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CAPÍTULO UMCAPÍTULO UM
— Uma jovem deseja vê-la, senhora. A governanta olhava Rachel da janela nos fundos da casa enquanto esta cortava uma rosa branca e a colocava em uma cesta aos seus pés. Rachel se endireitou. Não estava disposta a receber visitas. Provavelmente não conhecia a mulher, pois do contrário a Sra. Grady lhe teria dito quem era. Devia ser uma das clientes de Jack ou alguém trabalhando para a caridade. De qualquer forma, por que a Sra. Grady não cuidara do assunto? — Não disse que o Sr. Riordan não está? — perguntou ela, acreditando que fosse uma das clientes dele. — Ela não quer ver o Sr. Riordan — respondeu a Sra. Grady imediatamente. — Pediu para falar com a senhora. Disse se chamar Karen Johnson. Deu a entender que a senhora sabe quem é. Todo o sangue pareceu sumir do rosto de Rachel naquele instante. Ela se sentiu tonta e enjoada ap mesmo tempo. Teria perdido o equilíbrio se não fosse por uma treliça próxima, que serviu de apoio para a mão trêmula. Mas a Sra. Grady a conhecia muito bem para não notar a súbita palidez e, correndo sobre o piso de granito do pátio, amparou Rachel pelo braço. — O que houve? — repreendeu ela. — Não deveria trabalhar no sol sem um chapéu. Está exausta, não é mesmo? Venha comigo e tome um copo de chá gelado. — Estou bem, verdade. — Rachel podia sentir a cor voltar ao rosto enquanto falava. — Bem... Onde está a... Srta. Johnson? Talvez fosse melhor levá-la até a sala de visitas enquanto lavo minhas mãos. — Acha mesmo que é o mais apropriado? — A Sra. Grady pegou a cesta de rosas e, com a familiaridade de um longo tempo de serviço, a observou com uma expressão incerta. Então, ainda segurando o braço de Rachel, conduziu-a em direção à casa. — Posso dizer que a senhora não pode atendê-la. Tenho certeza de que poderá voltar em outro dia, se for importante. Rachel estava muito tentada a aceitar a sugestão. Mas de nada adiantava adiar o inevitável. Além do mais, estava atordoada pela coragem daquela mulher em aparecer em sua casa. Será que Jack estava por trás disso? Mas, apesar dos defeitos, Rachel duvidava de que ele pudesse ser tão cruel. — Leve-a para a sala de visitas, Sra. Grady — disse com firmeza, colocando de lado qualquer pensamento que a induzisse ao contrário. — Não irei demorar. Pode nos servir chá gelado enquanto conversamos. — Embora fosse improvável que conseguisse engolir qualquer coisa na presença de Karen Johnson. Rachel subiu a escada dos fundos para chegar ao andar de cima e ficou um pouco aliviada ao entrar no quarto. Apesar do que dissera a Sra. Grady, ainda se sentia um pouco tonta, por isso foi até o banheiro anexo e lavou o rosto quente com a água gelada que saía das torneiras douradas. De alguma maneira, a beleza do ambiente começou a acalmá-la. A suíte, formada por uma pequena sala, um quarto e um banheiro, era apenas sua e não podia negar que, apesar de um tanto extravagante, acalmava seus nervos. Aquela mulher tivera a audácia de vir procurá-la, pensava incrédula. Ela era amante de Jack; Rachel era a esposa. Por que teria vindo? O que diriam uma à outra? Olhou para o próprio reflexo no grande espelho da penteadeira. Estava visivelmente chocada. Sentia-se como um coelho encurralado. Mas não podia deixar aquela mulher intimidá-la em sua própria casa. Se fosse sensata, a mandaria embora sem nem mesmo escutar o que tinha a dizer. Mas já era tarde para pensar nisso. Karen Johnson já estava em sua sala de visitas. Não podia fazê-la esperar por muito tempo. Não queria deixá-la imaginando que ela temia confrontar a amante do próprio marido. Respirando fundo, Rachel observou sua aparência. Era um dia muito quente e, como não esperava visitas, vestira shorts de linho verde-claro e uma blusa de seda azulada. A blusa era folgada e sem mangas, expondo os braços levemente queimados pelo sol. Deveria se trocar? Colocar um pouco de maquiagem antes de encontrar a visita? Talvez um pouco de sombra, decidiu ela, colorindo os olhos em tons de bege e âmbar. E um batom de tom marrom para realçar os cabelos louros. Analisando novamente sua aparência, Rachel ficou satisfeita com o resultado. De qualquer forma, já se demorara o bastante. Não queria que Karen pensasse que se vestira especialmente para ela. Respirando fundo de novo, olhou ao redor do cômodo elegante para ganhar confiança. Mas tinha a sensação de que, independentemente do que acontecesse entre ela e aquela mulher, nada seria como antes. Karen estava sentada em um dos três sofás de veludo próximos à lareira na sala de visitas. Também era um cômodo elegante e todas as janelas estavam abertas, com vista para o jardim dos fundos da casa. Embora o lugar possuísse um eficiente sistema de ar-condicionado, Rachel preferia ar fresco. Quando estava sozinha em casa, como agora, invariavelmente deixava todas as janelas abertas. Rachel, tensa, hesitou ao alcançar a porta, sentindo-se menos confiante como anfitriã. Karen, por sua vez, parecia à vontade. Um estranho tomaria Rachel por intrusa e acharia que a outra era a dona da casa. Ao contrário de Rachel, Karen estava vestida formalmente, considerando o calor daquele dia. Um conjunto de blazer e saia rosa expunha parte das pernas e dos seios e, embora não aparentasse vestir meia-calça, usava sapatos de salto alto. Ela parecia segura de si, pensou Rachel desconfortável. Esperta e sofisticada, ciente de que atraía a atenção dos homens. E era raiva, notou Rachel, embora acreditasse que a cor dos cabelos fosse tão natural quanto o sorriso que lhe endereçava. Ela se levantou de imediato e, apesar da primeira impressão de Rachel, parecia tensa e segurava a bolsa com ambas as mãos. Não era tão alta quanto Rachel, que media cerca de um metro e oitenta, mas era voluptuosa, os seios quase saltando do top vermelho. No entanto, ela não disse nada de imediato. Apenas permaneceu de pé, olhando para Rachel, esperando que ela tomasse a iniciativa. Rachel queria gritar. Mas aquilo pareceria infantil. Então, entrou no cômodo e falou, num tom que denotava frieza: — Senhorita Johnson, presumo? — disse, como se nunca tivesse visto fotos dela com Jack. — Se está procurando por meu marido, sinto dizer que ele não está. — Sei disso, Sra. Riordan. — Estava confiante de novo, e se ficara surpresa por ter sido reconhecida por Rachel, conseguira esconder isso muito bem. — Ele está em Bristol, assinando o contrato para a construção do novo shopping. Então também estava a par dos horários dele, pensou Rachel, tentando parecer indiferente. Não havia dúvidas de que Jack a mantinha informada de seus movimentos. — Isso mesmo — disse em tom casual, embora nos últimos tempos Jack raramente a informasse do que fazia. — Então qual a razão de sua visita? Acredito que não temos nada a dizer uma à outra. — Oh, nós temos. — Karen não esperou por um convite para se sentar no sofá novamente. —- Por que não se senta também? O que tenho a dizer pode perturbá-la. Rachel já pensava no quanto gastaria para trocar os três sofás. Provavelmente milhares de libras, mas valeria a pena para que não precisasse lembrar daquela cena. — Prefiro ficar de pé — disse, esperando que a outra mulher entendesse que devia ser breve. — Como desejar. Karen encolheu os ombros, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, a Sra. Grady irrompeu na sala com uma bandeja contendo dois copos compridos e uma jarra de chá gelado. Rachel se lembrou de ter feito esse pedido à governanta. Agora desejava! não ter feito aquilo, mas já era tarde demais. — Aqui está. Deseja mais alguma coisa, senhora?! — perguntou a Sra. Grady, olhando-a com preocupação. — Não, isso é tudo. — Rachel conseguiu dar um sorriso educado. — Obrigada. — Bem, sente-se e descanse — aconselhou a governanta. — Ainda parece abatida. Tem certeza de que está... — Estou bem, Sra. Grady. — A última coisa que Rachel queria era que Karen Johnson imaginasse que sua chegada a fizera sentir-se mal. Ou preocupada, acrescentou silenciosamente, lançando à governanta um olhar significativo. — Se precisar de algo, avisarei. A Sra. Grady ergueu as sobrancelhas, mas não discutiu. Depois que ela se foi, Rachel apontou para a bandeja. — Sirva-se à vontade — disse ela, recusando-se a servi-la. — Deve estar com calor — continuou. —-Espero que não tenha se vestido desta maneira por minha causa. Teve o prazer de ver como Karen ficou irritada com o comentário. Mas e daí? Ela merecia pior que aquilo, pela ousadia de vir a sua casa. O que ela queria? Não era suficiente estar dormindo com Jack? Queria separá-los também? — Sempre me visto de acordo com a ocasião — Karen respondeu finalmente, depois de considerar suas palavras. — As roupas são muito importantes, não acha? Em especial se o objetivo é agradar um homem. — Visto o que me agrada — Rachel retrucou, não de todo sincera. Antes de Jack Riordan entrar em sua vida e arruiná-la, não costumava ser assim. — Vejo que sim — Karen comentou, inclinando-se para se servir do refrescante chá que a Sra. Grady trouxera. Rachel ouviu o barulho do gelo no copo e desejou poder se servir de um pouco também. Mas não confiava nas próprias mãos, que tremiam. Era melhor continuar onde estava até que a mulher fosse embora. — Hmmm, delicioso! — Tendo percebido ou não a hesitação de Rachel, Karen levou o copo até os lábios e deliberadamente saboreou o primeiro gole. A língua rosada sorveu cada gota do lábio inferior e ela suspirou com prazer. — Tem certeza de que não quer um pouco? Deve estar sentindo tanto calor quanto eu. Rachel se dirigiu para o sofá em frente, mas permaneceu de pé, apoiando delicadamente uma das mãos sob o encosto do sofá. — Sobreviverei — disse calmamente. — Por que não vai direto ao ponto? Se sua intenção era me chocar por descobrir sua existência, então, como pode ver, está perdendo seu tempo. Karen colocou o copo na bandeja e cruzou as mãos sobre o colo. Então, olhou para a outra com olhos maliciosos. — Você se julga muito segura, não é, Rachel? — zombou, claramente usando seu nome para mostrar que não se sentia intimidada por sua atitude. — Pergunto-me o que sentiria se soubesse que estou esperando um filho de Jack. Era como se uma espada tivesse atravessado o estômago de Rachel. Foi a muito custo que evitou chorar devido à agonia que aquelas palavras causaram. Não podia ser verdade! Aquela mulher devia estar mentindo. Depois de tudo que passara tentando dar a Jack o filho que tanto queria, ele não seria capaz de engravidar a amante. Percebeu que Karen a observava com interesse e concluiu que ela sabia sobre os três abortos. Será que Jack lhe contara? Provavelmente sim, embora preferisse que alguém do escritório fosse responsável por aquilo. Não era segredo nenhum! No começo, Jack ficara muito entusiasmado, anunciando a todos que seria pai. Mas depois de perder dois bebês nas primeiras semanas de gestação, ele decidira manter segredo da gravidez seguinte. O que fora sensato, uma vez que Rachel perdera aquele bebê também. Mas não era momento para pensar naquilo. Com os olhos de Karen fixos em seu rosto, procurando pelo mínimo sinal de fraqueza, Rachel sabia que tinha de esconder seus verdadeiros sentimentos até que aquela mulher se fosse. Mesmo assim, sentou-se no braço do sofá. Suas pernas não tinham força suficiente para sustentá-la naquele momento, e esperava apenas não parecer tão horrorizada como se sentia. Sabia que estava pálida, mas tinha de falar algo. No entanto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Karen inclinou-se e colocou um pouco de chá gelado no outro copo. — Beba um pouco — disse ela, segurando o copo, mas Rachel sabia que não havia qualquer simpatia no ato. — Não... Obrigada — ela murmurou, quase se engasgando com as palavras. Karen deu de ombros antes de recolocar o copo na bandeja. — Como quiser — respondeu despreocupadamente. Então, ergueu as sobrancelhas escuras. — O que vai fazer a respeito? Rachel a olhou, incrédula, percebendo que não tinha idéia do que dizer. Perguntar quantos meses tinha ou se Jack já sabia estava fora de cogitação. A verdade era que não queria saber as respostas. Karen obviamente confirmara a gravidez, do contrário não teria vindo. Mas se Jack soubesse disso, teria lhe dito. Ou talvez não. Oh, não sabia se era capaz de lidar com aquilo. Umedecendo os lábios, fez a única coisa que podia. — O que vou fazer a respeito? — perguntou, surpresa por sua voz parecer tão normal. — Não posso fazer nada. Se estiver mesmo grávida, faça o que bem desejar. — Ah, não! — Karen se ergueu, a raiva evidente na voz. — Não vai escapar assim! Não vim até aqui para ser dispensada como se estivesse pedindo dinheiro para caridade. Rachel se controlava para não gritar. Não pela primeira vez, desejou que a mãe estivesse viva. Mas ela morrera havia mais de dez anos. Ninguém poderia ajudá-la senão ela mesma. — Sinto muito se pensa assim — disse ela, com firmeza. — Mas não há nada que eu possa fazer. — Como não? — Karen a encarou. — Pode dar o divórcio a Jack. Ou é tão egoísta que prefere privá-lo da chance de ter um filho? Rachel pensou que não havia mais nada que aquela mulher pudesse dizer para magoá-la, mas se enganou. — Sabe que ele se casou com você apenas para ter o controle dos negócios do seu pai — continuou Karen, com desdém. — Mulheres como você me deixam enojada. Sempre foi protegida por todos e, como uma princesinha, nunca fez nada que lembrasse trabalho! — Não é verdade! Apesar de determinada a não discutir com aquela mulher, Rachel tinha de se defender. Era verdade que mal tinha terminado a faculdade de artes quando se casou com Jack. Mas quando descobrira que estava grávida, já estava fazendo seus primeiros trabalhos de ilustração. Mas aquilo não importava porque Karen a ignorava. — Não sei por que se casou com Jack — continuou ela, no mesmo tom de afronta. — Ou melhor, sei sim. Mas, apesar de ele ser um homem e tanto, você sabia que ele não a amava. Quero dizer, ele é um homem, no melhor sentido da palavra, não um dos garotinhos com os quais está acostumada. — Ela deu um sorriso presunçoso. — Jack precisa de uma mulher de verdade. Eu. — Verdade? De alguma forma, Rachel conseguiu parecer entediada com as observações dela. — Sim, é verdade — Karen respondeu de imediato, visivelmente furiosa. — É por isso que vim vê-la. Jack não quer magoá-la porque se preocupa com você, suponho. Mas esta situação não pode continuar. Ainda mais agora, que estou esperando o filho dele. Rachel se ergueu. Ainda estava tonta, como se testemunhasse algo surreal. Mas se ainda quisesse manter o respeito próprio, não podia permitir que aquela mulher se fizesse de vítima em sua própria casa. — Acho melhor ir embora — disse ela, e até Karen pareceu surpresa com o tom de autoridade. Ela atravessou a sala, ainda sentindo as pernas fracas, e tocou o sino chamando a governanta. — A Sra. Grady lhe mostrará o caminho. Por favor, não volte aqui. Karen deu um passo na direção dela. — Não pode me tratar desta maneira. — Acho que posso sim. — A voz de Rachel adquiriu maior confiança ao ver a agitação da oponente. — Não é bem-vinda aqui, Srta. Johnson. Agradeça por não chamar a polícia para tirá-la daqui. — Não ousaria! — Karen a encarou, inflexível, J como se ponderasse suas ações. Então, deu uma gargalhada de escárnio. — Imagine o que a imprensa não faria ao saber que expulsou a amante do marido da sua própria casa. Está blefando! — Saia! — A voz de Rachel tremeu, mas sua determinação não fraquejou. Mas como era mais alta que Karen, usou este ponto a seu favor. — Saia antes que eu mesma a expulse — disse, ríspida, cerrando os punhos. Embora mantivesse o ar de desafio, Karen andou relutante em direção à porta. — Ainda vai ouvir falar de mim — disse ela, provocando Rachel, que se perguntava onde estava a Sra. Grady quando mais precisava. — Espere até eu contar a Jack sobre como fui tratada. Você vai deixar de ser tão arrogante. — Mas eu também mal posso esperar para contar a Jack sobre sua visita — disse Rachel despreocupadamente. — Sim, ele vai adorar saber o que pensa a respeito do caráter dele. — O que quer dizer? Karen parecia cautelosa e Rachel sorriu zombeteira. — Bem, você insinuou que ele não seria capaz de controlar a empresa sozinho, que se casou por interesse. — Maldita! — Qual o problema, Srta. Johnson? — Rachel estava começando a se divertir. — Falou mais do que devia? — Não importa o que você diz, terei um filho de Jack. — Karen estava agitada. — Vai ganhar alguns pontos pelo esforço, mas eu serei a vencedora. Rachel não pôde mais se controlar. — Vencedora? — Karen pareceu ficar surpresa. Então, ela continuou, impiedosa: — Ele não lhe contou? Estou grávida também.
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