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CAPÍTULO II
Durante os dias que se seguiram Jessica nã o teve tempo para refletir sobre os episó dios que a envolveram e à quele homem vestido como cowboy, nem sobre a inesperada reaç ã o de James a seu breve encontro com um misterioso estranho. Ocupada com as atividades do congresso, passou o tempo todo indo à s palestras com James, tomando nota, escrevendo cartas, alé m de comparecer à s reuniõ es sociais ao lado dele. Somente numa ocasiã o, quando viu num shopping center algué m usando um daqueles chapé us brancos, é que um vago sentimento veio à tona e a fez sorrir, lembrando-se das trê s ocasiõ es em que esteve junto dele. Ao mesmo tempo, sentia uma secreta tristeza por saber que jamais o veria outra vez. Aquela ideia a deixou alarmada. Desde a morte de Steve, nunca tinha se permitido sentir saudade de um homem. Cada dia passava como o anterior, Jessica nã o olhava para trá s, nem para frente. Lembrar o passado era sofrer pelos momentos felizes vividos com Steve, no pouco tempo que durou o casamento. Olhar para frente era encarar um futuro cinza, no qual ela se afastava de qualquer chance de um maior envolvimento fí sico e emocional com qualquer homem. O fim repentino da vida com Steve havia congelado suas emoç õ es. Jessica tinha medo de amar, pois a qualquer momento a felicidade e o amor poderiam escapar novamente. Assim, ela afastou aqueles sentimentos do coraç ã o e procurou esquecer o homem desconhecido. Nã o era difí cil, pois havia muito a fazer. Depois dos dias passados na Universidade, foi com James a toda sorte de shows e exibiç õ es que aconteceram durante os Dias de Klondike, que agora já estavam terminando. A sexta-feira chegou, e com ela o almoç o na casa dos Crawley, junto com diversas esposas de conferencistas. Molly Crawley estava recebendo a todos de uma maneira tã o agradá vel e simpá tica, que era impossí vel deixar de se sentir à vontade. A residê ncia era muito agradá vel, espaç osa e clara, transmitindo uma sensaç ã o acolhedora. O almoç o foi servido na sala de jantar, que tinha uma grande janela que dava para o jardim de inverno, cheio de flores, pequenas á rvores e orquí deas penduradas. A comida estava deliciosa, especialmente um prato de salmã o, tí pico da cozinha canadense, preparado por Molly com muito carinho. Mais tarde, Jessica foi conhecer o jardim atrá s da casa. A grama era viç osa e fresquinha e sob uma á rvore frondosa, com flores vermelhas, havia um convidativo banco de madeira, no qual ela se sentou. — Entã o está tudo certo? — perguntou Molly, sorridente, ao se aproximar. — Você virá comigo e Cindy para nossa casinha em Narrow Lake, enquanto James e Tom vã o para Fort McMurray conhecer as instalaç õ es da indú stria de areia? — Bem, se ainda desejarem minha companhia... — Ora, querida, tenha certeza que será um imenso prazer para nó s. Poderemos pegá -la amanhã no hotel, à s dez horas. Temos que estar em Jasper logo apó s o almoç o, para encontrar minha sobrinha, RhodaGerhardt. Ela está vindo de Vancouver de ô nibus, e vai passar esses feriados conosco no campo. Acho que as quatro juntas poderemos ter ó timos dias, exclusivamente femininos, enquanto os homens estã o fora. Ningué m para nos incomodar, nã o é? — Os olhos de Molly brilhavam, divertidos e maliciosos. — Será que vai sentir saudades de James? — Ora, acho que nã o. — Jessica riu alto. — Mas você s sã o bem pró ximos um do outro, nã o sã o? — Ele é um ó timo patrã o e um excelente amigo — Jessica admitiu, cautelosa. — Só isso? — Sim, isso é tudo. — Bem, eu penso que da parte dele existe algo mais do que a pretensã o de ser um bom patrã o e um excelente amigo. Diria que James está apaixonado por você! — Você está enganada! — Jessica riu de novo. — Nã o pode estar falando sé rio, Molly! James é apaixonado pelo seu trabalho, nã o há lugar para amar algué m. Se nã o fosse assim, é prová vel que já estivesse casado. — Sei, que ele aparenta ser assim... — Molly insistiu —... mas encontra tempo para se preocupar com você, principalmente quando nã o se comporta como a secretá ria eficiente e organizada que ele quer que seja. James me contou o que aconteceu na sexta-feira. Jessica estava ao mesmo tempo surpresa e indignada. Sentiu que a face corava e desviou o olhar de Molly. — Tudo que fiz foi visitar um museu e me atrasar um pouco na volta para o hotel. James pode ser meu patrã o, mas isso nã o lhe dá p direito de dizer o que devo ou nã o fazer em minhas horas de folga! — Acho que você tem toda razã o. Pelo menos como seu patrã o, ele nã o tem esse direito. — Molly deu um profundo suspiro. — Pobre James, isto é algo que está alé m do alcance dele. Nã o pode ser resolvido com equaç õ es matemá ticas. Sabe, de está muito contente que você venha passar esses dias conosco, porque sente que estará segura. — Ele disse isso? — Os olhos de Jessica se acenderam. — Sim. " Tome conta dela, Molly", ele me disse. É a primeira vez que me pedem para fazer à s vezes de protetora. — Bem, espero que nã o vá aceitar o novo papel com convicç ã o! — Jessica disse brincalhona, tentando esconder a irritaç ã o. — Tomar conta de mim...! Ora, quem ele pensa que é? Alé m do mais, o que poderia acontecer de tã o grave? — També m nã o sei. Talvez esteja com medo que se perca naquela excursã o que pretende fazer para Eagle Lake, nas montanhas... Bem, agora venha comer a sobremesa: temos morangos frescos e mousse de chocolate. Há també m chá e café. Venha se servir! É ridí culo, James nã o pode estar apaixonado por mim, Jessica pensava algumas horas depois, enquanto descansava em seu quarto no hotel. Dali a pouco teria que se arrumar para o jantar de confraternizaç ã o que marcava o fim do congresso... Ela nã o queria que aquilo fosse verdade, nã o queria que James se apaixonasse por ela. Pois, se isto acontecesse, teria que se afastar dele, deixar aquele emprego e a vida de que tanto gostava... Deixar aquela seguranç a que a ajudava a enfrentar o mundo, depois de tudo que aconteceu. Nã o tinha conseguido tirar essas ideias da cabeç a nem quando danç ava com James mais tarde, no grande salã o de festas. Estava tensa, seus braç os estavam o tempo todo esticados, procurando manter James à distâ ncia. Quando voltaram para o hotel, antes que ele pudesse beijá -la no rosto, para um simples boa-noite, Jessica entrou no quarto e disse " até amanhã ", com um sorriso no rosto, antes de fechar a porta, suave mas firmemente. Acordou, na manhã seguinte, excitada com a sensaç ã o de liberdade que sentia. Passar aqueles dias nas montanhas era a melhor coisa que poderia lhe acontecer no momento. Por seis dias ela poderia fazer o que bem quisesse, e caso sentisse vontade de se perder nas montanhas, ela o faria! Estava arrumando as malas, quando ouviu baterem à porta. Mandou entrar e James apareceu, vestido de maneira mais informal e esportiva do que de costume. — Tom Crawley já chegou e vamos partir. — Espero que faç a uma ó tima viagem. — Jessica... — ele começ ou, mas subitamente se afastou até a janela e ficou olhando a grande praç a cheia de á rvores. — Sim, James? — ela perguntou, enquanto terminava de dobrar uma roupa e a colocava dentro da mala. — Você tem certeza que estará bem sozinha? — Mas eu nã o estarei sozinha! Estarei com Molly e com Cindy, filha dela — Jessica replicou, calmamente. — Sim, eu sei. Acho que o que quero mesmo dizer é se estará bem sem mim. — James a encarou com ar sé rio. — Ora, James, nã o há com que se preocupar. Afinal, já estive bem e segura antes de conhecê -lo, nã o é? — Sim, eu sei disso també m. Mas você está em um paí s estranho, e esse lugar para onde vã o é bastante selvagem. Alguma coisa pode acontecer! — Nada vai acontecer, James! Agora, pare de se preocupar como se... como se... — Ela se interrompeu, pensando que o que ia dizer poderia machucá -lo. — Como se o quê? — ele repetiu, se aproximando. — Como se fosse meu pai! — ela disse afinal, sentindo uma ponta de remorso ao notar que James de fato tinha ficado magoado. — Bem, suponho que é isso mesmo que devo parecer: um pai preocupado com a filha! No entanto, nos ú ltimos dois anos você passou a significar muito mais para mim do que uma filha. Eu nã o pretendia conversar com você a esse respeito ainda... — Entã o nã o o faç a! Espere que tenha voltado da viagem ou entã o até que cheguemos na Inglaterra. — Eu tenho um pressentimento que entã o será muito tarde, Jessica. De repente o telefone tocou. Automaticamente, Jessica tirou o aparelho do gancho. — É Tom Crawley quem está falando. James está por aí? — Sim, está — Jessica respondeu, dando graç as a Deus por aquela conversa ter sido interrompida. — Ele já vai indo, sr. Crawley, estará aí embaixo num segundo. Acompanhou James até a porta. Ele tinha um ar resignado e estava um pouco pá lido. — Nos encontraremos terç a-feira, na casa de campo dos Crawley. Espero que esteja por lá quando eu chegar e nã o passeando pelo campo com algum estranho, pois se isso acontecer eu... eu... — Você o quê, James? — Ora, sei lá! — Ele deu um suspiro. — Acho que estou me comportando como o pai preocupado... Até a volta! Molly chegou à s dez horas em ponto, como tinha combinado. Jessica logo desceu com a bagagem para encontrá -la no saguã o do hotel e, em seguida, foram para o carro, onde Cindy as esperava. Havia també m dois enormes cachorros alé m de um gracioso gato siamê s. Cindy tinha dezoito anos, cabelos loiros e brilhantes e uma cara muito sé ria. Em pouco tempo se afastaram das ruas mais movimentadas da cidade, deixando para trá s o burburinho e a agitaç ã o. Tomaram a auto-estrada que levava à cidade de Jasper, onde deveriam se encontrar com Rhoda, a sobrinha de Molly que seguiria viagem com elas. A conversa fluí a agradavelmente: Cindy e Molly iam contando um pouco da histó ria do Canadá para Jessica, que se mostrava á vida em conhecer mais sobre o paí s. — A avó de Jessica morou em Clinton quando era crianç a, e contou-lhe a respeito de um lago nas montanhas, chamado Eagle Lake. Você sabe como ela poderia fazer para chegar lá, Cindy? — Ela tem que ir ao rancho do Lazy R, alugar um cavalo e contratar um guia para a viagem — Cindy explicou. — Eu mesma poderia levá -la até lá, Jess... Espero que nã o se incomode que eu a chame desta maneira! Jessica é um nome tã o grande... , — Claro que nã o me importo. — Jessica sorriu. — E gostaria, muito que viesse comigo até o lago, se desejar. -, A cidade agora já tinha ficado distante. Ao lado da estrada estendiam-se planí cies verdes que se perdiam no horizonte. Aqui e ali despontavam alguns lagos, de á gua clara e lí mpida. As placas sucediam-se ao longo do caminho, indicando as direç õ es a tomar para se chegar a outras cidades. Muitas delas possuí am nomes í ndios, como Wabanum, Nakamun e até mesmo um lugar chamado He-Ho-Ha. Jessica estava encantada com tudo aquilo. Muito tempo depois, a paisagem mudou novamente. As vastas planí cies agora davam lugar a pequenos montes e a vegetaç ã o era bem mais abundante. Elas pararam num restaurante, à beira da estrada, para comer hambú rgueres com batatas fritas e aproveitaram para provar alguns sucos de frutas tí picas daquela regiã o. O local estava repleto de turistas, passageiros de vá rios ô nibus de excursã o estacionados lá fora. Quando voltaram para o carro, foi Cindy quem sentou ao volante e Molly se instalou no banco traseiro, junto com os animais. Quase imperceptivelmente, a estrada subia cada vez mais. Jessica começ ou a sentir a pressã o nos ouvidos. — Já estamos nos aproximando da regiã o das montanhas. Em breve poderemos avistá -las! — Molly avisou, excitada. De fato, logo puderam ver as imensas montanhas que surgiam na tinha do horizonte. Eram colossos de pedra, que se desenhavam contra o azul do cé u. Algumas delas eram tã o altas que havia neve nos picos, apesar de ser pleno verã o. Jessica estava fascinada. Nenhuma descriç ã o seria capaz de dar a verdadeira impressã o que aqueles gigantes de rocha e terra provocavam em quem os avistava. Apreciando a paisagem, o tempo nã o demorou a passar e logo chegaram a Jasper. A cidade ficava num vale rodeado por montanhas altí ssimas e estava repleta de turistas. Foram direto para a estaç ã o rodoviá ria, onde deveriam se encontrar com Rhoda. A estaç ã o situava-se no meio de um grande parque, cheio de á rvores e gramados, de onde se viam as montanhas ao sul da cidade. Jessica sentia-se emocionada, pensando que afinal estava ali, perto das montanhas sobre as quais sua avó tanto havia lhe falado. — Olá, tia Molly! Olá, Cindy! Como é bom encontrá -las novamente! Rhoda era uma garota bonita, alta e esguia. Tinha os cabelos escuros e compridos e era muito simpá tica. — Olá, Rhoda! També m fico muito feliz em encontrá -la depois de todo este tempo! — A tia e a sobrinha se abraç aram calorosamente. — Quero que conheç a Jess Howard. Ela é da Inglaterra, está visitando o Canadá. Espero que se deem bem pois vã o ficar no mesmo quarto! Já de volta ao carro, reiniciaram a viagem, desta vez tomando uma estrada que se dirigia para o leste, se aproximando sempre das montanhas mais altas e atravessando densas florestas. — E entã o, gostou de viver na Á frica? — Jessica perguntou, ao saber que Rhoda tinha morado no Quê nia por algum tempo. — Bem, o Quê nia é um paí s muito bonito e agradá vel, mas acho que nã o existe lugar no mundo como aquele em que nó s nascemos, nã o é? — Quer dizer que agora considera Vancouver sua casa? — Molly perguntou, zombeteira. — Ora, você sabe que estou me referindo ao Canadá em geral — Rhoda explicou. — Nã o tem vontade de voltar para Edmonton? — Bem, isso depende... — Depende do quê? — Do que acontecer neste verã o, eu acho! Pelo que vejo, o rancho Lazy R foi reformado — Rhoda disse, apontando umas cercas brancas que limitavam um grande pasto. — Algué m tem notí cias de Simon? — Eu nã o o vejo há muito tempo — disse Molly. — Eu o encontrei no verã o passado — Cindy falou. — Quando fui fazer uma excursã o para o vale Tonquin, com um amigo. — E como estava ele? — Rhoda quis saber. — Estava bem, eu suponho. Simon nã o gosta de falar sobre si mesmo, você sabe... — E o filho dele? É parecido com Lou? — Nã o sei dizer com certeza. Nã o consigo me lembrar muito bem de Lou. Aliá s nem me lembro se cheguei a conhecê -la! — Ela era muito bonita, loira com olhos castanhos bem escuros — Rhoda explicou. — Bem, o garoto també m é loiro e tem os olhos escuros. Posso dizer com certeza que nã o se parece nem um pouco com Simon! Desinteressada da conversa, Jessica apreciava a paisagem que se descortinava da janela. Em pouco tempo, uma grande placa sobre a estrada indicava que faltavam apenas duas milhas para Clinton e que a saí da para Narrow Lake, onde se localizava a casa de Molly, era logo mais adiante. Ao tomarem a estrada secundá ria, Jessica notou que começ avam a descer em direç ã o a um grande vale o que fazia as montanhas nã o muito distantes parecerem ainda maiores do que eram. O lago apareceu pouco tempo depois. Era lindo, suas á guas azuis rodeadas de pequeninas praias de areia branca e fina. A estrada margeava a á gua todo o tempo e, depois de passarem algumas casas, afinal chegaram à casa de Molly. Era uma bela residê ncia, toda em madeira, com uma varanda na frente. — Puxa, é isso que você chamou de sua " pequenina casa de campo"! — Jessica exclamou. — Parece mais uma mansã o, para mim! — Bem, ela era mesmo pequenina quando meu avô a construiu, há muito tempo. Ficava nos limites da fazenda, que foi vendida mais tarde. Conservamos apenas este pedaç o de terra e a casa foi crescendo na medida em que a famí lia ia se tornando maior — Molly explicou. — Bem, agora vamos levar toda a bagagem para dentro. Enquanto Tom e James estiverem viajando, nó s mesmas é que teremos de fazer todo o serviç o pesado! A casa era linda por dentro també m, a mobí lia de madeira rú stica, como convinha a uma casa no campo. Pelas paredes e prateleiras havia muitos artefatos indí genas, coloridos e decorativos. O quarto de Jessica e Rhoda ficava na parte traseira da casa e a janela dava para a floresta. Ao acordar na manhã seguinte, Jessica ficou espantada, por um momento, sem saber direito onde estava. Quando foi até a janela, viu um pequeno animal cinza, que olhou para ela, mas logo fugiu correndo, assustado. Era um bichinho rá pido e á gil, com grandes listras nas costas. A outra cama estava vazia e antes mesmo que Jessica pudesse se perguntar onde teria ido Rhoda, a porta se abriu devagar e ela apareceu, trazendo uma bandeja com uma xí cara. Estava vestida com calç a comprida e uma camisa bem folgada, bem à vontade, os longos cabelos caindo sobre os ombros. — Sei tudo a respeito dos ingleses — Rhoda disse sorrindo. — Sai, por exemplo, que gostam de ser acordados com uma xí cara de chá! — Oh, muito obrigada! — Jessica exclamou. — Mas nó s tí nhamos combinado que cada uma teria que tomar conta de si. Você nã o devia ter se incomodado, Rhoda! — Ora, deixe disso. Eu desejava acordá -la e achei que esta seria a melhor maneira. Tenho uma sugestã o: gostaria de ouvi-la? — Claro que sim. — Jessica se animou, começ ando a tomar o chá. — Por que eu e você nã o vamos até o rancho Lazy R esta manhã, para acertarmos aquela excursã o que quer fazer para Eagle Lake? O lago fica um pouco distante, lá em cima, nas montanhas, e serã o necessá rios pelo menos uns quatro dias para ir e voltar! Se você deseja estar de volta na sexta-feira, quando James chegar, será melhor acertarmos tudo logo! Quem toma conta do rancho e prepara as excursõ es precisa saber com antecedê ncia quantos cavalos serã o usados e a quantidade de equipamento necessá ria para a viagem. — É uma ó tima ideia! Como vamos até o rancho? — Podemos usar o carro de Molly. Tenho certeza que ela nã o irá se incomodar. — Talvez Cindy també m queira vir conosco. — Acho que nã o. Ela já foi pescar. — Bem... e Molly? — Se a conheç o bem, tudo que deseja é ficar sentada na varanda, lendo um bom romance: esta é sua melhor maneira de passar um feriado! E entã o, Jessica, vamos? — Está certo. Que roupa devo usar? — Ora, um jeans e uma blusa é o melhor traje. £ prová vel que ainda hoje andemos um pouco a cavalo! Meia-hora depois, já estavam na estrada. Rhoda dirigia com uma eficiê ncia invejá vel e Jessica sentia-se feliz com aquele ar da manhã que entrava pela janela. O sol brilhava sobre as florestas ainda meio ú midas. Em pouco tempo já enveredavam pela pequena estrada, indicada pela placa de madeira: " Rancho Lazy R". — O rancho e os currais ficam bem longe da estrada — Rhoda explicou, enquanto o carro levantava atrá s de si uma nuvem de poeira. — Nada fica perto neste paí s! — Jessica comentou, rindo. — As distâ ncias sã o incrí veis! — Sim, em comparaç ã o com a Inglaterra, elas devem parecer enormes. Mesmo assim, as pessoas viajam bastante, nã o deixando que as distâ ncias as atrapalhem. Já vi amigos dirigindo muitas milhas, entre a neve do inverno, para ir a alguma festa. — Por que o rancho é chamado Lazy R? — Acho que o " R" vem da famí lia que o possui há muito tempo. A terra foi conquistada por um homem chamado Dan Roberts, que veio de Ontá rio quando ainda se viajava de carroç a, com toda a mobí lia da casa! Era o pai de Rose Roberts, avó de Simon Benson, o atual proprietá rio do rancho. — Rose Roberts! — Jessica exclamou. — Minha avó costumava falar sobre ela! — Nã o me espantaria com isso... Rose Roberts era como uma lenda viva em sua é poca e qualquer pessoa que tenha vivido por aqui no princí pio do sé culo, deve ter ouvido falar nela. Montava a cavalo como ningué m. Podia competir com os melhores homens e vencia sempre. Era como uma crianç a, um pouco desobediente e voluntariosa, tã o popular no salã o de danç a quanto na pista de corridas. Era muito cortejada pelos jovens, incapazes de superá -la. Houve somente um, que ela jamais pô de vencer nos cavalos. — E quem era ele? — Sam Benson, o melhor cavaleiro do pai dela. Apareceu um dia, vindo nã o se sabe de onde, trazendo consigo alguns cavalos selvagens, que vendeu para Dan Roberts. Sam ficou no rancho, para treinar os animais e, ao que parece, Rose se apaixonou por ele, perdidamente. — E ele nã o se apaixonou por ela? — Jessica perguntou. — Bem, pelo menos a princí pio nã o aparentava. Pelo que se sabe, era um homem meio selvagem, tí mido. Alguns dizem que descendia de í ndios, o que talvez explique sua grande afinidade com os animais. De qualquer maneira, certo dia, frustrada por nã o conseguir seduzi-lo, Rose o desafiou para uma corrida. No meio dela, seu cavalo caiu e a atirou para fora da sela. Machucou-se gravemente, o que a impediu de caminhar para o resto da vida. — E o que Sam fez? — Jessica perguntou fascinada com a histó ria. — Acabou casando com ela, revelando o que ningué m esperava, isto é, que també m estava apaixonado. Quando o pai de Rose morreu, ficaram com o rancho até que, muitos anos depois, Sam faleceu també m. — Existem muitos ranchos por aqui? — Jessica quis saber, lembrando-se do homem que usava um chapé u branco e que, um dia, lhe disse que possuí a um rancho e que adorava os cavalos... — Nã o existem muitos por aqui. O Lazy R era originalmente um rancho só de cavalos, até que Sam Benson, avô de Simon, introduziu algumas cabeç as de gado. As grandes fazendas de rebanhos ficam mais para o sul, nas planí cies longe das montanhas. Bem, aqui estamos! O veí culo parou defronte a uma casa grande e baixa, també m construí da de madeira. Seus telhados eram vermelhos e, mais para baixo, na direç ã o de um pequeno monte, havia outra construç ã o em madeira, como um grande galpã o aberto. Rhoda buzinou, mas ningué m apareceu. Saí ram do carro e ficaram por um momento sob o sol quente da manhã, que já ia adiantada. Podia-se ouvir mugidos de boi, ao longe, e o galope de cavalos, bem mais pró ximos. Um homem pequeno apareceu ao longe. Usava botas de couro e um grande chapé u escuro, que lhe escondia completamente o rosto. O chapé u, com certeza, també m o impedia de enxergar, pois ele passou reto e continuou em direç ã o à casa. — Ei... — Rhoda gritou. —... Simon Benson está por aqui? Ele parou quando já subia no primeiro degrau da casa. Virou-se para elas e em seguida aproximou-se devagar. — Desejam falar com ele? — perguntou, com voz calma. — Sim, a respeito de uma viagem para as montanhas. — Está no curral, lá embaixo, dando mais uma liç ã o para o filho! — Ele sacudiu a cabeç a, pensativo. — Pura perda de tempo! Depois de dizer isso, virou-se e retornou para a casa, sumindo pela porta de entrada. — Venha, Jessica — Rhodadisse, excitada. — Vamos assistir a esta aula de montaria! Ela saiu correndo, mas Jessica nã o tinha tanta pressa. Foi caminhando ao redor da casa, pela trilha que levava ao curral. Num dos lados, havia um belo jardim, muito bem cuidado, com muitas flores de vá rias cores que perfumavam o ar. O curral era circular e tinha uma cerca alta de madeira. Para alé m dele, havia um bosque e bem mais adiante, uma montanha que parecia tocar o cé u. Havia agitaç ã o no curral. Um cavalo trotava lá dentro, montado por um garoto que usava um pequeno chapé u de vaqueiro. Sentado sobre a cerca, de costas para elas, estava um homem, usando um chapé u branco. — Aquele é Simon — Rhoda murmurou, quando Jessica se aproximou. Seus olhos brilhavam como se planejasse alguma travessura. — Vamos pregar uma peç a nele! Acho que ficará muito surpreso ao me ver! Com o dedo nos lá bios, Rhoda avanç ou na ponta dos pé s e, depois de certa hesitaç ã o, Jessica a seguiu. De alguma maneira, aquela silhueta tinha algo de familiar. O pequeno cavaleiro parou o animal defronte a Simon, para ouvir alguma instruç ã o. Foi quando percebeu as duas mulheres que se aproximavam silenciosas e chamou a atenç ã o do pai. O homem endireitou as costas e começ ou a se virar devagar. Sob a aba do grande chapé u, os olhos dele encontraram os de Jessica, com grande surpresa. Para ela, o reconhecimento foi instantâ neo. De alguma maneira, era como se esperasse aquele encontro. — Olá, Simon! — Rhoda disse com voz sonora. — Lembra-se de mim? — Rhoda! — ele exclamou, pulando agilmente de cima da cerca e caindo sobre o chã o, como um felino. — Você nã o deveria estar na Á frica... ou era na Amé rica do Sul? — Quê nia, na Á frica. Voltei no mê s passado e estou morando em Vancouver. Tia Molly me convidou para passar os feriados e entã o resolvi visitá -lo. Simon, por que nunca respondeu minhas cartas? Ele deu de ombros e um sorriso apareceu em seus lá bios. — Escrever nunca foi o meu forte — murmurou, evasivo. — E sua amiga, quem é? — Virou-se para Jessica. Entã o, ele nã o pretende mostrar que já nos conhecemos?, Jessica pensou. Bem, ela nã o se importava com isso. Pelo menos, pouparia o trabalho de dar explicaç õ es para Rhoda. — Esta é Jess Howard, també m convidada de tia Molly. Ele a encarou com um olhar gé lido, mais hostil do que nunca. Jessica sentiu paralisado o gesto que começ ava a esboç ar, de estender a mã o para um cumprimento. — Olá — ele disse secamente, e ela apenas respondeu com um gesto, sem jeito. — Jess quer fazer uma excursã o para Eagle Lake e pensamos que você talvez pudesse fornecer os cavalos e o guia para a viagem — Rhoda disse vivamente, indo direto ao assunto. — Eagle Lake...? — ele disse, pensativo. — É bem longe daqui, sã o necessá rios dois dias para se chegar lá. Já andaram a cavalo antes? — A pergunta era feita para Jessica e vinha com outro olhar frio. — Sim, eu já montei — Jessica respondeu. — Na Inglaterra. — Bem, aqui usamos o tipo de sela americano. — Havia um certo tom zombeteiro em sua voz, como se duvidasse da capacidade de Jessica adaptar-se a outro tipo de sela. — Sempre me ensinaram que a maneira como se lida com os cavalos é mais importante do que o tipo de sela usado — ela replicou, erguendo um pouco o queixo. Simon a observou com atenç ã o, mas nada comentou. — Olá! Eu sou Danny! — O garoto estava montado na cerca e, ao que parecia, cansado de ser ignorado. — Estou tendo uma aula de montaria — ele disse, com voz cansada. — Vai ser tã o bom cavaleiro quanto seu pai? — Rhoda perguntou, com um sorriso. — Nã o, nã o vou — o garoto disse com um muxoxo nos lá bios. — Odeio cavalos, e odeio montar. Levei um tombo, mas ele diz que tenho de montar novamente para perder o medo! — Bem, acho que tem razã o — concordou Rhoda. — Você caiu hoje de manhã? — O acidente foi há algumas semanas atrá s — Simon explicou com voz fria. — Está bem, Danny, pode desmontar. Leve Cracker para o está bulo e tire a sela, como eu ensinei. Depois, leve-o para o pasto. Abriu o portã o do curral e Danny saiu, puxando o cavalo pela ré dea. Era um grande pô nei, que parecia bastante dó cil. — Da ú ltima vez que o vi, Danny, você ainda era um bebê. Fui amiga de sua mã e, é ramos vizinhos. Meu nome é Rhoda. O garoto levantou um pouco o chapé u e fitou Rhoda com olhos brilhantes. Em seguida, desviou o olhar para Jessica. — Você també m conheceu minha mã e? — Nã o, nã o conheci. — Vá tirar a sela de Cracker, Danny! — Simon ordenou. — Eu... eu nã o posso — o garoto murmurou com olhos baixos, levantando-os novamente para olhar primeiro para Rhoda e depois para Jessica, como se pedisse auxí lio. — Como assim...? — Simon perguntou com rispidez. — A sela é muito pesada, e nã o consigo levantá -la. — Irei com você para ajudá -lo — Rhoda se ofereceu, obviamente enternecida com aqueles olhos grandes e pedintes. — Nada disso! — Simon se adiantou. — Ele tem que aprender a fazer isso sozinho! — Sei disso, Simon, mas nã o ainda! Ele é muito pequeno — insistiu Rhoda. — Vá indo de uma vez, Danny. — O garoto sentiu o olhar ameaç ador do pai. Desta vez, obedeceu sem hesitar, partindo em direç ã o ao está bulo puxando o cavalo. — Vou fazer companhia a ele, pelo menos... mesmo que nã o seja permitido ajudá -lo — Rhoda decidiu, fazendo uma careta para Simon e partindo atrá s do garoto. Jessica observou enquanto ela se afastava. També m desejaria sair dali, fugir daquela hostilidade que parecia emanar de Simon. — Agora talvez você me conte como descobriu que eu morava aqui! — A rispidez de sua voz a deixou em estado de alerta. Estava espantada por ouvir aquilo. — E nã o venha com aquela histó ria tola de que é nosso destino nos encontrar. Nã o foi o destino que organizou este encontro, eu tenho certeza! Mesmo irritada com aquilo, Jessica nada deixou transparecer, e foi com voz calma que respondeu: — Nã o, foi minha avó quem organizou! — Compreendo... Só nã o consigo entender como pode ter feito isso se ela já morreu há tantos anos! — Estou aqui por que ela morou em Clinton, quando crianç a. Seu pai era o pastor da Igreja Anglicana e acho que ela provavelmente conheceu uma de suas avó s, Rose Roberts. Ele abriu um pouco os olhos, meio surpreso, mas logo estreitou-os novamente, desconfiado: — Ora, acho que já é ir um pouco longe demais. — Mas é verdade! Se você nã o acredita em mim, por que nã o vai perguntar na igreja, na pró xima vez que for a Clinton? Pergunte se nunca houve um pastor chamado Alan Simpson, pergunte se pode ver onde está sepultado, pois ele foi enterrado no pró prio quintal da igreja e seu nome está numa placa perto do altar! Ela estava grata por ver a incredulidade desaparecer da face de Simon. Contudo, o ar hostil ainda permanecia, e era isso que a fez reagir de repente, de forma furiosa. — E por que pensa que eu teria vindo? — perguntou, as palavras saindo de roldã o sem que se desse conta do que estava dizendo. — Suponho que pense que descobri seu nome e endereç o no hotel, e vim até aqui à sua procura! Acho que é tã o pretensioso que pensa que eu o estou seguindo! Bem, a verdade é que nada esteve mais distante de minhas intenç õ es. Nã o costumo ficar por aí, caç ando homens! — Nã o? — A maneira como ele erguia um pouco as sobrancelhas era o bastante para deixá -la completamente irada. — Nã o! — Jessica atirou-lhe a palavra no rosto, seu peito arfando de raiva. — E nã o imagino de onde tenha tirado tal ideia! — Nã o foi difí cil! — ele replicou. — Primeiro, ficou me olhando um longo tempo no saguã o do hotel, depois entrou em meu quarto enquanto eu tomava banho... — Isso foi um acidente, e você deveria saber! E, se fiquei observando-o durante algum tempo, foi porque nunca tinha visto algué m vestido daquela maneira, usando um chapé u como esse. Será que nunca imaginou que tudo aqui é novo para mim, diferente, e é natural que observe as coisas? De qualquer maneira, tem de admitir que foi você quem se ofereceu para sentar na minha mesa naquele café da manhã. — Sim, é verdade. Mas nã o teria sentado se tivesse percebido que era você! — ele falava tã o friamente, que era como se lhe atirasse á gua gelada sobre o rosto. — E foi você quem iniciou a conversa, tanto na mesa como no museu. Nã o era obrigada a falar comigo. Nã o gosto de mulheres oferecidas! Aquilo era a ú ltima gota d'á gua. Nunca na vida Jessica sentira vontade de dar um tapa no rosto de algué m, mas agora era o que mais desejava. Contudo, conseguiu se controlar, apertando as mã os atrá s das costas, antes que uma delas escapasse do seu domí nio. — Nã o sou oferecida, como você diz! E nã o teria falado com você se... — Jessica calou-se quando se lembrou por que tinha sentido vontade de abordá -lo todas as vezes: era a maneira arrogante e orgulhosa como ele se comportava que a deixava louca para vencer aquela resistê ncia. — Se...? — ele perguntou, querendo testar a forç a e a coragem dela. — Se nã o desejasse saber mais a seu respeito — ela admitiu com honestidade. — Acho que nã o há nada de errado nisso, ou será que estou enganada? Ele tirou o chapé u da cabeç a, limpou o suor da testa com as costas das mã os, e recolocou-o, ajustando a aba de uma maneira que seus olhos ficavam na sombra. — Depende do que está por trá s do interesse. Quando vi você com Rhoda, pensei que... — Ele interrompeu o que ia dizer e adquiriu um ar pensativo. — Quando pretende ir para Eagle Lake? — perguntou. Decerto achara melhor nã o dizer o que estava pensando, e agora Jessica jamais saberia o que havia passado pela sua cabeç a. — O mais breve possí vel. — Outras pessoas vã o com você? — Sim. Rhoda e Cindy Crawley. — E seu patrã o, James Marshall? — Ele está viajando e chegará na sexta-feira. Gostaria de já ter voltado do lago quando ele vier. Simon se encostou à cerca de madeira, enfiando a mã o direita entre o cinto de couro e a calç a. Havia um toque de insolê ncia em sua pose, que ressaltava os seus mú sculos fortes e bem delineados. Repentinamente, Jessica se percebeu consciente daquele homem num ní vel fí sico, sentindo que seu coraç ã o se acelerava. — Suponho que nã o deseje que ele saiba que nos encontramos mais uma vez... Se descobrir, vai pensar que tí nhamos tudo planejado, à s suas costas, e será difí cil para você convencê -lo do contrá rio! — Oh! Eu nã o tinha pensado nisso. — Ela fitou Simon, pensativa. Ele tinha compreendido muito bem James, apesar de o ter visto somente duas vezes, ambas rapidamente. — Você nã o gosta de James, nã o é? — Acho que ainda nã o cheguei a ter qualquer sentimento com relaç ã o a ele, mesmo o de nã o gostar... Você é quem deve gostar bastante dele, a ponto de deixar seu marido para acompanhá -lo numa viagem tã o longa e distante, nã o é? — Eu nã o deixei meu marido. Ele... ele... eu sou viú va. — Desta vez nã o doeu nada dizer aquilo. Será possí vel que já tinha superado a morte de Steve?, Jessica se perguntou. Dois anos foi o tempo que sua mã e disse que ela precisaria esperar para deixar de viver angustiada com a falta do marido. — Você parece jovem demais para ser viú va. — Simon se desencostou da cerca e agora se aproximava de Jessica. — um assunto sobre o qual nã o chegamos a conversar antes... Suponho que acha que isso nos dá algo em comum, uma base só lida para uma ó tima relaç ã o, nã o é? Mais uma vez Jessica sentiu aquela vontade de esbofeteá -lo, mas de novo foi capaz de se controlar. Teria lhe dado as costas e ido embora, contudo, Rhoda e Danny já se aproximavam e Simon dirigiu-se a Danny. — E entã o, rapaz, fez como eu mandei? — Sim. Tia Rhoda me ajudou. — Tia Rhoda...? — Simon falava com voz zombeteira. — Você nã o perde mesmo tempo, nã o é, Rhoda? — Agora nã o perco mais — ela retrucou. — No passado, já perdi muito tempo! Já combinaram a viagem? — Ainda nã o. — Entã o, sobre o que estavam conversando? — Rhoda olhou para Simon com suspeita e depois virou-se para Jessica. — Suponho que nã o estavam falando sobre o clima... — ela acrescentou com sarcasmo. — Jessica e eu está vamos nos conhecendo melhor — Simon disse, zombeteiro, e os olhos de Rhoda brilharam, hostis. — Quanto à viagem, sugiro que partam amanhã de manhã. Com bom tempo e sem incidentes, deverã o estar de volta na quinta à noite. Joe Trip guiará você s e Al Curtis irá junto, para ajudar com o acampamento e as refeiç õ es. Será ó timo que Cindy també m vá, pois está acostumada com este tipo de excursã o e poderá ajudar. — Mas você nã o poderia vir conosco, em vez de Joe? — Rhoda perguntou. — Seria como nos velhos tempos. Lembra-se de como nos divertí amos, você, Lou e eu... — Rhoda levou a mã o à boca ao perceber que dissera uma besteira. — Oh, sinto muito, Simon... — Por quê? — Por lembrá -lo de Lou — Rhoda disse, com ar culpado. — Será que nã o imagina que basta olhar para Danny para me lembrar dela? — ele replicou secamente e em seguida virou-se para Jessica. — Amanhã de manhã está bem para você? — Sim, naturalmente. O que devemos providenciar? — Sacos de dormir, roupas e equipamento para pescar, se desejarem fazê -lo. Cindy lhes dirá o que mais é necessá rio. Nó s providenciaremos as barracas, os utensí lios para cozinha e a comida. Quando foi a ú ltima vez que montou a cavalo? — Já faz uns dois anos... — Jessica lembrava-se que tinha cavalgado com Steve, durante a lua-de-mel. — Entã o, seria bom se fossem praticar um pouco agora, assim teriam oportunidade de se acostumar com este tipo de sela. Alé m do mais, já vã o se preparando para suportar o percurso, caso contrá rio, ficarã o muito doloridas depois do primeiro dia. — Ó timo! — Rhoda disse com entusiasmo. — Já faz algum tempo que nã o monto a cavalo. Por que nã o vem com a gente? Simon nã o conseguia esconder sua impaciê ncia. — Rhoda, eu deveria estar lisonjeado com seu convite, mas as coisas sã o diferentes agora, do que eram há dez anos. Nã o sou mais o filho do dono do rancho, que tinha tempo para acompanhar qualquer visitante que aparecesse por aqui. Este é um lugar de trabalho, e sou eu quem toma conta de tudo! — Puxa vida, você mudou mesmo, nã o é? — Rhoda nã o podia evitar o tom de desapontamento em sua voz. Virou-se para Danny, que estava agachado no chã o, brincando com umas pedrinhas. — Ei, Danny, nã o gostaria de vir cavalgar com Jessica e eu? Passear a cavalo na floresta é muito mais divertido que ficar dando voltas dentro de um curral! O garoto fitou o pai, seus olhos enormes tinham uma expressã o de dú vida. — Gostaria de ir, Danny? — Simon perguntou. — Com tia Rhoda?... Eu posso? — Bem, você terá que selar Cracker de novo — Simon avisou e o garoto pareceu atrapalhado. — Eu ajudarei você — Rhoda se ofereceu gentilmente. — Quem sabe isso fará com que goste mais dos cavalos. — Rhoda olhou para Simon. — Com Lou foi a mesma coisa, lembra-se? — Você é quem sabe, Danny — Simon respondeu, ignorando o argumento de Rhoda. — Nã o é obrigado a ir, se nã o quiser. — Eu quero ir! — o garoto falou, repentinamente decidido. — Vamos, tia Rhoda — ele disse tomando a mã o dela —... vamos selar o Cracker de novo. — Bem, agora você será obrigado a vir conosco, Simon! — Rhoda disse rindo, enquanto já se afastava com o garoto. — Nã o conheç o bem as trilhas na floresta e nã o quero ser responsá vel por este rapazinho. Nó s podemos nos perder, se você nã o estiver junto! Simon franziu as sobrancelhas e, irritado, murmurou algo incompreensí vel. — Está bem, você conseguiu me convencer. Nã o quero que ningué m se perca na floresta. Vamos pegar um cavalo para Jessica. Eu a ajudarei a colocar a sela. O cavalo escolhido para Jessica se chamava Snap. Era branco e muito bonito, tinha uma longa crina que lhe descia pelo pescoç o. Simon disse que era um ó timo animal, muito dó cil e acostumado com as trilhas da floresta e das montanhas. Ele o tirou da cocheira e colocou a sela. — Você verá que esta sela é muito boa. — Simon começ ou a explicar, enquanto amarrava as correias dando a volta na barriga de Snap. — Nó s a usamos principalmente para cuidar do gado. É maior que as outras, e permite que o corpo fique numa boa posiç ã o, as costas retas e a coluna esticada. — Ele a ajudou a montar e olhou as correias para ver se estavam bem presas. — Como é, sente-se confortá vel? — Sim, bastante. Acho que posso cavalgar por um longo tempo. — A sela americana foi desenhada para isso mesmo: viagens longas. — É melhor ir ajudar Rhoda — Jessica sugeriu, e Simon a olhou com ironia. — Ela nã o precisa de ajuda. Sempre foi capaz de cuidar de si mesma. É forte e autossuficiente como muitos homens, e mais esperta que a maioria das mulheres. Mais esperta que você, por exemplo! — ele acrescentou em tom provocativo e afastou-se em seguida para selar o grande cavalo negro que iria montar.
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