está interessada.

— Oh, estou. — Ela olhou-o novamente. — Mas nã o posso aceitar o emprego. Aprecio sua oferta, mas... mas... é que já tenho um contrato com James Marshall.

Simon tinha os olhos frios como gelo. — Como é que pude me esquecer dele? — falou com ironia. — Está bem, deixe de lado tudo isso. Eu disse que você nã o iria aceitar e só cheguei a fazer a proposta por que você confessou que gostaria de viver aqui.

De novo estava erguida a barreira entre eles, e Simon se escondia atrá s dela. Jessica sentiu remorso por ter causado aquela separaç ã o, e tentou se reaproximar— Sobre Danny... Você disse que foi ele quem pediu para que eu ficasse?

— Sim, isso mesmo. Você nã o pensou que pudesse ser ideia minha, nã o é? — Simon havia se afastado e contemplava a densa floresta pró xima do cume da montanha. Parecia arrependido de ter feito aquela proposta para Jessica. Agora estava tentando mostrar que nã o tinha a menor importâ ncia para ele. — Veja, lá está uma á guia voando perto do cume. Algué m deve ter se aproximado de seu ninho.

— Danny e Cindy. Eles subiram para achar a nascente desse riacho que desagua no lago.

— Já está na hora de voltarem, o sol se põ e muito rapidamente atrá s dos picos mais altos. — Ele virou-se para Jessica. — Danny vai ficar desapontado quando souber que você nã o ficará.

Isso soava como uma tentativa, apelando para os sentimentos dela em relaç ã o a Danny. — Você vai contar a ele agora?

— Ainda nã o. Se fizer isso, ele tentará convencê -la até voltarmos. Vou esperar nossa chegada no rancho.

— O que acha de Rhoda? Simon a fitou com grande surpresa.

— Você nã o pode estar falando sé rio!

— Mas estou! Sei que ela gostaria de ficar aqui em Alberta e tem muita experiê ncia com crianç as. Danny gosta muito dela e Rhoda també m conheceu a mã e dele...

— Está bem, está bem, nã o é necessá rio me dizer as qualificaç õ es de Rhoda. A questã o é que ela cobraria muito alto por esse serviç o!

— Mais do que você poderia pagar?

— Nã o... Mais do que tenho vontade de pagar. — Simon tinha a resposta pronta, segura.

— Tenho certeza que ela aceitaria por menos...

— Eu tenho certeza que nã o! — Ele a interrompeu. — Ela iria querer ajeitar as coisas à sua pró pria maneira, que nã o é igual à minha. É melhor esquecermos tudo isso, acho que estou ouvindo a voz de Danny. Gostaria de pedir a você que nã o dissesse nada a ele.

— Mas, e se me perguntar?

Pela primeira vez, ela via aquele homem hesitar, sem saber o que dizer por um segundo. — Você poderia dizer que ainda está resolvendo — ele sugeriu, afinal.

— Suponho que sim... Contudo, de que adiantaria?

— Me dará tempo de pensar numa soluç ã o alternativa antes que ele comece a me perturbar com a histó ria de se mudar para Edmonton. Já nã o bastam os pais de Lou e minha pró pria mã e a insistirem nisso o tempo todo? — Nesse momento, Danny e Cindy saí am dos limites do bosque, e o garoto chamou pelo pai, com sua voz estridente. —... À s vezes gostaria de nunca ter encontrado Lou! — Simon disse, antes de ir ao encontro do menino.

Se pelo menos existisse uma maneira de mostrar-lhe que o casamento nã o era necessariamente uma prisã o, que cada um dos parceiros podia desejar coisas diferentes da vida... mostrar-lhe que o casamento podia ser uma relaç ã o onde se dividem os sonhos e as esperanç as, os temores e os receios... Mas como poderia, se sua experiê ncia havia lhe deixado uma marca profunda e dolorida? Só se ela ou alguma outra mulher concordasse em viver com ele antes de um eventual casamento. Se aceitasse a proposta de Simon, entã o teria uma oportunidade para fazer isso! A ideia tomou conta de Jessica mas, logo em seguida, ela tratou de afugentá -la. Como posso estar pensando nessas coisas? Deve ser este lugar, o espí rito que vive aqui está tentando influenciar-me com um monte de ideias loucas, pensou. Ela pegou o equipamento de pesca e foi logo juntar-se a eles, que já tinham partido para o acampamento. Danny nã o cabia em si de satisfaç ã o, contando para o pai que tinha fisgado vá rios peixes e, alé m disso, avistado o ninho da á guia.

— Estou tã o feliz que você tenha vindo — o garoto falava para Jessica, agora. — Você també m nã o está contente com o passeio? — Sem esperar pela resposta, ele perguntou: — Quantos peixes apanhou?

Jessica disse o que tinha acontecido e Danny pareceu desgostoso. Contou que tinha apanhado trê s peixes e pretendia dividi-los com o pai para o jantar. Quando chegaram ao acampamento, Joe preparava seu assado com cebolas e batatas. Rhoda e Jan també m já tinham voltado do passeio de canoa e traziam alguns peixes que, junto com os de Danny e Cindy, foram suficientes para todos experimentarem um pouquinho antes do jantar. O lago tinha perdido seu tom azul-claro e agora ganhava um brilho fantá stico, que persistia mesmo com o cé u já escuro. No silê ncio noturno do vale, a luz e os estalos da fogueira traziam conforto e aconchego, e todos se sentaram em volta dela depois do jantar, escutando as canç õ es de Jan. Joe sugeriu que se deitassem cedo, pois no dia seguinte começ ariam a viagem de volta e Cindy e Jessica logo aceitaram sua sugestã o. Rhoda ficou perto da fogueira e, ao virar-se para trá s, antes de entrar em sua barraca, Jessica viu que ela tinha se sentado ao lado de Simon e conversava com ele.

O ar da noite era frio e Jessica sentiu-se grata por entrar no saco de dormir. Ela e Cindy conversaram algum tempo sobre o lago, sobre o que tinham feito durante o dia, até que a garota adormeceu. Deitada na barraca escura, ouvindo os pios dos pá ssaros noturnos, Jessica pensou se tinha agido certo ao recusar a oferta de Simon, perguntando-se se nã o devia escutar o espí rito do lugar que lhe dizia para ficar... se nã o devia permitir que o desejo fí sico que sentia por Simon afinal se realizasse...

Ela nunca tinha desejado um homem daquela forma, antes. Mesmo Steve. Talvez nã o o tivesse conhecido o tempo suficiente para que isso acontecesse, e o sexo surgiu como resultado natural do casamento. Aquelas sensaç õ es urgentes e primitivas eram algo novo para ela... Contudo, mal conhecia Simon també m. Por que se sentia assim? Será que Rhoda tinha razã o ao dizer que estava saindo de sua fase de solidã o? Será que estava pronta para uma aventura com um homem... um homem atraente, diferente dos seus amigos...? Pensando nisso, Jessica se virou para o outro lado e, surpresa, escutou a voz de Rhoda.

— Pensei que você estivesse dormindo.

— Nã o me sinto muito cansada — Jessica murmurou.

— Eu també m nã o.

— Gostou do passeio de canoa?

— Sim, foi bom, eu suponho. Jan é um grande conhecedor de plantas, peixes e pá ssaros. Mas eu nã o reclamaria se tivesse ficado em seu lugar. — A voz de Rhoda estava carregada de inveja.

— Ora, nã o fiz nada de muito especial... Tomei um pouco de sol, apanhei um peixe por acidente e deixei minha mente passear um pouco.

— Nã o durante o tempo todo! Vi quando encontrou com Simon, à margem do lago. Nó s está vamos voltando e Jan chegou a chamá -los, mas estavam tã o entretidos na conversa que nem sequer escutaram. Afinal, sobre o que tanto conversam?

— Ora, nada em especial. Hoje ele estava me falando de Danny, dizendo que talvez tenha de deixá -lo viver com os avó s, em Edmonton. Simon está muito preocupado com isso.

— E para mim ele nã o disse nada sobre isso! — Rhoda parecia ofendida. — Por que confia em você, uma pessoa estranha para ele e nã o em mim, que já o conheç o há tanto tempo, que poderia aconselhar e... — Á voz de Rhoda ia crescendo e, notando que Cindy se movimentava, Jessica interrompeu-a.

— Fale baixo, senã o vai acabar acordando Cindy!... Nã o acho que Simon está a procura de conselhos, ele sabe o que deve fazer com Danny, só precisa de um pouco de ajuda! Alé m do mais, já recebe conselhos suficientes por parte dos avó s do garoto e de sua pró pria mã e, e nenhum deles está servindo para muita coisa!

— Os pais de Lou nunca gostaram muito de Simon, sempre foram contra o casamento deles. Lou nã o precisava da permissã o para casar, pois já era maior de idade. De qualquer maneira, ela sempre foi muito dependente emocionalmente.

— Suponho que seja por isso entã o que nã o conseguiu viver longe deles — Jessica disse. — E quanto à mã e de Simon, como ela é?

— Grace é uma mulher muito dominadora. Divorciou-se de Grant Benson porque discordava da educaç ã o que recebiam Simon e seu irmã o, e ficou com os filhos. Pouco tempo depois, mandou-os para uma escola em Ontá rio, mas Simon fugiu de lá e voltou ao rancho, para ficar com o pai. Suponho que ainda houve uma batalha judicial antes que Grant conseguisse a custó dia legal de Simon. Foi por insistê ncia da mã e que, mais tarde, Simon foi para a Universidade. Ela nunca conseguiu entender a preferê ncia dele pelo rancho, e se dá conselhos a respeito de Danny, é porque ainda continua interferindo!

—... Com a esperanç a de poder fazer do neto o que nã o conseguiu com o filho — Jessica disse, com um suspiro. — Acho melhor dormirmos para descansar. Amanhã teremos um dia cheio!

— Suponho que sim — Rhoda concordou... — mas nã o pense que me convenceu muito ao dizer que você e Simon falaram somente sobre Danny! Existe alguma coisa acontecendo entre você s e pode ter certeza que descobrirei tudo antes de voltarmos para o rancho.

— Ora, nã o seja tola, Rhoda, e durma! — Jessica respondeu com rispidez e virou-se para o outro lado, fechando os olhos.

A alvorada tingia o interior da barraca com uma cor levemente alaranjada, quando Jessica acordou com o grito de Joe, anunciando que o café estava pronto. Cindy já tinha saí do e tudo que se podia ver de Rhoda era uma montanha de cabelos emaranhados.

— Rhoda, acorde. O café já está pronto — Jessica falou, enquanto sentia o ar frio, agora que saí a do aconchego do saco de dormir. Lá fora, ainda com sono, sentou-se ao lado da fogueira, junto dos demais. O desjejum estava ó timo, com ovos e bacon, alé m de café. A pouca distâ ncia, o lago ia mudando de cor, na medida que o sol subia, passando do alaranjado a um tom amarelo e depois tornando-se um pouco cinza, quando o sol escondeu-se atrá s de grossas nuvens que passavam depressa.

— Ponha roupas quentes — Simon disse ao se aproximar de Jessica. — Aqui em cima nã o se pode sentir, mas, a julgar pelas nuvens, deve haver um vento forte lá embaixo.

Meia hora depois, as barracas já estavam desmontadas e dobradas. Os cavalos foram selados e Jan avisou que sua montaria estava mancando um pouco. Ele passou a usar o cavalo extra. Joe consultou Simon, antes de saí rem. — Quer tomar a lideranç a, patrã o?

— Nã o, esta viagem é sua — Simon respondeu. — Irei no fim da fila, tomando conta dos cavalos de carga.

Joe amarrou as ré deas do cavalo extra, que tinha sido usado por Jan, à sela de seu pró prio cavalo, e iniciou a cavalgada, sem dizer mais nenhuma palavra. Cindy partiu logo atrá s dele, seguida de Danny e, depois, Jan. Na clareira onde haviam acampado, restaram Rhoda, Jessica e Simon. — Vá você agora — Rhoda sugeriu para Jessica, com um sorriso brilhante e falso. Ela parecia ter recuperado a confianç a em si mesma e estava disposta a conseguir o que queria.

— Espere, Jess — Simon ordenou —... suas correias nã o estã o bem presas. — Ele desmontou imediatamente, caminhando até Jessica. Montada no cavalo, ela o via de cima para baixo, o topo de seu chapé u branco e seus ombros largos.

Simon acabou de prender as correias e olhou para cima, encarando-a diretamente. — Assim está melhor — disse, suavemente. — Sonhei com você a noite passada. — Jessica sentiu um arrepio. Era como se estivesse sendo acariciada por aquela voz. Ele falava tã o baixo, que Rhoda nã o ouvia.

— Espero que tenha sido um sonho agradá vel. — Ela tentou parecer natural, apesar da cadeia de sentimentos diferentes que começ avam a remexer dentro dela.

— Sim, foi muito agradá vel... isso mostra o quanto você tem estado em minha cabeç a nos ú ltimos dias! — Depois de dizer aquilo, ele voltou e montou no grande cavalo negro. — Você s vã o indo na frente, eu as alcanç o depois. Se nã o andarmos logo, daqui a pouco acabamos perdendo Joe de vista!

Como Simon havia previsto, o vento estava forte e frio e Jessica sentia-se grata pela jaqueta que Cindy tinha emprestado. Nã o havia muita chance de conversar naquela cavalgada, pois a trilha era muito estreita e ela nã o estava muito interessada em apreciar a paisagem, mais preocupada em tomar cuidado com as pequenas farpas de gelo que o vento trazia. Era necessá rio tomar muito cuidado, pois Snap escorregava à s vezes e, se nã o fosse devagar, o animal poderia acabar se machucando. Quando a trilha alargou, Jessica se aproximou de Jan e Danny, à s vezes cavalgando lado a lado com eles. Rhoda se mantinha atrá s, aparentemente tentando ficar entre Jessica e Simon. Talvez ela desejasse cavalgar com ele, mas Simon nã o fazia forç a para se aproximar.

Depois de um dia de descanso, voltaram à viagem. Snap demorou a responder ao comando de Jessica. O percurso agora era mais penoso que na vinda. Muito mais tarde, quando afinal chegaram ao grande anfiteatro natural onde tinham acampado, ela estava cansada e dolorida. Joe tinha chegado bem antes e preparado o jantar, que já estava quase pronto. O vento uivava nos picos das montanhas e todos se abrigaram no conforto do fogo e na companhia que se faziam uns aos outros. Aquela era a ú ltima noite em que acampavam e depois da costumeira rodada de canç õ es interpretadas por Jan, Joe começ ou a contar histó rias de outras viagens que tinha feito, histó rias de sua infâ ncia nas montanhas, sua vida junto com sua tribo.

Quando foram se deitar, Jessica teve uma agradá vel surpresa ao ver que tinham sido providenciados mais cobertores. Desde que partiram do rancho, aquela era a noite mais fria de todas. Na manhã seguinte, o cé u estava azul e o vento bem mais fraco, prometendo um dia melhor. Levaram algum tempo antes de se pô r em marcha novamente, como se nenhum deles estivesse muito ansioso para retornar ao mundo lá embaixo. Jessica parou para observar a paisagem e os outros se distanciaram um pouco. Quando se pô s novamente em marcha, depois de algum tempo, percebeu um movimento rá pido e um ruí do estridente na rocha bem perto de sua perna, que a assustaram. Ela puxou violentamente o freio do cavalo e o animal, també m assustado, descontrolou-se, dobrando as quatro patas e indo ao chã o-

Jessica levou um grande susto com a queda, mas, felizmente, hã o se machucou. Sentou-se numa pedra e, depois de se refazer um pouco, aproximou-se de Snap e começ ou a falar gentilmente com ele, encorajando-o a se pô r de pé novamente. Nesse momento, viu que o causador de todo aquele susto era um pequeno coelho selvagem, que a olhava muito curioso de dentro de uma fenda na rocha. Ela montou Snap e retomou a caminhada, mas percebeu consternada que o animal mancava. Desmontou mais uma vez e foi examinar sua perna, tentando descobrir o quanto estava machucada. O trotar de um cavalo logo atrá s dela, avisou-a de que algué m mais vinha chegando. Era Rhoda. — O que está planejando agora? — ela perguntou.

— Nã o estou planejando nada! — Jessica ficou bastante irritada com aquele jeito desconfiado de Rhoda. — Eu machuquei Snap, a culpa foi toda minha. Me assustei com um coelho nas pedras e dei um puxã o no arreio. Ele se desgovernou e caiu, e agora nã o consegue andar sem mancar!

— Acho que Simon vai ficar furioso! — Rhoda disse. — Já está de mau humor, e o outro cavalo machucado que ele vem trazendo está lhe dando bastante trabalho!

Jessica observou Rhoda com atenç ã o, notando que sua face estava pá lida, contrastando com o vermelho forte dos lá bios e das bochechas. Devia estar zangada por algum motivo. — Você nã o se ofereceu para ajudá -lo com o cavalo?

— Sim e você nã o imagina como ele me tratou! Acho que estou começ ando a entender porque Lou o abandonou, afinal! Ele deve ser o machã o original, precursor de todos os outros!

— Mas Rhoda, como pode falar dessa maneira a respeito dele? Será que já nã o gosta mais de Simon?

— Eu... eu... Oh, Deus, eu nã o sei! Tantos anos perdidos, pensando em um homem que nã o me dá a mí nima atenç ã o!

— Nã o foram anos perdidos, Rhoda. Pense em todas as viagens que fez, os lugares que conheceu, quanto trabalho realizou... Pense como talvez tenha sido muito mais feliz esses anos todos do que se tivesse ficado aqui e, quem sabe, casado com Simon. Será que consegue se imaginar satisfeita cuidando da casa, cozinhando, limpando, tomando conta de Danny e, possivelmente, de um outro filho?

Montada no cavalo, Rhoda olhou para baixo e encarou Jessica. — Bem, agora que colocou as coisas desta maneira, vejo que talvez tenha razã o! Nã o sou o tipo de mulher domé stica e, mesmo que me casasse com Simon, ia querer continuar trabalhando! Acho que me deu um bom assunto para pensar, Jessica. Realmente, nã o sou este tipo de mulher, e acho que Simon quer algué m exatamente assim!

— Suponho que sim — Jessica murmurou, voltando sua atenç ã o para Snap. — Oh, espero que Simon nã o fique muito zangado pô r eu ter machucado o cavalo...

— Bem, acho que vai saber logo, pois já estou escutando ele se aproximar. Pela maneira como me tratou há pouco, nã o sinto vontade de esperá -lo. Vou me ajuntar aos outros e se você precisar de ajuda é só chamar, está bem?

Um pouco surpresa pela sú bita decisã o de Rhoda, Jessica observou a amiga se afastando. Sozinha por uns momentos, sentiu-se satisfeita pelo sol que brilhava forte e a esquentava. Pouco depois, ouviu o barulho de cascos se aproximando. Era Simon, montado em seu cavalo negro, o indefectí vel chapé u branco sobre a cabeç a. Ao avistar Jessica em pé ao lado de Snap, puxou o freio devagar e seu cavalo parou, assim como o outro, que vinha logo atrá s. — O que foi desta vez? — ele perguntou, um certo tom exasperado na voz.

— Snap está mancando! — Jessica disse com voz pesarosa, explicando em seguida tudo que havia acontecido. —... Eu sinto muito! Simon nada disse. Desmontou e se ajoelhou perto de Snap, para examinar-lhe a perna, com dedos gentis e experientes. Ao sentir que lhe apertavam um ponto dolorido, o animal gritou de dor.

— Está com o tornozelo torcido, deve doer bastante — Simon disse, levantando-se e fitando o cé u. — Ainda bem que o tempo está bom e parece que vai continuar assim... É uma longa caminhada até o rancho.

— Sim, suponho que sim — Jessica replicou, examinando as botas pesadas que Molly lhe emprestara. Eram boas para cavalgar, mas nã o seriam indicadas para uma longa caminhada. — Quanto tempo você acha que levarei?

Simon fitou-a por um momento e nada disse. Ajeitou o chapé u sobre a cabeç a, com um ar pensativo e levemente surpreso. — Depende de sua capacidade para caminhar e de quantas paradas fizer. Acho que, de qualquer maneira, ' já estará escuro quando chegar ao rancho. Terá que conduzir Snap pelas ré deas e dar-lhe bastante descanso durante o percurso.

— Compreendo. Entã o, quanto antes eu partir, melhor, nã o é? — Jessica se aproximou de Snap e tomou-lhe á s ré deas. — Se conseguir alcanç ar Joe, talvez possa cavalgar o cavalo que carregava a comida, quando viemos.

— Sim, talvez... Onde está Rhoda?

— Foi na frente. Espero que encontre Joe e lhe diga o que aconteceu.

— Eu nã o contaria com isto. Joe sabe que eu venho atrá s, e tenho equipamento para acampar mais uma noite, caso algo saia errado e atrase a volta. Ele precisa chegar no rancho hoje de qualquer maneira, pois amanhã já sai em outra excursã o, para o vaie Tonquin.

— Realmente, espero que nã o seja preciso acampar mais esta noite — Jessica replicou, consternada.

— Será que isso quer dizer que nã o confia em mim?

— Nã o, claro que nã o! A questã o é que James chegará hoje à noite na casa de Molly e se eu nã o estiver por lá, certamente ficará muito preocupado!

— Ah, sim, James... Sempre me esqueç o dele. Qualquer um pensaria que é mais do que seu patrã o, pela maneira como se preocupa quando você está ausente. Ele é de fato mais alguma coisa alé m de patrã o?

A pergunta era acompanhada de um olhar cí nico e Jessica perguntou-se por que ficavam ali conversando, já que tinham també m urgê ncia para voltar! Parecia que Simon a segurava premeditadamente. — James é um ó timo patrã o e um excelente amigo — ela replicou calmamente, segurando as ré deas de uma maneira que mostrava estar pronta para partir.

— Um " excelente amigo" assim como " assistente pessoal" é uma frase que pode significar muitas coisas...

— Bem, nã o significa o que você está pensando.

— E o que estou pensando?

— Está pensando o que pensou quando viu James me dando aquele beijo de boa-noite, no hotel, e está tã o errado agora como daquela vez: James nã o é meu amante!

— Mas gostaria muito de ser...

— Nã o, nã o gostaria. James nã o é uma pessoa deste tipo!

— A que tipo está se referindo?

— Ele... ele é convencional, acredita nas coisas sendo feitas da maneira correta.

— Você quer dizer que ele acredita que se deve casar primeiro, nã o é? E você s, vã o se casar?

— Eu... ora, isto nã o é da sua conta! — Jessica estava cansada daquela conversa. — Será que nã o está na hora de ir andando em vez de ficar aqui, conversando sobre James? ...

— Foi você quem o trouxe à tona. — Simon estava bastante calmo, ao contrá rio de Jessica, que se mostrava irritada.

— Eu acho que você está nos atrasando deliberadamente! Nã o quer que nos juntemos aos outros! — ela explodiu, afinal.

— E por que eu faria uma coisa dessas? — Seu olhar era cí nico e duro. — Nã o há nada que a impeç a de começ ar a caminhar... Eu virei atrá s, nã o com tanta pressa como você, pois me preocupo com os animais. Aliá s, nã o será nada fá cil a caminhada para Snap, portanto é bom que tome mais cuidado com ele daqui para a frente, srta. Howard!

Enquanto ele falava, sua face se tornava crispada. Sentindo-se culpada por Snap, Jessica olhou para baixo, para a longa trilha na montanha que tinham de descer. Fazer isso montada em um cavalo que conhece seu caminho era tarefa fá cil, mas fazê -lo andando, sem guia à frente para lhe mostrar onde devia ir...

— Bem, o que está esperando? Ningué m a segura aqui... Agora ela tinha certeza que Simon sentia um certo prazer sá dico em atormentá -la, apenas por que era mulher. Jessica foi tomada por uma sú bita onde de raiva pelas duas mulheres que nunca conhecera: Lou e a mã e de Simon! Sim, porque certamente eram elas as culpadas pela postura atual dele diante das mulheres.

— Tem razã o, nada está me segurando. — Ela mantinha a voz calma. — Nos encontramos mais tarde, entã o.

A princí pio, Snap nã o queria andar, mas Jessica conversou com ele e o afagou, até que o cavalo finalmente cedeu. Eles partiram na direç ã o que Rhoda havia tomado, pouco antes. Era bem mais difí cil agora, que tinha de caminhar. Antes ficava na sela, observando o horizonte. Agora, precisava medir cada passo naquele terreno í ngreme. O sol estava bastante quente e Jessica suava. Quando atingiu uma clareira, onde Snap nã o tinha dificuldade para se manter em pé, ela parou para retirar uma das blusas que usava. Notou que Simon nã o estava muito distante, montando seu cavalo calmamente, seguido do outro animal. Ele parecia absolutamente desinteressado do que ela pudesse estar fazendo. Jessica recomeç ou a andar, lembrando-se que um dia dissera para James que Simon era um cavalheiro... Como estava enganada! Se realmente fosse, teria lhe dado seu cavalo e se oferecido para caminhar. Contudo, nã o seria justo, pois era ela a culpada pelo acidente de Snap. Talvez, Simon somente a estivesse tratando de igual para igual e sua indiferenç a devia entã o ser entendida como algo natural.

Mas, por que se importar com o que Simon pensava a seu respeito? Nunca mais o veria, depois de hoje. Continuando pela trilha, Jessica lembrou-se dos outros encontros que teve com aquele homem e da maneira como ficou triste, um dia, quando pensou que nunca saberia como Danny perdeu a mã e, como as mã os de Simon ganharam aquelas cicatrizes... Agora, ela sabia isto e muito mais e, portanto, nã o deveria haver tristeza quando dissesse adeus para Simon naquela noite. Isto é, se realmente chegassem ao rancho naquela noite!

Consultou o reló gio e ficou chocada ao ver que já passava das duas horas. Nã o era de se admirar que estivesse com tanta fome! Haviam parado perto de um regato e Snap caminhou até a á gua, para matar a sede. Jessica també m tinha sede e, ajoelhando-se com as mã os em concha, bebeu a á gua pura e fresquinha. Quando se levantou, sentiu que o calcanhar doí a. Decerto, era uma bolha que começ ava a nascer! O ruí do das passadas dos cavalos anunciaram a chegada de Simon. Ele desmontou e també m ajoelhou-se no regato para beber á gua, com cara de satisfaç ã o. Ao terminar, levantou-se e se virou para Jessica.

— Como está indo? — perguntou com voz natural.

— Estou bem, mas faminta. Nã o estamos perto do lugar onde paramos para almoç ar na vinda?

— Nã o, ainda estamos bem longe... Puxa, eu estava mesmo com sede! O ar frio e meio rarefeito das montanhas é que nos dá tanta sede.

Mais uma vez, Simon nã o parecia ter a mí nima pressa. Era como se pudesse ficar o dia inteiro ali, falando sobre as montanhas.

— Se está com fome, por que nã o comemos os sanduí ches? Este lugar é tã o bom quanto qualquer outro para matar a fome e para os cavalos descansarem um pouco — ele sugeriu.

O lugar era de fato bastante agradá vel, e Simon nã o demorou para acender a fogueira e fazer um café. Depois que tinham comido, Jessica imediatamente foi lavar os utensí lios na á gua do regato.

— Você está com bastante pressa... — Simon disse. Estava sentado no chã o, as costas encostadas no tronco de uma á rvore. Era a pró pria imagem da indolê ncia.

— Será que nã o percebeu que horas sã o?

— Claro que percebi, pelo sol. Devem ser quase quatro horas.

Jessica consultou o reló gio, e viu que ele estava certo. Isso significava que tinham levado uma hora para preparar o café e comer a refeiç ã o.

— Você tem razã o — ela respondeu, aflita. — Portanto, é hora de irmos andando, caso contrá rio nunca conseguiremos chegar ao rancho antes de escurecer.

— Nó s nã o vamos chegar lá antes de escurecer... O quanto antes você aceitar esse fato, será melhor! Mesmo que Joe tenha deixado o cavalo para você, nã o me arriscarei a andar com esses animais machucados por essa trilha difí cil, no escuro.

— Entã o, parece que terei que ir sozinha, nã o é? — Jessica foi até onde estava Snap e, para sua infelicidade, sentiu que a bolha no pé doí a bastante agora. També m ela estava mancando!

— O que há de errado com seu pé? — Simon perguntou com voz tranquila. — Alguma bolha?

Jessica concordou com a cabeç a, enquanto tomava as ré deas de Snap.

— Por que nã o me contou?

— Por que nã o achei que era importante — ela falou com frieza. — Nã o está doendo muito.

— Mas vai doer se continuar andando! Pode montar Blackie e eu seguirei a pé.

Ela virou-se para Simon, que tinha se aproximado. Podia ver os pê los grossos de seu peito, que saí am pela camisa um pouco aberta. Via també m os mú sculos fortes do pescoç o, onde pulsava uma forç a vital. Seus olhos tinham uma sombra que os tornavam profundos e cheios de expressã o e Jessica sentiu-se excitada a tal ponto, que teve que dar um passo atrá s para ter completo controle de si mesma. — É gentileza sua oferecer, mas acho que conseguirei continuar assim mesmo. Obrigada.

— Nã o seja tola! É claro que nã o vai conseguir! E nã o pense que faç o isto por você. Estou protegendo a mim mesmo!

— Protegendo de quê? — ela perguntou surpresa.

— De seu patrã o! Suponho que nã o vai gostar nada se você voltar machucada de uma excursã o preparada pelo rancho! Vou colocar sua sela em meu cavalo!

Quando já estava montada sobre Blackie, ela olhou para Simon, que, no momento, se certificava que as correias da sela estavam bem presas.

— Posso ir na frente? — Ela nã o resistiu e perguntou. Simon nã o olhou para cima e deu de ombros.

— Ora, nã o é a primeira vez que desç o esta trilha caminhando, por causa de um cavalo machucado. Conheç o bem o caminho...

— Blackie sabe o caminho de volta para o rancho també m? — ela perguntou, já se imaginando na floresta cheia de sombras e provavelmente bastante escura dali a poucas horas.

— Sim, conhece bem. Mas tome cuidado com ele, nã o quero terminar a viagem com trê s cavalos e uma mulher machucados! Nã o faria bem algum à reputaç ã o do rancho Lazy R!

O sol começ ava a se esconder por trá s dos altos picos das montanhas e Jessica já estava a caminho há um bom tempo. Com a proximidade do fim do dia, o frio chegava novamente, e ela teve que parar para vestir de novo a blusa. Lá atrá s, bem mais alto, na montanha, podia ver o movimento de dois minú sculos pontos: eram os cavalos, e Simon deveria estar na frente deles, mas era impossí vel enxergá -lo daquela distâ ncia. MontandoBlackie novamente, ela recomeç ou a descida. Sabia que tinha de cruzar um platô de rocha nua, para entã o atingir a floresta, alé m da qual ficava o rancho. Só podia esperar que Blackie conhecesse de fato o caminho, pois ela já nã o tinha certeza de que reconhecia aqueles lugares por onde passava agora.

O cé u ainda estava bastante claro, embora houvessem muitas sombras, por causa das montanhas tã o altas. Depois de cavalgar por mais algum tempo, ouviu o barulho de á gua corrente: devia estar se aproximando de um riacho. Lembrava-se de ter cruzado um riacho na vinda, no domingo, mas ele ficava bem perto da passagem para a floresta e agora, nã o havia nem sinal dela. De qualquer maneira, era corto que tinha cruzado apenas um riacho. Todos os outros, ficavam acima daquele ponto onde se encontrava.

Quando afinal se aproximou do pequeno rio o panorama do outro lado era desconhecido. A formaç ã o de rochas que esperava encontrar e que indicariam a passagem para a floresta, nã o estava ali. Seria possí vel que Blackie tivesse se confundido e errado o caminho? O medo começ ou a tomar conta de Jessica. O que deveria fazer? Esperar que Simon a alcanç asse, com a esperanç a de que ele tivesse visto a direç ã o que tomou? Ou seguir acompanhando o riacho, acima, procurando o lugar onde tinha certeza que o havia cruzado no domingo?

 

 



  

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