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CAPÍTULO V



 

O sol da tarde passava atravé s das venezianas, enquanto o grande ventilador no teto girava, monó tono, fazendo as sombras danç arem nas paredes brancas. Alé m do barulho das pá s, só se ouvia o canto dos passarinhos, mas mesmo assim Vanessa pressentiu que algué m entrara na sala e a observava. Levantou os olhos do livro e encon­trou o rostinho preocupado de Bá rbara.

— Estou olhando há um tempã o e você nã o saiu da mesma pá gina — disse a garota. — Por isso, acho que nã o faz mal interromper a sua. . . leitura, nã o é?

— Claro que nã o. — Fechou o livro e colocou-o de lado. — Foi você quem nã o quis falar comigo o dia inteiro. Se resolveu parar de fazer pirraç a. . .

— Você falou ontem à noite com o padrinho e contou sobre Ruy e eu...

— Já disse que nã o contei nada. — Vanessa cruzou as pernas e se recostou no sofá de seda coral. — Acha que, se ele soubesse de algu­ma coisa, teria saí do para trabalhar, tã o calmo, esta manhã?

— Nã o o conhece como eu o conheç o — a garota insistiu. — Ele pode estar esperando o melhor momento para atacar, como costu­ma fazer. Viu como me pegou de surpresa, ontem de manhã, na praia.

— També m vi como você reagiu. Teve sorte por ele nã o ir atrá s de você e lhe dar uma liç ã o.

— Ele tem nervos de aç o. Sabe se controlar e esperar. — Deu um risinho nervoso.

Vanessa, que esperava poder contar-lhe a novidade, percebeu que ainda nã o era a melhor hora. Bá rbara tinha enfiado na cabeç a que ela a traí ra e ia ficar ainda mais desconfiada se soubesse que era sua nova duena. Jovem, selvagem e apaixonada, a garota nã o con­fiava em ningué m — a nã o ser, é claro, em seu querido Ruy.

— Acha que sou uma desmiolada, só porque estou louca por ele, nã o é? Por isso, fica me olhando desse jeito, feito... feito uma velha professora inglesa.

Vanessa nã o pô de deixar de rir.

— Você nã o se encontraria à s escondidas com Ruy, se achasse que seu padrinho ia aprovar essa... amizade. Nem estaria tã o furiosa, só por achar que contei a ele seus encontros. Coisa que, repito, nã o fiz.

— Por que nã o gosta de Ruy? O que sabe sobre ele. . . ou sobre qualquer outro homem? Disse que nunca teve um novio, e acho que tem é inveja do que Rú y sente por mim.

— Se está insinuando que eu gostaria de ficar fazendo amor pelos cantos escuros da casa, entã o ficou maluca mesmo.

— Talvez você tenha medo de fazer amor, seja lá onde for. — Bá rbara acendeu um cigarro e deu uma baforada, fazendo uma pose que devia achar sofisticada, com a cabeç a jogada para trá s e os lá bios entreabertos. — Nã o é verdade que os ingleses sã o muito reservados? Fico imaginando como é que você s fazem para povoar seu belo e frio paí s.

— Garanto que fazemos igualzinho a todo mundo — respondeu, muito segura, mas sentindo uma pontada de desapontamento no peito e uma sensaç ã o de ter falhado. Até entã o, nã o percebera a diferenç a fundamental que existia entre ela e aquelas pessoas com as quais pla­nejava conviver durante algum tempo. Imaginou se nã o seria melhor voltar à Inglaterra imediatamente. Os olhos se encheram de lá grimas. A verdade era — e isso machucava — que parecia nã o pertencer mais a lugar nenhum, nem à quela ilha nem ao seu paí s.

— Vanessa. . . — De repente, a desconfianç a de Bá rbara desa­pareceu. Ajoelhou-se ao lado dela e pousou a mã o em sua perna. — Fiz você ficar triste e nã o queria isso, de jeito nenhum. Sei que nã o merece as coisas horrí veis que disse. Acho que, no fundo, tenho o mesmo temperamento impetuoso do meu querido e diabó lico padrino Pensa que sou crianç a demais para saber o que é o amor. Mas eu sei

Vanessa afastou uma mecha de cabelo negro que caí a nos olhos d; i garota e prendeu-a atrá s da orelha delicada, enfeitada com um brinquinho de ouro.

— É muito fá cil a gente se deixar enganar pelo coraç ã o, Babs, e o señ or Alvadaas é um homem charmoso e bonitã o. . .

— Tem uns olhos maravilhosos, nã o acha? Parecem refletir as estrelas — disse, com aquele seu í mpeto latino. — Sei que está pensando nas muitas novias que teve antes de mim e que nã o tem um cará ter tã o forte como o padrinho. Mas amar é aceitar os defeitos do outro, cierto? Se sou capaz de entender isso, como pode continuar achando que ainda sou muito crianç a?

O momento era delicado, mas Vanessa resolveu ser totalmente ho­nesta com a garota.

— Nã o posso deixar de imaginar, Bá rbara, se você teria encora­jado Ruy Alvadaas, se ele nã o fosse bonitã o e nã o tivesse. . . estre­las nos olhos. Ele é muito atraente, mas, com certeza, você quer mais do que isso de um homem.

— Sei o que nã o quero. — Bá rbara apertou os lá bios. — E nã o quero ser obrigada a casar com algué m que mal conheç o. Você está a salvo dessa tradiç ã o medieval, Vanessa, mas don Rafael tem com­pleto controle sobre a minha vida e fará o que ele acha melhor para mim. — Fez uma careta. — Melhor para mim! O melhor seria que me deixasse casar com Ruy. . . Oh, sei que está pensando que ele só se interessa pelo dinheiro que vou herdar. Claro que a heranç a é importante, mas nã o é tudo. Fizemos até planos de comprar uma fazenda e criar touros. Uma granaderia, como chamamos.

— Isso tudo soa muito româ ntico, mas tenho certeza de que don Rafael nunca a obrigaria a se casar contra a vontade. Ele gosta demais de você, chica.

Chica, você disse? Entã o, acha mesmo que nã o passo de uma crianç a caprichosa? — Esmagou o cigarro no cinzeiro. — Pois fique sabendo que reajo como mulher, quando Ruy me beija. E nã o é amor, quando todos os nossos sentidos respondem ao toque de um homem e o corpo parece que pega fogo?

— Um minuto atrá s, você disse que eu nã o podia saber dessas coisas, por ser uma inglesa fria. — Riu. — A verdade é que você tem sangue quente e deseja ser amada. É o que chamamos de estar apaixonada pelo amor.

— E você també m já sentiu isso?

— Eu. . . acho que sim. — Vanessa recordou os poucos beijos que roç ou ao luar, em Ordaz, e a excitaç ã o que sentia nos braç os de Jack Conroy. Sentia que poderia conquistar o mundo inteiro, se qui­sesse. . . mas com o homem certo! E achava que poderia reconhecê -lo no momento em que fosse beijada.

Bá rbara olhava fixo para ela.

— E como era o nome do homem que fez você sentir isso? Vanessa levantou-se, com um sorriso, e foi até a janela. Já era tempo de contar à garota uma novidade muito mais excitante do que seus pobres romances. Disse, de um só fô lego:

Don Rafael me pediu para ser sua dueñ a.

— O que você disse? — Bá rbara aproximou-se e pegou a mã o de Vanessa. — É verdade isso?

Vanessa fez que sim.

— Gosta da idé ia? Bá rbara deu uma risada.

— Entã o, conseguiu que ele lhe desse um emprego, hein? Está bem, aceito você como carcereira.

—- Isso é coisa que se diga? Prefiro me considerar sua companheira, algué m em quem você pode confiar e com quem pode ir a qualquer lugar.

— Menos nos cantos escuros da casa, para encontrar o charmoso Ruy, nã o é? — Estudou Vanessa por um longo momento e disse, com seu jeito ingê nuo: — Com esses olhos, esse cabelo e essas cur­vas, nã o acho que você seja a pessoa mais indicada para manter os homens afastados. É atraente demais. Nã o é possí vel que o padri­nho nã o perceba isso.

— Duvido que ele esteja sequer interessado — Vanessa respon­deu, furiosa por corar com tanta facilidade, como uma escolar.

— Ele é muy macho. . . mas você nã o gosta dele, hein? Acho muito suspeito desgostar de um homem tanto assim. Dizem que ó dio e amor andam juntos.

Naquele momento, mais do que nunca, Vanessa detestou don Ra­fael. E també m nã o estava gostando nem um pouco daquela conversa.

— Vamos subir, como duas boas meninas, e arranjar uma diversã o bem inofensiva, sim? Que tal os fantoches? Acho que estou come­ç ando a aprender a manejar aqueles cordõ es todos.

Os fantoches de que Vanessa falava tinham pertencido a um tio de don Rafael. Ele construí ra um palco com vá rios cená rios, e ela e Bá rbara costumavam se divertir com os bonecos de madeira, ves­tidos de veludo, brocado e rendas. Carlitos, o secretá rio do señ or, ensinara Bá rbara a manejá -los e Vanessa estava aprendendo rapida­mente. Planejavam até dar um espetá culo de verdade, qualquer noite.

— Aos fantoches, entã o — a garota concordou, com os olhos bri­lhando, maliciosos.

A semana seguinte foi tranqü ila, porque Lú cia Montez foi convidada a passar uma temporada com amigos, numa ilha vizinha, e don Ra­fael acompanhou-a. A negó cios, ele disse. Mas, quando os dois parti­ram de carro, Bá rbara traduziu em palavras o que Vanessa estava pensando: ele ia combinar um bocado de prazer com os tais com­promissos de trabalho.

Na terç a-feira seguinte à partida deles, quando as duas moç as vol­taram para casa, depois de passarem a manhã na praia, perceberam que os criados estavam agitados demais. Vanessa chegou a temer que o que acontecera em Ordaz fosse se repetir, na ausê ncia do señ or. Entrou no pá tio com o coraç ã o pesado e nunca imaginou que um dia ficaria tã o satisfeita em ver don Rafael. Felizmente, o motivo de todo aquele movimento era a volta do dono da casa.

Ele ergueu as sobrancelhas, de um modo que ela já conhecia tã o bem, e seus olhos iam de uma moç a para a outra: tã o bonitas, tã o jovens e tã o diferentes.

— Já em casa, padrinho? — perguntou Bá rbara. Depois acrescen­tou, atrevida: — Fez bons negó cios?

— Ainda é cedo para dizer. — Piscou para ela. — A gente planta uma semente, mas só o tempo pode revelar se é uma flor ou uma erva daninha. E como está indo com sua nova dueñ a, querida?

— Nó s nos damos bem, nã o é, Vanessa? — Entã o, seguindo um de seus impulsos, correu para o padrinho, passou os braç os em volta de seu pescoç o e beijou-o no rosto. — Todos sentimos sua falta, padrino, apesar de estar sempre vigiando e implicando com a gente.

— Todos sentiram minha falta? — Olhava para Vanessa, com iro­nia. — Duvido.

— Lú cia voltou com você?

— Nã o. Os amigos conseguiram convencê -la a ficar mais alguns dias. — Passou o braç o pela cintura da afilhada e continuou, como se o assunto tivesse alguma relaç ã o com a ausê ncia da viú va: — Acho, srta. Carrol, que está na hora de darmos um jeito no seu guarda-roupa. Estou pensando em levá -la para fazer compras na cidade.

Bá rbara ficou encantada. Mas Vanessa nã o sentiu nem de longe o mesmo entusiasmo: nã o havia recebido ainda uma ú nica peseta do salá rio e nã o tinha coragem de mencionar o fato.

— Acho que posso fazer minhas compras mais tarde, don Rafael. Sinceramente, nã o precisa...

Nã o continuou, pois ele interrompeu, autoritá rio:

— Quer fazer o favor de nã o discutir comigo, Srta. Carrol. Lú cia Montez e outras mulheres elegantes da ilha se vestem numa loja que conheç o. Vou levá -la até lá para escolher um guarda-roupa completo e apresentá vel.

— Apresentá vel para uma dueñ a?

As palavras escaparam contra a sua vontade. Como resposta, rece­beu um olhar gelado. Depois, ele disse:

— Sabe muito bem que nunca a considerei uma empregada nesta casa. Durante o tempo que freqü entei Ordaz, notei que usava vestidos muito elegantes. Nã o sou tã o insensí vel, Srta. Carrol, a ponto de nã o compreender o que representa para uma moç a da sua idade perder tudo, de repente. Claro que roupas nã o podem compensar a perda de um homem que era um pai para você, mas sempre é uma boa maneira de ajudá -la a começ ar vida nova. E isso vai acontecer a partir de hoje. Nã o quero mais ouvir nenhum argumento em contrá rio, estamos entendidos? — Seu olhar se suavizou. — Como pode haver tanta independê ncia numa muchacha tã o pequena? Dió s mio!

Abraç ada a ele, Bá rbara tinha acompanhado a discussã o com o maior interesse.

La paloma y el leopardo — murmurou. — Poderia ficar rica, vendendo entradas para essa briga.

Vanessa nã o se sentia tã o pací fica como uma pomba, mas certa­mente concordava que havia alguma coisa de leopardo em don Rafael, quando ele jogou a cabeç a para trá s e riu da observaç ã o ferina da afilhada. Seu corpo esguio e musculoso sugeria uma inesgotá vel vita­lidade. E havia algo de ameaç ador em sua maneira de andar. Podia imaginá -lo saltando sobre a ví tima e estraç alhando-a.

E naquela manhã, em particular, o leopardo escolhera Vanessa Carrol como ví tima de seu perigoso charme. Indefesa, viu um sorrisinho vitorioso aparecer em seus lá bios, enquanto olhava para o reló ­gio de pulso.

— Você s tê m dez minutos para mudar de roupa. Já para o quarto, as duas!

Como se fô ssemos crianç as, pensou Vanessa, e desejou ter cora­gem bastante para desobedecer. Mas Bá rbara pegou-a pela mã o e a fez correr para o castelo. No quarto, enquanto vestia um dos vesti­dos esportes que ficavam tã o bem em Bá rbara, mas nã o combinavam nada com ela, sentiu uma sú bita falta de ar. A corrida nã o era o ú nico motivo daquele mal-estar, nem a feroz irritaç ã o que vira nos olhos de don Rafael, quando fez o comentá rio desastrado sobre com­prar roupas apropriadas para uma governanta. Nã o, o que sentia pare­cia mais excitamento. E por que nã o? Era mulher, gostava de belas roupas e tinha recebido carta branca para escolher o que quisesse provavelmente na loja mais exclusiva da ilha.

Passou a escova rapidamente no cabelo e entã o, olhando-se no espelho, viu que seus lá bios tremiam. Nã o precisava estragar o prazer do homem, disse a si mesma. Nem ficar com aquela cara culpada. Nã o importava o quanto ele gostasse de atormentá -la, o fato era que já estava começ ando a reconhecer que ela nã o seria uma adversá ria muito fá cil de vencer.

Precisou de muito menos do que dez minutos para se aprontar e encontrou Bá rbara no corredor. Don Rafael esperava por elas no pá ­tio, ao lado de um Jaguar preto, conversí vel. Ajudou-as a entrar no carro com tanta atenç ã o e cortesia, que Vanessa teve de admitir que nã o era de admirar que as espanholas das classes mais altas alimen­tassem a fantasia masculina sobre sua fragilidade.

— Obrigada — disse, sentindo novamente aquela estranha fraqueza, quando ele a tocou.

— Quer que deixe a capota aberta, Srta. Carrol?

— Por favor. Está uma manhã tã o linda!

— Gosta do vento nos cabelos, nã o? — Olhou com visí vel admi­raç ã o para sua cabeleira, que brilhava ao sol.

Pouco depois, desciam a alameda de flamboyants, palmeiras e jacarandá s. Pequenos pá ssaros amarelos e libé lulas voejavam entre as á rvores, e havia no ar, naquela manhã, uma magia especial que fazia o coraç ã o de Vanessa bater mais depressa, feliz por estar viva e ser jovem.

Sentada no banco de trá s, podia observar à vontade o perfil do homem ao volante. Percebeu que o antagonismo que sentira por ele durante cinco anos nã o era tã o forte como pensava. Era por causa de don Rafael que estava ali agora, deslumbrada com a beleza de Luenda e de bem com a vida. Como um filme projetado numa tela, todos os detalhes da ú ltima noite em Ordaz passaram diante de seus olhos. Pô de sentir a pressã o das mã os dele nos braç os, quando a obrigou a acompanhá -lo, e o calor de sua respiraç ã o no cabelo, quando lhe disse para prestar atenç ã o nos tambores ameaç adores que que se aproximavam.

Sorriu. Será que algum dia acreditara mesmo que o odiava? Irri­tante, arrogante, mandã o. Ele era tudo isso ao mesmo tempo, mas havia outros traç os de seu cará ter que nunca tinha chegado a conhecer bem. O que é que Bá rbara costumava dizer? Que os espanhó is eram meio anjo, meio demô nio. Naquele homem, especialmente, essa divisã o era mais evidente, talvez por causa da posiç ã o que ocupava em Luenda.

Se havia algué m nascido para o poder, era ele. Sua arrogâ ncia era compensada pelo charme e, embora pudesse ser frio e inflexí vel como o aç o, també m sabia ser terno e preocupado com o bem-estar dos outros. A mulher que se casasse com don Rafael teria que lutar algu­mas vezes contra um demô nio, mas, sem dú vida, encontraria muitas compensaç õ es em seus braç os e em sua generosidade.

Surpresa com o rumo que seus pensamentos tinham tomado, Va­nessa procurou prestar atenç ã o na conversa: ele contava a Bá rbara sua viagem com Lú cia, falava dos teatros e clubes a que tinham ido, com os amigos dela.

— Entã o, acho que podemos esperar para qualquer dia desses o anú ncio oficial de seu noivado com Lú cia, nã o é? — a garota per­guntou, dando uma olhada irô nica para Vanessa. — O senhor me sur­preende, querido padrinho, escolhendo para esposa uma mulher que já pertenceu a outro homem.

— Mesmo, pequena? — Deu um risinho. — Acha que me conhece tã o bem assim?

— Claro que sim. Pelo menos, tã o bem quanto você permite que algué m o conheç a. — A garota passou a mã o, de leve, no pescoç o dele, e Vanessa viu que ele sorria da coqueteria dela. — Vamos, pa­drinho — fez beicinho —, confesse que tem pensado em casamento.

— Se tenho, sua intrometida, nã o é da sua conta. Nã o, antes de eu falar com a mulher que escolhi.

Embora falasse com delicadeza, havia em sua voz um tom firme que fez Bá rbara dar de ombros e nã o insistir no assunto. Olhou para Vanessa e fez uma careta, como se dissesse que ningué m conseguia arrancar do padrinho mais do que estava disposto a dizer. E que ele nunca hesitava em colocar um curioso em seu devido lugar, quan­do achava que tinha passado dos limites. Vanessa ficou imaginando quanto tempo ainda a pobre Lú cia teria que esperar, até que don Ra­fael a pedisse oficialmente e fizesse tudo rigorosamente como a tra­diç ã o mandava.

O amor, pensou, é ao mesmo tempo selvagem e inocente, paté tico e passional, um prazer e uma tortura. Quando experimentaria aque­las emoç õ es que só conhecia dos livros? " A doce mentira da paixã o" — lera essa definiç ã o num dos livros do tio e ele lhe dissera que era a opiniã o de um velho homem desiludido e que uma mocinha nã o devia acreditar naquilo.

O que faria, quando Jack Conroy aparecesse novamente em sua vida? Sentia que, mais cedo ou mais tarde, ele ia procurá -la e que ela nã o ficaria muito tempo mais no Castelo de Ouro. Lú cia talvez nã o a quisesse por perto, depois de casada, e nã o havia dú vida de que don Rafael tinha planos de casamento para Bá rbara també m. Sozi­nha novamente, tinha medo de confundir o que sentia por Jack com amor e renunciar ao seu belo sonho de encontrar algué m a quem pudesse dizer: " Alma da minha alma, meu como sou tua".

Don Rafael tinha recitado aquelas palavras como se realmente acre­ditasse nelas, o que parecia provar que encontrara em Lú cia Montez a mulher que era uma parte dele mesmo, " como o fogo e a chama".

O carro deixara para trá s a poeira dourada das estradas primitivas, as casas rú sticas de pedra e colmo, os olivais e os campos arados. Aproximavam-se agora do centro, e as construç õ es no velho estilo espanhol criavam a ilusã o de que viajavam no tempo e logo estariam num povoado da Idade Mé dia. Apesar dos carros, de alguns pré dios modernos e das vitrines de vidro das lojas, Vanessa continuava a sentir que aquilo ali era um pedaç o do passado. Ruas estreitas leva­vam a pracinhas e, das sacadas de ferro, pé talas de gerâ nio caí am dentro do carro.

No centro, a agitaç ã o era de cidade grande e moderna, com engar­rafamento de trâ nsito e tudo. Um policial de capacete e luvas brancos fazia o que podia para orientar os motoristas.

— Olhe para a sua direita, Srta. Carrol, e vai ver um de meus ancestrais — disse don Rafael, virando-se para trá s. — Foi o homem que descobriu esta ilha e construiu o castelo, onde vivia como uma á guia no ninho.

A comparaç ã o é excelente, pensou Vanessa, e nã o só para o pri­meiro don Rafael de Domerique.

— Que homem vaidoso esse aí també m deve ter sido — Bá rbara observou, atrevida, olhando para o conquistador de pedra, que domi­nava a praç a principal da cidade.

— Acha que me pareç o com ele?

— A semelhanç a é muito grande — Vanessa respondeu, admirando o nariz de á guia e a postura arrogante da está tua.

— El Conquistador teve uma vida muito interessante, de dar inveja. — Ele riu. — Casou com uma moç a da Cornuá lia, que tinha sido raptada por corsá rios mouros e levada para Tâ nger, para ser vendida como escrava ou concubina. Os galeõ es de don Rafael estavam no porto e ele fez um lance altí ssimo por ela, vencendo um dos mais poderosos emires. Imagine a inocente e jovem inglesa exibida no mer­cado para uma multidã o de piratas, mouros bá rbaros e soldados espa­nhó is. Devia estar completamente aterrorizada!

— Claro! A pobrezinha foi forç ada a casar com seu. . . com don Rafael?

— Nã o acha que foi um destino bem melhor do que se transfor­mar em amante de um emir negro? Todos os relatos da é poca... e é mesmo uma pena que nã o saiba espanhol... dizem que o fun­dador de Luenda e sua esposa inglesa eram muito felizes juntos. O amor age de maneiras misteriosas, nã o é?

Coro uma risada rouca, virou-se novamente para o volante, e pou­cos minutos mais tarde o carro parava na Plaza de Espana, diante de uma grande loja com plantas tropicais na entrada e um porteiro uniformizado para abrir as portas de vidro para os clientes e vigiar seus ricos automó veis.

 

Don Rafael guiou as duas moç as até o salã o, deu algumas instru­ç õ es à gerente que veio recebê -lo, toda respeitosa, e avisou que esta­ria de volta dentro de duas horas. Entã o, olhando dentro dos olhos de Vanessa, disse:

— Nada de roupas de governanta, entendeu? E nada de vestidos azul-escuros. Hagame el favor!

— Muito bem, señ or, nada de azul. — Sorriu. — E obrigada.

— De nada. — Acenou para as duas. — Até logo, ninas.

Nã o era de estranhar que as mulheres mais elegantes da ilha se vestissem ali. Apesar de tã o longe das capitais da moda, o salã o rece­bia os ú ltimos lanç amentos quase ao mesmo tempo que as grandes lojas europé ias. O ú nico problema, segundo a gerente, era que sem­pre selecionava os modelos pensando em suas clientes espanholas, e Vanessa, com aqueles cabelos loiro-avermelhados e aqueles olhos tã o verdes. . . Mas encontraria alguma coisa que combinasse com seu colorido exuberante.

A mulher estava sendo modesta, porque, poucos minutos depois, uma modelo desfilou para ela a coleç ã o de vestidos mais bonitos que já vira, em cor-de-rosa, verde-esmeralda, branco. Vanessa hesitou: todos pareciam caros demais. Mas Bá rbara nã o deixou que pensasse em preç os.

— O padrinho deu carta branca e foi bem claro: nada de roupas de governanta. Ele quer que você pareç a alegre, nã o sombria. Depois, como pode resistir a isso?

Apontou para um vestido de noite em seda creme, com corpo de renda, que era realmente irresistí vel. Com sandá lias douradas de salto muito alto, Vanessa parecia uma manequim, quando saiu da cabine. Era uma roupa para ocasiõ es especiais, completamente fora de pro­pó sito para uma duena.

— Nã o acredito que don Rafael concorde com isso, Bá rbara. É uma maravilha, mas quando vou usá -lo?

— No baile do castelo. A festa da colheita está chegando, lem­bra? Você vai abafar e deixar Lú cia morta de ciú me.

— Se eu fizer isso, perco meu emprego. Nã o, señ ora — virou-se para a gerente —, nã o vou levar este.

— Mas você deve — insistiu a garota.

— Acho que nã o, chica.

Voltou para a cabine, lamentando nã o ter seu pró prio dinheiro para comprar aquele caro sonho de seda e renda.

Precisava també m de alguns acessó rios e de roupas de baixo. Esco­lheu o mí nimo indispensá vel e resolveu trocar o vestido emprestado por um dos novos, branco, de jé rsei. Achava que don Rafael pretendia levá -las para almoç ar, e certamente devia freqü entar os restau­rantes mais elegantes.

Quando voltou para o salã o, percebeu que Bá rbara nã o aprovava inteiramente sua escolha.

— Agora, está parecendo muito mais uma senhorita inglesa — disse a garota, e Vanessa nã o teve certeza de até que ponto aquilo era um elogio.

Ao chegarem no hall, sua dú vida se desfez. Bá rbara, que nã o era de guardar o que pensava, confessou:

— Está muito chique, guapa, mas por que prendeu o cabelo? Pre­firo você com o cabelo solto, caindo nos ombros. Fica mais moç a, mais exuberante.

— Pois eu prefiro assim. Don Rafael agora é meu patrã o e me sinto melhor saindo com ele vestida de uma maneira mais formal.

— Fico pensando se nã o é porque sente um pouquinho de medo dele.

— Ora, que bobagem! — Vanessa riu, mas, por um momento, a idé ia nã o lhe pareceu tã o absurda assim. — Você inventa cada coisa! Por que eu haveria de ter medo de don Rafael?

— Talvez porque é inglesa, e ele é espanhol, muito diferente dos homens da sua terra. Alé m- do mais, é o chefe. O que veste as calç as, como se costuma dizer.

— Se entendi direito o que está insinuando. . . e acho que enten­di. . . gostaria de esclarecer que nã o tenho a menor vontade de dar ordens ou trocar de lugar com homem nenhum. Muito menos com algué m como seu padrinho.

Percebeu que tinha falado alto demais e, o que era pior, que don Rafael já estava lá e nã o podia ter deixado de ouvir. Pelo jeito como a olhou, ficou claro que queria saber o que ela nã o faria com algué m como ele. Mas nã o tocou no assunto.

— Já terminaram as compras?

— Sim, señ or.

Sentia-se desconfortá vel, mesmo sabendo que era uma tolice. Afi­nal, nã o tinha dito nada demais. Entrou no carro, calada e ainda corada.

— Você s duas devem estar com fome. Vamos almoç ar no Skylight Room. Ainda nã o esteve lá, nã o é, Srta. Carrol? Acho que vai gos­tar do ambiente.

O restaurante ficava no ú ltimo andar de um luxuoso hotel, e Va­nessa compreendeu o que ele queria dizer com " gostar do ambiente" assim que entraram e foram levados até uma mesa junto da janela.

O lugar era freqü entado quase que apenas por americanos e euro­peus, principalmente ingleses.

Vanessa sorriu, olhando em volta. De repente, encontrou um rosto queimado de sol e olhos cinzentos familiares. Gary Elsing! Ele a encarou e depois estudou a figura alta e morena de don Rafael, sentado a seu lado. O señ or, sempre alerta, percebeu o interesse do americano.

— Já conhece o sr. Elsing? Zangada com o tom severo da voz dele, que exigia uma resposta honesta, Vanessa balanç ou a cabeç a e explicou que havia encontrado

Gary na praia, por acaso.

— Ele foi muito simpá tico comigo, señ or, nã o pude evitar. — En­frentou o olhar duro dele. — Pensei que fosse um amigo seu, porque estava na praia. Uma mera dueñ a nã o pode ignorar a gentileza de um amigo do patrã o.

— Tem liberdade para fazer todas as amizades que quiser, Srta. Carrol. O sr. Elsing lembra um pouco o jovem Conroy, nã o acha?

Bá rbara, que acompanhava a conversa com interesse, interrompeu, inoportuna como de há bito:

— Conroy? Era dos beijos dele que você estava falando no outro dia?

Vanessa teve vontade de que o chã o se abrisse e a engolisse. Mas o chã o continuou firme sob seus pé s e, apesar de aborrecida com o tom desdenhoso que don Rafael usava, sempre que falava sobre Jack, foi contra Bá rbara que dirigiu sua irritaç ã o.

— O que conversamos é particular. Se eu tivesse imaginado que você ia contar a algué m...

Uma onda de indignaç ã o a impediu de continuar. Por que Bá rbara tinha que cometer aquela indiscriç ã o logo na frente dele? Sentiu um nó na garganta e o rosto em brasa.

— Ora, Srta. Carrol, nã o precisa ficar tã o angustiada, só porque Bá rbara revelou seu segredinho para mim. Esqueceu que eu a vi passeando ao luar com Conroy, em Ordaz? Saiba que vi també m os beijos dos quais parece sentir tanta falta.

Zombava dela e de seu romance com Jack, como se os dois nã o pas­sassem de garotos tolos. Como se atrevia? Quem pensava que era para torcer o nariz para os sentimentos alheios? Só seu caso com Lú cia era sé rio e bonito? Coisa nenhuma! Aquele romance nã o passava da uniã o de uma viú va ambiciosa com um homem desiludido de trinta e tantos anos, que aceitava uma mulher sofisticada e artificial porque nã o podia ter coisa melhor. E era só o que ele merecia mesmo, sujeito sem coraç ã o!

Tentou se controlar e parecer indiferente. Olhou para Gary e sor­riu quando ele — oh, como invejava sua naturalidade e seu à von­tade — ergueu o cá lice de vinho para ela. Almoç ava com um homem bem mais velho e de aparê ncia pró spera, provavelmente um magnata do petró leo.

O apetite de Bá rbara nã o foi afetado pela tensã o que, inocente­mente, havia criado entre o padrinho e Vanessa. Comeu com prazer, enquanto Vanessa mal conseguiu provar os pratos ingleses que pedira. Era tã o raro encontrar uma boa cozinha inglesa nas ilhas, e quando encontrava...

Don Rafael conversava com a afilhada, e de vez em quando, por pura delicadeza, dirigia a palavra a Vanessa. Nem parecia o mesmo que lanchara com ela num jardim perdido no tempo.

Durante todo o almoç o, ele foi alvo de olhares insistentes que lhe dirigiam das mesas vizinhas. Nã o era preciso notar a maneira especial e respeitosa como os garç ons o serviam para saber que se tratava de um personagem importante. Bastava ver seu ar aristocrá tico. Vanessa e Bá rbara també m foram olhadas com muito interesse, pois, como sempre, formavam um curioso e belo contraste: uma tã o morena, outra tã o clara.

O garç om trouxe a sobremesa: sorvete e cerejas cobertos com brandy, flambados na mesa. Era delicioso e desmanchava na boca. Terminavam de comer o doce, quando don Rafael fez o primeiro co­mentá rio sobre sua aparê ncia:

— Fica bem de branco, Srta. Carrol. Espero que tenha comprado roupas e acessó rios para todas as ocasiõ es. Logo começ ará a festa da colheita e teremos muitos convidados no castelo. Quero que esteja tã o elegante como minhas hó spedes, e as espanholas sã o muito vaido­sas e reparam demais nas outras mulheres.

Vanessa nã o respondeu. O que ele esperava que dissesse? Que agra­decesse pelo interesse?

— Comprou vestidos de noite, señ orita?

Já que ele insistia, o jeito era apelar para a ironia.

— Trê s, señ or. Sou muito grata por sua generosidade, mas. . .

— Nã o precisa se preocupar em me pagar. Mesmo porque seu salá rio nã o daria para isso. Uns poucos vestidos nã o fazem a menor diferenç a para mim. Aceite como um presente, e nã o vamos mais falar no assunto.

Parecia ao mesmo tempo divertido e irritado com o sarcasmo dela. Reclinou-se na cadeira e cumprimentou uma elegante señ ora morena que almoç ava, algumas mesas adiante. Ela sorriu, deliciada, e baixou os olhos, com falso pudor. Vanessa teve a impressã o de que o charme estudado da mulher irritara o espanhol.

A señ ora lembrava muito Lú cia Montez. Será que na noite passada ele a abraç ara, murmurando, apaixonado, que ela devia voltar logo ao castelo? Será que pedira para se tornar sua rainha no Castelo de Ouro? Ou seus beijos foram suficientes para fazê -la entender quanto a desejava?

Vanessa surpreendeu-se olhando para os lá bios de don Rafael. Lá bios crué is, quando estava sé rio, mas que ele sabia tornar ternos, quando sorria. Eram um espelho perfeito da complexa personalidade daquele homem. Revelavam que podia ser um amante apaixonado e inteiramente dedicado à mulher que soubesse tocar seu coraç ã o. E Lú ­cia, uma espanhola até a raiz do cabelo, devia conhecer todos os segredos para transformar o leopardo num gatinho...

Nesse momento Vanessa teve um sobressalto, ao sentir a suave pres­sã o de uma mã o forte no ombro.

— Gostaria de pedir sua permissã o para sair com a Srta. Carrol qualquer noite dessas, don Rafael. — Era a voz grave e bonita de Gary Elsing.

— Mas claro, meu amigo. —- O olhar frio foi do rosto bronzeado do americano para o rosto repentinamente pá lido de Vanessa.

Ela nã o esperava que Gary se atrevesse a tanto e ficou sem aç ã o. Ouviu o rapaz perguntar quando teria uma noite livre e seu patrã o responder por ela:

— A Srta. Carrol pode escolher a noite que quiser. Sem dú vida, deve estar ansiosa para sair em sua companhia, depois de tantas se­manas convivendo apenas com... estrangeiros. — Tornou a olhar para os dois. — É claro que uma inglesa tem muito mais em comum com um americano do que com espanhó is. Nã o concorda, sr. Elsing?

— Sem a menor dú vida — Gary respondeu, ignorando a ironia do outro. Virou-se para Vanessa, alegre e muito seguro de si. — Sá bado está bom para você? Vou buscá -la à s sete e meia, certo?

— Certo — ouviu-se dizer, perturbada demais para saber se que­ria mesmo sair com ele. Era verdade que tinham se divertido juntos, naquela manhã, na praia, mas nã o estava disposta a permitir que tomasse decisõ es por ela. Por um lado, era um homem viril e atraen­te; por outro... bem, uma mulher que se sentia solitá ria era vulne­rá vel à quele tipo de encanto e podia se deixar levar pelas emoç õ es. . .

— Até sá bado, querida. — Apertou o ombro dela e disse para don Rafael: — Grá cias, señ or.

Don Rafael sorriu.

— Nã o se esqueç a, amigo, de que a Srta. Carrol está sob a minha responsabilidade. Assim sendo, deve seguir minhas tradiç õ es. Espero que a leve de volta ao castelo à s dez horas.

— O quê? — Gary deu uma risada. — Deve estar brincando!

— Garanto que nã o estou, sr. Elsing.

— Mas nã o posso prometer. . .

— É melhor poder. — Don Rafael cortou, rí spido. — Enquanto a Srta. Carrol permanecer nesta ilha, eu cuido do bem-estar dela. Alé m do mais, das sete e meia à s dez, você s terã o tempo mais do que suficiente para. . . conversar.

— É um bocado autoritá rio, se quer saber a minha opiniã o — Gary disse, exasperado. — Vanessa é inglesa, nã o está acostumada a que controlem a vida dela. Dez horas! Tenha paciê ncia! À s dez horas, a noite mal começ ou. Vamos, señ or, tenha coraç ã o.

Um sorriso gelado apareceu nos lá bios do espanhol.

— Acredite ou nã o, señ or, eu tenho um coraç ã o e posso com­preender muito bem seus sentimentos. Mas nã o adianta insistir. Pode ficar aqui a tarde inteira, que nã o vou mudar de idé ia. Por falar nisso, parece que seu companheiro de mesa está impaciente com a demora e já vai embora.

Gary deu uma olhada por cima do ombro e, controlando a raiva, virou-se para Vanessa.

— Acho que nã o temos escolha. Fiz o que pude, você viu. Até sá bado, querida.

Deu as costas e foi ao encontro do amigo. Pouco depois, os dois saí am do restaurante.

Vanessa encarou o homem que, literalmente, tinha sua vida nas mã os. Tã o seguro de si! Um senhor feudal que fazia seu sangue gelar com tanta arrogâ ncia.

— Nã o sou nenhuma crianç a, don Rafael. Posso cuidar de mim mesma.

— Nã o diz isso com muita seguranç a, Srta. Carrol. Chego a duvi­dar de que realmente acredite.

— Oh, o senhor é impossí vel!

Ele havia tocado no ponto fraco. Nã o tinha tanta certeza assim de poder se defender do charme de um homem simpá tico, alegre e tã o parecido com Jack Conroy. Um homem que talvez despertasse nela a falsa impressã o de ter encontrado amor e seguranç a. Podia acontecer facilmente, com a lua brilhando no cé u e o fascí nio da ilha enfraquecendo suas defesas. Sabia que nunca se apaixonaria de ver­dade por Gary Elsing, mas se deixar seduzir por seu charme era outra histó ria. . .

Dom Rafael apertou a mã o dela, de leve, como um pai compreensivo e protetor.

— Brincar com os sentimentos dos outros é um passatempo que nã o aconselho a ningué m, e o sr. Elsing me parece um homem que faz esse jogo quase todo o tempo. Lembra que, quando a trouxe para Luenda, prometi fazer por você o que seu bom tio nã o podia mais fazer? Pois sou um homem de palavra.

Continuou segurando a mã o dela, olhando-a bem dentro dos olhos. Sentiu que o odiava por hipnotizá -la daquele jeito e. . . por estar tã o absolutamente certo a respeito de Gary. E, mais do que tudo, porque se sentia sem vontade pró pria, toda trê mula e sem argumen­tos, a nã o ser insistir, tolamente:

— Se quiser ser amiga de Gary, serei. E nã o há nada que possa fazer para impedir.

— Ao contrá rio, Srta. Carrol: sempre posso fazer alguma coisa a respeito de tudo o que acontece nesta ilha. — Apertou a mã o dela com tanta forç a, que chegou a machucar. — O sr. Elsing trabalha aqui, nã o é?

Sentiu o coraç ã o na garganta. Nã o, ele nã o teria coragem de mandar despedir Gary... mas sua expressã o selvagem provava que seria capaz, sim. Disso e de muito mais, se fosse necessá rio.

Para alcanç ar seus objetivos, o senhor de Luenda nã o recuava dian­te de nenhum obstá culo. Vanessa via nos olhos dele, sentia na pres­sã o de seus dedos, sabia pelo jeito como sorriu, diabó lico. E desistiu de lutar aquela batalha contra o leopardo.



  

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