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CAPÍTULO III



 

Aos poucos, Vanessa foi se recuperando do choque emocional da perda do tio. A companhia de Bá rbara ajudou muito a tornar os dias seguintes mais suportá veis. Agradá veis, mesmo. A garota era cheia de energia e vivacidade, mas as coisas que dizia com aquela franqueza rude à s vezes eram chocantes.

Saí am todas as manhã s, para nadar ou cavalgar pela praia. À s ve­zes, don Rafael juntava-se a elas. Nessas ocasiõ es, Vanessa costumava seguir um pouco à frente ou um pouco atrá s, para evitar seu olhar, que cada vez a deixava mais perturbada. O traje de montaria — cal­ç a justa e camisa preta, aberta no peito — valorizava o corpo atlé tico e o fazia parecer bastante jovem.

Passeavam à beira da á gua, admirando as gaivotas que mergulha­vam no mar de um azul quase turquesa. A areia finí ssima brilhava ao sol feito ouro em pó.

Entã o, chegou uma manhã em que toda aquela paz se desfez, co­mo onda quebrando nos corais. Por que, don Rafael perguntou a Bá rbara, tinha saí do na noite anterior, sem pedir permissã o?

Vanessa sentiu o sangue gelar, só de lembrar da cara furiosa dele, quando mandou uma criada chamar a afilhada para o jantar e foi informado de que a garota nã o estava em parte alguma do castelo. Olhara para ela, ameaç ador, como se suspeitasse de que a criada linha alguma coisa a ver com a desobediê ncia de Bá rbara. Depois virou-se, todo gentil, para responder a uma consulta sobre vinhos que Lú cia Montez lhe fazia. Nã o tocou mais no assunto, mas, evi­dentemente, nã o era homem que esquecia com facilidade.

Tinha sido uma noite desagradá vel. Ruy Alvadaas acabou nã o aparecendo, atraí do, segundo parecia, pelo convite mais tentador de passar o fim de semana com uma dama. E dona Manuela, a avó de don Rafael, só saí a do quarto em ocasiõ es muito especiais. Assim que o café foi servido no salã o, Vanessa deu um jeitinho de escapar. Che­gou a pensar que ele ia impedir, mas o senhor de Luenda limitou-se a acompanhá -la com um olhar de desaprovaç ã o.

Só se sentiu a salvo quando chegou no longo corredor do segundo andar. Entã o, ficou imaginando onde Bá rbara teria ido. Apesar de já se tratarem como boas amigas, a garota ainda nã o estava pró xima dela o suficiente para fazer confidencias. Muito tagarela, tinha sempre mil coisas para contar, mas raramente falava de si mesma.

Agora que don Rafael voltava ao assunto, Vanessa pressentia que ia assistir a uma cena desagradá vel. Diminuiu o passo do cavalo, de modo a ficar alguns metros atrá s deles. A escapada de Bá rbara do castelo na noite anterior era um assunto particular, e nã o queria se envolver. O que fatalmente acabaria acontecendo, se participasse da discussã o, porque nã o entendia nem podia aceitar as rí gidas regras de comportamento que as mulheres solteiras espanholas eram obri­gadas a respeitar. Sempre com uma acompanhante ao lado, vigiando; nunca podendo fazer nada, sem antes pedir permissã o ao dono da casa. Era medieval!

Apesar de tudo, nã o pô de deixar de ouvir as palavras rudes que os dois trocaram. Havia desafio na maneira como Bá rbara puxou as ré deas da montaria e se preparou para enfrentar as perguntas do homem que queria controlar sua vida. De repente, o sangue latino dela ferveu; Bá rbara esporeou o cavalo negro e saiu a galope pela praia, deixando o padrinho falando sozinho.

Vanessa viu o rosto de don Rafael ficar lí vido de ó dio. Mas ele se controlou imediatamente e, em vez de seguir a afilhada, aproximou-se dela, dizendo:

— Nã o vale a pena ir atrá s dessa garota maluca. Agora, diga-me, Srta. Carrol: faz alguma idé ia de onde e com quem ela esteve ontem à noite?

— Nenhuma, señ or.

Todas as coisas que estavam atravessadas em sua garganta ameaç a­vam explodir. O olhar arrogante e desconfiado dele fez com que se decidisse a tomar a defesa de Bá rbara. Respirou fundo. Era agora ou nunca!

— Na minha opiniã o, uma garota da idade de Bá rbara precisa de um pouco de liberdade. Posso entender perfeitamente a revolta dela por andar sempre acompanhada de uma governanta e ser tra­tada feito uma crianç a, e... é humilhante!

Depois disso, houve um curto silê ncio entre eles. Notou que ele se controlava para nã o dizer todos os insultos em que devia estar pensando. Chegou a sentir pena. Que golpe duro, para um homem como ele, ser desafiado duas vezes seguidas por duas " simples" mulheres! Esperou que ele falasse, mais excitada do que apreensiva.

— As mulheres tê m o há bito insensato de dizer o que lhes passa pela cabeç a, e você nã o é uma exceç ã o, Srta. Carrol — disse, afinal. — Entã o, acha direito que uma crianç a que está sob a minha res­ponsabilidade saia de casa tarde da noite, obviamente com a inten­ç ã o de se encontrar com um homem?

— Por que " obviamente", señ or? Ela pode ter ido dar um passeio, nadar ao luar ou visitar uma amiga.

— Pode, realmente. Mas deixe-me lembrar-lhe de que conheç o a minha afilhada bem melhor do que você. E aquela pequena demons­traç ã o de poucos minutos atrá s foi provocada nã o pela rebeldia de uma adolescente, mas pela fú ria de uma mulher. Ela praticamente confessou que eu estava certo em suspeitar de que tinha ido se encon­trar com um homem. Pior: com um homem que eu nã o aprovaria.

— Bá rbara é jovem e bonita — Vanessa insistiu. — É perfeita­mente natural que queira ter amigos ou namorados. Nã o tem sentido afastá -la dos rapazes. Alé m de ser inú til. O senhor mesmo está pro­curando problemas com essa absurda vigilâ ncia. Nã o se pode mais controlar a vida de uma garota assim, hoje em dia.

— Pode ser um sistema antiquado, Srta. Carrol, mas garanto que tem dado mais resultado do que o excesso de liberdade com que as coisas sã o feitas no seu paí s, onde as moç as escolhem o marido, sem se importar com a opiniã o dos pais. Talvez nã o concorde, mas os pais ou os responsá veis por uma garota sã o os melhores juizes de seu cará ter e do tipo de homem que serve para ela. Haveria menos casamentos fracassados na Inglaterra, se a opiniã o deles fosse levada um pouco mais em consideraç ã o.

Olhou para Vanessa, muito sé rio, e acrescentou, só para irritá -la:

— Seu bom tio me confidenciou, algum tempo atrá s, que estava preocupado com a sua amizade com o jovem Conroy. Sabia que o señ or Carrol nã o aprovava o rapaz?

Sim, ela sabia e nunca tinha se importado; mesmo porque, nã o havia nada sé rio entre os dois. Mas nã o podia admitir que don Rafael tivesse a audá cia de falar mal de um de seus amigos. E muito menos que se metesse a dar palpite sobre quem servia ou deixava de servir para seu marido.

— Titio nunca interferiu na minha vida particular. Era bastante inteligente para saber que o que faz uma mulher feliz nã o é, neces­sariamente, uma vidinha bem organizada.

Ele apertou os olhos, que pareciam duas brasas.

— Quer dizer que estaria disposta a acompanhar Conroy em suas expediç õ es pela selva? Isso, eu acho, exige uma grande dose de cora­gem. . . e de amor.

— Claro, señ or. Nunca me casaria com ningué m, se nã o estivesse apaixonada.

— Acredito. — Sua voz tinha um inesperado tom gentil, e a per­gunta que fez em seguida foi mais inesperada ainda: — Sente muita falta de seu tio, señ orita?

Estranho! Era mais difí cil para ela sustentar seu olhar carinhoso do que enfrentar sua arrogâ ncia.

— Estar com Bá rbara tem ajudado muito — confessou. — Ela parece precisar da minha companhia mais do que eu da dela. E é importante sentir-se. . . necessá ria.

— Com que garotas sentimentais eu fui me meter! Vamos nos sentar perto daquelas palmeiras. Gostaria de conversar mais um pouco sobre esse assunto.

Ajudou Vanessa a desmontar, pegou as ré deas dos dois cavalos e levou-a até a sombra. Sentaram-se na areia. Soprava uma brisa suave, e o murmú rio das folhas e das ondas era relaxante. Vanessa fechou os olhos, aproveitando aquela paz. Sentiu o aroma doce dos cigarros especiais que don Rafael costumava fumar. Virou-se para ele. Nã o estava preparada para encontrar aquele olhar profundo que parecia procurar alguma coisa nela e ler seus pensamentos mais í ntimos.

— Gosta do que já viu da nossa ilha, Srta. Carrol?

Foi com esforç o que desviou os olhos para o pedaç o de mar crista­lino que formava a lagoa. Aqueles rompantes de gentileza de seu anfitriã o eram mais desconcertantes do que o sarcasmo. Disse a si mesma, irritada, que nã o devia se deixar enganar. Ele era, na verdade, como sempre tinha sido: vagamente perigoso e sempre pronto a zom­bar do que considerava suas criancices.

— Nã o acha Luenda um lugar bastante agradá vel, señ orita?

La islã es bella, señ or. Vou sentir falta de tanta beleza, quando partir.

Tocou no assunto da partida de propó sito, esperando abalar seu bom humor. Assim, ele voltaria a ser o adversá rio feroz, com o qual estava acostumada a lidar. Mas ele nã o se abalou. Ao contrá rio, sor­riu ainda mais senhor de si.

— Ainda vai demorar muito a partir. Por falar nisso, qualquer dia desses preciso levá -la para ver o canavial, de onde extraí mos o aç ú car e aquele excelente rum que costumamos tomar em casa. No ano passado a safra foi excelente, e deve ser ainda melhor este ano. O canavial é uma das partes mais interessantes da ilha. Os camponeses tê m sangue espanhol e fazem uma verdadeira fiesta na é poca da colheita. Todos riem, cantam, bebem. . . e à s vezes usam facas, quando dois rapazes querem a mesma muchacha. A vida é tã o sim­ples para essas pessoas. . . a gente chega a desejar. . .

Parou, arrependido de quase ter aberto o coraç ã o. Deu uma tragada e mudou de assunto:

— Está enganada, se pensa. . . e é claro que pensa. . . que estou reprimindo Bá rbara. Acontece que a populaç ã o da ilha encara a ami­zade entre uma moç a espanhola e um homem solteiro como uma espé ­cie de compromisso. E tenho planos para ela que nã o incluem um novio nativo.

Era uma mudanç a radical para algué m que, poucos minutos antes, quase havia confessado que invejava a vida simples daquela gente. Mas nã o! Impossí vel imaginar o señ or vivendo como um camponê s, cultivando cana-de-aç ú car e lutando por uma daquelas garotas de pele cor de chocolate. Aquele homem jamais se casaria com algué m que nã o pertencesse à sua classe social. Nem admitiria que um dos seus — ainda mais a afilhada! — fizesse nada parecido.

Don Rafael pareceu adivinhar os pensamentos dela, pois disse, com uma ponta de ironia:

— Está comparando nossos rí gidos costumes com os de seu paí s? Pensa que somos injustos com nossas mulheres, porque as protegemos e guiamos? Pois garanto que as espanholas nã o sã o tã o infelizes como imagina. Elas gostam de ser mimadas.

— Mimadas, talvez. Nã o dominadas e intimidadas. Ele franziu a testa.

— Acha que sou um homem dominador? Que sou severo demais com Bá rbara? Na Espanha, ela seria muito mais vigiada do que aqui. Talvez nã o saiba, mas minha afilhada é ó rfã e vai herdar uma grande fortuna, quando fizer vinte e um anos. É por isso que nã o posso per­mitir encontros secretos. Esse romance tem que ser. . . como é mesmo que você s dizem? Cortado pela raiz?

— Tudo o que é proibido se torna mais atraente e desejá vel, señ or.

— Sei muito bem disso, señ orita. — Inclinou-se para ela, e o vento desmanchou seu cabelo negro.

Tudo o que é proibido se torna mais atraente e desejá vel, Vanessa repetiu para si mesma. E teve que fazer um terrí vel esforç o para nã o sair dali correndo. Ele continuou:

— Conheç o o suficiente da psicologia feminina para concordar que é importante para uma mulher se sentir necessá ria. Você precisa dis­so e Bá rbara precisa de uma acompanhante. Por que, entã o, nã o juntar as duas coisas? Como governanta dela, você teria autoridade para proibir certas coisas que eu nã o aprovo. Nã o se trata de vigiá -la, mas de protegê -la. O que acha? Afinal, nã o queria tanto um emprego?

No silê ncio que se seguiu à quela surpreendente proposta, Vanessa tentava pô r em ordem os pensamentos. Ele estava certo. Era sua chance de conseguir alguma seguranç a e independê ncia. Por que, en­tã o, hesitava? Por que nã o dizia logo que ficaria feliz de aceitar o emprego?

Assustou-se, ao sentir a mã o quente de don Rafael em seu ombro. Mas era o toque impaciente de algué m que nã o estava acostumado a esperar.

— Tenho que encontrar algué m para ficar com Bá rbara, o mais rá pido possí vel. E você parecia ansiosa para nã o me dever favores. O que foi que houve com a sua tã o falada independê ncia?

Vanessa teve certeza de que ele estava se controlando para nã o lhe dar uns bons tapas, como faria com uma crianç a pirracenta que recusasse um brinquedo que tinha insistido para conseguir. Mas, na­quele momento, ela se sentia tudo, menos uma crianç a. Respirava com dificuldade e estava toda trê mula — e nã o era de medo. Rezou para que don Rafael se afastasse e a deixasse em paz.

Ele percebeu seu desconforto e interpretou mal.

— Pode ficar certa de que seus sentimentos por mim sã o corres­pondidos, Srta. Carrol. També m nã o gosto de você, mas agora esta­mos falando de negó cios e de minha afilhada. Pensei que gostasse dela. Estava errado?

— Claro que gosto de Bá rbara. Só que nã o consigo me imaginar bancando a policial.

— Você sabe ser irritante! Nã o confie demais na sorte. Está abu­sando, porque acha que eu nã o perderia a paciê ncia com a sobrinha de Lennard Carrol. Mas os fatos já provaram que você nã o é into­cá vel pelo simples fato de ser essa raridade, essa pé rola entre as mu­lheres. . . uma dama inglesa!

— Seu. . . estú pido!

Vanessa nunca pensou que pudesse sentir tanto prazer em esbofetear algué m. Mas foi uma satisfaç ã o passageira, logo substituí da pelo medo da reaç ã o dele. E pelo medo de cair no choro ali mesmo, de puro nervosismo. Nã o podia estragar a cena com lá grimas. Levantou-se. . . e nã o tinha dado nem trê s passos quando parou, horrorizada: a poucos centí metros de seu rosto pá lido, uma cobra estava enroscada num tronco de á rvore.

Ficou paralisada, sem poder sequer gritar. Entã o, um braç o forte agarrou-a pela cintura e quase a levantou do chã o. Quando se recupe­rou do susto, viu a cobra no chã o, a cabeç a esmagada.

— Era... era venenosa? — gaguejou.

— Muito.

Com facilidade, e antes que Vanessa pudesse perceber sua inten­ç ã o, pegou-a nos braç os e colocou-a na sela. O sorrisinho irô nico apareceu novamente em seus lá bios.

— Como viu, nem todos podem se dar ao luxo de serem indepen­dentes. Você precisou da minha ajuda há pouco, como eu preciso da sua ajuda com Bá rbara. Nã o para policiar, como insinuou, mas para ser sua companheira e amiga.

Vanessa sentiu-se confusa. Num minuto, ele se comportava de uma maneira detestá vel; no outro, destruí a as defesas dela, fazendo aquele tipo de confissã o quase humilde. Nã o ia deixar que a dobrasse com tanta facilidade. Pegou as ré deas da mã o dele.

— Sempre tive a impressã o, don Rafael, de que o senhor me olhava com um certo desprezo. Que me achava uma inconseqü ente. Uma boa governanta nã o precisa ter muita dignidade?

— Nã o espero dignidade de algué m tã o. . . jovem.

O jeito como olhou para seus ombros e braç os nus foi atrevido. Duvidava que ele fizesse uma coisa daquelas com uma espanhola. Mas ela era inglesa. Tã o inglesa que nem todo o sol do Caribe conseguira bronzear sua pele branca. Aquele emprego nã o seria uma manobra sutil para fazer dela mais uma de suas vigiadas? Ou esperava que ela amadurecesse mais depressa, se lhe desse responsabilidades?

Com um gesto que incluí a a praia, o mar e as montanhas distantes, ele perguntou:

— A tragé dia que aconteceu em Ordaz faz você se sentir culpada por estar aqui, aproveitando toda esta beleza? É por isso que nã o quer ficar? Posso entender, mas é preciso dar tempo ao tempo, chica.

A beleza e a paz de Luenda faziam suas ú ltimas lembranç as de Ordaz parecerem ainda mais terrí veis, mas havia outra razã o — na qual nã o queria nem pensar — para a culpa e a tristeza que a deixa­vam tã o hesitante. Era como se ela corresse algum tipo de perigo e precisasse fugir, antes que fosse tarde demais.

— Nã o estou pedindo que tome uma decisã o agora mesmo. — Apertou a mã o dela, encorajador. — Pense bem no assunto. Se depois disso ainda fizer restriç õ es, prometo nã o insistir. Mas nã o se esqueç a de que Bá rbara vai ficar muito decepcionada por perder uma amiga da idade dela e ganhar mais uma velha governanta chata. A garota precisa de algué m que saiba que ser jovem nã o é só um mar de rosas. Tem de entender que nã o pode ter tudo o que quer.

— Ela desafia a sua autoridade para se afirmar. Quanto mais vio­lentamente proibir uma coisa, pior será.

— Bá rbara sempre me desafiou, mas, acredite ou nã o, ela gosta de mim e sabe que só quero a sua felicidade. Garanto que nã o vou precisar usar... violê ncia.

— Nã o sei se essa palavra significa para o senhor o mesmo que significa para mim.

— À s vezes é preciso ser cruel, Srta. Carrol. — Olhou o reló gio de pulso. — Ainda tenho uma hora, antes de começ ar a trabalhar com Carlitos, meu secretá rio. Podemos ir a uma venta aqui perto e tomar o café da manhã lá. É uma experiê ncia que você nã o pode perder. Das mais agradá veis, prometo.

— Café da manhã... numa venta? O que os outros vã o pensar, quando nã o voltarmos ao castelo?

— O senhor do castelo nã o tem que dar satisfaç õ es a ningué m. — Montou e sorriu para ela. — Já tomamos café da manhã ao ar livre uma vez, lembra?

Sim, ela lembrava. Naquela ocasiã o, ele havia falado da beleza e da crueldade do amor. Mas Vanessa nã o acreditava que ele já tivesse vivido aquelas emoç õ es. Para gente como don Rafael, as tra­diç õ es vinham em primeiro lugar. E suas tradiç õ es nã o permitiam grandes paixõ es: os casamentos eram arranjados, segundo as conve­niê ncias das famí lias. . . e nada mais.

Muito antes de uma moç a ter idade para saber o que significava amar, os pais escolhiam o noivo que achavam mais conveniente. Vanessa já tinha ouvido dizer que alguns desses casamentos davam certo; mas nã o com garotas como Bá rbara, que se rebelavam contra o sistema. Nã o era de admirar que a moç a se envolvesse com tanta ansiedade com o primeiro homem que achava atraente. Amores passageiros e proibidos talvez fossem o ú nico tipo de amor que co­nheceria na vida.

Era um sistema monstruoso! E aquele homem ainda queria que ela aceitasse um emprego cuja ú nica finalidade era sufocar ainda mais os instintos naturais da afilhada! Com certeza, já tinha planejado, friamente, todo o futuro de Bá rbara. E até escolhido seu marido: algué m rico e de sangue azul. . . nã o muito diferente dele mesmo.

Aquele pensamento deixou-a tã o irritada que, sem sentir, puxou demais as ré deas. O cavalo jogou a cabeç a para trá s e resfolegou. Don Rafael, que ia um pouco à frente, virou-se e disse, por sobre o ombro:

— Muito cuidado, pequena. Este trecho da praia está cheio de pedras e é perigoso. Nã o force o animal.

— Vou tomar cuidado, señ or.

Muito cuidado, disse para si mesma. O que significava que nã o ia tomar nenhuma decisã o apressada sobre o emprego. Talvez, Bá rbara precisasse mais dela do que imaginava.

Uma velha trilha levava da praia até a venta, cujas paredes brancas cintilavam ao sol. Atravé s de uma arcada em estilo mourisco, entra­ram num pá tio calç ado com pedras redondas, onde galinhas e patos ciscavam. Na varanda, roupas estavam penduradas para secar.

Uma velha toda de preto, rosto enrugado como um pergaminho, ninava um bebê num cesto de vime, usando uma folha de palmeira como leque. Quando os dois cavaleiros chegaram ao pá tio, tirou o cachimbo da boca e perguntou, os olhos cegos voltados na direç ã o deles:

Quié n está ahi?

Don Rafael guiou Vanessa até a velha.

Buenos dias, Maria.

Da rá pida conversa que se seguiu, Vanessa conseguiu entender o suficiente para saber que Maria estava bem e que o netinho era a luz de seus olhos.

Me alegro, Maria. — Ele fez um carinho no garotinho, que brin­cava com um bichinho de borracha. — É um lindo muchacho. Parece com o seu filho, mas o sorriso é de Paquita.

A velha concordou, satisfeita:

— Paquita é uma boa esposa, grá cias a Dió s. Meu Ramó n nunca foi tã o feliz. E foi você, señ or, quem deu tudo isso aos dois. Nunca encontrariam a felicidade, se nã o pagasse a operaç ã o de Paquita. Agora, meu Ramó n tem um filho. Batizamos o menino de Leó n Rafael, em sua homenagem, señ or.

— Ah, se o bebê tem o meu nome, preciso dar um presente a ele. — Tirou vá rias notas do bolso. — É melhor nã o contar a Ramó n, ele já acha que está em dí vida comigo. Compre algumas coisinhas que o bebê precise e vamos manter isso como um pequeno segredo só entre nó s, certo?

— Tem o mesmo coraç ã o generoso de sua mã e, señ or. Deus o abenç oe. — Guardou o dinheiro e disse, de repente: — Acho que está com um problema, don Rafael. Sinto isso no ar.

Ele deu uma risada.

— Que é isso, Maria, quer me enganar que é uma cigana?

— Pode rir, mi amigo, mas estes meus olhos nã o sã o tã o cegos como pensa. — Entã o, com uma desconcertante rapidez, voltou-se

para Vanessa, que nem podia imaginar que a velha tinha notado a sua presenç a. — Trouxe uma bela turista para nos ver, don Rafael? Ele olhou para Vanessa, que corou. Estranho!, nunca tinha pen­sado que a achasse bonita. Ela mesma nã o se achava. Tinha um rosto muito anguloso, nã o gostava do feitio do queixo, nem dos lá bios, carnudos demais para seu gosto.

— Talvez você seja mesmo uma bruxa, Maria — disse, puxando Vanessa pela mã o. — Trouxe uma jovem inglesa, e o problema que você sentiu é ela. Há algumas noites, teve uma experiê ncia muito triste, e agora está passando uns tempos no castelo.

— Sinto muito, señ orita. É bem-vinda à Venta Riera.

Grá cias, señ ora. — Deu a mã o para a velha, que, em vez de apertá -la, passou os dedos nodosos pela palma, sentindo as linhas. Depois de alguns minutos de tensã o, Maria deu um risinho abafado.

— Nem um santo pode convencer essa aí a fazer alguma coisa con­tra a vontade.

Vanessa sentiu um frio no estô mago, mas nã o teve coragem de se afastar. A velha continuou a falar, agora em espanhol, e ela só enten­dia uma palavra aqui, outra ali. Sem saber o que fazer, olhou para don Rafael, pedindo ajuda.

— Quer que traduza, señ orita?

— Nã o. . .

— Mas acho que devo. É muito interessante. — Parecia muito divertido. — Maria diz que você vai viver um grande amor, mas nã o será um romance fá cil. Isso porque é inglesa, e, portanto, fria... na superfí cie. Sua linha da vida é longa e está marcada por trê s acontecimentos muito importantes e felizes. Um deles, o maior, está se aproximando... talvez já esteja acontecendo. . .

Quando Maria finalmente largou a mã o dela, Vanessa ficou para­da, com as pernas trê mulas. Tudo naquele lugar ajudava a criar um clima de fantasia; mesmo nã o querendo acreditar nas previsõ es da cega, era difí cil nã o ficar impressionada. Sabia que tudo aquilo podia acontecer mesmo, se ficasse na ilha. Era excitante e perigoso.

Afastou esse pensamento e ajoelhou-se ao lado do cesto de vime.

— Está gostosa a chupeta, hein, coisa fofa? Você també m é um gostosinho, sabia?

Don Rafael aproximou-se.

— Nã o está entendendo uma palavra, nã o é, chiquito? Mas as mulheres sã o assim mesmo: a gente vive cem anos e nunca entende o que elas querem. — Depois, com aquela forç a que Vanessa já conhecia muito bem, pegou-a pela cintura e fez com que se levantas­se. — Nã o fique de joelhos na grama, vai sujar a roupa.

Sentiu-se humilhada. Ele sabia muito bem que a calç a de montaria que estava usando era de Bá rbara, mas nã o precisava lembrá -la disso daquele jeito. Tã o gentil com as crianç as, tã o rude com as mulheres! Será que nã o gostava de mulheres?

Señ or Domerique, bem-vindo!

Uma moç a gordinha vinha entrando no pá tio, o rosto redondo ilu­minado por um sorriso. Enormes argolas de ouro nas orelhas e com­pridas trancas negras lhe davam a aparê ncia de uma cigana.

Buenos dias, Paquita. — E, num inglê s bem batido, explicou: — Eu e a Srta. Carrol está vamos admirando o seu filho. É um bebê lindo. Deve estar muito orgulhosa.

A moç a deu uma risada.

— Ele está crescendo tanto, que daqui a pouco vai ajudar Ramó n nas plantaç õ es.

— Tudo bem por lá? Meu capataz diz que esse ano vamos ter uma colheita recorde.

— Ramó n també m acha, señ or. Foi um belo verã o para nó s, nã o foi, madrecita? — Pousou carinhosamente a mã o no ombro da sogra, que fumava seu cachimbo, imersa nas lembranç as do passado.

Ay, Paquita. — Um sorriso surgiu no rosto enrugado. — As frutas do pomar estã o amadurecendo doces. E, quando as frutas sã o doces, há amor no ar.

Só aquela gente diria coisas assim. Vanessa ficou emocionada, com vontade de chorar, como quando ouvia uma bela mú sica.

A seu lado, don Rafael conversava em espanhol com Paquita. A moç a fez que sim com a cabeç a e entrou na casa. Ele pegou a mã o da velha.

— Agora, eu e a señ orita Carrol vamos tomar o café da manhã no jardim.

Ah, bueno. Hasta luego, señ or.

Hasta luego, señ ora.

Vanessa també m se despediu em espanhol, e os dois seguiram Paquita, que estava de volta. Contornaram a casa. No terraç o havia vá rias mesas, mas nã o ficariam ali, don Rafael explicou baixinho, porque Paquita nã o achava apropriado que o señ or e sua convidada comessem ao lado de camponeses e carroceiros.

Passaram por um chafariz de pedra, atravessaram um gramado e a espanhola apontou para um grupo de mesas de ferro vazias, à som­bra de imensas á rvores.

— Ali, señ or. — Cobriu uma das mesas com uma toalha de algodã o quadriculado e entregou-lhes o cardá pio.

Era um lugar encantador e, pela primeira vez, Vanessa sentiu-se à vontade ao lado dele.

— O menu é em espanhol, Srta. Carrol. Quer que escolha para você?

— Por favor, señ or.

Enquanto ele fazia o pedido, Paquita nã o tirava os olhos dela. A moç a estava morta de curiosidade, imaginando mil coisas româ n­ticas. Graç as a Deus ela nã o tinha levado os dois para nenhum recan­to isolado demais. Para aquela gente, quando um homem e uma mulher solteiros saí am juntos, era sinal de compromisso. Ou, pelo menos, de romance. Ele mesmo havia dito isso. Mas, com certeza, o señ or tinha liberdade para fazer coisas proibidas aos outros homens.. . e devia aproveitar esse privilé gio.

Paquita tomou nota do pedido e prometeu trazer o vinho ime­diatamente.

— Vinho. . . no café da manhã?!

— Claro. Pedi casquinhas de siri, especialidade da casa, que vã o muito bem com o vinho verde. — Deu um sorriso malicioso. — Você acusa os espanhó is de seguirem regras rí gidas, mas ficou toda chocada só porque pedi vinho em vez de chá.

— O senhor sempre tomava chá, lá em Ordaz. Por que nunca disse que preferia algo mais forte?

— Talvez porque nã o queria que pensassem que eu era um es­trangeiro selvagem. Chá é uma tradiç ã o para os ingleses, como o vinho é para nó s. Respeito as tradiç õ es. Mas agora estamos aqui. Prove o vinho e depois me diga se nã o é uma delí cia, com siri.

Era mesmo. Nã o só com o siri, mas també m com o pã o preto e a manteiga fresquinha, feitos em casa.

Vanessa guardou uma boa lembranç a daquela manhã. Conversa­ram como bons amigos, e don Rafael contou sobre a antiga fazenda que tinha transformado num hospital para crianç as. Nunca tinha visto tanto entusiasmo em seus olhos negros. Talvez fosse apenas efeito do vinho. Imaginava se, antes de o dia terminar, tudo nã o voltaria a ser como antes.

Ele tinha viajado muito e descreveu em detalhes os lugares mais interessantes que conhecera. Verona e seus surpreendentes afrescos, a arquitetura fascinante de Portugal, a Acró pole ao luar. A Gré cia era seu paí s preferido, mas Luenda era o ú nico lugar do mundo onde gostaria de viver... e morrer. Amava aquele povo simples e caloroso, ainda imune ao descontentamento e à ambiç ã o que vira em toda parte. Inclusive em Ordaz, pensou Vanessa.

Mas Luenda, a ilha dele, parecia um paraí so. Os pescadores jogavam as redes no mar cantando, os camponeses davam fiestas para comemorar as colheitas e todos recebiam com cordialidade os estra­nhos. Era evidente que havia um forte laç o de respeito e amizade entre don Rafael e seus empregados. Ele era um lí der, a pessoa que procuravam quando precisavam de ajuda e conselhos. Em troca, ofe­reciam ao señ or uma lealdade sem restriç õ es, mas també m sem servi­lismo.

A autoridade nata de don Rafael, alé m do tino para negó cios e da coragem, fazia dele uma espé cie de í dolo aos olhos dos nativos. Um amigo, alé m de um pai, ao qual podiam contar seus problemas pes­soais. Era uma grande responsabilidade, que ele assumira jovem ain­da, aos dezenove anos, quando o pai morreu.

Ele se recostou na cadeira, os olhos apertados por causa do sol que batia em seu rosto e fazia brilhar um medalhã o de ouro meio escondido pelos cabelos negros do peito.

Afinal, é apenas um homem, Vanessa pensou, apesar de suas pro­priedades e de seu poder. Sentia dor, preocupaç ã o e cansaç o, como qualquer outro. E quando via bebê s bonitos como Leó n Rafael, devia pensar em casamento e filhos. Que tipo de mulher escolheria como esposa? Algué m tã o sofisticada como Lú cia Montez? Ou uma moç a simples e devotada, cujo ú nico objetivo na vida fosse lhe dar muitas crianç as morenas, pequenos senhores Domerique?

Será que ele ia acabar caindo na rede da viú va? Ela era, sem dú vida, a esposa perfeita para um homem socialmente tã o importante. Com sua beleza e elegâ ncia exó ticas, parecia ter nascido para viver na opulê ncia do castelo. Nã o haveria tanta intimidade na maneira como olhava e sorria para don Rafael, se nã o tivesse certeza de que ele nã o era indiferente a seus encantos. Ou se nã o se sentisse um pouco a señ or a do Castelo de Ouro.

Já teriam falado em casamento? Nã o seria por isso que estava tã o ansioso para entregar Bá rbara a uma pessoa de confianç a? Toda aquela pressa podia significar que planejava uma viagem. . . de lua-de-mel.

— Em que está pensando, Srta. Carrol? — ele perguntou, de re­pente. — Nas previsõ es da velha Maria?

Sacudiu a cabeç a. Se imaginasse que era no futuro dele que pen­sava!

— Nã o acredita em ciganas?

— Por quê? O señ or acredita?

— Pretendo fazer meu pró prio destino, sem me importar com o que os astros ou as feiticeiras dizem.

Levantou-se sorrindo e estendeu a mã o para ajudar Vanessa. Durante um momento perturbador, ficaram novamente bem perto um do outro. Entã o, para sua pró pria surpresa, Vanessa se ouvir dizer:

— Prometo pensar com cuidado na oferta de trabalho que me fez, señ or.

Grá cias. Pense o tempo que quiser, señ orita.

Lado a lado, atravessaram o gramado, passaram pelo chafariz e chegaram ao pá tio. Mas don Rafael parecia agora muito distante. Preocupado talvez com o trabalho que o esperava. També m era pos­sí vel que pensasse em Bá rbara, a adolescente rebelde que resolvera lhe criar problemas, logo agora que precisava tomar uma importante decisã o a respeito de sua vida pessoal. Uma decisã o ligada a Lú cia Montez.

As tardes no castelo eram sonolentas e calmas. Vanessa nunca fazia a siesta e, quando Bá rbara subia para o quarto, aproveitava para explorar o casarã o e descobrir seus tesouros.

Naquela tarde, foi atraí da por uma velha escada em espiral, que levava a uma pesada porta de ferro. A porta nã o estava trancada, como temia. Quase perdeu o fô lego, ao se ver no alto de uma das torres. Lá embaixo, o mar parecia uma safira e dava para avistar vá rias ilhotas de coral.

Foi trazida de volta à realidade pelo som de vozes, que vinham do outro lado da sacada. Nã o dava para ver nem para entender o que diziam, mas percebeu que um homem e uma mulher conversavam baixinho. Sentiu-se uma intrusa. Será que, sem querer, havia desco­berto o ninho secreto de um casal de amantes? Seu sangue gelou ao pensar na possibilidade de aqueles dois serem Lú cia Montez e don Rafael.

Estava a meio caminho da porta que levava à escada em espiral quando a mulher disse, bem atrá s dela:

Mierda! É só você, Vanessa? Me deu um susto!

Virou-se. Bá rbara del Quiros olhava para ela, o rosto moreno tã o branco como o vestido de seda, a mã o dramaticamente apoiada sobre o coraç ã o.

— Pode imaginar quem nó s pensamos que fosse. — Riu, aliviada, e chamou, por cima do ombro: — Pode vir, guapo. É Vanessa, e ela també m nã o gosta do padrinho. Nã o vai contar nada.

Um homem juntou-se a elas. Elegante e sorridente como sempre, fez uma exagerada reverê ncia a Vanessa. Ruy Alvadaas! Ela estava chocada: nunca lhe passaria pela cabeç a. . .

— Por que essa cara tã o sé ria? Eu e Barbarita está vamos só admi­rando a paisagem.

Vanessa ficou surpresa com a raiva que aquelas palavras desperta­ram nela. Alvadaas era bem mais velho do que a garota e tinha o cinismo de um homem acostumado a colecionar mulheres. Admiran­do a paisagem! Pensava que ela era alguma idiota? O rosto dele esta­va manchado de batom e Vanessa o avisou disso, com voz fria. Sem se abalar, o rapaz pegou um lenç o no bolso e limpou a prova com­prometedora.

Agora, dava razã o a don Rafael: Bá rbara precisava ser protegida de tipos como aquele. Sob a aparê ncia charmosa, Ruy nã o passava de um dom-juan barato, que se aproveitava do fato de sua mã e e a mã e de don Rafael serem irmã s para freqü entar o castelo e abusar da hospitalidade do primo. Se o padrinho desconfiasse de que era com aquele sujeito que Bá rbara vinha se encontrando à s escondidas. . . bem, ia ser o diabo!

— Pensei que estava fazendo a siesta em seu quarto — disse, severa.

A garota corou violentamente. Será que a coisa já tinha passado de um simples namoro? Olhando para Bá rbara, Vanessa se lembrou de uma florzinha de pé talas macias e vermelhas, que crescia à s mar­gens de um rio vizinho ao lugar onde morava, na Inglaterra. Uma flor tã o delicada que se despetalava ao ser tocada, mesmo de leve. Ruy Alvadaas era, sem dú vida, uma ameaç a para Bá rbara, que nã o co­nhecia nada da vida nem do mundo, alé m do castelo e da ilha. Podia feri-la, e muito.

Vanessa entendia agora por que don Rafael havia ficado tã o furio­so quando a afilhada se recusara a dizer onde tinha ido na noite anterior. Mas tomar conta de uma mocinha apaixonada nã o era um trabalho fá cil. Tinha seus pró prios planos e nã o queria se envolver mais no assunto. Naquela noite mesmo pretendia escrever a Jack Conroy e...

Entã o, surpreendeu o olhar í ntimo que os dois trocaram e soube que nã o escreveria carta nenhuma para Jack. Naquela noite, pelo menos, tinha coisa mais urgente e importante a fazer: precisava ter uma sé ria conversa com don Rafael.

 

 



  

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