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CAPÍTULO I



Amoç a tinha um ar pensativo no terraç o do hotel, ao admirar distraidamente as estrelas que cintilavam entre as altas palmeiras. Embora estivesse com um vestido longo de crepe, parecia indiferente à mú sica animada que vinha do salã o de baile.

Respirou fundo o ar da noite, impregnado com o perfume de jasmim e com o aroma forte que a brisa noturna trazia do deserto.

Aquele era o Oriente misterioso que seu pai conhecera e comentara tantas vezes! Aterra que planejaram visitar juntos! Alé m dos muros do hotel, ficavam as areias douradas de seus sonhos...

No dia seguinte de manhã, iria sozinha a cavalo até o oá sis de Fadna, onde o pai havia morado e pintado à s paisagens que o tornaram conhecido como artista. Eram pinturas tã o vibrantes e cheias de vida que despertaram na aluna do internato de freiras o desejo ardente de conhecer a realidade.

" Um dia iremos até lá ", prometera o pai. " Logo que eu estiver em condiç õ es de viajar, iremos morar nos limites do deserto. "

O pai apanhara uma doenç a na ú ltima viagem que fizera ao Oriente, e Lorna cuidara dele, dedicadamente, durante o ano que passaram em Paris. Lentamente, poré m, Peter Morel sucumbiu à febre maligna e deixou a filha sozinha no mundo. Era verdade que nã o ficara sem dinheiro, as obras de arte do pai garantiam a ele uma boa renda, mas nada compensava a perda de um homem tã o querido e excê ntrico!

Mesmo naquele momento, podia vê -lo, sorrindo, enquanto trabalhava numa tela, ou esboç ava um rosto original, com alguns traç os rá pidos de carvã o.

Estremeceu instintivamente quando ouviu o ruí do de passosna outra extremidade do terraç o e pensou em afastar-se rapidamente dali e refugiar-se no jardim. Ao sair da sombra, contudo, um rapaz a abordou.

— Ah, você está aí! — exclamou, com uma risada irritante. — Prometeu-me uma danç a, Lorna.

A mú sica invadiu o terraç o, saindo pela porta aberta do salã o de baile. O calor, a fumaç a dos cigarros, as conversas desinteressantes, tudo contribuí ra para expulsá -la dali. Agora Rodney Grant saí a a sua procura, quando havia tantas outras moç as no salã o que disputavam sua companhia.

— Estou cansada de danç ar, Rodney — explicou, com o rosto impassí vel. — Prefiro respirar o ar puro da noite e olhar para as estrelas lá no alto, que parecem estar ao alcance de minha mã o.

— Mas elas nã o estã o, Lorna — disse o rapaz, com uma entonaç ã o prosaica, que tinha o dom de irritá -la. — Por que nã o se conforma com as coisas possí veis?

— Como o casamento e as obrigaç õ es banais da vida?

— Com você, a vida nunca seria banal — replicou o rapaz, corando ligeiramente.

Lorna nã o entendia por que os rapazes daquela idade ficavam sem jeito e gaguejavam diante de uma jovem bonita.

Ela tinha cabelos cor de ouro, olhos azul-escuros e o rosto oval. Como aprendera no internato das freiras que os atributos fí sicos nã o tinham valor na vida, ouvia com indiferenç a os elogios que os rapazes Lhe faziam. Preferia saber que possuí a uma saú de de ferro e que podia andar a cavalo e partir a galope sem correr o risco de ser derrubada no chã o.

Subitamente, o som langoroso de uma flauta de bambu veio do jardim, obsessivo e dolente, contrastando com a mú sica frené tica que cessara naquele momento.

— Quem está tocando flauta? — perguntou Lorna, aproximando-se com curiosidade do parapeito e prestando atenç ã o na melodia, com os olhos brilhantes. — Ouç o essa mú sica todas as noites desde que cheguei a Ras Jusuf.

— Deve ser um dos jardineiros — respondeu Rodney, aproximando-se dela.

Ao sentir o contato do braç o dele em seu corpo, Lorna afastou-se e desceu rapidamente os degraus da escada.

— Vou descobrir o flautista que está tocando entre as á rvores!

— Você tem cada idé ia! — exclamou Rodney, seguindo-a em direç ã o à s palmeiras e aos pé s de jacarandá, que estavam com os ramos cobertos de flores.

— Ah, que perfume maravilhoso! — disse Lorna, abaixando um galho e levando-o ao nariz. — Nã o tem vontade de cometer uma loucura ao respirar esse ar da noite?

— O que entende por loucura? — indagou Rodney, com um risinho malicioso. — Sinto-me bem só de estar com você...

— Nã o é disso que estou falando! — Lorna respondeu, com impaciê ncia. — A vida deve ter um certo encanto, uma certa magia, alé m dos beijos e das promessas vazias.

— Já se apaixonou por algué m, Lorna? É muito bom namorar, e eu daria tudo para ser seu namorado.

— Pois eu nã o — disse ela, com voz fria. — Ouç a, Rodney, ao contrá rio das outras moç as que estã o hospedadas no hotel, nã o vim aqui para arrumar um marido.

— Nã o me diga que veio conhecer o deserto!

— Por que nã o? O deserto é um lugar muito misterioso... Afastou-se dele e prestou atenç ã o na mú sica da flauta, que

absorvia, no momento, todo seu interesse. A presenç a de Rodney era algo desagradá vel naquela circunstâ ncia, mas nã o queria ser indelicada e pedir ao rapaz para deixá -la sozinha.

— O baile vai terminar, e você perderá sua ú ltima danç a — lembrou-o, na esperanç a de que o rapaz compreendesse a indireta.

— Eu nã o vou deixá -la aqui sozinha... com esse á rabe tocando flauta no meio das á rvores.

— Nã o há perigo — disse Lorna, com um sorriso. — Amanhã, vou passear a cavalo sozinha no deserto...

— Está falando sé rio? — questionou Rodney, pegando em sua mã o.

Ela se soltou com um gesto brusco e afastou-se alguns passos, como se nã o pudesse tolerar o contato fí sico de um homem. O ú nico homem com quem tivera intimidade fora o pai e, mesmo assim, somente no ú ltimo ano de vida, porque antes ele estava sempre viajando, à procura de paisagens originais para seus quadros.

Sua mã e morrera havia tantos anos que mal se lembrava dela, e Lorna passara a maior parte da infâ ncia e da adolescê ncia trancada no internato das freiras.

" Quando você crescer, vamos viajar pelo mundo inteiro", dissera o pai.

Era o sonho que ela cultivara durante todos os anos de solidã o, mas que, infelizmente, nã o estava destinado a se concretizar. Agora, aos vinte anos, viajara sozinha para o Oriente, a fim de conhecer o oá sis de Fadna, numa espé cie de romaria ao local que o pai amara em vida e onde residira durante muitos anos.

— Já arrumei um bom cavalo e pretendo conhecer o deserto de que falam tanto — explicou para Rodney.

— Vou com você — disse o rapaz, com firmeza. — Uma moç a de sua idade nã o pode andar sozinha por aí. Há regiõ es que sã o inteiramente isoladas, e me contaram que algumas moç as foram seqü estradas e nunca mais ningué m ouviu falar delas!

Lorna deu uma risada que ecoou pelo jardim silencioso.

— Nã o sou Dolly Featherton! — exclamou, com voz desdenhosa. — Você nã o me assusta com histó rias de á rabes mal-encarados que seqü estram moç as desacompanhadas, a fim de levá -las para seus haré ns! Meu pai morou muitos anos no deserto, e ele conhecia bem os beduí nos. Eles preferem as mulheres á rabes e acham as europé ias muito magras e sem graç a...

— Nã o seja teimosa! Pode ser pega apenas para que paguem um resgate... Nã o estou brincando! Os beduí nos pensam que todos os turistas sã o milioná rios.

— Nesse caso, ficarã o decepcionados se me seqü estrarem. Vivo com a renda que meu pai me deixou, e nã o sou nenhuma milioná ria...

Lorna voltou-se em direç ã o à s á rvores ao ouvir o som da flauta se aproximando de onde estavam. Prestou atenç ã o durante um momento e correu para trá s de um tronco. Avistou dali o brilho do lago, onde os nenú fares flutuavam, e, junto à margem, o vulto de um á rabe.

O capuz do albornoz branco estava caí do sobre os olhos, mas podia avistar a flauta que estava presa em seus lá bios. O homem estava voltado em sua direç ã o, e a aparê ncia dele era sinistra, com o capuz de monge.

Lorna apertou com forç a a bolsinha que segurava na mã o. O flautista, naturalmente, pediria a gorjeta de praxe. Em vez disso, poré m, ele guardou a flauta no bolso do manto e lhe dirigiu, um cumprimento cerimonioso.

— A lella está querendo saber a sorte? — perguntou em francê s, com os olhos brilhantes por baixo do capuz. — Vi a lella no bazar esta manhã e, mais tarde, passeando no jardim. A moç a está procurando alguma coisa na terra do vé u?

Lorna parecia fascinada, enquanto fitava o á rabe. Rodney murmurou:

— Ler a sorte... Isso é bobagem! Nã o gaste seu dinheiro com esse sujeito.

— O roumi tem medo de ser excluí do de sua vida — prosseguiu o á rabe, pelo visto compreendendo o comentá rio de Rodney.

Com o rosto impassí vel, o homem tirou um saquinho do bolso do albornoz, soltou o nó que o amarrava e despejou o conteú do na frente dela. Em seguida, espalhou a areia fina com a palma da mã o e traç ou alguns desenhos na superfí cie lisa, com a ponta do dedo.

— Sopre a areia levemente — disse por fim.

Lorna ia ajoelhar-se no chã o, diante do adivinho, quando este, com a cortesia tradicional dos á rabes, retirou o lenç o de seda do pescoç o e estendeu-o em sua frente.

— Muito obrigada — ela agradeceu, soprando de leve os desenhos traç ados na areia. Depois, com a respiraç ã o presa, aguardou com ansiedade que o á rabe examinasse os traç os formados na areia.

Mektub — murmurou o homem. — Estou vendo uma casa construí da num local isolado. A areia do deserto avanç ou sobre os muros e os canteiros de flores. A lella nã o deve ir a este lugar, mas está escrito que irá, mesmo assim.

— Por que nã o devo ir lá? — indagou Lorna, olhando com certa desconfianç a para o á rabe.

Naquela manhã, ao alugar um cavalo para o passeio que pretendia dar, informara-se també m sobre a casa construí da pelo pai no oá sis de Fadna. Algumas pessoas no hotel estavam perfeitamente a par de seu plano. Era possí vel que o á rabe tivesse ouvido alguma coisa a esse respeito e se aproveitasse da informaç ã o.

— Sei apenas que a moç a irá até lá e que será perseguida por um homem de cabelos negros.

Lorna deu uma risada nervosa e olhou para os cabelos loiros de Rodney.

— Bem, nesse caso você está excluí do!

— O que ele disse? — perguntou Rodney, sé rio.

— Nã o entende francê s?

— Nã o, nã o entendo nada dessa lí ngua.

— Ele falou que vou ser perseguida por um homem de cabelos negros — explicou Lorna, com animaç ã o.

— Quanta besteira! — exclamou Rodney, olhando com desprezo para o á rabe. Sob a sombra do capuz, os olhos escuros brilharam. — Dê -lhe uma gorjeta, e vamos embora.

— Antes, quero fazer mais uma pergunta... Pode ser bobagem, mas é tremendamente divertido!

Ao avistar o rosto dela em sua direç ã o, o adivinho tornou a inclinar a cabeç a sobre os desenhos traç ados na areia.

— Quem é esse homem moreno? Eu o conheç o, ou é um estranho?

— Há pessoas que a gente encontra nos sonhos, lella. Pessoas que sã o estranhas sem serem desconhecidas.

— Nã o sonhei ultimamente com nenhum homem de cabelos negros e perigoso — disse Lorna, com um sorriso irô nico. — Nã o pode me dizer algo mais interessante?

— Há alguma coisa mais interessante que os segredos do coraç ã o, lella?

Havia uma entonaç ã o maliciosa na voz rouca do homem que a desagradou. Com um movimento brusco, ela se inclinou para frente e soprou com forç a os desenhos formados na areia.

— Pronto! Agora afastei esse homem moreno de meu caminho!

— Nã o, lella, nã o afastou. — O á rabe apontou para a bainha do vestido azul, onde havia alguns grã os de areia fina. — Se a moç a quer fugir dele, deve afastar-se do deserto... Se permanecer aqui, será perseguida, e as mã os dele vã o cair sobre a lella, como esses grã os de areia.

Lorna levantou-se bruscamente e tirou a areia do vestido. Era bobagem levar aquilo a sé rio, mas, mesmo assim, sentiu-se subitamente angustiada e atrapalhou-se toda quando apanhou uma moeda na bolsa. O á rabe aceitou a gorjeta e guardou-a no bolso do albornoz. Inclinou a cabeç a cerimoniosamente e murmurou uma palavra de agradecimento.

Ela se voltou com nervosismo e sugeriu a Rodney que se dirigissem rapidamente ao salã o, antes da ú ltima danç a. O lamento da flauta de bambu acompanhou-os durante alguns momentos, e Lorna pensou que era uma tola por se perturbar com as palavras do adivinho. Felizmente, ningué m podia prever o futuro!

Meia hora antes, ela fugira do barulho e das conversas enjoadas do salã o. Agora, poré m, ouviu com agrado a mú sica frené tica que encobria o lamento insistente da flauta no jardim.

— Você danç a divinamente — Rodney falou, estreitando-a nos braç os. — Por que nã o queria danç ar?

— Prefiro andar a cavalo... Nã o há nada como galopar em disparada! E por isso que estou sempre na frente dos outros.

— Ah, entendi! Nã o gosta de ser passada para trá s. Sobretudo pelos homens...

— Exatamente.

Ela se soltou dos braç os dele quando a mú sica terminou e as luzes do salã o aumentaram de intensidade. Perto dali, um rapaz beijava uma moç a no pescoç o, e Lorna dirigiu um olhar frio ao casal, como se nã o pudesse entender o motivo daquele gesto.

— Boa noite, Rodney. Pretendo me levantar de madrugada e vou dormir mais cedo hoje.

— Está realmente decidida a passear pelo deserto? — ele perguntou, caminhando a seu lado em direç ã o à escada.

— Mais do que nunca! Por que haveria de modificar meus planos?

— A resposta é evidente — Rodney respondeu, com impaciê ncia. — E muito jovem e bonita para andar sozinha por aí, quanto mais no deserto! Vou com você!

— Muito obrigada, mas prefiro ir sozinha.

Ela parou ao pé da escada e encarou-o. Rodney corou e segurou com forç a o corrimã o.

— Quer dizer que nã o gosta de minha companhia?

— Eu nã o disse isso. Desculpe-me, Rodney, mas o preveni de que nã o vim aqui para encontrar um marido, nem mesmo um namorado. Vim para fazer o que me agrada. Alé m disso, sei tomar conta de mim mesma. Agradeç o sua boa vontade, mas nã o sou tola como Dolly...

Ele a olhou atentamente. Nã o se cansava de admirar os cabelos dourados, os olhos grandes e azuis, o corpo esguio no vestido longo de crepe...

— Ouç a bem o que lhe digo, Lorna. Se nã o tomar cuidado, algué m vai ferir seu orgulho. Mesmo que seja fria, o deserto acabará por derretê -la.

Ela deu uma risada e, ao se voltar, avistou a famí lia Fea-therton, que se aproximava do saguã o. Dolly, uma garota desua idade, tinha cabelos crespos e lá bios finos. A mã e andava com o nariz empinado. O marido, que ia um pouco atrá s, lanç ou um olhar cheio de desejo para Lorna, que a esposa felizmente nã o percebeu, porque ele era um desses homens que tinha o costume de fazer as coisas à s escondidas.

Como nã o simpatizava nem um pouco com a famí lia Feat-herton, Lorna despediu-se rapidamente de Rodney e subiu a escada depressa.

Rodney provavelmente tinha razã o. Ela era orgulhosa e nã o gostava de andar na companhia de outros, embora fosse a primeira a ajudar algué m num momento de dificuldade, especialmente crianç as ou algum animal indefeso.

Lorna acendeu a luz do quarto e aproximou-se do espelho. Mirou-se detidamente e sorriu para si mesma. Rodney a acusara de ser fria e indiferente. O que ele queria dizer com isso? Que nã o apreciava os beijos e as carí cias gratuitas? Uma coisa era verdade: ela nã o desejava namorar com ele, muito menos com qualquer homem que encontrasse. Nã o sentia o menor interesse pelos rapazes que conhecera até entã o. Todos pareciam muito banais, sem imaginaç ã o, sem vitalidade ou gosto pela aventura.

Rodney oferecera-se para acompanhá -la no passeio ao deserto, mas ela sabia perfeitamente que ele preferia passar a manhã toda bebericando na piscina do hotel. Da mesma forma que os outros rapazes de sua idade, Rodney nã o ouvia o apelo do deserto e só se sentia seguro nas imediaç õ es de Ras Jusuf.

Ela se deitou na cama, embaixo do cortinado, e pensou no passeio que daria na manhã seguinte. Desejava intensamente conhecer os locais onde seu pai estivera, o vasto oceano dourado e cintilante do deserto, com suas dunas e colinas que se estendiam a perder de vista.

" O deserto pode ser cruel, tó rrido e inclemente, mas há uma grande beleza nele para os que sabem enxergá -la... ", dissera o pai.

Entã o, lembrou-se das palavras do adivinho... O á rabe revelara que seria perseguida por um homem de cabelos negros...

Com certeza, era tudo bobagem, mas, mesmo assim, ela nã o conseguiu evitar o arrepio que lhe percorreu o corpo. Como se voltasse a ser crianç a, puxou o lenç ol sobre a cabeç a, com medo do escuro a sua volta.

 

 




  

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