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CAPÍTULO III 2 страницаAdam olhou-a fixamente por um instante, incapaz de encontrar palavras para expressar seus sentimentos, depois passou a mão pelos cabelos e disse: — Como conseguiu chegar aqui? Maria apertou os ombros pequenos. — De avião, é claro. — Ela olhou sorridente para a sra. Lacey. — Sua empregada foi muito gentil. Cheguei há uma hora mais ou menos. Adam suspirou. — Só recebi hoje de manhã a carta de minha mãe, perguntando se você podia ficar aqui — exclamou secamente. — Não sei por que se incomodou em escrever, nestas circunstâncias. Os olhos de Maria brilharam. — Oh, mas eu sei, Adam. Ela não sabe que eu vim. — O quê? — Adam estava perplexo. Maria ergueu as sobrancelhas escuras e abriu as mãos num gesto eloquente. — Você não vê, Adam, foi por isso que eu vim! Eu tinha certeza de que, se você tivesse tempo de considerar a situação, ia responder que não, e eu queria tanto vir. Adam sentiu-se frustrado. — Mas onde minha mãe... ou seu pai... imaginam que você esteja? — Eu disse a eles que ia passar o fim de semana em Dublin com uma amiga. Um táxi levou-me à estação e eu peguei um trem para Dublin. Então voei para Londres. — Você não percebe que foi uma coisa completamente irresponsável? Uma moça de sua idade viajando todo esse tempo sozinha! Maria suspirou. — Não sou uma criança, Adam. — Não, eu posso perceber isso. No entanto, ainda não tem idade suficiente para tomar conta de você mesma sozinha. — Oh, Adam! — Maria enfadou-se, seus olhos faiscavam. — Por favor, eu vim a Londres para ter um pouco de liberdade, não para ficar mais confinada ainda do que em Kilcarney! Adam olhou desamparadamente para a sra. Lacey, que disse: — O senhor não acha que deveria telefonar para sua mãe, doutor? Ela pode estar preocupada. Se eles tentaram entrar em contato com a srta. Maria... Adam concordou, acenando com a cabeça. — Sim, a senhora tem razão, sra. Lacey. Preciso fazer isso. Mas, quanto a você, jovem... — Ele sacudiu a cabeça. — Não sei o que dizer. Maria lançou a cabeça para trás. — Não diga nada, Adam, a não ser que posso ficar e não darei mais trabalho. Adam abriu a boca para protestar e fechou-a novamente. De que adiantava? Ela já estava lá. Além do mais, há alguns instantes ele estivera a ponto de escrever a sua mãe dizendo que ela podia vir. Naturalmente, não imaginara que essa situação fosse jogada para cima dele, nem que Maria fosse e agisse tão diferentemente de suas expectativas. As mulheres eram sempre imprevisíveis, pensou com arrogância masculina; no entanto, ele não esperava que Maria parecesse uma mulher. Não sabia bem o que esperava, talvez uma ampliação do retrato que tinha dela em sua mente, com rabo-de-cavalo e uniforme de ginástica... Mas definitivamente não esperava essa criatura confiante, esse produto de sua geração, com cabelos sedosos levemente ondulados nas pontas e roupas modernas. Ela usava um vestido longuete numa tonalidade muito atraente; o modelo simples era realçado por uma abertura dianteira que deixava entrever as longas pernas com botas de couro macio até os joelhos. Adam balançou a cabeça resignadamente. Podia bem imaginar as reações de Loren Grifftths a Maria Sheridan...
CAPÍTULO II Maria acordou com um sobressalto e ficou um instante imaginando por que não havia cortinas de renda nas janelas e por que a colcha da cama não era aquela tecida a mão à qual sempre estivera acostumada. Depois percebeu onde estava e moveu-se com prazer sob os lençóis macios, um sorriso nos lábios. Claro, não estava mais em Kilcarney, estava em Londres, na casa de Adam. Seu olhar vagou pelo quarto e ela notou com satisfação as cortinas listradas que combinavam com a colcha verde-limão e o tom claro da madeira. Havia um tapete creme, macio e peludo, no chão, no qual seus dedos se haviam enrolado na noite anterior e que parecia muito mais luxuoso do que os tapetes que tinham em casa. Mas seu pai não era homem de apreciar essas coisas, preferindo a funcionalidade ao mérito artístico. Somente o aparecimento de Geraldine Massey havia atenuado um pouco suas atitudes e Maria tinha razão em ser grata à madrasta por ela ser uma aliada. Ao longo dos anos, fora Geraldine que intercedera junto a seu pai em beneficio de Maria e que dera a suas vidas uma medida de tolerância. Nessa história de Maria ir à Inglaterra para fazer o curso de Secretariado, Geraldine fora a principal incentivadora. Naturalmente, Maria queria vir. Durante anos sonhou em escapar da vida confinada de Kilcarney onde seu pai era um pilar da comunidade e, como tal, incapaz de encarar com indulgência qualquer escapulida da filha. Mas até o momento não houvera oportunidade. Ela estivera num colégio de freiras, cercada por restrições de um ou outro tipo. Agora tinha deixado a escola e estava livre para fazer o que quisesse, pelo menos enquanto seu pai concordasse. Mas tinha sido duro convencê-lo de que nenhum mal podia acontecer a ela, morando com Adam, e ela sabia que, se Adam tivesse mostrado qualquer sinal de receio com relação a sua visita, seu pai teria dominado tanto Geraldine quanto ela mesma e recusado que ela viesse. Esse era o motivo pelo qual tinha aproveitado a oportunidade e tinha decepcionado até a madrasta, que achava ser seu direito informar o marido do que estava acontecendo. Maria suspirou e saltou da cama. Graças a Deus, agora estava ali. O pai pareceu apreensivo ao telefone na noite anterior, mas não exigiu que ela voltasse imediatamente. Maria sabia que, com o tempo, Geraldine o convenceria. Andou até a janela e olhou para o pequeno jardim embaixo das janelas. Abrindo o trinco, levantou o vidro e debruçou-se sobre o peitoril. O ar estava frio e ela ficou arrepiada, mais pela expectativa do que pelo frio. De repente a vida parecia imensamente interessante e apresentava-lhe todo tipo de possibilidade. Então viu que uma senhora de idade do outro lado do bosque, que estava para recolher suas garrafas de leite da porta da frente, olhava para ela com reprovação. Olhando para seus trajes sumários, viu que estava usando apenas o curto pijama de nailon com o qual dormira e apressadamente retirou-se e fechou a janela, rindo para sua imagem no espelho da penteadeira. Não era bom escandalizar os vizinhos em sua primeira manhã. Além disso, não havia dúvida de que todos estavam se perguntando quem era ela e por que estava lá. Afinal, Adam era um solteirão desejável e os mexericos eram o sabor da vida para algumas pessoas. Encolhendo os ombros, foi lavar-se no grande banheiro que cheirava agradavelmente a creme de barbear e loção após barba, depois voltou e abriu as malas que deixara no chão a noite anterior. Inspecionou-as procurando algo para vestir. Mais tarde ela as arrumaria, agora estava com fome. Já passava das oito e em casa costumava tomar o café da manhã com seu pai por volta das sete. Enquanto se vestia, pensou que gostaria de ter uma oportunidade para falar com Adam. Na noite anterior ele se mostrara indiferente e reservado, fazendo as habituais perguntas polidas sobre seus pais, parecendo não estar interessado nela. Claro, o telefonema para Kilcarney o havia aborrecido, mas isso era inevitável. Depois ele desapareceu para fazer a cirurgia noturna em sua clínica, que ficava no East End, em Londres, como lhe dissera a sra. Lacey e da qual Maria não conseguia lembrar o nome; mais tarde, quando Maria esperava que ele voltasse, a empregada informou que ele ia jantar fora. Por tudo isso fora uma noite insatisfatória e ela decidiu que hoje seria diferente. Agora, com uma calça comprida de linho roxo brilhante e uma camisa creme que chegava até os quadris, ajustada por um cinto, os cabelos lisos ondulando sobre os ombros, ela desceu a escada até o saguão. Não usava maquilagem, mas sua pele era naturalmente macia. Hesitou ao chegar ao saguão, olhando à sua volta com interesse. O tapete, como nos degraus, era estampado de azul e verde, e todas as portas eram almofadadas em madeira clara. Sobre uma arca polida havia um vaso com tulipas e narcisos e suas cores pálidas ficavam bem contra a madeira mais escura. Enquanto estava em pé ali, imaginando se Adam tomava o desjejum na mesma sala em que ela jantara na noite anterior, a sra. Lacey surgiu da cozinha para olhá-la com certo receio. — Oh, a senhorita levantou. Eu... eu ia levar-lhe uma bandeja. O doutor disse que a senhorita devia estar cansada depois da viagem. Maria sorriu de maneira encantadora. — Não estou cansada, sra. Lacey — afirmou ela decididamente, sacudindo a cabeça. — Sinto-me maravilhosamente! — Esticou os braços acima da cabeça à vontade. — Diga-me, sra. Lacey, onde está Adam? A sra. Lacey tentou esconder sua reprovação. Estava reparando na cor brilhante de suas calças e Maria, percebendo isso, disfarçou um sorriso. — O sr. Adam está acabando seu café, senhorita. Está... está aqui. Adiantou-se para abrir a porta da sala de jantar e Maria agradeceu com um sinal da cabeça, entrando silenciosamente na sala. Adam estava absorto no jornal da manhã, de costas para a porta e mal percebeu a entrada dela. Decerto pensava que era a sra. Lacey, voltando para ver se nada lhe faltava. Vestia um terno escuro e a camisa imaculadamente branca contrastava com a pele mais escura do pescoço; Maria achou que ele parecia muito frio, muito moreno e muito ocupado, e uma certa excitação agitou-a por dentro. Com sua costumeira falta de inibição, atravessou o chão atapetado até onde ele estava e, curvando-se, passou os braços em volta de seu pescoço por trás, beijando-o docemente no pescoço, como fazia às vezes com o pai. Adam soltou-se do abraço, levantando-se bruscamente e olhou-a com raiva. — Maria! — falou rispidamente, atirando o jornal para o lado e passando a mão pelos cabelos grossos. Ela sorriu de modo encantador. — Bom dia, Adam — disse, sentando-se na cadeira ao lado da que ele estivera ocupando. — Sinto muito estar atrasada para o café. Adam recuperava a compostura e, respirando pesadamente, examinou-a com impaciência. — Você não está atrasada — replicou friamente. — Não há necessidade alguma de se levantar tão cedo. Mas eu tenho de sair para a cirurgia por volta das oito e meia. Maria encolheu os ombros e, pegando o bule, serviu-se de uma xícara de café com a calma de alguém acostumado à prática. Adam sentiu de novo a mesma frustração da noite passada pelas atitudes dela. — Mas eu quero levantar cedo — disse ela, tomando o café. — Além disso, será bom para você ter companhia, para variar. Sua mãe disse que sempre tomava o café da manhã com você. — É um pouco diferente — retrucou Adam secamente, erguendo a xícara e terminando o café de um gole só. — Não vejo por que deveria ser diferente. Afinal, sou sua irmã. — Filha de meu padrasto! — corrigiu-a Adam asperamente. — Você se perde em minúcias! Aliás, esta é uma expressão de sua mãe. — Ela riu. — Hum, este café está muito bom, mas... você come frituras no café? Adam controlou seu aborrecimento. — Isso é da minha conta. Maria deu de ombros. — Claro que é. Você acha que a sra. Lacey espera que eu faça o mesmo? — Pergunte a ela. — Adam estava ríspido. Maria suspirou e olhou-o resignadamente. — Você não vai sentar-se novamente, Adam? Adam tez questão de olhar para o relógio de pulso. — Não tenho tempo — replicou, sem um traço de desculpas na voz. Maria suspirou novamente e disse: — Está bem, vou tomar só um pouco de café e estarei com você. Adam tinha virado para examinar alguns papéis em sua maleta, mas ao ouvir suas palavras voltou-se para olhá-la, sem compreender, — O que você quer dizer com isso? Maria despejou mais café na xícara. — Quero ir com você hoje de manhã, quero dizer, a sua cirurgia. Quero ver onde você trabalha e posso até ser capaz de ajudá-lo. Adam estava atônito. — Obrigado, mas isso não será necessário, Maria. Tenho uma recepcionista muito eficiente para tratar de meus negócios. Você deve divertir-se o melhor que pudor. — Mas eu quero ir com você, Adam, — Mas não pode. — Adam sacudiu a cabeça. — E eu mudaria essas roupas antes de ir a qualquer lugar, se fosse você. — O que há de errado com minhas roupas? — Maria levantou-se devagar. — Se você não sabe, então não sou eu quem vai lhe dizer — retrucou Adam, cruelmente. — Você é exatamente igual a meu pai! — exclamou Maria com raiva. — Sei que está apenas tentando perturbar-me! Talvez você queira que eu diga que não vou com você, não é? Adam lançou-lhe um olhar exasperado, depois voltou-se e foi para o saguão, quase colidindo contra a sra. Lacey, que vinha ver o que Maria queria comer. Mas, para sua surpresa, a própria Maria o seguiu até o saguão e pegou a jaqueta cor-de-rosa do armário. — Você não pode vir, Maria — disse Adam firmemente. — Sinto muito, mas meu consultório não é lugar para uma... uma... moça como você. — Ele estivera a ponto de dizer criança, mas se conteve. Os olhos de Maria refletiram mágoa e ele a examinou por longo tempo antes de dizer novamente: — Sinto muito — e virando-se, caminhou até a porta da frente. Maria franziu o nariz para esconder o desapontamento que sentia. Depois, jogou a jaqueta de volta no armário, não se incomodando em levanta-la quando caiu no chão. A sra. Lacey precipitou-se e a apanhou, sentindo compaixão pela moça. Maria voltou para a sala de jantar, taciturna, as mãos enfiadas bem fundo nos bolsos da calça, perguntando a si mesma se fizera uma coisa certa vindo para ali. Depois, afastou esse pensamento e pegou o jornal de Adam. Abriu-o na primeira página, enterrou-se na cadeira dele e fez uma corajosa tentativa de lê-lo. A sra. Lacey entrou alguns minutos depois e, notando seu olhar preocupado, pensou novamente que Maria parecia bastante magoada. — O que gostaria de comer, senhorita? — perguntou, começando a recolher os pratos sujos de Adam. Maria olhou-a relutantemente. Não estava com vontade de falar com ninguém naquele momento. — Nada, obrigada — respondeu educadamente e a sra. Lacey olhou-a com ar de dúvida. — Não acha que deveria comer alguma coisa, senhorita? Uma moça jovem assim... Deve estar com fome. Maria apertou os lábios novamente. — Eu estava — admitiu baixinho. — Mas passou. A sra. Lacey suspirou, deixou a bandeja e cruzou os braços. — Ora, isso é bobagem, senhorita, se não se incomoda que eu diga isso. Dizer que não quer comer só porque o sr. Adam não a levou junto... Os olhos de Maria arregalaram-se. — Eu não mencionei Adam — disse, tentando parecer fria. A sra. Lacey balançou a cabeça. — Não, claro que não. Mas isso é que está errado. A senhorita queria ajudar, só isso, mas não pode, então precisa conformar-se. Maria olhou-a e sorriu com má vontade. Não era de sua natureza permanecer calada por muito tempo, além disso a culpa não era da sra. Lacey. — Está bem — concordou, suspirando. — Eu queria ir. Mas não pude e agora não estou com muita fome. — Bem, o que me diz de um pouco de cereais? Ou talvez bacon? Maria parecia horrorizada com a idéia. — Oh, não! — gritou. — Mas talvez umas torradas. A sra. Lacey acenou com a cabeça. — Está bem, senhorita. Algumas torradas e, quem sabe, um pouquinho de minha marmelada feita em casa. Maria sorriu. — Está parecendo delicioso! Depois do café, Maria perguntou à empregada se havia algo que pudesse fazer na casa. A sra. Lacey ficou surpresa e disse: — O que, por exemplo? Maria franziu a testa. — Eu poderia arrumar as camas — ofereceu-se ela —, ou talvez lavar a roupa. Também sei cozinhar. A sra. Lacey estava visivelmente espantada. Habitualmente os hóspedes não ofereciam seus serviços, mas a idéia não deixava de ser agradável. Mesmo assim... — É muita gentileza sua, senhorita — respondeu ela, um pouco embaraçada —, mas não é preciso, sabe? Não é uma casa grande e tomar conta de um homem só não dá muito trabalho. — Mas agora somos dois — salientou Maria. Mas sra. Lacey sacudiu a cabeça. — É muito gentil de sua parte, senhorita, mas acho que o sr. Adam não aprovaria. De qualquer forma, a senhorita ainda não saiu desde que chegou ontem à tarde. Que tal ir até as lojas em High Street e trazer-me as coisas de que preciso? — Fazer compras? — Maria hesitou. — Oh, sim, eu gostaria. — Ótimo — a sra. Lacey estava aliviada por ter encontrado uma solução para o problema de Maria e, na cozinha, fez uma lista do que precisava. Mais tarde, armada de uma cesta de compras e da carteira da sra, Lacey, Maria saiu, seguindo as orientações da empregada, em direção a High Street. O frio matinal se dissipara. Era uma bela manhã de primavera e a sensação de bem-estar de Maria voltou. Era natural que Adam achasse difícil adaptar-se a ter alguém mais morando em sua casa, principalmente esse alguém sendo também seu parente. Ela não devia exigir muito dele imediatamente. A vida de um médico não era a de um fazendeiro. Ele não tinha hora de descanso e as responsabi-lidades que carregava certamente o tornavam mais sério. Com essa alegre disposição percorreu as lojas, usando seu inato senso de perspicácia do campo ao decidir que tipo de carne comprar ou quais os legumes que devia escolher. Insistiu em pegar os tomates antes de comprá-los, o que aborreceu o comerciante, mas finalmente teve a satisfação de saber que não fora enganada. Com a jaqueta rosa e a calça roxa não parecia deslocada em High Street, onde se podia ver todo tipo de vestuário, mas ao retornar a Virgínia Grove percebeu várias sobrancelhas levemente erguidas entre os moradores que passavam pela rua. A sra. Lacey ficou surpresa ao ver como Maria gastara pouco em suas compras, esperando que ela voltasse sem a metade das coisas que devia comprar. Fez um pouco de café para elas e enquanto se sentavam amigavelmente à mesa do desjejum na cozinha, conversando, a sra. Lacey descobriu algumas coisas a respeito da vida de Maria em Kilcarney. Logo depois, Maria mudou astutamente o assunto e disse: — A que horas Adam volta para o almoço? A sra. Lacey sorriu e levantou-se, levando a xícara vazia até a pia. — Por volta de uma hora — retrucou. — Porém, nem sempre ele vem almoçar. — Oh! — Maria mal pôde disfarçar seu desapontamento e a sra. Lacey prosseguiu dizendo que normalmente ele telefonava antes das onze quando não voltava para almoçar. — E ele telefonou hoje? — Maria não pôde evitar a pergunta. A sra. Lacey sacudiu a cabeça. — Não, senhorita. Ele vai voltar para casa. Afinal, seu único tempo livre é à tarde, antes da noite. Ele trabalha muito; ele, o sr. Hadley e o sr. Vincent. — Quem são eles? — Seus sócios. — Ah, sei — Maria assentiu com a cabeça. — E a clínica fica em Islington, correio? — Sim, senhorita. — Onde é isso? — No East End, depois de Camden Town. Não é uma região particularmente bonita, mas é muito populosa. Maria franziu as sobrancelhas. — O East End? Minha madrasta disse que havia uma porção de cortiços, lá. — Ainda há e a maior parte fica em Islington. — E por que não fazem alguma coisa a esse respeito? — Estão fazendo. Um dia todas essas velhas construções serão demolidas e haverá apartamentos e outras coisas. Só que é mais fácil falar do que fazer. — E Adam trabalha lá. — Maria fixou a sra. Lacey. — Por quê? — Ele sabe que é onde mais precisam dele, senhorita. Lugar terrível para as doenças são casas úmidas. Há também muitas pessoas idosas. Muitas delas vivem sozinhas. Como a sra. Ainsley, que está no Hospital St. Michael neste momento. — A sra. Ainsley? — Sim, é uma velha senhora de quase setenta anos. Mora sozinha. Só tem um velho cão, Minstrel. Na semana passada tropeçou no alto da escada e caiu. — Oh, isso é horrível! Ela está muito machucada? — Bem, ela está viva. Mas houve ferimentos internos, sabe? Estava sangrando quando a encontraram. Maria sacudiu a cabeça. — E quem a encontrou? — O próprio doutor. Ele costumava passar por lá, para visitá-la. Costumava dizer que ela precisava de alguém. Mas agora ela esta no hospital e só Deus sabe quando poderá sair, pobre criatura. Maria mordeu o lábio. — Ela não tem família? A sra. Lacey parou para pensar. — Acho que não. Pelo menos, não aqui. Tinha uma filha, mas ela emigrou há algum tempo. Maria suspirou, segurando o queixo com uma das mãos. — Acho que gostaria de trabalhar com pessoas — disse ela. — Deve ser muito compensador ajudar pessoas assim. A sra. Lacey ficou surpresa. — Mas eu pensei que tivesse vindo para Londres para fazer um curso de Secretariado na escola comercial. Maria sorriu. — Sim. Ou, pelo menos, foi o que Geraldine achou que eu gostaria de fazer. Mas depois de ouvir a senhora, não tenho mais tanta certeza. Deve haver centenas de pessoas velhas como essa sra. Ainsley. Talvez haja oportunidades nesse tipo de trabalho social. A sra. Lacey parecia ansiosa. — Não fique tão romântica pensando em cuidar das pessoas e resolver os problemas delas. Não é tão fácil assim. Precisa ter a paciência de Jó. — Acho que a senhora tem razão. Lá em casa as famílias são maiores e sempre há alguém que tem vontade de cuidar dos velhos. Minha avó ainda está viva e mora num chalé perto de meu pai. Ele nem sonharia em abandoná-la, mudando-se de lá. A sra. Lacey suspirou. — É, mas as coisas são diferentes por aqui. As pessoas não têm tempo de fazer tudo o que gostariam. Estão muito ocupadas tentando melhorar sua vida. Não pensam que um dia também ficarão velhas. Maria contornou preguiçosamente o desenho da fórmica sobre a mesa com o dedo indicador. — No que me diz respeito acho que a senhora está certa. Mas não posso deixar de sentir pena das pessoas. A expressão da sra. Lacey suavizou-se. — Não seja vulnerávei demais — aconselhou calmamente. — Há sempre alguém pronto a aproveitar-se de você. Maria sorriu. — Isso parece muito cínico. — Talvez nesse ponte eu seja mesmo. — A sra. Lacey encolheu os ombros. — Trabalhando aqui como empregada do sr. Adam, vejo muito sofrimento, mas nem todos merecem a ajuda que recebem. A senhorita deve fazer seu curso de Secretariado, como planejou. Assim estará livre de complicações. Maria ficou indignada. — Posso tomar conta de mim. A sra. Lacey pareceu cética. — Pode? Não tenho tanta certeza. Não aqui, pelo menos. Londres não é apenas a troca de guarda e o Palácio de Buekingham, sabe? — Mas eu não sou imatura — retrucou Maria rapidamente. — Ninguém disse que era. No entanto, só por tê-la aqui o sr. Adam tem mais responsabilidades, e ele já trabalha o suficiente. Maria suspirou e desceu do tamborete. Já se cansara dessa conversa. Lembrou-se das malas, ainda arrumadas, lá em cima. Podia subir e arrumar as coisas antes do almoço e possivelmente encontraria algo diferente para vestir. Algo que Adam não achasse tão inconveniente. Mas no momento em que estava para anunciar seus planos à sra. Lacey, a campainha da frente tocou e a sra. Lacey suspirou aborrecida. — Você pode ir atender? — perguntou a Maria. — Minhas mãos estão molhadas. Se for para o doutor, diga que volte mais tarde. — Está bem. — Maria consentiu com a cabeça e caminhou até o saguão. Alisando o cabelo, abriu a porta e olhou com certa sur-presa para a mulher que batia o pé impacientemente enquanto esperava do lado de fora. Ela não esperara ver alguém tão decorativo na porta de Adam. A mulher era pequena e delicadamente proporcional, com sedosos cabelos dourados presos numa pequena coroa no alto da cabeça. Era muito bonita, mas sua expressão, enquanto olhava para Maria, examinando-a, não era agradável. — Sim? — Maria olhou-a com expectativa. — Posso ajudá-la? A mulher olhou para trás, para a entrada de carro de Adam t e então Maria percebeu a limusine com motorista parada no portão. A mulher olhou novamente para ela e disse: — Você deve ser Maria. Adam falou-me a seu respeito. Maria tentou um leve sorriso. — Oh, sim. A senhora não quer entrar? — Sentiu-se obrigada a convidar a mulher para entrar, pois obviamente ela não era uma paciente comum de Adam. Os lábios da mulher abriram-se numa espécie de sorriso e ela entrou no saguão. A. sra. Lacey chegou à porta da cozinha e, quando viu quem era a visita, enxugou as mãos no avental e aproximou-se. — Oh, é a senhora, srta. Griffiths — disse educadamente. — Temo que esteja adiantada para ver o sr. Adam. Loren tirou as luvas cinza-pérola. — Mas eu não vim ver Adam precisamente — replicou suavemente. — Queria.., conhecer Maria. — Sei. — A sra. Lacey olhou duvidosamente para a jovem. — E o senhor Adam sabe que está aqui, senhorita? Loren ergueu as sobrancelhas escuras. — Ê provável que não. Isso tem importância? — Sua voz estava fria. — Tenho certeza de que não se oporá, sra. Lacey. — Olhou a mulher mais velha desafiadoramente e a sra. Lacey baixou os olhos. — Não, senhorita — concordou finalmente a sra Lacey. — Ah, gostaria de tomar um café? Loren encolheu os ombros.
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