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CAPÍTULO II



De calç a caqui, camisa de mangas compridas e chapé u de explorador na cabeç a, Lorna atravessou rapidamente o saguã o do hotel. Levava uma garrafa té rmica e um pacote de biscoitos na bolsa, e estava tã o contente quanto os passarinhos que cantavam no jardim.

O sol nascia no horizonte, quando caminhou até as cocheiras, onde Ahmet segurava as ré deas do cavalo arisco e resistente que alugara no dia anterior.

Ela cumprimentou o menino com o rosto sorridente e examinou mais uma vez o belo cavalo alazã o que estava com as orelhas em pé. Arrumou os biscoitos e a garrafa té rmica com café no alforje passado por cima do arreio e montou no cavalo, com um movimento á gil. Ahmet lembrou-a da recomendaç ã o que ouvira no dia anterior:

— O patrã o disse para a lella nã o ir alé m do oá sis.

— Eu sei, Ahmet — Lorna falou, com um sorriso. — Se eu me perder, seu patrã o nã o será responsá vel por mim. Mas prometo que nã o farei nenhuma loucura. Darei uma volta pelo oá sis e estarei de volta para o almoç o. Até logo, Ahmet.

— Bom passeio, lella.

Lorna moveu os calcanhares, e o alazã o partiu no trote em direç ã o à estradinha de terra, cercada de palmeiras, que atravessava o povoado. Num dos lados do caminho, estendiam-se os muros do hotel, cobertos de heras floridas. No outro, um pequeno riacho serpenteava até se perder de vista nas ondulaç õ es do terreno.

Ela guiou o cavalo para fora do povoado, e, quase imediatamente, o ar quente e penetrante do deserto a envolveu. Sozinha, sem ningué m à vista, trotou algum tempo sobre a areiamacia, com uma sensaç ã o de euforia maior do que tudo que já experimentara na vida. Nem mesmo os bazares do Oriente a excitaram tanto. Barulhentos e cheios de animaç ã o, atraí am a atenç ã o dos turistas com as alcovas sombrias, onde os cortes de seda brilhavam em cima dos balcõ es, os objetos de prata eram trabalhados sob a vista dos compradores e os perfumes misturados ao gosto de cada um. Pungentes e pitorescos, tinham seu ar de misté rio... Lorna havia adorado as escadas em caracol, os perfumes, as lembranç as que comprara nas lojas minú sculas e escuras... mas ali, no deserto, estava ainda mais perto do misté rio eterno que emanava do Oriente.

Interrompeu a marcha do cavalo e contemplou a vastidã o plana e interminá vel, repleta de ondulaç õ es e de colinas que se estendiam até o horizonte.

— O deserto pode ser cruel, tó rrido, inclemente... — repetiu, em voz baixa, as palavras de seu pai.

Agora o sol resplandecia atravé s da né voa amarelada, e cristais brilhavam no areal, como pedras preciosas. O vento que soprava nos espaç os abertos polira as rochas desnudas, tingindo-as de uma tonalidade avermelhada, enquanto o cé u, em qualquer direç ã o que se olhasse, estava incrivelmente azul, como um torrã o de anil.

Esse era o jardim dourado de Alá, onde os viajantes procuravam a paz, a aventura... ou o destino.

Lorna nã o sabia exatamente o que procurava. Desde que perdera o pai, sentia-se inquieta e solitá ria. Esperava que essa estada no deserto lhe desse um sentido novo de direç ã o... Talvez, se vivesse concretamente seu sonho, conseguisse tomar uma decisã o mais acertada para o futuro.

Ela soltou a ré dea e deixou o alazã o ir a galope, sentindo o vento bater-lhe no rosto enquanto se aproximava de uma colina. O cavalo saltou com agilidade por cima das pedras roladas até que as areias amareladas ficaram lá embaixo, ofuscantes, sob a luz intensa da manhã. O sol começ ava a castigar o local desabrigado. Lorna parou um segundo para beber um pouco de á gua do cantil que levava na bolsa. Em seguida, cobriu os olhos com o chapé u e sentou-se ereta na sela, enquanto o cavalo á rabe, habituado ao terreno pedregoso, desciaaos solavancos o outro lado da colina, em direç ã o à s á reas verdes que marcavam os limites do oá sis de Fadna.

Lorna saltou do animal à sombra das palmeiras e tirou o chapé u. O suor espalhara-se por seus cabelos e peia testa.

Ah, que delí cia sair daquele sol inclemente! Ouviu um bando de pombas-rolas arrulharem perto dali e aproximou-se, com emoç ã o, da casa onde os passarinhos faziam seus ninhos.

Nã o havia outro ruí do a nã o ser o canto das aves. Era como se o oá sis tivesse prendido a respiraç ã o, como se guardasse o grito abafado que ela deu quando avistou as ruí nas da casa onde seu pai morara por muitos anos.

A pequena casa, caiada de branco, estava caindo aos pedaç os, invadida pela vegetaç ã o, que avanç ava por entre os muros e as paredes rachadas.

Lorna apoiou-se numa palmeira e olhou, decepcionada, para o que sobrara de seu sonho. Naquele momento, as palavras do adivinho soaram terrivelmente reais. A areia avanç ava, de fato, sobre a casa e cobrira os canteiros de flores. Como seu sonho de um dia morar ali continuava muito vivo. ficou duplamente desiludida com a cena que presenciava.

Se fosse de chorar facilmente, teria despencado em lá grimas, de pura frustraç ã o. Podia, decerto, construir outra casa naquele local, mas nunca seria a mesma. O ar e a atmosfera nã o seriam os mesmos que o pai amara e conhecerá.

Foi com o coraç ã o apertado que se afastou dali, apó s colher uma flor branca que se agarrara obstinadamente à vida, mas nã o olhou para trá s nenhuma vez ao se dirigir, por entre as á rvores, ao local onde deixara o cavalo. O oá sis agora lhe parecia muito triste e desolado, apesar das palmeiras e da vegetaç ã o. Desejava cavalgar para longe dali e deixar que as areias afastassem temporariamente a lembranç a de seu querido pai. Somente uma flor branca, agarrada ao muro em ruí nas, restara de sua presenç a, e Lorna a guardou no bolso da camisa, com um suspiro.

Voltou para a entrada do oá sis e procurou seu cavalo. Os rastros do animal ainda estavam fundos na areia, mas nã o havia sinal dele em parte alguma!

Lorna assobiou, gritou, chamou-o pelo nome, mas nada aconteceu. Tomada de pâ nico, correu por entre as palmeiras à procura do cavalo alazã o. Estava tã o ansiosa para descer do cavalo e ver a casa que se esquecera completamente de amarrá -lo numa á rvore pelo cabresto. O alazã o á rabe nã o era manso como seu cavalo na Franç a, que a seguia por toda parte, como um cachorrinho. Era um animal arisco, fogoso. Ao ver-se livre, galopara para longe e a deixara ali, sozinha. Agora, teria de voltar a pé para o hotel, afundar as botas na areia quente e enfrentar o morro de pedras soltas.

A perspectiva era desanimadora, e Lorna teve vontade de chorar de desâ nimo e frustraç ã o. A garrafa de café, o pacote de biscoitos, o cantil de á gua... ficara tudo na sacola que levava presa no arreio. Seu ú nico consolo era o riacho que corria por entre as á rvores. Pelo menos nã o passaria sede enquanto esperasse ali o sol descer no horizonte. Seria loucura atravessar o deserto debaixo daquele calor abrasador. Somente ao entardecer, poderia voltar com seguranç a para Ras Jusuf.

— Sua estú pida! — exclamou, sentando-se, desanimada, à sombra de uma palmeira.

As pombas-rolas continuavam arrulhando perto dali, e nã o havia a menor brisa soprando no ar. Era meio-dia, o sol brilharia com intensidade brutal durante vá rias horas. Ao entardecer, a brisa fresca do deserto sopraria, e, se a lua estivesse visí vel, nã o teria dificuldade em encontrar o caminho de volta.

Entã o, preparou-se para a longa espera, ainda irritada com seu descuido. O cavalo voltaria sozinho para a cocheira, e os conhecidos de Lorna, no hotel, teriam a satisfaç ã o de comentar que uma moç a imprudente como ela nã o podia andar sozinha no deserto.

Franziu o cenho ao pensar no que Dolly diria e balanç ou os ombros ao se lembrar da advertê ncia de Rodney. " Algumas moç as foram seqü estradas e nunca mais ningué m ouviu falar delas. "

Deixou a areia escorrer por entre os dedos das mã os e pensou que nenhum beduí no se daria ao trabalho de raptar uma mulher magra e de pele clara. Os á rabes gostavam de mulheres opulentas e submissas, bem femininas e que sabiam satisfazer seus menores caprichos. Riu ao imaginar que nunca na vida obedeceria à s ordens de um homem. Preferia morrer. Nã o entendia como as moç as de sua idade, em geral, nã o pensavam em outra coisa senã o no dia do casamento. Ela, no fundo, só gostava realmente de uma coisa: de sua pró pria Uberdade. De andar por aí e fazer o que lhe desse vontade no momento...

Ah, seria tã o bom fumar um cigarro! Na pressa de sair do hotel, de manhã cedo, deixara o maç o de cigarros e o isqueiro sobre a penteadeira do quarto.

Apoiou a cabeç a no tronco da palmeira e descansou um momento, de olhos fechados, até que o desejo de tomar uma xí cara de café tornou-se tã o intenso que se levantou depressa e dirigiu-se ao riacho.

Ajoelhou-se, umedeceu os lá bios e molhou o rosto. Gotas de á gua rolaram por seu pescoç o e molharam a camisa de cambraia, que colou em sua pele. Olhou para as palmeiras em volta e desejou que fossem tamareiras, carregadas de frutos.

Entã o, subitamente, endireitou-se, com a sensaç ã o estranha de que estava sendo observada. Alarmada, permaneceu imó vel durante alguns segundos, até que se ergueu e olhou em volta.

Lorna nã o se enganara. Havia de fato um vulto embuç ado entre as á rvores, olhando fixamente para ela. Era um homem moreno, mal-encarado e de barba crescida. No momento em que ela o fitou, aterrada de medo, o homem retirou o pano que trazia no pescoç o e aproximou-se lentamente, pé ante pé, como um felino.

— O que deseja? — ela gritou, em pâ nico.

Dois olhos penetrantes a analisavam em silê ncio, e, no mesmo instante, ela compreendeu o que o homem queria. Voltou-se para fugir e berrou de dor quando o braç o comprido enlaç ou-a com violê ncia e os dedos morenos a agarraram pelos cabelos. O pano sujo foi passado rapidamente sobre a boca de Lorna, abafando o grito histé rico que brotava de sua garganta. Com uma impressã o de pesadelo, assustada, sentiu suas mã os serem amarradas nas costas com as pontas do pano.

Deu pontapé s, debateu-se, tentou correr, mas foi agarrada com forç a e atirada violentamente ao chã o. De novo, os olhos maldosos e frios a observaram atentamente. Em seguida, o á rabe levantou-a com um safanã o e obrigou-a a caminhar em direç ã o ao outro lado do oá sis, onde um belo cavalo preto espantava as moscas com o rabo.

O animal estava amarrado a uma á rvore e, quando eles se aproximaram, espinoteou de nervosismo, e Lorna enxergoumarcas visí veis de esporas em seus pê los suados. No momento seguinte, foi jogada de lado sobre a larga sela.

O cavalo corcoveou, empinou e deu um relincho no instante em que o á rabe se sentou na sela e puxou com brutalidade as ré deas, voltando o animal na direç ã o do deserto.

Lorna foi tomada de pâ nico quando o á rabe a cobriu com o albornoz e a segurou com forç a nos braç os, enquanto o cavalo galopava na areia. Era um abraç o doloroso, e as dobras do manto cobriam seu rosto, afogando-a e cegando-a. Sua cabeç a estava girando confusamente, mal podia entender o que estava acontecendo...

Provavelmente, o homem a seguira até o oá sis e era terrivelmente verdade o que Rodney dissera a respeito de moç as seqü estradas. Ela devia ter ouvido o conselho dele, em vez de zombar de sua advertê ncia. A culpa era dela, por ser teimosa e imprudente, mas jamais poderia imaginar que aquilo pudesse acontecer com algué m!

Para onde estavam indo?

O cavalo continuava galopando sobre o areal e só fizera uma pequena pausa quando o á rabe parou para beber á gua. Ela aproveitou a oportunidade para pô r a cabeç a para fora do albornoz muito sujo e cheirando a suor.

O deserto estendia-se a sua frente a perder de vista, um oceano silencioso e abrasador. Sentiu um nó na garganta ao pensar no ú nico amigo que tinha em Ras Jusuf... o rapaz que se oferecera para acompanhá -la ao oá sis e cuja companhia ela recusara com palavras rudes. Agora sentia saudade dele, rezava para que surgisse de repente e terminasse com aquele pesadelo!

O cavalo voltou a galopar, e ela tornou a ser apertada contra a roupa suja e grosseira do á rabe. Vez por outra, ele resmungava em voz baixa, como se estivesse impaciente e irritado sob o sol inclemente. Esporeava com fú ria o cavalo suado, que estremecia e sacudia a cabeç a como se nã o estivesse habituado com aquele tratamento.

Era incompreensí vel que um á rabe tã o mal-encarado possuí sse um cavalo como à quele. Provavelmente, nã o era dele, pensou Lorna, admirando os pê los sedosos do animal, a crina comprida e bem-tratada. Roubara-o, decerto, como fazia agora com ela.

Lorna estava com muito calor sob o albornoz, vendo tudoconfuso a sua frente quando, de repente, avistou um bando de cavaleiros no alto de uma duna, como figuras de um sonho. As silhuetas galopavam sobre o fundo claro do horizonte, com as tú nicas esvoaç antes chicoteando as ancas dos cavalos.

Quando desceram a galope do morro, o á rabe parou o cavalo com um puxã o brusco e resmungou algo em voz baixa. Em seguida, virou o animal no sentido contrá rio ao do bando de cavaleiros e, sem perder um segundo, partiu a toda velocidade, obrigando Lorna a segurar-se com forç a em seu manto para nã o ser atirada ao chã o. Diante da reaç ã o sú bita do á rabe, imaginou que os cavaleiros fossem certamente uma patrulha do deserto que corria a seu encalç o para salvá -la das mã os de seu seqü estrador.

Animada com essa esperanç a, Lorna esticou o pescoç o para fora do albornoz e viu que um dos cavaleiros se aproximava, correndo na frente dos outros. O cavalo preto era tã o veloz quanto o do á rabe, mas galopava com mais desenvoltura porque levava apenas uma pessoa em cima. Daquela distâ ncia, enxergava apenas um vulto coberto com uma capa preta, agachado na sela, segurando alguma coisa na mã o direta.

Ela pensou que fosse uma espingarda, mas, quando a distâ ncia diminuiu entre os dois, viu o homem arremessar alguma coisa no ar com toda a forç a. Ouviu um zumbido, e, no instante seguinte, algo escuro e brilhante se enroscou em volta do á rabe que a apertava nos braç os. Ele deu um berro de dor, soltou as ré deas e rolou pesadamente no chã o. Imediatamente, o cavaleiro de capa preta emparelhou os dois cavalos na disparada, e ela foi enlaç ada pelos braç os dele antes de ser atirada ao solo. Tudo levou apenas alguns segundos.

Tonta e muito assustada, ouviu um brado alto de comando que fez o cavalo parar alguns metros adiante, ofegante e com o corpo coberto de suor.

Os outros cavaleiros aproximavam-se a galope. Lorna, ainda zonza, foi passada sem cerimô nia para um deles, como se fosse uma boneca de pano. O chefe do bando desmontou com um movimento amplo da capa e examinou com atenç ã o o cavalo que fora tã o judiado pelo á rabe. Acariciou o pescoç o do animal, passou a mã o embaixo do focinho e murmurou-lhe algo, com voz carinhosa. Ao ver as feridas das esporas e o sangue fresco que escorria dos flancos do cavalo, ele voltou o rosto irado nadireç ã o do á rabe. Nunca na vida Lorna vira uma fisionomia tã o surpreendente, tã o altiva, tã o autoritá ria! Com os lá bios cerrados, a cabeç a erguida, o cavaleiro aproximou-se do á rabe caí do no chã o e aç oitou-o impiedosamente. Lorna soltou uma exclamaç ã o abafada e levou a mã o à boca quando viu o homem contorcer-se sob os golpes do chicote.

Feito isso, o cavaleiro de capa preta recuou um passo e voltou-se para ela, que sentiu um arrepio de medo ao encontrar os brilhantes olhos castanhos fixos nos seus.

O homem observou-a de alto a baixo em silê ncio. Em seguida, deu um passo à frente e soltou o pano que tapava sua boca e prendia seus braç os. Ela respirou aliviada, com o rosto molhado de suor. Nã o conseguiu, poré m, dizer nada durante alguns segundos, porque estava ainda confusa com a rapidez dos acontecimentos.

— Muito obrigada — sussurrou por fim, em francê s, com a voz trê mula. Apontou para o á rabe que estava caí do no chã o, como se fosse uma trouxa de roupa. — Esse homem me seqü estrou... para receber dinheiro, imagino.

— Ah, é?

Os olhos castanhos observaram com atenç ã o os cabelos revoltos que cintilavam ao sol. Uma brisa leve soprou os cachos que caí am sobre o rosto suado, revelando os olhos grandes e azuis.

— Alé m de roubar o cavalo, esse vagabundo seqü estrou també m uma moç a! O bandido nã o perdeu tempo!

O homem de capa preta, com botas de cano alto e turbante, falava um francê s impecá vel.

— Esse cavalo é meu — ele prosseguiu, apontando para o animal exausto. — Pensei que nunca mais fosse encontrá -lo! Muito menos com um prê mio extra em cima!

Deu um sorriso, e os dentes brancos brilharam no rosto bronzeado pelo sol. Apesar do sorriso, contudo, as linhas da face continuaram severas e autoritá rias como antes. Parecia terrivelmente seguro de si e nã o dava a impressã o de ser algué m que aceitasse um pagamento em dinheiro. O coraç ã o de Lorna começ ou a bater de maneira alarmante.

— Meu nome é Kasim ben Hussayn — ele se apresentou, com uma pequena inclinaç ã o de cabeç a. — E você, como se chama?

— Lorna Morel — murmurou. — Ficaria muito agradecidase um de seus homens me acompanhasse até o hotel de Ras Jusuf, em Yraa, onde estou hospedada. Pagarei generosamente por esse incô modo.

— Ah, sim? — Kasim indagou, com um brilho malicioso nos olhos. — Quanto está disposta a pagar por eu tê -la salvado das mã os desse bandido? Alguns milhares de francos?

Ela observou em silê ncio os olhos castanhos que refletiam a cor do deserto. Embora se sentisse agredida pela entonaç ã o irô nica da pergunta, foi forç ada a reconhecer que estava diante de um homem educado, que falava francê s perfeitamente. Seu pai tivera muitos amigos durante o ano em que moraram em Paris, e alguns deles, inclusive, tentaram conquistá -la com o charme tradicional dos franceses. Ela se divertira muito na companhia deles, mas nã o passara disso.

— Estou com muita sede e nã o tenho â nimo no momento para pensar nesse assunto. — Afastou os cabelos da testa. — Só desejo um guia que me acompanhe até o hotel. Prometo pagar bem.

— Nã o vai me agradecer por tê -la ajudado?

— Já agradeci antes... De qualquer maneira, muito obrigada mais uma vez. Você foi muito gentil em me socorrer.

— Pensou que eu fosse um oficial francê s encarregado de patrulhar o deserto? — Jogou a capa em cima do ombro, com um gesto arrogante. — Pareç o-me com um francê s, por acaso?

— Nã o sei. Eu queria muito beber um pouco de á gua — disse Lorna, em voz baixa, desviando o olhar do homem alto e moreno.

Sem atender seu pedido, Kasim deu uma ordem em á rabe a um de seus homens, que saltou ao chã o imediatamente e aproximou-se do cavalo ferido. Segurou as ré deas com firmeza, pô s o pé esquerdo no estribo e sentou-se na sela vermelha.

Lorna, que presenciava a cena em silê ncio, recuou instintivamente quando Kasim deu um passo em sua direç ã o. Com um movimento brusco, levantou-a nos braç os e a colocou na sela do cavalo alazã o, antes ocupada pelo cavaleiro que agora guiaria o cavalo ferido.

— Pode beber — ele falou, apontando para o cantil que estava pendurado no arreio. — Temos uma longa caminhada pela frente.

Ela bebeu sofregamente, tampou o cantil e tornou a guardá -lo. — Nã o preciso de uma escolta — disse por fim, com umsorriso nervoso. — Basta um homem... apenas para me indicar o caminho de volta.

— Que caminho? — questionou Kasim, arqueando as sobrancelhas. — Nã o vamos em direç ã o a Yraa... estamos voltando para meu acampamento.

Lorna arregalou os olhos, aturdida e perplexa. Observou-o montar em seu cavalo preto em silê ncio, com a capa passada em volta do corpo, como uma asa enorme. Subitamente, entendeu o significado verdadeiro de suas palavras... Ele nã o a levaria para o hotel, como era seu desejo, mas para um acampamento no deserto! Seria seqü estrada novamente, só que dessa vez nã o parecia ser por dinheiro! Os trajes dele, a comitiva e suas maneiras denunciavam ser um homem importante... Bastava um ú nico olhar para perceber que era o chefe do bando e que todos lhe obedeciam cegamente. Estavam acostumados a satisfazer seus menores caprichos, mas ela nã o!

Movendo os calcanhares nos flancos do cavalo, Kasim partiu em disparada entre os outros cavaleiros. Lorna nã o se submeteria a nenhum homem, muito menos a esse demô nio alto e zombador, de olhos castanhos, como a areia do deserto.




  

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