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CAPÍTULO VII



CAPÍTULO VII

 

-Não! — protestou Morgana, quebrando o silêncio. — Não, Diane, você interpretou mal as intenções de meu irmão!

— Acho que não. — Diane encolheu-se na cama. — Sou neta do pior inimigo do sheik, e ele não terá compaixão de mim, não me tratará como trata as mulheres árabes. Khasim não pode esquecer que um dos soldados de meu avô matou sua mãe, ele sente que precisa me fazer sofrer para vingar o massacre. Fico aterrorizada só de pensar! — Ela escondeu o rosto entre as mãos, tentando apagar da mente o olhar abra­sador e sensual do sheik.

— Talvez pense que meu irmão é cruel só porque elo é árabe.

— Acho que desperto sua crueldade. Quando Khasim se aproxima de mim, sinto uma coisa violenta nele... Quando me toca, sinto que ele me queima...

— Meu irmão a queima? — Morgana arregalou os olhos, incrédula, sem entender.

— Não de verdade. Tenho a sensação de que estou quei­mando por dentro.

— Puxa! Ele causa uma forte impressão, hein? Mas, ouça, o sheik não é mau nem cruel. Já o ouvi várias vezes citar princípios do alcorão. Ele é bondoso, não precisa ter medo.

Diane desviou o rosto, confusa.

— Você nunca contraria as ordens dele, Morgana? E se o seu casamento não der certo?

— Não faz mal. — Ela deu de ombros. — Casablanca é uma cidade grande, cheia de lojas, restaurantes e distrações. Se não der certo, posso achar compensações...

— Que falta de romantismo!

— Talvez romantismo demais torne a mulher vulnerável, como você, Diane. Você é muito romântica, não é?

— Acho que sim. Eu não poderia aceitar um casamento como o seu nem essa filosofia de vida, de achar compensação em outras coisas. Para mim, é uma questão de vida ou morte.

— Mas isso é ser muito radical! — Morgana riu. — E não acha romântico estar trancada num harém de um sheik de verdade?

— Acho isso ultrajante... Não tem graça, Morgana! Esses costumes árabes podem ser naturais para você, mas se coloque em meu lugar!

— Bem, vamos deixar isso para lá. — Morgana ergueu-se e aproximou-se da cama. — Você e eu podemos nos divertir um bocado, se fizer um esforço para apreciar a vida aqui.

— Como pode falar em divertimento?

— Ouça, meu irmão é um homem solitário, está mesmo precisando da companhia de uma mulher e sabe ser gentil.

— E quem disse que quero me tornar escrava dele? Aceitar sua vontade e abaixar a cabeça sempre, até perder minha in­dividualidade? De Khasim, só quero uma coisa, e, mesmo assim, ela me é constantemente negada: minha liberdade!

— Mas para quê? O lugar da mulher é nos braços de um homem.

— De qualquer homem, menos nos dele! Fui trancada aqui, como se fosse um animal, nem roupas tenho!

— Ah, quanto a isso podemos resolver já! — Morgana sorriu. — Meus armários estão cheios de roupas, e somos do mesmo tamanho. Vamos até meus aposentos, e poderá escolher o que

quiser!

— Obrigada, é muita gentileza sua, porém não me sinto à

vontade usando roupas orientais.

— Ora, tenho roupas francesas e inglesas também! Embora eu ache que você fica muito bem com roupas orientais, pode escolher o que quiser. Khasim é muito bonzinho e me deixa gastar bastante dinheiro comprando vestidos. Acho que pode­mos ser amigas, não é, Diane?

— Você não tem raiva de mim por eu ser uma Ronay?

— Ah, eu era jovem demais naquela época para entender direito o que aconteceu, Khasim é quem se lembra bem porque estava lá quando o acampamento foi destruído, e ele próprio quase morreu. Picou com aquela cicatriz no rosto. Eu estava aqui, em Shemara. Foi um acontecimento horrível, Diane. no entanto você não tem nada a ver com isso.

— Gostaria que seu irmão fosse sensato como você. — Sus­pirou ela. — Ele não pensa assim. Quer mesmo acabar comigo!

— Tenho certeza de que você está exagerando... — Morgana falou, com ar meio preocupado. — Venha, vamos para o meu quarto. Verá quanta roupa tenho!

Ela puxou Diane, fazendo-a se levantar da cama, e condu­ziu-a para fora do quarto. Quando iam virar o corredor, deram de encontro com o sheik, vestido com roupa de montaria e com um manto sobre os ombros que ia até os calcanhares. Assim que o viu, Diane sentiu-se constrangida por estar de camisola.

— Fugindo? — perguntou ele.

— Diane precisa de algo para vestir, e vamos escolher alguns vestidos no meu armário. Aonde você vai, Khasim?

— Vou jantar com um amigo.

De repente, para surpresa de Diane, ele tirou o manto e colocou-o sobre os ombros dela. Depois, ficou olhando-a, ali, parada, com o rosto enrubescido, os lábios entreabertos, e in­clinou-se, como se fosse beijá-la. Imediatamente, Diane se re­traiu, e, no mesmo instante, o olhar dele mudou, assumindo um brilho irônico.

— Minha capa de montaria nunca me pareceu tão bonita. Devia posar para um quadro, vestida assim.

Pela primeira vez na vida, Diane ficou sem saber o que falar. Ele também estava bonito, com uma túnica magnífica sobre as calças bombachas, as botas reluzentes e a cabeça coberta com um pano preso por uma corda de duas voltas, tecida com fios finos e dourados misturados à seda. Não poderia ser ninguém mais, senão um sheik, imponente e autoritário.

— Vá com minha irmã — ele disse bruscamente. — Duvido que vá fugir assim... .Morgana lhe arranjará tudo de que precisa.

— Por quanto tempo, sheik Khasim? — Diane indagou, com voz rancorosa.

— Tanto quanto for necessário, Diane. Agora, vá e divirta-se. Ele fez um cumprimento em árabe e afastou-se, deixando-a

parada, com seu manto sobre os ombros, vendo-o desaparecer no corredor. Somente de sua mente Khasim não desaparecia. A imagem dele com a elegante roupa árabe ficara lá, gravada com nitidez. Era como se sua presença a tivesse embriagado, sentia-se atordoada e com as pernas fracas. Quando Morgana falou com ela, a voz parecia vir de muito longe, e foi com muito esforço que conseguiu se controlar.

O quarto da irmã do sheik era tão amontoado de mobília, adornos, biombos, cortinas de seda, lampiões e outras quinquilharias, que mais parecia uma loja. Quase não havia espaço para andar. Morgana foi abrindo, um por um, os enormes ar­mários de madeira entalhada, e Diane perdeu o fôlego, admirada. Nunca vira tanta roupa! De todos os tecidos, todos os modelos e das mais variadas cores.

— Aí está. — Morgana começou a tirar os cabides do armário e colocá-los sobre os divãs. — Pode escolher o que quiser.

— Puxa! Nunca vi tantos vestidos! Como consegue usar tudo isso?

— Não consigo, mas gosto de tê-los. — Morgana sorriu da cara de espanto de Diane. — Adoro roupas bonitas. Você não gosta?

— Nunca pensei nisso, para falar a verdade. Lá em casa, na Bretanha, sempre usava calça comprida e blusa ou então short quando ia à praia. Estava sempre com meu avô, e ra­ramente íamos a alguma festa, por isso nunca senti necessidade de ter vestidos chiques. Acho que tenho só dois ou três longos.

— Só isso? — Morgana arregalou os olhos. — Não posso resistir... Adoro o contato de sedas e chefona em minha pele e sou maluca por perfumes! Ah, precisa ir comigo ao mercado um dia! Há um velho que faz perfumes incríveis. Compro dele desde me­nina. Acho aquele lugar fascinante e tenho certeza de que também vai achar, Diane. Vou pedir a Khasim para deixá-la ir comigo!

— Duvido muito que ele deixe... Seu irmão sabe que fugirei dele na primeira oportunidade que surgir.

— Sim, mas não vai fugir, com os guardas dele nos nossos calcanhares. — Morgana riu.

— Quer dizer que não pode sair sozinha?

— Não, nem para visitar amigas. Para onde quer que eu vá, fora dos portões do palácio, vou acompanhada de guardas. Afinal, sou irmã do cádi e corro o risco de ser seqüestrada, tanto por dinheiro como por questões políticas.

— Pena que eu não tenha um irmão assim para impedir meu seqüestro — murmurou Diane, afagando o tecido de um dos vestidos. — Posso desaparecer do mapa que ninguém se preocupará comigo!

— Diane... — Morgana olhou-a, penalizada. — Não tive a intenção de diminuí-la, não quis dizer que você não é importante. É que não consigo pensar que Khasim a tenha seqüestrado. Afinal, ele não a roubou de lugar algum, e sim a salvou do deserto.

— É verdade, porém, assim que descobriu quem eu era, resolveu me humilhar de todas as maneiras. Nunca vi ninguém tão arrogante, andando por aí com aquele manto, como se fosse um lorde, senhor da terra!

— Mas ele é um sheik, é um líder do deserto, portanto é natural que seja assim. — Morgana analisou a figura de Diane, ainda envolta no manto do irmão. — Estou acostumada com Khasim e o vejo como irmã, mas imagino que ele deva intimidar as mulheres. Pobre Diane! O sheik é o primeiro homem que... Bem, você sabe! É sua inexperiência que a faz temê-lo.

Diane estremeceu só de pensar no que a proximidade de Khasim lhe causava: medo, alvoroço, pânico, uma confusão de sentimentos que ela não conseguia entender. O simples contato do manto dele a lembrava de outro contato, mais quente e vibrante: seus braços envolvendo-a e o corpo musculoso contra o dela. A única coisa que sabia era que ele representava uma ameaça. Um calafrio percorreu-lhe corpo.

— Acho que meu avô sempre me tratou como se eu fosse um menino...

— E Khasim não a trata assim, não é?

Diane suspirou e olhou, desanimada, para a pilha de vestidos sobre os divãs.

— Você não possui alguma coisa mais simples?

— Não tenho calça comprida e blusa, mas espere aí... — Morgana remexeu nos armários e voltou com um vestido dis­creto em tom pastel.

— Esse parece bonito — murmurou Diane. — Acho que é mais o meu estilo, não acha?

— Ele é muito simples, entretanto concordo que é elegante. Quer vesti-lo já?

— Sim, mas não tenho roupa de baixo...

— Escolha o que quiser. — Morgana abriu uma gaveta cheia de lingeries de cetim, que, pelo jeito, deviam ser parisienses. — Pode pegar quanto quiser, Diane. Vou procurar outros ves­tidos do mesmo estilo, assim não se sentirá mais como escrava num harém, não é?

Diane sorriu enquanto escolhia alguns sofisticados conjuntos de calcinha e sutiã. Estava estranhando todo aquele luxo, ela que sempre usara roupa de baixo discreta e branca. Tirou o manto que ainda a cobria, dobrou-o e colocou sobre um banquinho de couro. Depois, virando-se de costas, tirou a camisola e vestiu-se depressa com as roupas que Morgana tão gentil­mente lhe arranjara.

— Deixe-me ver, vire-se para cá. Hum... agora precisa de colares e sapatos. Que número você calça?

Morgana foi buscar o que faltava e completou o traje. Num instante, Diane ficou elegante e encantadora. A moça árabe analisou-a mais uma vez, em seguida acrescentou:

— Ah, tome essa pulseira também! Pronto. Agora, olhe-se no espelho, você está linda!

Diane olhou, atônita, para o espelho, mal se reconhecendo. O . vestido bem talhado delineava suas formas e realçava o azul de seus olhos. Sim, não se sentia mais uma escrava do sheik, pri­sioneira do harém. Mas, afinal, como podia ser um harém se não havia mulheres à disposição dele? A ala era ocupada por parentes.

Ela esboçou um sorriso e ajeitou os cabelos dourados e macios.

— Imagino o que vovô diria se pudesse me ver assim! Morgana ergueu a sobrancelha num trejeito tão parecido

com o do irmão que Diane não pode deixar de constatar mais uma vez a enorme semelhança.

— Hei, por que está me olhando desse jeito, Diane?

— E que, às vezes, você se comporta de um modo tão parecido com o do sheik. Seus olhos... Vocês dois têm os olhos escuros e misteriosos e com cílios espessos e longos.

— Somos parecidos com mamãe. Venha comigo, vou lhe mostrar o retrato dela, que papai pintou logo depois que se casaram. Ela está usando a roupa do casamento no quadro, igual à que usarei quando me casar com Rauf.

— Eu vi o homem com quem vai se casar — disse Diane impulsivamente. — Ele estava no douar do sheik. Foi ele quem seu irmão mandou a Dar-Arisi para descobrir se eu estava viajando sozinha ou não e foi ele quem voltou com a notícia de que meu avô morrera e que era para eu voltar à Bretanha. Todo mundo obedece ao sheik cegamente, mesmo que esteja sendo injusto! Por acaso, o seu noivo tem motivo para me odiar por eu ser uma Ronay?

— Os pais dele foram mortos naquele ataque. Ah... não sei mais o que pensar! — Morgana segurou o pulso de Diane, confusa. — Não sei se é certo ou errado as pessoas guardarem mágoas antigas, mesmo com relação à morte de entes queridos. Não creio que seja vingança o que meu irmão quer... pelo menos no fundo do coração! Acho até que ele pode estar inseguro pela primeira vez na vida.

— O quê? O sheik inseguro? — Diane deu risada. — Não, não, o que ele quer é satisfazer seu senso de justiça árabe.

— Nossa mãe veio do Curdistão, sabia? Estava entre um grupo de garotas que seriam vendidas... Sim, Diane, não faça essa cara de espanto, porque isso ainda acontece fora de Shemara, no deserto, onde sabe que não há lei. Se você tivesse caído nas mãos dos nômades, poderia ter sido posta a leilão, tal como nossa mãe. Naquela época, papai ficou sabendo que uma das moças era muito bonita e imediatamente providenciou dinheiro para comprá-la, impedindo assim que se tornasse uma escrava. Ela descobriu que seu benfeitor era o cádi de Shemara e foi lhe agradecer. Daí, eles se apaixonaram e se casaram. Papai nunca arranjou outra esposa, ficou só com ela e, mesmo depois que ela morreu, ele não se casou de novo. Venha, vou lhe mostrar como mamãe era. Talvez assim entenda por que Khasim acha tão difícil perdoar a crueldade que foi a morte dela. Ele tinha treze anos e já podia compreender que mamãe

e papai sentiam um amor muito especial um pelo outro, talvez o amor romântico que nem mesmo a morte consegue apagar. Morgana conduziu Diane para outra ala do palácio, passando por enormes saguões com escadarias, conduzindo de um andar a outro. Os aposentos eram escuros, frios e tão grandes que faziam o som ecoar. Diane percebeu que um guarda as seguia discretamente, a certa distância. Estava vestido de branco, com uma faixa vermelha na cintura, onde havia uma faca embai­nhada. Ele andava em silêncio.

— Puxa, esse lugar preserva os costumes do século passado! Como suporta isso, Morgana?

— Acho que Selim recebeu ordens de vigiá-la. — Sorriu. — Vai ser assim toda vez que Khasim se ausentar de casa. Pode se acostumar. Ele deixará um guarda de confiança vigiando-a para que não consiga convencer alguém a lhe dar um cavalo outra vez. Você pode se perder no deserto ou ser capturada por nômades mercenários, que poderão ganhar um bom dinheiro ven­dendo uma virgem loira no mercado. Creio que era o que Hiriz queria que acontecesse, só que ela foi tola ao escolher para você um cavalo especialmente treinado por Khasim. Ele tem jeito para lidar com animais. Sabia que é veterinário formado?

— não, mas notei que ele também tem jeito com dançari­nas... Vi Hiriz dançar para ele lá no douar. Ela é muito bonita e extremamente ciumenta. não admite que o sheik dê qualquer atenção à outra mulher.

— Ah, eu sei, ela tem as garras afiadas mesmo! Foi dada de presente a Khasim quando tinha treze anos.

— Está falando sério? — Diane parou no meio da escada que estavam descendo e lançou um olhar incrédulo para Mor­gana. — Quer dizer que ela é realmente uma escrava?

— Sim. Hiriz pertence a ele, e Khasim pode fazer com ela o que quiser. Ficou chocada, Diane?

— Isso parece tão bárbaro... — Diane baixou o olhar e mor­deu o lábio. — Não é à toa que ela ficou tão enciumada com minha presença no douar e por eu estar instalada na tenda dele. Acho que o sheik a desalojou para que eu ficasse lá...

— Khasim não mora com ela! —- Eu pensei que...

— Hiriz é apenas a favorita dele para distrações. Ela só serve para diverti-lo quando está com vontade. É claro que Hiriz ado­raria se casar com ele, pois ser a mulher do cádi de Shemara dá status e poder, mas meu irmão exige muito mais da mulher que será sua esposa. Não basta apenas saber dançar bem.

— Acha que ele irá castigá-la?

— Deseja que ele a castigue? — Morgana lançou-lhe um olhar penetrante.

— Não sou vingativa, além disso ela é muito jovem. Eu é que fui tola em acreditar que ela queria realmente me ajudar.

— Hiriz queria afastá-la porque percebeu logo que você tem algo a oferecer que ela não tem...

— Mas não estou oferecendo nada! — protestou Diane. — E, mesmo que estivesse interessada, Hiriz ganha longe de mim quanto à beleza. Ela é muito mais bonita do que eu.

— Bonita como uma boneca — disse Morgana, com desprezo. — A única coisa que sabe fazer é dançar, de resto, é completamente vazia. Pelo amor de Deus, nem sonhe que ela possa

105Prisioneira do Deserto

ser minha cunhada... Não me deseje esse mal! Não que eu tenha medo que isso vá acontecer. Creio que Khasim tem idéia de casá-la com um de seus guardas...

— Mas ele... — Diane se interrompeu e desviou o olhar.

— Ora, por que parou? Ia dizer algo sobre meu irmão?

— É que me disseram que ele só dá esposas virgens para os homens que o servem — Diane respondeu, com dificuldade, sentindo que enrubescera.

— É verdade.

Diane continuou olhando para a parede por mais alguns instantes, depois encarou a irmã do sheik.

— Eu tinha certeza de que Hiriz era a kadine dele.

— Acho melhor você não fazer suposições e torná-las como certas no que se refere ao meu irmão. Ele é um homem im­previsível sob vários aspectos. Veja você, a maioria dos homens árabes na situação dele teria usado Hiriz dessa maneira desde o momento em que a tivesse recebido de presente, entretanto Khasim não agiu assim. Não quis tratá-la desse jeito e mandou que ela aprendesse a dançar. Ele gosta muito de vê-la dançar, é a forma de distração que mais aprecia. Ele não é como a maioria dos homens, Diane. Meu irmão, como já lhe disse, é um homem que sente afi­nidade com a impetuosidade e a solidão do deserto. Se não fosse cádi, tenho certeza de que viveria com os beduínos, dormindo sob um tenda de pele de cabra, que facilmente pode ser enrolada e colocada nas costas de um camelo, teria apenas alguns animais e nada o impediria de explorar a imensidão do Saara. Mas não pode fazer nada disso porque tem sob sua responsabilidade a orientação e a proteção do povo de Beni-Haran. Por isso, uma criatura ego­cêntrica como Híríz jamais serviria para ser esposa dele.

— Mas o que mais Khasim poderia querer de uma mulher? Não basta ser tão bonita e saber distraí-lo? Se os árabes acham que sabem mais do que as mulheres, certamente não vão exigir que a esposa seja inteligente!

— Sabe muito bem, Diane, que meu irmão não é um homem comum, não é como os outros.

— Ah, sim, ele se julga um lorde. Acho que o sheik e Hiriz combinam muito bem. Sem dúvida, deve se sentir muito lisonjeado por ter alguém que se dedique a ele com tanto fervor!

— Os falcões e os cavalos dele também são dedicados e obedientes?— disse Morgana. — Quer dizer, então, que pensou que Hiriz fosse a kadine dele, hein?

— A vida de Khasim não me interessa, não é da minha conta saber o que ela é dele.

— Será que não? — Morgana arqueou as sobrancelhas e deu um sorriso matreiro. — Então não se incomodou nem um pouco ao imaginá-lo fazendo amor com Hiriz na tenda para onde levou você? Ou vai me dizer que não pensou nisso?

— Nem que ele tenha feito amor com mil mulheres, isso não me importa!

Diane ergueu o queixo, orgulhosa, e desceu a escada que terminava num salão cheio de colunas trabalhadas, ladrilhada com mosaicos em tons de azul. As imensas colunas faziam-na sentir-se minúscula e perdida, à medida que caminhava entre elas com Morgana, perdida no tempo, a milhares de quilômetros de distância da vida calma e sem grandes eventos que levava na Bretanha, até que a necessidade de visitar o Oriente a dominara a ponto de não poder mais resistir.

Olhou ao redor, meio amedrontada. Aquele lugar era sinis­tro, com as sombras estranhas projetadas pelos grandes lam­piões presos por correntes, às portas em arco, todo o esplendor oriental na decoração das paredes e na mobília de madeira entalhada. Percebeu também que, em vários pontos, havia guardas, parados, que a olhavam com curiosidade quando pas­sava por eles na companhia da irmã do sheik.

Morgana parou diante de uma das portas em arco e fez sinal para que Selim se aproximasse. Enquanto falava com ele em árabe, Diane fitava-o, com rancor. Será que os servos desse palácio pensavam que ela era a kadine do sheik? Que ele a mandara vigiar porque a considerava importante? Diane sabia muito bem que a única importância que tinha para Khasim era enquanto objeto de sua vingança. E agora iria ver o retrato daquela que, por ter morrido como morreu, era o motivo de toda a amargura e o ressentimento que ele guardava no coração.

Selim entrou no salão e acendeu os lampiões, que começaram a exalar o aroma que Diane já conhecia muito bem. O aposento era enorme e frio, dando a impressão de ser um recinto não muito freqüentado. No chão, havia um maravilhoso tapete, tecido com desenhos de várias cores. O teto era aureolado, enfeitado com madeira dourada entrelaçada, a mobília era de ébano, pintada no estilo típico oriental e no centro havia um divã, em forma de meia-lua, coberto de almofadas de seda em tons claros.

Diane teve uma sensação de grandiosidade melancólica, como se tudo aquilo pertencesse a um passado remoto, e agora ninguém mais usufruísse todo aquele luxo e aquela beleza. Era um lugar de recordações. Observou Morgana enquanto ela pegava um dos lampiões e levava-o para o outro lado da sala. Ali, ela parou e iluminou o enorme quadro pendurado na pa­rede, revestida de madeira. Diane se aproximou e parou ao lado de Morgana. Então, juntas, ergueram a cabeça para ad­mirar a mulher retraía d a na tela.

E lá estava ela. Nos lindos olhos negros, havia a mesma expressão inefável que Diane via nos olhos do sheik, mas, enquanto no rosto dele havia um certo traço impiedoso e inquieto, o rosto da mãe era extremamente calmo e adorável Ela usava um vestido simples de seda branca, sobre o qual cala o véu transparente da grinalda, que tinha um brilho de luar. Um cinto de prata marcava a cintura delgada, e os punhos largos das mangas tinham um lindo bordado também prateado. O brilho suave da pele dela era realçado pelo vestido, e seu único adorno era um colar de rubis e diamantes em forma de coração. A moldura do quadro era desenhada com flores de lótus e, na parte de baixo, havia uma inscrição em árabe.

— O que está escrito aí? — perguntou Diane.

— "Na vida, só se tem um grande amor”.—Morgana virou-se e fitou Diane. — As flores-de-lótus desenhadas ali são para nós o símbolo da eterna juventude. Foi Khasim quem mandou pôr o quadro nessa moldura e fez a inscrição abaixo. Como vê, ele a amava muito, mesmo sem ter sido um filho mimado. Orgulhava-se da beleza de mamãe e da maneira como ela sabia montar um puro-sangue árabe. Ela ia caçar no deserto como os homens, porém nunca perdeu a feminilidade. Acima de tudo, era uma mulher.

— E muito bonita, por sinal — disse Diane, com suavidade. — Você se parece com ela, Morgana.

— Eu sei. E Khasim também. Os olhos são idênticos. E, achando isso, por que não reconhece nenhum mérito nele?

— Não nego que ele é um homem que chama a atenção, mas muitos árabes são atraentes, não é? Ah, sua mãe está com um vestido lindo! Essa seda tem um brilho de luar, e gosto do véu transparente que permite ver os cabelos negros dela.

— Chamamos esse véu de ckaddur. Algumas noivas árabes exageram na maquilagem e usam sombras demais nos olhos e hena nos cabelos e nas unhas. A cerimônia é uma espécie de ritual da fertilidade, porém não ligo para essas coisas. Quan­do me casar com Rauf, vou usar um vestido simples, só com o chaddur e quero ficar como ela. Tenho o colar que ela está usando no retrato. Khasim presenteou-me com ele quando fi­quei mocinha. Eu lhe disse que devia guardá-lo para a esposa dele, mas meu irmão apenas sorriu e colocou-o no meu pescoço. Espero que... — Morgana suspirou e encarou Diane. — Sabe, às vezes, pergunto-me se Khasim vai se casar algum dia. O povo de Beni-Haran espera que ele faça isso para que tenha um filho que possa continuar em seu lugar, no entanto ele já está com trinta e quatro anos e ainda não escolheu uma noiva...

— Pode ser que tenha escolhido Hiriz.

— Ou... Você.

— O quê? — Diane deu um passo para trás e arregalou os olhos, que se tornaram de um azul mais intenso, coisa que sempre acontecia quando ficava perturbada. — O que disse?

— Ouviu muito bem. — Morgana iluminou Diane com a luz do lampião, que ainda segurava. — Você é jovem, saudável e o desafia como nunca vi nenhuma mulher ousar, você o enfrenta, têm nas veias sangue de soldado e os requintes de uma boa educação. Acho que você e Khasim teriam um filho lindo, forte e robusto.

— Por favor... Pare de falar assim! — Diane estava trêmula. — Seu irmão é o último homem com quem eu pensaria em me casar, e sei também que sou a última mulher com quem ele pensaria em fazê-lo! Nós nos odiamos!

— Diz isso com muita ênfase, como se quisesse convencer a si própria que é ódio o que sente por Khasim. Mas será que é, Diane? Pode dizer com sinceridade que não sente um calafrio quando olha para ele e uma sensação estranha quando ele toca em você? Será que pode dizer sinceramente que não su­porta a idéia de sentir os lábios do sheik sobre os seus e o corpo dele contra o seu?

— Não quero falar sobre essas coisas...

— Por quê? — insistiu Morgana. — Ficou tão reprimida assim por ter vivido com um avô idoso? Nesse país, achamos a sensualidade uma coisa muito natural. Sabemos que todos sentem isso desde a adolescência e, por essa razão, vigiamos bem os jovens e não os deixamos sozinhos, pois a realização desse instinto deve ter lugar no casamento. Você tem vergonha de seus instintos naturais?

— Não...

— Tem certeza, Diane? Fala que vivemos enclausuradas e protegidas pelos homens, mas parece que sua vida foi bem mais enclausurada do que a minha. As moças árabes aprendem desde cedo o que é ser mulher. Khasim sempre fez questão que eu recebesse todo tipo de instrução. Acho que você foi criada mais como um menino, não será isso? Creio que o coronel Ronay gostaria de ter tido um neto para que entrasse para o Exército e continuasse a. carreira militar, no entanto, como o destino quis que tivesse uma neta... E foi você mesma quem me falou que usava sempre calça comprida e blusa. Ele deve ter lhe ensinado habilidades masculinas, em vez das femininas.

— Vovô e eu éramos muito unidos, e eu gostava da vida que levávamos.

Os olhos de Diane se encheram de lágrimas ao se lembrar de que a única pessoa que amava em sua vida não mais lhe faria companhia, nem poderia lhe dar amor. Estava completamente só num mundo de estranhos... Observou ao redor, como se procurasse alguém que pudesse consolá-la, e uma lá­grima rolou por sua face.

Nesse momento, sentiu algo roçar sua perna, provocando-lhe um sobressalto. Olhou para baixo e viu um enorme gato persa ronronando a seus pés. Abaixou-se e afagou os pêlos do animal, segurando a cabeça dele e fitando-o nos olhos.

— Que beleza! — ela exclamou. — Gatinho, deixe-me pegá-lo no colo?

— Esse é Pasha — sorriu Morgana. — Ele deixa, sim, pode pegá-lo, ele gosta! Só que é um pouco pesado. Anda pelos porões do palácio, caçando ratos, e, como esta construção é muito antiga, está cheia de ratos. É por isso que está tão gordo assim.

— Adoro gatos!

Diane pegou o animal no colo e sentiu um certo consolo em seu ronronar. Lembrou-se dos dois gatos malhados que tinham ficado lá longe, no seu antigo lar. Suspirou fundo, com um aperto no coração. Seu lar agora nada mais era do que uma casa vazia, perdida na distância. O empregado de seu avô de­veria ter providenciado o enterro e, com toda a certeza, devia estar preocupado por ela não ter aparecido até aquele momento. Ele conhecia o deserto, devia estar pensando que ela morrera de insolação ou caíra nas mãos de nômades. Talvez ficasse ainda algum tempo na casa, acalentando uma vaga esperança de vê-la de volta, mas depois fecharia o velho casarão e iria viver com o irmão dele, em Marselha.

— Pasha gostou de você — Morgana falou. —■ Venha, é melhor irmos jantar agora. Se quiser, pode levar o gato. Sabe o que se diz aqui das pessoas que têm grande afinidade com gatos?

— Sim, já ouvi falar — Diane respondeu, sem jeito.

— E qual é o problema ser considerada sensual? — Morgana riu. — Não há nada de vergonhoso... Tenho certeza de que é muito mais sensível do que Hiriz, por exemplo. Sabe o que ela faz se Pasha olha para ela? Grita e sai correndo!

— Talvez ela sinta repulsa ao pensar nos ratos que ele caça... — Diane acariciava a cabeça macia do gato enquanto seguia Morgana.

Saíram daquele salão e passaram para um outro aposento menor e bem mais aconchegante, onde foi servido o jantar. Durante o tempo que durou a refeição, Selim ficou de guarda do lado de fora da porta.

— Quanto tempo vai durar isso? — Diane indagou. — Será que seu irmão pensa que poderá me manter aqui a vida inteira, neste castelo que mais parece o do Barba-Azul?

Morgana comia a sobremesa despreocupadamente.

— Ora, vamos, coma um pouco desse doce, que está uma delícia, e deixe de se preocupar tanto! Não fique tão ansiosa! Por que não aceita o fato? Se está aqui, é porque assim tinha de ser... É o destino!

— Sim. Estava escrito na areia, não é? Alguém me disse isso um pouco antes de eu vir para o Oriente. — Diane tomou um gole do café forte. — Fico imaginando se vovô já não sabia que tinha os dias contados e por isso não fez objeções quando lhe falei que queria vir para cá. Ele queria que eu conhecesse o deserto, mas estava muito doente para fazer a viagem comigo. Acho que devia estar bem mais doente do que eu imaginava e, como um velho soldado, queria morrer sem fazer alarde. Eu deveria ter percebido isso! Entretanto, estava tão eufórica com os preparativos da minha viagem que não via mais nada, e, depois, ele parecia tão contente quando me despedi dele! Estava no jardim, cuidando de suas rosas...

Diane queria continuar, mas a voz lhe faltou. Será que ha­viam providenciado rosas para o enterro dele? E a farda? Será que não tinham se esquecido da espada? A espada reluzente que dera o sinal de ataque ao povo de Beni-Haran?

— Ele cumpriu o dever, como achou certo — continuou ela, engolindo as lágrimas. — Não posso condená-lo quando foi tão amável e carinhoso comigo!

— Assim é a vida, minha cara — Morgana disse. — Temos de aceitar as pessoas e julgá-las pelo modo como nos tratam, como se comportam em relação a nós. Não existe ninguém perfeito, mas para cada falha ou defeito há sempre uma virtude, uma qualidade que a compense. Todos nós somos um pouco egoístas, porém, às vezes, temos atitudes altruístas. Somos um pouco cruéis, mas também temos gestos bondosos e podemos ser afáveis. Somos seres humanos, não anjos.

— Hum... Sabedoria oriental! — Diane pós um pouco de creme doce no dedo para que Pasha o lambesse.

— Como você mesma disse, Diane, está escrito na areia, portanto, por que não aceita a vida como ela é? Aceite natu­ralmente o que ela lhe oferece... Talvez Khasim lhe proporcione o romance em que você acredita tão fervorosamente.

Sem conseguir pegar no sono, Diane ficou ouvindo os sons exóticos da música oriental, que entravam pela janela de seu quarto. Embora não ouvisse ruídos de passos no corredor, sentia a presença de alguém do lado de fora da porta e imaginou que deveria ser o guarda que a vigiava constantemente.

Ela ficou, no escuro, sentindo os diferentes perfumes do am­biente estranho e o calor de Pasha deitado a seus pés. Puxou o lençol de seda e se cobriu melhor, imaginando o que faria para impedir Khasim de cumprir a ameaça que fizera.

Como ele podia ser tão cruel e, às vezes, tão atencioso? Dois elementos opostos que compunham a personalidade dele, e Diane nunca conseguia saber qual deles viria à tona cada vez que se aproximava dela. Pasha ronronava feliz, e Diane acabou ador­mecendo... Sem, no entanto, deixar de pensar na intrigante figura.

No dia seguinte, Diane quase não viu o cádi, mas, para sua alegria e sua surpresa, ele per­mitiu que ela fosse ao mercado com Morgana. As duas se ves­tiram com as roupas tradicionais que todas as mulheres de Shemara usavam para sair à rua.

Permaneceram bastante tempo na loja de tecidos, e Diane não parava de se deslumbrar. Nunca vira panos tão lindos! Era uma festa para seus olhos e tato. Não se cansava de tocar todos os tecidos. Sedas macias como pétalas de rosa, brocados brilhantes, gaze diáfana, veludos maleáveis e flexíveis e rendas tão lindas de fazer perder o fôlego. Tudo o que ela admirava era imediata­mente encomendado para ser entregue no palácio. A seus pro­testos constantes, Morgana dava de ombros e apenas dizia:

— Vou chamar uma costureira, e ela fará vestidos para você. Há uma ótima, que é especialista em modelos simples como você gosta! Agora, vamos à barraca do velhinho que faz perfumes divinos.

Passaram por uma alameda ensolarada, de casas velhas com sacadas pequenas. Na rua movimentada, ruídos estranhos se mis­turavam. Um vendedor de limonada anunciava seu produto ba­tendo duas canequínhas, uma na outra. De vez em quando, passavam camelos, fazendo soar os guizos que tinham no pescoço e jumentos carregados com cestos de mercadoria. Eram cenas co­loridas e exóticas da vida oriental... Assustadora e fascinante.

O mercado era abarrotado de pequenas lojas, que vendiam os mais variados artigos de artesanato: tapetes, jóias, artefatos de couro e muitas outras coisas. Nesse lugar, ainda se preser­vava a tradição dos trabalhos manuais, pois não fora atingido pela febre industrial.

Entraram bem no centro do mercado, que, àquela hora, es­tava movimentadíssimo. Havia no ar um burburinho e uma grande variedade de aromas. Sob os toldos de folhas de pal­meiras, estavam as barracas, abarrotadas de mercadorias. O sol batia nos rostos morenos, que variavam dos tons mais claros aos mais escuros. Mas todos olhavam com curiosidade ou es­tranheza para os olhos azuis de Diane, que usava um véu cobrindo o resto do rosto, como as mulheres nativas.

Um cheiro forte de café penetrava nas narinas de Diane, e, à medida que caminhavam, os aromas mudavam. Havia cheiro de laranja, damasco, figo, tâmaras e uvas.

Morgana conduziu Diane para uma das barracas, explican­do-lhe que ali eram feitos, à mão, os baús que as noivas levavam com o enxoval quando se casavam. Eles eram de madeira escura entalhada e forrados de madrepérola. O dono da loja disse algo para Morgana que lhe provocou o riso, depois ela explicou a Diane que ele queria saber qual das duas estava precisando Comprar um baú daqueles.

— Bem, Diane, não será melhor encomendar um para você? — Os olhos de Morgana brilharam, com uma expressão matreira.

— Muito obrigada, mas dispenso!

Diane deu alguns passos, mas imediatamente estancou, su­focando um grito. E que surgira na sua frente um árabe com uma cobra enrolada no pescoço. Ele a fitou nos olhos, seu rosto era cheio de pequenas cicatrizes. De repente, ele sorriu de um jeito estranho e jogou a cobra nela. Diane viu a língua do réptil a apenas alguns centímetros de seu rosto. No mesmo instante, o guarda do cádi pulou sobre o encantador de ser­pentes, tentando agarrá-lo, porém o homem, com uma agilidade incrível, escapou e sumiu na multidão. O guarda virou-se de­pressa e olhou para Diane, com ar preocupado, como se esti­vesse com medo de que ela tivesse sido picada pela cobra.

— Diga a ele que estou bem — disse ela a Morgana. — Esse homem me deu um susto com a cobra, apenas isso!

Morgana tranqüilizou o guarda, que fez uma reverência para Diane, como que se desculpando, e voltou para junto dos outros.

— Se tivesse sido picada, teriam agarrado o homenzinho horroroso, e ele seria esfolado vivo de tanto ser chicoteado — Morgana falou.

Diane estremeceu.

— A cobra era venenosa?

— Sim. Esses homens que lidam com elas acabam se tor­nando imunes ao seu veneno, mas você viu as cicatrizes que ele tem no rosto, não viu?

Diane assentiu com um movimento de cabeça, e continuaram a caminhar. Agora, sim, não podia deixar de perceber os olhares que lhe lançavam, enquanto percorriam o caminho até o velho perfumista. Ouviu comentários em árabe, que Diane não en­tendia, mas podia muito bem adivinhar. Sabia que para todos ela era a "estrangeira" que estava morando no palácio do cádi.

— Seu irmão é muito sutil, não é mesmo?

— Por que diz isso, Diane?

— Ele fala que estou livre, entretanto o que faria o guarda dele, se eu corresse para os portões da cidade?

Morgana simplesmente sorriu e parou diante de uma pe­quena barraca.

— Parece que meu irmão não sai do seu pensamento, não é, Diane? — perguntou, fingindo inocência. — Estou para me casar, mas não penso em Rauf o tempo todo, assim. Neste momento, por exemplo, estou pensando num perfume novo que vou mandar fazer especialmente para mim... e você? Que tipo de perfume prefere? Um que tenha aroma de couro, cavalo e fumo de charuto?

— Ora, isso não é verdade! — Diane ficou indignada. — Não estou sempre pensando em seu todo-poderoso irmão!

— Será que não? — Morgana riu.

As duas entraram na loja de perfumes, e Morgana retirou o véu que cobria seu rosto, enquanto do fundo da barraca surgia um velho árabe, enrugado e barbudo, cumprimentando-a calorosamente em francês.

— Trouxe uma amiga, Ahmar. Quero que o senhor faça um perfume com um aroma que combine com a personalidade dela. O senhor é inigualável nessa especialidade!

Ahmar olhou Diane por alguns instantes, depois pediu de­licadamente que ela retirasse o véu e estendesse a mão para ele, Diane deu graças a Deus por poder descobrir o rosto, pois se sentia um tanto ridícula com aquele traje, como se estivesse fantasiada para uma comédia musical. Estendeu a mão para ele e sentiu os dedos finos do árabe fecharem-se sobre os seus. Sua pele parecia ainda mais branca em contraste com a dele.

De repente, Ahmar puxou a mão dela para perto do seu nariz e cheirou a pele. Meio constrangida, ela esboçou um protesto. — E mera formalidade, moça. — Ele piscou e fitou-a nos olhos, — Ouvi dizer que havia uma moça inglesa hospedada no palácio do cádi. Num lugar como este, as notícias correm depressa, sabe como é, não? Peço que nos desculpe, mas é que achamos curioso que uma moça jovem venha de além-mar para ficar entre nós. O que está achando de Shemara?

— Minha amiga ainda não viu direito a cidade — Morgana interveio. — Esta é a primeira vez que visita o Oriente, e ela ainda está estranhando um pouco os nossos costumes.

— Shemara é uma das mais antigas cidades do deserto e, ao mesmo tempo, uma das mais adiantadas. Conseguimos pro­gredir sem estragar nossa tradição. — Ahmar observava os olhos de Diane como se quisesse ler o que havia neles. — Existem cidades, no Oriente, que progridem rápido demais, devido ao turismo, mas depois são abandonadas pelos sheiks ricos, que preferem viver em outros países e aplicar lá o di­nheiro deles, enquanto o lugar perde suas características e se enche de favelas. Isso não acontece com Shemara, porque nosso sheik se preocupa com o bem-estar de seu povo. Que Alá o conserve no poder!

Diane ficou ali, parada, de boca fechada, incapaz de dizer as coisas que pensava de Khasim. Morgana confirmou a história que circulava, que Diane era sua hóspede no palácio. Mesmo que o velho não tivesse acreditado, ficou quieto e aceitou como verdade. —Agora, vamos fazer a mistura do perfume. — Ahmar apertou de leve a mão dela e depois soltou-a. — Tem de ser um aroma fresco e delicado, com uma pitadinha de sensualidade, não é?

Passaram mais de umas horas ali, entretidas, observando o velho manipular com dedos ágeis os vidros, misturando várias fragrâncias orientais, até que finalmente conseguiu o aroma apropriado para cada uma delas. Daí, ele os colocou em duas lindas garrafinhas.

— Nunca compre perfumes em vidros grandes — explicou ele a Diane. — O perfume pode ser comparado ao amor, ele evapora, se não for bem cuidado e bem guardado. Agora, tem um perfume misturado especialmente para a senhora. Ele vai se mesclar com o cheiro próprio do óleo natural de sua pele vai provocar no homem que sentir esse aroma o desejo de mantê-la junto dele. É o que todas as mulheres querem, não é?

Diane pegou a garrafinha e comparou-a com a outra.

— Meu perfume não tem nome? — perguntou ela,

— Já vou escrevê-lo no rótulo.

Ahmar inclinou-se sobre sua mesa de trabalho e escreveu uma palavra em árabe num pequeno rótulo antigo, que esten­deu para ela. Diane umedeceu-o cuidadosamente na língua e colocou-o na garrafinha.

— Deixe-me ver. — Morgana inclinou-se sobre o ombro dela para olhar. — Bem apropriado... — murmurou. — Quer que eu traduza para você?

— E claro, estou morrendo de curiosidade! O que quer dizer essa palavra?

— "Jardim Fechado".

A expressão no rosto de Diane não indicava o que estava sentindo.

— Não gostou? Para um árabe, não há coisa mais atraente e sedutora do que um jardim fechado por muros, onde as flores e as fontes ficam escondidas do mundo exterior. Ahmar lhe fez um grande elogio, portanto, agradeça-lhe e sinta-se lison­jeada — Morgana disse.

— Obrigada. — Diane sorriu para o velho. — Vou usar o perfume só em ocasiões especiais.

— Para uma jovem como você, deve haver muitas ocasiões especiais —- ele falou. — Quando temos nossa juventude, não a devemos desperdiçar com preocupações, estas devem ser pos­tas de lado para quando formos velhos, mais sábios e mais pacientes para com as complexidades do ser humano. Para cada um de nós, há uma época de rosas e mel, portanto, minha cara senhorita, caminhe pelo jardim da alegria e deixe seu coração voar leve como se fosse um pássaro. Essa é a filosofia de vida que nos ajuda a chegar à velhice com serenidade. — Alisou a barba e ficou parado, olhando as duas se afastarem.

Elas cobriram os rostos de novo, saíram da loja, seguidas pelo guarda do cádi, e tomaram o caminho de volta ao palácio.

Os perfumes da loja pareciam ter ficado entranhados nas narinas de Diane, assim como as palavras do velho não saíam de sua mente. Não podia negar que Shemara era um lugar fascinante. Se pelo menos pudesse passear por ali com os vestidos simples que costumava usar, em vez desse traje esquisito e do véu no rosto que a deixavam constrangida e pouco à vontade. Será que as moças orientais gostavam de cobrir o rosto porque isso atraía os olhares dos homens e os fazia ficar imaginando se o rosto atrás do véu era bonito ou feio?

— Por que usa esse véu, Morgana? Todo mundo sabe quem você é...

— Mas a questão não é essa, minha cara. — Morgana Olhou para Diane, achando graça. — Nunca se inventou nada mais sedutor do que um véu de seda, cobrindo o rosto de uma mulher. Ele não é um sinal de opressão masculina, mas de um senti­mento de proteção e ciúme dos homens. Quando as mulheres são tratadas de igual para igual pelos homens, a distinção dos sexos perde o encanto.

— Mais um pouco da sabedoria oriental, não é?

Os olhos de Diane tinham um brilho profundo, refletindo o azul do céu. O sol do meio-dia batia nas torres da mesquita, de onde partia um chamado para as preces, que ecoava por toda a praça do mercado.

O som estranho, que provocava uma certa emoção, foi se diluindo na distância, à medida que as duas garotas se apro­ximavam do palácio, até que transpuseram os portões e en­traram no jardim. O pátio interno, onde ficavam as fontes, estava bem mais fresco. Ali, havia árvores frondosas, que som­breavam um lago artificial para peixes, e os muros estavam cobertos de videiras em flor.

Diane ajoelhou-se na beira ladrilhada do lago e ficou olhando os peixes que nadavam rápidos na água transparente, fazendo brilhar os corpos vermelhos. Na superfície, boiavam flores-de-lis.

— Está parecendo um monge em contemplação — Morgana disse. — Será que seus pensamentos são como os de uma monja?

— Isso é quase impossível num lugar tão sensual quanto o Oriente. — Diane mergulhou os dedos na água, e os peixes se aproximaram para ver se era algum alimento.

— Acho que foi muito confiante ao vir para o Oriente, assim como agora, ao colocar a mão na água, seguindo um impulso. E se meu irmão criasse piranhas nesse lago?

— Bem, a essa altura, eu já saberia, não é?! — Diane sorriu e olhou para os peixes novamente. — Nunca me passou pela cabeça que eu pudesse encontrar um homem como Khasim no deserto.

— Mas onde mais poderia encontrar alguém como ele? — Morgana fez uma pausa, olhando para a palmeira alta que projetava no chão uma sombra rendada. — Meu irmão, Diane, é o deserto. Ele faz parte do deserto tanto quanto os falcões que voam lá ou os leopardos da areia. Será que você respondeu ao chamado das areias ou à voz de meu irmão, gritando seu nome?

— Ele nem sabia da minha existência... — Diane empertigou-se, sentindo-se tensa. — Como se isso fosse possível acontecer! Eu apenas queria conhecer o Oriente por causa de vovô, e, como Fetna fica perto das terras de seu irmão, não é tão estranho assim que tenhamos nos encontrado. Vocês são supersticiosos demais, acham que tudo acontece por algum desígnio misterioso, o destino, ou sei lá o quê. Isso é muito fatalismo! Se meu avô fosse advogado ou fazendeiro, eu não estaria aqui!

— Não, realmente não estaria — concordou Morgana. — Nem Khasim teria a cicatriz que tem. As linhas de nossas vidas começam a se entrelaçar a partir das coisas que acon­teceram a nossos pais. Se Philippe Ronay tivesse sido um pa­cífico fazendeiro, então não seria responsável pelo ataque a Beni-Haran, e nós não o conheceríamos. Durante anos, Khasim viveu com o nome de Ronay gravado na mente, e creio que o pensamento dele cruzou o espaço até onde você estava e a trouxe até aqui.

— Ele não sabia de minha existência — repetiu Diane, pro­testando. — Nunca vi uma pessoa ficar tão feroz quanto ele quando descobriu quem eu era! Pensei que fosse me torcer o pescoço... Não sei como se conteve! Creio que achou que eu deveria sofrer devagarzinho para ir morrendo aos poucos.

— Não muda de opinião a respeito dele, não é, Diane? Mas e seu coração? Será que não mudou?

— Meu coração está sofrendo pela morte de meu avô. — Diane percorreu com o olhar o pátio das sete fontes. — Ninguém vai conseguir entrar aqui, ninguém irá acreditar que o sheik me mantém presa, contra minha vontade. Todos sabem que as mulheres caem aos pés dele e se entregam submissamente. Porém, não sou como elas! Sabe o que ele me disse, Morgana? Que quando eu me apaixonar por ele, irá me deixar partir. — Diane tirou a mão da água, e as gotas que caíram sobre o ladrilho quente secaram instantaneamente. — Ele só me dei­xará voltar para meu lar, na Bretanha, quando eu...

— Você poderia fingir que o ama — disse Morgana, com calma. — Por que não se porta com Khasim do mesmo jeito que Hiriz, se quer mesmo ir embora de Shemara? Faça com que ele enjoe de você. Pendure-se em seu pescoço e encha-o de beijos. Caia aos pés dele, Diane, se esse é o preço de sua liberdade.

— Eu... não conseguiria. — Diane ergueu-se. — Não darei essa satisfação a ele!

— Se não der, o sheik a tomará de qualquer jeito. Vamos, Diane, é melhor entrarmos para comer. Andar no mercado, sentindo aquele cheiro de comidas, sempre me abre o apetite.

Morgana entrou, mas Diane ficou ali, à beira do lago, pen­sativa. Milhões de pensamentos passaram por sua cabeça com a mesma rapidez com que os peixes nadavam. Não conseguia se fixar em nenhuma idéia precisa.

Suspirou fundo ao lembrar-se da casa na Bretanha. Agora, o jardim abandonado se encheria de mato, sem o avô que cui­dava dele com tanto carinho. A mobília se encheria de pó, os livros, os soldadinhos em miniatura na mesa em que estudava as táticas de combate.

A Bretanha parecia tão distante desse exótico jardim com perfume de flores extravagante! As fontes jorravam água, re­frescando o ambiente, e borboletas coloridas, de asas sedosas, voavam entre as plantas.

Insetos zumbiam a luz dourada do sol. As palmeiras eram contornadas, imponentes e gigantescas, contra o azul do céu, e os jacarandás estavam cobertos de flores lilases.

O olhar fascinado de Diane acompanhou o vôo de uma li­bélula, até que ela sumiu entre as flores de jasmim.

Sentiu como se ela própria tivesse caído numa armadilha, que era, ao mesmo tempo, bela e aterradora. Procurou com o olhar a libélula, desejando que ela ressurgisse de entre as flores de jasmim, mas os segundos passavam, e a libélula permanecia lá, talvez traída por um perfume... talvez não querendo aban­donar sua prisão.

Os passarinhos chilreavam em uma das árvores, até que, de repente, fez-se silêncio. Uma sombra se projetou no chão do pátio, e Diane quase perdeu o fôlego ao ver o falcão voando em sua direção. A ave passou tão perto que ela chegou a sentir o deslocamento do ar. Depois, foi pousar na beirada de pedra de uma das fontes, com o olhar penetrante fixo nela. Instintivamente, Diane ficou imóvel, apesar de o coração estar pal­pitando e de a pele estar arrepiada só de pensar nas garras daquele falcão apertando sua carne.

Aquele era o falcão do sheik, treinado para matar a caça no deserto. Estava apavorada e queria correr para dentro de casa, mas sabia que, se fizesse algum movimento, por menor que fosse, talvez despertasse uma reação da ave, que poderia atacá-la.

— Isso mesmo — disse uma voz conhecida, que a fez tremer. — Fique imóvel... Foram seus cabelos, querida, que chamaram a atenção dele. Refletindo o brilho do sol, assim dourados, pa­recem a plumagem de um pássaro.

Khasim aproximou-se da fonte e estendeu o braço, coberto com um pedaço de couro, para que o falcão pousasse ali. Dos lábios dele, saiu o assobio de comando, e Diane quase nem respirava enquanto via a ave desviar o olhar que fixara nela e olhar para o dono. O sheik falou em árabe com o falcão, e, para surpresa de Diane, o enorme e assustador pássaro obe­deceu-lhe, manso, e acariciou o dono com a cabeça, embora continuasse empoleirado na fonte.

— O amor é estranho, não é?— Khasim indagou. — Ele existe até no coração da criatura mais feroz e violenta e, talvez, tenha ainda mais valor quando começa a pulsar num coração rebelde e insubordinado do que em um que seja dócil e submisso. Interessante, sabia que também encontrei Malik no deserto? Ele era novinho, estava começando a voar e tinha machucado a asa, mas mesmo assim era feroz e me machucou bastante. Minha mão estava toda ensanguentada quando cheguei à minha tenda com ele. Fiz um curativo em sua asa, e ele se recuperou depressa. No começo, recebia minhas atenções, desconfiado, cauteloso, até que acabou me aceitan­do, no entanto até hoje nenhum dos homens que me servem se atreve a chegar perto dele. Além de ser forte, ele é tem­peramental... Você foi esperta ao ficar parada. Se tivesse corrido, Malik a teria atacado.

Durante o tempo que ficou falando, o sheik fitou o falcão e não olhou nem uma vez para ela. Falou novamente em árabe, e, com um único e possante movimento das belas asas, o falcão pousou no braço dele!

— Continue parada onde está, Diane — Khasim pediu, com suavidade. — De repente, Malik pode cismar com seus luminosos olhos azuis, por isso vou levá-lo para o poleiro dele. Fique aqui até eu voltar!

Naturalmente, ela se rebelou contra a ordem dele e, assim que o viu se afastar com a ave no braço, resolveu entrar. Deu um passo e só então percebeu quanto estava trêmula, seus joelhos quase se dobraram, e ela vacilou. Apoiou-se numa das ' palmeiras, ali perto, e encostou-se no tronco esguio. Isso era ridículo. O susto já passara, o falcão não a estava mais atocaiando. Agarrou com força o tronco da palmeira, tentando se recuperar. Nesse momento, o sheik reapareceu e aproximou-se dela, com a túnica azul esvoaçando e os olhos semicerrados, fitando-a. Então, ela sentiu que aqueles olhos escuros e pro­fundos eram tão perigosos quanto os do falcão.

Ele sorriu ao ver como ela se agarrava à palmeira.

— Não precisa mais ter medo — Khasim disse suavemente. — Você vai voltar para casa, onde é seu lugar...

Diane ergueu os olhos para ele, sem saber que refletiam o azul do céu onde o sol ardia, como uma labareda. O rosto moreno do sheik estava tenso. De repente, ela ouviu um estalido de algo se partindo. Era o cabo do chicote, Khasim o havia quebrado com as mãos. Depois, jogou o pedaço longe, num gesto de raiva.

— Não ouviu o que eu disse, menina? Vou levá-la, a cavalo, até Dar-Arisi. De lá, você poderá tomar o navio que a levará de volta ao seu lar, na Bretanha.

— Lar? — ela repetiu, com amargura.

Não pôde deixar de imaginar o casarão fechado, escuro e silencioso. Talvez o único ruído ali fosse o do tique-taque do relógio de parede. A porta do escritório do avô ficaria fechada para sempre, a cadeira dele vazia...

— É isso mesmo. E, desta vez, vou cavalgar pelo deserto com você para garantir que chegue sã e salva ao hotel. Par­tiremos ao pôr-do-sol. É melhor viajar depois que a areia re­frescar um pouco do calor do dia, e esta noite teremos a lua cheia para iluminar o caminho.

— Por que está fazendo isso? — ela perguntou, sentindo um nó na garganta.

— Porque é o que deseja, Diane.

— Mas você nunca usou essa tática comigo, sheik Khasim.

— Mudei de idéia — disse ele, quase com rudeza. — Um homem pode mudar, não pode? Acabou-se a dívida de Ronay! Eu não estava certo, pretendendo que você a pagasse.

Diane continuou onde estava, apoiada na árvore. Agora, sen­tia-se ainda mais fraca e trêmula. Olhou para o peito dele, os ombros largos e fortes cobertos pela túnica, em seguida ergueu o rosto devagar, fitando sua face e depois se detendo na cicatriz. De repente, sentiu um impulso irrefreável de tocá-la e, num gesto impensado, estendeu a mão para o rosto dele.

O sheik ficou imóvel.

— Diane... estou me esforçando para manter o controle até chegar a Dar-Arisi com você, portanto afaste a mão.

— E uma cicatriz tão profunda... — murmurou ela. — Não é à toa que tenha provocado t



  

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