Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





CAPÍTULO III



CAPÍTULO III

 

-Estarei esperando por você com um punhal! — Diane exclamou, com veemência, embora a frase soasse melodramática.

— Está no seu sangue mesmo... — Khasim respondeu. — Somos produto do que aprendemos e herdamos daqueles que nos criam. Você é uma Ronay, por isso herdou esse desejo de me apunhalar! Está escrito, Diane. Desde o momento em que nascemos, já estava determinado que nossos caminhos se cru­zariam, embora você tenha nascido numa sofisticada maternida­de enquanto nasci sob as estrelas do deserto, num tapete colocado sobre a areia. Minha mãe estava viajando pelo deserto com meu pai quando chegou a hora de eu nascer. O primeiro ar que entrou em meus pulmões foi o do deserto, e é aqui que pretendo morrer quando chegar a hora... Por isso, nunca deixarei punhais ou facas ao alcance de suas mãos, pode estar certa.

— Não se sinta tão seguro assim — Diane desafiou-o es­forçando-se para controlar os nervos. — Como irá me impedir de fugir quando não estiver no acampamento? Vai me amarrar, como se eu fosse um animal?

— É uma idéia interessante... — Ele sorriu. — Você é minha gazelinha! Sabia que gazela é uma palavra carinhosa com que apelidamos nossas mulheres ?!

— Não estou interessada em suas palavras de carinho — ela replicou. — Tem certeza mesmo de que não há ninguém neste acampamento que gostaria de espalhar que você está aprisionando uma mulher européia?

— Ninguém do meu povo pensaria que você está aqui, na minha tenda, contra a sua vontade, Diane.

— Ah, meu Deus, como você é arrogante! Sua gente sabe que sou uma estrangeira que encontrou perdida no deserto...

— Somos árabes, e é nosso costume oferecer teto e abrigo a qualquer estranho que esteja necessitado. E é o que estou fazendo, não é? Afinal, providenciei banho, alimento e roupas para você, não foi?

— Não se recusa o direito de ir e vir a um hóspede comum.

— Ah, mas ninguém se atreverá a lhe perguntar se está gostando de minha hospitalidade ou não! Sou o cádi de Beni-Haran, e todos acharão natural que esteja gostando de ser minha hóspede e que não queira ir embora.

Diane ficou perplexa. Lembrou-se de que ali a palavra dele era lei e que o sheik escolhia as mulheres que quisesse. Per­cebeu, desalentada, que, para o povo que Khasim governava, ela não passava de um objeto que ele desejava...

— Ninguém tem nada a ver com o que pretendo fazer com você, inglesinha. Talvez as mulheres fiquem um pouco curiosas e não consigam imaginar o que vi numa mulher de quadris es­treitos e de cabelos cortados acima dos ombros. Ainda bem que os cabelos crescem, pois acredito que ficará mais feminina de cabelos compridos. Assim, está parecendo um rapazinho bonito.

— Não pretendo ficar aqui até que meus cabelos estejam no comprimento que você quiser! Verá que não sou nem um pouco dócil e submissa como as mulheres de seu harém. Pode ser que elas caiam a seus pés, mas eu não!

— Ah, é só eu encostar-se a você que já começa a tremer... — zombou ele e, de novo, passou a mão devagar na perna dela.

Diane ficou paralisada, quase hipnotizada, observando a mão morena em seu corpo.

— Não precisa gritar — Khasim acrescentou, sorrindo com ar de provocação. — A brincadeira ainda não começou. Quando sua pele voltar ao normal e não doer mais, aí, então, irei en­siná-la a ser mulher. Todo mundo é sensual, basta saber des­pertar a sensualidade, minha querida.

— Não se atreva a me chamar de "minha querida"! — ela esbravejou e, numa explosão de nervosismo contido, inclinou-se e esbofeteou-o onde havia a cicatriz.

O sheik ficou impassível, e Diane prosseguiu: — Será que não percebe que meu avô é muito conhecido na França e que não permitirá que eu desapareça assim, sem que as autoridades tomem providências? Quando me descobri­rem, você será preso!

— E que escândalo vai ser quando a imprensa publicar os detalhes do rapto! Pode imaginar como o público gosta dessas coisas, não é? Todos saberão que a neta do coronel Ronay foi aprisionada por um chefe de tribo no deserto que fez dela um objeto de prazer! — Khasin sorriu. — Os repórteres sensacionalistas adoram histórias desse tipo e não omitirá um único detalhe. Só quero ver o orgulhoso coronel Ronay de cabeça baixa, ouvindo o depoimento da neta contra mim no tribunal! Poderei argumentar, como defesa, que meu crime foi passional e posso arranjar testemunhas para denunciar o crime do coronel contra o povo de Beni-Haran. Este acampamento está cheio de pessoas que se lembram daquele dia fatal tão bem quanto eu e que, se soubessem que é neta daquele homem amaldiçoado, exigiriam que eu a abandonasse no deserto para que morresse nas garras de algum animal selvagem. Será que devo fazer isso, inglesinha? Sem dúvida, pelo menos salvaria a honra de seu avô, evitaria um desmascaramento público, não acha?

Diane fitou, de olhos arregalados, o rosto severo e orgulhoso de Kasim Ben Haran. Era insuportável ouvi-lo falar daquele jeito de seu avô, que sempre fora um homem amoroso e gentil, que lhe dera afeto, ensinara-lhe a apreciar as artes e lhe ex­plicara com paciência e em termos simplificados as táticas de guerra, demonstrando movimentações com soldadinhos de chumbo sobre o tablado que tinha no escritório. Era assim que ela o conhecia e o amava.

— Insensível! — exclamou entre os dentes. — Prefiro ser atirada novamente ao deserto a ter de suportar sua companhia. Você é abominável!

Um pesado silêncio caiu sobre eles, mas Diane estava satisfeita por ter lhe dito tudo aquilo. Sabia que ninguém jamais ousara atirar no rosto dele tal insulto... O sheik podia ser poderoso e importante para a gente dele, porém, para ela, Khasim não pas­sava de um bárbaro do deserto. Preparou-se para enfrentar a reação dele quando o viu erguer-se, com um movimento ágil.

— Experimente falar assim comigo de novo — ele sussurrou. — E a venderei para o prostíbulo mais vagabundo de Argel. Então, veremos quanto tempo durará esse seu orgulho. Terá de passar pelas mãos de homens sujos e drogados, as mais baixas criaturas, que são menos do que animais. Não pense que vou ter escrúpulos porque você é jovem e inocente. Esqueça isso! — Ele fez uma pausa e olhou-a com intensidade. — Quero ter o prazer de destruir seu orgulho, de arrasar a audácia dos Ronay que há em você!

— E como pretende fazer isso? — perguntou ela, com des­prezo. — Usando suas esporas e um chicote?

— Não, inglesinha. — Khasim se inclinou na direção dela, e Diane pôde ver o brilho de escárnio em seu olhar, — Uso isso com meus cavalos. Para você, disponho de meios mais sutis e eficientes.

Ela sentiu a força sensual que emanava dele e defensiva­mente se afastou. Sua boca estava seca. Nunca estivera tão perto de nenhum outro homem, principalmente de um homem tão forte e de presença tão marcante assim.

Ele se endireitou devagar.

— Está ficando tarde, e você precisa dormir para relaxar a tensão. Vamos, vou levá-la para a cama. — Ele lhe estendeu a mão, mas Diane a recusou.

Ela só vira uma cama naquela tenda e não pretendia par­tilhá-la com ele.

— Estou bem aqui. Este divã é bastante confortável, dá para eu dormir muito bem e tem todas essas almofadas...

— Sua bobinha! — Com impaciência, ele a ergueu nos braços bruscamente e foi para a outra divisão da tenda. — Precisa descansar para se recuperar e melhorar essa aparência. Pode ficar sossegada que não está nem um pouco atraente.

Ele a colocou sobre a cama e indicou a roupa de dormir que estava estendida ali.

— Talvez seja um pouco grande para você, no entanto eu a aconselho a usá-la. Lembre-se de que estamos no deserto e de que à noite há insetos e aranhas. Você se arranja sozinha, ou quer que eu mande uma criada para ajudá-la?

— Não é necessário, eu me ajeito... Só gostaria de tomar um pouco de limonada. Ainda estou com a boca seca.

— Vou mandar trazer — disse ele e, pegando o lampião da mesinha-de-cabeceira, começou a examinar os cantos da tenda.

Diane adivinhou, nervosa, que Khasim estava inspecionando para ver se não havia aranhas ou insetos rastejantes. Após a vistoria, ele recolocou o lampião no lugar e olhou para ela.

Seus olhos tinham uma força tão grande e um poder de atração tão intenso que ela não conseguia evitá-los. Ficou imaginando quantas mulheres já não teriam deitado naquela cama com ele e fitado com paixão aqueles misteriosos olhos árabes... mu­lheres que se entregavam, dóceis, aos braços fortes e muscu­losos, que se deixavam beijar com ardor pelos lábios bem-feitos e sensuais. Ela, que era virgem e inexperiente, tremeu ao pen­sar nisso, diante da presença máscula de Khasim ben Haran. Ele pareceu ler seus pensamentos, e seus olhos brilharam com malícia.

— Na atual circunstância, não precisa temer nenhum avanço de minha parte. Não costumo violentar e atormentar virgens assustadas exaustas e queimadas de sol.

— Será que não? — questionou, ríspida. — E o que está fazendo comigo desde que me trouxe para cá? O que acha que sinto sabendo o que vai acontecer a meu avô quando ele receber meu medalhão... junto com as mentiras que vai lhe dizer?

— Estou morrendo de pena dele — Khasim falou, com escárnio.

— Ora, você é tão insensível... — Os lábios dela tremiam ligeiramente. — Por que não faz o que tiver de fazer comigo e o deixa em paz?

— Que sacrifício nobre, inglesinha! Acontece que isso não basta para me satisfazer. A justiça tem de ser feita por com­pleto. Quero que ele sofra bastante ao saber que sua neta casta e virginal está sendo usada, ao imaginar que ela passará as noites nos braços de um selvagem libidinoso... uma noite para cada vida que ele tirou do povo de Beni-Haran. O coronel viverá os horrores do inferno, imaginará seus gritos de deses­pero e derramará tantas lágrimas quanto às derramadas por nossas mulheres sobre os corpos de seus maridos ou filhos. Depois disso, eu a devolverei a ele! — Ele afastou a cortina vermelha e, antes de sair do quarto, acrescentou: — Vou man­dar trazer sua limonada. Durma bem!

— Vá para o inferno! — gritou ela.

Mas o sheik apenas riu e se afastou.

Diane ficou lá, sentada na cama, encolhida e imóvel. Pensava no infortúnio de ter caído nas mãos de um homem cruel que a via apenas como um instrumento de vingança. Ela precisava ar­ranjar um jeito de fugir daquele douar, antes que Khasim con-

40--

Prisioneira do Deserto

seguisse possuí-la e fosse tarde demais. Um tilintar de pulseiras anunciou a entrada de Yasmina, que vinha trazendo a limonada. —■ A senhora parece cansada e triste...

— Yasmina! — Diane segurou o braço da moça, com deses­pero. — Você parece ser tão boa, e... preciso muito da ajuda de alguém. Tenho de fugir deste lugar... Será que pode me ajudar? Por favor, diga que sim!

Yasmina olhou para ela, com piedade.

— Não ouso contradizer meu amo Khasim de jeito algum. Ele próprio vai levar a senhora de volta a sua gente...

— Vai nada! — Diane meneou a cabeça freneticamente. — Ele pretende me manter aqui contra minha vontade, não quer me deixar voltar para minha família. Preciso de alguém que me ajude... Se você pudesse me arranjar um cavalo, eu iria embora, e o sheik nunca ficaria sabendo que me ajudou.

— Ele saberia que fui eu, sim. —Yasmina balançou a cabeça, pesarosa. — O cádi é muito esperto e poderoso, sabe tudo o que acontece por aqui. Se não fosse assim, ele não seria o líder de Beni-Haran. Além disso, meu irmão me chicotearia se sou­besse que fiz algo desacatando a vontade do sheik.

— Ele a chicotearia? — Diane repetiu, perplexa. — Seu próprio irmão faria isso?

— Se meu amo Khasim deseja manter a senhora com ele, deve ter suas razões. A senhora deveria se sentir honrada com a atenção dele.

— Honrada? — Diane ficou indignada. — Não estou inte­ressada nele, será que não entende? A única coisa que quero é sumir daqui, ficar o mais longe possível dele! Você é mulher, Yasmina, por isso deve entender como estou me sentindo! Se fosse aprisionada por um homem do qual não gosta, iria se submeter docilmente à vontade dele?

— Sou árabe, senhora. Meu irmão é meu protetor e guardião, e lhe devo obediência. Se algum dia ele escolher um marido para mim, devo aceitar, mesmo que nunca tenha visto o homem.

— Mas isso é uma barbaridade! É coisa do século passado! Onde se viu homens dominando mulheres desse jeito hoje em dia? Será que vocês pararam no tempo?

— Gostamos de nossas leis e costumes — murmurou Yas­mina. — Talvez para a senhora seja estranho... Veja só o véu que usamos no rosto, por exemplo. O cádi Khasim não obriga as mulheres de Beni-Haran a usarem-no, mas nossos pais e irmãos preferem assim. Dizem que é para não corrermos o risco de despertar o desejo e a sensualidade dos homens. Viu o que aconteceu com a senhora, não viu?

— Acha que seduzi o sheik no estado em que estou? — Diane fez um gesto abrangendo seu corpo e conteve um riso amargo. — Será que entenderia melhor por que ele quer me manter aqui se eu lhe dissesse que meu sobrenome é Ronay?

— Ronay? — Yasmina arregalou os olhos e afastou-se da cama,

— Está vendo? — murmurou Diane. — Agora você também não gosta mais de mim.

— Meus pais morreram naquele ataque que houve em Beni-Haran... — disse Yasmina baixinho. — Meu irmão Sayed estava pastoreando os carneiros, e eu estava com ele naquele dia. Quando voltamos ao acampamento... — Yasmina baixou os olhos, evitando fitar Diane. — E melhor que não diga isso a mais ninguém, senhora. Agora, quer que eu a ajude a se trocar para dormir?

Diane estava se sentindo fraca e cansada e deixou que a criada cuidasse dela. Yasmina a despiu com a mesma delicadeza de antes, mas Diane percebeu que a jovem assumira uma atitude reservada e que havia cometido um erro ao contar seu sobrenome a ela. Com isso, Diane destruíra a mais remota possibilidade de conseguir ajuda. Yasmina e o irmão deveriam ter a mesma sede de vingança que o sheik e obedeciam à lei do deserto.

Já com a roupa de dormir, Diane entrou sob as cobertas. A colcha de seda fora substituída por uma grande manta de lã de carneiro.

— As noites são muito frias aqui — explicou Yasmina, en­tregando a Diane o copo com limonada.

Ela tomou um gole e achou o gosto levemente diferente.

— Há alguma coisa misturada nisso? — perguntou Diane, sobressaltada diante da súbita idéia de que o sheik pudesse querer drogá-la para levá-la para a cama.

— Apenas uma erva que vai fazer a senhora dormir bem e aliviar os efeitos do excesso de sol Achou o gosto muito ruim?

— Não, pelo contrário. — Tranqüilizada, Diane bebeu a limonada e devolveu o copo.

Logo em seguida, um langor e uma calma a invadiram. A dor que sentia no corpo foi suavizada, e ela sentiu que teria um sono sossegado, afastando da mente, pelo menos por algumas horas, todos os seus tormentos. Na manhã seguinte, já estaria refeita e bem melhor, então pensaria com calma num jeito de fugir. Era só conseguir um cavalo! O sheik pensava que ela não sabia montar, mas aprendera a cavalgar desde cedo com o ordenança do avô, que lhe ensinara até algumas palavras em árabe que os cavaleiros do deserto costumavam usar com seus cavalos. Ela daria um jeito!

Ajeitou-se mais confortavelmente na cama macia, voltando a imaginar quantas mulheres já não teriam se deitado ali, recebendo as carícias das mãos morenas, másculas e experientes... Fechou os olhos com força, assustada com a intensidade de seus pensa­mentos. Nunca pensara nessas coisas antes... Até então, sempre dormira em sua cama de solteira, num quarto de uma casa na Bretanha. Lembrou-se da velha casa com vista para o mar e antigas torres góticas. Sentiu saudade de seu quarto, dos livros e de outros pertences, e um aperto no coração de pensar que talvez nunca mais visse essas coisas de novo, principalmente o rosto bronzeado e cansado do avô querido.

— Quer que eu apague o lampião? — perguntou Yasmina.

— Sim, por favor. — No escuro, ela não veria os elementos estranhos e perturbadores do ambiente exótico em que estava.

— Boa noite, senhora — disse Yasmina e apagou o lampião que deixou no ar um cheiro de querosene.

Em seguida, a criada saiu e fechou a cortina.

Diane dormiu várias horas, sentindo-se aquecida e confortável. Dormiu tão profundamente que nem percebeu alguém entrar no quarto várias vezes durante a noite, aproximar-se e tocar nela para examinar sua respiração. O dia amanheceu, e, apesar da luz invadir a tenda, ela continuava a dormir sem se perturbar.

Afinal, acordou sem que ninguém a chamasse, sentindo-se descansada, bem-disposta e com vontade de ir ao banheiro. Sentou-se na cama, ainda meio-atordoada, sem entender direito onde estava, até que se lembrou do que acontecera. Examinou a tenda à luz do dia e percebeu que num canto do quarto havia uma divisão vedada por um biombo pintado. Saiu da cama e caminhou até !á, descobrindo com grande alívio um vaso sanitário impecavelmente limpo, coberto por uma tampa de madeira. Deu graças a Deus por ter encontrado aquele ar­remedo de banheiro que pôde usar sem constrangimento, pois sabia que em geral os árabes do deserto costumavam fazer as necessidades na areia mesmo. Encontrou também, sobre uma mesinha, uma bacia com água, uma esponja, um sabonete de sândalo e uma toalha macia. Diane tirou a roupa e examinou as queimaduras. Já não estavam tão vermelhas, mas a pele começara a descascar em alguns pontos. Lavou-se, enxugou-se e procurou, no quarto, a calça comprida e a camisa que usava quando chegou. Encontrou apenas uma túnica de algodão e roupas de baixo que nada tinham de modernas- Vestiu-as, sentindo-se uma persona­gem de conto de fadas. Depois, foi até o espelho e começou a escovar os cabelos. Estava ali quando sentiu um calafrio ao ver a cortina da entrada se afastar e o sheik surgir. Ele estava com uma túnica branca aberta no pescoço e amarrada na cintura e uma calça comprida larga, presa dentro das botas de montaria. Sua figura irradiava força e vigor.

— Ah, então já está acordada e vestida! — ele exclamou, examinado-a com um olhar penetrante por meio do espelho. — Como está se sentindo depois de ter dormido?

— Bem melhor, obrigada. — Diane largou a escova e virou-se de frente para ele.

Estava se sentindo horrorosa naquela túnica larga e com o rosto descascando. Pensou que ele fosse rir de sua aparência, mas, em vez disso, Khasim se aproximou e tomou o pulso dela para examiná-lo. Depois, balançou a cabeça com ar de aprovação.

— Você não ficou com febre... o que é um milagre, tendo ficado tantas horas exposta ao sol como ficou!

Bruscamente, ele tocou os cabelos dela como se quisesse sentir a textura macia dos fios loiros. Ela sentiu os dedos dele na nuca e quis evitar o contato, mas achou melhor não de­monstrar o sentimento e ficou imóvel.

— O mau humor de ontem já passou? — O sheik segurou-a pelos cabelos, forçando-a a encará-lo, e analisou seu rosto, principalmente os lábios. — Sua aparência está melhorando, mas a aconselho a continuar usando a loção por algum tempo ainda. Não vai querer ficar com essa linda pele manchada, não é?

Sem querer, ela olhou para a cicatriz dele. Khasim lhe dis­sera que havia treze anos aproximadamente que aquilo acon­tecera. De certo modo, ela até entendia sua amargura, só que isso não justificava o desejo de se vingar nela! Diane comprimiu os lábios. Não perderia mais tempo discutindo com ele e ten­tando convencê-lo a soltá-la. Iria apenas esperar a oportunidade de roubar um cavalo!

— Vou ter de ficar fechada nesta tenda, como uma prisio­neira? Preciso tomar um pouco de ar, esticar as pernas, andar um pouco...

— Sem dúvida, em direção a Dar-Arisi! Não se aventure mais a sair sozinha pelo deserto, Diane, porque da próxima vez pode ser que não tenha a mesma sorte de ser encontrada e bem tratada.

Ouvi-lo pronunciar seu nome com intimidade causou-lhe uma estranha sensação. Ficou revoltada, mas não protestou. Era melhor fingir submissão até que conseguisse o que queria.

— Venha, vamos almoçar. — Ele a segurou pelo braço e a conduziu para fora da tenda.

Havia uma mesa posta ao ar livre, sob um toldo comprido, e Achmed estava ocupado diante de um fogareiro.

— Você dormiu até tarde hoje — disse o sheik, puxando uma cadeira de lona para Diane se sentar. — Mas aposto que não costuma fazer isso sempre.

— E verdade, não costumo mesmo.

Khasim sentou-se na cadeira diante dela, e Diane, para evi­tar seu olhar e também por curiosidade, aproveitou para ob­servar o acampamento. A primeira coisa que percebeu foi que ele ficava numa pequena elevação, acima do nível do deserto, onde era mais fácil chegar uma aragem. Para além do agru­pamento de tendas escuras, havia alguns animais pastando, e, quando ela viu cavalos, uma chama de esperança acendeu-se em seu coração. Qualquer lugar seria bom para ela, contanto que fosse longe dali, longe de Khasim ben Haran.

Prestou atenção nas mulheres que cozinhavam diante de suas tendas e reparou que algumas delas usavam véu como Yasmina, o que lhes dava uma aparência misteriosa. Todavia, usavam pul­seiras e colares. Sentiu-se observada, embora os homens da tribo, que passavam por ali e saudavam o sheik, mal erguessem os olhos para ela. Diane sabia que os árabes consideravam indeli­cadeza e falta de respeito olhar para uma mulher que pertencia a outro homem. Quem agisse de modo diferente estaria provo­cando briga. Seu avô sempre lhe dissera que os árabes tratavam as mulheres como se elas não tivessem alma, mas eram posses­sivos e ciumentos em relação ao corpo delas.

Diane sentiu uma onda de sensualidade percorrer seu corpo e, atraída por um magnetismo estranho, olhou para o sheik,

Ele a estava observando, de olhos semicerrados, com uma ex­pressão viril e autoritária. O coração dela quase parou, a visão dele a fascinava tanto quanto as areias douradas que se es­tendiam a perder de vista. Khasim era parte do deserto, com todos os mistérios e os perigos brilhando em seus olhos.

Achmed trouxe os pratos de comida e colocou-os na mesa. Tudo muito apetitoso, e Diane percebeu que estava faminta. Quando deu a primeira garfada, semicerrou os olhos, sabo­reando os alimentos. Pelo menos no que se referia ã alimen­tação, o sheik era civilizado. Estava tudo uma delícia!

— Parece uma gatinha tomando leite, submissa a quem a alimenta — murmurou ele.

Diane fingiu não ter ouvido e não olhou para ele.

— Achmed é um excelente cozinheiro — ela falou. — Seu acampamento é bem pitoresco, e eu até gostaria de estar aqui, se não fosse por você, sheik Khasim!

— Não adianta querer me arranhar, gatinha. A pele de um árabe é bastante resistente! O que está achando de nossas mu­lheres? Não acha que o véu que elas usam tem um certo encanto?

— Se acha que submissão é encanto... — Diane replicou, enquanto observava uma mulher ali perto que brincava com uma criança.

A mulher olhou para ela com certa animosidade e adquiriu uma expressão de desprezo ao fitar seus cabelos curtos.

— Seu povo, sem dúvida, não me acha atraente!

— Não se aborreça com isso. Quando estiver sozinha comigo na tenda, vai estar muito mais atraente, pode estar certa disso. As sedas vão ficar lindas sobre sua pele clara como marfim!

Diane quase perdeu o fôlego e disfarçou o impacto que as palavras dele lhe causaram. Khasim apenas sorriu e chamou Achmed para tirar os pratos.

— Daqui a alguns dias, meu povo vai presumir que a escolhi como minha mulher — informou a Diane. — E natural. Pensam que você é inglesa... Não seria nada bom eles saberem de quem é neta. Muitos têm várias razões para odiar seu avô. Só mais uma pessoa sabe do segredo, mas confio cegamente nela.

— Não é o irmão de Yasmina, é? — perguntou Diane, curiosa. — Ela me disse que...

— O que vocês andaram conversando, hein?

— Revelei meu sobrenome para ela, e Yasmina me disse que seus pais morreram naquele ataque e que o irmão jamais perdoará quem fez aquilo.

— Ora essa! Logo ele? Não, não... Sayed ainda não está entre meus homens de confiança. Estou me referindo a um outro que foi a Dar-Arisi para descobrir se você está viajando sozinha ou com alguma acompanhante, conforme me disse. Ele é discreto e saberá investigar com eficiência. A lealdade dele para com Beni-Haran é igual à minha: firme como uma rocha! Ele será marido da minha irmã, por isso também tem interesse em proteger os segredos de família.

— Você tem uma irmã? — indagou Diane, surpresa.

— Sim. — Ele arqueou as sobrancelhas, arrogante. — For que acha tão estranho que eu tenha família? Por acaso pensa que sou um ser demoníaco que não tem parentes e que surgiu do nada?

— Não, não penso, mas até que essa seria uma hipótese a considerar!

— Ora, vamos... — Ele riu. — Minha irmã chama-se Morgana e mora no acampamento de Shemara. Você vai conhecê-la.

— De jeito algum! — protestou Diane. — Já não basta você me obrigar a ficar aqui, agora vai querer me arrastar para sua casa também! Não irei!

— Minha casa, não, meu kasbah — corrigiu-a. — Dentro das muralhas, vive o povo de Shemara, e, fora delas, ficam as plantações. Lá existem muralhas altas e há torres acima do nível do mar que são postos de observação para proteger o povo de Beni-Haran dos piratas ou dos invasores que vêm do deserto. Em um dos pátios, há sete fontes, e é lá que ficam as mulheres.

— O seu harém, você quer dizer —■ Diane falou, corando.

— Sim, meu harém — ele concordou e se serviu de café. —■ Aposto como isso desperta sua curiosidade feminina, não é? Parece achar impossível que eu tenha outras mulheres além de você! Está pensando que é a única rosa do meu jardim?!

— Ora... Por que não vai para o inferno? — replicou, furiosa.

— Ainda bem que estamos conversando em inglês, do con­trário, muita gente ficaria chocada ao ouvir essa expressão da boca de uma mulher.

— Seu povo tem uma filosofia encantadora no que se refere a mulheres, não é mesmo? — questionou, irônica.

— Sim, preferimos ser os senhores, e não os escravos. A mulher foi feita para falar com suavidade, tal como a pomba

47para arrulhar. A mulher foi feita para se comover, para chorar, e não para ser dura e resistente. A natureza dotou-a de pele macia e cabelos sedosos, e isso é um reflexo de sua constituição íntima. Ela deve ser calma e tranquila, como as águas de um lago que refletem as palmeiras.

— Sem dúvida, as palmeiras a que você se refere são os homens, não é? Você usou uma linguagem simbólica.

— Vejo que me entendeu, estrangeírinha...

Ele se recostou na cadeira de lona e pegou um charuto que Achmed se apressou em acender, Diane percebeu que o sheik agradeceu o criado, e não apenas aceitou o serviço dele como coisa natural. Ela teve de admitir que Khasim era cortês e tinha boas maneiras, mas, no íntimo, sabia que essa suavidade era apenas superficial e escondia o verdadeiro sheik. Um homem que dominava uma tribo grande do deserto só podia ser forte, resoluto, tão temido quanto respeitado. Se fosse condescendente, não seria considerado entre os árabes, Diane sabia disso e podia ver o poder emanando dos traços do rosto dele, assim como via paixão e ironia no desenho sensual de sua boca. Será que ele amava todas as mulheres do harém? Era mais provável que desfrutasse de todas e que não amasse nenhuma,'

— Muito de nossa arte e de nossa literatura baseia-se em símbolos — continuou ele. — Até a arquitetura. As ogivas e os arcos que conduzem a interiores secretos refletem as linhas suaves e arredondadas das mulheres, as formas masculinas são representadas pelos minaretes e pelos obeliscos que inva­dem a abobada celeste...

O sheik fitou-a, como se quisesse se certificar de que Diane o entendera. Ela o compreendera muito bem e precisou se es­forçar para sustentar aquele olhar, resistindo à súbita onda de timidez que a compelia a baixar as pálpebras. Sabia que ele estava fazendo isso de propósito, só para se divertir a sua custa, e não quis fraquejar.

— As construções européias têm formas duras e ríspidas — ele acrescentou, com ar pensativo. — Como se os homens desses países relutassem em admirar as formas femininas... Acho que nós, orientais, temos uma atitude muito mais lisonjeira em relação às mulheres! A mulher é como uma pedra preciosa cuja beleza precisa ser realçada pelas roupas.

— E assim que são tratadas as mulheres do seu harém?

— Está mesmo curiosa sobre meu harém, não é? — per­gostou, soltando uma baforada de fumaça. — Será que está querendo ser instalada lá, no palácio das sete fontes?

— Só se for morta!

— Isso estragaria meus planos, Diane.

— Sim, eu sei, sheik Khasim.

— Há muitas mulheres européias que desejam ardentemente des­vendar os segredos de um harém oriental — disse ele langorosamente.

— Ah, não duvido nada! Mas devem ser do tipo que costu­mam ler historinhas fantasiosas em que um sheik se apaixona por uma mulher branca, e tudo é maravilhoso e romântico. No entanto, sei muito bem que isso está longe da realidade!

— Será que sabe mesmo, estrangeirinha?

Ele a olhou com intensidade, e mais uma vez ela não pôde fugir de seu magnetismo sinistro. Sentia-se como um animalzinho indefeso, acuado por um leopardo.

— Tenho curiosidade de saber o que você imagina... — Ele soltou a fumaça de um jeito insolente. — Não gostaria de me contar? Assim, saberei como espera ser tratada quando esti­vermos a sós.

— Para quê? Trata todas as mulheres do mesmo jeito... Usa-as como se fossem escravas e depois, quando está farto delas, simplesmente as põe de lado!

— Será que foi por isso que veio ao deserto, Diane? Quem sabe no fundo de seu ser há um desejo escondido de ser es­cravejada por alguém como eu, hein?! Será que quando se tor­nou mocinha não começou a achar tediosa a casa e a companhia de seu avô e daí começou a imaginar o deserto mais excitante do que o das descrições que ouvia dele?

Pode ter certeza de que não vim visitar o deserto aca­lentando a idéia de ser capturada por alguém como você! — Os olhos dela faiscavam. Estava com vontade de esbofeteá-lo e arranhá-lo todo. — Como ousa insinuar uma coisa dessas?!

— Estou dizendo isso, Diane, porque sei que nós, seres hu­manos, nem sempre temos consciência de tudo que se passa nas profundezas de nossas mentes e de nossos corações. Talvez, vindo para cá, você tenha atendido a um chamado que só foi ouvido por seus instintos mais primitivos.

Diane estremeceu e lembrou-se de que o seu instrutor de equitação, que era árabe, fizera um comentário parecido, referindo-se ao "chamado do deserto" para explicar o desejo re­pentino de fazer essa viagem.

— Meu avô falava tanto do deserto que fiquei curiosa de conhecê-lo, só isso! Queria conhecer Fetna e o forte onde ele serviu... Meu avô teria vindo comigo se estivesse bem de saúde. Vai ser um choque muito grande para ele saber que fui cap­turada... Será que você quer matá-lo?

— Depois do que lhe contei, já devia saber a resposta para isso, estrangeirinha — falou, em tom implacável — O coronel não teve complacência quando comandou o ataque dos spahis contra meu povo. Ele devia saber que nosso acampamento era pacífico, mas só estava interessado em represálias, e, para esse tipo de gente, todos os árabes são iguais. O povo de Beni-Haran não teve nada a ver com a matança dos colonizadores franceses em Abbís-Aba. Porém, seu avô queria apenas se vin­gar, encharcando as areias de sangue árabe, sem se importar se era sangue de homens, mulheres e crianças inocentes. Na­quele dia, morreram cinquenta e seis pessoas do meu povo, inclusive minha mãe. Portanto, minha cara srta. Ronay vai demorar um bocado até que volte è proteção de seu querido avô. Ele vai saber quanto dói chorar a perda de alguém.

Nesse momento, um grito de mulher interrompeu brusca­mente a fala do sheik. Khasim se ergueu num gesto rápido, e Diane logo percebeu que a mulher que gritara havia sido a que brincava com o filho ali perto. A criança estava com o rosto congestionado, como se estivesse asfixiada ou engasgada. Assim que o sheik chegou onde estava o menino, levantou-o do chão e sacudiu-o vigorosamente. A criança tossiu e cuspiu o caroço de tâmara que tinha se alojado em sua garganta. Khasim acalmou o garoto, afagando-lhe a cabeça, e devolveu-o à mãe, com um sorriso tão cativante que Diane não pôde deixar de admirá-lo. A mulher abraçou a criança, depois olhou para Diane, apontou para ela e desandou a falar em sua língua nativa. O sorriso desapareceu do rosto do sheik, e ele tapou a boca da mulher, sob o véu, impedindo-a de continuar. Ficou sério e falou com severidade, enquanto Diane observava a cena e imaginava o que fizera aquela mulher assumir uma atitude de acusação tão evidente.

Mãe e filho se afastaram, entrando numa tenda próxima, e Diane ficou tensa, enquanto Khasim voltava para a mesa.

Ele parou perto dela, e Diane fitou-o, ainda trêmula do susto de ter visto a criança quase morrer asfixiada.

— O que foi que a mulher disse de mim? — perguntou. —■ Falou que você ficou olhando para o filho dela e que foram seus olhos azuis que fizeram o menino se engasgar. —Oh... Não! — Ela pôs a mão no rosto. — Que coisa desagradável!

— O povo do deserto é muito supersticioso. — Ele deu de ombros, como se aquilo fosse uma coisa naturalmente aceitável. — Olhos azuis estão relacionados com feitiçaria, e seus olhos, estrangeirinha, são azuis como safira!

— Que absurdo...

— O quê? Eu comparar seus olhos com safiras?

— Não... — Diane meneou a cabeça. — Essa mulher acreditar que eu tenha causado o acidente só por ter admirado a criança!

— Ela estava nervosa e precisava culpar alguém. Natural­mente, você tinha de ser o alvo, é uma estranha. Mas logo se acostumarão com sua pele clara, seus cabelos dourados e os olhos azuis. ■—Ele sorriu, mostrando os dentes alvos. — Quando amar um homem, esse tom de azul ficará mais doce.

O coração dela quase parou ao ouvir as últimas palavras. Apai­xonar-se por ele seria a coisa mais indigna que poderia lhe acon­tecer! E, no entanto, sabia que era possível. E sabido que muitas mulheres que são violentadas acabam se apaixonando pelo homem que as ultrajou, como se houvesse nelas um desejo primitivo e recôndito de ser arrastadas à força para uma experiência que desafia as convenções. Mas Diane recusava-se a crer que isso pudesse acontecer com ela. Não, nunca! De jeito algum!

— Você me inspira desprezo — disse ela, sem se importar com quem pudesse ouvir. — Ainda imagina que eu possa amá-lo, sheik Khasim ?! Tenho muito orgulho e bom gosto para me apaixonar por um homem como você!

— Por um árabe, você quer dizer? — As palavras saíram mansas e sem agressividade.

— É isso mesmo — respondeu, com ar de desafio. — Você é tão bárbaro e selvagem quanto o deserto onde vive... Esse verniz de educação e o fato de saber línguas estrangeiras não fazem de você um homem civilizado!

— Justamente, Diane.

Ela quase perdeu o fôlego. Sentiu uma pontada no peito com a reação dele. Olhou, desesperada, ao redor e viram apenas o povo estranho, as tendas escuras do douar e, além, a brilho dourado da infinita extensão de areia. Sentiu-se mais do que nunca uma prisioneira e correu de volta para a tenda onde estava alojada. Rapidamente, o sheik se aproximou dela, sorrindo de um modo diferente. Estendeu o braço, enlaçou-a pela cintura e ergueu-a como se não pesasse mais do que uma criança. Entrou na tenda carregando-a e, lá dentro, ficou com ela nos braços por alguns instantes, antes de colocá-la na almofada do chão.

— E assim que tem de ser... — disse ele.

— O grande senhor exige seus direitos! — exclamou, sar­cástica, olhando para Khasim, que ficara em pé, diante dela.

— É isso mesmo, estrangeírinha. O direito do amo de fazer o que quiser com a mulher que está em seu poder. Ainda bem que sabe disso!

— Basta olhar para você para saber!

Diane enfrentou com coragem o olhar dele, embora estivesse tremendo por dentro. Ele era o cádi... O senhor, e poderia fazer o que quisesse com ela. Se lhe implorasse piedade, o sheik sentiria mais prazer em humilhá-la. Se chorasse, ele diria que a paixão precisa se alimentar das lágrimas de uma mulher. De repente, ela viu uma expressão de ódio surgir no rosto dele. — E melhor passar mais loção na sua pele... — disse ele sucintamente — do contrário, vai ficar toda marcada. Depois, pode se deitar no divã e descansar. Leia um livro se quiser... Tenho coisas mais importantes para fazer do que dar atenção para uma mulher.

Ele deu meia-volta e saiu, fechando a cortina da entrada. Diane ficou sozinha, ouvindo-o assobiar, enquanto se afastava, uma melodia conhecida, chamada: O que me detém neste instante?

Ela cobriu o rosto com as mãos, sufocando um grito de de­sespero. Tentava não pensar nele, mas o sheik parecia ter to­mado conta de sua mente. Era inútil, não havia escapatória... Começou a socar a almofada, como se fosse ele, xingando bai­xinho e repetindo freneticamente que o odiava.

Mas Diane continuava a se enxergar nos braços fortes e morenos, subjugada, sendo obrigada a se render aos beijos cruéis e a outras intimidades...

Era preciso conseguir um cavalo quanto antes. Deus do céu! Como pudera fazer tamanha idiotice de cavalgar sozinha pelo deserto? Porém, como poderia imaginar o que o destino lhe reservava? Nem lhe passara pela cabeça que pudesse existir um homem como Khasim Ben Haran.

Ela, que nunca havia sido nem beijada até então, estava naquela tenda impregnada da masculinidade do proprietário, sentindo o cheiro forte de seu fumo. Além disso, escovara os cabelos com a escova dele e até dormira na sua cama!

Tudo lhe parecia muito estranho, e a sensação era de que estava sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo. Lá fora, o sol implacável fustigava as tendas escuras. A maioria das pessoas tinha se recolhido àquela hora da tarde em que o calor era quase insuportável. E pensar que ela já passara um dia inteiro exposto ao sol, nas areias escaldantes! Na próxima vez em que fosse enfrentar o deserto, precisaria levar bastante água, um pano para cobrir a cabeça e arranjar um cavalo veloz. Com tudo isso e um pouco de sorte, talvez conseguisse voltar sã e salva à Bretanha. Aí, então, poderia até achar interessante se lembrar do cádi e do acampamento... Mas, por enquanto, pensar nele era assustador demais. O deserto parecia menos cruel do que o sheik de Benin Haran.



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.