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CAPÍTULO VII



 

Junto com o chá, Luiza serviu uma bandeja com docinhos cobertos de creme, uvas e damascos.

— Adoro doces, como Rafael. — Dona Manuela sorriu, sem saber qual escolher. — Nã o quer um? Ou está preocupada com a silhueta?

— Acabei de tomar o café da manhã, señ ora. Aliá s, dois. Feliz­mente, nã o engordo com facilidade.

— També m nunca tive esse problema, embora a maioria das espa­nholas tenha tendê ncia para engordar. Quando jovens, sã o adorá veis, mas com o tempo e os filhos acabam virando matronas. Nossos homens, ao contrá rio, envelhecem bonitõ es e viris. Os bandidos!

Vanessa riu, mais à vontade com a velha do que imaginava pos­sí vel. A pose de grande dama era, realmente, superficial; no í ntimo, era calorosa e humana.

— Acha os espanhó is bonitos, minha filha?

— Sã o elegantes e charmosos, mas um pouco amedrontadores.

— Está falando especificamente do meu neto, nã o? — Encarou Vanessa. — Ele é um homem forte e emocional. Precisa de uma mu­lher compreensiva para ser feliz. Meu filho Juan tinha o mesmo tem­peramento. Felizmente, encontrou uma esposa que sabia lidar com ele. Os dois foram muito felizes, e gostaria que Rafael tivesse essa sorte.

A velha señ ora ficou pensativa por alguns momentos. Entã o, fez uma pergunta surpreendente:

— Diga-me, Srta. Carrol: o que acha de Lú cia Montez? Vanessa ficou sem jeito. Lú cia era a mulher com a qual don Rafael pretendia se casar, e seria uma impertinê ncia a duena inglesa dar opiniõ es sobre a futura señ ora. Bá rbara, que també m nã o morria de amores por Lú cia, já lhe havia feito a mesma pergunta. Sempre des­conversava, com medo de ser franca e a garota acabar contando a todo mundo sua conversa, como havia feito com as confidencias sobre Jack Conroy e seus beijos.

— Vamos, señ orita dona Manuela deu uma pancadinha em seu joelho com o leque de marfim —, pode falar livremente comigo. Já tenho idade bastante para saber guardar segredos, e a opiniã o de algué m jovem como você pode me ajudar. Sabe, Rafael é um espanhol puro-sangue. Por isso, precisa de uma mulher de verdade. Nã o apenas feminina, mas sem egoí smo e carinhosa, que o ajude a enfrentar as responsabilidades que tem. Lú cia Montez pode ser uma anfitriã per­feita, porque é charmosa, graciosa e muito elegante; mas uma esposa nã o é apenas uma figura decorativa. Pergunto-me se Lú cia tem tem­peramento para conviver com o gê nio difí cil de Rafael.

Vanessa permaneceu calada. A velha abriu o leque e se recostou no sofá.

— Ah, eu sei que ele à s vezes parece feito de pedra. É por isso que quero que case com a mulher certa. Diga-me, francamente: acre­dita que meu neto e essa viú va tenham nascido um para o outro?

— Sim, eles. . . eles parecem combinar muito.

— Mas você gosta dela? Acha que tem um bom coraç ã o?

— Nã o se pode julgar pelas aparê ncias. Mas, certamente, um homem sabe se está escolhendo uma mulher. . . quente ou fria.

— Gostaria de poder concordar, crianç a, mas os homens nã o sã o tã o bons assim para descobrir o que se passa no í ntimo feminino. Uma mulher decidida, que está de olho num marido rico e poderoso, pode fingir ser muitas coisas que nã o é, só para conseguir o que quer. Se Lú cia Montez é uma atriz, e se pretende agarrar Rafael. . . ele é humano... vai conseguir. Isso me preocupa porque, ultimamente, meu neto parece apaixonado. Fica calado um bocado de tempo, como se estivesse sonhando. Anda pela casa no meio da noite.

Vanessa nã o conseguia ver don Rafael apaixonado. Dona Manuela sorriu e deu de ombros.

— Você é uma boa menina por ficar ouvindo com tanta paciê n­cia as tolices de uma velha. Afinal, a felicidade do meu neto nã o é tã o importante para você como é para mim.

Seu olhar era desconcertante como o de don Rafael: parecia que­rer ler sua mente e seu coraç ã o. O que podia dizer para a velha senhora? Ele nã o era nenhum garoto, devia saber o que estava fazendo.

— Respeito don Rafael e devo minha vida a ele.

— E por trá s disso nã o há nenhum sentimento pessoal?

— Nã o pode haver, para nenhum de nó s. — Vanessa arregalou os olhos verdes, diante daquela sugestã o absurda.

— Quanta ê nfase! — Dona Manuela riu. — A atraç ã o entre um homem e uma mulher é a coisa mais natural do mundo. Por que acha, entã o, que meu neto nunca olharia para você como um homem, e nã o só como seu protetor e seu patrã o?

— Eu. . . eu nã o sei.

Estava confusa e envergonhada por se sentir assim. Por que nã o conseguiu rir da idé ia? Ou, simplesmente, reagir com naturalidade?

— Desculpe. Embaracei você. — A velha pousou a mã o no joelho de Vanessa. — Os ingleses nã o costumam abrir o coraç ã o para des­conhecidos, nã o é?

— Somos um pouco reservados, sim.

— E na Inglaterra as moç as tê m mais liberdade do que no meu paí s. É contraditó rio. Essa liberdade entre os jovens nã o cria muitos problemas sentimentais?

— De uma certa forma. Mas acho que as moç as que sã o impedidas de conviver com rapazes estã o muito mais sujeitas a ficarem obce­cadas por sexo e se meterem em problemas.

— Diz isso pensando em Bá rbara, nã o é? Rafael me disse, ontem à noite, que a garota está envolvida com Ruy. Está muito preocupado com isso. Ruy é charmoso, claro, mas seria um erro aqueles dois se casarem. O rapaz tem sido. . . como posso dizer? Um libertino? Mas isso nã o o impediria de se tornar um bom marido. O verdadeiro problema é que ele també m nã o é está vel, infelizmente. Herdou o mesmo temperamento inquieto e selvagem do pai, e Rafael gosta muito de Bá rbara para permitir que ele a faç a infeliz, como a mã e de Ruy foi infeliz. Acho que a garota estava precisando de uma amiga equilibrada assim como você. Meu neto teve muita sensibilidade ao escolhê -la como duena, e agradeç o por aceitar o emprego.

— Gosto de estar com ela. Bá rbara é divertida e a considero qua­se uma irmã caç ula. Sempre quis ter irmã os.

— Ah, entã o gostaria de ter uma grande famí lia? Isso é bom. — A velha señ ora segurou as mã os dela, com carinho. — Gosto de você, querida, e a partir de agora vou chamá -la pelo primeiro nome. Vanes­sa. É bonito. E meigo. Combina com você.

As faces de Vanessa se cobriram de um rosado que, aos poucos, foi se acentuando sob o olhar avaliador da velha.

— Tem belos olhos, menina. Sinal de paixã o e obstinaç ã o. É uma boa combinaç ã o numa mulher, porque ser dó cil nã o é uma virtude. Um homem precisa sentir que existe eletricidade no ar: isso o estimula. Soube que tem um amigo aqui na ilha. Um americano que trabalha nos campos de petró leo, certo?

Apesar de dona Manuela quase nunca sair de sua suí te, parecia muito bem informada. Com certeza, Luiza fazia todos os dias um relató rio completo das novidades para a patroa. Ou entã o — estre­meceu só de pensar — don Rafael havia mencionado Gary Elsing para a avó. Teriam discutido o assunto, enquanto jogavam xadrez?

A velha senhora adivinhou o que ela estava pensando, porque disse:

— Nã o pense que desaprovamos sua amizade, Vanessa. Apenas nos preocupamos, porque você ainda está sob forte abalo emocional e tememos que faç a um casamento desastrado. Impensado, entende?

— Mas Gary e eu... nó s mal nos conhecemos! Ningué m está pensando em casamento. Pelo menos, nó s dois nã o estamos.

— Mesmo assim, deve se sentir muito sozinha, agora que seu ú nico parente morreu, e nã o existe pior sentimento no mundo. Se Rafael à s vezes parece severo demais com você a respeito do ameri­cano, é só porque você é sobrinha de um de seus melhores amigos e uma pessoa... Ah, outra vez esse olhar de dú vida! O que meu neto fez ou disse para lhe dar a impressã o de que nã o simpatiza com você?

— A antipatia é mú tua.

— Nã o gosta do meu Rafael? — Dona Manuela parecia surpresa por algué m sentir outra coisa, alé m de adoraç ã o, por seu querido neto. — Oh, acho que entendo. Nã o é que nã o goste. É só irritaç ã o, porque você tem uma natureza independente e ele é um espanhol autoritá rio.

Sim, ele a irritava com aquela pose de quem sempre sabia o que era melhor para ela, mas isso nã o explicava inteiramente a tensã o que crescia entre eles algumas vezes e ameaç ava explodir. Havia no ar alguma emoç ã o mais violenta, algo perigoso. Duas pessoas que se enfrentavam feito tigres nunca poderiam ser amigas. Se ela fosse homem, talvez chegassem a se entender. Mas com as mulheres, don Rafael tinha necessidade de afirmar seus instintos bá sicos: a fascinaç ã o pela luta, como fazia com ela, e o desejo de conquistar, como no caso de Lú cia.

— Minha querida ; dona Manuela olhava para ela, divertida —, permitir que Rafael perceba que amedronta você é o mesmo que ' encorajá -lo. Ele tem um senso de humor diabó lico, como sabe.

— Até parece. . . um jogo.

— E nã o é? Lembro-me de que, quando era jovem, nada me agra­dava mais do que um bom duelo verbal com um homem. É verdade que as espanholas sã o sedutoras natas, mas, naturalmente, uma inglesa també m deve gostar dessa luta sutil entre os sexos. Há uma deli­ciosa provocaç ã o nisso, nã o acha?

— Concordo que os espanhó is sã o um bocado provocantes! — Vanessa riu. — Foi uma grande namoradeira, dona Manuela?

— Levei vá rias dueñ as ao desespero, até o avô de Rafael aparecer. Entã o, todos os outros deixaram de existir.

— Seu casamento nã o foi arranjado? — perguntou, tentando ima­ginar a altiva velha dama como uma sonhadora señ orita que flertava com jovens galantes, ouvia serenatas e atirava rosas vermelhas para os admiradores.

Don Rafael Luez, que se tornou meu marido, era um dos can­didatos que meu pai tinha em vista. Mas nã o era igual aos outros. Quando se recusou a me mimar e ainda teve a audá cia de me dar ordens, eu soube que era o homem com quem queria casar. Dize­mos, na Espanha, que uma mulher deve amar o marido como a um amigo e ter medo dele como de um inimigo... é um sá bio ditado.

Vanessa achava difí cil de acreditar. Entã o a senhora indicou um dos retratos a ó leo da parede.

— Há uma grande semelhanç a entre meu marido e meu neto, nã o acha? O jovem Rafael é um pouquinho mais largo de ombros, talvez porque goste tanto de esportes. Mas os dois tê m o mesmo fogo no olhar. Os Domerique tê m sangue de corsá rio. Sabia disso?

— Seu neto me disse. .. e parecia bastante orgulhoso.

— Cada vez que se olha no espelho, deve ver seus ancestrais aven­tureiros. Querida, tenho algumas jó ias daqueles tempos que gostaria de mostrar a você. Quer fazer o favor de abrir aquela cô moda e pegar a caixa de jó ias para mim? É uma bem antiga.

A caixa era de prata lavrada. Vanessa sentiu um arrepio quando a tocou, por saber que, centenas de anos atrá s, havia atravessado o Caribe a bordo do galeã o de El Conquistador.

Grá cias.

Dona Manuela abriu a caixa e Vanessa ficou extasiada. Havia ané is e broches, brincos e pingentes, pesados colares e gargantilhas. Principalmente em ouro, diamantes e esmeraldas. Imaginou se El Conquistador teria dado tudo aquilo de presente para a noiva inglesa. Se suas mã os, acostumadas a usar a espada, teriam colocado aqueles brincos e colares na mulher que amava. Se teria admirado, com olhos possessivos, o contraste das esmeraldas com sua pele branca.

Depois imaginou a moç a, talvez com o coraç ã o cheio de medo, Recitando as jó ias que ele havia conquistado do mesmo jeito que a conquistara.

— No que está pensando, querida?

— Na moç a que casou com o primeiro don Rafael.

— Ah, entã o meu neto també m lhe contou a famosa histó ria. Ficou chocada com ela?

— No começ o, sim. Mas ele me disse que... os dois se amavam.

— Acha inacreditá vel que uma mulher possa amar o corsá rio es­panhol que arriscou a vida para salvá -la de um destino terrí vel? Depois que comprou a moç a, seus navios foram perseguidos e atacados pelos mouros, que queriam se vingar. Ela viajou com ele pelos mares du­rante dois anos, até descobrirem a ilha de Luenda, tomarem posse e criarem uma famí lia.

— É uma histó ria româ ntica, sem dú vida.

— Nã o deve se esquecer de que El Conquistador era um homem de seu tempo. Rude, talvez, mas muito corajoso... e casou com a moç a. Era inevitá vel que ela se apaixonasse. Muitas mulheres, mesmo hoje em dia, tê m um lado primitivo que só encontra satisfaç ã o com um homem agressivo. Estou falando de mulheres verdadeiramente femininas, entende? Sua natureza faz com que desejem algué m domi­nador, embora, muitas vezes, lutem contra os pró prios instintos. Sã o como tigresas que atacam seu domador, embora o amem.

Vanessa acreditava naquilo. Ela mesma já se sentira assim diante dos olhos autoritá rios de don Rafael.

— O que é isso, dona Manuela? — Encontrara um livro encader­nado em couro dentro de uma caixa de prata.

— Um á lbum de fotografias. Entã o, era aí que ele estava escon­dido. Outro dia, fiz a pobre Luiza virar o quarto pelo avesso, procurando-o. Veja!

Apontou para a foto de um menino vestido de marinheiro, que Vanessa reconheceu imediatamente.

Don Rafael! Mas ele tinha cabelo cacheado. Que gracinha de crianç a.

— Gracinha? Ele era um demô nio. Fazia todo tipo de travessura que você possa imaginar. Mas o que mais gostava era de andar de barco e pescar com os nativos. Voltava imundo da cabeç a aos pé s. Sentia falta de irmã os, acho eu. Mariana, minha nora, nã o pô de mais ter filhos, depois que ele nasceu. Foi um parto muito difí cil. Ainda bem que teve um menino. Todos dizem que, enquanto um Domerique governar Luenda, nunca acontecerã o aqui as revoltas que estã o incen­diando as outras ilhas. Você sabe, minha filha, que preç o alto os inocentes pagam para que homens sem escrú pulos satisfaç am sua sede de poder.

Vanessa fez um gesto com a cabeç a, concordando. Dona Manuela deu um tapinha carinhoso na mã o dela.

— Meu Rafael tem o poder, mas sabe usá -lo. Atravé s dos anos, o espí rito conquistador dos Domerique se transformou em autoridade e senso de responsabilidade. Rafael é um bom lí der para essa gente. Os nativos o respeitam por ser forte e justo. Pode-se até dizer que há amor, tanto quanto lealdade.

A velha sorriu, orgulhosa. Vanessa pensou nas demonstraç õ es de afeto dos nativos para com don Rafael.

— Que fiesta vã o fazer, quando ele anunciar seu noivado. Pes­soalmente, preferia que nã o fosse essa viú va, mas ela é inteligente e talvez ele sinta que precisa de uma mulher que tenha cabeç a. Sou antiquada e sentimental: ainda acho que o mais importante numa esposa é calor humano, impetuosidade e desejo de ter filhos. . .

Fechou o á lbum e ficou pensativa. Depois, voltou à caixa de jó ias, como se procurasse alguma coisa. Achou, finalmente: um bracelete e um par de brincos esculpidos em jade. Colocou os brincos junto do rosto de Vanessa.

— Nem toda mulher pode usar jade, mas você tem um colorido perfeito. Acho uma pena coisas tã o lindas ficarem guardadas no fundo de uma velha caixa, quando podiam estar enfeitando uma jovem bonita. Dê -me seu braç o, querida.

Vanessa apenas ficou olhando para ela, confusa.

— Vamos, seu braç o. — Pegou o pulso dela e, pouco depois, o magní fico bracelete tinha sido colocado. — Entã o, o que acha dele?

Dona Manuela, nã o posso aceitar uma jó ia como essa! Pertence à sua famí lia. E depois, o que o seu neto vai pensar?

— Nã o é da conta dele se quero presentear uma amiga. Tem um certo valor histó rico, mas nã o representa nada perto das jó ias que a noiva dele vai herdar. Vamos, chica, ponha os brincos també m. Assim. . . que beleza! Sã o da mesma cor dos seus olhos. Deve usá -los hoje à noite, quando for se encontrar com o sr. Elsing.

— É muita bondade emprestar para mim, dona Manuela...

— Deixe de ser teimosa! Nã o estou emprestando, estou dando. ficam lindos em você, e tenho certeza de que a mulher à qual pertenceram ficaria muito feliz por estarem sendo usados novamente por uma inglesa.

— Eles. . . pertenceram à noiva de El Conquistador? — Acariciou as pedras. — Dona Manuela, nã o sei o que dizer. Gostaria muito de ficar com eles. Será que don Rafael nã o vai mesmo se importar? Sim apenas uma empregada aqui. . .

É um pouco mais do que isso, Vanessa. A velha senhora pareceu cansada de repente. Fechou os olhos por alguns momentos e, com um suspiro, disse que precisava repousar.

— Gostei de falar com você, pequena. Venha sempre tomar uma xí cara de chá comigo. Agora, por favor, pode pedir a Luiza para vir me ajudar?

Vanessa saiu de lá sentindo-se um pouco menos estranha naquela casa. Foi até o quarto de Bá rbara.

A garota estava acordada, recostada nos travesseiros e parecendo sentir pena de si mesma. Vanessa encorajou-a a se levantar e foram para o balcã o. O sol voltara a brilhar, mas timidamente: ainda podia chover.

— Seria uma pena se chovesse — Bá rbara disse, maliciosa. — Estragaria seu encontro com o atraente americano.

— Oh, nem um temporal vai estragar a minha noite. Quando levantou a cabeç a para olhar para o cé u, Vanessa sentiu os pingentes de jade balanç arem de encontro ao pescoç o. Tocou as pedras e sorriu. Tinha sido uma surpresa descobrir tanta amizade e compreensã o em dana Manuela. Nas poucas vezes em que a velha descera para jantar com a famí lia, seu comportamento tinha sido re­servado e distante. Por isso, Vanessa havia ficado com a falsa impres­sã o de que ela era uma matriarca orgulhosa e fria. Por quê? O que a impedia de se mostrar exatamente como era?

Tentou reconstituir algumas das vezes em que a vira no salã o. Em todas elas havia muitos convidados, amigos e vizinhos, mas Vanessa nã o acreditava que a velha senhora nã o gostasse de ter gente à sua volta. Ao contrá rio. A ú nica pessoa de quem tinha certeza de que dona Manuela nã o gostava era Lú cia Montez. Seria por causa da viú va que se mostrava sempre tã o sé ria e severa?

Tinha deixado bem claro que preferia para o neto uma jovem señ orita, cujo coraç ã o e cujo corpo nunca tivessem pertencido a ne­nhum outro alé m dele. Lú cia podia lhe dar sofisticaç ã o e excitaç ã o, mas nã o tinha inocê ncia e pureza. Estava bem longe da imagem da mulher perfeita que a velha desejava para mã e de seus bisnetos.

Perfeiç ã o é um sonho impossí vel, pensou. Um sonho que ela tam­bé m havia acalentado.

— Uma peseta pelos seus pensamentos! — Bá rbara trouxe-a de volta ao presente. — O americano, guapa?

— Nã o. Estava pensando no meu encontro desta manhã com dona Manuela — respondeu, ausente. Sem querer, esbarrou no vaso de gerâ nios. Vá rias pé talas caí ram em sua saia. Pegou uma por uma, arrependida do gesto brusco. Parecia que as pessoas viviam estra­gando coisas e só lamentavam quando já era tarde demais.

— Falou sobre mim com madrecita?

— Só por alto — respondeu, temendo a reaç ã o de Bá rbara quando soubesse que Ruy ia ser mandado de volta para a Espanha. — Dona Manuela foi um amor comigo. Ela me deu estes brincos e o bracelete. Nã o queria aceitar, mas insistiu e eu nã o quis parecer mal-agradecida. Nã o sã o lindos?

— Bem, nã o estã o na ú ltima moda... — Bá rbara experimentou o bracelete e levantou o braç o, para ver o efeito. — Verde nã o é uma boa cor para mim, mas fica perfeita em você.

— Está insinuando que sou meio antiquada? — Vanessa brincou, pegando a jó ia e polindo as pedras com o lenç o. Para ela, aquele conjunto de jade tinha um significado especial por ter pertencido a uma inglesa, que també m havia sido trazida para a ilha por um Domerique.

— Você é uma figura de Velazquez. Tem alguma coisa que lem­bra tempos antigos... como esse homem diabó lico que controla a minha vida. Viu como ele olhava para Ruy, ontem à noite? Ele suspeita de alguma coisa. E já nã o me importo com isso.

— Diz isso com um ar de desafio, o que mostra que nã o está tã o tranqü ila a respeito. E sabe por quê? Porque, no fundo, reconhece que seu padrinho tem razã o. Engraç ado! Você resiste tanto à in­fluê ncia de don Rafael, e ao mesmo tempo deixa que Ruy a influencie. Seja sensata, Babs. Você nã o quer, de verdade, um homem instá vel como o señ or Alvadaas.

À medida que falava, Vanessa percebia que estava repetindo, só que com outras palavras, o que don Rafael tinha dito naquela manhã.

— De que tipo de homem devo gostar? — Bá rbara ficou na defen­siva. — Um que escolherem para mim? Nã o vou me casar à forç a com algué m que nã o conheç o. Pode rir e balanç ar a cabeç a, como se isso fosse impossí vel! Sua inglesa fria e controlada! Nã o sabe o que é estar apaixonada e. . .

— Agora, pare de se agitar desse jeito! Vai acabar passando mal outra vez.

— Nã o me dê ordens! — Bá rbara ficou de pé, numa atitude agressiva. —- Nã o se esqueç a de que nã o passa de uma duena nesta casa. E inglesa, ainda por cima. Guarde para si mesma suas opiniõ es que ningué m pediu. — Virou as costas e voltou para o quarto, ba­tendo a porta da varanda com violê ncia.

Melhor deixá -la sozinha para dar vazã o à raiva, Vanessa pensou, indo para o seu quarto. Era quase hora do almoç o e, apesar de nã o estar com o menor apetite depois de tantos bolos e doces, sabia que esperavam por ela. Na ú nica vez em que nã o desceu para o almoç o, don Rafael tinha mandado uma empregada perguntar o que havia acontecido.

Quando Vanessa desceu, tinha começ ado a chover, grandes pingos martelando o calç amento de pedras do pá tio e as portas de vidro da sala de jantar. Como sempre, a grande mesa enfeitada de flores estava posta para vá rias pessoas, porque alguns dos só cios de don Rafael eram esperados para o almoç o. Com Lú cia Montez ainda ausente e Bá rbara trancada no quarto, Vanessa seria a ú nica mulher à mesa.

Comportou-se com desenvoltura, pois estava acostumada a receber os amigos do tio, na fazenda. A ú nica diferenç a era que seus convi­dados eram, na maioria, ingleses, nada parecidos com os homens que conversavam com ela agora: espanhó is com profundas vozes de baixo.

Don Rafael traduzia para ela o que diziam e parecia nã o se inco­modar com isso. Ao contrá rio, havia um brilho divertido em seus olhos, o que a levou a suspeitar de que ele estava fazendo uma tra­duç ã o censurada.

Depois de uma sobremesa de morangos com creme, um criado trouxe café e licor. Vanessa tomou um cafezinho rá pido e deixou os homens sozinhos, para falarem de negó cios. Esperava ter dito as coisas certas e rido nas horas certas; enfim, ter sido uma anfitriã à altura.

Don Rafael acompanhou-a até a porta e acabou com sua preocupa­ç ã o. Murmurou no ouvido dela:

— Você é uma grande ajuda num almoç o de negó cios, Srta. Carrol. Esses sujeitos cabeç udos vieram aqui para me criar problemas, e agora estã o no ponto para concordar com tudo o que eu quiser. Você conquistou todos eles.

— Entã o, boa sorte, señ or. — Sorriu para ele, de um jeito cú mpli­ce, certa de que o assunto importante que tinha para resolver estava ligado ao bem-estar dos nativos.

Ele fez uma reverê ncia formal, mas o brilho em seus olhos era. . . era quase a afeiç ã o de um amigo. Saiu, apressada.

A chuva tinha parado e a tarde estava fresca. Resolveu dar um passeio até a lagoa. Sentia-se dividida entre a alegria que as palavras de don Rafael provocaram e a melancolia pelos insultos de Bá rbara. A garota ia perder a cabeç a quando Ruy partisse, e Vanessa nã o tinha dú vida de que o padrinho teria que desembolsar um bom dinhei­ro para mantê -lo alguns meses afastado do castelo.

Desceu os degraus de pedra e ficou parada, sozinha na praia, admirando as grandes ondas prateadas que atiravam pequeninos pe­daç os de coral na areia e salpicavam suas pernas e a saia.

Voltou para casa devagar, prestando atenç ã o nos pá ssaros que cantavam nas casuarinas e palmeiras. Tentou associar seu canto a alguma mensagem. Era um há bito que tinha desde crianç a: a brincadeira do " parece que eles estã o querendo dizer... " Lembrou-se de que, no trem para Londres, no dia em que deixou o colé gio para viajar ao encontro do tio, teve a impressã o de que o ruí do das rodas repetia, monotonamente: " nunca mais. . . nunca mais... "

Nunca mais voltar à Inglaterra. E por que nã o? Nada mais a ligava ao seu paí s. Ningué m esperava por ela no fim da viagem solitá ria, do outro lado do oceano.

Parou na cabana e deitou-se numa espreguiç adeira da varanda. Ficou lá, sonolenta, por quase uma hora. Folheava uma revista, quan­do ouviu passos nos degraus de madeira.

— O que essa revista tem de mais interessante do que a paisagem? — perguntou don Rafael, brincalhã o.

Sentou-se ao lado de Vanessa, cruzou as pernas e acendeu um charuto. Deu grandes baforadas, sem tirar os olhos de cima dela. Era um latino, e Vanessa sabia, pelo jeito como os outros a olharam du­rante todo o almoç o, que sua pele muito branca e o cabelo tã o claro faziam muito sucesso por ali. Mas era muito mais enervante quando don Rafael a olhava daquele jeito.

— Estava fazendo a siesta e se assustou?

A pergunta era inocente, mas o tom. . . Sabia muito bem que era a ú nica pessoa que tinha o poder de fazer com que se descontrolasse. Depois, ele tinha todo o direito de estar ali, fumando na varanda da cabana, perturbando sua paz. Ela era a intrusa.

— Resolveu os negó cios como queria, señ or?

Ele inclinou a cabeç a e ficou olhando para o mar.

— Uma ou duas vezes durante o almoç o, quando você pensava que nã o estava sendo observada, percebi que parecia um pouquinho triste. Sim, eu vi, embora sorrisse e se mostrasse encantadora com meus só cios. Quando o coraç ã o sofre, os olhos mostram isso, Os olhos de uma mulher, mais do que os de um homem, revelam suas emoç õ es, sem que ela possa impedir. Está com problemas, Vanessa?

Poucas vezes a chamara pelo primeiro nome e sempre, como agora, havia uma certa ternura em sua voz, no tom profundo como pronun­ciava as ú ltimas letras. Vanessa ficou tensa e disse a si mesma que ele fazia de propó sito, para perturbá -la. Sabia que tinha charme. E como podia ignorar isso, com tantas mulheres correndo atrá s dele?

— Nã o pode falar comigo como falaria com... seu tio?

— O senhor nã o é meu tio.

— Nã o, é verdade. — Recostou-se nas almofadas, os olhos semi-cerrados, e ficou alguns momentos fumando em silê ncio. — Nã o sou seu tio. Nem quero ser.

— Por quê? Porque sabe que eu nunca aceitaria seus costumes?

Acha que fui terrivelmente mimada e estragada por tio Len, nã o é, señ or? Acho que, quando nos importamos com algué m, costumamos fazer tudo para agradar, para realizar seus desejos. É a natureza humana.

— Nã o vou discutir as fraquezas do ser humano; ainda mais quan­do o coraç ã o está envolvido. Só quero saber por que anda tã o preocupada. Essa sua melancolia tem alguma coisa a ver com Bá rbara?

Entã o, o homem estava mesmo determinado a arrancar alguma coi­sa dela. Maldito! Nã o podia se contentar com seus negó cios e os pro­blemas sociais da ilha? Por que tinha que se meter també m na vida dos outros?

— Bá rbara sabe que o senhor desconfia do namoro dela com o señ or Alvadaas. Está com medo de que. . .

— É bom que esteja, mesmo. Nã o vou permitir que essa histó ria continue. Ela pode sofrer agora, pode até me odiar, mas é preferí vel isso do que sofrer depois, quando for tarde demais.

Ele estava certo, claro! Sempre estava! Como gostaria de vê -lo se enganar, pelo menos uma vez! Perder aquela superioridade impertur­bá vel, falhar.

Alguma coisa espantou os pá ssaros numa á rvore pró xima. Saí ram em revoada, formando uma nuvem de penas azuis e rosadas. Vanessa inclinou o corpo um pouco para a frente, para admirar melhor o espetá culo. Talvez, pensando que ia se levantar, don Rafael agarrou seu pulso, com uma forç a que nunca havia usado antes.

— Por que minha companhia incomoda tanto você, Srta. Carrol? Quando está com outras pessoas, fica calma, relaxada. Mas basta se encontrar comigo a só s, para se colocar na defensiva, sempre prepa­rada para uma batalha. Já estou ficando irritado com essa sua atitude.

— Sinto muito, mas nã o sou a ú nica culpada por essa situaç ã o. A verdade é que existe um certo antagonismo entre nó s. Esse tipo de sentimento é difí cil de controlar.

— Nã o apenas esse, señ orita. — Seus dedos se apertaram mais em volta do pulso dela. — Estou avisando para nã o provocar o demô nio que existe em mim. Nã o vai gostar da experiê ncia, garanto.

— Eu... provocar o senhor? Tenho me submetido à sua tirania, como todos que trabalham aqui ou vivem sob o seu domí nio. Aceito até que me insulte e maltrate meus amigos. E que faç a chantagem comigo. O que mais deseja? Que eu goste dessas coisas?

— Entã o é isso? — Sua voz estava perigosamente calma. — Tra­to você com o mesmo respeito com que trato as mulheres de minha famí lia, protejo a sua honra, nã o permitindo que fique solta por aí com homens solteiros, e acha que isso é um insulto?

— Nã o é verdade. Insinuou que faria Gary perder o emprego, se eu insistisse em quebrar seus. . . seus ridí culos protocolos espanhó is. Nã o tem o direito de me dizer o que fazer nas minhas horas de folga. E, muito menos, de escolher os meus amigos.

— Acha que esse homem, Elsing, só quer ser seu amigo? Nã o me diga que os ingleses acreditam em histó rias de fada, como a de uma amizade platô nica entre um homem normal e uma mulher atraente. Por Dió s! Nó s, espanhó is, podemos ter costumes que você considera antiquados, mas, pelo menos, nã o insultamos a virilidade de um homem, insinuando que ele pode ficar sozinho com uma mulher e nã o se sentir nem um pouco atraí do por sua pele, seu corpo, seu sorriso. Ainda nã o entendeu, Srta. Carrol, que nossas regras nã o foram feitas apenas para proteger as mulheres, mas os homens també m? Protegê -los da tentaç ã o e dos problemas que vê m depois? Amizade! Está se fazendo de boba?

— Ser mulher també m me transforma, automaticamente, numa desmiolada, sob o seu ponto de vista? Gary, pelo menos, é algué m igual a mim, nã o um senhor feudal, que gosta que todo mundo balan­ce a cabeç a e diga amé m.

Quê barbaridad! Como se atreve a falar comigo desse jeito? — Atirou longe o charuto e agarrou o outro pulso de Vanessa.

Ela sentiu dor, mas nã o se importou. Tinha conseguido sua vin­ganç a: don Rafael perdera a cabeç a. Encarou o homem furioso que parecia capaz de quebrar todos os ossos de seu corpo delicado.

— Muitas vezes, antes, me deu motivos mais do que suficientes para nã o gostar de você, mas agora foi longe demais. Entã o, esse tal de Elsing é algué m da sua espé cie, hein? Gosta de homens que brin­cam com o amor, como se nã o passasse de um jogo?

— Solte-me! Quero ir embora! Está quebrando meu braç o, seu estú pido!

— Que ó timo! É exatamente o que eu quero: fazer você sofrer um pouquinho. — Estava bem perto. Vanessa podia sentir os mú sculos do peito dele. — Qual seria a melhor maneira? Estamos sozinhos. Posso provar que estava certa em tudo o que disse e obrigá -la a ficar de joelhos, fazendo tudo o que eu mandar. Afinal, sou descendente de piratas, homens que tomavam o que queriam, quando queriam. Nã o se pode ignorar a hereditariedade, nã o é? Esses instintos devem estar latentes no meu sangue ruim, como uma fera de tocaia.

Riu baixinho e começ ou a sacudir Vanessa pelos ombros.

— Está a salvo, minha pequena mocinha inglesa. Posso controlar meus maus instintos. Nã o sempre, mas quase o tempo todo. Está tã o a salvo como Bá rbara. Por isso, pode parar de me olhar como se eu fosse violentá -la.

O ó dio tinha dado lugar à ironia de costume. Pegou as mã os dela e examinou as marcas que seus dedos tinham deixado nos pulsos.

— Mulheres sã o belas como o mar. E tê m o mesmo terrí vel poder — murmurou. — Os homens só recorrem à forç a bruta porque nã o tê m outro meio de subjugar essa crueldade sutil. Sabem que elas podem anular sua forç a e destruir sua vontade. Tome cuidado com seu poder, pequena. Ele pode lhe trazer muita felicidade... ou pode destruí -la.

Na repentina calma que sempre se segue à tempestade, Vanessa descobriu que estava quase alegre por se submeter a um homem como aquele. Estava envergonhada das coisas que tinha dito. Seu compor­tamento havia sido mesquinho.

— Desculpe, don Rafael. Nã o tinha o direito de falar daquela maneira.

Largou as mã os dela.

— Você se ressente por eu me comportar como um guardiã o espa­nhol. Mas acontece que sou espanhol, e minhas intenç õ es sã o as melhores.

Quando voltavam para o castelo, o cé u começ ava a se avermelhar. Pararam para ver o sol se pô r atrá s das montanhas.

— Que maravilha! — don Rafael murmurou.

Vanessa olhou para ele. O colorido melancó lico do cé u revelava em seu rosto uma beleza que nunca tinha visto antes.

— Gosta deste lugar, nã o é? Já vi você parada aqui muitas vezes, com o olhar perdido no mar e nas montanhas.

Vanessa nã o fazia idé ia de que ele costumava observá -la.

— Do meu quarto, posso ver toda a costa. O que procura aqui com tanta insistê ncia, Srta. Carrol? Nã o consegue aceitar que seus dias felizes em Ordaz acabaram para sempre?

— É natural alimentar suas lembranç as.

— Tente se libertar delas, pequena. Lembranç as sã o como jó ias: outras mais preciosas sempre tomam o lugar das antigas. Uma delas é o amor, mas procure ter certeza de que é uma emoç ã o autê ntica, e nã o o simples desejo de pertencer a algué m ou a algum lugar.

Queria dizer Jack ou Gary; um ou o outro estava destinado a ser seu amante, seu destino, sua felicidade ou sua destruiç ã o.

— O que é o amor? — ela perguntou, num impulso.

— O amor é um diamante bruto, Vanessa. Se você cometer o me­nor erro, ele pode se partir em mil fragmentos sem o menor valor. O amor é um aperto de mã o que faz a gente sentir um arrepio. É uma porç ã o de coisas, chica... mas, acima de tudo, é uma dá diva. E, quando o damos a algué m, precisamos estar certos de que seu valor será apreciado de verdade.

Seguiram para o castelo. Vanessa sabia que só um homem apaixo­nado poderia falar com aquele calor e com aquele conhecimento. Lú cia Montez saberia apreciar a emoç ã o intensa que aquele homem poderia lhe dar. . . e que esperava receber?

De volta ao quarto, começ ou a se arrumar para o encontro com Gary. Vestiu um vestido de noite curto, branco, em vez do preto que pretendia usar, porque combinava melhor com o conjunto de jade. Ao colocar o bracelete, notou as marcas escuras no pulso. Incrí vel, mas tinha quase esquecido a cena de fú ria de don Rafael. Daquela tarde, guardaria para sempre a lembranç a dele, de pé nos rochedos, o rosto melancó lico, falando de amor.

Deu uma ú ltima olhada no espelho, apagou as luzes e saiu para o corredor. Ouviu mú sica no quarto de Bá rbara e bateu na porta. A garota estava deitada, com um toca-discos ao lado da cama. Nã o deu o menor sinal de ter notado a presenç a de Vanessa.

— Ainda está zangada, Babs? — Teve que gritar para se fazer ouvir. — Nã o foi culpa minha se seu padrinho descobriu o romance de você s. Por favor, quer abaixar essa coisa e conversar comigo?

— Se nã o gosta da mú sica, nã o é obrigada a ficar e ouvir. Falou num tom que deu a Vanessa vontade de esganá -la. Apro­ximou-se da cama e abaixou o som do toca-discos.

— Se espera ser tratada como adulta, é melhor parar de se com­portar feito crianç a.

— E se espera continuar trabalhando aqui, é melhor começ ar a se comportar como uma empregada. Nã o tem nada que meter o nariz na minha vida.

— Bá rbara, nã o gosto de ver você infeliz.. .

— Nã o? — A garota se encolheu na cama, cobrindo o rosto com as mã os.

E entã o, pela primeira vez, Vanessa sentiu que nã o estava olhando para uma adolescente caprichosa, cujo desejo havia sido contrariado, mas para uma mulher ferida. Será que " namoro" era a palavra certa para o que existia entre ela e Ruy Alvadaas?

 

 



  

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